A crescente polarização entre democratas e republicanos não apenas fragmenta os Estados Unidos, mas também ameaça os pilares da democracia
por
Ana Beatriz Villela
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12/11/2024 - 12h

As eleições presidenciais dos Estados Unidos revelaram, mais uma vez, uma das maiores fragilidades das democracias contemporâneas: a polarização doentia. Democratas e republicanos não apenas discordam em pautas políticas, como representam visões de mundo opostas e, muitas vezes, irreconciliáveis. Essa divisão não é apenas política; permeia famílias, comunidades e instituições, ameaça a coesão social do país e, em última instância, a legitimidade do próprio processo democrático.

kamala trump
Reprodução: Reuters

Eventos como a eleição de Donald Trump, em 2016, o ataque ao Capitólio após a eleição de Joe Biden, em 2021, e o retrocesso de legislações estaduais em questões como aborto, direitos LGBTQIA+ e controle de armas são exemplos de um país dividido. A retórica dos principais candidatos, em 2024, reflete esse cenário: enquanto um lado clama por reconstrução e unidade, o outro reforça narrativas conspiratórias e discursos inflamados. 

Nos Estados Unidos, debates sobre diversidade, direitos das minorias e imigração tornaram-se campos de batalha para discursos polarizados válidos apenas para fomentar o ódio. Em vez de buscar soluções para problemas como a desigualdade econômica ou a crise climática, a política se transforma em um jogo de soma zero, onde a vitória de um lado é vista como a aniquilação do outro.

Conviver com as diferenças torna-se inviável quando o lado mais forte busca impor regras sobre o corpo das mulheres, ameaça deportações em massa de imigrantes – até mesmo os legalizados – e planeja cortes drásticos nos gastos públicos com o apoio de figuras como do bilionário Elon Musk.

O ataque ao Capitólio foi um marco da radicalização de parte do eleitorado republicano, mas eventos menores, como ameaças a funcionários eleitorais e protestos armados em assembleias estaduais, mostram que o problema é maior e de proporções ainda desconhecidas. A retórica do atraso de líderes da extrema-direita, muitas vezes ambígua ou até mesmo permissiva em relação a esses atos, cria o ambiente de impunidade e incentiva atos antidemocráticos.

O saldo deste processo eleitoral não é apenas a eleição de um presidente, mas a própria sobrevivência de valores democráticos nos Estados Unidos - país tido como um exemplo de democracia no ocidente. Se a polarização e o ódio continuarem a ser explorados como ferramenta política, sem qualquer tipo de punição para os que atentam ou mesmo desejam o fim do estado democrático, caminhamos a passos largos para o abismo.
 

O ensaio trata de aspectos da vida e da obra de Mauricio Tragtenberg (1929-1998)
por
Antônio José Romero Valverde
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06/11/2024 - 12h

“A finalidade de qualquer educação é modelar a sociedade: mais do que ser ensinado, o homem deve fazer sua educação de homem e cidadão, aprender a se informar, a se comunicar com o “outro”, a participar, a tornar-se capaz de devir numa sociedade em pleno devir, essa é a finalidade primeira da educação. Na escola do futuro trata-se de aprender a devir.”  

(Mauricio TRAGTENBERG, 2005, p. 55)   

“No interior do sistema social as instituições educacionais e seus sacerdotes, os professores, desenvolvem um trabalho contínuo e sutil para a conservação da estrutura de poder e, em geral, da desigualdade social existente. Duas são as principais funções conservadoras atribuídas à escola e aos professores: a exclusão do sistema de ensino dos alunos das classes sociais inferiores e a que definimos como socialização à subordinação, isso é, a transmissão ao jovem de valores compatíveis com seu futuro papel de subordinado.”  

 (Mauricio TRAGTENBERG, 1976, p. 29)   

 

Vida e Obra  

O filme Madadayo (Ainda não), direção de Akira Kurosawa, de 1993, retrata a vida de Hyakken Uchida, professor de alemão que, aposentado após 30 anos de trabalho, pretende tornar-se escritor. O enredo move-se com os ex-alunos criando o rito de comemoração de aniversário do professor, perpassado pela trágica pergunta: “Madadai?” (“Está pronto?”). Ao que ele responde: “Madadayo” (“Ainda não”). Confirmação peremptória de mais um ano de vida, um de cada vez. Não está pronto para a morte. A comemoração repete-se ano após ano, com libações exemplares, muita cerveja, cantos, piadas. Sempre solícitos, os ex-alunos empenham-se por minorar cada dificuldade oferecida pela vida ao professor, como a destruição de sua casa, ocorrida no início da Segunda Guerra Mundial, ressalvado o servilismo oriental de par com os ditames da polidez formal japonesa, que, sem a devida interposição, pode comprometer a compreensão do lirismo ético em cena entre o professor e os ex-alunos, no passo de dar a ver o conhecimento vivenciado para além da exigência escolar, em prontidão de máxima atenção para todos. Afinal, cinema tem sido, antes de nada, uma forma de educação, por favorecer o olhar a mediar o mundo. Nesse caso, espelha-se a verdadeira admiração encarnada pelos ex-alunos ao professor, seguindo-o em quase todos os seus gestos e as atitudes de franca sinceridade, sobremaneira a conduta ética exemplar mantida com os estudantes e todos os circundantes, diante da adoração às margens de um transe extático ante a personagem do professor.   

A acidental comparação do professor de Madadayo com o professor Mauricio Tragtenberg estanca nesse ponto, porque ambas as figuras, públicas e intelectuais, tiveram florescimentos muito distintos. Tragtenberg, substancialmente, era um desbravador teórico e prático de muitos aspectos da dinâmica educacional e pedagógica, autodidata, sob o arco do socialismo libertário, mesmo que nunca tenha se declarado anarquista, ao rejeitar, como Liev Tolstói, por motivação cristã, a violência embutida em tal concepção filosófico-política, pela derivação, em algumas oportunidades, à prática da pedagogia dos fatos, utilizada para acordar as classes dominantes da tradicional letargia, como ocorrida em alguns quadrantes da Europa, a meados do século XIX e começo do século passado. Distinção necessária, porque a altura intelectual de Mauricio não permitia ascender a qualquer torre de marfim nem se aproximar dela, muito menos ser tomado como guru de ninguém, ou ser lisonjeado por quem quer que fosse do meio acadêmico e arredor. Ao contrário, escolheu observar e analisar o movimento real do mundo do trabalho, da barra da vida em amplos aspectos, da ação política, das lutas sociais, do fascismo, do fisiologismo político, pela lógica irredutível do capital, articulada por gestores e sindicatos, além de sua necessidade máxima de compreender as insurgências contemporâneas filosóficas, sociológicas, econômicas, literárias, antropológicas – estas reconhecidas como invenção colonial inglesa destinada à dominação dos asiáticos –, todas como partes do teto ideológico dominante.   

O foro de realização e dissipação de suas ideias educacionais e pedagógicas é a escola, organização complexa, cujo aparelho escolar tem seu papel na reprodução das relações sociais de produção quando: a) contribui para formar a força de trabalho; b) contribui para inculcar a ideologia hegemônica, tudo isso pelo mecanismo das práticas escolares; c) contribui para reprodução material da divisão em classes (sociais) e d) contribui para manter as condições ideológicas das relações de dominação (Trtagtenberg, 1976, p. 22)2.  

Ao que arremata: “O aparelho escolar impõe a inculcação ideológica primária e é seguido pelos diversos aparelhos – televisão, publicidade, seitas etc. A escola inclui, a forma de rudimentos, técnicas indispensáveis à adaptação ao maquinismo, em geral na forma preparatória” (Tragtenberg, 1976, p. 22), uma vez que os aparelhos ideológicos não produzem ideologia, mas cuidam de inculcar a ideologia da classe social dominante, com sucesso.   

Não fazia concessões de nenhuma ordem, como se lê nos seus escritos, especialmente no “Memorial”3, apresentado à Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), como exigência ao concurso para professor titular de Teoria da Organização, e na entrevista concedida na sede da Oposição Sindical Metalúrgica de São Paulo5, além de suas atitudes e decisões plenamente éticas em momentos decisivos. Sem mestres, mesmo ao apropriar-se com toda a liberdade imaginável do pensamento de Karl Marx, para compreensão da exploração; de Max Weber, para a dominação; dos teóricos anarquistas, para a antipolítica, o contrapoder e a autogestão social e pedagógica; de Herbert Marcuse, para os nexos entre tecnologia e política em nova chave, a da civilização libidinal; de Hannah Arendt, para os aspectos da condição humana; de Michel Foucault, para a loucura, a biopolítica e os confinamentos sociais, entre outros, mas tão somente como ferramentas teóricas disponíveis à construção do próprio pensar, de modo a suportarem a produção crítica de sobeja acuidade intelectual da ordem político-social, do movimento real. A vocação crítica e a altura intelectual de Tragtenberg foram, precocemente, reconhecidas pelos colegas e professores, em razão da frequência à Biblioteca Municipal e à sede do Partido Socialista Brasileiro (PSB) da cidade de São Paulo (SP).   

Há um projeto de filme da vida e da obra de Mauricio Tragtenberg em andamento, que algum momento se materializará, dadas as forças conjugadas e empenhadas para tanto. Assim, trazer à cena Madadayo cede lugar à lembrança de um artigo publicado originalmente em A Folha Socialista, de 5 de outubro de 1953, à página 4, intitulado “O encouraçado Potemkin: a ‘autocrítica’” (Tragtenberg, 2011b, pp. 25-29). No artigo, primeiramente, Mauricio reanima a carta do diretor Sergei Eisenstein direcionada aos diretores da revista Vida e Cultura, que principia com os dizeres: “É difícil imaginar-se uma sentinela que se perde na contemplação das estrelas a ponto de esquecer o seu dever. É difícil imaginar-se um condutor de tanque a ler com avidez um romance de aventuras no momento de entrar em combate...” (Tragtenberg, 2011b, p. 25). Em seguida, analisa a “autocrítica de Eisenstein, obrigado pelo Partido, ‘reconsiderando à luz da verdade histórica’ o papel de Ivan, o Terrível4, (que) insere-se dentro do mecanismo político do poder estatal totalitário russo. O que quer dizer isso?” (Tragtenberg, 2011b, p. 28).   

 

Ao que adita:  

Explicamos. Sabemos que em toda forma estatal onde há (ou havia) um líder, chefe ou profeta, este, para dominar, necessita de seu poder. Pois bem, a legitimidade do poder de Stálin estava baseada em nome da herança de Lênin (lembrem-se do discurso pronunciado por Stálin, quando da morte de Lênin, que inicia e prossegue em tom de homilia de seminarista...) (...). Aí vemos a legitimidade do poder de Stálin e da burocracia totalitária sem bases bolchevistas e revolucionárias. Mas, na medida em que o capitalismo de Estado russo e seu Estado totalitário assentam-se na legitimidade pessoal do “chefe”, vão procurar bases tradicionais e conservadoras para fundamentar seu poder perante o povo, e isso dá-se na Segunda Guerra (Mundial), quando na Rússia se opera uma revivescência nacionalista e pan-eslavista com a consideração de Alexandre Nevsky, Suvorov, Kutuzov, generais reacionários apresentados como heróis nacionais progressitas. É nessa linha que se dá a reconsideração de Ivan, o Terrível, totalitário e reacionário, como um czar “nacional progressista”. (...) É mais um dos dramas humanos que se inserem na longa lista das vítimas da “arte dirigida”. O suicídio artístico de Eisenstein é um símbolo, o símbolo da arte esmagada pelo totalitarismo, a pretexto de “direção”. E o gênio Eisenstein, amargurado, retirou-se pouco depois do cinema. Não há campo para protagonistas na arte russa, só há para o coro, para os dóceis ao dirigismo artístico. É assim que o espírito revolucionário criador que transparece no Encouraçado Potemkin aparece como imagem viva de uma realidade morta, a Rússia atual, a negação do espírito criador e revolucionário (Tragtenberg, 2011b, pp. 2829).  

 

Mauricio encerra a explicação referindo-se ao comentário do historiador Victor Serge, para quem “os ideais da Revolução morreram e a foice e o martelo tornaram-se a bandeira do despotismo e do assassinato” (Tragtenberg, 2011b, p. 29)5. Nota-se pela leitura, mesmo fragmentada, o perfil do futuro educador brilhante ao assinar o ensaio em questão.   

Se não fez carreira profissional atuando no gênero crítica cinematográfica, contudo, em 1979, Mauricio escreveu uma análise do filme Eles não usam black-tie, direção de Leon Hirszman, de 1981, homônimo da peça teatral de Gianfrancesco Guarnieri, dramaturgo e ator, levada aos palcos em 1958. O artigo “Guarnieri para quem usa black-tie” foi publicado originalmente em um número do boletim Oboré, editado pelo jornalista Sérgio Gomes (Tragtenberg, 2011b, pp. 35-36)6.  

Autodidata por necessidade e instinto intelectual, desde um episódio prosaico na escola primária, quando fora reprovado em canto orfeônico por desafinar, no segundo ano do curso primário, situação que findou transformada em mote para a vida intelectual: aprender por si, pesquisando. Progrediu bastante, orientado para o processo, em princípio pelos professores Antonio Candido e Azis Simão, em conversas na Biblioteca Municipal e na sede do PSB, ao final da década de 1940 e início da de 1950. Por ser o autodidata mais livre para pesquisar, apropriar-se do conhecimento e pensar por si, porém com método, no mesmo passo, o mote inicial forneceu a Mauricio munição teórica para desafinar o coro dos contentes – políticos, ideólogos, intelectuais, religiosos ortodoxos, em síntese, os falsos profetas da miséria nacional.  

De sua biografia, registrou: “Nasci na cidade de Erexim, no Rio Grande do Sul, na zona da colonização de camponeses de origem judaica, que se dirigiram para lá, vindos das perseguições da Rússia czarista e dos progoms da década de 1910” (Tragtenberg, 1999, p. 11)7. Nascido aos 4 de novembro de 1929, tempo da crise econômico-social provocada pelo crash da Bolsa de Valores de Nova York, que não consta do referido “Memorial”, entanto registra os fatos de ter ficado órfão de pai com um ano de idade, o novo casamento da mãe e a mudança da família para Porto Alegre (RS) e, posteriormente, para São Paulo (SP), onde fixou residência10.  

Mauricio nomeava de as “minhas universidades”, arremedando o título do romance homônimo de Máximo Gorki, o Centro de Cultura Social, as aulas de filosofia proferidas por Mário Ferreira dos Santos, a frequência à casa da família Abramo e à Biblioteca Municipal de São Paulo – lugares de efervescência intelectual crítica sem o balizamento formal acadêmico, porém rigoroso –, além de frequentar os sapateiros anarquistas do Brás e da conversa com um politizado condutor do bonde, a meados dos anos de 1940.   

Declarava-se ateu, sem alarde, farisaísmo ou falso moralismo, mantida a condição religiosa de judeu até o fim da vida. “Ateu, graças a Deus!”, como dizia sob fina ironia, vez que o humor era uma das marcas de seu caráter, mas mostrava restrições ao pensamento político de Mikhail Bakunin, dado o viés autoritário contido na sua obra8. Ocorre que o ativista russo talvez tenha sido aquele que de modo mais expressivo ao universo anarquista tenha descartado a hipótese Deus (Tragtenberg, 2011b, pp. 125-143), no barco iluminista de Denis Diderot e de Pierre-Simon Laplace, em parte fruto de sua vivência na Rússia czarista e na Santa Moscou, sob vapores bizantinos e inspirado pela filosofia hegeliana.   

Tragtenberg não comungava integralmente com Bakunin, mesmo reconhecendo sua importância no processo de solidificação do ideário e da prática federalistas9, sobremaneira, aos meios operários de Espanha, a meados do século XIX, ao tempo que esteve em cena a operação da sua reentrada no concerto das nações europeias, com praticamente 300 anos de atraso, de caráter religioso confidencial, sob um processo de secularização lenta, embalada pelos krausistas espanhóis, basicamente professores universitários, para a criação política da República. Mesmo assim, Tragtenberg sempre tomou partido teórico-prático do viés bakuninista ao explicitar o racha ocorrido no seio da Primeira Internacional. Para o campo teórico do anarquismo, Mauricio Tragtenberg parecia alinhar-se mais pontualmente com o horizonte político criado por Pierre-Joseph Proudhon, por “ser o mais generoso dos teóricos do anarquismo” e pela defesa da proposta autogestionária.  

 

Crítica à educação e ao sistema educacional  

Mauricio Tragtenberg ingressou na Faculdade de Educação da Unicamp, em 1976, como professor não concursado, por indicação direta do reitor Zeferino Vaz, após ter sido aprovado três vezes em concursos públicos prestados na Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (Unesp). Porém, sem contratação efetivada, logo, reprovado por motivos injustificáveis, academicamente.   

Na faculdade produziu a crítica da instituição “organização escolar”, com todas as possíveis implicações sociopolíticas. Os cursos ministrados na pós-graduação da faculdade, após o primeiro curso tratar de metodologia histórica, em que ensinou a ler O capital, de Karl Marx, seguido de estudos sobre Max Weber, passaram a criticar o papel do controle burocrático escolar na inculcação ideológica, na reprodução da ordem econômica e na divisão social do trabalho, momento em que Pierre Bourdieu e Jean Claude Passeron foram introduzidos ao debate educacional nacional por A reprodução, ainda sem a devida leitura nem as inferências de todos os conflitos embutidos. Mauricio cumpriu esse papel e trouxe também Michel Lobrot, Bernard Charlot, Mario Manacorda e os teóricos da educação anarquista, Tolstói, Paul Robin, Francisco Ferrer, preocupados com o processo educacional em liberdade e a autonomia dos envolvidos para o cumprimento da premissa da emancipação humana, extrapolado o pedágio da invenção iluminista.   

Mauricio Tragtenberg fundou, com Casemiro dos Reis Filhos e Joel Martins, a revista Educação & Sociedade, na Faculdade de Educação da Unicamp, em 1978. O primeiro número trouxe o artigo de fundo “Francisco Ferrer e a pedagogia libertária”, lastrado na história moderna da Espanha pela análise dos nexos entre reconquista e Igreja, a relevância da geração de 98, a vida e a obra de Ferrer, a pautar os princípios da coeducação de ambos os sexos, da coeducação das classes sociais, da higiene escolar, a importância dos jogos (pedagógicos) sob a guarda da cooperação não competitiva, a formação racionalista dos professores (escola de professores), sem prêmios nem castigos, abolidos os exames etc. Destaque para as notas de rodapé weberianas, extensas e densas, com indicações bibliográficas relevantes para a sustentação dos argumentos movidos no corpo do texto. Oportunidade de lançar à cena acadêmica as leituras de adolescente de textos anarquistas e da convivência com os sapateiros anarquistas do bairro do Brás, em São Paulo, por volta de 1945, completado com o fato de o Arquivo Edgard Leuenroth ter sido adquirido pela Unicamp, contendo todos os jornais anarquistas do começo do século XX.   

Simultaneamente, Mauricio pesquisava e escrevia a livre-docência, intitulada Administração, poder, ideologia, que defenderia entre os dias 12 e 13 de março de 1979.  Para a aula correspondente, ministrada pela manhã, teve o ponto sorteado “Educação e Fascismo”, e a defesa da livre-docência à tarde10. A livre-docência teve como nexo inicial o artigo seminal “A teoria geral da administração é uma ideologia?”, publicado na Revista de Administração de Empresas RAE, da Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP), em 1971. Ao tempo em que se discutia se administração era ciência ou técnica, para Mauricio, ideologia. 

Em determinado momento, entre os anos 1970 e 1980, Mauricio figurou como a consciência possível do Brasil, pois soubera como ninguém compreender todas as contradições em curso e sintetizá-las de modo a conceituar o “espírito do tempo” manifesto, desde a herança política colonial, o fisiologismo político, os labirintos burocráticos estatal e acadêmico, a perda dos direitos trabalhistas, o lento processo de degradação das relações entre capital e trabalho, a falta de virtù do Partido dos Trabalhadores (PT), em ação, – talvez tenha sido o primeiro a denunciá-la –, às margens de certo fascismo interno de ordens e contraordens, a par de pouca reflexão crítica, na linha dos nexos necessários entre teoria e práxis para o avanço da causa social. Eram os seus dilemas11, sobremaneira, por desmontar criticamente o papel da educação no contexto nacional – de mantenedora da desigualdade social em ritmo acelerado –, que se perspectivado se chega à situação, aparentemente, irreversível da atualidade. Críticas confirmadas nos escritos recolhidos em Educação e burocracia (Tragtenberg, 2012). Mauricio estava sempre atento ao lugar dos desfavorecidos pela injusta ordem socioeconômica, contudo, alinhado pela proposta de uma organização popular como saída lúcida12.  

Entrado os anos 1980, Mauricio leu Foucault e Hannah Arendt e, salvo melhor juízo, foi o primeiro professor a introduzi-los na universidade, ao menos na Unicamp e na FGV. Ministrou cursos, em que lia e comentava a História da loucura e A condição humana, porém nunca se transformou em foucaultiano, arendtiano nem se filiou a qualquer outra novidade filosófica, sem esquecer a monumental empreitada intelectual de dissecar o livro póstumo de Max Weber, Economia e sociedade, o que fez em ao menos quatro semestres na Faculdade de Educação da Unicamp. Ao final da vida, estudava os maquiavelistas Han Fei-Tzu e Kautilia, chinês e hindu.   

Há que se destacar sua militância no Centro de Cultura Social, fundado em 1933, na Oposição Sindical Metalúrgica de São Paulo e nas Comissões de Fábrica da Ford de São Bernardo do Campo (SP)16, assim como esteve próximo das Comunidade Eclesiais de Base (CEBs) do Butantã, e ainda da Associação dos Docentes da Unicamp (Adunicamp), onde não foi bem compreendido ao propor que o professor universitário fosse caraterizado como “trabalhador intelectual”. Os colegas da Unicamp acharam um rebaixamento do status quo.   

A militância esteve combinada com a coluna “No Batente”13, do jornal Notícias Populares, o mais popular dos jornais paulistanos. Na coluna, Mauricio escrevia sobre a luta dos trabalhadores, fazia denúncia, respondia a cartas de trabalhadores, levantava e mantinha bandeiras do antirracismo, feminismo, sobremaneira da autogestão social. Antes, havia trabalhado por três anos como diretor de política internacional da Folha de S. Paulo, a convite de Cláudio Abramo, a partir de 1964.   

Mauricio atuou também como tradutor e organizador de textos de magnitude política, voltados para a noção de autonomia, com destaque para a tradução de Ben Gurion, o profeta armado, de M. Michel Bar-Zohar, editado pela editora Senzala, em 1968, com sua “Apresentação do tradutor brasileiro”. Organizou edições de textos de pensadores heterodoxos do marxismo, como Herman Gorter, Jan Waclav Makhaïski e Amadeo Bordiga18, e do anarquismo, Bakunin, Piotr Kropotkin, Errico Malatesta, Nestor Makhno, além de prefaciar o livro Organismo econômico da revolução: a autogestão na Revolução Espanhola, de Diego Abad de Santillán, fundamental para a compreensão da Guerra Civil espanhola do ponto de vista da luta anarquista. Ainda, foi tradutor de textos de Weber e de Jürgen Habermas para a coleção “Os Pensadores”.  

Mauricio deixou uma obra intelectual de peso, extensa, quase totalmente publicada pela Editora Unesp, organizada pelo professor Evaldo Amaro Vieira, exímio conhecedor de seu pensamento, além de cursos exemplares, atualizados e dinâmicos, oferecidos aos alunos da graduação e da pós-graduação da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), da Unicamp e da Escola de Administração de Empresas da FGV-SP. É referência a, praticamente, toda pesquisa que intente levar adiante o legado de João Cruz Costa, o primeiro doutor em filosofia do Brasil, um dos que convenceram Mauricio a entrar na Universidade de São Paulo (USP). Cruz Costa defendia que todo estudo acerca da filosofia, em solo pátrio, deveria reverter-se para a compreensão do Brasil. Mauricio praticou esse enunciado no detalhe, mesmo não tendo formação em filosofia. A propósito, há uma pesquisa concluída acerca das fontes filosóficas do pensamento tragtenberguiano.  

  

Com efeito, em “Memorial”, Tragtenberg (1991, p. 84) informa:  

Antonio Candido, no saguão da Biblioteca Municipal, mencionara uma lei federal que permitiria eu apresentar uma monografia à (Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH da USP, para prestar vestibular e cursar a universidade. Em 150 dias de trabalho, estruturei a monografia Panificação: o desafio do século XX15, que, mediante parecer do Prof. João Cruz Costa, permitiu-me prestar vestibular e ingressar na USP.   

Inicialmente aprovado para o curso de Ciências Socias, que frequentou por um ano, prestou novo vestibular para ingresso em História da Civilização, porque “pensava ser esta mais condizente com os princípios do materialismo histórico” (Tragtenberg, 1991, p. 84).  

Algumas teses doutorais explicitam o pensamento de Tragtenberg, como A obratrajeto de Mauricio Tragtenberg sob o prisma das afinidades eletivas, de Doris Accioly e Silva, defendida na Unesp de Araraquara, na área de sociologia, em 200416. Outra é a de Antônio Ozaí da Silva, Mauricio Tragtenberg e a pedagogia libertária, defendida na Faculdade de Educação da USP, em 200417. Em 2010, Elcemir Paço Cunha defendeu a tese intitulada Gênese, razoabilidade e formas mistificadas da relação social de produção em Marx: a organização burocrática como abstração arbitrária, em administração, na Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade Federal de Minas Gerais23. Há ainda a tese A trajetória intelectual e política de Mauricio Tragtenberg, de Erisvaldo Pereira de Souza, doutorado em Sociologia, defendida na Universidade Federal de Goiás, em 2017, e a dissertação de mestrado de Ilzo Rafael Fonseca, Relações sociais de produção e educação: uma análise da obra de Mauricio Tragtenberg, defendida em 2018, no Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Santa Catarina, a par de um número considerável de artigos acerca da concepção tragtenberguiana de educação, publicados em revistas científicas qualificadas, com alto grau de compreensão de seu pensamento crítico24 Outros pesquisadores deram prosseguimento à crítica tragtenberguiana em artigos de análise da burocracia, da administração, da educação e da filosofia política.  

Todavia, um estudo sintético e elucidativo do pensamento crítico da educação se encontra no texto “Tragtenberg e a educação”, de Agueda Bernardete Bittencourt Uhle. Por ter sido orientanda e colega do Pensador na Faculdade de Educação da Unicamp, no texto a autora conseguiu desvelar ainda mais o que se encontra explicitado nos escritos de Mauricio, mas não só, a começar por sistematizar o período de produção crítica acerca da educação, entre os anos 1978 e 1981, a par de apontar para a desconfiança do Autor em relação à própria escola como agente de transformação social, se não for organizada com base em demandas sociopolíticas, em vista das contradições de classes sociais do país, que se eternizam. Caso contrário, a escola presta-se a reproduzir tão somente a ordem social fixada e, ao mesmo passo, a disciplinar os estudantes para a docilidade futura na atuação profissional. Ainda segundo Uhle, Tragtenberg considera que, no plano social, a classe dominante representada pelo Estado define os objetivos da escola – “formar indivíduos cada vez mais adaptados ao seu local de trabalho, porém capacitados a modificar seu comportamento em função das mutações sociais” – e a forma como esses objetivos serão alcançados – em organizações burocráticas (Silva; Marrach, 2001, p. 160).  

Por isso, registrou: “A luta é a grande escola do trabalhador, é através dela que forma sua consciência social, educa-se para a autonomia de organização e direção de seus projetos” (Tragtenberg, 2011a, p. 297). A que aditava: “A vida desmente a aula; a vida também educa. Não confundamos educação com escolaridade” (Tragtenberg, 2009, p. 178).   

Hule explica que a crítica à escola desenvolvida no conjunto de sua obra sobre educação é uma crítica radical. Vai às raízes do problema. Não propõe reformas ou ajustes de rota. Não aponta culpados nem desconsidera responsabilidades. O que põe em xeque é a própria instituição em seu conjunto, não como um organismo abstrato, mas como expressão de interesses (Silva; Marrach, 2001, p. 160). Conclui que a posição tragtenberguiana consiste em “alertar para o lugar social da escola, mostrar seu peso político e as implicações da escolarização da população para a construção de uma dada organização social” (Silva; Marrach, 2001, p. 160). No mesmo passo, “tinha um compromisso permanente com a produção do conhecimento e, para isso, apostava na liberdade do pesquisador para buscar problemas socialmente relevantes para seus estudos” (Silva; Marrach, 2001, p. 164), fundados na necessidade de autonomia do pesquisador.   

Contudo, para complementação do percebimento da crítica tragtenberguiana à educação, os artigos “O papel social do professor”, “Quando o operário faz a educação” e “As condições de produção da educação” (Tragtenberg, 2012) fornecem a dimensão basilar para tal. Como a pesquisa acadêmica, grosso modo, ocorre com professores alocados nos programas de pós-graduação das universidades, Tragtenberg exerceu a crítica contundente do sistema de pós-graduação nacional. Os textos mais circunstanciados em vista dos fins da pesquisa acadêmica são “A delinquência acadêmica” e “O saber e o poder”. O primeiro, funcionou como uma bomba de efeito nada retardado, porque na semana seguinte do lançamento de A delinquência acadêmica: o poder sem saber e o saber sem poder (Tragtenberg, 1979) estudantes da USP picharam os muros do campus Butantã com frases retiradas do livro. Tragtenberg colocava sob suspeita toda pesquisa científica acadêmica para fins de manipulação política e de guerra. Para a apresentação do livro, intitulada “Verás que...”, registrou:   

A Delinquência Acadêmica aborda não só a universidade como instituição dominante, mas também os mecanismos pelos quais ela se liga à dominação. Procura mostrar que sua crise reflete a crise da sociedade global, produzindo contraditoriamente dois tipos de intelectual. O intelectual orgânico da burguesia, organizador da hegemonia burguesa, a qual por mediação da universidade inculcará as formas de sentir, pensar e agir da classe dominante como sendo “naturais” e “normais”; e o intelectual crítico que, em épocas de ascensão do movimento de massas, pode legitimamente representá-las (Tragtenberg, 1979, p. 9)18.   

O legado de Tragtenberg é imenso ao campo das ciências humanas. Contribuiu para a crítica da administração empresarial, compreendida como ideologia, sendo pioneiro em registrar a introdução do tema toyotismo na gestão das empresas no Brasil, e para a crítica da escola como lócus de conflito social e de possibilidades de explicitação, para além da submissão à ideologia dominante. Ainda, introduziu a filosofia política do socialismo libertário, marcada pela ideia de autogestão em todos os níveis da sociedade, além de ter formado dezenas de professores e pesquisadores universitários, exorientandos ou não, que assimilaram o núcleo do pensamento crítico tragtenberguiano.   

Em justo reconhecimento ao esforço intelectual de compreensão do Brasil, Tragtenberg figura, de modo nada acidental, entre os intérpretes do Brasil, na obra coletiva Intérpretes do Brasil: clássicos, rebeldes e renegados (Barsotti, 2014, pp. 357376).  

Em reconhecimento ao professor excelente e ao jornalista combativo, em 29 de outubro de 2010, o curso de jornalismo da PUC-SP teve aprovada a criação da Agência de Jornalismo Online Mauricio Tragtenberg (AGEMT), cujos princípios se encontram em nota de rodapé19.  

Se o filme documentário biográfico do Filósofo da luta social segue embrionário, em 2017 o líder sindical dos Correios Pedro Porcino, os familiares do Pensador, amigos e ex-alunos fundaram o bloco carnavalesco Filhos de Mauricio Tragtenberg, durante o evento acadêmico “Mauricio Tragtenberg, a Pessoa, a Obra e a Revolução Russa”, realizado na PUC-SP, em setembro daquele ano. O bloco desfilou no carnaval de 2018 e de 2019. Em 2020, os integrantes avaliaram a pandemia da Covid-19 à espreita nas esquinas paulistanas, findando por adiar o desfile para um futuro carnaval. Para o primeiro desfile, o músico Val Medeiros compôs Samba em homenagem a Mauricio Tragtenberg, samba-enredo interpretado por Helber Medeiros, em gravação de circulação restrita, por enquanto. Encerra-se o capítulo com a letra da música, uma excelente síntese da vida do professor Mauricio Tragtenberg e de seu reconhecimento popular:  

Uma voz ecoou... / bateu saudade. / Menino pobre que nasceu em Erechim (bis) / Povoado pequeno, / começava assim. / Essa história que jamais terá um fim. / Nessa trajetória esse menino alcançou: / sucesso e prestígio, / muita luta ele travou. / Foi professor, / se tornou jornalista. / Uma figura importante no Brasil. / E foi assim que ele surgiu. / “No Batente” escreveu suas ideias / de liberdade. / Com seu espírito de luz, / Só queria igualdade. / Homem de cultura exemplar, / na escola da vida (bis). / Foi perseguido injustamente, / pela ditadura militar. / Mas o tempo passou, / então retornou. / Deu a volta por cima. / Formando uma grande legião de mestres, / da cultura popular. / Hoje o céu está em festa, / pra cantar. / Sua história, vai se eternizar. / Os anjos as trombetas vão tocar. / Mauricio Tragtenberg / sua voz vai ecoar (Medeiros, 2019].  

- Que se leia a obra de Mauricio Tragtenberg! “O judeu sem templo. O militante sem partido. O intelectual sem cátedra!”20.  

 

Referências 

BARSOTTI, P. D. Maurício Tragtenberg. In: Pericás, L. B.; Secco, L. (org.). Intérpretes do Brasil: clássicos, rebeldes e renegados. São Paulo: Boitempo, 2014. p. 357-376. 

CUNHA, E. P. Gênese, razoabilidade e formas mistificadas da relação social de produção em Marx: a organização burocrática como abstração arbitrária. Tese (Doutorado em Administração) – Faculdade de Ciências Econômicas, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2010. 

FONSECA, I. R., Relações sociais de produção e educação: uma análise da obra de Mauricio Tragtenberg, Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2018.   

MÁRSICO, G. O., Cágada (ou a história de uma cidade a passo de), Porto Alegre, Movimento, 1974.   

SHIMAMOTO, S. V. M., “A concepção de trabalho escolar e a (des)politização dos sujeitos sociais a partir de Mauricio Tragtenberg”,  Educação e Políticas em Debate, v.  

6, n. 2, pp. 255-274, maio/ago. 2017. Disponível em:  

http://www.seer.ufu.br/index.php/revistaeducaopoliticas/article/view/46776/25480  Acessado aos 14 de outubro de 2022.   

SILVA, A. O. da, Mauricio Tragtenberg e a pedagogia libertária, Tese (Doutorado em Educação) – Faculdade de Educação, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2004. Disponível em: https://repositorio.usp.br/item/001385234  Acessado aos 14 de outubro de 2022.   

SILVA, A. O. da, Mauricio Tragtenberg: militância e pedagogia libertária, Ijuí, Editora Unijuí, 2008.   

SILVA, D. A., A obra-trajeto de Mauricio Tragtenberg sob o prisma das afinidades eletivas, Tese (Doutorado em Sociologia) – Universidade Estadual Paulista “Júlio de  

Mesquita Filho”, Araraquara, 2004.  

SILVA, D. A.; MARRACH, S. A. (orgs.), Mauricio Tragtenberg: uma vida para as ciências humanas, São Paulo, Editora Unesp / Fapesp, 2001.   

SOUZA, E. P., A trajetória intelectual e política de Mauricio Tragtenberg. Tese (Doutorado em Sociologia) – Universidade Federal de Goiás, Goiânia, 2017.   

TRAGTENBERG, M., “A escola como organização complexa”, In GARCIA, W. E. (org.), Educação brasileira contemporânea: organização e funcionamento, São Paulo, McGraw-Hill do Brasil, 1976, pp. 15-30.   

___________, “Francisco Ferrer e a pedagogia libertária”, Educação & sociedade, n. 1, v. 1, São Paulo, Cortez & Moraes, 1978, pp. 17-49.   

Tragtenberg, M. A delinquência acadêmica: o poder sem saber e o saber sem poder. São Paulo: Rumo, 1979.   

___________ (org.), Marxismo heterodoxo, São Paulo, Brasiliense, 1981.   

___________, M. Sobre educação, política e sindicalismo. São Paulo: Cortez / Autores Associados, 1982. v. 1. (coleção Teoria e Prática Sociais).   

___________, “Memorial”, Pro-Posições, Campinas, v. 2, n. 1, 1991. Disponível em:  

https://www.fe.unicamp.br/pf-fe/publicacao/1704/4-divulgacao-tragtenberg.pdf  Acessado aos 14 de outubro de 2022.   

___________, Memórias de um autodidata no Brasil, São Paulo, Editora Unesp / Escuta / Fapesp, 1999.   

___________, Sobre educação, política e sindicalismo, São Paulo, Editora Unesp, 2004.  

(Coleção Mauricio Tragtenberg).   

___________, Administração, poder e ideologia São Paulo, Editora Unesp, 2005. (Coleção Mauricio Tragtenberg).   

___________, A revolução russa, São Paulo, Editora Unesp, 2007. (Coleção Mauricio Tragtenberg).   

___________, A falência da política, São Paulo, Editora Unesp, 2009. (Coleção Mauricio Tragtenberg).   

___________, O capitalismo no século XX, 2ª edição, São Paulo, Editora Unesp, 2010. (Coleção Mauricio Tragtenberg).  

___________, Autonomia operária, São Paulo, Editora Unesp, 2011a. (Coleção Mauricio Tragtenberg).   

___________, Teoria e ação libertárias, São Paulo, Editora Unesp, 2011b. (Coleção Mauricio Tragtenberg).   

___________, Educação e burocracia, São Paulo, Editora Unesp, 2012. (Coleção Mauricio Tragtenberg).  

VALVERDE, A. J. R. (org.), Mauricio Tragtenberg: 10 anos de encantamento, São Paulo, Educ / Fapesp, 2011.   

VALVERDE, A. J. R.; MACHADO, R., Mauricio Tragtenberg: autogestão social e pedagógica, São Paulo, Educ, 2016. (Coleção Sapientia – Grandes Mestres da PUC-SP).   

Filmografia   

Madadayo. Direção: Akira Kurosawa. 1993.  

Samba-enredo  

MEDEIROS, V., Samba em homenagem a Mauricio Tragtenberg, 2019. Disponível em: https://m.facebook.com/FilhosDeMauricioTragtenberg/videos/2185954824758258/?refs rc=deprecated&_rdr  Acessado aos 27 de agosto de 2021. 

A execução precisa dos códigos de cada etiqueta trouxe um frescor revigorante para as grifes renomadas
por
Giovanna Montanhan
|
30/10/2024 - 12h

A São Paulo Fashion Week (SPFW) ocorreu entre os dias 14 e 21 de outubro, com quase o dobro  do número de desfiles, em comparação à edição anterior, passando de 27 para 42. O evento trouxe de volta às passarelas marcas como a homônima Alexandre Herchcovitch, À La Garçonne e Salinas, além de  grifes vanguardistas, presentes em todas as edições, como Lino Villaventura.

Lino Villaventura

Quem acredita que a alta-costura no Brasil se encerrou com o estilista paraense Dener Pamplona - pioneiro na moda brasileira,  introduzindo esse conceito no país - certamente nunca assistiu a um desfile de Lino Villaventura. 

Conhecido por suas peças com nervuras elaboradas, Lino trouxe nesta edição vestidos e blusas assimétricas, bordados minuciosos, saias em formato de pétalas, além de modelos com volumes, drapeados e tecidos que simulavam plástico, em cores vibrantes como azul piscina e verde claro. Desta vez, além dos neutros — o branco que abriu o desfile, seguido pelo bege e preto —, a paleta se expandiu para tons multicoloridos, como roxo e vermelho, alternando entre peças fluidas e modelos mais estruturados. A modelo Silvia Pfeifer encerrou  o espetáculo visual concebido pela mente fértil  de Lino, desfilando um modelo transparente azul-marinho com brilhos, acompanhado de um robe preto de cetim e luvas arroxeadas que deixavam os dedos à mostra.

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Reprodução: @agfotosite

 

 

 

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O estilista Lino Villaventura na passarela após o final do desfile - Reprodução: @agfotosite

À La Garçonne

À La Garçonne comemorou 15 anos de marca e 20 anos de carreira de seu diretor criativo Fábio Souza  Após sua separação profissional de Alexandre Herchcovitch, Souza decidiu redefinir os códigos da marca, que anteriormente destacava o conceito de upcycling e trazia cordas trançadas como logotipo. Agora, com controle total sobre as direções, códigos costumeiros da etiqueta  aparecem de forma pontual em algumas peças, enquanto o principal destaque neste primeiro desfile foi a cartela de cores em preto e branco, combinada com variações de design, ternos de alfaiataria e lurex, que abrilhantaram a passarela ao lado de estampas quadriculadas. Vale destacar as saias de tule com poás, uma tendência atemporal, a presença do personagem Snoopy, que apareceu em moletons e casacos, e os laços.

 

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O estilista Fábio Souza na passarela após seu desfile - Reprodução: @agfotosite

 

 

Salinas

Salinas, uma marca tradicional de beachwear, retornou ao maior evento de moda da América Latina após seis anos longe das passarelas, apresentando a coleção "Sol, Sal e Sonhos". Com uma paleta predominantemente neutra e atemporal, a coleção trouxe peças que se adequam tanto ao momento praia quanto ao pós-praia. Entre os destaques estão minissaias, chapéus compridos de palha desfiada, bolsas de crochê, camisas de linho e biquínis assimétricos. Uma seção da coleção, com peças em tons de cinza claro, com calças soltinhas, maiôs e casaquinhos leves com brilhinhos prateados sutis. Os acessórios incluíam braceletes dourados e belly chains (cordões para adornar a barriga) com o nome da marca, além de chinelos de dedo com plataforma e tamancos prateados.

 

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Alexandre Herchcovitch

E por fim, Alexandre Herchcovitch com sua etiqueta homônima e conhecida por trazer designs inovadores, dessa vez em parceria com a marca alimentícia de queijos Catupiry, apresentou  bolsas e moletons com seu logo, uma produção com a estilista Fábia Bercsek, que o ajudou a criar estampas feitas à mão.

Os recortes assimétricos moldaram-se abaixo dos seios, deixando a barriga à mostra e chegando ao ponto final: a virilha, trazendo à tona uma estética fetichista. Para aqueles que preferem não arriscar e se manter dentro de estilos mais convencionais, também há opções que beiram o óbvio e comercial, como moletons felpudos listrados, regatas, calças de alfaiataria e jeans. Mas, como era de se esperar de Alexandre Herchcovitch, foi possível observar um mergulho profundo nos códigos dos anos 70, trazendo consigo toda a purpurina que remete à Era Disco, além de tecidos como jacquard, lurex, paetê em padronagem xadrez e lamê.



 

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Reprodução: @agfotosite

 

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O estilista Alexandre Herchcovitch na passarela após o seu desfile - Reprodução: @agfotosite

 

Peça de Antônio Fagundes e Christiane Torloni tem temporada prevista até dezembro
por
Giovanna Montanhan
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01/10/2024 - 12h

A estreia da peça ‘Dois de Nós’ ocorreu no dia 05 de setembro, no Teatro TUCA. O elenco reúne grandes nomes do teatro e da televisão brasileira, como Christiane Torloni, Antônio Fagundes, Thiago Fragoso e Alexandra Martins. É dirigido por José Possi Neto, e concebido e escrito por Gustavo Pinheiro, jornalista que também assinou os textos de ‘Antes do Ano que Vem’ e ‘A Lista’. O palco do Teatro TUCA foi escolhido para ser a primeira casa do espetáculo, que ficará em cartaz até dia 15 de dezembro.

A premissa é de um mesmo casal, retratado em dois momentos distintos de suas vidas - na juventude, sendo interpretados por Alexandra e Thiago e na velhice, por Christiane e Antônio. Em um determinado momento, ambas as versões se encontram em um mesmo quarto de hotel, onde o passado e o futuro se entrelaçam, revelando segredos, frustrações e sonhos. O choque entre duas perspectivas de si mesmos desencadeia uma série de revelações e questionamentos. 

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Elenco da peça 'Dois de Nós' - Reprodução: Instagram @doisdenosteatro

 

A química e o entrosamento entre os atores é um ponto de destaque na peça. Alguns membros do elenco da peça já haviam trabalhado juntos anteriormente, como Torloni e Fagundes, que contracenaram juntos em ‘Amizade Colorida’ (1981), ‘Besame Mucho’ (1987) ‘Louco Amor’ (1983),  ‘A Viagem’ (1994) e ‘Velho Chico’ (2016).

Alexandra Martins explicou, em entrevista à AGEMT, que o texto foi escolhido pelo próprio Gustavo Pinheiro, e escrito especificamente no elenco atual. Ela se apaixonou imediatamente pela obra assim que teve o primeiro contato com o roteiro, que discute a questão geracional nos relacionamentos. 

Antonio Fagundes afirmou, também para a AGEMT, que o texto é “perfeito para o momento atual, em um período em que tantas pessoas estão se afastando umas das outras em meio à polarização”.

Para ele, a peça traz uma mensagem importante de união. Ao comentar sobre suas contribuições ao personagem, mencionou que “todo ator sempre contribui para além do que está no texto de alguma forma”. 

Já Thiago Fragoso explicou que, embora o texto normalmente seja o primeiro fator a atrair um ator, foi o convite de Fagundes que o motivou para o trabalho. Segundo ele, que já havia trabalhado com o ator na televisão, a parceria no teatro seria um próximo passo. Rasgou elogios a Antônio, o reverenciando como “uma lenda do ofício”, como alguém que “continua a se superar”.

Por fim, mencionou que o encontro é uma honra e uma experiência muito especial, e, também fez questão de reafirmar a genialidade do texto. 

A peça utiliza do recurso da metalinguagem e leva o público para uma reflexão sobre as relações humanas e suas imperfeições, mostrando como elas são, na verdade, perfeitas em sua complexidade.Ao contrário das idealizações trazidas pelas comédias românticas norte-americanas, o espetáculo confronta o espectador com a realidade.

O espetáculo é recheado de momentos de gargalhadas intensas e emoções profundas, proporcionados por uma escrita atual e sagaz, que retrata os desafios da modernidade de maneira leve e divertida. O humor, aliado à reflexão, faz também com que o público não apenas se divirta com as situações cotidianas encenadas no palco, mas também se enxergue nelas, como um autorretrato. 

Os ingressos estão disponíveis na bilheteria do Teatro TUCA e também no site/app do Sympla. Os valores começam a partir de R$80. Entretanto, docentes e discentes da PUC-SP pagam R$20. 

Também é possível adquirir uma visita guiada pelos próprios atores aos bastidores, camarins e coxias por R$100 a mais. 

Ao fim de cada sessão, há um bate-papo onde os atores interagem com a plateia e respondem respectivas dúvidas e impressões sobre o espetáculo apresentado.

 

Conhecido por seu humor ácido, o tabloide desafiou a censura ao tratar de temas espinhosos como política em plena ditadura
por
Giovanna Montanhan
|
24/09/2024 - 12h

O jornal "O Pasquim" surgiu no final dos anos 1960 como uma publicação alternativa que deixou sua marca no jornalismo e na cultura brasileira, por jornalistas e cartunistas como Jaguar, Millôr Fernandes, Ziraldo, Henfil, Tarso de Castro e Paulo Francis, destacou-se por sua abordagem irreverente, humor mordaz e crítica contundente ao período mais repressivo que dominava o Brasil na época. O semanário chegava a vender mais de 200 mil exemplares, um número bastante expressivo, dadas as circunstâncias. A partir disso, o periódico rapidamente se tornou um símbolo de resistência e contestação.

Suas páginas não só abordavam questões políticas e sociais de forma sarcástica e provocativa, mas também ofereciam um espaço para manifestações culturais de vanguarda, dando voz a escritores, músicos e artistas plásticos. A irreverência e o tom crítico do jornal influenciaram toda uma geração de jornalistas e intelectuais, que viam nele uma trincheira de resistência à ditadura e à repressão moralista da época.

"O Pasquim" foi um veículo de comunicação essencial durante os anos de chumbo da ditadura militar (1964-1985), oferecendo uma plataforma para a liberdade de expressão em uma época de intensa censura e apagamento social. Seus textos afiados, charges ousadas e entrevistas com figuras intelectuais e de renome desafiaram o status quo e abriram espaço para o debate político e social. A capacidade do jornal de criticar o regime, muitas vezes através de um humor sarcástico, fez dele uma leitura obrigatória para aqueles que buscavam uma visão alternativa àquela imposta tradicionalmente.

Em entrevista, o coordenador do curso de História da PUC-SP e editor da Revista Projeto História (https://revistas.pucsp.br/index.php/revph), Prof. Dr. Luiz Antônio Dias, afirmou que, embora houvesse diversos jornais de resistência, cada um com sua trajetória e importância, O Pasquim destacou-se indiscutivelmente como o mais influente. E assim como os demais de mídia alternativa da época, sofreu duramente as consequências de sua postura combativa, chegando a enfrentar ameaças frequentes de fechamento, prisões de colaboradores e uma censura implacável. Ao refletir sobre os dias de hoje, surge o questionamento de se um periódico como O Pasquim teria espaço no cenário atual. Dias acredita que um veículo de comunicação como este citado acima, sustentado por uma equipe igualmente talentosa, seria de extrema relevância para oferecer uma crítica bem-humorada, mas ao mesmo tempo séria e consistente, em resposta aos discursos reacionários e ao avanço das pautas conservadoras que permeiam a sociedade contemporânea. No entanto, reconhece que as redes sociais seriam uma concorrência significativa para uma publicação desse tipo nos dias atuais, ressaltando que um conteúdo de qualidade semelhante ao que O Pasquim produzia seria um alento diante da superficialidade e fugacidade que marcam grande parte das interações nas plataformas digitais.

Edições Memoráveis:

Algumas edições de O Pasquim se tornaram icônicas e marcaram momentos importantes, gerando uma série de discussões calorosas na sociedade tradicional brasileira. Uma das capas mais famosas é a que apresenta a atriz Leila Diniz, de biquíni e grávida na praia. Essa imagem, publicada na década de 1970, chocou as pessoas conservadoras da época e rapidamente se tornou um símbolo do movimento feminista e da luta contra o moralismo. Sua imagem representava um embate direto aos padrões conservadores que estavam infiltrados na população do país naquele período. Assim que foi publicada, gerou um enorme impacto e consolidou a reputação do jornal como um veículo altamente provocador.

Outra edição de grande repercussão foi escrita integralmente pelo compositor e escritor Chico Buarque de Hollanda durante seu exílio na Itália. No ano de estreia do jornal, Chico utilizou o nome fictício "Julinho da Adelaide" para evitar a censura e as perseguições do regime militar. Segundo o veículo O Estado de S. Paulo, foi revelado no jornal Última Hora, que esse pseudônimo foi criado com a colaboração do escritor Mário Prata, que o ajudou a driblar a repressão. Esse episódio entrou para a história, sendo lembrado não apenas pela astúcia do cantor em contornar a censura, mas também pelo conteúdo que misturava crítica política, ironia e música.

"O Pasquim" também foi palco de diversas polêmicas, especialmente em um período em que a fronteira entre crítica social e entretenimento era muitas vezes tênue. Entre as muitas controvérsias, destacam-se aquelas que envolvem o tratamento dado às mulheres em suas páginas. Embora o jornal tenha sido um bastião de liberdade de expressão e resistência à coerção, ele também foi criticado por uma abordagem frequentemente machista em seus conteúdos. Muitos dos textos publicados reproduziam estereótipos de gênero e, por vezes, sexualizavam as mulheres de maneira explícita.

Polêmicas:

Destaque para dois dos casos mais memoráveis: ao noticiar a morte da escritora Louella O. Parsons, em 1972, as palavras utilizadas para descrevê-la foram: "gorda e ‘feíssima’". Outro caso foi quando o cartunista Ziraldo publicou um jogo de palavras cruzadas, em 1976, que incluía uma "mulher ‘gordona’, feia, desajeitada", segundo as palavras descritas no jornal.

As páginas também possuíam incontáveis referências jocosas aos homossexuais e transexuais, sem deixar de mencionar os comentários desagradáveis sobre negros e asiáticos. Em 1974, uma charge tirava sarro dos chineses ao se referir a eles da seguinte maneira "(...) reconhecemos 900 milhões de chineses. Como? Se são todos iguais."

O termômetro também esquentava quando "O Pasquim" e o colunista social Ibrahim Sued trocavam uma série de farpas. Como um representante da imprensa tradicional e de costumes conservadores. Sued era facilmente um alvo para o tom incisivo adotado pelo jornal. O periódico publicava piadas e comentários, com frequência, que ironizavam o estilo de vida da alta sociedade carioca e, consequentemente, afetavam a coluna de Ibrahim.

Em uma das edições, o jornal parodiou o estilo de Sued, incluindo suas frases de efeito e sua maneira peculiar de escrever sobre os bastidores da sociedade. A abordagem irreverente do O Pasquim contrastava com a seriedade e a pompa da coluna de Ibrahim, o que gerava, sem dificuldade, incontáveis provocações. Em resposta, o jornalista chegou a criticar abertamente os editores e cartunistas em seus textos, acusando-os de serem demasiadamente "desbocados" e "grosseiros".

Outro episódio emblemático foi quando O Pasquim ironizou a cobertura que Ibrahim Sued fazia das festas da elite e da alta sociedade, descrevendo-o como alguém que "bajulava os ricos e poderosos". A sátira era uma forma de criticar o jornalismo social da época, que frequentemente deixava de lado questões políticas e sociais em favor de um conteúdo frívolo.

O fim de uma era

No entanto, com o término da ditadura em 1985 e o processo de redemocratização, O Pasquim perdeu parte de sua função de resistência política. Além disso, mudanças no mercado editorial e a fragmentação de seu público-alvo contribuíram para o declínio de sua popularidade. Em 1991, com dificuldades financeiras e sem a mesma relevância política que antes o sustentava, o jornal encerrou suas atividades, marcando o fim de uma era para a imprensa alternativa no Brasil.

O Pasquim, em sua essência, simbolizou a coragem de enfrentar poderes autoritários com inteligência, humor e irreverência, servindo como uma espécie de luz no fim do túnel em tempos nebulosos.

Hoje, habitamos em um cenário global marcado por inúmeras tentativas de controlar narrativas e suprimir vozes dissidentes, e a lição deixada pelo jornal é mais relevante do que nunca.

Seu espírito crítico e combativo nos lembra da importância de uma imprensa imponente, que marcou o período da contracultura e não se intimidou diante das ameaças à liberdade. Em um momento em que as polarizações políticas e o avanço de discursos reacionários buscam minar o diálogo e a diversidade de opiniões, é crucial reforçar a necessidade de preservar veículos de comunicação que promovam o pensamento livre e o debate construtivo. O legado do jornal nos convida a refletir sobre a importância de garantir, sempre, que as ideias possam circular tranquilamente, para que o futuro não repita os erros do passado.

 

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 Reprodução/ Fundação Biblioteca Nacional

 

 

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Foto: Divulgação/ Sebo virtual - Conrado Leiloeiro

 

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Foto: Divulgação/ Sebo virtual - Conrado Leiloeiro

 

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Foto: Divulgação/ Sebo virtual - Conrado Leiloeiro

 

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Foto: Divulgação/ Sebo virtual - Conrado Leiloeiro

 

 

 

 

 

 

O grupo de super-heróis, expondo assuntos como genocídio e preconceito, é elevado a outro patamar
por
Matheus Henrique
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14/06/2024 - 12h

A Marvel, após enfrentar recepções mornas em longas como Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania (2023) e As Marvels (2023), e experimentar séries igualmente rejeitadas pelo público e crítica, como Invasão Secreta (2023) e She-Hulk (2022) conseguiu oferecer em X-Men '97 uma visão madura e consciente da sociedade, redimindo-se de suas últimas produções frequentemente criticadas pelo tom infantil e despolitizado.

A história se inicia um ano após o fim da quinta temporada da série clássica dos anos 90, na qual Charles Xavier supostamente morreu devido a um atentado de Henry Peter Gyrich, um dos vilões clássicos da série. Simultaneamente, o grupo ainda lida com extremistas que visam o extermínio da raça mutante. O ódio anti-mutante adquire aqui um pano de fundo político, simbolizando a aversão a qualquer minoria. Com a quase morte de Xavier, Scott Summers, o Ciclope, assume a liderança da equipe, que posteriormente é transferida para Erik Magnus Lehnsherr, o Magneto.

A repulsa, que também é o principal fio condutor da série, se demonstra nessa sociedade fictícia como algo brutal, em que visões de mundo, mesmo desejando o melhor para sua espécie, se chocam, convidando o público a tomar um lado. Em um polo, temos a ideologia de Magneto, que aposta na segregação de sua espécie mutante para cessar o ódio contra eles, enquanto Xavier, pacifista, idealizava a coexistência da raça evoluída com os seres humanos. Magneto, ao ser posto como líder do grupo, tenta assumir uma postura próxima à de Xavier, mesmo sendo recebido com desconfiança por líderes mundiais e pelos próprios X-Men.

No quinto episódio da temporada, intitulado "Lembre-se Disso", ocorre o genocídio mutante em Genosha, um evento devastador que resultou na morte de Gambit, um dos X-Men, e de milhares de outras vítimas. Genosha, originalmente apresentada na série clássica dos anos 90 como uma base para trabalho escravo, foi reinterpretada em X-Men '97 como uma criação de Magneto, destinada a ser um lar acolhedor para milhares de mutantes de diversas origens e habilidades.

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Vampira chora abraçada ao corpo de Gambit, que morreu após o massacre - Fonte: Disney

Além disso, os vilões da série também contribuem para a alegoria explorada. Bastion é retratado como o responsável pelo massacre de mutantes, incluindo crianças, que ocorreu com o aval da ONU. Paralelamente, há a presença de um lunático eugenista, cujo discurso se assemelha ao do nazismo, personificado na figura do Dr. Sinistro. Esses elementos reforçam a temática complexa da série e instiga os espectadores a refletirem sobre questões étnicas.

A animação faz questão de apresentar os problemas que essa sociedade enfrenta, desde um médico que se recusa a realizar um parto mutante por aversão a raça, até uma comunidade conservadora que rejeita a inclusão dos mutantes na sociedade, com medo de perder seus empregos, já que eles são vistos como superiores devido aos seus poderes, e representam uma ameaça ao estado de bem-estar dessa população, numa clara metáfora à xenofobia estadunidense. Este é um dos maiores acertos da Marvel, que nesta produção não teme criticar temas como conservadorismo e reacionarismo.

Personagens como Tempestade, que perde seus poderes no início da temporada e parte em uma jornada de autodescoberta, ou Madelyne Pryor, que reflete preocupações com o preconceito que sua prole mutante enfrentaria, simbolizam, respectivamente, questões ligadas à negritude, ao feminismo e à maternidade. Aqui, os X-Men são pensados não apenas como um coletivo, mas também através de histórias individuais, com suas nuances.

A primeira temporada da saga está completa no Disney+, e é criada e roteirizada por Beau DeMayo (The Witcher: A Lenda do Lobo). Nessa primeira leva de episódios, se mostra melhor amarrada em comparação à série original, em que o estilo de aventura procedural, com conflitos resolvidos em cada episódio, é deixado de lado para entregar uma narrativa coesa e muito bem construída, desenvolvida ao longo de toda a temporada.

A animação em si é um dos pontos altos da série, extremamente colorida, enérgica e com uma excelente trilha sonora inspirada em Michael Jackson e na banda Radiohead, com presença marcante de sintetizadores, que demarca bem a trilha de cada um dos personagens. As referências de época são outro ponto de destaque, como no quarto episódio, em que a série brinca com a estética noventista, referenciando jogos de 8 e 16 bits, populares na época, oferecendo uma experiência agradável e nostálgica de assistir.

Comparada a outras séries, X-Men '97 se destaca por seu enfoque crítico e principalmente político, no qual se alegoriza aos mutantes questões minoritárias integrado de forma coesa à narrativa, sem parecer forçado. É fácil perceber que a série dialoga com o que ocorre na realidade, como o próprio criador e roteirista da série fez questão de mencionar. DeMayo escreveu em uma postagem no X, antigo Twitter, que se inspirou em eventos reais, como os ataques em Tulsa, na boate Pulse e às Torres Gêmeas, para criação do quinto episódio.

A série, através de personagens complexos e temas relevantes, estabelece um novo padrão para animações de super-heróis. Ao utilizar os personagens como metáfora para temas como autoaceitação e preconceito, demonstra não temer uma experiência provocativa e que leve seu público à reflexão. A segunda temporada do seriado está em estágio de produção, com uma terceira confirmada pela Marvel Studios.

Na atual Itália de extrema direita a exposição “Foreigners Everywhere” promove uma visão contracultural sobre o estrangeiro
por
Beatriz Yamamoto
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16/05/2024 - 12h

Bienal de Veneza 2024
Entrada da Bienal de Veneza de 2024/ Foto: Matteo de Mayda/CASACOR

A 60ª edição da Bienal de Veneza, que ocorre de 20 de abril a 24 de novembro, destaca-se por suas exposições que reúnem imigrantes, artistas queers, outsiders, autodidatas e indígenas, caracterizados por sua condição de estrangeiros, o que inspira o título "Foreigners everywhere" ("Estrangeiros em todos lugares", em português). No atual momento, a relevância do tema se estende não apenas para a história da Bienal de Veneza, mas também para a sociedade e a cultura italiana. Como também traz uma enorme relevância para o Brasil, que além de abordar o fenômeno contemporâneo da imigração compulsória, tem pela primeira vez a curadoria de um brasileiro, Adriano Pedrosa.

 

Curadoria de Adriano Pedrosa

“O diferente, nessa edição, é a presença de um curador brasileiro, um intelectual que já atuou como artista, inclusive, experimentando a dimensão mais pragmática e política de um pensar sobre arte, reinterpretar sua história e as relações de poder nela implicadas, e sublinhar o papel do Brasil nesse contexto” comenta Rafael Vogt, artista, professor de pós-graduação na Faculdade Belas Artes, curador e ministrante de cursos de arte livres no MASP, na Pinacoteca e no Instituto Tomie Ohtake. Em entrevista à AGEMT, ele compartilha sua experiência como crítico de arte e destaca a importância do Brasil nessa Bienal.

A 60ª edição da Bienal conta com 332 artistas, provenientes majoritariamente de países periféricos, e que vivem ou viveram em situações marginais em decorrência de sua origem, identidade de gênero ou de problemas migratórios. 

Vogt destaca grandes nomes, inclusive estrangeiros, que atuaram no Brasil ou a partir dele: Lina Bo Bardi, Maria Bonomi, Claudia Andujar, Waldemar Cordeiro, Cícero Dias, o Movimento dos Artistas Huni Kuin, Rubem Valentim, entre muitos outros de um grupo que forma, provavelmente, a maior “representação brasileira” já apresentada na Europa.

Adriano Pedrosa, diretor artístico do Museu de Arte de São Paulo (MASP), assume o papel de curador para o principal evento de arte sediado no epicentro cultural europeu. Sua curadoria destaca artistas estreantes de diversas origens. 

 

60 edição: “Estrangeiros em todos os lugares”

O título da mostra, Foreigners everywhere (Estrangeiros em todos os lugares), tem inspiração na obra de Claire Fontaine, um coletivo de artistas parisienses que utiliza o pseudônimo feminino para “explorar como objetos pré-existentes podem assumir novas identidades artísticas”, segundo o Aventura Mall.

Claire Fontaine, Bienal de Veneza
Obra de Claire Fontaine, Foreigners Everywhere, 2004/ Foto: Archives Mennour.

 

A obra é um conjunto de esculturas em neon de diversas cores e em diferentes idiomas, majoritariamente os de nações do Sul Global e de etnias indígenas, as palavras “Foreigners Everywhere”. 

O coletivo Claire Fontaine tem como inspiração Marcel Duchamp e explora a essência do movimento dadaísta: um objeto produzido em massa, disponível comercialmente e utilitário passa a designar uma identidade de gênero e a expressar um discurso político. 

A obra inspirou Adriano Pedrosa a utilizar o nome de um coletivo italiano de base anarquista, Stranieri Ovunque (Estrangeiros em todos os lugares), transformando-o em uma obra de arte que é, ao mesmo tempo, discursiva e única, mas também universal.

Além disso, em sua apresentação, Adriano Pedrosa menciona que a palavra estrangeiro em italiano, em português, em espanhol e em francês é etimologicamente ligada ao termo “estranho”. O mesmo vale para a palavra queer (do inglês), cuja origem também remete à ideia de “estranho”. Ele comenta que já foi estrangeiro em diversos momentos de sua vida, morando fora e viajando. Pedrosa se identifica como queer e evidencia a inclusão de artistas queers, trans e não binários na exposição.

 

A exposição

Instalada no Pavilhão Central (Giardini) e no Arsenale, a Exposição Internacional é dividida em duas seções: o Núcleo Contemporâneo e o Núcleo Histórico.

A primeira parte, intitulada “Núcleo contemporâneo”, é composta por artistas queers, outsiders, populares e autodidatas que acabam se relacionando por transitar dentro de diferentes sexualidades e gêneros ou operar em círculos e contextos diferentes ou estarem marginalizados no circuito de arte sendo muitas vezes perseguidos e proibidos.

Além disso, conta com forte presença dos indígenas, que como mencionado pelo curador durante sua apresentação, são considerados estrangeiros em sua própria terra. 

Os Estados Unidos, por exemplo, são pela primeira vez representados individualmente por um artista indígena de origem Choctaw-Cherokee, Jeffrey Gibson. A França é representada por Julien Creuzet, um artista negro nativo da colônia martínica, e traz obras de poesia, folclore e esculturas.

O Brasil marca presença neste núcleo com o coletivo Mahku, que representa os artistas indígenas de forma significativa no pavilhão central. O coletivo de arte indígena amazônica conta a história da “kapewë pukeni” (“a ponte do jacaré”) e retrata visões inspiradas em rituais sagrados baseados no consumo de ayahuasca, bebida de efeitos psicoativos.

A segunda parte, intitulada de “Núcleo histórico”, busca reescrever a história do modernismo no mundo, destacando que este movimento não se limita à Europa, e promove uma reflexão crítica sobre as fronteiras globais do modernismo. Essa seção concentra-se principalmente na apresentação de artistas da América Latina, África, Oriente Médio e Ásia que atuaram ao longo do século XX. Suas obras estão inseridas no contexto do modernismo, porém, em grande parte, permanecem desconhecidas no cenário principal da arte moderna e contemporânea. Nomes como Tarsila do Amaral e Frida Kahlo estarão presentes.

O núcleo é composto por três salas distintas: uma é intitulada Portraits, com pinturas, obras em papel e esculturas que exploram a figura humana sobre a crise de auto representação por grande parte da arte do século XX; outra chamada Abstractions,  com 37 artistas, que expressam novas conexões no campo abstrato a arte; e a terceira é dedicada à diáspora artística italiana mundial no século XX. São exibidas obras de 40 artistas italianos da primeira ou segunda geração, exibidos nos cavaletes de vidro de Lina Bo Bardi, cumprindo o duplo papel de homenagem à arquiteta ítalo-brasileira e de assinatura curatorial.

Cavaletes Lina Bobardi
Núcleo Histórico com as obras expostas nos cavaletes de Lina Bo Bardi/ Foto: Marco Zorzanello

 

Arte e Política

A arte nunca é apartada da política. A produção artística reflete o contexto social e cultural, incorporando preocupações políticas, sociais e econômicas. Os artistas usam sua arte para expressar opiniões políticas, desafiar o status quo e promover mudanças sociais, abordando questões como injustiça, desigualdade e direitos humanos. As obras de arte são interpretadas dentro de um contexto político e ideológico, analisadas pelo público e por críticos que buscam significados políticos subjacentes. 

A 60ª edição propõe que o interlocutor alargue o próprio horizonte e problematize a quem recai, de fato, a identidade do estrangeiro. Além disso, levanta questões contemporâneas que dialogam intimamente com a tradição e o legado histórico da Bienal de Veneza.

O crítico Rafael Vogt observa que, embora essa abordagem pareça ampliar o campo da arte para incluir o ativismo, o engajamento pode ser sustentado, ironicamente, por uma mentalidade mais conservadora, centrada ainda na dicotomia tradicional pintura/escultura e em estruturas randomicamente estabelecidas, mais pelo mercado secundário do que por um reflexão sobre as complexidades da cultura contemporânea. 

“A presença dos cavaletes de vidro de Lina Bo Bardi não deixa dúvidas sobre um recuo que coloca o meio mais tradicional e intrinsecamente eurocêntrico e colonial, a pintura, no centro das discussões mais variadas como questões climáticas, causas como a indígena, os movimentos migratórios, questões de gênero e sexualidade. Não que isso ofusque o teor estético da exposição, mas, precede-o, a ideia de que a arte não tem uma função social específica, mas uma relação autônoma com o desenvolvimento histórico de seus meios”, finaliza o professor.

Candidatos à Reitoria da PUC-SP parecem não conhecer as funções administrativas da universidade
por
Lucas de Paula Allabi
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16/05/2024 - 12h

É de conhecimento popular que em tempos de eleição tudo se promete, e a consulta da PUC-SP não é diferente. Para angariar votos de possíveis eleitores, as duas chapas que concorrem aos cargos de reitor e vice-reitora prometem tudo, ou quase tudo.

Dentre as promessas, por exemplo, estão as de modificar os planos de carreira dos professores, comprar equipamentos para os laboratórios, mudar o sistema de horas de trabalho dos funcionários e renovar os campi da universidade. 

Os professores Vidal Serrano, cabeça da chapa Renova PUC, e Márcio Fonseca, cabeça da chapa Nosso Tempo é Agora, proferem diariamente discursos e lançam panfletos e propagandas garantindo vários aperfeiçoamentos do sistema universitário. 

Alunos, funcionários e professores se deixam levar pelas palavras de líderes que representam um sentimento de transformação da PUC-SP. O problema é que grande parte das propostas de campanha das duas chapas depende de aprovação de outras instâncias administrativas da instituição.

O sistema de comando na universidade é simples. A Fundação São Paulo (FUNDASP), comandada pelo Arcebispo de São Paulo e seus bispos auxiliares, é a autoridade máxima e mantenedora da PUC-SP. Abaixo dela estão o Conselho Universitário (CONSUN), que é um órgão consultivo por onde passam em votação todas as questões acadêmicas da universidade, e o Conselho Administrativo (CONSAD), uma entidade similar que decide todas as questões econômicas, patrimoniais e financeiras da PUC-SP.

O reitor e o vice-reitor submetem suas propostas para essas duas organizações e devem acatar suas decisões sempre. O papel desses cargos é o de levar as pautas, discussões, deliberações ou votações para essas instâncias superiores.

E o que isso implica de fato? Vamos pegar um exemplo prático. A chapa Renova PUC afirma, em seu programa de campanha, que irá  “aumentar a disponibilidade de praças esportivas para os alunos”. Ora, isso implica um gasto financeiro e uma mudança do espaço físico da PUC-SP. Dessa maneira, a proposta de criação dessas praças será invariavelmente levada para debate no CONSUN e, se aprovada, para o CONSAD.

Lá, dois secretários-executivos nomeados pela FUNDASP e o reitor votam para aprovação ou rejeição do projeto em maioria simples, ou seja, 2 votos são necessários para uma vitória. Nesse caso, se os representantes da Fundação não quiserem novos espaços esportivos, o reitor nada poderá fazer. Ele será um voto vencido.

Mesmo se os secretários forem a favor, as questões patrimoniais devem sempre ser levadas para um parecer dos administradores da FUNDASP, como fica explícito no estatuto da PUC-SP. Ou seja, o papel do reitor é levantar suas decisões políticas feitas em sua campanha para serem consideradas por esses corpos.

Propostas similares da campanha Nosso Tempo é Agora irão encontrar a mesma burocracia por serem mudanças que revolvem em questões patrimoniais ou em aumento de gastos. São elas: “Propor a criação de espaços dedicados a grupos de pesquisa”; “Aumento gradual e constante do orçamento destinado à pesquisa.”; “Garantir uma iluminação adequada em todos os espaços dos campi (...) para aumentar a visibilidade e reduzir os pontos cegos que podem representar riscos à segurança” e “Atualização (tecnologia 5G) e ampliação dos pontos de acesso à Internet sem fio nos campi da PUC-SP (...)”.

Outros temas muito abordados pelos planos de campanha também não são de competência exclusiva do reitor. No caso das bolsas, o artigo 28 do estatuto esclarece que qualquer política da área na PUC-SP deve ser submetida à Fundação São Paulo. Também, toda geração de despesas pelas pró-reitorias, como explicitado na seção II do mesmo documento, deve ser aprovada pela FUNDASP. E, por fim, os planos de ingresso, salários e promoção dos docentes devem ser dirigida pelos Planos Acadêmicos de Curso redigidos pela mantenedora.

Propostas, como da chapa Renova PUC, de “revisão de salários e contratos" dos professores, de “definição de reajuste das mensalidades” e de propor “o aumento do número de bolsas concedidas durante a graduação por razões de vulnerabilidade financeira” também dependem de outros órgãos para sua aprovação.

A chapa Nosso Tempo é Agora, apesar de instruir em seu programa de gestão algumas questões administrativas e a relação entre corpos da gestão, anda na mesma linhas, como a proposta de “desenvolver projetos de extensão e ampliar programas de bolsas em colaboração com empresas e ONGs”, a de “criação de política de permanência para estudantes bolsistas” e a de “investir em tecnologias mais avançadas e adequadas às demandas atuais e futuras”.

A minha sugestão, portanto, ao leitor é: preste muita atenção em promessas de campanha que acarretam aumento de gastos, mudanças de orçamentos ou modificação da infraestrutura. O que a Reitoria pode fazer, nesses casos, é levar essas discussões para o CONSUN e o CONSAD, que irão decidir seus rumos. A outra função desse cargo é o de gerência acadêmica. Isso implica a gestão de currículos, cursos, métodos de ensino, graduações, mestrados e doutorados.

Mas, mesmo nesses casos, a questão não é tão simples. Toda mudança nos planos e gerências dessas áreas deve ser votada pelo CONSUN. Esse corpo deliberativo, formado pelo reitor, pró-reitores, diretores das faculdades, um professor de cada curso, funcionários, um representante estudantil, o coordenador da Pastoral Universitária e um representante da FUNDASP, irá aprovar ou rejeitar projetos educacionais.

Nesse sentido, uma mudança como a “reestruturação e recomposição da equipe técnico- administrativa da SAE-EC e da Pós-Graduação lato sensu”, prometida pela chapa Nosso Tempo é Agora, deve ser votada por um corpo de interesses e origens variadas, com diversos objetivos que podem ser conflitantes.

Ainda por cima, os líderes da FUNDASP têm o direito de exonerar o reitor e os pró-reitores a qualquer momento, recompondo o CONSUN de forma mais amigável aos seus interesses. Apesar desta situação nunca ter acontecido, esta possibilidade está prevista no estatuto.

Dessa forma, por que a relutância em falar sobre os conselhos e as questões administrativas envolvendo a PUC? No programa de gestão da Renova PUC, em 16 páginas, a FUNDASP é mencionada 7 vezes, o CONSUN apenas 1 vez e o CONSAD nem sequer é citado. No programa da Nosso Tempo é Agora, em 77 páginas, a FUNDASP é mencionada 23 vezes, enquanto o CONSUN e o CONSAD são referenciados 5 vezes cada.

Ambas as chapas parecem se beneficiar do desconhecimento da comunidade universitária ao passarem a percepção de unilateralmente resolver as demandas dos funcionários, professores e alunos da PUC-SP. Nesse caso, os candidatos a reitor tomam forma como grandes personagens que poderão solucionar tudo à sua maneira.

Para o leitor melhor entender a situação administrativa da nossa universidade, destaquei alguns pontos importantes do estatuto que sugiro a leitura:

 

SOBRE O CONSUN 

Art. 20. O CONSUN é constituído:

 I – pelo Reitor, seu Presidente;

 II – pelo Vice-Reitor, sem direito a voto; 

III – pelo Pró-Reitor de Graduação, pelo Pró-Reitor de Pós-Graduação, pelo PróReitor de Educação Continuada, pelo Pró-Reitor de Planejamento e Avaliação Acadêmicos, e pelo Pró-Reitor de Cultura e Relações Comunitárias;

 IV – pelos Diretores de Faculdade; 

V – por 01 (um) Representante docente de cada Faculdade integrante da carreira do magistério, indicado por seus pares; 

VI – por funcionários administrativos da PUC-SP, indicados por seus pares em número equivalente aos representantes docentes das Faculdades, sendo pelo menos um de cada campus; 

VII – por representantes discentes, sendo um de cada Faculdade, indicados por seus pares; 

VIII – por 01 (um) representante da Fundação São Paulo, indicado pelo Presidente do Conselho Superior;

IX – por 01 (um) representante da sociedade civil organizada, indicado pelo Presidente do Conselho Superior da Fundação São Paulo; 

X – pelo Coordenador da Pastoral Universitária. 

 

Cabe ao CONSUN apenas questões acadêmicas, como: 

I - aprovar a política educacional, de desenvolvimento e permanente qualificação do Ensino, da Pesquisa e da Extensão da PUC-SP

II - aprovar o Plano de Desenvolvimento Institucional

III - apreciar os Planos Acadêmicos da PUC-SP

V – aprovar as normas e orientações gerais de programas e projetos de ensino, pesquisa e extensão, bem como as normas gerais da Graduação, Pós-Graduação e Educação Continuada da

VI – homologar os Projetos Pedagógicos dos cursos encaminhados pelo Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão;

 

SOBRE O CONSAD 

O CONSAD é constituído: 

I – pelo Reitor, como presidente; 

II – por 01 (um) Pró-Reitor da área acadêmica, escolhido entre os Pró-Reitores de Graduação, Pós-Graduação, Educação Continuada ou Planejamento e Avaliação Acadêmicos; 

III – pelo Pró-Reitor de Cultura e Relações Comunitárias; 

IV – pelos Secretários Executivos da Fundação São Paulo. 

Parágrafo único - São membros com direito a voto o Reitor e os Secretários Executivos da Fundação São Paulo.

 

Compete ao CONSAD: 

I – decidir sobre as questões econômico-financeiras da PUC-SP; 

II – fixar os valores dos encargos educacionais e das taxas escolares; 

III – decidir sobre a viabilidade financeira dos cursos, também no tocante à fixação, ampliação e diminuição de vagas; 

VI – indicar a política salarial da PUC-SP, remetendo à deliberação da Mantenedora;

XI – emitir parecer prévio quanto ao orçamento e ao Plano de Trabalho da PUC-SP, bem como de seu balanço anual;

XII – emitir parecer sobre questões patrimoniais; 

§4º As deliberações previstas nos incisos XI e XII deverão ser submetidas à aprovação da Fundação São Paulo.

 

Entre restaurantes e filmes, saiba o que fazer no dia 12 de maio
por
Helena Maluf
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09/05/2024 - 12h

No próximo domingo, dia 12 de maio, o mundo celebra o Dia das Mães, uma data especial para homenagear e reconhecer o amor e dedicação das mães em todo o mundo. A data não é apenas uma oportunidade de presentear com flores, cartões e presentes, mas também uma ocasião para passar tempo de qualidade com aquelas que desempenham um papel fundamental em nossas vidas. 

Para tornar esse dia ainda mais inesquecível, apresentamos algumas sugestões de filmes emocionantes e restaurantes aconchegantes para compartilhar momentos memoráveis com sua mãe.

O restaurante “Merenda da Cidade" é o ambiente perfeito para um almoço descontraído e acolhedor em família. Localizado na República, em São Paulo, ele é conhecido por sua culinária única que combina ingredientes locais frescos com técnicas de cozinha modernas. O cardápio é inspirado na gastronomia regional, mas com um toque de criatividade e inovação. Além da comida deliciosa, o restaurante se destaca pelo ambiente acolhedor e contemporânea. As paredes são decoradas com obras de artistas locais, criando uma atmosfera artística e cultural.

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Ambiente do restaurante “Merenda Da Cidade”. Foto: Instagram @merendadacidade 

Seguindo as raizes brasileiras, a franquia do filme “Minha mãe é uma peça” garante risadas e descontração para toda a família com a história de Dona Hermínia, uma mãe amorosa e engraçada, que busca representar a maioria das mães brasileiras. O filme estão disponível em plataformas de streaming como Netflix e Globoplay.

Se procura um ambiente mais animado, o restaurante “Petro Greek Taverna” localizado em Pinheiros, São Paulo, é vibrante e charmoso, com elementos decorativos e gastronomia que transportam os clientes diretamente para a Grécia. O cardápio apresenta pratos clássicos e deliciosos como moussaka, souvlaki, gyros, saladas frescas com queijo feta e azeitonas, além de uma variedade de frutos do mar preparados de maneira tradicional grega.

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Fachada do restaurante “Petros Greek Taverna”. Foto: Instagram @petrosgreektaverna

Coincidindo com a sugestão de restaurante, o filme "Mamma Mia!" que nos conta sobre relações familiares, especialmente a relação entre mãe e filha, se passa na Grécia. O musical é embalado pelas músicas do grupo ABBA, criando uma atmosfera divertida, leve e cheia de energias positivas - perfeito para o Dia das Mães.

Para celebrar o empoderamento feminino, o restaurante "Camélia Odòdò" é perfeito para esse dia. Localizado na Vila Madalena, São Paulo, o restaurante é o primeiro da chef Bela Gil, que comanda o restaurante sozinha. O cardápio segue a filosofia de alimentação saudável e consciente da mesma, e se destaca por sua abordagem inovadora e sustentável, com pratos elaborados a partir de ingredientes frescos, orgânicos e sazonais. Além disso, possui uma decoração que mescla elementos naturais, como madeira e plantas, proporcionando ao ambiente pequeno, uma atmosfera acolhedora e convidativa.

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Salão do restaurante "Camélia Odòdò". Foto: Ligia Skowronski/Veja SP.

Explorando ainda mais o empoderamento feminino que essa data especial celebra, o filme "Lingui" é essencial no seu itinerário. A história de uma mãe que luta para ajudar sua filha após descobrir que ela está grávida, dentro das pressões e expectativas sociais que as mulheres pretas enfrentam em sociedades conservadoras. Envolvente e provocativo, levanta questões importantes sobre a autonomia das mulheres, o papel da religião na sociedade e as complexidades das relações familiares.

Para as famílias que gostam de experiências fora do convencional, o restaurante experimental da Dengo, o Cabruca, localizado em Pinheiros, São Paulo, é um local fascinante. O ambiente é cuidadosamente projetado para envolver os clientes em uma jornada imersiva, combinando a arte da chocolateria com técnicas inovadoras de gastronomia. Além dessa experiência, o restaurante também oferece workshops e degustações, permitindo que os clientes conheçam mais sobre a origem e o processo de produção do chocolate Dengo.

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Restaurante “Cabruca” localizado na fábrica da Dengo. Foto: Instagram @cabrucarestaurante                                                              

Ainda para aqueles excêntricos e que gostam de se emocionar, o filme “Lado a lado” é perfeito para esse dia. O enredo conta a história de uma família em que a mãe estão lutando contra um câncer terminal, enquanto a nova namorada do pai, madrasta dos filhos, tenta se aproximar e encontrar seu lugar na família. É relatada uma jornada emocional que mostra o poder do amor e da união familiar diante das adversidades da vida.

 

Neste dia especial, seja qual for a forma escolhida para celebrar, o fundamental é expressar amor, gratidão e reconhecimento pela presença e dedicação o das mães em nossas vidas.

 

 

 

MET-Gala,76° edição do jantar teve como tema e inspiração o conto “O Jardim do Tempo”, de J.G Ballard
por
Gabriela Jacometto
Helena Maluf
|
07/05/2024 - 12h

O famoso MET Gala aconteceu nesta segunda-feira (06/05), na primeira segunda do mês de maio, fazendo jus a tradição do evento. A edição de 2024, em sinergia com a exposição realizada anualmente no Anna Wintour Costume Center - Ala no The Metropolitan Museum of Art especialmente voltada para exposição de moda, sempre no tema do MET Gala - tem como tema deste ano “Belas Adormecidas: O despertar da Moda”. 

O tema é uma analogia sobre roupas frágeis e delicadas demais para serem usadas novamente. A exposição, assim como o tapete vermelho do MET, conta com peças da Loewe, patrocinadora do evento, Alexander McQueen, Dior e muito mais. E teve como co-anfitriões, Bad Bunny, Chris Hemsworth, Zendaya, Jennifer Lopez ao lado da diretora  e organizadora do evento: Anna Wintour. 

Já o tema dos figurinos faz alusão ao conto ‘O Jardim do Tempo’, do escritor inglês J.G Ballard. O conto reflete sobre a passagem do tempo e as mudanças que o mesmo carrega. O jardim envelhece rapidamente, as plantas crescem e morrem em um ritmo acelerado, tudo isso acompanhado das reflexões do narrador. 

O tapete vermelho do jantar, foi marcado por roupas florais e elementos botânicos, que remetem à natureza, além das interpretações de peças antigas de famosos designers e seus arquivos.  

Roupas que fazem metáfora com a passagem de tempo marcaram presença, como o vestido que a cantora Tyla utilizou, da marca Balmain, feito inteiramente de areia esculpida, acompanhado de uma bolsa no formato de ampulheta. 

tyla
Foto: Getty Images

 

Um dos destaques da noite foi a presença de celebridades como Ariana Grande, Taylor Russell, entre outros, que deslumbraram com looks da marca Loewe, como mencionado antes, patrocinadora do evento. 

Com um vestido todo branco, a cantora Ariana Grande tirou o fôlego dos presentes ao passar pelo tapete. A peça foi feita sobre medida, com um corpete feito inteiro com madrepérolas.

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Foto: Getty Images

 

Novamente investindo no corpete, a Loewe produziu para a atriz Taylor Russell uma peça esculpida em madeira e pintada à mão.

taylor
Foto: Marleen Moise//Getty Images

 

Outro ponto alto da noite foi a presença da atriz Zendaya, que brilhou com não uma, mas duas interpretações únicas do tema. Em seu primeiro look, ela usou um vestido azul royal e verde esmeralda, com ornamentos que pareciam inspirados em árvores frutíferas, uma criação de John Galliano, diretor criativo da marca Maison Margiela. 

 

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Foto: Jamie Mccarthy//Getty Images                                                                                                                                                                                                                    


Em seu segundo look, a atriz reapareceu com um vestido preto,  uma peça de 1996 da era Givenchy de John Galliano,  combinando com um chapéu da marca Alexander Mcqueen, que remete a um buquê inteiro de flores. 


 

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Foto: Theo Wargo//Getty Images

 

A cantora Lana del Rey também se destacou no retorno deslumbrante ao evento, após 5 anos ausente. Ela usou um custom-made da marca Alexander Mcqueen, inspirado em uma peça de archive da grife. O vestido em tule com detalhes que imitavam galhos espinhentos por toda a peça, e o mesmo tecido do vestido transpassado pelo rosto e cabeça.


 

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Lana Del Rey homenageando o icônico look da coleção de Alexander McQueen. Foto: Getty Images 
 

 

Prestigiando o Brasil, a atriz Bruna Marquezine fez sua estreia no tapete do evento. Usando um vestido longo branco da marca Tory Burch, com silhueta marcada e flores na barra retratando o tema.
 

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Foto: Getty Images 

 

O evento também foi marcado por uma performance artística da cantora Ariana Grande, que vestia Maison Margiela feito pelo designer atual da marca: John Galliano. Instalações interativas e discursos inspiradores que destacaram a importância da criatividade, e do poder da moda como uma forma de expressão e de contar histórias.
 

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Foto: Getty Images