No futebol, cada voz feminina que ecoa é uma conquista. No episódio “Vozes em Campo”, trouxemos a história e a visão da repórter Gabrielle Botário e da narradora Letícia Pinho, que compartilharam como lidam com as críticas machistas e as comparações no jornalismo esportivo. Com resistência e determinação, elas mostram que ocupar espaços é também transformar o jogo.
A Três Cabeças é um grupo de teatro independente formado em 2022, no ABC Paulista. Fundada pelos atores Rodrigo Pinho, Sarah Arsani e Sid Lima, a companhia nasceu da união criativa de três artistas que pensam, criam e dividem o palco em parceria. Confira a entrevista em vídeo:
No fim de março, o influenciador e coach fitness estadunidense Ashton Hall, de 29 anos, viralizou no TikTok ao compartilhar sua rotina matinal, que começa às 3h50 e vai até as 9h30. No vídeo, Hall adota comportamentos inusitados e os associa diretamente ao aumento da produtividade diária. “O pecado vive tarde da noite. Se você está lidando com uma mente fraca, más decisões ou falta de produtividade, durma cedo”, escreveu em seu post.

Nos últimos anos, conteúdos como esse têm se tornado frequentes em plataformas digitais e são amplamente propagados, sem considerar as diferentes realidades, condições de saúde e necessidades do público que os consome. Para a psicóloga clínica, Larissa Romano, em entrevista à AGEMT, esse tipo de postagem pode ser prejudicial para quem assiste “Eles estabelecem uma comparação de realidades e isso leva ao sofrimento emocional, principalmente porque são comparações desleais – as realidades são diferentes, e por si só não há equiparação, um lado sempre estará em desvantagem em relação a outro” analisou Larissa.
Entre vídeos de rotinas matinais que começam nas madrugadas, metas ambiciosas e compras de alto custo para exercer atividades físicas, influenciadores digitais exaltam seus desempenhos diários e reforçam a ideia de que “todos têm as mesmas 24 horas”. Com estratégias de engajamento, esse grupo conquista milhões de visualizações e modelam comportamentos de seguidores, principalmente jovens.
“Me sinto culpada por não conseguir aderir a hábitos como acordar às 5h da manhã para treinar. Tento lidar com essa sensação lembrando que as blogueiras que possuem essa rotina lidam com uma realidade totalmente diferente da minha", revelou a estudante de psicologia, Micaeli Macedo. Segundo o Panorama da Saúde Mental 2024, realizado pelo Instituto Cactus em parceria com a AtlasIntel, as redes sociais afetam negativamente 45% das pessoas.
A comparação com pessoas de alto padrão de vida e a tentativa de equilibrar estudos, trabalho, exercícios e lazer, tem levado muitas pessoas a uma rotina exaustiva, marcada pela sensação de insuficiência. A falta de tempo para atender a tantas exigências e as desigualdades sociais, impactam a saúde mental do público que idealiza esses hábitos, um ciclo que reforça padrões inalcançáveis e alimenta a frustração cotidiana.
“O consumo de qualquer tipo de conteúdo se torna prejudicial quando acarreta em sofrimento emocional e psíquico e quando se torna o foco principal de seus pensamentos e ações. O exagero nunca é bom, por isso é perigoso quando percebemos que estamos investindo muita energia em uma coisa só”, afirmou a psicóloga Larissa.
Cada ser humano tem o seu próprio senso de humor, que é formado por uma série de fatores biológicos, culturais e sociológicos. Por conta disso, a maneira de consumir o gênero da comédia em cada país, se diferencia. O Estados Unidos é conhecido por ser a maior potência na indústria do entretenimento, como consequência, também é o lugar que mais produz e consome conteúdos humorísticos. Lá, a comédia é uma indústria altamente profissionalizada. Os comediantes podem iniciar suas carreiras em diversos clubes de stand-up, estudar em escolas especializadas e são valorizados em suas profissões. Em contraste, o Brasil não possui um grande suporte institucionalizado para a profissão. Até existem clubes de apresentação, mas o brasileiro não possui a cultura de frequentá-los. O que leva os comediantes a dependerem de plataformas como o Youtube, para ganhar visibilidade.
Nos EUA, existem uma diversidade de modelos com bom desempenho, como os late-night shows, que são um gênero de programa de entrevistas, apresentados por comediantes que passaram por outros formatos de comédia, antes de se estabelecerem o suficiente para terem uma uma mesa e um sofá com convidados, em um dos horários nobres a televisão americana. Lá também é extremamente popular o programa de esquete, “Saturday Night Live” (SNL), que impactou e influenciou a indústria mundial do humor. Em 2010, a MTV Brasil, uma rede de televisão dedicada ao público jovem, começou a transmitir um programa chamado “Comédia MTV”, esse tendo como maior inspiração o SNL. Porém, o programa acabou sendo cancelado dois anos depois.
Para um dos roteiristas do “Comédia MTV”, Yuri Moraes, em entrevista à AGEMT, a "razão dele não ter dado certo, foi a falta de incentivo aos participantes do projeto. “As emissoras, querendo ou não, não pagam o suficiente para ser a única coisa que o pessoal tá trabalhando. Então, eu acho que o tempo de dedicação das pessoas ao projeto é um fator”, diz Moraes.
Além da tentativa da MTV Brasil fazer um programa similar ao Saturday Night Live, Moraes acredita que nos EUA existe uma cultura de celebridades mais intensa, e aqui existe uma falta de humor autodepreciativo das pessoas públicas e a falta de vontade delas de serem associadas ao humor. “O programa foi transmitido pela RedeTV, e eles convidaram, mas quase nenhuma das celebridades da Globo, que seria o nosso equivalente a Hollywood, aceitaram o convite”. Então, o formato de esquetes foi aplicado mais uma vez pelos produtores da comédia brasileira, mas dessa vez com sucesso.
No início de 2012, os humoristas: Fábio Porchat, Ian SBF e Antônio Tabet, se reuniram para criar um canal no Youtube, abordando temáticas que eles não conseguiam fazer na televisão, no tempo em que eram roteiristas. Esse canal foi nomeado por eles de “Porta dos Fundos”, e veio para mostrar como o humor na internet poderia competir com a TV e ser altamente lucrativo.

Foto: Divulgação/Thay Rabello
No entanto, enquanto o modelo de esquetes encontrou um caminho de sucesso na internet brasileira, outro formato de comédia americana, chamado de sitcom, nunca conseguiu se estabelecer com a mesma força no Brasil. “Existem programas, como : ‘Eu a Patroa e as Crianças’, ‘Um maluco no pedaço’, ‘Todo mundo odeia o Chris’, que funcionam muito bem no Brasil. Então, não sei se isso ainda não conseguiu ser produzido, porque é super difícil fazer um programa desses assim dar certo, e ainda conseguir refletir com o humor daqui. Mas tiveram alguns que conseguiram chegar perto, como o ‘Sai de Baixo’, que teve um impacto cultural bem forte, apesar de ter apenas um cenário e ser um pouco mais teatral", diz Moraes.
Uma análise realizada pela Folha de S. Paulo constatou que a cada três filmes do ranking dos cem títulos brasileiros de maior audiência, transmitidos no cinema, dois são do gênero de comédia. Por conta dessa popularidade, a ocupação da comédia em salas de cinema pelo Brasil, aumentou. Entre as 45 mil telas que transmitiram filmes nacionais com maior bilheteria, 30 mil receberam obras de comédia presente em um dos seus gêneros. Um dos responsáveis pelo sucesso do humor nos cinemas, foi o ator Paulo Gustavo. Seu último filme antes de sua morte, foi a comédia com maior público e rentabilidade do país.
Embora os formatos que fazem sucesso em cada país não sejam os mesmos, uma coisa é certa: todos os países consomem a comédia. Enquanto os Estados Unidos consolidaram suas indústrias televisivas e cinematográficas, o Brasil encontrou na internet um caminho para dar mais espaço aos comediantes e explorar novas formas de fazer rir. No fim, o que diverte um público pode não funcionar para outro, mas a necessidade de rir continua universal – mesmo que cada país tenha a sua própria maneira de fazê-lo.
Desde o século 17, a mídia jornalística tem mantido a população informada através dos veículos tradicionais que todos já conhecem: o impresso, a televisão e o rádio. Por muito tempo, mesmo com mudanças significativas na comunicação, essa estrutura midiática se manteve dominante. Entretanto, com o avanço da tecnologia, novas formas de consumo de informação foram popularizadas. Hoje, a necessidade de se fazer presente na internet interfere na maneira de se produzir, criar conteúdo, disseminar informações e conversar com o público. Segundo JC Rodrigues, mestre em comportamento do consumidor e professor na ESPM, “a adaptação dos veículos de comunicação à era digital é uma resposta necessária às mudanças nos hábitos de consumo. O público conectado busca conteúdos que sejam acessíveis, dinâmicos e personalizados, consumindo-os em plataformas que fazem parte de sua rotina, o que exigiu dos veículos pré-digitais serem mais ágeis, criativos e estratégicos, utilizando as plataformas não apenas como canais de distribuição, mas como espaços de interação e engajamento, em uma abordagem mais humanizada da comunicação”, relembra Rodrigues.
Essa mudança também reflete a convergência entre diferentes mídias, o que cria uma necessidade de se pensar em conteúdos adequados para circular em múltiplos formatos e dispositivos. Por exemplo, o trabalho bruto é postado em alguma rede, sofre cortes, edições e depois é distribuído de outras maneiras em outras plataformas, ampliando não só o alcance do veículo mas otimizando a distribuição da notícia. A ascensão do youtube em 2006 - primeira plataforma a disponibilizar a publicação de vídeos longos - gerou dúvidas sobre até onde a televisão resistiria a essa nova forma de consumo de entretenimento e informação.
Na verdade, o que aconteceu foi a adaptação a esse novo formato. Canais e programas clássicos da televisão notaram a necessidade de se fazerem presentes nas redes sociais, o que ocasionou a criação de perfis para publicar as programações televisivas na internet.

Um dos primeiros programas a se adaptar a esse novo formato no Brasil foi o “The Noite com Danilo Gentili”, atração noturna do SBT. O canal no youtube foi criado em 22 de janeiro de 2014, e desde então soma mais de 15 mil episódios - que estreiam primeiro na rede aberta e depois são publicados na plataforma - 5 bilhões de visualizações e 13 milhões de inscritos.

Quase 10 anos depois, canais já são criados com base nessa estrutura, sem a necessidade de ter uma grande emissora por trás da produção dos conteúdos. Esse foi o caso da “Cazé TV”, perfil no youtube especializado em transmissões esportivas como a Copa do Mundo, Olimpíadas e EuroCopa. Em entrevista ao Rio2C, Casimiro Miguel, dono da Cazé, comenta sobre esse formato: “É muita responsabilidade e jogar isso de graça pro público é muito maneiro. Nossa maior preocupação é tentar trazer todos esses conteúdos de forma gratuita pra galera, por que eu acho que tornar esses esportes acessíveis para todos é muito especial.

Para Rodrigues, um grande desafio para a reformulação dos veículos tradicionais são os hábitos de consumo de informação digital, marcados pelo imediatismo e pela fragmentação. “Considerando que o público não está mais limitado a horários fixos ou formatos rígidos; ele busca conteúdos sob demanda, acessíveis em qualquer lugar e a qualquer momento. A capacidade de atender a estas expectativas acaba por determinar quais veículos receberão atenção das pessoas e, consequentemente, sua relevância na sociedade. Por outro lado, há o desafio entre velocidade e veracidade (ou acuidade), principalmente quando falamos de hard news", diz.
Muitos veículos enfrentam o desafio de manter sua credibilidade em um ambiente saturado de desinformação e fontes não confiáveis. “A televisão, o rádio e o editorial precisam encontrar formas de se conectar com um público que valoriza a flexibilidade e a personalização, sem perder sua essência. A confiabilidade é o ativo que tais veículos podem (e devem) explorar, mesmo nesta transição para formatos de comunicação mais contemporâneos”, completa Rodrigues.
“A credibilidade e a verificação dos fatos são diferenciais que devem ser reforçados, enquanto as redes sociais podem ser usadas como aliadas para distribuir conteúdos e atrair novos públicos. A combinação de agilidade e qualidade é essencial para equilibrar a disputa pela atenção do público com a manutenção da essência jornalística”, afirma Rodrigues.
Uma estratégia adotada pelo G1 para contornar alguns obstáculos da internet citados por JC foi a criação do quadro “Fato ou Fake”, em que são esclarecidas notícias falsas através de vídeos curtos. Com esse formato o veículo atrai o público engajado nas redes sociais e desmente as principais fake news, sem perder a identidade e priorizando a informação entre os leitores.

Além disso, o consumo e a produção de conteúdo nas redes também enfrentam a fragmentação da audiência, a concorrência com plataformas digitais e serviços on-demand (disponibilizados e consumidos de acordo com a necessidade do usuário), a queda na receita publicitária tradicional e a necessidade de se adaptar a novos modelos de monetização.
A estudante de jornalismo na ESPM, Laura Loch, comenta sobre a produção de textos jornalísticos em um ambiente digital: “Desde que comecei a escrever para o Portal de Jornalismo da ESPM me adaptei muito bem à produção exclusivamente online, porém, acredito que o ambiente saturado de informações e a necessidade de manter o engajamento do público possam ser uma dificuldade geral do webjornal”.
Em relação às adversidades econômicas desse cenário, Rodrigues apresenta soluções viáveis para garantir a sustentabilidade financeira do jornalismo digital. “O modelo de assinatura digital é uma alternativa prática, mas apresenta desafios consideráveis. Ele pode limitar o acesso à informação, especialmente em contextos de desigualdade digital, onde nem todos têm condições de pagar por conteúdos de qualidade”. Para ele, uma abordagem híbrida, que combina conteúdos gratuitos e premium, seria ideal para equilibrar sustentabilidade e acesso, garantindo que o jornalismo continue a cumprir seu papel social.
Novas mudanças e o futuro da profissão
A reinvenção digital é inevitável e os veículos precisarão equilibrar a preservação de sua essência com a adaptação às novas demandas e tecnologias. O professor afirma que “não existe mais jornalismo tradicional e digital, existe jornalismo. O que se adapta a uma realidade social (advinda da tecnologia) e os que ficam para trás”.
Segundo levantamento do Google em parceria com a Ipsos, o Brasil está acima da média mundial no uso de inteligência artificial (IA) gerativa - 54% dos brasileiros declararam ter utilizado ferramentas desse tipo em 2024, enquanto a média global foi de 48%. Assim, a inteligência artificial, cada vez mais aperfeiçoada e consumida, pode alterar o quadro atual do jornalismo online e ocupar um espaço significativo nas produções futuras.

Rodrigues comenta que “a inteligência artificial pode transformar o jornalismo ao automatizar tarefas como redação de textos simples, análise de dados e personalização de conteúdos. Isso permite que os jornalistas se concentrem em reportagens mais complexas e investigativas. No entanto, a IA também levanta questões éticas, como o viés algorítmico e a transparência. O uso responsável da tecnologia será essencial para garantir que ela complemente, e não substitua, o trabalho humano”.