Em conversa mediada pelo jornalista e professor Aldo Quiroga, o chargista Renato Aroeira relata como se sentiu ao receber ameaças e intimações sobre suas charges, principalmente a chamada “Crime Continuado”, pela qual o Ministro da Justiça solicitou à Polícia Federal uma abertura de inquérito por crime contra a segurança nacional. Na charge em questão, o cartunista desenhou a cruz vermelha com extensões em preto, tornando-a uma suástica. Ao lado, o presidente da república Jair Bolsonaro segura uma lata de tinta preta e um pincel dizendo ‘Bora invadir outro?’. Esta charge foi criada após o presidente incitar apoiadores a invadirem hospitais para confirmar se haviam pessoas contaminadas com a Covid-19. Sobre a produção da charge, o autor diz: “são símbolos muito fortes. Eu usei o símbolo do bem por excelência que é a Cruz Vermelha com a ideia da Suástica, o mal supremo. Olha, se o Presidente da República chama a sua massa apoiadora a invadir hospitais, a gente só vê essas coisas no fascismo.”
O desenhista lembra que recebeu a notícia do pedido de investigação através de amigos e conhecidos que mandavam mensagens de solidariedade. “Recebi algumas mensagens que diziam ‘solidariedade’ ou ‘estamos com você’, mas não estava entendendo o porquê. Até que amigos me mandaram o tweet do Ministério da Justiça sobre o inquérito.” disse o cartunista. “Senti muito medo, até parei de anunciar onde estaria tocando (saxofone).” A notificação de investigação deu início a uma grande movimentação nas redes sociais que se denominou “Charge Continuada”, na qual outros cartunistas e fãs fizeram mais de quatrocentos desenhos e releituras da charge, postados nas redes sociais a fim de demonstrar apoio ao autor. “Na luta contra a censura, contra o fascismo, temos que ir com tudo que temos na mão”, responde Aroeira sobre o próximo passo nessa batalha. “O outro lado não vai descansar. Temos uma raquete na mão e 14 bolas para devolver, então acho que a gente tem que ir com tudo.”.
Sobre o papel social de suas charges e o que o cartunista espera ao publicá-las, ele diz que espera que as pessoas se divirtam, mas que sintam o gosto amargo da crítica. “Não espero que uma charge resolva nenhum problema, nem atice nada ou gere revolução”, disse, “Eu posso provocar uma catarse ou uma irritação, mas, no geral, nem de longe é o chargista quem muda o mundo. Quem muda o mundo é quem trabalha, quem toma decisões, quem descobre uma vacina. Quem muda o mundo é gente mais ou menos nessa linha.”.
O chargista ainda fala sobre a diferença entre fazer charges 30 anos atrás e nos dias atuais. “Antigamente, eu lia o jornal e escolhia um fato para desenhar e quatro dias depois ele era publicado. Agora, eu fiz quatro charges durante o julgamento da parcialidade do Moro, e assim que terminou, eu soube como foi o pronunciamento do Bolsonaro e imediatamente fiz e postei outra charge.” O profissional conta ainda que, antigamente, recebia cartas com comentários, críticas negativas ou positivas, uma semana após a publicação da charge. Com o tempo, começou a receber e-mails com os mesmos conteúdos e, nos dias atuais, recebe comentários instantâneos em redes sociais como o Instagram.
O número de refugiados no Brasil vem crescendo a cada ano. Só no ano de 2018, segundo a Agência da ONU Para Refugiados (ACNUR) foram relatadas 80 mil solicitações de reconhecimento de condição de refugiado no Brasil. Os grupos de maior número entre as solicitações são os venezuelanos (61.681), que saíram do país devido à crise humanitária, e os haitianos (7.030), cujo fluxo de migração se intensificou após o terremoto que atingiu o país em 2010.
A lei brasileira considera refugiado todo indivíduo que está fora de seu país de origem devido a guerras, terremotos, miséria e questões relacionadas a conflitos de raça, religião, perseguição política, entre outros motivos que violam seus direitos humanos. Isso pode acontecer, por exemplo, quando a vida, liberdade ou integridade física da pessoa corria sério risco no seu país.
Para que o imigrante seja reconhecido como refugiado, é necessário enviar uma solicitação para o Comitê Nacional para os Refugiados (CONARE). O processo de reconhecimento, que antes era mais burocrático e mais demorado, atualmente é feito no site do Ministério da Justiça, a partir do preenchimento do formulário que pode ser feito ainda no país de origem. Todas as etapas podem ser acompanhadas pela internet, mas para o processo começar a tramitar, o solicitante deverá comparecer pessoalmente a uma unidade da polícia federal.
Dentre a população refugiada reconhecida no Brasil, segundo o censo da ACNUR de 2018, a maioria se concentra nas faixas etárias de 30 a 59 anos (41,80%), seguido de pessoas com idade entre 18 a 29 anos (38,58%). Do total, 34% são mulheres e 66% são homens, ressaltando os sírios, os congoleses como nacionalidades em maior quantidade (respectivamente 55% e 21%).
Em janeiro de 2020, o Brasil tornou-se o país com maior número de refugiados venezuelanos reconhecidos na América Latina, cerca de 17 mil pessoas se beneficiaram da aplicação facilitada no processo de reconhecimento, segundo a Agência da ONU para Refugiados. As autoridades brasileiras estimam que cerca de 264 mil venezuelanos vivem atualmente no país. Uma média de 500 venezuelanos continua a atravessar a fronteira com o Brasil todos os dias, principalmente para o estado de Roraima.
Apesar de em grande quantidade, apenas 215 municípios têm algum tipo de serviço especializado de atenção a essa população. As maiores dificuldades encontradas por pessoas refugiadas são a adaptação com o mercado de trabalho, com o aprendizado do idioma, o preconceito e a xenofobia, educação (muitos possuem diplomas em seus países de origem que não são aceitos aqui no Brasil), moradia e saúde.
Covid-19 e o amparo aos refugiados
Diante de um quadro de crise em escala global, como o que acontece este ano com a pandemia da Covid-19, essa população de migrantes e refugiados, que já se encontram em extrema vulnerabilidade, conta com o apoio de poucas instituições voltadas especialmente para suas necessidades. Este é o caso da Missão Paz, uma instituição filantrópica de apoio e acolhimento a imigrantes e refugiados, com uma das sedes na cidade de São Paulo, como conta o padre Paolo Parise.
Nascido e criado na Itália, Parise atua desde 2010 na Missão Paz, atualmente como um dos diretores, e explica que esta instituição está ligada a uma congregação da Igreja Católica chamada Scalabrinianos, que atua com imigrantes e refugiados em 34 países do mundo. “Na região do Glicério - município do estado de São Paulo-, a obra se iniciou nos anos 30 e atualmente está presente em Manaus, Rio de Janeiro, Cuiabá, Brasília, Curitiba, Florianópolis, Porto Alegre, Foz do Iguaçu, Corumbá e outros lugares.”
Sua estrutura atual conta com a Casa do Migrante, um abrigo com capacidade de 110 indivíduos que são acolhidos com alimentação, material de higiene pessoal, roupas, aulas de português, acompanhamento de assistentes sociais e apoio psicológico; e o Centro Pastoral e de Mediação dos Migrantes (CPMM) que oferece atendimento e serviços voltados aos imigrantes, quanto aos seguintes temas: documentação e jurídico; trabalho, capacitação e cidadania; saúde; serviço social; família e comunidade. “Além disso, temos a área de pesquisa em parceria com a revista Travessia, que é o Centro de Estudos Migratórios (CEM), uma biblioteca especializada em migração e a WebRadio Migrantes”, completa Pe. Paolo.

De acordo com o diretor, o maior desafio enfrentado pela instituição, durante a pandemia, foi com a saúde dos refugiados, principalmente pela impossibilidade de viver a quarentena isoladamente, já que muitos vivem em ocupações ou em lugares com muitas pessoas concentradas. Ele ainda denunciou que, dentre tantas vítimas da Covid-19 em São Paulo, um dos grupos mais afetados foi o de imigrantes bolivianos, “muitos foram contaminados e muitos morreram”.
Diante de instabilidades políticas e econômicas, atualmente, sírios e venezuelanos são as principais nacionalidades afetadas que solicitam entrada no país. O que ratifica o Pe. Parise, “Falando pela Missão Paz, se você utiliza o termo ‘refugiados’, o maior grupo neste momento é de venezuelanos, sejam os que foram acolhidos pela missão paz, sejam os que estão entrando no Brasil. E depois encontramos outros grupos como da República Democrática do Congo. Mas se falamos de imigrantes, temos Colombianos, Bolivianos, Paraguaios, Peruanos, Angolanos e de outros países que estão recorrendo ao Brasil.”
Mesmo com mudanças críticas, no cenário jurídico e político brasileiro, para que esta população seja recebida no país e tenha seus direitos respeitados, ainda não se pode falar em auxílio do governo ou medidas diretas de apoio a refugiados e imigrantes.
Paolo relembra a criação de leis que têm beneficiado a população no Brasil. Uma delas é a lei municipal Nº 16.478 de 2016, onde o Prefeito do Município de São Paulo, Fernando Haddad, instituiu a Política Municipal para a População Imigrante que garantia a esses o acesso a direitos sociais e aos serviços públicos, o respeito à diversidade e à interculturalidade, impedia a violação de direitos e fomentava a participação social; e a outra é a lei federal Nº13.445 de 2017, ou a nova Lei de Migração, que substitui o Estatuto do Estrangeiro e define os direitos e deveres do migrante e do visitante, regula a sua entrada e estada no País e estabelece princípios e diretrizes para as políticas públicas para o emigrante.
A Missão Paz se mantém através de projetos e dinheiro injetado pela congregação da Igreja Católica. “Neste momento, a Missão Paz não recebe apoio financeiro nem do município, nem do estado e nem do Governo Federal”, relata Parise. Durante a pandemia receberam ajuda da sociedade civil, “[A Instituição] Conseguiu muitas doações de pessoas físicas, de instituições, de campanhas, fosse em dinheiro, em cestas básicas ou kits de higiene pessoal”, e com 200 cestas básicas, por mês, da Prefeitura de São Paulo. Também receberam ajuda com testes de COVID em nível municipal.
A instituição filantrópica ainda conta com a ajuda de vários parceiros, como explica seu diretor “na área de incidências políticas, por exemplo, nós atuamos com a ONG Conectas Direitos Humanos, temos na área de refugiados um projeto com a ACNUR, estamos preparando outro com a OIM (Organização Internacional para as Migrações) e temos algumas ações com a Cruz Vermelha”.
Desde o começo do ano, já atenderam por volta de 7 mil imigrantes e refugiados, e, hoje em dia, tem por volta de 40 pessoas na Casa, o que representa ⅓ da capacidade total. Além disso, entregam de 50 a 60 cestas básicas a refugiados, diariamente, e ao redor de 60 a 70 que vão, por dia, procurar os serviços do CPMM. “Outras ações incluíram a disponibilização de atendimentos online, de aulas de português a atendimentos jurídicos, psicológicos ou serviços sociais, além de ajudar a completar aluguel, água ou luz daqueles que precisam da ajuda da instituiçã”, fala Padre Paolo.
Todo esse esforço e dedicação da instituição foi feito, sempre, visando seguir as normas de segurança e as indicações da OMS (Organização Mundial da Saúde). Foram fornecidos a seus funcionários e a população migrante e de refugiados álcool para higienizar as mãos, máscaras e demais equipamentos e serviços de proteção e higiene.
Ao final da roda de capoeira, tradicionalmente faz-se o samba de roda, os instrumentistas tocam, os visitantes se posicionam em roda e as e os capoeiristas sambam e convidam quem está na roda a sambar também. Na sequência todos, ou a maioria, vão ao bar de costume para confraternizar e comemorar mais um encontro.
A tradição se fez àquela noite, aliás como é muito comum nas manifestações de cultura popular, onde se cultuam costumes antigos, passados através da oralidade às novas gerações.
Lorimbal um artista soteropolitano, fazedor de berimbaus, compositor, tocador e cantador, visitava o grupo naquela noite. Falou, tocou, cantou e no bar, conduziu o samba e muitas rodadas de cerveja, gozando de todo o “moral” de um velho capoeirista e artista popular.
Ao final da noite de bebedeira, todos indo para casa, um grupo encaminhou-se ao Minhocão, famoso elevado localizado na região central da capital paulista. O viaduto liga a Zona Leste à Oeste e tem alguns quilômetros de extensão, é interditado para o trânsito de carros aos domingos, feriados e todas as noites, assim sendo, transforma-se num espaço para o lazer e caminhadas aos moradores da cidade, porém num centro urbano sempre há problemas, como segurança por exemplo, em lugares com características tais.
Como já era começo de madrugada, o Minhocão já estava vazio, algumas pessoas fumando, outras namorando, travestis, garotos e garotas de programa, moradores da região e em situação de rua... ao longo do viaduto mudam as tribos de frequentadores, entretanto na madrugada, toda a atmosfera presta-se a um clima de marginalidade.
Neste clima e contexto o grupo citado acompanhava o velho capoeira baiano sobre o elevado, ele estava feliz por estar em São Paulo e caminhar em um viaduto tão cheio de histórias sobre as noites paulistanas.
Uma viatura de polícia surgiu no horizonte em que as curvas do Minhocão permitem avistar, com giroflex ligado, iluminava com vermelho piscante um pequeno raio em volta de si mesma, ganhando o asfalto em direção ao grupo de capoeiristas, o qual era muito diverso, por sinal. Haviam estereótipos que a polícia não costuma incomodar e outros e outras que a polícia não deixaria de incomodar, principalmente num cenário como o descrito.
-Todo mundo com as mãos na cabeça, bora rápido todo mundo. Berrara agressivo o policial. Outra viatura encostou na sequência para desespero de todos ou aos menos dos paulistas que sabiam bem o que é lidar com a truculência da PM na madrugada num lugar hostil.
Após uma revista geral, começaram as perguntas, quem, como, quando, onde, porque?... Apesar de não serem jornalistas, buscavam histórias que poderiam fazer alguma diferença ou causar alguma contradição entre as falas dos amigos. Encontraram um cigarro de maconha no bolso de um dos capoeiras. Branco vestido com camisa de escritório e calça de formatura, vestígios de gel no cabelo liso, claro e bem cortado, o rapaz não era propriamente o perfil procurado pela polícia, portanto havia necessidade de liga-lo a alguém, ou seja, procurar alguém com uma aparência menos “normal”, para envolver com o achado ilegal.
Daí em diante muita tensão:
- De quem é essa droga? - Pergunta o policial mesmo tendo a achado num bolso específico. Um outro polícia com uma pistola de mira laser, posiciona o feixe luz vermelha que sai da arma, na cabeça de Bola Sete, um angolano amigo do grupo e que estava ali por pura coincidência, posto que havia encontrado os amigos já na caminhada pelo elevado.
Lorimbal aparentava tranquilidade, negro, com roupas nada “normais”, coloridas demais para um senhor daquela idade, negro, cabelos em tons grafites, brincos e anéis que chamavam atenção e negro. Manteve a tranquilidade, mesmo quando todos perceberam que o famigerado e desconcertante feixe de luz, descansava agora em sua testa.
Um dos policiais caminhou até Lori, lançou lhe um olhar inquisidor pela excentricidade de seu estilo e comportamento. Visivelmente incomodado com a presença do meliante, o guarda buscava algo para intimidar o velho negro e eliminar aquele cinismo demasiado para quem está acuado. Todos observavam preocupados com medo das consequências que poderiam gerar o comportamento rebelde do Mestre dos berimbaus, porém este não mudou sua fisionomia de tranquilidade irônica.
O polícia irritado agarra-o pela roupa na altura do peito, olha nos olhos com ódio e, pós um silêncio aterrorizante, perguntou agressivo contundente:
-Você tem passagem negão?
Lori dá um passo para trás, respira e ajeita a bata trazida da África por um de seus alunos e que vestia cheio de orgulho, agora ofendida pela brutalidade da mão pesada e opressiva do outro. Num jogo de corpo, absolutamente engraçado, enche o peito e com uma inocência artificial, solta sua pérola.
-Não, ainda não sei quando vou viajar... talvez só para o fim do mês.
Por um momento toda a tensão dilui-se em pequenos olhares e sorrisos, inclusive entre os homens sérios da lei. Houve uma quebra tão grande no clima, que a abordagem se desfez ali, não havia mais condições de intimidar aquelas pessoas, o líder possuía uma habilidade que os policiais não estavam preparados para confrontar. Com uma prancheta na mão, anotaram o nome do branco portador do cigarro proibido e todos foram dispensados.
As exposições na capital paulista voltaram em meados de outubro com restrições, após seu fechamento temporário em março. O movimento em alguns locais no coração da cidade ainda é pequeno, no entanto, é uma opção cultural para quem visa o relaxamento, além de aproveitar essa opção de lazer sem grandes problemas com tumulto. Um pouco diferente da movimentada Avenida Paulista, cujo movimento não parece ter cessado.
O projeto Japan House, localizado no começo da avenida, promove o “intercâmbio intelectual entre o Japão e o resto do mundo”, possui outras três unidades em Tóquio, Londres e Los Angeles com sua diferenciada e moderna arquitetura, é uma opção para quem não quer passar muito tempo em uma exposição.
Há duas exposições: “Japonésia” e “O Fabuloso Universo de Tomo Koizumi”. A primeira consiste em um ensaio fotográfico do japonês Naoki Ishikawa com sua câmera analógica, no qual retrata a cultura japonesa, como a dança tradicional e seus pontos turísticos tal qual o Monte Fuji, reforçando a ideia de que o Japão é um arquipélago com bastante diversidade. São 74 fotos no período de 2009 a 2018. Exposição feita exclusivamente para a instituição.
A outra exposição consiste em uma mostra das vestimentas extravagantes e multicoloridas do mundo fashion feitas pelo designer japonês Tomo Koizumi. São treze peças e algumas feitas especialmente para a Japan House. O designer veste celebridades e expôs suas peças na semana de moda de Nova Iorque de 2019. Para conferir as duas exibições gratuitas, é preciso fazer uma reserva antecipada.

Porém, até o fechamento desta reportagem, não foi informado sobre a mudança na frequência do estabelecimento.
Em um dos prédios mais famosos da Paulista, da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) há três exposições: “Conexões Urbanas”, “Destinos, o Homem Inventa o Homem” e “Retratos de Mulheres por Mulheres”.
A primeira exposição traz ao público obras que representam a vida urbana do século XXI e toda sua diversidade cultural. A parceria de dez artistas, traz manifestações culturais misturadas com elementos cotidianos da cidade, como placas de trânsito e pedaços de ônibus interagindo com grafittis, adesivos, skates, HQs, animes, e outros elementos que expressam a sintonia do caos de uma metrópole. A organização decidiu limitar a interação do público com as instalações móveis, no entanto, não impedem que os frequentadores tenham a experiência interativa, apenas recomendam que se evite diante do risco de infecção.

Nessa exposição, um dos guias de visitação que trabalha há 5 anos na Fiesp, informou que “tinha mais elementos que distraíam a atenção do detalhe, agora a pessoa acaba focando na imagem do detalhezinho.” Por se tratar de uma mostra multilinguística, as pessoas estão mais atentas aos detalhes e não apenas restritas a interação com as obras.
A exposição de José Roberto Aguilar, “Destinos, o Homem Inventa o Homem” foi outra que marcou a reabertura do Centro Cultural Fiesp. Em suas pinturas Aguilar reúne personagens da matemática, da filosofia, do meio artístico e outras âncoras da cultura ocidental com arquétipos carnavalescos criticando as ações do homem e alertando suas consequências.
A última exposição conferida pela a reportagem foi a “Retratos de Mulheres por Mulheres”. Uma coletânea de ensaios feitos por importantes fotógrafas contemporâneas, que traz à tona temas como o empoderamento feminino, corpo, padrões estéticos, feminismo, direitos igualitários. A amostra serve como uma ferramenta importante para um diálogo aberto a todas as mulheres.
Saindo um pouco do circuito da Avenida Paulista e adentrando a região dos jardins, há a exposição “John Lennon em Nova York por Bob Gruen”, no Museu da Imagem e do Som (MIS), o qual foi responsável por grandes exposições, como do Castelo Rá-Tim-Bum e do cineasta Alfred Hitchcock. Os ingressos podem ser adquiridos pelo site Sympla.
A mostra traz uma série de 130 fotografias tiradas pelo fotógrafo nova-iorquino Bob Gruen na década de 1970, período em que foi amigo íntimo de John Lennon e Yoko Ono. O consagrado fotógrafo já fotografou diversos astros do rock, como Eric Clapton, Led Zeppelin, Jerry Garcia, Patti Smith, David Bowie, Tina Turner, entre outros. Nesta exposição única, podemos conhecer de perto a vida do casal de artistas, desde a sua mudança para Nova York, até a morte de Lennon.

Logo na entrada, podemos ouvir alguns clássicos solo do músico permeando o ambiente. Somos apresentados a exposição através de breves biografias e algumas fotos de Lennon e Yoko; a música ambiente nos acompanha durante todo o percurso. As fotos são diversas e cobrem muitas ocasiões: aventuras noturnas, passeios pela cidade, entrevistas e momentos de intimidade com o filho. Como Gruen era próximo ao casal, as fotos trazem uma ótica detalhada para quem quer um conhecimento mais completo da trajetória dos dois músicos.
Para a curadora Stephanie Guarido, as exposições continuarão seguindo de forma presencial mesmo depois da pandemia e também terá outra abordagem online, visando novos meios, “existe uma grande dificuldade por parte das instituições de se atualizarem para também atender de maneira eficiente um novo público, que acaba sendo muito mais amplo, já que em qualquer lugar do mundo você pode ver as exposições.”
Para a curadora e um dos guias da Fiesp, é consenso que o público deveria voltar às exposições, pois as medidas de segurança são mais que eficientes, além de existir um controle do número de pessoas e medidas sanitárias para o recebimento dos visitantes.
Em pesquisa feita pelo IBOPE em 2018, cresce o número de brasileiros que se declaram veganos, somando 30 milhões no país. Além disso, entre janeiro de 2018 e novembro de 2020, o número de pesquisas pelo termo “vegano” no google, cresceu significativamente com altos picos de interesse ao longo dos 3 anos.
Contudo, o número só é expressivo em regiões como São Paulo, Distrito Federal, Rio de Janeiro, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, o que chama atenção para o pensamento recorrente de que o veganismo não é para todos. Muitos influencers, profissionais e estudiosos vêm tentando desmentir essa afirmação e mostrar o lado acolhedor do movimento, como é o caso de Caroline Soares, estudante de nutrição e moradora de Guarulhos em São Paulo. Em seu Instagram, Caroline conta seu dia a dia como uma mulher vegana, feminista e periférica com receitas e esclarecimentos de dúvidas sobre a alimentação cruelty-free.

Seu despertar começou há 10 anos atrás, quando se perguntou sobre como compactuava com a exploração animal e, então, após uma parada respiratória quase fatal, Caroline decidiu mudar sua vida “Comecei a pensar em como fazer da minha vida algo produtivo, comecei várias mudanças e o veganismo foi uma delas.” Desde então, Caroline luta por um movimento justo e transparente, ainda que as dificuldades pareçam não ter fim.
Apesar de político, o movimento também tem suas ramificações, onde alguns preferem somente deixar o sofrimento animal fora de seus pratos, mas não de seu consumo. Isso aconteceu depois que algumas empresas como Friboi, Sadia e outras passaram a produzir mercadorias veganas, mesmo que sejam empresas condizentes com os grandes impactos ambientais repudiados pelo veganismo.
Esse é um problema que muitos passaram em sua fase de transição, como Caroline “No começo eu acreditava muito em qualquer coisa que me falassem para flexibilizar minha culpa... e de fato eu não queria me aprofundar para não ter o conhecimento”, já outros preferem continuar consumindo mesmo depois de criar consciência sobre a exploração por trás do capitalismo "vegano".
O veganismo alinhado aos valores capitalistas pode ser um perigo para si mesmo e seus adeptos. Quando espalhado por vozes do mercado, a impressão de que o mesmo público e somente ele pode consumir determinado produto (seja pelo preço pedido pela empresa ou inacessibilidade de estabelecimentos equipados com a mercadoria) é facilmente comprada, “O grande problema disso tudo é que os influenciadores que falam sobre veganismo sempre são pessoas brancas, classe média alta. Isso faz com que quem vê de fora, acha que todo movimento vegano é assim, sendo que existem várias pessoas periféricas assim como eu que são veganas e vivem normalmente o dia a dia sem gastar muito”
“Temos a invasão de grandes corporações vendendo produtos ‘veganos’ com preços absurdos, o capitalismo ver o movimento comunista de mercado faz com que vire lucro, isso já aconteceu e faz com que as pessoas vejam alimentos industrializados como a única maneira de se tornarem veganos. A indústria ludibria tanto as pessoas que elas esquecem que arroz e feijão são alimentos veganos.”
Além da sombra do capitalismo pairando sobre o movimento, Caroline conta que para acabar com o preconceito em cima dele depende de um trabalho de base, educando pessoas sobre alimentação real e como a indústria é cruel com os animais. Faz-se necessário uma reeducação alimentar e, segundo ela, não tirar da pauta o veganismo popular e político