A popularização das mídias digitais e a inserção dos grandes veículos de notícias em diversas plataformas da internet nos últimos 15 anos vem trazendo diversos benefícios para a população. O acesso mais fácil à informação, a abertura de novos espaços para debate, o lugar de fala (possibilitado a cidadãos com piores condições de vida) e o rápido compartilhamento de informações; a princípio podem parecer exclusivamente positivos para o funcionamento do sistema democrático. Mas, é necessário e urgente analisar o papel delas na polarização social, explorando como a cobertura mediática de questões políticas, culturais e sociais tem contribuído para a divisão da sociedade.
A mídia sempre desempenhou um papel fundamental na sociedade, moldando opiniões, informando o público e influenciando a forma como as pessoas veem o mundo ao seu redor. Essa postura de polarização extrema nas redes sociais só beneficia os donos das bigtechs, além de gerar bolhas específicas de opinião e ainda favorece que o algoritmo envie com mais precisão os conteúdos designados a cada grupo social. Outro fator importante é que para atingir o público desejado, o transmissor do conteúdo pode fazer uso das ferramentas mais eficientes para cada postagem. Dessa maneira, as fake news, frases tiradas de contexto, comparações desprovidas de sentido e teses comprovadamente equivocadas ganham força para alcançar aqueles receptores que aguardam por essas notícias.
Essa grande rede de manipulação prejudica o funcionamento da democracia em sua essência, pois o debate construtivo com os participantes sujeitos a uma possível mudança de opinião fundamenta o sistema democrática da maneira como o conhecemos nas sociedades atuais. É uma via de mão-dupla: os usuários das redes incentivam uma postura mais polarizadora da mídia, acessando apenas conteúdo que favoreçam suas opiniões e criticando veementemente qualquer tipo de postagem que vá contra aquilo que acredita ou que ao menos incentive uma reflexão. Xingamentos nos comentários, bloqueios em massa e o famoso ‘reclamar sem ler’ são medidas que refletem a incapacidade de interpretar e absorver informações de ambos os lados.
Em entrevista ao UOL, a jornalista Luciana Gurgel deu o nome de Fox News-ização a esse processo, devido à emissora que é responsabilizada por ter desencadeado um enorme sistema polarizador nos Estados Unidos antes das eleições presidenciais entre Donald Trump e Hillary Clinton em 2016: “A ‘Fox News-ização’ da mídia representa um perigo fatal para as democracias porque mina a base da harmonia civil e do debate público tolerante”.
Luciana completa: “Considerando que não é um erro a mídia expressar uma opinião, como acontece em editoriais, artigos de colunistas e programa de debates", mas isso não é prestação de serviço, mas opinião, que muitas vezes não favorece a democracia. Na obra ‘Infocracia’, o filósofo sul-coreano Byung-Chul Han, fala muito sobre as técnicas de microtargeting e como esse processo é relacionado com uma divisão maior na sociedade. Todo o processo de psicometria é baseado na análise de dados e perfis pelas grandes empresas que controlam as redes (Google, Microsoft, Meta, Amazon, Apple, entre outras). O comportamento dos cidadãos em redes muitas vezes pode parecer puramente espontâneo, mas até mesmo os comentários mais ofensivos e genéricos são influenciados e manipulados em níveis inconscientes por esferas que desejam promover o ‘caos’ social para sua escalada.

Uma das maneiras pelas quais a mídia contribui para a polarização social é através do sensacionalismo e do uso de títulos sensacionalistas, comumente conhecidos como "clickbait". Os veículos de comunicação muitas vezes destacam histórias que provocam emoções intensas, como raiva, medo ou indignação, a fim de atrair mais espectadores ou leitores. Isso pode levar a uma visão distorcida da realidade, exagerando problemas e agravando as divisões sociais.
O livro ‘Infocracia’ também traz esse tema, demonstrando que o afeto se forma e se propaga com mais força e intensidade do que a racionalidade. Qualquer conteúdo que atinja o espectador pela emoção tende a criar um laço maior do que algo que exija a interpretação. Essa é uma característica marcante da sociedade da informação, que, pautada por um caráter de curto-prazo, não oferece ao seu cidadão o tempo necessário para tomar a ação racional.
Outra maneira pela qual a mídia contribui para a polarização é através de viés e seletividade na cobertura de notícias. Os veículos de comunicação podem favorecer certas perspectivas políticas ou ideológicas, retratando eventos de maneira tendenciosa. Isso pode criar uma bolha de informações onde as pessoas só são expostas a um ponto de vista, reforçando suas crenças e alienando aqueles que pensam de maneira diferente.
A polarização social é um desafio significativo que afeta muitas sociedades nos últimos anos, e a mídia desempenha um papel importante nesse fenômeno. O sensacionalismo, o viés, a seletividade e o uso de redes sociais desempenham um papel na criação de divisões na sociedade. No entanto, a mídia também pode ser uma força positiva na promoção do diálogo, da compreensão e da unidade. É crucial que a mídia e os consumidores de notícias sejam conscientes de seu papel na sociedade e trabalhem juntos para reduzir a polarização e promover uma comunicação mais equilibrada e construtiva.
Em agosto de 2022, o professor universitário Celso Unzelte, 55 anos, também conhecido por ser pesquisador de esportes, ex-repórter da revista PLACAR e atual comentarista da ESPN Brasil, palestrou em um curso da Faculdade Cásper Líbero (FCL) sobre a história do jornalismo esportivo e como exercê-lo de maneira profissional. Unzelte afirma que o “jornalismo esportivo é antes de tudo jornalismo”, de maneira que não deve só ser abordado como, dito por ele, uma “conversa de boteco”, mas sim com certa seriedade.

De acordo com o professor, “a produção jornalística esportiva passa pelos mesmos processos de qualquer outra editoria: pauta, apuração, redação e edição. Por isso, não basta ‘gostar’ do assunto, é preciso enxergá-lo como um objeto de trabalho”. Além desses requisitos, ele vai citar a ética e o interesse público como pontos chaves, no qual afirmam que o jornalismo no âmbito desportivo é tão sério quanto dos outros campos da profissão. Mas isso não quer dizer que seja um trabalho propriamente igual ao jornalismo tradicional, uma vez que o entretenimento está diretamente ligado ao esporte. “É um emprego que mexe com a paixão, mas não devemos deixar que isso nos comprometa e atrapalhe no profissionalismo”, diz Unzelte.
Porém, já está enraizado nos canais de mídia brasileiros o sensacionalismo exagerado das notícias, no qual o show é mais vendido do que a própria verdade. No meio futebolístico, esta espetacularização consegue ser ainda pior, visto que sua frequência é maior e altamente normalizada pelo público que se acostumou, de maneira manipulada, a este tipo de fazer jornalismo. Diversos canais da TV aberta propiciam a alienação da sociedade, por meio do entretenimento exacerbado e comprado, visando exclusivamente o lucro e a audiência.
De acordo com o jornalista José Arbex, autor do livro “Showrnalismo”, em entrevista dada para a TV Brasil, “jornalismo não se confunde com comunicação social em geral”. De acordo com ele, a profissão deveria ter objetivo de entregar a verdade ao público, porém esta tradição jornalística vem perdendo espaço para a espetacularização das coisas. “A informação virou entretenimento”, diz Arbex.
A exemplo disso, temos o programa de debates “Os Donos da Bola”, com o apresentador e ex-jogador que se denomina como “craque” Neto. O mesmo, mantém um personagem que usa o espetáculo para produzir um conteúdo informativo de maneira exagerada, buscando somente a audiência.

A obra Infocracia, do sul-coreano Byun Chul Han, traz alguns pontos que também podem ser relacionados com esta espetacularização dos canais de mídia, pois foca na manipulação midiática dos detentores da informação, que controlam o que será passado ao público. No caso do jornalismo esportivo, vemos que a cultura do espetáculo está servindo como arma manipuladora para prejudicar o senso crítico do telespectador.
Há algum tempo a ideia de uma assistente virtual existir era coisa de filme. Em Her (Ela), longa de 2014, o protagonista Theodore encontra uma nova maneira de se relacionar com o sistema operacional de seu computador, mas, acaba desenvolvendo sentimentos de amor profundos pela assistente virtual que está por trás de outras interações com muitos outros usuários. Uma realidade que não parece mais tão distante. A capacidade de se comunicar vem de muito tempo, nossos ancestrais sabiam que mesmo sem falar, poderiam interpretar gestos e sinais de seus semelhantes, como os animais. Assim como os humanos, a tecnologia se desenvolveu muito, principalmente a partir da chegada da Inteligência Artificial (IA). O que poderia ser estranho, hoje é indispensável para muita gente. Em 2022, o estudo Global Overview Report, publicado pelo Datareportal mostra que o número de usuários ativos no mundo já está próximo dos 5 bilhões de pessoas, o que representa 63% da população mundial.
Esse número é cada vez maior, principalmente pela facilidade que a tecnologia oferece no dia a dia de seus usuários. A Alexa é uma das assistentes virtuais mais vendidas hoje em dia. Da bigtech Amazon, ela conquistou a todos com sua habilidade de se conectar com outros aparelhos, como luzes, televisão e vários gadgets, além de poder responder perguntas instantâneas. Casas já são projetadas para receber todo esse aparato e se tornam as chamadas” casas inteligentes”. Mas mesmo com toda essa inteligência, o processo gerou muita consequência, para a mente e para o corpo dos usuários.
A ideia de ter uma assistente pode limitar as tarefas mais simples de quem utiliza essa tecnologia, como ler uma notícia por conta própria, ou simplesmente ligar a televisão. Essa acomodação, faz com que os usuários se tornem dependentes e percam noções de interpretação. Além da preguiça, essa nova maneira de se comunicar com a tecnologia limita os usuários a praticamente um monólogo. Na prática, conversar com uma máquina já está sendo considerado uma maneira de dialogar, mas o filósofo e ensaísta sul-coreano Byung-Chul Han tem uma perspectiva diferente sobre isso, como expõe em seu livro Infocracia, publicado no Brasil pela editora Vozes.
Para ele, a Inteligência Artificial não assume um papel racional, ela apenas calcula uma resposta que seria considerada correta pelo usuário. “A inteligência artificial não fundamenta, mas calcula. Em vez de argumentos, surgem algoritmos. Argumentos podem ser aprimorados no processo discursivo. Algoritmos, por sua vez, são otimizados continuamente no processo maquinal.”, explica Han. Realmente, não é difícil perceber a resposta pronta que as assistentes virtuais costumam dar quando são questionadas sobre certas coisas, que poderiam facilmente ser argumentadas por um humano, por exemplo. Elas funcionam a partir de uma base de dados, ou seja, toda pergunta ou resposta que são geradas por ela serão salvas para aprimoramento.
Mas, todo esse apoio que as assistentes dão aos seus usuários pode se tornar um processo vicioso, já que tudo o que é pedido a uma delas é facilmente atendido. A soberania tecnológica seria um grande impedimento para uma democracia plena, já que os humanos teriam cada vez menos a capacidade de pensar por si sós e principalmente de abrirem discussões importantes para seu exercício. “O discurso conduzido pelo entendimento humano desvanece perante tal visão divina do Big Data. O saber total digital torna o discurso supérfluo”, concluiu o filósofo.

Imagem: [Divulgação/Pixar]
As consequências do uso descontrolado dos assistentes virtuais a longo prazo já foram mostradas na animação de 2008 da Pixar, Wall-e, em que robôs são designados para limpar o planeta Terra, que foi destruído e está imerso em lixo e poluição. Os humanos que restaram no planeta, vivem dentro de uma nave e com a ajuda de assistentes virtuais estão sobrevivendo. Mas, eles são sedentários, só comem fast-food e foram consumidos pela preguiça e comodidade. Há quem diga que essa realidade pode ser o futuro da humanidade, principalmente com o desequilíbrio da natureza, o excesso do uso da tecnologia e sobretudo a preguiça de pensar. O uso constante das tecnologias assistentes diminui a capacidade dos indivíduos de lembrar coisas por si só, assim como a de se cuidar por si só. Um cérebro mais preguiçoso acompanhará um corpo mais preguiçoso, mas quem poderá prever como a sociedade vai se comportar quando isso for mais frequente.
Infocracia é um termo cunhado por Byung-Chul Han para definir um sistema político onde o acesso à informação e a capacidade de manipulá-la desempenham um papel central no exercício da democracia. Neste contexto, o controle sobre a disseminação e interpretação das informações é crucial para influenciar a tomada de decisões e o apoio popular. O autor mostra que a digitalização da sociedade e a crise da democracia caminham juntas, especialmente no contexto das eleições. Isto porque, muito do que este livro trata é inseparável do atual avanço da extrema direita e do domínio que as redes sociais exercem na vida das pessoas.
Segundo Han, "vivemos numa sociedade onde, mesmo que não se tenha consciência disso, as pessoas são constantemente controladas e dominadas pela forma como se produz e consome informação, interferindo em suas capacidades cognitivas e bloqueando, justamente, aquelas faculdades e capacidades que seriam tão indispensáveis para uma sociedade democrática". Por esses aspectos, é possível fazer uma relação entre o livro com características da sociedade brasileira, observada nos últimos anos.
Começando pela questão mais óbvia, que é a disseminação de notícias falsas e desinformação, e como isso está se tornando uma preocupação crescente no Brasil, principalmente durante o período eleitoral. Isto tem levado a uma grave polarização política, com os cidadãos a recebendo informações tendenciosas e muitas vezes incorretas, dificultando o debate informado e a procura de soluções com consenso mútuo. Durante as eleições de 2018, por exemplo, a campanha do até então candidato à presidência, Jair Bolsonaro, destacou-se pela utilização de notícias falsas pelo WhatsApp, com a notícia sobre um ‘kit gay’ supostamente distribuído pelo MEC sob à presidência de Haddad.
Recentemente, inclusive, o ex-presidente provocou um grande alvoroço ao dizer durante a fase mais aguda a pandemia da Covid-19, que a doença era uma “gripezinha”. Tal fala, causou uma gigantesca onda de fake news, já que muitas pessoas passaram o uso medicamentos caseiros e desencorajando muitos a tomar a vacina e suas demais doses contra a doença, gerando um aumento considerável no número de óbitos pela doença.
Relacionado a isso, se chega ao ponto da manipulação da opinião pública, onde a crescente presença das mídias sociais e a capacidade de direcionar mensagens políticas a públicos específicos podem ser usadas para influenciar a opinião pública no Brasil, gerando uma crise na democracia, a infocracia. Com a capacidade de atingir grandes públicos com interesses específicos em um simples lugar, ao mesmo tempo em que é possível se comunicar de forma pessoal com os indivíduos, as redes sociais se mostram muito atrativas, mas aumentam tensões étnicas, ressuscitando movimentos nacionalistas, intensificando o conflito político e até mesmo resultando em crises políticas.
Em entrevista para a BBC, o professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Fabrício Benevenuto disse que "Se muitas pessoas compartilham uma ideia, outras tendem a segui-la. É semelhante à escolha de um restaurante quando você não tem informação. Você vê que um está vazio e que outro tem três casais. Escolhe qual? O que tem gente. Você escolhe porque acredita que, se outros já escolheram, deve ter algum fundamento nisso". Para a ideia exemplificar a ideia, pode usar como base a polêmica envolvendo a Cambridge Analytica. Há alguns anos, a empresa foi envolvida em um escândalo de coleta de dados de usuários e criação de perfis falsos no Facebook para manipular as eleições americanas de 2018, que resultou na vitória do ex-presidente Donald Trump (responsável indiretamente pela invasão no Capitólio em 2021) e a saída do Reino Unido da UE, o Brexit (deixando o país em crise e perto de uma recessão econômica).
No Brasil, a empresa foi uma das responsáveis diretas pela campanha bem-sucedida de Bolsonaro a presidência, utilizando a disseminação de desinformação como um de seus trunfos, mas causando impactos negativos terríveis como resposta, como as campanhas antivacina da Covid-19, a invasão dos Três Poderes em 8 de janeiro, em Brasília.
Como consequência do tópico citado acima, isso acaba criando um grande nicho de fanáticos que cegamente veem políticos como heróis/mitos e que nunca erram, deixando-as cegas. E como consequência quando são noticiados, principalmente quando tem seus nomes ligados a escândalos ou polêmicas, quem acabam sendo atacados é a própria imprensa, responsável por trazer a verdade. Ao ponto de ter havido um aumento, no Brasil, nas preocupações sobre as intimidações e os ataques a jornalistas e meios de comunicação que acabam minando a capacidade da mídia de monitorar e informar.
“Nenhum político deve ser endeusado, santificado ou mitificado. É um erro monumental " afirmou o escritor peruano Mario Vargas Llosa para o GHZ
Em resumo, Infocracia, traz alguns reflexos importantes sobre a sociedade brasileira atual. A desinformação, a extrema polarização política, a manipulação da opinião pública e as questões de proteção de dados e a relação com as mídias sociais são questões importantes que afetam a saúde da democracia brasileira. Por isso, a necessidade de regulação e incentivo adequado à educação para os meios de comunicação social são tarefas importantes para abordar estas questões e fortalecer as instituições do país.
No dia 7 de agosto de 2023, o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB) assinou o contrato para o começo do projeto Smart Sampa, em que se trata da instalação de um programa de monitoramento e reconhecimento facial. A previsão é da instalação de 40 mil câmeras por toda a cidade. O Prefeito alega que o programa será utilizado para identificar desaparecidos e foragidos, com base nos dados disponibilizados pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública e pela Secretaria de Segurança Pública de São Paulo. Nunes também acredita que o projeto ajudaria com saúde e mobilidade urbana, sem contar a questão da segurança.
O Smart Sampa pode ser considerado irresponsável, já que reconhecimento facial de médias a longas distâncias ainda é muito embrionário, pouquíssimas câmeras tem a resolução e capacidade de manter a qualidade de imagem a longas e médias distâncias, sem contar a diferença de iluminação, podendo resultar em falsos positivos, provocando perseguições a inocentes, mas não significa que seja inviável num futuro próximo, a tecnologia avança em passos largos.
Além de reconhecimento facial, as câmeras do Smart Sampa seriam capazes de detectar movimento, fazer analises de perímetros, leitura automática de placas e também analisar o fluxo de veículos. O mais polêmico destas possibilidades é a leitura automática de placas em conjunto com o reconhecimento facial, juntando isso tudo a um sistema de monitoramento em conjunto com as redes sociais, sendo elas: Meta (Facebook e Instagram), X (Twitter), TikTok, Youtube e etc, ou seja, a prefeitura quer saber o que você faz online, podendo usar isso contra você, o estado te monitoraria de qualquer forma, transformando a cidade em um "Big Brother", o banco de dados da prefeitura saberá seus padrões, rotas diárias e todos os lugares que já esteve, vigilância parecida com a do livro "1984".
A medida de segurança não vale a pena comparando a falta de liberdade e privacidade que se perde, abre margem para uma ditadura das telas e para perseguições políticas, já que utilizam da segurança como desculpa para nos controlar, em uma manifestação por exemplo, todas as pessoas presentes lá serão reconhecidas e poderão sofrer punições.

Foto por: Schöning/ullstein bild.
O que de acordo com filósofo sul coreano Byung Chul Han, no livro "infocracia", hoje vivemos em uma midiocracia em transição para a telecracia, quando a política se submete as mídias de massa e o entretenimento determina a mediação de conteúdos políticos e deteriora a racionalidade. Para Han, os debates políticos se tornaram algo sobre performance, e não sobre argumentos políticos,
Mas o que Chul Han não esperava é que a medida das teletelas realmente seria inserida na sociedade, pegando como exemplo a própria Smart Sampa, mas isso não anula a Telecracia, já que não se criou nenhum alerta para os paulistanos, que se rendem as informações manipuladas e não criam opinião própria, vivem em suas bolhas e se contentam com esse vício as telas. A Telecracia se junta ao mundo fictício de Orwell em 1984 e se torna o que é hoje.
A questão de vigilância e monitoramento não é nova, na pandemia de Covid-19, o ex-governador João Dória disse que se a população não ficasse em casa, o governo rastrearia a população pelos seus celulares e puniriam essas pessoas. Isso não vem apenas pelo estado, hoje as grandes corporações tem acesso a todas nossas informações em rede, e podem a utilizar para manipular eleições. A Cambrige Analytica, por exemplo usou a vigilância para eleger em 2016 Donald Trump nos Estados Unidos e nada impede que outras empresas estejam fazendo o mesmo para seus próprios interesses.
Em entrevista a AGEMT, o diretor de tecnologia (CTO) e analista focado no setor de rastreamento, que preferiu não se identificar, diz que é de interesse das corporações midiáticas saberem o que gostamos, odiamos e buscamos, para usar disso como fonte de lucro, podendo vender estes dados para outras empresas, deixando a privacidade quase que nula. Perguntado sobre a possibilidade de estarmos sendo ouvidos a todo momento: "existem muitas teorias de conspiração ao redor de celulares nos ouvirem o tempo todo, uma parte deles não tem capacidade de manter o microfone aberto o tempo todo, a bateria se esgotaria muito facilmente, mas mecanismos como Alexa já deve ser utilizado para isso, como também em microfones de computadores, voltando aos celulares, acredito que futuramente as baterias serão potentes o suficiente para sermos vigiados", acrescenta o engenheiro.
Sobre a Smart Sampa, o analista acredita ser uma medida política para controle das massas, para uma consolidação do poder estatal, limitando nossas liberdades e aumentando o impacto do estado em nossas vidas, se dizendo favorável a sociedade.