Ex-presidente uruguaio lutava contra um câncer no esôfago; notícia foi confirmada pelo atual presidente
por
Marcelo Barbosa
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14/05/2025 - 12h

 

 Nesta terça-feira (13), faleceu José “Pepe” Mujica, ex-líder do Uruguai. Aos 89 anos, ele travava uma batalha contra um câncer no esôfago desde abril do ano anterior. A causa exata da morte ainda não foi informada.

Na rede social X, o atual presidente do país, Yamandú Orsi, confirmou a notícia: “É com profunda tristeza que anunciamos o falecimento do nosso colega Pepe Mujica. Presidente, ativista, líder e companheiro. Sentiremos muita falta de você, querido velho. Obrigado por tudo o que nos deu e pelo seu profundo amor ao povo uruguaio.”

Ontem (12), a esposa de Mujica, Lucía Topolansky, já havia declarado que ele estava “em estado terminal e recebendo cuidados paliativos”.

A trajetória de Mujica foi marcada por sua liderança como uma das figuras mais emblemáticas da esquerda no Sul Global. Desde a infância, sob influência da mãe, Pepe se apaixonou pela literatura e pela política. Criado com a irmã, perdeu o pai aos 7 anos de idade. Iniciou sua carreira política como secretário da Juventude no Partido Nacional.

Foi também um dos fundadores e guerrilheiros do Movimento de Libertação Nacional - Tupamaros, grupo que buscava uma revolução socialista no Uruguai. Seus integrantes ficaram conhecidos por realizar assaltos a bancos para redistribuir o dinheiro entre os mais pobres. O período de maior atividade do grupo coincidiu com a ditadura militar no país, entre 1973 e 1985.

Mujica foi capturado quatro vezes, passando seu mais longo período de encarceramento em 1972. Mesmo assim, conseguiu fugir duas vezes. Durante a prisão, foi mantido em solitária e submetido a intensas torturas. Sua primeira detenção foi em 1964, após o assalto a uma fábrica em Montevidéu. Em 1971, foi preso novamente, mas conseguiu escapar junto a centenas de detentos. No total, passou mais de 14 anos na prisão.

Após ser libertado por um projeto de anistia, Mujica participou da fundação do Movimento de Participação Popular. Apesar do passado como guerrilheiro, declarou em entrevista ao jornal Búsqueda que se tornou um defensor da democracia e que considerava seus atos da juventude um erro. Na década de 1990, ocupou os cargos de senador e ministro da Agricultura.

Como presidente do Uruguai (2010-2015), Mujica ganhou notoriedade mundial por defender pautas progressistas, como a legalização da maconha, o casamento entre pessoas do mesmo sexo e a descriminalização do aborto.

Entrou para a história uruguaia como um líder humanista, priorizando o combate à pobreza e à fome. Mesmo no cargo mais alto do país, manteve um estilo de vida simples: recusou-se a morar no palácio presidencial e preferiu continuar em seu sítio nos arredores de Montevidéu. A imprensa internacional o apelidou de “o presidente mais pobre do mundo”. Fiel ao seu Fusca 1987, doava a maior parte de seu salário, reforçando sua imagem de político avesso a luxos.

Reprodução: Reuters/Tony Gentile
Pepe Mujica no Festival de Veneza | Reprodução:Reuters/ Tony Gentile 

Sob sua gestão, a economia uruguaia apresentou resultados expressivos, com crescimento médio anual de 5,4% e redução significativa dos índices de pobreza. Ainda assim, enfrentou críticas da oposição, que o acusava de provocar aumento do déficit fiscal.

Em 2012, Mujica esteve no Brasil para a cúpula Rio+20 da ONU, realizada no Rio de Janeiro. O Ministério das Relações Exteriores do Brasil emitiu nota de pesar, afirmando: “Ele foi um grande amigo do Brasil.”

Mujica nunca escondeu sua visão serena sobre a morte, como demonstrou em diversas entrevistas: “E, por favor, não vivam com medo da morte, mas, a certa altura da vida, você sabe que, um pouco antes ou um pouco depois, ela vai chegar”, declarou em uma conversa par um livro.

 

Contrariando estimativas, o papa eleito é estadunidense, algo inédito na história da Igreja
por
Manuela Schenk Scussiato
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08/05/2025 - 12h

Na tarde desta quinta-feira, 8 de maio, os cardeais chegaram a um consenso e elegeram o novo papa. O processo de eleição para o papado após a morte de Francisco, chamado de Conclave, começou um dia antes. Houve três votações sem consenso até que os 133 cardeais presentes deram os 89 votos necessários para o eleito e apresentaram o novo líder da Igreja Católica ao mundo. Robert Francis Prevost, o cardeal estadunidense escolheu Leão XIV como seu nome pontifício.

Fumaça branca no Vaticano indica a escolha do novo Pontífice Foto: reprodução/Vatican Mídia
Fumaça branca no Vaticano indica a escolha do novo Pontífice
Foto: reprodução/Vatican Mídia

Cerca de 20 mil pessoas estavam na Praça de São Pedro hoje às 18:08 no Vaticano (13:08 horário de Brasília) quando a fumaça branca anunciou a escolha do novo líder católico. Depois de uma hora, o Cardeal Prevost fez sua primeira aparição como Papa Leão XIV, emocionando a multidão que esperava ansiosamente pela revelação de sua identidade.

Multidão reunida mostra fieis de várias nacionalidades ansiosos com a revelação do novo Papa. Foto: Reprodução/Filippo Monteforte
Multidão reunida mostra fieis de várias nacionalidades ansiosos com a revelação do novo Papa.
Foto: Reprodução/Filippo Monteforte

Quem é o Cardeal Prevost

Natural de Chicago, capital do estado de Illinois, Robert Prevost tem 69 anos e se tornou o primeiro Papa norte-americano da história da Igreja Católica.

O novo líder da igreja católica se tornou cardeal há apenas dois anos, nomeado por Francisco. Prevost foi escolhido para substituir Marc Ouellet no comando do Dicastério para Bispos no Vaticano, ficando assim responsável por indicar e guiar a nova geração de bispos. Sua carreira na igreja começou como missionário no Peru, onde foi nomeado arcebispo, por esse motivo, sua escolha é de grande importância para a América Latina.

Prevost é da ordem de Santo Agostinho, traz uma visão positiva para a igreja e uma dimensão missionária para sua candidatura. Além de representar uma vertente progressista da igreja americana, o novo Papa defende questões sociais polêmicas em seu país de origem, como a imigração.

Em seu primeiro discurso como Pontífice, Leão XIV falou sobre seu desejo por paz e o amor incondicional de Deus por todos. Também sobre sua admiração pelo Papa Francisco e como pretende estender seu legado.

“À Igreja de Roma, uma saudação especial. Devemos buscar juntos como ser igreja missionária, uma igreja que constrói pontes, que dialoga, sempre aberta a receber como esta praça de braços abertos, a todos, todos aqueles que precisam da nossa caridade, da nossa presença, do diálogo, de amor” disse o Papa Leão em seu discurso.

Papa Leão XIV durante seu discurso de apresentação Foto: reprodução/REUTERS
Papa Leão XIV durante seu discurso de apresentação
Foto: Reprodução/REUTERS

Significado do nome Leão XIV

O nome Leão foi usado pela última vez em 1878, agora, ele volta ao cargo com Leão XIV. Seu significado é ligado à justiça social, tópico importante nas lutas do cardeal Prevost, além de evocar força e liderança. O Papa Leão XIII (1810-1903) foi o primeiro a dedicar atenção a questões sociais, como a situação dos trabalhadores, em meio à Revolução Industrial. Na encíclica Rerum Novarum (1891), que inaugurou a chamada Doutrina Social da Igreja, Leão XIII fez críticas ao socialismo e ao capitalismo, em defesa do direito dos trabalhadores, 

Na Bíblia, o Leão também representa poder, liderança e autoridade. É usado várias vezes para simbolizar a imagem de Jesus Cristo, especialmente no livro do Apocalipse, onde ele é denominado como “Leão da tribo de Judá". O leão também pode ser interpretado como uma ameaça a Satanás em passagens do livro de São Pedro.

 

jovem afegão relata os desafios de sua nova vida em São Paulo
por
Francisco Barreto
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29/04/2025 - 12h

De acordo com dados da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), entre janeiro de 2022 e julho de 2024, mais de 11 mil afegãos chegaram ao Brasil. A maioria se estabeleceu no estado de São Paulo, especialmente na região metropolitana. Estimativas da Organização Internacional para as Migrações (OIM) apontam que cerca de 28% residem na capital paulista e 20% em Guarulhos. Aos 20 anos, Habibullah Shariatee carrega em sua trajetória a força de quem precisou recomeçar a vida longe da terra natal. Natural do Afeganistão, ele chegou ao Brasil há três anos, fugindo da instabilidade provocada pela retomada do poder pelo grupo terrorista Talibã. Confira a entrevista exclusiva à AGEMT

 

O processo de nomeação ultrapassa a Capela Sistina e desperta curiosidade pelo mundo
por
Victória Rodrigues
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24/04/2025 - 12h

O Papa é o sucessor do apóstolo Pedro, a maior autoridade da Igreja Católica e chefe de Estado do Vaticano. No caso de sua morte ou renúncia, existem protocolos e ritos a serem seguidos para dar início ao processo de sucessão.

 

 

Quando um papa morre, são realizadas tradições litúrgicas. O Camerlengo (cardeal escolhido para exercer as funções interinas do papa) anuncia a morte do pontífice, declarando o tempo de luto.

O velório acontece na Basílica de São Pedro por nove dias, chamados de “Novendiale”. Esses dias são reservados para que fiéis, autoridades e líderes religiosos prestem suas homenagens.

Ao final deste período, um cortejo é realizado, seguido do sepultamento, que tradicionalmente acontece na Basílica de São Pedro, em Roma, exceto quando outro local é escolhido previamente pelo Santo Padre. Em caso de renúncia, é o próprio papa emérito quem anuncia sua decisão.

Até que um sucessor seja escolhido, o Camerlengo ficará à frente do governo da Igreja. Um tempo chamado de “Sé Vacante” ou “Sede Vacante” (sede vazia), que significa que a cadeira do líder da Igreja de Roma está vaga.

Este também é o período em que o Camerlengo reunirá o Colégio de Cardeais. A partir daí, começam as votações que definirão o próximo Pontífice. 

De “Sé Vacante” a “Habemus Papam” 

Entre 15 e 20 dias após a morte ou renúncia do Papa, o Colégio de Cardeais se reúne na Capela Sistina, onde é realizado o Conclave. 

Em entrevista à AGEMT, o padre Luiz Carlos Brito, da Diocese de Guarulhos, explicou esse processo:  “O Conclave é uma reunião sigilosa, significa ‘trancado com chave’. Nela, será definido o próximo Padre Santo. É sigilosa justamente para não haver influências externas, além de ser um momento de profunda oração para a Igreja”.  

Trancados em uma sala, os cardeais realizam as votações, sendo votante e elegíveis apenas aqueles  com menos de 80 anos. “Para ser eleito, é necessário que um dos cardeais elegíveis atinja pelo menos dois terços dos votos, podendo haver até quatro sessões de votação por dia”, afirma o presbítero. 

Após a contagem dos votos, se o número mínimo não for atingido ou se o escolhido pela votação não aceitar o cargo, uma fumaça preta tomará o céu, declarando encerradas as sessões daquele dia, e a Igreja seguirá sem um Papa.

No entanto, se o número mínimo de votos for atingido e o cardeal eleito aceitar a função de chefe do Vaticano e da Igreja Católica, uma fumaça branca sairá da chaminé da Capela Sistina, anunciando a boa nova ao mundo. 


Fumaça branca confirma a escolha do novo Papa | Foto: Agência Reuters

Em seguida, o cardeal protodiácono, que é o mais antigo do Colégio de Cardeais, tem o privilégio de anunciar “Habemus Papam”, temos um Papa. 

Não existe um período máximo para que o novo Bispo de Roma seja nomeado. O Conclave mais longo na história do catolicismo durou 34 meses, entre novembro de 1268 e setembro de 1271. Ao final foi eleito Teobaldo Visconti como Papa Gregório X. E a mais rápida das votações foi em 1939, que em duas sessões declarou o Papa Pio XII.

Ao ser eleito, o sucessor de Pedro adota um novo nome. De acordo com o Pe. Luiz, os motivos vão desde referência a nomes de santos ou outros papas, a uma facilidade de tradução para diferentes idiomas.

Os nomes geralmente são escolhidos em referência a algum outro papa ou a algum santo da Igreja Católica, como, por exemplo, Francisco é uma referência a São Francisco de Assis; João Paulo, além de fazer referência aos santos São João e São Paulo, juntou os nomes de seus dois antecessores. Além disso, nome próprio não se traduz, então o nome dos santos já tem  uma adaptação para  cada idioma” explica o sacerdote.

O Papa Francisco foi o 266° líder da Igreja Católica. Sua chegada dividiu opiniões. Nos últimos doze anos, o Santo Padre sofreu críticas por seu posicionamento progressista. Logo após assumir o papado, o Pontífice foi questionado sobre a homossexualidade e respondeu com a frase “Quem sou eu para julgar?”.

Além disso, Francisco seguiu a virtude da humildade de seu Santo patrono. Em uma declaração, disse que “Não há democracia com fome, nem desenvolvimento com pobreza, nem justiça na desigualdade". Alguns fiéis chegaram a acusá-lo de heresia e até mesmo de comunismo.

Para o Pe. Luiz, a Igreja é uma instituição que deve se adaptar: “Cada Papa tem um perfil, então seu pontificado será direcionado de acordo com suas convicções, isso gera um impacto na igreja de certa forma. Há alguns progressistas, há outros mais conservadores, e a cada mudança a Igreja Católica Apostólica Romana precisa se adaptar ao novo mandato”.

Pontífice sofreu um AVC e insuficiência cardíaca nesta segunda-feira (21)
por
Lívia Rozada
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22/04/2025 - 12h

 

Francisco em sua última aparição pública na missa de páscoa realizada neste domingo (20) no Vaticano. (Gregorio Borgia/AP Photos)
Francisco em sua última aparição pública na missa de páscoa realizada neste domingo (20) no Vaticano. (Gregorio Borgia/AP Photos)

Às 9h45 da manhã no horário de Roma e 04h45 no horário de Brasília, apenas algumas horas após a última aparição pública do Papa Francisco, o Vaticano anunciou a morte do Papa Francisco, aos 88 anos. O Papa havia recebido alta hospitalar fazia um mês e estava sob cuidados médicos, após 40 dias internado com um quadro grave de pneumonia nos dois pulmões.

Em 13 de março de 2013, a Igreja Católica elegeu o primeiro papa latino-americano: Jorge Mario Bergoglio, que adotou o nome de Francisco. O pontífice nasceu em uma família de imigrantes italianos em Buenos Aires, capital argentina, no dia 17 de dezembro de 1936. Seu pai, Mario Giuseppe Bergoglio, emigrou da Itália no início do século XX para fugir das guerras no continente europeu e sua mãe, Regina Maria Sivori, nasceu em Buenos Aires e era filha de imigrantes. Jorge foi o primeiro dos cinco filhos do casal.

Formação e início da trajetória eclesiástica

Sua vocação religiosa o levou a entrar no noviciado da Companhia de Jesus aos 21 anos. Bergoglio fez o juniorado em Santiago, no Chile, e retornou à Argentina para estudar filosofia, formando-se na Universidade Católica de Buenos Aires em 1960. Entre 1964 e 1966, ensinou literatura e filosofia em escolas da Companhia de Jesus em Santa Fé e Buenos Aires. Em 1967, deu início aos estudos de teologia, que concluiu em 1970.

Em 1969, o jesuíta recebeu a ordenação presbiterial para se tornar sacerdote da Igreja Católica. Bergoglio foi à Espanha para completar seus estudos religiosos e retornou à Argentina em 1973, quando foi eleito superior provincial dos jesuítas no país e passou a chefiar a Companhia de Jesus argentina.

Após o provincialado, o então sacerdote retornou  ao meio acadêmico em 1980, lecionando em colégios jesuítas, e se tornou reitor da Faculdade de Filosofia e Teologia de San Miguel, cargo que ocupou até 1986, quando foi à Alemanha para concluir seu doutorado. Nos anos seguintes, Bergoglio foi confessor e diretor espiritual em Córdoba.

Episcopado

Durante a década de 1990, tornou-se uma figura de destaque dentro da Igreja Católica argentina. Em maio de 1992, o então Papa João Paulo II nomeou Bergoglio para o cargo de bispo auxiliar de Buenos Aires, posição que ocupou até 1997, quando foi nomeado arcebispo adjunto da cidade. No ano seguinte, com a morte do arcebispo metropolitano, Bergoglio passou a ocupar o cargo.

O arcebispo se destacava por sua humildade. Apesar de ocupar  um cargo de grande poder na Igreja Católica, o futuro papa continuava evitando os luxos da hierarquia católica e era reconhecido por se locomover de transporte público e morar sozinho em um apartamento simples na região central da cidade. 

Em 2001, durante o papado de João Paulo II, Bergoglio foi nomeado cardeal e recebeu o título de cardeal-presbítero de São Roberto Belarmino. Em vez de ir ao Vaticano para celebrar a nomeação, convenceu centenas de argentinos a não realizarem a viagem e pediu que destinassem o dinheiro aos pobres. Quatro anos depois, o cardeal participou do seu primeiro conclave, que elegeu o Papa Bento XVI.

Pontificado

Em fevereiro de 2013, o então Papa Bento XVI anunciou sua renúncia ao cargo, por motivos que só seriam revelados após sua morte, em 2022. A decisão do pontífice foi inédita na era moderna, ocorrendo cerca de 600 anos após a última renúncia papal, quando o Papa Gregório XII renunciou. No segundo dia do conclave para nomear uma nova pessoa para o cargo, Bergoglio foi eleito como o 266º papa.

O novo papa escolheu o nome de Francisco como uma referência a São Francisco de Assis, conhecido por sua simplicidade e dedicação aos pobres, tornando-se o primeiro pontífice a usar o nome. A escolha reforçou seu compromisso com a humildade, a paz e a defesa dos mais vulneráveis, traços que marcaram seu papado. Francisco foi o primeiro papa originário do continente americano e do hemisfério sul, além de ser o primeiro papa de origem não europeia em mais de 1200 anos, desde Papa Gregório III, nascido na Síria.

Sua primeira viagem internacional como papa foi ao Brasil. Em julho de 2013, Francisco desembarcou no Rio de Janeiro para a Jornada Mundial da Juventude (JMJ), evento realizado a cada dois ou três anos, que reúne o papa e milhões de jovens católicos de todo o mundo. Durante a missa celebrada na Praia de Copacabana, o papa reuniu mais de 3,5 milhões de fiéis. Além do Rio de Janeiro, o pontífice fez questão de visitar o Santuário Nacional de Nossa Senhora de Aparecida.

Papa fala à multidão de fiéis em Copacabana. Foto: Christophe Simon/AFP
Papa fala à multidão de fiéis em Copacabana. Foto: Christophe Simon/AFP

Francisco mantém uma relação de carinho com o Brasil. Alguns meses após a visita ao país, o pontífice recebeu os organizadores da JMJ e, em seu discurso de boas-vindas, brincou: “Os cariocas são ladrões, roubaram meu coração”. Em junho de 2023, o presidente Lula se reuniu com o papa no Vaticano e o agradeceu pela recepção e “boa conversa” sobre a paz no mundo. Um ano depois, na cúpula do G7, os dois se encontraram novamente. Segundo o presidente, conversaram sobre o combate à fome, a paz mundial e a importância de reduzir as desigualdades.

Legado

Francisco foi um dos líderes religiosos mais influentes do mundo. Em comparação com seus antecessores, o pontífice adotou uma postura progressista ao trazer posicionamentos mais liberais e modernos em relação a temas sensíveis para a Igreja Católica. Com mais de uma década à frente da Igreja Católica, implementou reformas e promoveu mais transparência no Vaticano e adotou medidas mais rígidas contra abusos sexuais no clero.

O papa recebeu repercussão mundial por sua postura mais acolhedora em relação à  comunidade LGBTQIAPN+ . Apesar dos seus posicionamentos conservadores, contrários ao aborto, cirurgias de redesignação sexual e casamento homoafetivo, por exemplo, Francisco, em diversas ocasiões, defendeu que membros da comunidade não devem ser marginalizados, mas sim integrados à sociedade. Em entrevista a jornalistas em 2013, o pontífice disse: “Se uma pessoa é gay e procura o Senhor e tem boa vontade, quem sou eu para julgá-la?”.

 

Período de votação acontecerá em menos de dois meses
por
Octávio Alves
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22/04/2025 - 12h

 


O Governo sul-coreano anunciou uma nova eleição presidencial para o dia 3 de junho, após o impeachment do presidente Yoon Suk Yeol. O comunicado foi feito em 8 de abril pelo primeiro-ministro Han Duck-soo, que exerce interinamente a presidência.

 

Manifestantes comemorando a primeira votação do impeachment em 14 de Dezembro.Foto: Reprodução AP/ Lee Jin-man
Manifestantes comemorando a primeira votação do impeachment em 14 de Dezembro. Foto: Reprodução AP/ Lee Jin-man

A crise teve início quando o então presidente decretou lei marcial em dezembro, alegando estar defendendo a democracia diante de tentativas dos opositores de “derrubar a democracia livre”, ao buscarem o impeachment de membros de seu gabinete e bloquear seus planos orçamentários. 

Foi a primeira vez desde 1980 que a lei marcial foi declarada no país. A medida gerou forte impacto negativo, inclusive entre parlamentares do próprio partido de Yoon, o conservador Partido do Poder do Povo. Diante da ampla oposição da classe política e de uma votação unânime no Parlamento contra suas ações, Yoon revogou a lei marcial poucas horas após tê-la decretado.

O ex-presidente da Coreia do Sul, Yoon Suk Yeol, declarando Lei Marcial na TV — Foto: Reprodução The Presidential Office/Handout via Reuters
O ex-presidente da Coreia do Sul, Yoon Suk Yeol, declarando Lei Marcial na TV .Foto: Reprodução The Presidential Office/Handout via Reuters

 

Com o impeachment efetivado em abril e a nova data da eleição definida, teve início oficialmente a corrida eleitoral para escolher o novo presidente sul-coreano.

A eleição presidencial na Coreia do Sul possui algumas particularidades. Não há segundo turno, o candidato mais votado no único turno é eleito. O presidente também tem o poder de nomear um primeiro-ministro, que precisa ser aprovado pelo Parlamento (chamado de Assembleia Nacional). Esse cargo exerce funções semelhantes às de um vice-presidente no Brasil. O mandato presidencial é de cinco anos.

De acordo com a legislação sul-coreana, uma nova eleição deve ser realizada em até 60 dias após a vacância do cargo. No atual cenário político, dois partidos se destacam: o governista Partido do Poder do Povo e o opositor Partido Democrata.

Os democratas têm como provável candidato o político Lee Jae-myung, que não enfrenta concorrência interna significativa. Lee, que perdeu por uma margem apertada para Yoon nas eleições de 2022, sofreu um atentado a faca no início de 2024 e liderou o partido durante a recente crise, quando tropas enviadas por Yoon cercaram a Assembleia Nacional durante a votação que revogou a lei marcial. 

No entanto, ele responde atualmente a cinco processos por corrupção. Caso seja eleito, esses processos serão suspensos, já que o presidente sul-coreano possui imunidade durante o mandato.

Pessoas assistem a uma mensagem em vídeo do Partido Democrata da Coreia, Lee Jae-myung, anunciando sua candidatura presidencial em uma tela de TV na Estação de Seul. Foto: The Korea Times/ Yonhap
Pessoas assistem a uma mensagem em vídeo do Partido Democrata da Coreia, Lee Jae-myung, anunciando sua candidatura presidencial em uma tela de TV na Estação de Seul. Foto: The Korea Times/ Yonhap

 

Já os conservadores devem realizar primárias para definir seu candidato, com mais de dez nomes cotados. Um dos grandes nomes até o momento é Oh Se-hoon, atual prefeito de Seul. Apesar de o partido ter sido abalado pelo impeachment, ainda conta com uma base de apoiadores fieis. As primárias estão marcadas para o dia 3 de maio.

A líder da extrema direita francesa foi julgada por desvio de dinheiro
por
Chloé Dana
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04/04/2025 - 12h

Nesta última segunda-feira (31), a líder da extrema direita francesa, Marine Le Pen, foi julgada pela justiça francesa por desviar verbas da União Europeia para beneficiar seu partido, Reagrupameto Nacional (RN). Le Pen foi foi sentenciada a quatro anos de prisão, ao pagamento de uma multa de 100 mil euros e cinco anos de inexigibilidade, o que a impede de concorrer à Presidência em 2027. 

A acusação do Ministério Público aponta que o RN e seu antecedente, a Frente Nacional, utilizaram recursos orçamentários de 21 mil euros (equivalente a R$131 mil) destinados ao pagamento de subsídios mensais para os assessores parlamentares de eurodeputados, sustentar funcionários que, na realidade, atuavam para o partido na França, focados em assuntos de política interna, de 2004 até 2016. 

A líder francesa nega irregularidades e afirma que o Ministério Público está em busca de seu fim político. Doze assistentes também foram sentenciados por ocultação de delito. O tribunal calculou que o esquema desviou 2,9 milhões de euros e todos os empregados do RN, incluindo Le Pen, foram proibidos de disputar cargos, com a juíza determinando que a proibição deve começar a valer imediatamente. 

 

Como isso afeta a direita radical francesa? 

Devido às medidas tomadas pela justiça, a francesa será incapaz de concorrer à presidência do ano que vem como planejava. Quando questionada sobre a possibilidade de tentar a presidência em 2027 se for autorizada, Le Pen inicialmente transmitiu a ideia de que não via essa possibilidade como viável, devido ao tempo requerido para que uma nova etapa do processo fosse concluída. No entanto, entrou com um recurso de apelação que poderia diminuir o período de inelegibilidade, ou removê-lo completamente, sendo julgado e acelerado no fim deste ano ou no início de 2026, embora suas chances sejam pequenas. 

Denunciando o que ela qualificou como uma decisão "política" do juiz e uma "transgressão ao estado de direito", ela solicitou um julgamento ágil de recurso, a fim de que seu nome pudesse ser limpo, ou pelo menos a inelegibilidade fosse suspensa a tempo das eleições de 2027. "Há milhões de franceses que acreditam em mim. Por 30 anos, tenho lutado contra a injustiça. É o que continuarei fazendo até o fim", afirma.


Porém, a figura do jovem de 29 anos, Jordan Bardella, pode ser considerada a situação mais realista do que possa vir. Ao ser questionada sobre a possibilidade de Bardella poder substituí-la na próxima disputa presidencial, ela demonstrou resistência. “Recorrer a Bardella muito rapidamente seria imprudente” concluiu Le Pen.

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​Le Pen e Bardella, uma nova figura para a extrema direita francesa. Foto: Raphael Lafargue/ABACAPRESS.COM//)

 

Arquivos de JFK mostram a preocupação dos EUA com a instabilidade política no Brasil nos anos 60
por
Octávio Alves
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03/04/2025 - 12h

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou na terça-feira (18), a liberação de cerca de 80 mil páginas de documentos relacionados ao assassinato do ex-presidente John F. Kennedy, ocorrido em 22 de novembro de 1963, em Dallas, Texas. O caso foi um dos marcos da Guerra Fria. Entre os arquivos revelados pela Central Intelligence Agency (CIA), em português, Agência Central de Inteligência, destacam-se referências ao Brasil, envolvendo tanto ofertas de apoio comunista quanto preocupações com uma possível intervenção militar norte-americana no país.

Nestes documentos, o político Leonel Brizola, que era governador do Rio Grande do Sul em 1961, teria recebido uma oferta de ajuda de Mao Tse-Tung, da China, e Fidel Castro, de Cuba. O suporte incluía assistência e até mesmo "voluntários" para garantir a sucessão presidencial no país.

Documento divulgado pelo governo estadunidense sobre a ajuda de países comunistas. Foto: Reprodução/ Governo dos Estados Unidos
Documento divulgado pelo governo estadunidense sobre a ajuda de países comunistas. (Foto: Reprodução/ Governo dos Estados Unidos)

Na época, Jânio Quadros havia renunciado à presidência, e o país enfrentava um período de instabilidade política. Foi nesse contexto que surgiu a figura de Leonel Brizola, líder da Campanha da Legalidade, cujo objetivo era garantir que João Goulart, então vice-presidente e em viagem à China, assumisse a presidência após a renúncia de Jânio Quadros.

Brizola dando a entrevista durante a Campanha da Legalidade, em 1961. (Foto: Iconographia)
Brizola dando a entrevista durante a Campanha da Legalidade, em 1961. (Foto: Iconographia)

A proposta dos países comunistas foi recusada. Segundo o documento, Brizola negou a ajuda por temer uma crise diplomática com os Estados Unidos. “Obviamente, ele temeu que, caso as propostas fossem aceitas, os EUA pudessem intervir”, afirma relatório sobre a oferta de apoio.

Outro documento revela que os assessores de John F. Kennedy consideravam uma intervenção militar uma opção válida para evitar que um país do tamanho do Brasil caísse nas mãos da oposição global da época.

Texto do documento liberado pelo governo estadunidense falando sobre as situações políticas de países latino americanos. (Foto: Reprodução/CIA)
Texto do documento liberado pelo governo estadunidense falando sobre as situações políticas de países latino americanos. (Foto: Reprodução/CIA)

Esses dados mostram que a crise política no Brasil começou bem antes do golpe de 1964 e que a ditadura já era considerada pelos Estados Unidos como uma possibilidade caso o país se inclinasse mais para a esquerda.

Em entrevista para a AGEMT, a Professora e Doutora em Ciências Sociais da PUC-SP, Carla Cristina Garcia, analisou a divulgação dos documentos da era Kennedy e seus impactos na interpretação da política brasileira. Carla fala como o Brasil já estava sofrendo interferências antes do golpe: “A recente liberação dos documentos da era JFK revela com clareza o grau de vigilância e interferência dos Estados Unidos na política brasileira às vésperas do golpe de 1964.”

Segundo a especialista, essas revelações modificam a forma como eventos históricos são compreendidos. Ela finalizou o pensamento dizendo como estes arquivos mostram como o Brasil era visto pelos estadunidenses: “Revelações como essa não apenas reposicionam personagens históricos sob nova luz, como também ampliam o entendimento do papel estratégico que o Brasil ocupava no imaginário da Casa Branca.”

Bombardeio ordenado por Netanyahu deixou centenas de mortos e feridos
por
Annanda Deusdará
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25/03/2025 - 12h

Na madrugada da última segunda-feira, 17, Israel retomou os bombardeios aéreos na Faixa de Gaza. O ataque ocorreu no meio das negociações para o início da segunda fase do acordo de cessar-fogo. Nas últimas semanas, o país já tinha descumprido duas exigências do Hamas para a primeira fase, sendo elas o bloqueio da entrada de ajuda humanitária na região e a não retirada das tropas israelenses do Corredor Filadélfia, fato que deveria ter ocorrido até o 50° dia do acordo.

De acordo com nota divulgada pelo governo israelense, os ataques ocorreram após o Hamas recusar as propostas recebidas e a libertação dos reféns restantes. Ainda segundo Israel, a decisão foi tomada devido à possibilidade de um ataque por organizações terroristas em Gaza contra seus soldados e comunidades com o propósito de matar e sequestrar.

O Ministério da Saúde do enclave, controlado pelo Hamas, informou nesta quinta que pelo menos 506 palestinos foram mortos e outros 909 ficaram feridos. Conforme a agência EFE, Israel voltou a bombardear a Faixa de Gaza na noite desta quarta-feira e começou uma incursão terrestre no Corredor Netzarim.

Em entrevista à Fox News, a porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, confirmou nesta terça que os Estados Unidos sabia dos ataques e estava de acordo com a medida. No Oriente Médio, a Arábia Saudita e o Catar repudiaram os ataques aéreos em Gaza.

O grupo Hamas continua defendendo a continuidade do cessar-fogo e a retirada das tropas israelenses da região. Enquanto isso, autoridades de Israel defendem o retorno de todos os reféns para que haja um cessar-fogo até o fim do Ramadã e do Feriado de Páscoa judaica, que ocorrem em abril, após esse período novas negociações poderão ser feitas. Até o momento, ainda não há confirmação de trégua entre os dois territórios.

O cessar-fogo entre Israel e Hamas, que é discutido desde novembro de 2024, entrou em vigor no dia 19 de janeiro de 2025 e foi negociado também por outros países como Estados Unidos, Qatar e Egito. O acordo foi dividido em três fases, com o objetivo de uma troca de reféns de ambas as partes, a retirada das tropas de Israel da Faixa de Gaza, retorno dos restos mortais de israelenses e um planejamento de reconstrução de Gaza.

O conflito entre os dois países ocorre há 15 meses e se iniciou com um ataque do Hamas no dia 7 de outubro de 2023, quando 1.200 pessoas foram mortas e outras 251 foram levadas como reféns. Após isso, Israel deu início a uma guerra na região, que destruiu quase 60% da infraestrutura de Gaza, incluindo escolas e hospitais, e deslocou cerca de 90% da população local

De acordo com o documento, está previsto que nos primeiros 42 dias em funcionamento, as forças de Israel se retirarão dos centros populacionais da faixa de Gaza situados ao oeste, permitindo o retorno dos deslocados palestinos aos centros urbanos, além da permissão de entrada de mais ajuda humanitária na região - serão cerca de 600 caminhões por dia, um número superior aos 500 que entravam antes do início do conflito.

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Grupo de palestinos ficam felizes ao saberem do acordo de cessar fogo - Imagem/AFP

Desafios para o cumprimento do acordo 

O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, declarou à imprensa local que não irá retirar as tropas que ainda estão em Gaza, no Corredor Filadélfia, que demarca a fronteira com o Egito. A justificativa é que essa seria uma rota de contrabando usada pelo Hamas que os ajudaria a se fortalecer. 

A decisão pode comprometer as negociações da 2° fase, tendo em vista que Israel deveria se retirar dessa região até o dia 2 deste mês, quando completou 50 dias desde o acordo.

Outra medida que pode complicar a situação é a proposta de Donald Trump pela reconstrução de Gaza seguida de uma ocupação estrangeira, que resultaria em uma expulsão sistemática de palestinos dos territórios tradicionais. 

Essa medida apesar de agradar o governo de Israel pode apresentar resistência no lado palestino. A decisão também não é bem vista pelo Egito, já que os palestinos poderiam migrar para seu território devido à proximidade geográfica, um dos motivos que leva o país a ser mediador no acordo.

O primeiro-ministro conta com o apoio do presidente Trump. O grupo da coligação que o sustenta é a favor da retomada da guerra se o Hamas não se render. Entretanto, um grupo de "desobediência civil" juntamente com o Fórum dos Reféns e Desaparecidos estão se manifestando pela libertação de todos os reféns, vivos ou mortos e pelo fim do conflito.  

Para Rodrigo Amaral, professor de relações internacionais da PUC- SP e analista de política Internacional no Oriente Médio, o que tem maior impacto na decisão de Israel no momento, é o interesse dos Estados Unidos em continuar a guerra ou avançar para a segunda fase, e não a capacidade da extrema direita israelense. 

“A variável que tem condicionado as decisões agora, é o que fazer com Gaza de agora em diante”, segundo o profissional é evidente para todos os envolvidos que os ataques à Gaza precisam parar, e que a eliminação do Hamas não é possível, porém existe o desejo por parte de Israel e Eua de inibir a sua capacidade. A questão agora é como prosseguir, de maneira a não aumentar a violência na região.

Na sexta-feira, 7, uma delegação palestina chegou ao Cairo para discutir sobre a segunda fase do cessar-fogo. No sábado, 8, o porta-voz do Hamas, Abdel-Latif Al-Qanoua, declarou que o grupo deseja que o acordo continue: “Afirmamos nossa prontidão para participar da segunda fase das negociações de uma forma que atenda às demandas do nosso povo”.

Apesar disso, no início do mês Israel anunciou o bloqueio de ajuda ao território - que foi uma das exigências para estabelecimento do acordo - e no domingo, 09, informou que cortaria a energia elétrica de Gaza para pressionar o Hamas a aceitar novas condições para a extensão do atual acordo de cessar-fogo e para que todos os reféns sejam libertados. No dia seguinte, o Hamas declarou que está aguardando o resultado dos esforços dos países mediadores nas negociações com Israel para avançar para a próxima fase. 

A Casa Branca agora seleciona os jornalistas que acompanham o presidente
por
Manuela Schenk Scussiato
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21/03/2025 - 12h

No dia 24 de fevereiro de 2025, Donald Trump tirou o controle da WHCA (Associação de Correspondentes da Casa Branca) sobre a seleção de jornalistas que podem acompanhar o presidente durante coletivas de imprensa realizadas no Salão Oval da Casa Branca.

Desde a década de 1950, a WHCA era responsável por organizar a Press Pool, um grupo seleto e rotativo de membros da imprensa (rádio, TV, fotógrafos…) que acompanham o presidente dos EUA durante suas coletivas - eles são responsáveis por enviar informações para seus colegas. Esse trabalho é essencial para os jornalistas, por isso, a troca constante de membros, escolhida por uma associação apartidária, é vital para uma boa cobertura que permita ao público se informar da melhor maneira possível.

Equipe de 2024 da WHCA durante o jantar anual da associação. Foto: Reprodução/White House Correspondents Association.
Equipe de 2024 da WHCA durante o jantar anual da associação. Foto: Reprodução/White House Correspondents Association.

Isso está prestes a mudar, pois, a partir de agora, esse grupo não exercerá sua principal função, passando esse poder, forçadamente, para a equipe de Donald Trump na Casa Branca. Mas o que isso significa de fato?

A imparcialidade da Associação é necessária para que jornalistas de todos os vieses políticos tenham a oportunidade de acompanhar o presidente e fazer suas próprias coberturas. Agora, com essa decisão tomada por um grupo eleito pelo presidente republicano, é possível imaginar que a cobertura não será tão imparcial quanto antes.

Em entrevista à AGEMT, Caio Sabbag, formado em Relações Internacionais, falou sobre essa decisão e o que isso mostra sobre o governo de Trump: Essa medida restringe completamente o alcance que qualquer tipo de mentalidade anti-governo consiga ter nesse momento”. Ele continua: “Eu acho que essa decisão é como o terceiro ou quarto dominó caindo. Estamos vendo uma rejeição muito rápida do governo dele e essa decisão não passa de mais um ato fascista do presidente”.

Sabbag ainda comenta sobre a maneira de se portar do atual presidente estadunidense: “Trump é um Showman. Ele está testando até onde seus eleitores irão apoiá-lo, e eles parecem ser bem abertos às ideias dele”.

O controle da imprensa é uma característica comum entre grandes governos ditatoriais do século XX. Hitler, por exemplo, criou o ministério da propaganda durante seu tempo como líder do partido nazista. O ministro Joseph Goebbels ficou mundialmente famoso por construir a imagem imponente de Hitler com estratégias simples de comunicação.

Os eventos famosos produzidos por Goebbels, como a famigerada queima de livros de 1933, não passam de uma tentativa populista de controle da mídia. Durante ditaduras, o conhecimento da população fica à mercê da vontade de seu líder. Trump, ao tomar o controle sobre quem poderá acompanhá-lo e, consequentemente, fazer perguntas, assume controle da mídia americana.

Trump durante coletiva de imprensa no salão oval da Casa Branca acompanhado da Press Pool. Foto: Reprodução/Karoline Leavitt
Trump durante coletiva de imprensa no salão oval da Casa Branca acompanhado da Press Pool. Foto: Reprodução/Karoline Leavitt

Em resposta ao assunto, Euclides Cunha, historiador e geopolítico, fala sobre suas expectativas para os próximos anos diante do crescimento de governos de extrema direita, como o de Trump, ao redor do mundo: “Acho que os próximos anos vão ser chaves para dizer se a nossa geração verá alguma coisa mais radical em termos de cenário internacional. [...]  A nossa geração, nos próximos anos, vai ver o acirramento de muitos conflitos, o acirramento de muitas disputas, o aparecimento de outros conflitos, como foi a guerra na Ucrânia, no final do ano passado, teve mais chance da guerra se generalizar”.

Os primeiros sinais de uma ditadura são as limitações da liberdade de expressão, tanto da mídia quanto do povo. “Eu não consigo visualizar uma democracia que se respeite e deixe isso passar batido”, adiciona Sabbag sobre o ocorrido. “Estou até perplexo com a falta de combate que a oposição está tendo quanto a isso. É problemático demais”, conclui o internacionalista.