A moda sempre foi um reflexo do comportamento humano, e nos últimos anos, a tecnologia tem desempenhado um papel crucial na forma como as coleções são criadas. No segmento fashion, que exige inovação constante para atender a um público cada vez mais exigente, a Inteligência Artificial (IA) tem se tornado uma ferramenta essencial. Desde a pesquisa de tendências até a análise de dados de vendas, a tecnologia vem revolucionando o processo criativo e estratégico.
Para entender melhor essa transformação, conversamos com Nayara Graziela do Lago, estilista responsável pelo desenvolvimento de roupas fitness femininas para um grande magazine. Com anos de experiência no setor, ela destaca como a IA tem otimizado seu trabalho e impactado positivamente as coleções. “Antes, a pesquisa de tendências era um processo muito manual e baseado na intuição. Hoje, conseguimos usar IA para analisar um grande volume de informações e identificar padrões com muito mais precisão”, explica Nayara.
Ferramentas de inteligência artificial são capazes de cruzar dados de redes sociais, desfiles internacionais, comportamento de busca na internet e até avaliações de clientes em e-commerce. Isso permite que a equipe de estilo tenha uma visão mais clara do que está em alta e do que realmente pode funcionar para o público-alvo. “No segmento fitness, por exemplo, percebemos que há uma crescente demanda por peças multifuncionais, que possam ser usadas tanto na academia quanto no dia a dia. A IA nos ajuda a confirmar essa tendência analisando o comportamento dos consumidores em tempo real”, acrescenta a Nayara.
Além de prever tendências futuras, a inteligência artificial também tem um papel fundamental na análise de coleções passadas. A tecnologia permite avaliar quais peças tiveram melhor desempenho de vendas, quais cores e modelagens foram mais aceitas e até quais tecidos proporcionaram mais conforto ao consumidor.
“A cada nova coleção, conseguimos acessar relatórios detalhados sobre o que funcionou e o que precisa ser ajustado. A IA cruza dados de vendas com feedbacks dos clientes e nos mostra, por exemplo, se determinada peça foi muito devolvida por problemas de caimento ou se uma estampa específica teve alta aceitação. Isso nos dá uma base muito mais sólida para criar novos produtos”, explica Nayara.
Esse tipo de análise evita desperdícios e ajuda a direcionar melhor os investimentos na produção. Em um mercado cada vez mais competitivo, entender as preferências do público-alvo é essencial para criar coleções assertivas e bem-sucedidas. Outro aspecto revolucionário do uso da inteligência artificial na moda está na criação de estampas e modelagens. Hoje, já existem softwares que geram prints exclusivos baseados em combinações de cores e texturas identificadas como tendências. Além disso, ferramentas de simulação virtual permitem testar digitalmente o caimento das peças antes mesmo da confecção dos primeiros protótipos físicos.
“Isso reduz drasticamente o desperdício de materiais e encurta o tempo de desenvolvimento das coleções. Antes, fazíamos diversos testes com tecidos e modelagens diferentes, o que demandava tempo e custos. Agora, conseguimos visualizar um look completo de forma digital e fazer ajustes antes de costurá-lo”, explica Nayara.

Apesar das inúmeras vantagens proporcionadas pela IA, Nayara faz questão de ressaltar que a tecnologia não substitui a criatividade humana. “A moda tem emoção, identidade e precisa criar conexão com o consumidor. A IA é uma ferramenta poderosa, mas o toque final ainda é do estilista. Somos nós que interpretamos os dados e transformamos essa informação em coleções que realmente conversam com o público.”
Para a estilista, o futuro da moda passa pela combinação entre tecnologia e sensibilidade humana. “O uso da IA no desenvolvimento de coleções já é uma realidade e tende a crescer cada vez mais. Mas a essência da moda continua sendo a criatividade e a capacidade de contar histórias por meio das roupas”.
Com um mercado cada vez mais dinâmico e competitivo, a inteligência artificial se consolida como um diferencial estratégico para marcas que desejam inovar, reduzir desperdícios e entregar produtos alinhados às expectativas do consumidor moderno. E, como Nayara bem pontua, quando aliada ao olhar criativo do estilista, a tecnologia se torna uma poderosa ferramenta para transformar dados e estatísticas em coleções de sucesso.
No início do mês de abril, entre os dias 06 e 11, acontecerá o primeiro período da temporada de moda nacional, o São Paulo Fashion Week (SPFW). Nesta edição, dividida entre o Shopping JK Iguatemi, a Casa Higienópolis e outras locações externas, a semana, além de celebrar a inovação da indústria, também comemora o seu trigésimo aniversário.
Em uma edição mais compacta que a anterior, em outubro de 2024, a programação celebratória promete trazer artistas e marcas da indústria de moda brasileira que ajudaram a consolidar a SPFW, ao longo de três décadas, como uma plataforma de expressões artísticas e impacto cultural. Estilistas como Herchcovitch; Alexandre, Lino Villaventura e Walério Araújo estão confirmados no line-up, com instalações e desfiles que entregam o DNA inovador e característico da única semana de moda da América Latina presente no calendário internacional.

A primeira edição de 2025 também apresentará novidades: as estreias de Leandro Castro e MNMAL abriram esse novo ciclo do evento, trazendo frescor essencial para o cenário de moda nacional. Ambos novatos são sinônimo de produção sustentável e preocupação ambiental, com peças feitas artesanalmente, através da redução de materiais. Leandro, que teve passagem pela Casa dos Criadores, sobe às passarelas no dia 09, com sua coleção construída através de materiais descartados. No dia seguinte, MNMAL esbanja no Shopping JK Iguatemi seu conceito minimamente essencialista.
Outro momento muito aguardado para essa edição é o retorno da PIET para o SPFW. Depois de quase 5 anos longe das passarelas paulistanas, a marca criada pelo estilista Pedro Andrade traz de volta sua estética streetwear, agora, de maneira mais sofisticada, do que em sua última participação em 2019, já que, desde então, a PIET se consagrou internacionalmente no cenário da cultura urbana - e no guarda-roupa de muitos seguidores apaixonados por sua conexão autêntica com o estilo.

Para reafirmar seu compromisso com a exaltação da criatividade e riqueza em técnicas, a SPFW também convidou nomes como Patricia Viera, referência de trabalho em couro no Brasil; João Pimenta e sua característica alfaiataria de vanguarda; a Dendezeiro novamente, para reforçar seu olhar carinhoso e analista sobre a identidade cultura brasileira e a Aluf, com suas inovações na área têxtil.
A edição de número 59 é o primeiro capítulo da celebração que promete ser histórica para o mercado de moda brasileiro. Ao longo dos últimos 30 anos, entre altos e baixos, a SPFW se consagrou internacionalmente como palco para criatividade e exaltação, na mesma medida, de inovação e tradição nacional.
O line-up completo está disponível no site do evento: https://spfw.com.br/spfw-30-anos-futuros-possiveis/
À frente da Balenciaga desde 2015, Demna Gvasalia redefiniu os códigos do luxo contemporâneo ao combinar elementos da cultura de rua com a alta-costura. Durante sua gestão, a marca italiana de streetwear experimentou um crescimento expressivo, com número de vendas quadruplicando nos primeiros cinco anos e superando €1,5 bilhão em 2021.
Foi com essa abordagem de sucesso em mente que o grupo Kering, nesta quinta-feira (13), anunciou, através de comunicado vinculado em suas redes, o estilista como o novo diretor criativo da Gucci
Com essa mudança, a Gucci busca reverter a queda de 23% nas vendas registrada em 2024 e retomar sua relevância cultural, assim como retomar o processo de crescimento sustentável.
O CEO da Kering, François-Henri Pinault, destacou que a criatividade de Demna é exatamente o que a marca precisa neste momento. O designer é consagrado em meio a indústria fashion por dominar a arte de colisão entre luxo, cultura urbana e questões político-sociais da atualidade. Com esse movimento, fica claro a intenção do grupo de diretores: Demna deverá transformar a Gucci, novamente, em um epicentro de tendências culturais, assim como fez com sua antiga casa.

Em nota oficial, o estilista declarou estar entusiasmado com o novo desafio e ressaltou a honra de contribuir para uma maison que sempre respeitou e admirou. Sua despedida da Balenciaga acontecerá no desfile de Alta-Costura de Paris, em julho deste ano, antes de assumir oficialmente seu novo posto na Gucci.
Essa transição estratégica faz parte dos planos da Kering para revitalizar a Gucci, sinônimo de excelência e tradição do mercado de moda, apostando na visão singular de Demna para renovar a identidade da icônica marca italiana.
HISTÓRIA DE DEMNA
Nascido em 25 de março de 1981 em Sukhumi, na Geórgia, Demna Gvasalia se tornou um dos estilistas mais influentes da atualidade.
Sua trajetória foi marcada pelo deslocamento forçado durante a Guerra Vivil Georgiana (1991-1993), que levou sua família a buscar refúgio em países como Ucrânia e Rússia, antes de se estabelecer definitivamente em Düsseldorf, na Alemanha, no ano 2000.
Antes de ingressar no universo da moda, Gvasalia iniciou seus estudos em economia internacional na Universidade Estatal de Tbilisi. No entanto, sua verdadeira vocação o levou à Bélgica, onde concluiu, em 2006, um mestrado em Design de Moda na prestigiada Academia Real de Belas Artes de Antuérpia.Sua carreira teve início no mesmo ano, quando passou a colaborar com o estilista Walter Van Beirendonck em coleções masculinas.
Logo em 2009, foi contratado pela Maison Martin Margiela para liderar as coleções femininas. Cargo que ocupou até 2012. Depois, assumiu o posto de designer sênior de prêt-à-porter feminino na Louis Vuitton, onde trabalhou sob a direção de Marc Jacobs e, posteriormente, de Nicolas Ghesquière.
O grande salto veio em 2014, quando fundou a Vetements, ao lado de seu irmão, Guram Gvasalia. A marca rapidamente se destacou por sua abordagem disruptiva e sua crítica às normas tradicionais da indústria.

Desfile VETMENTS S/S 2015. Imagem: Vogue Runway
No mesmo ano, sua primeira coleção feminina foi apresentada na Semana de Moda de Paris e, em pouco tempo, a Vetements já figurava entre os indicados ao Prêmio LVMH para Jovens Designers de Moda.
O reconhecimento crescente levou Demna a assumir, em 2015, a direção criativa da Balenciaga, substituindo Alexander Wang. Desde então, ele tem redefinido a identidade da grife, consolidando seu nome como um dos mais inovadores e polêmicos da moda contemporânea.
A nova coleção da marca de streetwear italiana foi desfilada na quinta-feira passada (06), no Espaço Niemeyer, em Paris. A escolha do local foi milimetricamente pensada: o edifício em questão, construído entre o final dos anos 60 e o começo dos anos 80, foi a sede do Partido Comunista Francês. O formato da locação e os detalhes modernistas do arquiteto brasileiro criam uma atmosfera semelhante a um filme de ficção científica.
O nome da coleção é “State of Resistance” (Estado de Resistência) e para simbolizar essa ideia a maior parcela das peças desfiladas emanava a ideia de “armadura do futuro”. Elementos de roupas militares e estudantis são conciliados a detalhes de proteção, usualmente usados nos trajes de motociclismo e snowboarding. Com uma paleta de cores bem restrita, os tons sóbrios, como preto, branco e vermelho, foram evidenciados. Ombreiras marcantes, joelheiras, cotoveleiras, capuzes e bolsos estiveram fortemente presentes.

Apesar de uma parte da coleção possuir estética semelhante a de figurinos cinematográficos, o prêt-à-porter não ficou de fora, e o público presente pode apreciar (ou até mesmo desejar) peças mais rotineiras, como vestidos justos e assimétricos, e agasalhos de outwear — honrando a tradição despojada de seu criador e fundador Virgil Abloh.

Para representar um vestuário passível a um futuro sombrio, Kamara trouxe calças estruturadas, combinadas a camisas de alfaiataria, acessorizadas apenas com uma gravata estampada de pássaros. Uma outra referência que busca retomar o espírito streetwear da marca fundada em 2013, é o detalhe gráfico da letra “V”, que estava presente em algumas peças, como aquelas remetentes ao motociclismo.
Após o encerramento do desfile, ficou evidente que a mensagem principal da coleção é a importância do debate em relação às dificuldades climáticas e políticas atuais.

Nos bastidores da última Semana de Moda de Milão, rumores pairavam sobre a aposentadoria de Donatella e da venda da Versace para o grupo Prada. Na última coleção, a diretora referenciou diferentes eras da marca e um ar nostálgico tomou conta da passarela. Nesta quinta-feira (13), o anúncio de Dario Vitale, ex-diretor de design da Miu Miu, como novo diretor criativo, substituindo a famosa herdeira, repercutiu como surpresa na mídia especializada e aqueceu, ainda mais, os rumores da venda da casa.

Donatella assumiu o comando da tradicional grife italiana após a trágica morte de seu irmão, Gianni Versace - criador e idealizador do império homônimo. Desde então, a designer de formação implementou sua marca coleção após coleção, sem deixar de homenagear continuamente o legado de Gianni.
Após 28 anos sob comando, Donatella cativa o público consumidor por sua capacidade de manter a marca divertida e relevante no mundo fashion, honrando, ao mesmo tempo, a estética característica e sensual deixada por seu irmão, como as necessidades e vontades da juventude atual.
A saída de Donatella é triste. Uma mulher empoderada e glamurosa que marcou a cultura pop com seu legado. Agora, como embaixadora chefe, ela será encarregada da parte filantrópica, além de cuidar da marca globalmente.
Em anúncio no Instagram realçou seu comprometimento em defender a próxima geração de designers. “Estou emocionada que Dario Vitale se juntará a nós e ansiosa para ver a Versace com novos olhos. Quero agradecer à minha incrível equipe de design e a todos os funcionários da Versace com quem tive o privilégio de trabalhar por mais de três décadas.” , afirmou a empresária.
Novos ares
Dario Vitale, agora novo diretor criativo da Versace, pode não ser midiaticamente conhecido, principalmente quando comparado com sua antecessora. Mas, apesar de ficar longe dos holofotes, o designer, também italiano, tem uma história extensa no mundo da moda.
Vitale se formou em 2006 pelo Instituto Marangoni e chegou a trabalhar na Bottega Veneta e Dsquared2. Em 2010, ele entra para a Miu Miu e se consolida na marca - vale ressaltar que tal marca que o consagrou, é o atual principal braço de vendas do grupo Prada, possível comprador da Versace.
Ele é reconhecido pelo trabalho brilhante de manter a imagem da Miu Miu relevante, mesmo com uma crise de vendas no mercado de luxo.

Mas, agora, o que será que podemos esperar dessa nova era da Versace? Talento e competência, a MiuMiu, sob comando na área de ready to wear, e seu sucesso astronômico, são a maior prova a favor de Vitale. Mas será que ele vai trazer o mesmo sucesso para a marca italiana tão tradicionalmente familiar?
Afinal, o quão difícil será chegar ao mesmo patamar da arte que corre nas veias e está impregnada no DNA Versace?