Após 6 dias recheados de moda brasileira, a SPFW encerra esta edição na cobertura do Edifício Martinelli
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Helena Costa Haddad
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16/04/2024 - 12h

O domingo (14), último dia do evento, foi aberto com o comeback da marca Glória Coelho às passarelas. A coleção apresentada relembrou os anos 60, sem deixar seu lado futurista de fora, com roupas metálicas e um robô como modelo. Entre as outras roupas desfiladas, foi notório o uso do branco e do preto, do tule, rendas, paetês e até mesmo franjas.

O resultado foi uma coleção de espírito futurista romântico. Glória, conhecida por manter vivo o vínculo com o passado, proporcionou um desfile de peças com um apelo comercial muito positivo, que fideliza seus clientes, sem deixar de chamar atenção de novos olhares para sua criação.

Modelo com roupa metálica carrega um bebê-robô
Modelo segura um bebê-robô SPFW. Foto Ze Takahashi @/agfotosite

 

Para o segundo desfile do dia, João Pimenta apresenta uma coleção cheia de streetwear, alfaiataria e muitas camadas.

A marca que tem como carro-chefe a alfaiataria, misturou calças cargos, camisetas, jaquetas, casacos com o seu estilo principal e, para surpreender mais, utilizou tie-dye, tons pastéis e preto na coleção. O ponto alto do desfile foi a homenagem aos 100 anos do Edifício Martinelli em forma de peças como, o próprio prédio estampado ou com os nomes “Martinelli” e “Anhagabaú” escritos.

O novo acervo apresentado pelo estilista traz algo nunca visto antes em suas criações, o especialista em alfaiataria colaborou com a Oakley na escolha dos acessórios e calçados, dando uma identidade única para o desfile. 

Modelo com casaco tie-dye em tons rosas e um óculos marcando o look.
Casaco tie-dye e óculos Oakley desfilados SPFW. Foto Ze Takahashi @/agfotosite

 

E finalizando a edição, Amapô traz um show de diversidade e muita performance para as passarelas. Comemorando seus 20 anos, a marca retorna a fashion week com muito jeans e peças misturadas.

A dupla de estilistas, Carô Gold e Pitty Taliani, reuniu pessoas importantes para a Amapô e junto de artistas, misturaram suas criações antigas com peças inéditas. O desfile-performance trouxe um lado artístico para encerrar o dia, contou com a presença de muito brilho, cor, mix de estampas e acessórios únicos, além das performances e interações com o público. A marca mostrou seu diferencial trazendo uma festa para as passarelas. 

O desfile mostra como a moda também é, e sempre foi, um ato de arte. Desde o começo da marca nos anos 2000, a Amapô traz espetáculos únicos e dessa vez, fizeram um show de upcycling, encerraram a edição mostrando seu amor pela moda e pela criação. 

Modelo joga confetes no meio do desfile
Modelo joga confetes na passarela SPFW. Foto Ze Takahashi @/agfotsite

O dia de fechamento da São Paulo Fashion Week N57 foi marcado com inovações e surpresas. Cada marca desfilada teve um destaque singular com suas peças.

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Conhecido por sua extravagância e pelo uso característico do animal print, o italiano morreu em sua cidade natal nesta sexta-feira (12)
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Carolina Johansen Saraiva de Carvalho
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15/04/2024 - 12h

Roberto Cavalli nasceu em Florença, Itália, no ano de 1940. Em entrevista para Luke Leitch em 2011, Cavalli reconta os impactos psicológicos causados em sua vida após seu pai, um ativista antifascista, receber um tiro de soldados nazistas quando o estilista tinha apenas três anos. Aos 17 anos, começou a trabalhar como costureiro ao lado da mãe para ajudar financeiramente a família. Estudou Arte e Arquitetura no Instituto de Arte de Florença, onde conheceu sua primeira esposa, Silvanella Giannoni.

Roberto Cavalli em evento na Califórnia
Roberto Cavalli em evento na Califórnia,  2006 — Foto: AP Photo/Lucas Jackson

Na década de 1970, fundou sua própria marca e lançou sua primeira coleção no Palácio Pitti, em Milão.  De estreia, logo apresentou uma técnica única, desenvolvida por ele mesmo,  na qual foi possível realizar  estampagem em várias peças de couro. A coleção foi extremamente bem  aclamada pela crítica e sua técnica passou a ser cobiçada por casas consolidadas como a Hermès e a Maison Valentino que queriam adquirir seus direitos de exclusividade e autorais. Contudo, foi só em 1994 que Cavalli passou a ser consagrado na Milan Fashion Week

Mais tarde, outra inovação do estilista viraria febre aqui no Brasil e no mundo todo: a elastização das calças jeans. Este evento culminou na abertura de sua segunda marca, Cavalli Jeans, nos anos 2000s. Suas peças eram muito disputadas e uma certeza do público é que ao menos uma celebridade seria fotografada  usando Roberto Cavalli.  Dentre elas: Madonna, Lenny Kravitz, Cindy Crawford, Priscilla Presley, Devon Aoki, Britney Spears, Alessandra Ambrosio, Beyoncé e Zendaya, eram os principais modelos propaganda do estilista. 

Roberto Cavalli com o grupo Spice Girls
Roberto Cavalli com as Spice Girls em Milão, 2008 — Foto: Getty Image

A notícia do falecimento de Roberto Cavalli veio por meio de comunicado postado no Instagram de sua própria marca: “Hoje nos despedimos com profunda tristeza do nosso querido fundador, Roberto Cavalli”. Sua saída deixa um vazio irreparável no mundo da moda, onde seu nome se tornou sinônimo de ousadia e elegância.

Roberto Cavalli revolucionou a indústria com sua visão distinta e suas técnicas inovadoras. Seu legado é imortalizado pelas icônicas estampas de animais, pela exuberância do couro e pela celebração do maximalismo.  

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O quinto dia de evento trouxe de cão robô à coleção inspirada na fauna amazônica
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Bianca Athaide
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15/04/2024 - 12h

O último sábado (13) começou com o convite para adentrar em um universo de ilhas paradisíacas com as peças masculinas de Gefferson Vila Nova. Nomeada "Jornadas", a coleção trouxe à passarela do Iguatemi São Paulo um guarda-roupa utilitário viajante, com referências ao universo do desenho animado "Aventuras de Tintim". 

O estilista baiano apostou em peso no conceito de um homem moderno e viajante, sem destino final. Afirmando sua tradição, trouxe para o desfile um grande número de camisarias atemporais e intercalaveis. Todas as peças traduziram a concepção desejada pela marca: praticidade. 

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Look casual e prático, reflexo da coleção "Jornadas" - Foto: Agência Fotosite/Ze Takahashi 

Foram explorados também o tafetá, o paetê e, pela primeira vez na história criativa do estilista, o jeans. Alguns modelos carregavam câmeras fotográficas e garrafas d'água, com o intuito de enfatizar o espírito aventureiro da coleção. Outro ponto cativante nas peças eram os desenhos gráficos da ilustradora Gabriela Cruz, que traziam profundidade e relevo para a viagem de Vila Nova. 

Outro dos principais nomes da moda masculina, Igor Dadona, chocou o público com sua primeira coleção feminina. Um desfile dividido em duas metades, mostrou sua dualidade de criação quando mostra um cruzamento entre os gêneros em peças de alta alfaiataria, marca principal de sua grife homônima. 

Um trabalho muito aplaudido pela sofisticação, com mesclas entre padronagens tradicionais, patchwork de seda e cetins acolchoados, marcou uma evolução discreta e coesa para a marca, em contrapartida ao histórico de imagens fortes da SPFW.

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Blazer de alfaiataria xadrez - Foto: Agência Fotosite/Ze Takahashi

Já no começo da tarde, o único estilista indigena da edição N57 marcou sua presença no line-up do evento. Maurício Duarte trouxe a piracema - palavra originária do Tupi-Guarani para "subida do peixe"-  para a passarela, com uma moda fluída, em tons monocromáticos. 

A fonte de inspiração para o estilista foi o fenômeno natural do trânsito que os peixes fazem contra a corrente para fazerem a desova. Usando de muitas pregas e drapeados, a coleção do amazonense apresentava muitas peças que imitavam o efeito molhado, além de bolsas com longas franjas, que faziam alusão às ondas do mar. 

Em parceria com o designer mineiro Carlos Penna, escamas do peixe pirarucu viraram ornamento em vestidos de crochê, realizando, assim, uma homenagem às culturas e vivências do estado de origem de Duarte.

 Maurício Duarte
Escamas ornamentando o crochê de Maurício Duarte - Foto: Agência Fotosite/Marcelo Soubhia 

O desfile mais esperado do dia iniciou a noite. Dendezeiro trouxe uma coleção mais introspectiva nesta edição da SPFW, abandonando brevemente seu apreço pelo streetwear. 

A partir da pergunta "Se a gente morrer, qual impacto vamos deixar no mundo e na moda?", que os criadores da marca, Pedro Batalha e Hisan Silva, criaram a coleção. Peças de alfaiataria caracterizaram um perfil mais maduro para coleção, junto com croppeds e sobreposições, que serviram como último suspiro do espírito divertido, característico da marca. 

dendezeiro
Saia ornamental apresentada pela Dendezeiro - Foto: Agência Fotosite/Ze Takahashi

Outro destaque do desfile foi a parceria com a Vult na campanha #RespeitaMeuCapelo, um movimento que questiona e propõe o redesenho do modelo clássico do acessório. Segundo o Centro de Ensino, Pesquisa e Extensão da Universidade de Brasília (UnB), o capelo ainda não atende à diversidade de cabelos da população brasileira, o que gera desconforto e ações nada inclusivas. Pensando nisso, a colaboração criou versões para atender e ressaltar a diversidade e beleza brasileira dos vários estilos, curvaturas e tipos de cabelo, gerando uma experiência mais inclusiva durante a formatura.

Para finalizar o sábado, a Forca Studio, queridinha da elite jovem paulistana, mostrou seu lado diurno no desfile nomeado “Everyday It’s 1989” e dividido em três partes: Office, Sport e Noite, uma estratégia para oferta de peças além do DNA clubber da marca. 

A primeira parte, com foco em peças corporativas, trouxe muitos blazers, alfaiataria, trench coats e camisas. O segundo bloco, Sport, em colaboração com a marca Kappa, apostou em peças de performance, trazendo acessórios como bonés e chuteiras. A parte final foi o espelho do estilo balada característico da marca: muito veludo, couro e vinil e os tons fortes de preto e oliva.

A Força honrou sua tradição de elementos visuais exóticos na passarela. Se drones e carvão já foram utilizados em desfiles anteriores, neste a presença foi marcada por um cão robótico, que acompanhava os modelos ao longo do caminho, além de telões exibindo o fashion film e um drone na coleira.

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A modelo Yasmin Brunet volta a passarela do SPFW, após 12 anos, para o desfile da Forca Studio- Foto: Agência Fotosite/Ze Takahashi 

 

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O quarto dia de desfiles trouxe temáticas voltadas à literatura modernista, ao artesanato e à homenagem familiar.
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Giovanna Montanhan
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15/04/2024 - 12h

Weider Silveiro, estilista piauiense, que fundou sua marca homônima em 2002, apresentou nesta edição da SPFW, uma coleção que exaltava a beleza africana sem deixar de lado as técnicas artesanais,que contavam com a presença de bordados e crochês.  O estilista que participou durante quinze anos da ‘Casa de Criadores’, e é um dos idealizadores da Célula Preta - um coletivo organizado por estilistas negros da Casa de Criadores, com o propósito de fornecer equidade de oportunidades a esse grupo em relação aos branco - embalou seu desfile ao som de batuques. 

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Foto: Divulgação Agência Fotosite

 

 As modelos desfilaram na passarela vestindo tons terrosos, com toques de  amarelo e verde-água. Apostando em cinturas bem marcadas, a coleção também carregava tecidos fluidos, sem deixar  o streetwear de lado (sua marca registrada!). Vestidos com franjas, conjuntos de alfaiataria com bolas penduradas, estampas da Vênus Grega em algumas peças, e até chegou a resgatar uma técnica chamada ‘panejamento’, que significa dar volume a partir de novas sobreposições e amarrações nas roupas.

 

Rafael Caetano 

 Homenageou o escritor modernista Mário de Andrade em uma coleção chamada ‘Intransitivo’, que a partir do instrumental da canção de Tom Jobim, ‘Carinhoso’, tocado para embalar o desfile, os modelos transitaram na passarela usando lurex, peças em cetim que continham estampa de pássaros, calças e camisas listradas. Essa é uma das primeiras vezes que o estilista paulista, especializado em moda masculina, se debruça sobre uma personalidade concreta para inspiração de suas criações. Sem deixar de lado sua marca registrada de pele à mostra, essa coleção de Caetano abaixou um pouco o tom de suas anteriores. As referências a obra de Mário de Andrade se dava através da transposição com símbolos marcantes da capital paulista. 

 

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Foto: Divulgação Agência Fotosite

 

 

Catarina Mina, marca cearense criada por Celina Hissa há catorze anos, tem como  foco desde o começo de sua história a produção handmade de crochês. E a coleção ‘ Guardiãs da Memória’, apresentada na noite desta sexta-feira não poderia ser diferente, reverenciando as artesãs do Ceará, que estavam presentes no evento e, ao final, receberam aplausos da plateia.

 

 

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Foto: Divulgação - Agência Fotosite

A protagonista do dia, foi a renda labirinto - uma técnica que se encontra quase que em extinção, e só é praticada pelas costureiras mais antigas, pois é algo considerado muito difícil de executar.  Além disso, usou palha de uma árvore chamada carnaúba e do croá - extraída de palmeiras. Usou e abusou do crochê, do bordado, da marchetaria, da alfaiataria feita de seda e de linho. 

 

Thear, marca inaugurada pelo goiano Theo Alexandre especializada em fibras naturais, como algodão e linho, impactou com a coleção denominada  Elementos". Nela foi exaltado a beleza natural do cerrado. A silhueta marcada em forma de corset ou simplesmente pela modelagem e os os diferentes tipos de corpos foram destaque, assim como as peças que visavam o conforto. As cores transitavam do neutro para simbolizar as paisagens da região do Centro-Oeste, e o vermelho que ilustrava as flamas do calor exacerbado que vêm dilacerando o segundo maior bioma do país. 

 

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Foto: Divulgação Ze Takahashi/ @agfotosite

 

Walério Araújo, etiqueta vanguardista que habita o cenário da moda nacional há 30 anos.

Consagrou-se pelos acessórios de cabeça, e era o queridinho da cantora Rita Lee. Trabalha com frequência criando adereços para a compositora Gaby Amarantos, Marisa Monte, Cléo, Pabllo Vittar, entre outras. E, já desenhou roupas para a apresentadora Sabrina Sato, a cantora Ivete Sangalo, a jornalista Glória Maria, etc. 

É famoso pelo seu estilo excêntrico e pela sua mente brilhantemente criativa. Suas últimas coleções tiveram como inspiração a personalidade famosa, Ehlke Maravilha, e a Astrologia, onde cada modelo representava um signo do zodíaco.

Nesta edição, transformou a passarela do shopping em um tributo às suas raízes nordestinas e a matriarca da família, sua mãe. O compasso do desfile foi marcado pela canção ‘As Andorinhas’ da banda sertaneja Trio Parada Dura, ritmo musical que sua mãe aprecia. 

Coincidência ou não, a data do desfile calhou de ser no mesmo dia em que completou 54 anos de vida. As modelos vestiam trajes de gala no melhor estilo que Walério sabe oferecer, com balões estampados nos vestidos pretos de gala, estampas de porcos que remetiam a um período de sua infância, peças verdes que faziam alusão a samambaias e espadas-de-são-jorge, ambas plantas que sua mãe vendia e ele ajudava. 

O cuscuz e o ovo frito, comidas que com forte apelo nostálgico para o estilista, foram retratadas de uma maneira ousada, usando tule e vinil. Uma parcela das peças continham retratos de família com porta-retratos acoplados nas roupas. Os cabelos de algumas modelos eram estilizados igual ao que sua mãe costuma usar, com muito laquê adornado com lenço que seguia a mesma estampa do vestido. 

 

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Foto: Divulgação - Ze Takahashi/ @agfotosite

 

 

 

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Foto: Divulgação Ze Takahashi/ @agfotosite

 

 

 

 

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Foto: Divulgação Ze Takahashi/ @agfotosite

 

 

 

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Foto: Divulgação Ze Takahashi/ @agfotosite

 

Para finalizar a noite, Walério apagou as velinhas em uma festa privada para amigos e clientes em um dos endereços mais badalados do centro histórico de São Paulo. 

 

Martins, criada por Tom Martins, com foco em peças oversized, trouxe uma  coleção dividida em dois momentos. A atriz Agatha Moreira abriu o desfile e fez seu retorno à passarela após dez anos fora. Em contrapartida, o ator Rodrigo Simas fazia sua estreia. 

O primeiro ato, se baseou no estilo marinheiro, com listras azul e branco, lenço amarrado na cabeça dos modelos como se fossem piratas, os colares eram conchas em formatos diversos, e os brincos continham pérolas. 

 

 

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Foto: Divulgação Ze Takahashi/ @agfotosite

 

 

No segundo, o punk rock dominou.  A maquiagem  das modelos era marcada  por  olhos pretos com aplicações de piercings fake. Os acessórios iam de meias arrastão com tênis all star preto e coturnos a cintos de oncinha e colares prateados de correntes. As roupas mesclavam camisetas de banda do estilo como Sex Pistols, Misfits, The Runaways com saias de tule com babados na ponta, cintos coloridos e grandes de ilhós e uma padronagem que visava totalmente o maximalismo. Uma das novidades da marca neste ano, foi que algumas estampas foram feitas por meio de uma IA (Inteligência Artificial). 

 

 

martins
Foto: Divulgação Ze Takahashi/ @agfotosite

 

 

 

martins
Foto: Divulgação Ze Takahashi/ @agfotosite

 

 

 

 

 

Gigantes do mercado são acusadas por ONG britânica pelo uso de algodão não certificado.
por
Maria Luiza Costa
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14/04/2024 - 12h

Publicado nessa quinta feira (11) pela Earthsight, organização não governamental voltada para investigações de crimes ambientais,  o relatório Fashion Crimes: the European retail giants linked to dirty Brazilian Cotton, relacionou o algodão utilizado nas confecções das varejistas H&M e Zara com terras suspeitas de grilagem e desmatamento no cerrado brasileiro.

“Este relatório mostrará que a corrupção, a violência e a negligência do governo ajudaram a transformar o Cerrado baiano em um foco de agronegócio violento e insustentável nos últimos 25 anos” aponta a Earthsight.

Segundo a ONG, o algodão utilizado pelas empresas é oriundo de duas grandes produtoras na Bahia, a SLC Agrícola e o Grupo Horita, ligadas a desmatamento ilegal e crimes ambientais na região. 

Apesar de o algodão da região baiana ser certificado pela Better Cotton (BC) grupo mundial que promove padrões éticos no cultivo do insumo, a Earthsight julga falhos os métodos de fiscalização do grupo. Essa falha é concretizada quando analisou-se que parte das terras das duas empresas foram obtidas por meio da grilagem, prática criminosa de invasão e obtenção ilícita da posse de terra sem autorização governamental. Ainda, as empresas SLC Agrícola e o Grupo Horita acumulam acusações de desmatamento ilegal na região, ameaçando a fauna e flora local, além de oprimir e assediar as comunidades tradicionais locais.

Na investigação, a ONG rastreou cerca de 816 mil toneladas de algodão advindas das duas produtoras entre 2014 e 2023, produzindo cerca de 250 milhões de artigos para as lojas da H&M, Zara, Pull&Bear, entre outras. Outras investigações lideradas pela Earthsight concluíram que, na verdade, foram exportadas mais de 1,5 milhões de toneladas das duas empresas para fábricas da China, Vietnã, Indonésia, Bangladesh e Paquistão.

Loja da Zara com manequins
Imagem: Getty Images

O contraponto dessa alegação nasce na divergência entre a procedência do algodão usado pelas marcas e suas campanhas de marketing: em 2020, a H&M afirmou que até o fim daquele ano usaria 100% de algodão sustentável em suas peças; já a Zara, desde de 2019, anunciou uma campanha em que o objetivo seria uma marca totalmente sustentável a partir de 2025. Para isso, ambas contavam com o selo Better Cotton, uma certificação internacional da produção de vestuário. 

O Brasil é o maior produtor licenciado na gama da certificadora, acumulando 42% da produção, mas, muito desse volume pode ser questionado. A Better Cotton é conhecida internacionalmente pelas acusações de promover greenwashing  (lavagem verde) do algodão e, principalmente, pela falta de transparência no rastreamento total das cadeias de produção. Desse modo, segundo a Earthsight, a BC não pode ser apontada como uma certificação de responsabilidade social e ambiental.

Em nota, a H&M afirmou sua preocupação com as informações trazidas pela Earthsight e que a BC está realizando uma investigação independente sobre as acusações.

A Zara, por sua vez, considerou que a sua dona, Inditex, não adquire algodão de forma direta, mas também está pressionando a Better Cotton para adotar medidas de fiscalização mais sérias.

Vitrine com manequins da Loja H&M
Imagem: DAVID THUNANDER / THUNANDER

Para a ONG, “[...] além de reforçar estas normas, a Better Cotton deve também implementar um sistema de rastreabilidade significativo e garantir que ambos são devidamente aplicados. A H&M, a Zara e outros grandes varejistas devem pressioná-la nesse sentido. Até que o faça, as empresas devem ir além da utilização de sistemas de certificação para garantir que os seus produtos são de origem ética e devem instituir as suas próprias políticas e controlos mais rigorosos”.

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Terceiro dia do evento traz o romantismo e as vivências pessoais dos estilistas como narrativa.
por
Bruna Quirino Alves
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12/04/2024 - 12h

A estilista carioca, Patricia Vieira, abre o terceiro dia de São Paulo Fashion Week no shopping Iguatemi, com sua coleção inspirada no Vale Sagrado dos Incas.

A coleção apresenta peças feitas com couro reaproveitado de seu ateliê, em estampas e paletas de cores que remetem aos trajes tradicionais peruanos. Muitas peças também trazem um pouco do estilo country, com o uso de franjas, botas altas e paleta de cores em tons terrosos. 

 

Foto do desfile de Patricia Vieira. Modelo com roupa com franjas marrons
Peça com franjas característica do estilo country. Foto: Ze Takahashi/ @agfotosite

 

A Fauve, marca da estilista Clara Pasqualini, fez sua estréia nas passarelas da SPFW N57 com a coleção “Prelúdio”, que apresenta o processo de amadurecimento da mulher trazendo elementos que remetem à uma inocência e experimentação “infantil” em um primeiro momento, e posteriormente evolui para peças de roupa mais sofisticadas e até corporativas, em uma certa medida, representando o poder da mulher adulta. 

A coleção apresenta peças que fogem da estrutura convencional, experimentando com formato e materiais diferentes, como vestidos com formato circular fora de proporção e acessórios feitos de madeira. As peças contrapõem o branco, o tule e a ideia de pureza com a sensualidade do nu e da transparência. 

 

Modelo desfilando com roupa branca com saia de tule transparente
Peça com transparência e floral da coleção Prelúdio. Foto: Ze Takahashi/ @agfotosite

 

Renata Buzzo traz uma temática poética em formato de fábula para a sua coleção. A estilista baseou a sua criação em um poema autoral sobre a dinâmica entre a mulher e a sociedade. A obra retrata uma raposa, que representa a figura feminina, que é perseguida por um porco, alegoria para sociedade, com o objetivo final de julgar a raposa.

As peças, para combinar com a ambientação da fábula, fazem alusão à uma floresta, com tons de marrom e verde, florais e composições que lembram animais. 

Segundo a estilista, a coleção também é uma referência à caça às bruxas. As peças apresentam um estilo medieval, com corsets marcados, acessórios extravagantes para a cabeça, decotes com corte reto, meia calça branca e casacos de “faux fur”.  

 

Modelo desfilando com vestido branco e acessório florido na cabeça
Peça de pelúcia com acessório floral e estilo monárquico. Foto: Marcelo Soubhia/ @agfotosite

 

A marca da estilista Cíntia Felix, AZ Marias, desfilou no Teatro Oficina para apresentar a coleção “Florescer - Ato IV: Ar”, que traz sustentabilidade, representatividade e cultura afro-brasileira, especialmente religiões de matriz africana. A coleção se inspira no conto das borboletas de Oyá, a senhora dos ventos. 

A composição das peças representa a fluidez do vento, as cores das borboletas e o formato de seus seus casulos. Os looks mesclam sobreposições de tecidos, com cores brilhantes e peças em jeans – que são o ponto forte da marca. 

O casting do desfile contou a presença de personalidades como: Rebecca, Sarah Aline, Lumena, Pepita e Tati Quebra barraco

 

MC Rebecca desfilando com um vestidoparecendo uma nuvem e um defumador
Rebecca desfilando com uma peça em formato de nuvem levando um defumador. Foto: Ze Takahashi/ @agfotosite

 

Apresentando as raízes cearenses de suas criadoras, a nova coleção da marca Marina Bitu foi inspirada na região do Cariri. Além de destacar a moda cearense, o projeto também traz visibilidade aos alunos de moda do Senac Crato que fizeram parte da confecção da coleção. 

As peças trazem elementos regionais característicos como fibras de palhas de bananeira, tingimentos com cascas de romã que remetem à pedra de calcário e estampas pintadas à mão que reproduzem a paisagem cearense. 

Os looks tem cortes ultrafemininos e seguem uma paleta de cores em tons terrosos, mesclam diferentes materiais e texturas, desde a transparência até a mistura de crochê com linho e algodão. 

 

Modelo desfilando com vestido degradê
Marina Bitu SPFW N57. Foto: Marcelo Soubhia/ @agfotosite

 

Rafael Silvério dá continuidade no enredo romântico. 

O estilista muda o foco streetwear da sua marca e lança sua nova coleção no SPFW N57, fazendo sua estreia na moda noiva de uma forma menos tradicional e mais inclusiva. 

Sua coleção foca no traje cerimonial voltado para o público LGBTQIAP+ e mistura elementos streetwear com os clássicos de casamento. 

As peças contam com mangas bufantes, paletós com ombreiras, vestidos com recortes e babados. A paleta de cores vai desde tons de preto, branco e azul escuro, até peças com cores mais vibrantes como rosa choque e rosa pastel. 

 

Modelo desfilando com conjunto preto e branco
Silvério SPFW N57. Foto: Marcelo Soubhia/ @agfotosite

 

O último desfile do dia celebra as várias formas do amor. 

A marca LED, do estilista Célio Dias, encerra o terceiro dia de SPFW apresentando a sua coleção “O lindo baile do amor”. 

A coleção tem o jeanswear como protagonista, com diversas lavagens, formatos e estampas. As peças seguem uma linha monocromática, com algumas cores vibrantes como amarelo, rosa e vermelho em estampas que lembram o fogo.

Peças forradas com a palavra “tesão” se destacam, reforçando o conceito do desfile. 

O casting contou com a participação da modelo Barbara Fialho abrindo o desfile e da presença da Banda Uó, composta por Davi Sabbag, Mateus Carrilho e Mel Gonçalves, que anunciou seu reencontro recentemente.

 

Banda Uó desfilando
Banda Uó desfilando para LED no SPFW N57. Foto: Ze Takahashi/ @agfotosite

 

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Segundo dia do evento, Cria Costura trouxe originalidade da Zona Leste de SP para a passarela.
por
Giovanna Montanhan
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12/04/2024 - 12h

A quarta-feira (10) no Shopping Iguatemi começou com a celebração dos 18 anos da marca Lilly Sarti.  Com uma seleção de peças  que abusava de  couro, alfaiataria, crochê, tules, bordados, kimonos transpassados e  jeans,  a coleção carregava o nome da mãe da estilista, "Sofia".  Além de utilizar elementos que caracterizam o estilo boho, como por exemplo, as franjas e os tons terrosos, ela também trouxe  contrastes  com visuais que exibiam a glamourização dos metalizados. 

 

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Estilo boho apresentado pela marca Lilly Sarti. - Foto: Divulgação/@agfotosite

No meio da noite, Lino Villaventura, apresentou  um casting estrelado, contando com presenças como Isabella Fiorentino, Ticiane Pinheiro - que desfilou no evento pela primeira vez e retornou às passarelas após 27 anos, Reynaldo Gianecchini, Thiago Oliveira, Bruno Fagundes, sem deixar de mencionar as suas modelos veteranas Vivi Orth, Eliana Weirich, Daniela Rotelli. 

O tom principal de sua coleção foi concedido pela estruturação com arames nos vestidos e casacos. A parte masculina, tinha uma vertente mais esportiva, com bermudas e calças cargo e tênis de malha com solado macio.

Paetês, all black, óculos que simulavam uma máscara, jaquetas que remetiam  capas, patchwork, peças assimétricas, sandálias de plataforma coloridas e texturizadas, botas, um mix de cores clássicas e ao mesmo tempo vibrantes e slip dress foram alguns dos destaques do desfile.

A maquiagem seguiu nessa linha dramática e teatral, característica dos desfiles do Lino, com os olhos bem marcados, a boca vermelha e a pele bem contornada. 

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Peça estruturada por arames da coleção  - Foto: Ze Takahashi/ @agfotosite


Cria Costura, um projeto criado em 2021 por um time de costureiros das regiões Cidade Tiradentes ,Vila Carrão e Brasilândia (Zona Leste) foi a estrela da noite. Esta foi a quinta vez que eles mostraram suas criações no evento.As peças apresentadas carregavam  rendas, paetês, babados, ombreiras, recortes assimétricos, metalizados, alguns modelos eram adornados com cintos que marcavam bem a cintura, tecidos esvoaçantes, muito volume em tons de pink. Os colares eram bem agarrados ao pescoço, como uma espécie de coleira estilizada. 

O show na passarela é o clímax final deste trabalho dedicado à capacitação profissional criado pela Prefeitura com Inmode. Ao final da apresentação, foi formado uma linha na passarela de todos os alunos, homens e mulheres, dos 16 aos 75 anos, para receberem os aplausos de quem estava presente na plateia. 



 

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Cria Costura   -  Foto: Sergio Caddah/ @agfotosite

 

A marca Reptilia finalizou o segundo dia valorizando a beleza da mulher madura. Focou em criar peças minimalistas e casuais, com a presença de maxi brincos prateados, alfaiataria bem cortada em forma de camisas, camisas oversized, blazers e saias. As botas de couro tinham o bico prateado, além das calças jeans, hot pants e sapatilhas. 

 

O casting da marca trouxe modelos com mais de 40 anos, contrariando o senso comum do mundo da moda de exaltar apenas mulheres mais novas. A marca brasileira seguiu a tendência europeia das últimas semanas de moda internacionais ao trazer aos olhos do público linhas finas e cabelos grisalhos como significado de beleza nas passarelas. Modelos experientes, como Naomi Campbell, de 51 anos, seguem sendo as favoritas de grifes consagradas como Michael Kors e Valentino, assim provocando um início da mudança neste universo extremamente excludente.

 

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Casting da Reptilia composto apenas por mulheres com mais de 40 anos.  -  Foto: Agência Fotosite/Ze Takahashi
 

 

 

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A 57a edição da semana de moda de São Paulo começou nesta terça-feira (09), e se estende pelos próximos cinco dias
por
Carolina Johansen Saraiva de Carvalho
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10/04/2024 - 12h

A São Paulo Fashion Week teve sua primeira edição em 1993. Na época chamada de Phytoervas Fashion, a semana contou com nove desfiles em um galpão na Vila Olímpia e foi formulado a partir de uma parceria entre Paulo Borges, diretor criativo da SPFW,  e Cristiana Arcangeli, empresária da marca Phytoervas. Três anos mais tarde, a parceria entre Borges e Arcangeli foi encerrada e a Phytoervas Fashion se transformou em Morumbi Fashion Week. Foi só em 2001 que a semana adquiriu seu nome atual, ano marcante para o evento, contando com o desfile homenagem de Ronaldo Fraga para estilista Zuzu Angel e a presença das modelos Adriana Lima e Gisele Bündchen. 

Modelo Adriana Lima em desfile para a SPFW
Adriana Lima no SPFW em 2001 — Foto: Getty Images

O tema da temporada atual de número 57 é “sintonia”. As apresentações estão divididas entre os shoppings JK Iguatemi e Iguatemi, a galeria Nara Roesler, o Teatro Oficina, Love Cabaret e o Edifício Martinelli – no qual ocorrerá o desfile de encerramento. A semana de moda contará com 27 desfiles em seus seis dias, dentre eles haverá a estreia de duas marcas: Celina Hissa de Catarina Mina e Reptilia de Heloisa Strobel. 

A abertura aconteceu ontem (09) no shopping JK Iguatemi pela marca Aluf de Ana Luisa Fernandes ao som da Orquestra Sinfônica de Heliópolis. A coleção leva o nome de “Prosopopeia” em homenagem ao poema de Bento Teixeira e foi inspirada no movimento barroco brasileiro. Feita somente com materiais nacionais, a coleção trouxe silhuetas fluidas, uma paleta de cores amena, a predominância  do dourado e muitos acessórios como chapéus e laços. A intenção da estilista-chefe da grife era trazer um tom lúdico e de teatralidade às roupas feitas para serem usadas no cotidiano. O encerramento do desfile sobre os porquês da arte. 

Atriz Débora Nascimento na passarela da Aluf no SPFW
Aluf, SPFW N57. Foto: Agência Fotosite/Marcelo Soubhia

Além das novas localidades e marcas estreantes, outra novidade da 57ª edição da SPFW foi a restrição do acesso ao público geral, limitando-o apenas aos convidados. Essa mudança não foi bem recebida e tem sido alvo de discussões acaloradas sobre como esta decisão não apenas é um retrocesso na democratização do evento, como também  aprofunda ainda mais a exclusão e as desigualdades já existentes na indústria da moda.

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Na última sexta-feira (22), Pierpaolo Piccioli anunciou, de maneira inesperada, a sua saída do cargo como diretor criativo da grife italiana.
por
Giovanna Montanhan
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25/03/2024 - 12h

Pierpaolo Piccioli estava na marca desde 1999, e fez o pronunciamento por meio de um post no Instagram, onde escreveu uma longa mensagem: ‘’nem todas as histórias têm começo e fim, algumas vivem uma espécie de presente eterno que brilha com uma luz intensa, tão forte que não deixa sombras. Estou nesta empresa há 25 anos, e há 25 anos existo e convivo com as pessoas que comigo teceram os fios desta linda história que é minha e nossa. (...) Obrigado ao Sr. Valentino e Giancarlo Giammetti que me deram seus sonhos. (...) Com amor, PP.’’

A história da Valentino começa bem antes do jovem designer Piccioli, em 1959, quando o estilista italiano Valentino Garavani fundou a casa de moda em Roma, na Itália. Garavani, desde cedo, demonstrou seu talento para o ofício, atraindo a atenção da elite hollywoodiana e da alta sociedade mundo afora. Suas criações repletas de glamour e bossa conquistaram uma clientela fiel que fizeram da maison  uma das principais marcas de moda do mundo. 

Durante as décadas de 60 e 70, ele se consolidou como um dos principais nomes da alta-costura italiana, conhecido por suas criações elegantes e sua atenção minuciosa aos detalhes. Vestiu celebridades como as atrizes Audrey Hepburn, Elizabeth Taylor e a ex-primeira dama dos Estados Unidos, Jacqueline Kennedy Onassis, assim solidificando sua reputação como um dos estilistas favoritos das mulheres mais influentes da época.

Em 2008, Maria Grazia Chiuri e Pierpaolo Piccioli foram nomeados co-diretores criativos da Valentino, trabalhando lado a lado para revitalizar a marca. Juntos, proporcionaram  uma estética moderna, combinando a herança da marca com toques contemporâneos. Suas coleções foram bem recebidas tanto pela crítica quanto pelo  público, e rapidamente se tornaram uma das duplas mais celebradas da moda.

 

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Pierpaolo Piccioli e Maria Grazia Churi - Reprodução: Ansa

 

Em 2016, Maria Grazia Chiuri deixou o cargo  para assumir a cadeira  de diretora criativa da Dior (onde permanece atualmente ), deixando o companheiro como diretor solo. Desde então, Piccioli comandou a Valentino com esmero, concebendo coleções que despertavam desejo tanto nos consumidores quanto nos amantes da marca, além de ter contribuído para a manutenção da lucratividade da empresa,  o que fez com  que o legado da grife continuasse a prosperar sob sua liderança.

Como diretor criativo  criou desfiles icônicos, destaque para o último , coleção  inverno de 2024, intitulada 'Le Noir'. Como o próprio nome sugere, a cor preta era a protagonista, deixando de lado a sua marca registrada, que são as cores vibrantes. As peças tinham muitos recortes, fendas e transparências. Para o inverno de 2022, fez a passarela cair na tinta através de uma atmosfera rosa-choque, que incluía até a decoração no mesmo tom. Em parceria com a Pantone, criaram a cor ‘’Pink PP’’ - cuja sigla faz referência às suas iniciais. 

 

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Reprodução: Getty Images

 

 

 

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Reprodução: Getty Images

 

 

Ainda não se sabe quem irá assumir o seu posto, mas a Valentino se pronunciou dizendo que em breve será anunciada a nova ‘’organização criativa’’. 

 

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A americana que ficou acidentalmente famosa aos 84 anos faleceu no início do mês.
por
Thayná Patricia Alves
Liz Ortiz Fratucci
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07/03/2024 - 12h

A empresária, designer de interiores e ícone da moda, Iris Apfel morreu com 102 anos de idade no dia 1º de março de 2024. De acordo com sua assessoria, ela estava em sua casa em Palm Beach, na Flórida, e seu falecimento foi anunciado através de uma postagem no Instagram para mais de 3 milhões de seguidores. A causa não foi revelada.

Conhecida mundialmente por seu estilo excêntrico e maximalista, a americana foi uma figura marcante no universo artístico graças ao seu acervo de looks cheios de cores, texturas e volumes.

A americana, Iris Apfel, sentada na primeira fileira durante a semana de moda de Nova York em 2016. Seu estilo é contrastante com todos à sua volta.
Iris Apfel em 2016 durante a New York Fashion Week - Foto: Getty Images

 

Com o título: "Rara Avis: Selections from the Iris Apfel Collection", a amostra de seu acervo fashion consolidou de vez sua imagem excêntrica, maximalista e marcante. 

Como tudo começou

De família judia, Iris nasceu em 1921 na cidade de Nova York, e teve contato com brechós e antiquários desde jovem. Sua mãe, Sadye Barrel, possuía uma boutique de roupas, tornando-se sua primeira referência visual. Seu pai, Samuel Barrel, importava antiguidades da Alemanha, assumindo mais tarde uma loja de espelhos vintage. “Aprendi com minha mãe que apenas com um vestido preto, mudando os acessórios, você pode ir a qualquer lugar, incluindo uma festa de gala”, disse a designer em seu documentário, lançado em 2015. 

Apfel obteve seu primeiro diploma em história da arte pela Universidade de Nova York (NYU), se especializando em design de interiores. Sempre foi apaixonada por moda, ela cultivava o desejo se tornar uma editora jornalística de sucesso no mundo fashion. Seu primeiro trabalho foi ao lado de Robert Goodman no jornal Women's Wear Daily, atuando como assistente de ilustração de moda em um dos maiores veículos da época. 

Mesmo não seguindo a carreira de jornalista de moda, Iris nunca abandonou esta paixão. Excentricidade e rebeldia visuais eram marcas registradas de sua personalidade. Foi uma das primeiras mulheres a usar calça jeans nos anos 40, quando a peça era vista exclusivamente como masculina, projetando um discurso social em prol dos direitos femininos. 

Primeiros passos em direção à fama

Casou-se em 1948 com Carl Apfel, com quem permaneceu até 2015, ano de falecimento de Carl. Eles se conheceram em 1947, quando se hospedaram no mesmo hotel, e não demorou muito para iniciarem a união que durou 68 anos. Foi em um vestido de renda rosa e tamancos de cetim que Iris subiu no altar. Em seu documentário, ela diz que escolheu peças que poderia usar após a cerimônia de casamento, e que não ficasse guardado em uma caixa. Ela também comenta que os tamancos voltariam à moda: “se você esperar tempo suficiente, tudo volta (a ser estiloso)”.

Nos anos 50, o casal fundou a empresa têxtil Old World Weavers, especializada em restaurar móveis e tecidos para casas com reproduções de tecidos dos séculos 17, 18 e 19. A empresa tornou-se muito conhecida no meio do design de interiores e conquistou grandes clientes como a Casa Branca - com restaurações realizadas durante o mandato de nove presidentes - , o Departamento do Estado e as atrizes Greta Garbo e Faye Dunaway

O casal viajava o mundo em busca de referências e, nessas viagens, Iris se tornou também uma grande colecionadora de roupas e acessórios vintage, comprados em feirinhas de antiguidades e brechós, multiplicando esteticamente seu acervo. 

A Old Word Weavers foi vendida em 1992, mas Carl e Iris continuaram trabalhando nela até 2005. Neste mesmo ano, Iris foi convidada por Harold Koda — curador do Met's Costume Institute — a exibir sua coleção no Metropolitan Museum of Art em Nova York. Foram expostos 82 looks completos e 300 acessórios, desde bolsas e braceletes a casacos e peles. A exibição quase não foi divulgada nas mídias, e mesmo assim foi um grande sucesso, tornando Iris Apfel uma grande celebridade aos 84 anos.

A adolescente mais velha do mundo

Em entrevista ao jornal inglês The Guardian, Iris Apfel confessou que gostaria de ser lembrada como a “adolescente viva mais velha do mundo”. Tendo o auge de sua carreira depois dos 80 anos, a empresária, designer e modelo quebra estereótipos etaristas, rejeitando as expectativas da sociedade em relação as mulheres mais velhas. Como símbolo do maximalismo, era defensora da espontaneidade e da exuberância. . Apesar da mobilidade reduzida, nos últimos anos, ela continuava ativa em sua página no Instagram exibindo seus looks criativos e coloridos. “Todos devem se sentir confiantes para expressar a sua personalidade e humor por meio dessa maneira como a gente se apresenta ao mundo, que é a moda. Devemos nos divertir enquanto fazemos isso. Pelo menos, é o que eu sempre fiz”, disse Apfel, em entrevista ao Woman’s Wear Daily.

Além do documentário ‘Iris’, estreado em 2015, aos 96 anos, publicou seu livro “Iris Apfel: ícone acidental”; aos 97 assinou um contrato de modelo com a agência global IMG Models e, em 2018, tornou-se a pessoa mais velha a inspirar a produção de uma boneca Barbie, com seu tradicional terninho verde da Gucci.

“Se você é sortudo o suficiente para envelhecer, eu acho que você deveria celebrar isso” – Iris Apfel

 

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