O mundo da moda se despede hoje de Giorgio Armani, falecido aos 91 anos, em Milão. Considerado um dos mais importantes estilistas da história, Armani criou um legado de precisão e sofisticação atemporal.
Nascido em Piacenza, no norte da Itália, Giorgio Armani construiu um império a partir de uma ideia simples, mas revolucionária: a elegância não precisa ser barulhenta. Ao longo de cinco décadas, refinou o terno masculino, suavizou as linhas rígidas que dominavam a alfaiataria e criou para as mulheres roupas que dialogavam com elegância, poder e leveza.
Com sua marca fundada em 1975, Armani rapidamente deixou de ser apenas um estilista para se tornar um fenômeno cultural. Vestiu gerações de astros de Hollywood, de Richard Gere em Gigolô Americano a Cate Blanchett no tapete vermelho de Cannes e consolidou o imaginário de que vestir Armani era mais do que estar bem vestido: era incorporar uma postura, uma confiança silenciosa.


Dono de uma visão empresarial rara, manteve sua companhia independente, sempre controlando cada decisão criativa e estratégica. O império Armani se expandiu para perfumes, hotéis, esportes e design de interiores, mas nunca perdeu a identidade minimalista que o caracterizava.

A notícia de sua morte reverbera entre colegas e admiradores. Estilistas de diferentes gerações destacam não apenas sua influência estética, mas também sua disciplina e fidelidade a um estilo que não se rendia a modismos passageiros. Armani foi, em essência, um criador que acreditava que a moda deve servir ao indivíduo, e não o contrário.
Seu legado permanecerá nas passarelas, nos filmes, nos red carpets e, sobretudo, na forma como aprendemos a olhar para a simplicidade como o mais alto grau de sofisticação.
A certidão de óbito da estilista Zuleika Angel Jones, conhecida como Zuzu Angel, foi oficialmente retificada nesta quinta-feira (28), em uma cerimônia em Minas Gerais. A atualização faz parte de um pacote de 21 certidões entregues pelo Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania a familiares de pessoas mortas ou desaparecidas durante a ditadura militar e atende à Resolução nº 601/2024, do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).
O novo documento especifica que a morte de Zuzu ocorreu de forma não natural, violenta e causada pelo Estado brasileiro, no contexto de perseguição política que marcou o regime militar. A retificação também incluiu dados complementares, como idade, estado civil, além da data e local da morte. Na cerimônia ocorrida na Assembleia Legislativa mineira, além da certidão de Zuzu Angel, foram entregues documentos retificados de outras vítimas da ditadura.
Aos 54 anos, um acidente de carro na saída do túnel Dois Irmãos, em São Conrado matou Zuzu Angel. O túnel foi rebatizado anos mais tarde e hoje leva seu nome. Desde os anos 1980, familiares e ativistas afirmavam que o acidente foi provocado e que seu carro teria sido jogado para fora da pista por agentes do regime.
Zuzu Angel ganhou espaço no cenário da moda brasileira ao valorizar bordados artesanais, cores vibrantes e elementos da cultura popular, em contraste com as influências europeias dominantes. Seu trabalho chegou a vestir estrelas de Hollywood, projetando seu nome internacionalmente. Um dos momentos mais marcantes de sua carreira foi o desfile realizado em Nova York em 1971, que trouxe à passarela referências à repressão vivida no Brasil. A coleção incorporou símbolos de luto e resistência, transformando a moda em uma forma de denúncia política e visibilidade internacional para a causa de seu filho Stuart Angel Jones, militante do MR-8 torturado e morto no mesmo ano do desfile.
Atualmente, parte de seu acervo está preservada no Instituto Zuzu Angel, no bairro da Tijuca, no Rio de Janeiro. O espaço funciona como centro de memória da estilista, com peças catalogadas e, ocasionalmente, abertas a exposições sob gestão da filha, Hilde Angel.

A retificação da certidão de óbito de Zuzu Angel, inserindo oficialmente a causa violenta e a responsabilidade do Estado, representa um marco na busca por reparação e preservação da memória no país. O registro traz clareza formal sobre as circunstâncias de sua morte e reforça o legado de Zuzu como estilista que abriu caminhos na moda brasileira e transformou sua dor pessoal em denúncia por meio da arte.
A H&M inaugura sua primeira loja no Brasil neste sábado (23), no Shopping Iguatemi São Paulo. A unidade, com cerca de 1 mil m², será dedicada ao público feminino. No dia 4 de setembro, a rede abre a segunda loja no Shopping Anália Franco, também na capital paulista, com quase 2 mil m² e espaço para as linhas masculina e infantil. Além das lojas físicas, o e-commerce nacional começa a funcionar simultaneamente, ampliando a presença da marca no mercado digital. De acordo com a empresa, outras unidades estão previstas até o fim de 2025. As informações foram divulgadas pela Elle Brasil e confirmadas pela varejista.
Fundada em 1947, na cidade sueca de Västerås, a H&M é uma das maiores redes de fast fashion do mundo, com mais de 4.500 lojas, em 70 países. Sua estratégia combina preços competitivos, alta rotatividade de coleções e forte integração digital. A companhia chega ao Brasil em um momento de retração econômica global — no primeiro semestre fiscal de 2025, a economia mundial registrou queda de 1% nas vendas e recuo de 27,7% no lucro líquido, segundo o jornal espanhol “Cinco Días”. Ainda assim, a América Latina aparece como prioridade no plano de expansão da empresa.
No país, a operação contará com um centro de distribuição em Extrema (MG), localizado entre São Paulo e Rio de Janeiro, para agilizar a logística e o abastecimento das lojas. O mercado acompanha de perto o movimento, já que o setor de moda brasileiro movimenta cerca de R$230 bilhões ao ano, de acordo com a Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit).
A chegada da H&M insere-se em um histórico de marcas globais que buscaram espaço no consumo nacional. A C&A, de origem holandesa, foi a primeira a se instalar, em 1976. Em 1999, a Zara inaugurou sua primeira loja no Shopping Morumbi, em São Paulo, e consolidou presença nos grandes centros urbanos. Já a Forever 21 desembarcou em 2014, mas encerrou suas operações em 2019, após dificuldades de adaptação.
Em entrevista à AGEMT, a gerente de estilo Camila de Paula Souza afirmou que a movimentação da H&M exigirá atenção das concorrentes locais. “A H&M traz uma operação global com muita força, o que exige que as varejistas se reposicionem. O desafio é manter proximidade com o público, reforçando a identidade nacional e ampliando a integração entre loja física e on-line”, disse. Segundo ela, o setor aposta em coleções cápsula assinadas por designers brasileiros, em parcerias com influenciadores digitais e em investimento tecnológico. “O consumidor busca preço, mas também diversidade, representatividade e conveniência. Esse é o caminho para manter a relevância diante da chegada da H&M”, completou.
Expansão de mercado e o desafio da sustentabilidade
Além da disputa por espaço no mercado, a chegada da H&M reacende o debate sobre sustentabilidade. Globalmente, 89% dos insumos da marca já são de origem considerada sustentável, sendo 29,5% reciclados, com meta de atingir 100% até 2030, segundo dados divulgados pela própria empresa. A linha “Conscious”, desenvolvida com tecidos reciclados, estará disponível no Brasil e será apresentada como diferencial diante das críticas ao modelo fast fashion, frequentemente acusado de estimular o descarte em massa e de ter grandes impactos ambientais.
O setor, no entanto, segue competitivo. Em 2024, a Renner registrou lucro de R$1,1 bilhão, a C&A obteve R$452 milhões e outras empresas alcançaram resultados relevantes, de acordo com balanços publicados pelas companhias. Paralelamente, plataformas digitais como a Shein, que entrou no Brasil em 2022, já atingiram mais de 50 milhões de consumidores no país, representando de 10% a 15% de seu faturamento global.
Com inaugurações previstas para os próximos meses e expectativa de arrecadar até R$2,88 bilhões no país, segundo o portal “Mercado & Consumo”, a H&M deve gerar milhares de empregos diretos e indiretos com a instalação das primeiras unidades e do centro de distribuição. O histórico mostra que a adaptação cultural é determinante para o sucesso das marcas estrangeiras: enquanto a Zara conseguiu consolidar presença, a Forever 21 não resistiu. Agora, em um cenário de consumidor mais conectado e exigente, a chegada da H&M promete inaugurar uma nova fase para o varejo de moda no Brasil.
Nas ruas e universidades, a moda afirma-se como linguagem política: um código visual capaz de expressar ideologias, indignações e identidades coletivas. Em um Brasil marcado por tensões sociais, reações conservadoras e a articulação de movimentos progressistas, o corpo torna-se campo de disputa simbólica.
Esse uso da estética como resistência não é novo. Nos anos 1960 e 1970, movimentos como o feminismo, o black power e o punk já faziam do vestuário uma ferramenta de contestação. Hoje, esse gesto se atualiza: a camiseta da seleção brasileira, antes símbolo nacional, virou objeto de disputa ideológica, enquanto outras peças se consolidam como marcas visuais de protesto, como os keffiyehs em atos pró-Palestina ou camisetas com frases como “Estado laico já”.
Em entrevista à AGEMT, a estilista Isadora Barbozza afirma que “o vestuário é essencial para transmitir mensagens sociais, culturais, ideológicas e políticas”. Para ela, é possível reconhecer, à primeira vista, a filiação a uma causa, crença ou identidade coletiva. “Você consegue, num olhar, identificar uma roupa de matriz africana. É muito expressivo”, destaca. Ela lembra que religiões, culturas e instituições sempre usaram a roupa como marcador simbólico — mostrando que o corpo vestido participa da construção de sentidos sociais.
Na universidade, esse fenômeno se intensifica. Na PUC-SP, onde o movimento estudantil voltou a se articular em 2025, com assembleias e protestos pela democratização interna e contra retrocessos nos direitos humanos, o vestir passou a compor o ato político. Camisetas com símbolos de partidos e movimentos sociais — como o PT, o MST e coletivos feministas — tomaram os corredores, transformando o corpo dos estudantes em suporte de convicções. A escolha da roupa deixa de ser neutra e se torna apoio ao debate.
A relação entre vestuário e engajamento também aparece na fala de Martim Tarifa, estudante de Jornalismo da PUC-SP. Em entrevista à AGEMT, ele conta que escolheu sua roupa com intenção ao participar da assembleia da ocupação estudantil. “Não fazia sentido ir com qualquer roupa. Vesti minha camiseta antifascista porque, da minha casa até lá, queria deixar claro meu apoio à mobilização”, explica. Para ele, mesmo quando não há uma intenção explícita, o modo de se vestir carrega significados. “Só de olhar para o estilo de uma pessoa, já dá pra perceber uma possível posição política. É uma forma de se posicionar e também de se identificar”, acrescenta.
Na sexta-feira (11), o último dia da 59ª edição da São Paulo Fashion Week foi marcado por três desfiles de estilos distintos. A capital paulista recebeu as novas coleções da Handred, Patricia Vieira e PIET que encerraram o evento.
Handred
Abrindo o dia, Handred apresentou uma coleção cheia de referências artísticas brasileiras e inspiradas na tapeçaria. Ponto Brasileiro – nome da coleção assinada pelo estilista André Namitala- traduziu a homenagem desejada pelo artista: “Uma ode ao legado dos grandes mestres tapeceiros”.
O desfile ocorreu na galeria Passado Composto, no bairro do Jardins. Enquanto os modelos passavam apresentando a coleção, André narrava o desfile comentando os looks, suas técnicas e seus pensamentos, uma ambientação única e intimista. A Handred trouxe excelência na necessidade atual de experiências imersivas para a passarela.
A coleção acentua os trabalhos manuais do ateliê e comemora brasilidade – as cores vibrantes, peças inspiradas em obras de Jacques Douchez e na ilustração “Jardim Brasileiro” do artista Filipe Jardim. As técnicas refinadas com ajuda do Apara Studio relembram Genaro de Carvalho, tapeceiro brasileiro que incorporava cores e a cultura brasileira em suas obras.
Uma coleção com bordados, organza, lã, veludo e seda, tudo conversa com as obras. Outro ponto alto foi a beleza assinada por Carla Biriba, a maquiagem dos modelos conversava diretamente com as peças e passavam do corpo para o rosto. A linha transcende a moda e mostra como caminhar junto da arte brasileira.

Patricia Viera
Marca consolidada na SPFW e conhecida pelo trabalho com couro, Patricia Viera apresentou sua nova coleção na Casa Higienópolis, em parceria com o artista Jardel Moura, responsável pelo desenvolvimento do corte tipo richelieu - caracterizado por desenhos vazados, muitas vezes com flores, folhagens ou padrões geométricos .
Sempre buscando inovação com sustentabilidade, Viera traz uma coleção que reforça seus atributos ao usar tecnologia a laser na construção do couro. Inspirada no Art Déco, a estilista aposta em tons sóbrios, como bordô, marinho e até metálicos, aliados à geometria. Os mosaicos, criados por meio do programa Zero Waste, reutilizam sobras de couro do ateliê, promovendo uma produção mais consciente.
Com uma ambientação clássica, a coleção revisita o passado sem deixar de valorizar o presente, trazendo elementos como um vestido de noiva e o uso de animal print. O trabalho artesanal das peças é único e reafirma o luxo característico da marca. Pela primeira vez, a marca apresentou uma coleção própria de sapatos, expandindo seu portfólio de produtos.

PIET
Com trilha sonora de Marcelo D2 e Nave Beats, Pedro Andrade criou um cenário único no estádio do Pacaembu para apresentar o desfile da PIET. O futebol foi o protagonista da coleção. O estilista explicou à CAPRICHO que a apresentação funciona como uma linha do tempo que começa nas memórias de infância, que ajudam a formar o imaginário coletivo da população sobre o esporte. “O futebol está no nosso DNA”, declarou.
Ele explora diversos personagens nas roupas: do torcedor ao técnico, passando pelo jogador e até mesmo pelo soldado na reserva, que passa a maior parte do tempo jogando bola. Por meio de uma combinação de modelagens justas e oversized, meiões, releituras de camisas de time e estampas camufladas, o estilista traduz essas personas em suas peças.

A maquiagem também teve destaque na passarela. Helder Rodrigues foi o responsável pela beleza dos modelos, que apareceram desde apenas com blush, até rostos completamente pintados, que evocaram a paixão dos fanáticos pelo esporte.
Desde 2022, a São Paulo Fashion Week passou a vender ingressos, mas o evento da marca de streetwear foi em contrapartida ao disponibilizar 4 mil entradas gratuitas para o público e reuniu uma comunidade fiel à marca. A escolha foi certeira, já que os torcedores formam parte essencial desse “jogo da moda”.
gente o desfile da piet no fechamento da spfw foi muito foda estou encantada as a fashion girlie to feliz em estar em lugares q n imaginei q estaria <3 @SPFW pic.twitter.com/xHWYrc2WgZ
— nape (@davegrou) April 12, 2025
Estreante na SPFW em 2018, a PIET conquistou reconhecimento internacional ao firmar parcerias com marcas como Oakley, Puma e Levi’s. Com o encerramento da semana de moda, ela trouxe uma atmosfera de final de Copa do Mundo e reafirmou a democratização dos espaços da moda com a coleção “Farmers League”.




