Banda se apresenta em fevereiro de 2026; taxas extras geram críticas e frustrações entre os fãs
por
Maria Clara Palmeira
|
27/06/2025 - 12h

A espera acabou! Na segunda-feira (23), foi anunciado que, após 17 anos, a banda americana My Chemical Romance retornará ao Brasil em 2026 pela segunda vez. O único show da banda em solo brasileiro será no dia 5 de fevereiro, no Allianz Parque, em São Paulo, como parte de sua turnê pela América Latina. 

A apresentação contará com a abertura da banda sueca The Hives e irá reunir brasileiros que acompanham a trajetória do grupo desde os anos 2000.

Anúncio da turnê na América do Sul. Reprodução: Instragram/@mychemicalromance
Anúncio da turnê na América do Sul. Reprodução: Instragram/@mychemicalromance


Formada em Nova Jersey nos Estados Unidos, em 2001, o My Chemical Romance tornou-se uma das bandas mais representativas do rock alternativo e símbolo do movimento emo. A formação atual é composta por Gerard Way nos vocais, Ray Toro e Frank Iero na guitarra, e Mikey Way no baixo.

O grupo lançou seu álbum de estreia, “I Brought You My Bullets, You Brought Me Your Love”, em 2002, mas o sucesso internacional veio em 2004, com “Three Cheers for Sweet Revenge”. No entanto, foi em 2006 com o disco “The Black Parade” que a banda atingiu o auge. O single “Welcome to the Black Parade” se tornou um hino da geração emo, alcançando o primeiro lugar nas paradas britânicas e consolidando o grupo no cenário global.

Após diversos sucessos, a banda entrou em hiato e anunciou sua separação em março de 2013. O retorno foi anunciado em outubro de 2019, com um show em Los Angeles. Em 2022, após dois anos de adiamentos devido à pandemia, a banda embarcou em uma extensa turnê, passando pelos EUA, Europa, Oceania e Ásia.

Desde a quarta-feira (25), início da pré-venda, fãs relataram insatisfação com o preço dos ingressos, que variam entre R$ 197,50 e R$ 895,00, além das cobranças de taxas adicionais. A revolta se intensificou com a cobrança da taxa de processamento, considerada uma novidade pela bilheteria oficial, a Eventim. A empresa alegou que essa tarifa garante a segurança dos dados dos consumidores, mas a justificativa não convenceu o público. 


Mesmo com a revolta, a expectativa de alta demanda se confirmou: a venda geral, aberta nesta quinta-feira (27) ao meio-dia, resultou em ingressos esgotados em 10 minutos.

Tags:
Nova exposição na Pinacoteca Contemporânea revela o papel político da pop arte brasileira no período de ditadura.
por
Maria Luiza Pinheiro Reining
|
25/06/2025 - 12h

Por trás da explosão de cores, imagens familiares e estética publicitária da pop art brasileira, havia ruído, ambiguidade e protesto. Essa é a premissa da exposição Pop Brasil: Vanguarda e Nova Figuração, 1960-70, em cartaz na nova sede da Pinacoteca Contemporânea, em São Paulo. Mais do que uma exibição de obras pop, a mostra constrói um retrato crítico de uma década marcada por ditadura, censura e modernização desigual, e de como a arte respondeu a esse cenário.

A exposição celebra os sessenta anos das mostras Opinião 65 e Propostas 65, marcos da virada estética e política na produção brasileira. O percurso curatorial, assinado por Pollyana Quintella e Yuri Quevedo, reúne obras que reagiram diretamente ao avanço da indústria cultural, à opressão do regime militar e à transformação dos modos de vida. Em vez de apenas absorver os códigos da cultura de massa, os artistas incorporaram sua linguagem para tensionar o que ela ocultava: a violência da ditadura, o apagamento de subjetividades e a precarização das relações sociais.

Contra a censura
Tônia Carreiro, Eva Wilma, Odete Lara, Norma Benghel e Cacilda Becker protestam contra censura, em 1968

A ideia de que “a pop arte é o braço avançado do desenvolvimento industrial das grandes economias” é ressignificada no Brasil, onde a modernização industrial coexistia com a informalidade, a desigualdade e a repressão. Em vez do otimismo norte-americano, a arte pop brasileira surge como crítica: reapropria slogans, transforma marginais em heróis, imprime silhuetas de bandeiras como gesto de manifestação coletiva. A visualidade sedutora do consumo encontra a resistência política camuflada nas superfícies gráficas.

A exposição percorre núcleos como Poder e Resistência, Desejo e Trivialidade, Criminosos e Cultura Marginal, entre outros. Em comum, todos os conjuntos partem de imagens produzidas ou apropriadas do cotidiano: televisão, jornal, embalagem; para apontar fissuras entre aparência e estrutura. Hélio Oiticica, Rubens Gerchman, Wanda Pimentel, Antonio Manuel e muitos outros traduzem a tensão entre censura e invenção por meio de performances, happenings e obras gráficas que confundem arte e ação direta.

Helio Oiticica
Hélio Oiticica, 1968

Se nos Estados Unidos a pop art celebrava o consumo, no Brasil ela revelou o que havia por trás dele. A mostra explicita como a arte brasileira dos anos 1960 e 70 operou sob risco, incorporando elementos populares para criticar os próprios instrumentos de controle e espetáculo.

Mais do que rever o passado, Pop Brasil propõe um exercício de leitura do presente. Diante da repetição de discursos autoritários, da estetização da política e da crise na democracia, o gesto pop reaparece como estratégia de sobrevivência, uma forma de dizer muito com imagens que, à primeira vista, parecem dizer pouco.

 

Tags:
A incerteza quanto ao fim das salas de cinema e início da diminuição em massa de consumidores
por
Chiara Renata Abreu
|
18/06/2025 - 12h

A recente chegada dos streamings pode acabar com os cinemas. Internacionalmente, as plataformas têm se mostrado cada vez mais aptas a abalar seus concorrentes. 

Depois da pandemia, os donos dos cinemas sentiram a diminuição de movimento, que preocupa não só a indústria, mas a sociedade em si. Filmes e curtas fazem parte da formação da cultura de civilizações, e a incerteza de sua existência atormenta. Os streamings ganharam força no período de quarentena, ocupando o espaço que as salas obtinham. O conforto de estar em sua própria casa, poder parar o filme a qualquer momento e a variedade no catálogo são alguns dos principais motivos do aumento da modalidade segundo pesquisas da Cinepop, site especializado em cinema. 

De acordo com pesquisas da revista O Globo, a área do cinema conseguiu em 2023 superar as dificuldades e recuperar alguns de seus fregueses, mas os números seguem abaixo do que estavam antes da pandemia. Segundo o analista de mercado Marcelo J. L. Lima em entrevista para a revista, a crise é mundial, com ressalvas em países como França, Índia, Coreia do Sul e China, que tem menor influência de Hollywood. Ainda, a reportagem aponta que parte da fraqueza hoje encontrada na indústria se fez depois de 1980, a partir do início da migração dos cinemas de rua para os de shopping. Em 2008 apenas 27% deles eram fora dos centros de comércio. 

Em entrevista para O Globo, Marcos Barros, presidente da Associação Brasileira das Empresas Exibidoras Cinematográficas Operadoras de Multiplex (Abraplex), apontou que os cinemas estão em apenas 8% dos municípios brasileiros, apenas 451 de um total de 5.565 cidades. A volta dos cinemas de rua poderia diminuir o desequilíbrio das salas, gerando uma maior popularização do cinema. Segundo Raíssa Araújo Ferreira, estudante de cinema na Belas Artes, “os cinemas estão se perdendo. Antigamente existiam vários cinemas de rua, de mais fácil acesso. Hoje está acontecendo uma elitização das salas. Elas estão, por exemplo, muito longe das periferias e concentradas nos shoppings, então existe todo o gasto com a locomoção. O cinema se torna um lugar de privilégio”. 

“O cinema é a sétima arte. Ela é um conjunto de todas as outras artes, e o cinema é vivo. Ele é sempre atual. Ele é sempre de todas as épocas. Então nada que é vivo vai desaparecer sem deixar vestígios. O cinema tem muito o que falar. É como se as salas estivessem adormecidas. Elas não estão mortas, mas sim apagadas”, comenta a aluna. 

A jovem complementa com ideias para a volta do triunfo das salas de cinema. “Acho que precisamos reinventar as salas. Apostar em programações mais diversas, ingressos mais acessíveis, novas salas mais perto da periferia e espalhar o cinema pelas cidades do Brasil. Criar o desejo de ir ao cinema, como um acontecimento, e trazer experiências mais imersivas, como convidar atores para, antes da sala de cinema, falarem sobre o filme. Trazer também eventos para apoiar o cinema de rua, investindo nas produções independentes e criando lugares públicos. Assim, as salas vão se reposicionar e oferecer algo que o sofá de casa ou a cama não oferece”. 

Tags:
A história do grupo que ultrapassou as barreiras sonoras pode ser vista no centro de SP até o fim de agosto
por
Por Guilbert Inácio
|
26/06/2025 - 12h

A exposição “O Quinto Elemento”, em homenagem aos 35 anos do notório grupo de rap Racionais MC’s, está em cartaz desde o dia 06 de dezembro de 2024, no Museu das Favelas, no Pátio do Colégio, região central da cidade de São Paulo. A mostra era para ter sido encerrada em 31 de maio de 2025, mas, devido ao sucesso, vai agora até 31 de agosto.

A imagem mostra um painel os quatros membros dos Racionais MC's
Em 2024, o museu ganhou o prêmio de Projeto Especial da Associação Paulista de Críticos de Artes (APCA) pela exposição. Foto: Guilbert Inácio. 

Museu das Favelas

O Museu das Favelas está localizado no Centro histórico de São Paulo, mas esse nem sempre foi o seu endereço. Inaugurado no dia 25 de novembro de 2022, no Palácio dos Campos Elíseos, o Museu das Favelas ficou 23 meses no local até trocar de lugar com a Secretaria de Justiça e Cidadania do Estado de São Paulo, no dia 26 de agosto de 2024.  

Fechado por três meses, o museu reabriu no dia 06 de dezembro de 2024, já com a nova exposição dos Racionais MC’s. Em entrevista à AGEMT, Eduardo Matos, um dos educadores do museu, explicou que a proposta da exposição chegou neles por meio de Eliane Dias, curadora da exposição, CEO da Boogie Naipe, produtora dos Racionais e esposa do Mano Brown. Eduardo complementou que o museu trocou de lugar para ter mais espaço para a mostra, já que no Campos Elísios não teria espaço suficiente para implantar a ideia. 

Tarso Oliveira, jornalista e historiador com pós-graduação em Africanidades e Cultura Afro-Brasileira, comentou que a gratuidade do museu é um convite para periferia conhecer a sua própria história e que, quando falamos de Racionais MC's, falamos de uma história dentro da história da cultura hip-hop, que salvou várias gerações fadadas a serem esquecidas e massacradas pelo racismo estrutural no Brasil. “Nós temos oportunidades de escrever a nossa narrativa pelas nossas mãos e voltada para o nosso povo. Isso é a quebra fundamental do epistemicídio que a filósofa Sueli Carneiro cita como uma das primeiras violências que a periferia sofre.”, afirma o historiador. 

O Quinto Elemento

Basta subir as escadas para o segundo andar do museu, para iniciar a imersão ao mundo dos Racionais. Na entrada, à sua direita, é possível ouvir áudios do metrô, com o anúncio das estações. Uma delas, a estação São Bento da linha 1-Azul, foi o berço do hip-hop em São Paulo, na década de 1980. À esquerda está um som com músicas dos Racionais, uma trilha que você irá ouvir em todos os espaços da exposição.

A imagem apresenta três placas, em sequência, com os dizeres "X", "Racionais MC's" e "Vida Loka".
Placas semelhantes às placas com nomes de rua trazem as letras do grupo. Foto: Guilbert Inácio.

No primeiro espaço, podemos ver o figurino do Lorde Joker, além de uma breve explicação da presença recorrente na obra do grupo da figura do palhaço em apresentações e músicas como “Jesus Chorou”, em que Mano Brown canta: “Não entende o que eu sou. Não entende o que eu faço. Não entende a dor e as lágrimas do palhaço.”

A imagem mostra uma fantasia laranja de um palhaço. Ao lado, há uma televisão.
O figurino é usado em shows pelo dançarino de break Jorge Paixão. Foto: Guilbert Inácio. 

Ao adentrar o segundo espaço, você mergulha na ancestralidade do grupo. Primeiro vemos imagens e um pouco da história das mães dos quatro membros, Dona Benedita, mãe e avó de Ice Blue; Dona Ana, mãe do Mano Brown; Dona Maria José, mãe de KL Jay e Dona Natalícia, mãe de Edi Rock. Todas elas são muito importantes para o grupo e ganharam, inclusive, referências em músicas como “Negro Drama” em que Brown canta: “Aí Dona Ana, sem palavra. A senhora é uma rainha, rainha”. 

É nessa área que descobrimos o significado do nome da exposição. Há um painel no local com um exame de DNA dos quatro integrantes que revela o ponto de encontro entre eles ou o quinto elemento – a África.

A imagem mostra um painel com o exame de DNA dos quatro membros dos Racionais MC's
Na “Selva de Pedra”, antes de todos se conhecerem, todos já estavam conectados por meio da ancestralidade. Foto: Guilbert Inácio.

O título se torna ainda mais significativo quando lembramos que a cultura hip-hop é composta por quatro elementos: rap, beat, break dance e grafite. O quinto elemento seria o conhecimento e a filosofia transmitida pelos Racionais, grupo já imortalizado na cultura brasileira, sobretudo na cultura periférica. 

Na terceira área, podemos conhecer um pouco de Pedro Paulo Soares Pereira, o Mano Brown; Paulo Eduardo Salvador, mais conhecido como Ice Blue; Edivaldo Pereira Alves, o Edi Rock e, por fim, Kleber Geraldo Lelis Simões, o KL Jay. Entre os inúmeros objetos, temos o quimono de karatê de Blue e o trombone de seu pai, a CDC do KL Jay, rascunhos de letras de Brown e Edi Rock.

A imagem mostra um bicicleta BMX azul
Primeira BMX de Edi Rock. Foto: Guilbert Inácio. 

O próximo espaço é o “Becos do som e do Tempo”, que está dividido em vários pequenos slots que mostram a trajetória musical do grupo. Podemos ver rascunhos de letras, registros de shows e a história de algumas músicas, além de alguns prêmios conquistados durante a carreira do grupo. 

Algumas produções expostas são “Holocausto Urbano” (1990); “Escolha seu Caminho” (1992); “Raio X do Brasil” (1993); “Sobrevivendo no Inferno” (1997); “Nada Como um Dia Após o outro Dia” (2002).

A imagem mostra um painel com os dizeres "Minha palavra vale um tiro, eu tenho muita munição" e uma foto dos quatro membros dos Racionais MC's. Ao lado, há fotos individuais dos membros.
O grupo confirmou um novo álbum para este ano, mas ainda não divulgou o título da obra nem a data de lançamento. Foto: Guilbert Inácio.

Nos próximos espaços, tem uma área sobre o impacto cultural, um cinema que exibe shows e o local “Trutas que se Foram” em homenagem a várias personalidades da cultura hip-hop que já morreram. A exposição se encerra no camarim, onde estão disponíveis alguns papéis e canetas para quem quiser deixar um registro particular na exposição.

A imagem mostra uma pequena placa com a foto da Dina Di e os dizeres: "Dina Di. Cria da área 019, como as quebradas conhecem a região de Campinas, no interior de São Paulo, Viviane Lopes Matias, a Dina Di, foi uma das mulheres mais importantes do rap no Brasil. Dina era a voz do grupo Visão de Rua. Dona de uma voz forte, assim como sua personalidade, a rapper nasceu em 19 de fevereiro de 1976 e morreu em 19 de março de 2010. Foi uma das primeiras mulheres a conquistar espaço no rap nacional. Dina nos deixou por causa de uma infecção hospitalar, que a atingiu 17 dias após o parto de sua segunda filha, Aline."
Nomes como Sabotage, Chorão, WGI, entre outros são homenageados na exposição. Foto: Guilbert Inácio. 

Segundo Eduardo, a exposição está movimentando bastante o museu, com uma média de 500 a 800 pessoas por dia. Ele conta que o ápice da visitação foi um dia em que 1500 pessoas apareceram no local. O educador complementa que, quando a exibição chegou perto da sua primeira data de encerramento, em maio, as filas para visitar o espaço aumentaram consideravelmente. O que ajudou a administração a decidir pela prorrogação.  

Eduardo também destaca que muitas pessoas vão ao museu achando que ele é elitizado, mas a partir do momento em que eles veem que o Museu das Favelas é acolhedor, com funcionários dispostos a tirar suas dúvidas e com temas que narram o cotidiano da população brasileira, tudo muda. 

 “Dá para sentir que o pessoal se sente acolhido, e tendo um movimento desse com um grupo que é das favelas, das quebradas, que o pessoal se identifica, é muito melhor. Chama atenção e o pessoal consegue ver que o museu também é lugar da periferia”, conclui. 

Impacto Cultural

Os Racionais surgiram em 1988 e, durante todo o trajeto da exposição, podemos ver o quão importante eles são até hoje para a cultura brasileira, seja por meio de suas músicas que denunciaram e denunciam o racismo, a violência do Estado e a miséria na periferia – marcada pela pobreza e pela criminalidade –, seja ocupando outros espaços como as provas nacionais e vestibulares.

A imagem mostra duas provas do Exame do Ensino Médio de 2023 com os trechos "Até no lixão nasce Flor" e É só questão de tempo, o fim do sofrimento".".
Trechos de Vida Loka, parte I e II nas provas do Exame Nacional do Ensino Médio de 2023 (ENEM). Foto: Guilbert Inácio. 

Em 2021, foi ao ar a primeira temporada do podcast Mano a Mano, conduzido por Brown e a jornalista Semayat Oliveira, que chegou a sua terceira temporada em 2025.

Inclusive, o podcast, que já teve inúmeros convidados da cultura e da política vai virar  um livro, homônimo. A publicação sairá pela Companhia das Letras, que já publicou o livro “Sobrevivendo no Inferno”, em 2017. 

Segundo Tarso, o grupo representa a maior bandeira que a cultura negra e periférica já levantou nesse país, visto por muitos como super-heróis do gueto contra um sistema racista e neoliberal; além de produtores de uma música capaz de mudar a atitude e a perspectiva das pessoas, trazendo autoestima, além de muito conhecimento. 

“Um dos principais motivos do grupo se manter presente no cenário cultural é não se acomodar com a "força da camisa", como cita o Blue.  E sempre buscar ir além artisticamente, fazendo com que seus fãs tendam a ir para o mesmo caminho e continuem admirando sua arte e missão.”, finaliza Tarso. 

 

Serviço

O Museu das Favelas é gratuito e está aberto de terça a domingo, das 10h às 17h, com permanência permitida até às 18h. A retirada dos ingressos pode ser online ou na recepção do museu. Além da exposição “O Quinto Elemento”, também é possível visitar as exibições “Sobre Vivências” e “Favela é Giro”, nos mesmos horários.

Temáticas são abordadas desde os anos 60 no Japão e continuam exploradas até hoje
por
LUCCA CANTARIM DOS SANTOS
|
16/06/2025 - 12h

“O sonífero”, projeto criado por Lucca Cantarim, estudante de jornalismo na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP) , tem por objetivo combater a visão reacionária a respeito de temas de gênero no entretenimento.

Trazendo a história da presença de personagens de diversas sexualidades e gêneros nos mangás e animes dentro da mídia japonesa, o autor trás uma reflexão leve, descontraída, porém importante a respeito de uma representatividade tão importante.

Os sete artigos que compõem o projeto estão disponíveis para serem lidos no site “Medium”, no perfil autoral de Lucca. Os textos contém entrevistas com pesquisadores, fãs e até mesmo leitores de dentro da comunidade LGBT que se identificam e se abrem sobre a importância da representatividade para eles.

Disponível em: https://medium.com/@luccacantarim/list/o-sonifero-d19af775653e

 

Renato Aroeira conversa com alunos da PUC-SP sobre seu trabalho como cartunista.
por
Laura Mello
|
25/03/2021 - 12h

Em conversa mediada pelo jornalista e professor Aldo Quiroga, o chargista Renato Aroeira relata como se sentiu ao receber ameaças e intimações sobre suas charges, principalmente a chamada “Crime Continuado”, pela qual o Ministro da Justiça solicitou à Polícia Federal uma abertura de inquérito por crime contra a segurança nacional. Na charge em questão, o cartunista desenhou a cruz vermelha com extensões em preto, tornando-a uma suástica. Ao lado, o presidente da república Jair Bolsonaro segura uma lata de tinta preta e um pincel dizendo ‘Bora invadir outro?’. Esta charge foi criada após o presidente incitar apoiadores a invadirem hospitais para confirmar se haviam pessoas contaminadas com a Covid-19. Sobre a produção da charge, o autor diz: “são símbolos muito fortes. Eu usei o símbolo do bem por excelência que é a Cruz Vermelha com a ideia da Suástica, o mal supremo. Olha, se o Presidente da República chama a sua massa apoiadora a invadir hospitais, a gente só vê essas coisas no fascismo.” 

O desenhista lembra que recebeu a notícia do pedido de investigação através de amigos e conhecidos que mandavam mensagens de solidariedade. “Recebi algumas mensagens que diziam ‘solidariedade’ ou ‘estamos com você’, mas não estava entendendo o porquê. Até que amigos me mandaram o tweet do Ministério da Justiça sobre o inquérito.” disse o cartunista. “Senti muito medo, até parei de anunciar onde estaria tocando (saxofone).” A notificação de investigação deu início a uma grande movimentação nas redes sociais que se denominou “Charge Continuada”, na qual outros cartunistas e fãs fizeram mais de quatrocentos desenhos e releituras da charge, postados nas redes sociais a fim de demonstrar apoio ao autor. “Na luta contra a censura, contra o fascismo, temos que ir com tudo que temos na mão”, responde Aroeira sobre o próximo passo nessa batalha. “O outro lado não vai descansar. Temos uma raquete na mão e 14 bolas para devolver, então acho que a gente tem que ir com tudo.”. 

Sobre o papel social de suas charges e o que o cartunista espera ao publicá-las, ele diz que espera que as pessoas se divirtam, mas que sintam o gosto amargo da crítica. “Não espero que uma charge resolva nenhum problema, nem atice nada ou gere revolução”, disse, “Eu posso provocar uma catarse ou uma irritação, mas, no geral, nem de longe é o chargista quem muda o mundo. Quem muda o mundo é quem trabalha, quem toma decisões, quem descobre uma vacina. Quem muda o mundo é gente mais ou menos nessa linha.”.  

O chargista ainda fala sobre a diferença entre fazer charges 30 anos atrás e nos dias atuais. “Antigamente, eu lia o jornal e escolhia um fato para desenhar e quatro dias depois ele era publicado. Agora, eu fiz quatro charges durante o julgamento da parcialidade do Moro, e assim que terminou, eu soube como foi o pronunciamento do Bolsonaro e imediatamente fiz e postei outra charge.” O profissional conta ainda que, antigamente, recebia cartas com comentários, críticas negativas ou positivas, uma semana após a publicação da charge. Com o tempo, começou a receber e-mails com os mesmos conteúdos e, nos dias atuais, recebe comentários instantâneos em redes sociais como o Instagram. 

Tags:
Em meio a pandemia da Covid-19 e conflitos incessantes ao redor do mundo, entenda esse grupo e conheça a uma das instituições que lhes presta apoio no Brasil
por
Marina Daquanno Testi e Thayná Alves
|
08/12/2020 - 12h

 

 

     

        O número de refugiados no Brasil vem crescendo a cada ano. Só no ano de 2018, segundo a Agência da ONU Para Refugiados (ACNUR) foram relatadas 80 mil solicitações de reconhecimento de condição de refugiado no Brasil. Os grupos de maior número entre as solicitações são os venezuelanos (61.681), que saíram do país devido à crise humanitária, e os haitianos (7.030), cujo fluxo de migração se intensificou após o terremoto que atingiu o país em 2010.  

        A lei brasileira considera refugiado todo indivíduo que está fora de seu país de origem devido a guerras, terremotos, miséria e questões relacionadas a conflitos de raça, religião, perseguição política, entre outros motivos que violam seus direitos humanos. Isso pode acontecer, por exemplo, quando a vida, liberdade ou integridade física da pessoa corria sério risco no seu país.

        Para que o imigrante seja reconhecido como refugiado, é necessário enviar uma solicitação para o Comitê Nacional para os Refugiados (CONARE). O processo de reconhecimento, que antes era mais burocrático e mais demorado, atualmente é feito no site do Ministério da Justiça, a partir do preenchimento do formulário que pode ser feito ainda no país de origem. Todas as etapas podem ser acompanhadas pela internet, mas para o processo começar a tramitar, o solicitante deverá comparecer pessoalmente a uma unidade da polícia federal. 

        Dentre a população refugiada reconhecida no Brasil, segundo o censo da ACNUR de 2018, a maioria se concentra nas faixas etárias de 30 a 59 anos (41,80%), seguido de pessoas com idade entre 18 a 29 anos (38,58%). Do total, 34% são mulheres e 66% são homens, ressaltando os sírios, os congoleses como nacionalidades em maior quantidade (respectivamente 55% e 21%). 

         Em janeiro de 2020, o Brasil tornou-se o país com maior número de refugiados venezuelanos reconhecidos na América Latina, cerca de 17 mil pessoas se beneficiaram da aplicação facilitada no processo de reconhecimento, segundo a  Agência da ONU para Refugiados. As autoridades brasileiras estimam que cerca de 264 mil venezuelanos vivem atualmente no país. Uma média de 500 venezuelanos continua a atravessar a fronteira com o Brasil todos os dias, principalmente para o estado de Roraima.

         Apesar de em grande quantidade, apenas 215 municípios têm algum tipo de serviço especializado de atenção a essa população. As maiores dificuldades encontradas por pessoas refugiadas são a adaptação com o mercado de trabalho, com o aprendizado do idioma, o preconceito e a xenofobia, educação (muitos possuem diplomas em seus países de origem que não são aceitos aqui no Brasil), moradia e saúde. 

 

Covid-19 e o amparo aos refugiados

 

        Diante de um quadro de crise em escala global, como o que acontece este ano com a pandemia da Covid-19, essa população de migrantes e refugiados, que já se encontram em extrema vulnerabilidade, conta com o apoio de poucas instituições voltadas especialmente para suas necessidades. Este é o caso da Missão Paz, uma instituição filantrópica de apoio e acolhimento a imigrantes e refugiados, com uma das sedes na cidade de São Paulo, como conta o padre Paolo Parise.

        Nascido e criado na Itália, Parise atua desde 2010 na Missão Paz, atualmente como um dos diretores, e explica que esta instituição está ligada a uma congregação da Igreja Católica chamada Scalabrinianos, que atua com imigrantes e refugiados em 34 países do mundo. “Na região do Glicério - município do estado de São Paulo-, a obra se iniciou nos anos 30 e atualmente está presente em Manaus, Rio de Janeiro, Cuiabá, Brasília, Curitiba, Florianópolis, Porto Alegre, Foz do Iguaçu, Corumbá e outros lugares.”

        Sua estrutura atual conta com a Casa do Migrante, um abrigo com capacidade de 110 indivíduos que são acolhidos com alimentação, material de higiene pessoal, roupas, aulas de português, acompanhamento de assistentes sociais e apoio psicológico; e o Centro Pastoral e de Mediação dos Migrantes (CPMM) que oferece atendimento e serviços voltados aos imigrantes, quanto aos seguintes temas: documentação e jurídico; trabalho, capacitação e cidadania; saúde; serviço social; família e comunidade. “Além disso, temos a área de pesquisa em parceria com a revista Travessia, que é o Centro de Estudos Migratórios (CEM), uma biblioteca especializada em migração e a WebRadio Migrantes”, completa Pe. Paolo.

Fonte: Site da instituição Missão Paz - Casa do Migrante
Fonte: Site da instituição Missão Paz - Crianças brincam na Casa do Migrante

        De acordo com o diretor, o maior desafio enfrentado pela instituição, durante a pandemia, foi com a saúde dos refugiados, principalmente pela impossibilidade de viver a quarentena isoladamente, já que muitos vivem em ocupações ou em lugares com muitas pessoas concentradas. Ele ainda denunciou que, dentre tantas vítimas da Covid-19 em São Paulo, um dos grupos mais afetados foi o de imigrantes bolivianos, “muitos foram contaminados e muitos morreram”.

        Diante de instabilidades políticas e econômicas, atualmente, sírios e venezuelanos são as principais nacionalidades afetadas que solicitam entrada no país. O que ratifica o Pe. Parise, “Falando pela Missão Paz, se você utiliza o termo ‘refugiados’, o maior grupo neste momento é de venezuelanos, sejam os que foram acolhidos pela missão paz, sejam os que estão entrando no Brasil. E depois encontramos outros grupos como da República Democrática do Congo. Mas se falamos de imigrantes, temos Colombianos, Bolivianos, Paraguaios, Peruanos, Angolanos e de outros países que estão recorrendo ao Brasil.”

        Mesmo com mudanças críticas, no cenário jurídico e político brasileiro, para que esta população seja recebida no país e tenha seus direitos respeitados, ainda não se pode falar em auxílio do governo ou medidas diretas de apoio a refugiados e imigrantes. 

        Paolo relembra a criação de leis que têm beneficiado a população no Brasil. Uma delas é a lei municipal Nº 16.478 de 2016, onde o Prefeito do Município de São Paulo, Fernando Haddad, instituiu a Política Municipal para a População Imigrante que garantia a esses o acesso a direitos sociais e aos serviços públicos, o respeito à diversidade e à interculturalidade, impedia a violação de direitos e fomentava a participação social; e a outra é a lei federal Nº13.445 de 2017, ou a nova Lei de Migração, que substitui o Estatuto do Estrangeiro e define os direitos e deveres do migrante e do visitante, regula a sua entrada e estada no País e estabelece princípios e diretrizes para as políticas públicas para o emigrante.

        A Missão Paz se mantém através de projetos e dinheiro injetado pela congregação da Igreja Católica. “Neste momento, a Missão Paz não recebe apoio financeiro nem do município, nem do estado e nem do Governo Federal”, relata Parise. Durante a pandemia receberam ajuda da sociedade civil, “[A Instituição] Conseguiu muitas doações de pessoas físicas, de instituições, de campanhas, fosse em dinheiro, em cestas básicas ou kits de higiene pessoal”, e com 200 cestas básicas, por mês, da Prefeitura de São Paulo. Também receberam ajuda com testes de COVID em nível municipal. 

         A instituição filantrópica ainda conta com a ajuda de vários parceiros, como explica seu diretor “na área de incidências políticas, por exemplo, nós atuamos com a ONG Conectas Direitos Humanos, temos na área de refugiados um projeto com a ACNUR, estamos preparando outro com a OIM (Organização Internacional para as Migrações) e temos algumas ações com a Cruz Vermelha”. 

        Desde o começo do ano, já atenderam por volta de 7 mil imigrantes e refugiados, e, hoje em dia, tem por volta de 40 pessoas na Casa, o que representa ⅓ da capacidade total. Além disso, entregam de 50 a 60 cestas básicas a refugiados, diariamente, e ao redor de 60 a 70 que vão, por dia, procurar os serviços do CPMM. “Outras ações incluíram a disponibilização de atendimentos online, de aulas de português a atendimentos jurídicos, psicológicos ou serviços sociais, além de ajudar a completar aluguel, água ou luz daqueles que precisam da ajuda da instituiçã”, fala Padre Paolo. 

        Todo esse esforço e dedicação da instituição foi feito, sempre, visando seguir as normas de segurança e as indicações da OMS (Organização Mundial da Saúde). Foram fornecidos a seus funcionários e a população migrante e de refugiados álcool para higienizar as mãos, máscaras e demais equipamentos e serviços de proteção e higiene.

Grupo de capoeiristas vivem situação inusitada no grande elevado de São Paulo conhecido como Minhocão
por
Juca Ambra de Oliveira
|
01/12/2020 - 12h

 

                     Ao final da roda de capoeira, tradicionalmente faz-se o samba de roda, os instrumentistas tocam, os visitantes se posicionam em roda e as e os capoeiristas sambam e convidam quem está na roda a sambar também. Na sequência todos, ou a maioria, vão ao bar de costume para confraternizar e comemorar mais um encontro.

                     A tradição se fez àquela noite, aliás como é muito comum nas manifestações de cultura popular, onde se cultuam costumes antigos, passados através da oralidade às novas gerações.

                      Lorimbal um artista soteropolitano, fazedor de berimbaus, compositor, tocador e cantador, visitava o grupo naquela noite. Falou, tocou, cantou e no bar, conduziu o samba e muitas rodadas de cerveja, gozando de todo o “moral” de um velho capoeirista e artista popular.

                     Ao final da noite de bebedeira, todos indo para casa, um grupo encaminhou-se ao Minhocão, famoso elevado localizado na região central da capital paulista. O viaduto liga a Zona Leste à Oeste e tem alguns quilômetros de extensão, é interditado para o trânsito de carros aos domingos, feriados e todas as noites, assim sendo, transforma-se num espaço para o lazer e caminhadas aos moradores da cidade, porém num centro urbano sempre há problemas, como segurança por exemplo, em lugares com características tais.

                    Como já era começo de madrugada, o Minhocão já estava vazio, algumas pessoas fumando, outras namorando, travestis, garotos e garotas de programa, moradores da região e em situação de rua... ao longo do viaduto mudam as tribos de frequentadores, entretanto na madrugada, toda a atmosfera presta-se a um clima de marginalidade.

                     Neste clima e contexto o grupo citado acompanhava o velho capoeira baiano sobre o elevado, ele estava feliz por estar em São Paulo e caminhar em um viaduto tão cheio de histórias sobre as noites paulistanas.

                      Uma viatura de polícia surgiu no horizonte em que as curvas do Minhocão permitem avistar, com giroflex ligado, iluminava com vermelho piscante um pequeno raio em volta de si mesma, ganhando o asfalto em direção ao grupo de capoeiristas, o qual era muito diverso, por sinal. Haviam estereótipos que a polícia não costuma incomodar e outros e outras que a polícia não deixaria de incomodar, principalmente num cenário como o descrito.

                     -Todo mundo com as mãos na cabeça, bora rápido todo mundo. Berrara agressivo o policial. Outra viatura encostou na sequência para desespero de todos ou aos menos dos paulistas que sabiam bem o que é lidar com a truculência da PM na madrugada num lugar hostil.

                      Após uma revista geral, começaram as perguntas, quem, como, quando, onde, porque?... Apesar de não serem jornalistas, buscavam histórias que poderiam fazer alguma diferença ou causar alguma contradição entre as falas dos amigos. Encontraram um cigarro de maconha no bolso de um dos capoeiras. Branco vestido com camisa de escritório e calça de formatura, vestígios de gel no cabelo liso, claro e bem cortado, o rapaz não era propriamente o perfil procurado pela polícia, portanto havia necessidade de liga-lo a alguém, ou seja, procurar alguém com uma aparência menos “normal”, para envolver com o achado ilegal.

                       Daí em diante muita tensão:

                       - De quem é essa droga? - Pergunta o policial mesmo tendo a achado num bolso específico. Um outro polícia com uma pistola de mira laser, posiciona o feixe luz vermelha que sai da arma, na cabeça de Bola Sete, um angolano amigo do grupo e que estava ali por pura coincidência, posto que havia encontrado os amigos já na caminhada pelo elevado.

                             Lorimbal aparentava tranquilidade, negro, com roupas nada “normais”, coloridas demais para um senhor daquela idade, negro, cabelos em tons grafites, brincos e anéis que chamavam atenção e negro. Manteve a tranquilidade, mesmo quando todos perceberam que o famigerado e desconcertante feixe de luz, descansava agora em sua testa.

                             Um dos policiais caminhou até Lori, lançou lhe um olhar inquisidor pela excentricidade de seu estilo e comportamento. Visivelmente incomodado com a presença do meliante, o guarda buscava algo para intimidar o velho negro e eliminar aquele cinismo demasiado para quem está acuado. Todos observavam preocupados com medo das consequências que poderiam gerar o comportamento rebelde do Mestre dos berimbaus, porém este não mudou sua fisionomia de tranquilidade irônica.

                            O polícia irritado agarra-o pela roupa na altura do peito, olha nos olhos com ódio e, pós um silêncio aterrorizante, perguntou agressivo contundente:

                           -Você tem passagem negão?

                           Lori dá um passo para trás, respira e ajeita a bata trazida da África por um de seus alunos e que vestia cheio de orgulho, agora ofendida pela brutalidade da mão pesada e opressiva do outro. Num jogo de corpo, absolutamente engraçado, enche o peito e com uma inocência artificial, solta sua pérola.

                            -Não, ainda não sei quando vou viajar... talvez só para o fim do mês.

                             Por um momento toda a tensão dilui-se em pequenos olhares e sorrisos, inclusive entre os homens sérios da lei. Houve uma quebra tão grande no clima, que a abordagem se desfez ali, não havia mais condições de intimidar aquelas pessoas, o líder possuía uma habilidade que os policiais não estavam preparados para confrontar. Com uma prancheta na mão, anotaram o nome do branco portador do cigarro proibido e todos foram dispensados.

 

Tags:
As alternativas encontradas pelas mostras para comportar o público em meio à crise sanitária
por
Carlos Kelm, Fernando Fígaro e Rafaela Reis Serra
|
27/11/2020 - 12h

As exposições na capital paulista voltaram em meados de outubro com restrições, após seu fechamento temporário em março. O movimento em alguns locais no coração da cidade ainda é pequeno, no entanto, é uma opção cultural para quem visa o relaxamento, além de aproveitar essa opção de lazer sem grandes problemas com tumulto. Um pouco diferente da movimentada Avenida Paulista, cujo movimento não parece ter cessado.

O projeto Japan House, localizado no começo da avenida, promove o “intercâmbio intelectual entre o Japão e o resto do mundo”, possui outras três unidades em Tóquio, Londres e Los Angeles com sua diferenciada e moderna arquitetura, é uma opção para quem não quer passar muito tempo em uma exposição.

duas exposições: “Japonésia” e “O Fabuloso Universo de Tomo Koizumi”. A primeira consiste em um ensaio fotográfico do japonês Naoki Ishikawa com sua câmera analógica, no qual retrata a cultura japonesa, como a dança tradicional e seus pontos turísticos tal qual o Monte Fuji, reforçando a ideia de que o Japão é um arquipélago com bastante diversidade. São 74 fotos no período de 2009 a 2018. Exposição feita exclusivamente para a instituição.

A outra exposição consiste em uma mostra das vestimentas extravagantes e multicoloridas do mundo fashion feitas pelo designer japonês Tomo Koizumi. São treze peças e algumas feitas especialmente para a Japan House. O designer veste celebridades e expôs suas peças na semana de moda de Nova Iorque de 2019. Para conferir as duas exibições gratuitas, é preciso fazer uma reserva antecipada.

 

Japonésia
A exposição "Japonésia" no Japan House. Foto: Carlos Kelm



Porém, até o fechamento desta reportagem, não foi informado sobre a mudança na frequência do estabelecimento.

Em um dos prédios mais famosos da Paulista, da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) há três exposições: “Conexões Urbanas”, “Destinos, o Homem Inventa o Homem” e “Retratos de Mulheres por Mulheres”.

 

A primeira exposição traz ao público obras que representam a vida urbana do século XXI e toda sua diversidade cultural. A parceria de dez artistas, traz manifestações culturais misturadas com elementos cotidianos da cidade, como placas de trânsito e pedaços de ônibus interagindo com grafittis, adesivos, skates, HQs, animes, e outros elementos que expressam a sintonia do caos de uma metrópole. A organização decidiu limitar a interação do público com as instalações móveis, no entanto, não impedem que os frequentadores tenham a experiência interativa, apenas recomendam que se evite diante do risco de infecção.

 

Conexões Urbanas
Visitante interagindo com obras da exposição "Conexões Urbanas" na Fiesp. Foto: Rafaela Reis Serra



Nessa exposição, um dos guias de visitação que trabalha há 5 anos na Fiesp, informou que “tinha mais elementos que distraíam a atenção do detalhe, agora a pessoa acaba focando na imagem do detalhezinho.” Por se tratar de uma mostra multilinguística, as pessoas estão mais atentas aos detalhes e não apenas restritas a interação com as obras.

A exposição de José Roberto Aguilar, “Destinos, o Homem Inventa o Homem”  foi outra que marcou a reabertura do Centro Cultural Fiesp. Em suas pinturas Aguilar reúne personagens da matemática, da filosofia, do meio artístico e outras âncoras da  cultura ocidental com arquétipos carnavalescos criticando as ações do homem e alertando suas consequências.

A última exposição conferida pela a reportagem foi a “Retratos de Mulheres por Mulheres”. Uma coletânea de ensaios feitos por importantes fotógrafas contemporâneas, que traz à tona temas como o empoderamento feminino, corpo, padrões estéticos, feminismo, direitos igualitários. A amostra serve como uma ferramenta importante para um diálogo aberto a todas as mulheres.

Saindo um pouco do circuito da Avenida Paulista e adentrando a região dos jardins, há a exposição “John Lennon em Nova York por Bob Gruen”, no Museu da Imagem e do Som (MIS), o qual foi responsável por grandes exposições, como do Castelo Rá-Tim-Bum e do cineasta Alfred Hitchcock. Os ingressos podem ser adquiridos pelo site Sympla.

A mostra traz uma série de 130 fotografias tiradas pelo fotógrafo nova-iorquino Bob Gruen na década de 1970, período em que foi amigo íntimo de John Lennon e Yoko Ono. O consagrado fotógrafo já fotografou diversos astros do rock, como Eric Clapton, Led Zeppelin, Jerry Garcia, Patti Smith, David Bowie, Tina Turner, entre outros. Nesta exposição única, podemos conhecer de perto a vida do casal de artistas, desde a sua mudança para Nova York, até a morte de Lennon. 

 

John Lennon
Reprodução da praça Strawberry Fields do Central Park, em homenagem a John Lennon, no MIS. Foto: Carlos Kelm



Logo na entrada, podemos ouvir alguns clássicos solo do músico permeando o ambiente. Somos apresentados a exposição através de breves biografias e algumas fotos de Lennon e Yoko; a música ambiente nos acompanha durante todo o percurso. As fotos são diversas e cobrem muitas ocasiões: aventuras noturnas, passeios pela cidade, entrevistas e momentos de intimidade com o filho. Como Gruen era próximo ao casal, as fotos trazem uma ótica detalhada para quem quer um conhecimento mais completo da trajetória dos dois músicos.

Para a curadora Stephanie Guarido, as exposições continuarão seguindo de forma presencial mesmo depois da pandemia e também terá outra abordagem online, visando novos meios, “existe uma grande dificuldade por parte das instituições de se atualizarem para também atender de maneira eficiente um novo público, que acaba sendo muito mais amplo, já que em qualquer lugar do mundo você pode ver as exposições.”

Para a curadora e um dos guias da Fiesp, é consenso que o público deveria voltar às exposições, pois as medidas de segurança são mais que eficientes, além de existir um controle do número de pessoas e medidas sanitárias para o recebimento dos visitantes.

Tags:
Como o veganismo popular pode desalinhar o interesse insólito do capitalismo no movimento.
por
Rafaela Correa de Freitas
|
13/11/2020 - 12h

Em pesquisa feita pelo IBOPE em 2018, cresce o número de brasileiros que se declaram veganos, somando 30 milhões no país. Além disso, entre janeiro de 2018 e novembro de 2020, o número de pesquisas pelo termo “vegano” no google, cresceu significativamente com altos picos de interesse ao longo dos 3 anos.

Contudo, o número só é expressivo em regiões como São Paulo, Distrito Federal, Rio de Janeiro, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, o que chama atenção para o pensamento recorrente de que o veganismo não é para todos. Muitos influencers, profissionais e estudiosos vêm tentando desmentir essa afirmação e mostrar o lado acolhedor do movimento, como é o caso de Caroline Soares, estudante de nutrição e moradora de Guarulhos em São Paulo. Em seu Instagram, Caroline conta seu dia a dia como uma mulher vegana, feminista e periférica com receitas e esclarecimentos de dúvidas sobre a alimentação cruelty-free.

 

Nessa foto, Caroline está apontando para sua blusa com desenhos de animais e com a escrita "Não Matarás"
Foto: Instagram @logoeu_veganapobre

Seu despertar começou há 10 anos atrás, quando se perguntou sobre como compactuava com a exploração animal e, então, após uma parada respiratória quase fatal, Caroline decidiu mudar sua vida “Comecei a pensar em como fazer da minha vida algo produtivo, comecei várias mudanças e o veganismo foi uma delas.” Desde então, Caroline luta por um movimento justo e transparente, ainda que as dificuldades pareçam não ter fim.

Apesar de político, o movimento também tem suas ramificações, onde alguns preferem somente deixar o sofrimento animal fora de seus pratos, mas não de seu consumo. Isso aconteceu depois que algumas empresas como Friboi, Sadia e outras passaram a produzir mercadorias veganas, mesmo que sejam empresas condizentes com os grandes impactos ambientais repudiados pelo veganismo.

Esse é um problema que muitos passaram em sua fase de transição, como Caroline “No começo eu acreditava muito em qualquer coisa que me falassem para flexibilizar minha culpa... e de fato eu não queria me aprofundar para não ter o conhecimento”, já outros preferem continuar consumindo mesmo depois de criar consciência sobre a exploração por trás do capitalismo "vegano".

O veganismo alinhado aos valores capitalistas pode ser um perigo para si mesmo e seus adeptos. Quando espalhado por vozes do mercado, a impressão de que o mesmo público e somente ele pode consumir determinado produto (seja pelo preço pedido pela empresa ou inacessibilidade de estabelecimentos equipados com a mercadoria) é facilmente comprada, “O grande problema disso tudo é que os influenciadores que falam sobre veganismo sempre são pessoas brancas, classe média alta. Isso faz com que quem vê de fora, acha que todo movimento vegano é assim, sendo que existem várias pessoas periféricas assim como eu que são veganas e vivem normalmente o dia a dia sem gastar muito”

“Temos a invasão de grandes corporações vendendo produtos ‘veganos’ com preços absurdos, o capitalismo ver o movimento comunista de mercado faz com que vire lucro, isso já aconteceu e faz com que as pessoas vejam alimentos industrializados como a única maneira de se tornarem veganos. A indústria ludibria tanto as pessoas que elas esquecem que arroz e feijão são alimentos veganos.”

Além da sombra do capitalismo pairando sobre o movimento, Caroline conta que para acabar com o preconceito em cima dele depende de um trabalho de base, educando pessoas sobre alimentação real e como a indústria é cruel com os animais. Faz-se necessário uma reeducação alimentar e, segundo ela, não tirar da pauta o veganismo popular e político

 

Tags: