Passado quase um ano, liderança indígena Yanomami fala sobre atual momento de seu povo, após Ministério da Saúde declarar Estado de Emergência de Saúde Pública na região
por
Artur Maciel
Bianca Abreu
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23/11/2023 - 12h

 

Em 20 de janeiro deste ano, o território Yanomami foi declarado em Estado de Emergência de Saúde Pública de Importância Nacional pelo Ministério da Saúde brasileiro. Concentrados em uma região Amazônica entre o Brasil e a Venezuela, com cerca de 30,4 mil habitantes, Yanomamis sofrem com a intensa atividade de garimpos ilegais no local. Epidemias - como gripe e malária - insegurança alimentar, morte sistemática de crianças indígenas e destruição do meio ambiente são provenientes das ações dos extrativistas na região.

Em entrevista por telefone ao repórter Artur Maciel, da Agência Maurício Tragtenberg (AGEMT), o presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami (Condisi) e representante do Conselho de Saúde Indigena (SESAI), Júnior Hekurari Yanomami, fala sobre a importância da atuação do poder público no combate ao genocídio provocado pela extração ilegal de minérios.

 

Junior Hekurari Yanomami momentos antes do IV Fórum das Lideranças Yanomami e Ye’kuana. Foto: Fabricio Araújo/ @Socioambiental
Junior Hekurari Yanomami momentos antes do IV Fórum das Lideranças Yanomami e Ye’kuana. Foto: Fabricio Araújo/ @Socioambiental

 

“A ajuda aos Yanomami deu esperança de poder olhar de novo. Olhar o sol brilhante na floresta que estava no escuro”. Júnior Hekurari Yanomami

A fim de combater a desassistência sanitária no território Yanomami, o Ministério da Saúde instalou o Centro de Operações de Emergências em Saúde Pública (COE - Yanomami) - cuja gestão está sob a responsabilidade da SESAI. Segundo a pasta, ao chegar na terra Yanomami, o órgão “se deparou com crianças e idosos em estado grave de saúde, com desnutrição grave, além de muitos casos de malária, infecção respiratória aguda (IRA) e outros agravos”.

“Durante 6 meses, muita gente voluntária. Médicos. Enfermeiros. Farmacêuticos. De São Paulo, Rio de Janeiro, Paraíba”, explica Júnior Hekurari, quando questionado sobre o suporte atual na região após declarada crise sanitária. “A ajuda aos Yanomami deu esperança de poder olhar de novo. Olhar o sol brilhante na floresta que estava no escuro”.

Segundo ele, “antes não tínhamos uma visão, apenas medo. O garimpeiro poluindo nossas terras. Nossas águas. Interrompendo nossos rituais. Culpa do governo ladrão de jóias. As crianças voltaram a brincar e andar depois das ações”. “Eu tinha medo do povo morrer. Sem o Lula, o povo Yanomami ia morrer. Em 2020, 2021, 20 mil garimpeiros destruíram nossas vida” desabafa, citando o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e a atuação do Estado na crise humanitária. Mas pontua com veemência que “ainda tem muita coisa a melhorar”.

Quando perguntado sobre como era tratado o impacto ambiental na região, em relação ao lixo gerado pela atividade garimpeira, o presidente do Condisi declara que “os garimpeiros não respeitam. Desmatam e tiram a terra de nossa vida”. “Durante 4 anos, fomos abandonados pelo governo brasileiro. Por um governo ladrão de jóias. Agora o governo voltou e os profissionais de saúde estão apagando o fogo das emergências pensando em uma restauração”, completa. Ele se refere ao governo do ex-presidente Jair Messias Bolsonaro (PL), que não raras vezes, ao longo de sua vida pública, legitimou publicamente as atividades ilegais dos garimpos.

 

Doença, fome e violência: genocídio em prática

As doenças, a insegurança alimentar, a violência e a morte passaram a fazer parte do cotidiano dos Yanomami diante da negligência do Estado em frear a extração indevida de minérios na região. De acordo com levantamento do Malária Journal, o aumento do número de casos de malária - causa recorrente de mortes de crianças indígenas - na região Yanomami saltou de 2.559, em 2010, para 18.765, em 2020. Sobre a presença da doença na região, o representante da Sesai afirma que a doença contamina até mesmo quem vai em seu combate. “Muitos dos médicos 'adoeceu'. Pegou malária e voltaram (para casa)”, conta. “Mas o importante é que a maioria 'desse' profissionais viram Roraima. Viram o Brasil!”, completa, demonstrando, em sua voz, um misto de preocupação pela saúde dos profissionais e esperança diante da visibilidade à situação de seu povo.

Outro aspecto da presença dos garimpeiros na região é o acúmulo de lixo nas proximidades das comunidades. Por conta disso, os indígenas locais entram em contato com elementos provenientes de fontes aquém da natureza - produzidos com materiais que não se reintegram àquele território. Pelo contrário, o desequilibram e o prejudicam. “Hoje tem lama em todo lugar, os garimpeiros deixaram lixo em todo lugar. Máquinas, latas e lixo”.

O que nos leva a outro problema que compõe esse efeito dominó no descaso com a saúde Yanomami: a fome. A alimentação indígena é, primordialmente, garantida pela natureza por meio da caça, pesca e consumo de frutas. Diretamente afetada pelo uso de mercúrio no garimpo, a água foi contaminada. Com isso, peixes mortos, impróprios para consumo, perdem-se nos rios onde a atividade garimpeira está. “O garimpo destruiu nossos rios. Nossas vidas. As mulheres não iam pescar. Não tinha peixe nem camarão para comer. Mataram tudo, não tinha alimento”, aponta Junior. E questiona, em seguida: “que dia vamos voltar a comer peixe? Voltar a comer camarão? O povo não tem”.

Além da malária e da fome, os indígenas ainda precisavam se proteger de outro perigo. Júnior Hekurari Yanomami denuncia que os crimes cometidos pelos garimpeiros também se estendem à violência sexual. Deixando, ainda mais evidente, o risco que a presença desse grupo não-indígena e extrativista provoca na população local. “O que aconteceu aqui foi muito traumático. Meninas de 12 anos grávidas. Estupradas por garimpeiros. Estamos agregando trauma de mães com luta dos filhos. Deram tiros nas crianças”, expõe a liderança. “Destruíram meu povo. Tem cicatrizes grandes até hoje e vai demorar para curar. Talvez em 50 anos. Quem sabe se cura”, conclui, reflexivo.

 

*Esta reportagem foi produzida como atividade extensionista do curso de Jornalismo da PUC-SP.

Os impactos das mudanças no dia-a-dia dos pacientes e profissionais de saúde
por
Bianca Novais
Maria Eduarda Camargo
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20/11/2023 - 12h

Por Bianca Novais (texto) e Maria Eduarda Camargo (audiovisual)

 

Em um mundo pós-pandemia de Covid-19, os cuidados com a saúde deixaram de fazer parte de uma seção especial dos jornais e passaram a figurar entre os assuntos principais do cotidiano. Com a popularização dos nomes e marcas das indústrias farmacêuticas que desenvolveram e comercializam vacinas contra o coronavírus, a população passou a ficar mais atenta a outras informações sobre os produtos de saúde que consomem, em especial, medicamentos.

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) publicou em 12 de dezembro de 2022 a Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) nº 768, que estabelece novas regras para rotulagem de remédios. Kim Gonçalves, coordenador de Assuntos Regulatório de uma multinacional farmacêutica, nos conta como tem sido o processo de atualização.

 

 

Apesar da Covid-19 ter trazido mais foco para a indústria da saúde e sua regulamentação, a atualização da rotulagem era uma pauta da ANVISA há muitos anos e foi justamente a pandemia que atrasou esse processo.

 

 

 

Uma das novidades que pode ser mais perceptível ao consumidor é a "substituição" da bula de papel pelo código bidimensional: um tipo de código de barras que possui capacidade melhor de armazenar dados, inclusive dados maiores, do que códigos lineares - algo como o CPF de cada unidade do medicamento, um número de identificação próprio -, que poderá ser acessado pelo paciente através da internet.

Este é um ponto de atenção para Kim, uma vez que o acesso às tecnologias digitais no Brasil está longe do ideal. Apesar disso, a substituição é viável para a estrutura informacional que temos no país hoje:

 

 

Outro legado da pandemia, infelizmente, é o uso incorreto de medicamentos e a automedicação. Para além dos conflitos políticos e ideológicos travados durante o período da doença, que vitimou mais de 700 mil brasileiros até a redação desta reportagem, segundo o DataSUS, o perigo do mal uso de remédios não se limita ao indivíduo, mas a toda sua comunidade. A atualização das rotulagens de medicamentos também ajuda pacientes e profissionais da saúde - médicos, farmacêuticos, enfermeiros, cuidadores, psicólogos e muitos outros - a combaterem os efeitos desta outra pandemia - a de desinformação.

 

 

 

 

Os centros acadêmicos mobilizaram um ato de paralisação do corpo estudantil, com apoio da bateria Psicolata e de professores, para reclamar os direitos de formação na Reitoria e em frente à Fundasp
por
Artur dos Santos
Giuliana Zanin
João Curi
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20/10/2023 - 12h

Na última quarta-feira, 18, estudantes e professores dos cursos de Psicologia, Fonoaudiologia, Fisioterapia e Engenharia Biomédica da PUC-SP se mobilizaram contra o bloqueio dos estágios nos equipamentos de saúde do SUS (Sistema Único de Saúde) para o próximo ano. Em nota informativa, formalizada pela Comissão Aberta sobre os Estágios no SUS, estudantes independentes lideram a reivindicação de acesso, com apoio do corpo docente - com direito a aula pública - e a presença de figuras políticas no ato. 

 

É nosso dever reivindicarmos nossos direitos de formação, que é o estágio no SUS, [...] é nosso dever garantir, através da luta política, investimentos pesados em saúde, seguridade social e um ensino popular, pensado pela e para a classe trabalhadora”, declara a Comissão Aberta, em nota.

 

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Alunos dos cursos de saúde da PUC-SP se reuniram na prainha. Foto: Giuliana Zanin

 

Enquanto ecoavam “A nossa luta é todo dia, o nosso estágio não é mercadoria”, os manifestantes estenderam faixas e cartazes em frente ao prédio da Fundasp e também ocuparam a Reitoria da universidade. 

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Os universitários protestam contra a precarização da educação e do sistema de saúde. Foto: Giuliana Zanin

O problema foi gerado a partir de um impasse entre a PUC-SP e a Secretaria Municipal da Saúde (SMS) quanto às contrapartidas oferecidas por instituições de ensino ao órgão. Apesar da entrega de R$176.162,23, a Secretaria determinou que a PUC-SP, por ser uma universidade privada,  deveria pagar R$306.000,00 em materiais e equipamentos hospitalares. A medida vai contra o que normalmente é requisitado de instituições filantrópicas, como é o caso da Pontifícia. 

 

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Estudantes se concentram em frente à Fundação São Paulo (Fundasp). Foto: Giuliana Zanin

Numa tentativa de negociação, a Universidade promoveu a ampliação dos serviços acadêmicos, incluindo disciplinas de graduação, pós-graduação e cursos de educação continuada, além de eventos e projetos educacionais. O objetivo é atender aos requisitos da Escola Municipal de Saúde/SMS, responsável pela promoção dos estágios dos cursos focados no segmento.

Segundo  o atual presidente do Centro Acadêmico de Psicologia (CAPSI), André Sanches, o bloqueio de estágios no SUS é parte de um projeto maior de precarização da saúde pública, que visa colocar o ensino em uma lógica mercantilizada. Para ele, isso “vai contra tudo que nós defendemos aqui na PUC”. O estudante também afirmou à Agemt que a mobilização estudantil no ato representa a urgência do assunto e o descontentamento com o atual ritmo das negociações por parte da Reitoria e da Fundação São Paulo, mantenedora da PUC-SP.

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Os estudantes percorreram as ruas de Perdizes com cartazes e cantos de união. Foto: Giuliana Zanin

A presença de preceptores nos estágios de psicologia também é uma problemática reivindicada pelos estudantes. No início deste ano, os estágios do curso passaram a ser obrigatoriamente acompanhados por preceptores - que atuam na supervisão das sessões realizadas por estagiários -, sob ameaça de processo aos administradores que não os incluíssem em seus turnos. Além disso, os estudantes reclamam da perda de autonomia e da interferência nos métodos utilizados no acompanhamento de pacientes na e condução de casos.

A assessoria de comunicação da PUC encaminhou a reportagem para a Direção da Faculdade de Ciências Humanas e da Saúde (FCHS) da universidade, que declarou em nota ter retomado as negociações com a Secretaria Municipal da Saúde.

"Informamos que reestabelecemos, com bom entendimento, o contato com a Prefeitura Municipal de São Paulo e Secretaria Municipal de Saúde e, ao longo da próxima semana, teremos reuniões para solucionar a questão dos estágios nos campos da SMS".

Procurada, a pasta municipal não respondeu até o fechamento desta edição. O espaço segue aberto para a SMS. 

O estigma social dos medicamentos antidepressivos
por
Cristiane Santos Gabriel
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18/09/2023 - 12h

Por Cristiane Gabriel (texto)

 

Quando se examina a trajetória histórica, desde tempos antigos até o presente, torna-se evidente a existência de analogias entre o que era denominado "melancolia" e a atual definição de depressão. Antes, a melancolia era conceituada por Hipócrates como "melankholia," que se originava de "mêlas," significando negro, e "kholê," referindo-se à bile. Ela era vista como um dos humores presentes no corpo humano, ao lado da bile amarela, do sangue e da fleuma. Qualquer desequilíbrio entre esses elementos corporais poderia potencialmente resultar em "distúrbios."

Se antes era considerada apenas uma alteração de humor, hoje, a depressão é reconhecida como uma questão de saúde pública e denominada a “Doença do Século”, se manifesta por meio de sintomas como perda de interesse e falta de energia, afetando diretamente o bem-estar do paciente e podendo gerar obstáculos no ambiente de trabalho, nos estudos e nos relacionamentos interpessoais. A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que um mínimo de 121 milhões de indivíduos sofrem com essa condição.

Os antidepressivos surgiram como uma abordagem terapêutica para a depressão, porém, não representam a única solução para essa situação. Esses medicamentos agem nos neurotransmissores, uma vez que há evidências de que desequilíbrios nesses compostos estejam associados à depressão.

São muitos os sintomas de quem tem depressão. Alguns podem ter vários, outros podem sentir apenas alguns. Mas, talvez o mais comum seja a indiferença repentina. “Eu me sentia constantemente triste e desmotivado, e até mesmo as atividades que costumavam me trazer alegria não pareciam mais ter significado”, diz um paciente que relutou a usar antidepressivos.

Além do estigma que as doenças mentais carregam, com o medicamento acontece o mesmo. Pacientes têm medo de usar pela disseminação de informações erradas, acreditando que um medicamento diário e que atinja seus neurotransmissores pode mudar sua personalidade: “No início, tomar antidepressivos foi um desafio. Lembro-me de sentir preocupação sobre os efeitos colaterais possíveis e sobre como isso poderia afetar minha identidade”. Não há comprovação científica de que os efeitos colaterais da medicação podem alterar a personalidade de um ser humano.

Outro ponto levantado por pacientes que necessitam dos antidepressivos, é o medo de parecer “fraco” perante a sociedade, como se eles tivessem perdido uma batalha para a própria mente: “É como se fosse um exagero o uso de medicamento, algo psicologicamente ruim, que fosse tirar a realidade do paciente, tirar a limpeza. Usar medicamentos parece fraqueza”, relata a psicóloga Cinthia Souza.

Além do preconceito social para com o uso de medicamentos contínuos, há também quem use os antidepressivos na esperança de que ele, sozinho, vá resolver todos os problemas do paciente: “A medicação destina-se a modular as sensações, mas se a causa do problema segue ativa, o efeito será sempre passageiro. Isso sem falar nos efeitos colaterais. É como você tomar um analgésico, e porque a febre fica controlada, achar que a infecção vai desaparecer. A psicoterapia apoia e provoca mudanças, estas sim, capazes de curar definitivamente os sintomas”, completa a Dra Ana Luiza Ferreira, psiquiatra residente em São Paulo.

Em conversa informal com outra paciente em estado depressivo, ela conta que por acreditar que o antidepressivo por si só resolveria seus problemas, quase desacreditou do tratamento psicológico: “Eu estava convencida de que os antidepressivos eram a solução mágica para todos os obstáculos que enfrentei, no entanto, à medida que os meses passaram, percebi que minha vida não estava se transformando da maneira que eu esperava”, disse ela.

Bloquear canais de recaptação dos neurotransmissores para que eles não voltem ao neurônio que os secretou para a fenda sináptica, que é como agem os antidepressivos, apenas proporcionam a remissão completa dos sintomas, isto é, mantêm a depressão controlada.“Foi nesse momento que minha terapeuta me fez perceber que os antidepressivos eram apenas uma parte do tratamento. Eles eram uma ferramenta valiosa para estabilizar meu humor, mas eu precisava abordar os aspectos fundamentais da minha vida que estavam contribuindo para minha depressão”, seguiu relatando a paciente.

“Com o apoio da terapia, comecei a trabalhar nas áreas problemáticas da minha vida, buscando soluções práticas para meus problemas financeiros e aprendendo habilidades de enfrentamento para lidar com o estresse no trabalho. Gradualmente, percebi que a combinação de tratamento medicamentoso e terapia era o caminho certo para minha recuperação”, finalizou ela.

Podemos dizer que a psiquiatria se iniciou no final do século 18, quando o médico francês Philippe Pinel começou a classificar os doentes separando o que seria um desvio social de uma enfermidade mental. Ele passou a criar uma linguagem que configuraria a nova especialidade da Medicina. Mesmo com centenas de anos de  desenvolvimento e pesquisas, ainda há muita desinformação e discriminação social com as doenças psicológicas, o que atrasa o diagnóstico e tratamento de muitos, perpetuando um sofrimento desnecessário.  A educação e a compreensão são fundamentais para romper esse ciclo prejudicial e proporcionar às pessoas que sofrem com a depressão o apoio necessário para uma recuperação completa e sustentável.

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Os jogos de azar se tornaram um vício recorrente entre os que utilizam esse meio
por
Cristian Buono
Matheus Pogiolli
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02/10/2023 - 12h

Por Matheus Pogiolli (texto) e Cristian Buono (audiovisual)

 

Frequentador do “bar do Pica-Pau”, em São Paulo, Moisés, um homem de 57 anos costuma apostar nas máquinas enquanto joga partidas de sinuca. Ele diz que não pensa em parar de jogar, já que costuma apostar pouco dinheiro e fica satisfeito com o lucro recebido, ainda que pequeno. “Sorte” essa que os amigos do mesmo não possuem, já que muitos apostam o salário nos jogos de azar presentes no bar. Para Moisés, o vício começa na curiosidade.

Segundo o dicionário Aurélio, a definição de vício é "tornar mau, pior, corrompido ou estragado; alterar para enganar; corromper-se, perverter-se, depravar-se". A Organização Mundial da Saúde (OMS) classifica o vício como uma doença de impactos físicos e psicoemocionais. Para muitas pessoas, não é algo que possa ser definido ou explicado, mas sim uma necessidade, algo sobre o qual não se tem controle. É sempre uma forma de compensação ou até mesmo a busca de um falso prazer imediato.


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Foto: Reprodução / Internet

 


Como funcionam os caça-níqueis,,,


As apostas acontecem todos os dias...


Como pensar em parar...


Para Patrícia Pilan, 29 anos, psicóloga, esse comportamento diz muito sobre a necessidade da busca de prazeres, pois, segundo explica, nosso cérebro sempre buscará ter algum tipo de compensação mediante a esforços realizados e, quando isso não acontece de forma equilibrada, natural e saudável, o indivíduo passa a buscar isso em atividades que estimularão esse prazer, seja de forma induzida, através do uso de drogas lícitas ou ilícitas, ou através de atividades que ativam no cérebro o circuito de recompensa e liberam dopamina, gerando sensação de bem estar e prazer.

Uma rotina desequilibrada, a ausência de gestão emocional e a falsa promessa de um ganho rápido financeiro, no geral, são os grandes estimulantes para que uma pessoa entre no vício e permaneça nele. Assim, o que era de vez em quando apenas, acaba se tornando uma necessidade e a atividade causadora do vício vira o tema central da vida do indivíduo. Sobretudo quando se trata de apostas em tempo real.

Com o avanço tecnológico e as incertezas financeiras que tomaram conta de muitas famílias durante e pós-pandemia, os jogos de azar chegaram com mais força nas plataformas online

 

Foto: Reprodução / Internet

Mesmo com a grande frequência de pessoas em bares ou locais de apostas, a Internet também fez com que muitas pessoas se viciassem nesse âmbito sem ter que sair de casa: Um dos tópicos mais presentes no momento, são as apostas esportivas. Para Santa Fé, Beatriz e Arthur, assim como Moisés, o problema foi a curiosidade. Ela fez com que todos eles ficassem viciados em apostar, não importa qual fosse o esporte/tópico.

Com Santa Fé, de apenas 22 anos, o ponto inicial do vício foi apostar em equipes desconhecidas no futebol, puramente com o intuito de lucrar, não importa se com uma análise ou não. Segundo o mesmo, o vício foi aflorado por observar outros amigos ganhando muito dinheiro com apostas. Ele fala, inclusive, que se “emocionou” com os pequenos ganhos, fazendo que o "sarrafo aumentasse" e, consequentemente, ele perdesse dinheiro com tentativas mais ousadas. 


Como tudo começou...


Quanto tudo se aflorou...

 
Foto: Reprodução / Internet

Indo em direção do que disse Santa Fé, Arthur, de 23 anos, confirmou que a emoção por ganhar no começo, fez com que a vontade de apostar mais, aumentasse. Facilidade. Essa foi a palavra definida por ele. Isso porque com a evolução tecnológica, a facilidade em apostar aumentou. Arthur diz que, além de futebol, apostas em basquete, tênis e até mesmo corrida de cavalos se tornou recorrente, aumentando seu vício compulsivo em jogar esses tipos de jogos. 


Facilidade em apostar...


Para Beatriz, de 23 anos, a facilidade também definiu o vício. Sem tanto tempo para análises, a mesma se viu em "grupos de sinais", feitos por diversas pessoas que vendem seu trabalho de mentoria nas apostas esportivas, a fim de trazer diversas pessoas para seus grupos. Por conta desse caminho, aumentou seu tempo de apostas, sem sequer saber no que estava injetando seu dinheiro. O ponto de certeza no vício foi a falta de atenção com outras situações do cotidiano, como trabalhar, estudar ou dormir, por exemplo. 


Quando percebeu que estava viciada...


Facilidade em apostar...


Patrícia explica que a vivência do período pandêmico, o agravamento das incertezas financeiras, juntamente com o aumento do uso da Internet e da divulgação de tais jogos de atividades, aliados com o fácil acesso às formas de jogos que prometem um ganho após a sua utilização, aumentou a busca das pessoas por tais atividades. Hoje vê-se o uso sendo estimulado até mesmo em propagandas de TV aberta, induzindo o indivíduo, mesmo que seja por mera curiosidade, a buscar por esses aplicativos e, o que era para ser apenas uma diversão momentânea, torna-se um problema. 

Um ponto comum a ser ressaltado entre todos é a busca de um ganho financeiro fácil em um curto espaço de tempo, ademais, o indivíduo com a falsa ideia de perpetuar seus primeiros ganhos, os que muitas vezes são permitidos e estimulados por esses sistemas de apostas, e a busca por mais, acaba por convencer-se com a ideia errada de que, se prolongar sua permanência em tais aplicativos ou locais que possuem instrumentos de apostas, conseguirão mais ou, pelo menos, recuperar o dinheiro perdido.

Foto: Reprodução / Internet

Isso também pode ser explicado de forma neurológica, visto que, em sua maioria, seja em ambientes físicos e virtuais, esses sistemas de apostas utilizam de estímulos cerebrais como músicas, atividades, imagens, entre outros, que manterão a pessoa cada vez mais fixada naquela atividade, fazendo com que a mesma perca não só o dinheiro, mas parte de seu tempo ali. Assim sendo, outras atividades da vida desses indivíduos começam a serem afetadas e é assim que o impacto do vício começa a ser sentido por quem o vive. É importante ressaltar que o vício, em sua maioria, é gerado por algum desequilíbrio vivido pela pessoa e não identificado, muito menos, tratado por ela, seja ele emocional ou financeiro, o que acarreta e contribui para que essa falsa compensação financeira e ideia de realização, prenda cada vez mais o indivíduo nisso.  No geral, esses aplicativos e ambientes de apostas, colocam essa atividade como uma “mera” tentativa, ou algo banal, mascarando o grande problema que eles têm gerado na vida de muitos indivíduos e famílias. 


Afim de buscar se desprender do vício, Moisés, Santa Fé, Arthur e Beatriz definem sua fase final no “mundo dos jogos”, como em uma palavra. 


Moisés, diz que continua, tendo em vista o baixo risco financeiro que impõe nos caça-níqueis. Perseverança.


Santa Fé diz que saiu dos jogos de azar por observar que mais perdia do que ganhava. Consciência.


Arthur relata que não conseguia, por muitas vezes, pagar contas. As apostas estavam complicando sua vida financeira. Complicações. 


Beatriz descreve que perdeu tempo com família e amigos, além de citar a perda de dinheiro.


Patrícia Pilan ressalta o fato de os indivíduos não conseguiram reconhecer que tais atividades são danosas até que elas comecem a gerar impactos nocivos que, em sua maioria, são no âmbito financeiro. É necessário alertar que o primeiro passo para o tratamento do vício é que o indivíduo reconheça que há um problema e que o discurso “eu paro quando quiser”, não é a realidade vivida pelo mesmo, visto que a intensidade do acesso aos aplicativos e ambientes de apostas aumenta de forma gradativa e rápida. Ademais, quando os assuntos são apostas online, os aplicativos seja através de aumento das promessas de ganhos e, alertas enviados aos usuários com falsos créditos para as apostas. 

Uma vez que esse problema passa a ser enfrentado pela pessoa, cabe ressaltar que ele jamais será vencido de forma solitária e não passará de um dia para o outro, discurso esse muito utilizado pelos que vivenciam tais problemas. Se não buscar a ajuda de um profissional competente, a chance dele voltar para o vício é significativa. 

O vício entra como uma forma de compensação e, na primeira dificuldade vivida pelo indivíduo, qualquer que seja ela, a tendência do mesmo a buscar aquela fonte de “prazer” novamente é altíssima, fazendo com que ele volte para os mesmos problemas vividos anteriormente. Com o auxílio de um profissional, a pessoa será devidamente instruída e capacitada lidar com todos os gatilhos que a fizeram e fazem buscar por esses programas de apostas e, assim, possa eliminar os mesmos e a pessoa volte a ter uma vida saudável e equilibrada. 

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Entenda porque um item rotineiro pode ser tão prejudicial para esfera ecológica e quais são as possíveis alternativas para frear os impactos negativos, sem que a higiene menstrual seja negligenciada
por
Ana Luiza Pêgo e Sofia Luppi
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15/06/2021 - 12h

Combater a pobreza menstrual é um dos desafios da gestão de políticas públicas globais. No Brasil, uma em cada quatro mulheres não têm acesso a absorventes, de acordo com relatório divulgado pelo movimento Girl Up - uma iniciativa parceira das Nações Unidas (ONU). 

Entretanto, em países como a Nova Zelândia e Escócia, a questão vem sendo endereçada com mais vigor. Em fevereiro de 2021, a primeira-ministra neozelandesa anunciou que as escolas do país vão distribuir gratuitamente o item de higiene. Já o parlamento escocês, no ano passado, determinou que a distribuição de absorventes e tampões seja feita para “quem precisar deles”.

Nos últimos anos, surgiu uma onda de conscientização no que diz respeito à obtenção de absorventes descartáveis. Contudo, colocar este produto como o único meio possível de solucionar a problemática, pode se tornar um transtorno ainda maior no futuro. Visto que os itens de higiene menstrual estão ligados à degradação do meio ambiente, explorar alternativas e possibilidades é essencial para encaminhar resoluções de impacto positivo a longo prazo. 

Para começar, é preciso entender os componentes que estão envolvidos na fabricação deste produto: árvores e petróleo são as duas matérias-primas principais. De forma que a primeira é a origem da celulose e a segunda, é processada e vira diversos tipos de plásticos, por exemplo poli etileno e propileno. Todos estes são elementos usados na composição do absorvente. 

Mãos segurando dois tipos de absorvente.
Dois tipos mais comuns de absorventes. À direita, absorvente interno e à esquerda, externo/Reprodução
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Entretanto, existem três problemas que decorrem da utilização desses dois itens. São eles: geração de resíduos, gasto elevado de energia e fiscalização da origem da matéria-prima, nesse caso a madeira. A National Geographic, em novembro de 2020, publicou uma matéria abordando esse tema. Na reportagem é afirmado que os absorventes descartáveis possuem três tipos de plástico diferentes na constituição. Ainda falando desse material, vale lembrar que os absorventes são envoltos em uma espécie de capa protetora e posteriormente, colocados em outra embalagem. Tanto a capa quanto o pacote são feitos de plástico. 

Em São Paulo, na Escola Politécnica da USP, foi realizada uma pesquisa sobre o ciclo de vida dos absorventes externos. Foi avaliada toda a cadeia produtiva, desde a produção, passando por logística e transporte, até o descarte. Os pesquisadores  concluíram que a pegada de gás carbônico deixada por um absorvente durante seu ciclo de vida é equivalente a 9,6 kg/ano. Prosseguindo com os dados do estudo, os pesquisadores ressaltaram que o algodão é um componente importante desse produto, isto leva ao problema do consumo de água na produção. Estima-se que cada quilo de algodão precise de 20.000 litros de água para ser utilizado como matéria prima.

O Instituto Akatu, que trabalha na área do consumo consciente, fez uma estimativa e afirmou que uma pessoa pode, durante a sua vida, produzir cerca de 200 kg de lixo somente consumindo absorventes descartáveis. Em um raciocínio simples, pensando que a maioria dos componentes do absorvente são plásticos e estes demoram mais de 400 anos para se decompor, cada pessoa pode ser co-responsável pela degradação do ambiente por 4 séculos.

Outro fator importante na etapa do descarte é o destino dos absorventes. A maioria deles é destinada a lixões e aterros sanitários. Nos dois lugares, os produtos passam anos até se decompor e podem acabar contaminando o solo, uma vez que estes contém elementos químicos na composição. Além disso, esses aditivos são prejudiciais para a saúde daqueles que lidam com esse lixo descartado. Vale lembrar que existe um grande número de absorventes que são descartados no vaso sanitário, atitude que contribui para a degradação dos oceanos e ecossistemas.

Como tentativa de resolução, algumas empresas vêm desenvolvendo alternativas e até mesmo a reciclagem desses materiais já começou a ser desenvolvida. No Reino Unido, a empresa “Knowaste” criou uma espécie de usina para reciclar esse lixo higiênico, transformando-o em madeiras ou telhas plásticas. A corporação calcula que nesse processo, 36 mil toneladas de carbono já deixaram de ser emitidas no meio ambiente. 

  Aqui no Brasil, são duas as opções mais comuns. O coletor menstrual e a calcinha absorvente. O primeiro, é mais antigo e comum, já que é prático e possui um interessante custo-benefício. Ele é lavável e pode ser usado por cerca de 10 horas. Uma das empresas que comercializa coletores, em território nacional, é a Fleurity e em seu site, eles garantem que quando bem cuidado, o produto dura 3 anos. Sobre valores, um coletor custa em média R$60 reais, o preço pode variar entre as marcas e modelos. 

A estudante de publicidade, Amanda Ardigó, 20 anos, relatou a sua experiência como utilizadora do produto. “[Minha experiência] foi ótima, sem falar no conforto. É muito melhor do que o absorvente, mais higiênico e você pode ficar mais tempo sem se preocupar com odor.” Quando questionada sobre a motivação da mudança de hábitos, a publicitária afirmou que “Com certeza foi o meio ambiente. Na realidade, foi a melhor opção tanto a longo prazo, na questão sustentável, quanto para o meu bolso.”

Amanda Ardigó. Imagem: Acervo Pessoal.
Amanda Ardigó. Imagem: Acervo Pessoal.

A Fleurity também vende calcinhas absorventes, contudo a empresa que lidera esse cenário é a Pantys. Marca brasileira e fundada por mulheres, a empresa trabalha com diversos modelos da peça íntima. Com opções para todos os gostos (e fluxos), a popularidade das calcinhas absorventes da pantys vêm crescendo. “O problema de acúmulo de lixo é um dos maiores que enfrentamos hoje e Pantys nasceu pensando na raiz desse problema, em reduzir o lixo dos absorventes descartáveis [...] e agora nos preocupamos também com o “depois”, afinal, não existe jogar nada fora, tudo se transforma em alguma coisa.” 

As peças são laváveis, reutilizáveis e prometem ciclos tranquilos e sem vazamentos. Em questão de valores, cada uma custa em média 80 reais. Vale lembrar que os dois produtos são testados, certificados e se utilizados da maneira correta, não apresentam risco nenhum à saúde.

Modelos da marca Pantys. Imagem: Divulgação
Modelos vestindo a marca Pantys. Imagem: Divulgação. 

 

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No Dia Mundial da Voz ouvimos alguns profissionais que utilizam a voz como instrumento principal de trabalho
por
Adriano Madruga, Giovanna Morais de Almeida, Victor Henrique Santos
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10/06/2021 - 12h

Microfones vermelhos pendurados em estrutura de ferro No dia 16 de abril comemoramos o “Dia Mundial da Voz”, dia destacado para reforçar e conscientizar a população sobre a importância da voz, e divulgar informações sobre doenças que possam impactar a fala, auxiliando assim as pessoas a identificarem possíveis sintomas e obterem um diagnóstico precoce.

Diversas profissões têm a voz como ferramenta principal de trabalho, entre elas temos cantores, radialistas, jornalistas, vendedores, fonoaudiólogos, professores, e tantos outros. Apesar de vital, muitas vezes a voz não é cuidada da forma correta, sendo levada ao desgaste o que prejudica as cordas vocais. A professora, Tânia Neves, 55, conta que durante as aulas presenciais os desgastes na voz eram frequentes. “Antes da pandemia trabalhava em período integral numa escola infantil, então o expediente se estendia das 7 horas da manhã até as 5 horas da tarde. Fazia algumas pausas no dia, mas na maioria do tempo estava falando o que gerava muito cansaço vocal. Houve semanas que mesmo com gargarejo, pastilhas e chá de gengibre acabei passando todos os dias rouca” diz Neves.

A professora fala também sobre como tem sido a rotina na pandemia, “Estou dando aulas remotas agora, e para não gerar desgaste nem nas crianças e nem nos pais que acompanham seus filhos nas aulas, reduzimos o tempo de aulas para 3 horas diárias. Em questão da voz isso ajudou muito, já que não passo mais o dia inteiro falando”, conta a professora. É recomendado que professores realizem aquecimentos vocais antes de longos períodos falando, mantenham-se hidratados bebendo cerca de 2 litros de água por dia e não façam refeições pesadas antes das aulas

O Consenso Nacional sobre Voz Profissional informa que cerca de 2% dos professores em atividade já foram afastados por licença médica ou restrição de função por problemas atribuídos a voz. Tânia conta como ‘driblou’ as consequências de horas falando e conseguiu amenizar o dano nas cordas vocais quando dava aulas presenciais, “Depois de alguns dias com dores de garganta passei no médico que me indicou repouso absoluto da voz e aconselhou que adquirisse um autofalante portátil para dar as aulas. Ao retornar as aulas com o autofalante foi um alívio, não precisava mais falar tão alto porque a caixinha de som tinha regulagem de volume e foi uma ‘sensação’ com as crianças, todas ficaram curiosas com o fato da professora dar aulas de microfone agora”.

Em entrevista com a fonoaudióloga Laura Leite, são apresentamos pontos fundamentais de sua profissão e a importância para diversos setores da sociedade, principalmente na comunicação "O Fonoaudiólogo é um profissional da área da comunicação e da saúde, nós nos preocupamos em como melhorar e tratar a voz de nossos pacientes, sem deixar de lado a importância de como ela deve soar! Trabalhamos em diversas áreas e setores da sociedade, e temos um trabalho crucial na hora de ajudar grandes comunicadores no país a transmitir de maneira limpa e clara a mensagem que o maior número de pessoas compreenda".

"Esse tipo de terapia consiste em construir uma nova identidade para a voz da pessoa, através de exercícios vocais e de respiração principalmente, podemos melhorar não apenas a voz em si da pessoa, mas outros problemas como a língua presa, que é extremamente comum no mundo todo, além da respiração em si, que é obviamente crucial a todos nós", conta a Laura sobre a terapia fonoaudiológica.

A fonoaudióloga informa também como é tratar problemas vocais, tal como a gagueira, "Em alguns casos, a cura completa principalmente da gagueira não ocorre, a pessoa pode infelizmente continuar com alguns pequenos "deslizes", mas através de um tratamento que pode levar um bom tempo, o resultado pode sair melhor que o esperado e melhorar muito a comunicação.
O "fanho" e o "gago" ambos passam por um problema latente no mundo todo que é a questão do bullying, principalmente na infância, isso pode causar marcas e problemas psicológicos e sociais que vão muito além da questão da voz, por isso temos uma grande responsabilidade, quando recebemos um paciente que sofre de algum distúrbio, em não apenas melhorar sua comunicação da melhor forma possível, mas integra-lo de uma maneira bem melhor na sociedade."

 No universo artístico, o uso da voz, principalmente entre atores e cantores, é uma ferramenta crucial para o trabalho.

O uso intensivo da voz pode fazer o ator perder uma peça importante e o cantor perder um grande show por exemplo, portanto, os cuidados que ambos devem ter com sua principalmente com suas cordas vocais.

Entrevistamos Tania Maria Barbosa, 50 anos, Tania durante grande parte de sua adolescência e infância cantou tanto em corais da escola quanto em corais de igreja, chegando até a fazer parte de competições de canto com seu colégio na época.

Tania disse que sempre tentou cuidar o máximo possível da voz, evitando de tomar e comer alimentos com temperaturas muito frias ou muito quentes, como sorvete e café respectivamente. Ela relatou ainda que devemos entender a voz como um músculo, e o canto se baseia nas várias formas que esse músculo se movimenta dentro da sua garganta, aliado as cordas vocais, que são a parte mais importante quando se trata da voz e do som que você quer emanar.

O quanto você ouve segundo ela, também é uma parte crucial para não desgastar suas cordas vocais.

“Estar em lugares com muito barulho, faz você desgastar sua voz ainda mais, pois aumentamos o volume da nossa fala, portanto ao aumentar esse tom, aumenta a força com que as cordas vocais tem de se mover e o choque entre elas, assim elas (as cordas vocais) ficam inchadas, gerando a rouquidão”.

Tania acredita que exercícios vocais deveriam ser incentivados para todos, não apenas para aqueles que trabalham com a voz diuturnamente: “Todas as pessoas deveriam saber preservar suas cordas vocais o melhor possível, pois é algo que vai te acompanhar por toda a vida”.

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Operadores de Telemarketing relatam o estresse e os problemas que adquiriram ou pioraram com o trabalho
por
Silvana Luz e Suzana Rufino
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07/07/2021 - 12h

Por Silvana Luz e Suzana Rufino 

Nessa pandemia, muitas empresas demitiram seus funcionários por não terem condições de pagá- los e arcar com as despesas. Porém, há aquelas que não só aumentaram a demanda de serviço como contrataram mais colaboradores, isto é, estão lucrando em meio a pandemia da covid-19, e são eles, os chamados calls centers. Segundo a Sintratel (Sindicato dos Trabalhadores em Telemarketing) as empresas de prestações de serviços empregam mais de 1,5 milhões de jovens e adultos com idade entre  18 e 29 anos. Nota-se que essa forma de trabalho é uma das mais rentáveis no momento,  porém quem ganha  não são os operadores, mas sim as empresas terceirizadas.

A média salarial é sempre de um salário mínimo com alguns benefícios, o horário de trabalho são de 6:20, 6x1 e as áreas são variadas como: ativo, receptivo/sac, híbrida, cobrança, retenção, chat e email. E agora, com essa nova fase da sociedade, essas empresas adaptaram seus serviços de uma forma remota, isto é, migraram seus operadores para trabalharem em casa, disponibilizando máquinas com o sistema já instalado, suporte via  Whatsapp, tudo para o colaborador atender  de uma maneira mais cômoda e eficaz possível. Vendo acima, até parece um emprego tranquilo e com várias atuações,   mas não, pois todos os dias os colaboradores sofrem as pressões absurdas, por que há metas a serem cumpridas em determinado tempo, e muitas vezes, além das cobranças, o assédio moral e até sexual surgem para piorar o contexto. A forma tranquila de se trabalhar com esse ramo nunca haverá, e mesmo com a continuidade de contratações, os operadores continuarão com as mesmas pressões e aumento de serviços.

Essa área é comum entre jovens e adultos na maioria universitários ou já formados, que ao não conseguirem um estágio  ou emprego,  optam por serem Agentes de atendimento, pois é o que tem naquele momento e a única forma de pagarem as contas e sustentar a família. Parece que não há escapatória, e o mais engraçado são que muitos, mesmo depois de formados, continuam os estudos para terem mais chances de conseguir um emprego melhor, mas percebe-se que a crise só piora, o emprego ideal não aparece e o telemarketing é a única opção de sobrevivência. Outra questão pertinente é ao perguntar aos colaboradores quanto tempo de call center, a resposta as vezes assusta, isto é, a maioria responde que já tem anos como operador, passando por várias empresas e sem chance de subir de cargo.

O dia a dia deles são sempre a mesma coisa, afirma a jornalista Renata Mendonça da BBC News Brasil do outro lado da linha, estão clientes irritados pelos problemas causados por uma empresa da qual muitas vezes você não é funcionário e sobre a qual não tem qualquer responsabilidade. No entanto, naquela ligação, é você quem personifica todos os erros   e os defeitos dela e, por causa disso, acaba sendo o alvo da ira de todos aqueles consumidores insatisfeitos. Os xingamentos vão desde "burro", "incompetente" e "ignorante" a até "você não presta para nada, por isso nunca      vai deixar de ser operador de telemarketing". Desligar o telefone não é uma opção, então a única alternativa é                          escutar os insultos calados.  E não dá tempo de respirar. Enquanto você tenta esquecer as ofensas que acabou de ouvir, o telefone toca de novo, e é preciso disfarçar rapidamente e dizer com a voz simpática: "Bom dia, senhor, em que posso ajudar?”.

Dito acima, esse é o cotidiano de vários trabalhadores que atuam nessa área, recebendo todas as reclamações dos consumidores das empresas filiadas, e também ligando para possíveis clientes para oferecerem serviços impertinentes. Segundo Mendonça “O profissional dessa área é frequentemente tachado de "chato" e "odiado" pelas pessoas. Mas, se a realidade é difícil para quem precisa de seus serviços, pode ser ainda pior para quem vive na pele essa rotina. A média de ligações diárias costuma ultrapassar as centenas (cerca de 300 nas 6 horas que trabalham conectados) – enquanto a média salarial dificilmente ultrapassa um salário mínimo, com algumas remunerações variáveis a depender das  metas a serem batidas”.  Apesar do trabalho agora ser em home office, a rotina repetitiva continua  a mesma ou até pior com a alta  demanda de serviço.  E claro, com isso vem o estresse, as dores por todo corpo,  a ansiedade e a depressão. Geralmente, a saúde mental pior  de uma tal forma que levam muitos atendentes a não se fixarem no emprego e terem que se consultar todo mês com o psiquiatra e psicólogo. E também, há aqueles que antes, já possuíam algum distúrbio, e no decorrer da pressão do call center, pioraram e tiveram que se afastar.

Diante desse cenário, o número de doenças diagnosticadas em pessoas que exercem essa função é crescente.  Somente na Região Metropolitana de São Paulo, de acordo com dados do Sindicato dos Trabalhadores em Telemarketing  (Sintratel),  existem aproximadamente 100 mil profissionais nesse segmento. Dados do sindicato relacionados a doenças do trabalho apontam que 36% sofrem de lesão por esforço repetitivo (LER), 30% de transtornos psíquicos e 25% apresentam alguma perda auditiva ou de voz”, relata a Mendonça.

De acordo com psicólogos sociais, depressão, transtorno de ansiedade e síndrome do pânico são algumas doenças/distúrbios   psíquicos desenvolvidos ou piorados por operadores de telemarketing.

É como afirma Letícia Costa de 25 anos, que tinha o dia a dia estressante quando trabalhava na área.“Para mim era uma tortura, só de pensar já fico agoniada. Infelizmente a maioria de meus empregos foram em telemarketing, e pior, por voz. Em meu penúltimo, que também foi em call center, era uma escravidão, fazia várias funções ao mesmo tempo como: cobrança, ativo/vendas, receptivo/sac, suporte técnico, chat e email, enfim, sofria com crises de ansiedade direto. Fiquei por 2 anos, difícil de acreditar, mas não conseguia outro emprego. Na verdade esse foi o meu limite, mas lamentavelmente durou pouco, pois por não conseguir nada em minha área que é em Letras, resolvi me sujeitar ao telemarketing novamente. Já sabia como seria, então não criei expectativas de mudanças nesse ramo, porém como só faria uma função, pensei que seria menos pior, mas não, foi muito ruim. Levantava todos os dias com um aperto no peito, boca seca, ansiosa e desanimada. Segurei por quatro meses, depois disso comecei a ter várias crises em seguida, desmaiava nos transportes públicos, quando tentava ir não conseguia entrar na operação, por que já lembrava dos xingamentos dos clientes, cobranças da supervisora, gritaria no ambiente, falta de ajuda, tudo me apavorava. Sofro de Transtorno de Ansiedade Generalizada há três anos, desde lá tomei diversos remédios, me consultei com psiquiatras, só não pude fazer psicoterapia por falta de tempo e dinheiro. Pedi muitas vezes para minha supervisora me mandar embora, mas era em vão. Empresas como esta não mandam, não se preocupa com o operador, só quer lucrar. Em março, comecei a trabalhar em home office, pensei que diminuiria a cobrança e as ligações, mas não, piorou. 

"As ligações era todo momento, cobrança a toda hora, metas dobradas, por que na concepção deles, estar em casa é cômodo e dá para produzir mais. Me senti um gado, todos os dias levantava com vontade de desistir, porém as contas não perdoavam, tinha que continuar. Chorava todos os dias, rezava para acabar logo, e mesmo em casa, minhas crises não pararam. Por entregar vários atestados em menos de 60 dias, o RH em julho me afastou pelo INSS, ficando 30 dias sem trabalhar. Estava mal, não era só o psicológico, mas meu corpo começava a doer, tudo doía. Em agosto tentei voltar, mas não consegui e me afastaram novamente, dessa vez foi definitivo. Nesse meio tempo, me consultei com um psiquiatra e ele constatou que eu estava com depressão e Transtorno do déficit de atenção com hiperatividade, pois mal conseguia dormir e me concentrar nas atividades. De outubro do ano passado a fevereiro desse ano, o médico mudou meus remédio três vezes e com dosagem máxima. O trabalho, desde agosto estava afastada, recebendo praticamente nada do INSS, me virando de todo jeito para não faltar o sustento de casa, e em maio, pedi as contas. Hoje, o único trabalho que não enfrento é de telemarketing, por que a humilhação, a pressão, a cobrança, os xingamentos que sofri, não desejo para ninguém. Não estou 100%, ainda não consegui fazer psicoterapia, mas só de não estar atendendo, já é um alívio”.

Karen do Carmo, 23 anos, estudante de Fisioterapia, conta como foram suas experiências torturantes em call centers. “Trabalhei em cinco empresas de telemarketing, com salários baixos e humilhações. Todos os dias eu ensaiava para pedir as contas, porém por ter aluguel para pagar, sustentar a casa, pagar a faculdade e me manter, tive que suportar o assédio moral. Por não dar um basta, desenvolvi ansiedade e consequentemente sofri várias crises. Então, tudo virou uma bola de neve, com dívidas acumuladas, assédio dos supervisores, clientes raivosos, meus problemas se juntaram com os dos clientes e supervisores, imagine como estava a minha mente? Um caos!. Houve uma situação, que o supervisor bateu em minha P.A e gritou comigo na frente da operação inteira. Tentei fazer processo para subir de cargo, mas ele não me deixou mudar de setor, pois muitos supervisores tem a sua “panelinha” e essa era uma chance única para eu ganhar um pouco a mais, porém não fui ajudada, o supervisor me odiava. Daí, minhas crises de ansiedade foram aumentando e nessas cinco empresas de call center tive que pedir as contas. De tanta crises comecei a passar em psiquiatras, o primeiro me diagnosticou com Síndrome do Pânico. No decorrer dessas companhias, houve momentos que eu não aguentava com tanta ansiedade e pedia para ir embora. Quando eu entrava no transporte público, não conseguia descer no ponto ou na estação, pois eu ficava paralisada, me dava crises de pânico só de pensar que estava chegando na empresa. E o mais frustrante é que a maioria das saídas ocorreram em 2019. No ano de 2020, fiquei desemprega por várias meses para me tratar, mesmo assim enviava currículo para as empresas, mas o salário sempre era o mínimo, e hoje em São Paulo, é impossível sobreviver com um salário quando se tem família para sustentar. Enfim, desejo que as empresas de telemarketing um dia sejam humanizadas, pois se seguirem assim, coitados dos operadores”.

Stéphanie Freitas, 21 anos, formada em radiologia, fala sobre sua rotina estressante em call center e o dilema em lhe dar com a ansiedade. “Já trabalhei de tudo um pouco, menos em call center, mas em outubro de 2019, apareceu uma vaga para trabalhar com SAC 6x1. As pessoas me falavam como era ruim trabalhar em empresas de prestações de serviços,  pois os funcionários, além de não serem valorizados, não ganhavam muito bem. Hoje, percebo que o call center  serve como um quebra galho, por que fazer carreira ali, é quase impossível. Pensava que sairia logo, mas ainda continuo. Já faz um tempo que não atendo, pois me colocaram  para auxiliar os atendentes, enfim, está mais tranquilo para mim, porém para os operadores aumentaram a demanda de  atendimento e serviços, notei isso pelo número de pedidos de auxílio. Referente a distúrbio, sofro de Transtorno de Ansiedade Generalizada, mas hoje me controlo mais que antigamente, pois  no começo, cheguei a passar mal e ser afastada por quase duas semanas”. Sofrer disso é ruim demais, por que atrapalha a sua vida, não dá para se concentrar nas tarefas e no trabalho. Infelizmente conheço vários que sofrem disso, inclusive no trabalho, sendo que algumas dessas pessoas se afastaram devido a piora no quadro. Agora com a pandemia, creio que as crises de ansiedades nas  pessoas aumentaram, inclusive aqueles que trabalham  em call center pois a demanda de trabalho cresceu e  muitas as vezes não temo suporte adequado para ajudá-los. Para quem precisa de uma renda urgente e não encontra emprego em sua área,  as prestadoras de serviços são as únicas portas imediatas, foi para mim e é para vários formados ou cursando faculdade. Nesse ramo é impossível não contrair algum distúrbio/doença ou piorá-lo, há raridades que conseguem não adquirir, porém é um parte muito pequena. Seria ótimo se todos formados e os que estão cursando arrumassem um emprego em sua área, assim o mercado seria configurado pela paixão ao trabalho, não apenas por obrigação”.

O doutor em Psicologia Social e professor associado da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo no Programa de Estudos Pós-graduados em Psicologia Social (PSO) e na graduação do curso de psicologia da Faculdade de Ciências Humanas e da Saúde, Odair Furtado diz  que nesse ramo não há uma forma de manter o equilíbrio mental. “Para falar a verdade, não existe saída, os trabalhadores sofrem. Alguns conseguem aguentar a pressão da empresa, sem afetar muito o psicológico, outras não conseguem e pedem para sair. Muitas pessoas não conseguem arrumar um emprego em sua especialidade, por conta da crise, optam trabalhar em uma empresa que foge de sua profissão, são alternativas para pagarem as contas e sobreviver. Esses indivíduos criam certa resistência e por mais tenso que seja, conseguem driblar as pressões diárias do trabalho. Infelizmente, hoje  uma epidemia    de pessoas com depressão, principalmente as que  prestam serviços, como o telemarketing.  Essa epidemia foi constada quando os indivíduos pedem afastamento do trabalho para se tratarem. A LER (Lesão por esforço  repetitivo), se sobressaí, pois os traumas não são só psicológicos, mas também físicos como: perda da audição,  tendinite por digitar demais, dores por todo o corpo etcTempos atrás saiu uma matéria referente às pessoas graduadas que não  conseguiram arrumar emprego em sua especialidade, por isso opta por empregos alternativos, um deles é o telemarketing. Esse ramo é um destruidor de saúde mental e as histórias são horrorosas. Outro aspecto, é o assedio moral, fator que prejudica ainda mais o psicológico do individuo. Infelizmente o assedio moral e sexual é uma política comum em muitos ambientes de trabalho, geralmente as pessoas que sofrem com isso estão em uma situação vulnerável, isto é, se reclamarem vão para o olho da rua, e por ter família para sustentar, suportam”.

“Com o país em crise, o medo de perder o emprego é tão grande que a pessoa se submete a situações conflituosas no trabalho. Por já haver ficado sem trabalho há algum tempo, e por ter sido complicado arrumar o atual, o trabalhar assediado não tem escolha, suportar os insultos calado, pois tem receio de ser dispensado. Esse ato é um “crime” sistemático em algumas empresas. Há uma síndrome que se chama burnout e que é típico dessa situação. Por conta do cotidiano desgastante e assedio moral/sexual no trabalho, individuo começa a ficar deprimido, desmotivado, não crer mais em si, não tem força para combater o abuso,  enfim, seu psicofísico reage retroativamente. Quando chegam ao estado acima, muitos ou descontam nas pessoas ou ficam paralisados, afetando todos os sentidos da vida, e quando acha que não tem jeito de sair dessa situação, se suicidam. Esse tipo de trabalho é total desgastante, tudo é controlado e a produção não pode parar, esse é um dos piores empregos que existem, só perdem para os trabalhos escravos. Uns se apropriam e consegue subir de cargo, outros  ficam por que não há   alternativa,então, aguentam até não puderem mais, pois já estão destruídos fisicamente e psicologicamente. Quando se entra nesse ramo, não há tratamento psicológico que ajude. Não adianta se consultar com psicoterapeutas, psicólogos, psiquiatras   que não vai adianta. O único jeito é sair o mais rápido possível trabalho. O Brasil em telemarketing só perde para a Índia e EUA, no quesito de acumulação de doenças mentais e físicas nos operadores. Infelizmente não  escapatória”.

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"Eu acredito que isso tem que ser falado, ensinado, porque é só com discussão que podemos pensar em organizações comunitárias", afirma Victoria, diretora de mídias sociais do Absorvidas
por
Beatriz Loss, Fernanda Fernandes e Giovana Yamaki
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04/06/2021 - 12h

 

Projeto Absorvidas RJ
Projeto criado por jovens mulheres para exterminar a pobreza menstrual nos presídios do RJ

 

Fizemos uma entrevista com integrantes do projeto Absorvidas, do Rio de Janeiro, que é uma organização sem fins lucrativos que visa erradicar a pobreza menstrual nos presídios do Rio de Janeiro, levando educação menstrual e absorventes de pano. No ano passado, o projeto Absorvidas fez uma campanha de arrecadação na internet para doar dois mil absorventes de pano e educação menstrual para uma penitenciária no Rio. Elas conseguiram arrecadar 30 mil reais em 17 dias. As respostas são da Victoria Escalcon, diretora de mídias sociais do projeto.

AGEMT -  Como surgiu o projeto Absorvidas?

Absorvidas - O projeto surgiu a partir da Giullia Jaques, que é diretora executiva e uma das oito integrantes do projeto. Ela conta que teve essa ideia do Absorvidas por causa de uma palestra de uma ONG chamada X-runner, que fornece vasos sanitários, e ela falou que ficou muito mexida com uma fala deles. “O que você faz quando abre os olhos de manhã?”, eles perguntaram, e aí vieram as respostas como “vou ao banheiro”, “mexo no celular”, “me espreguiço” etc. E então eles perguntam “o que você faria se não tivesse um banheiro?” e foi aí que ela ficou comovida. A partir daí, a Giullia começou a refletir e então surgiu o questionamento: quem não tem acesso ao absorvente e como é que essas pessoas vivem?

Depois disso, houve bastante pesquisa, também através de livros como Prisioneiras, do Dráuzio Varella e Presos que Menstruam, da Nana Queiroz. E então o projeto surgiu em 2019. O Absorvidas é mais que um projeto para levar absorventes, primeiro porque nós temos uma pauta mais voltada a absorventes biodegradáveis, pensando nessa questão da ecologia e segundo porque a nossa meta a longo prazo é a ressocialização das presas, porque muitas delas, quando saem da cadeia, não conseguem empregos e ficam muito vulneráveis, e acabam voltando para a cadeia. Então, o Absorvidas faz com que as próprias presas aprendam a fazer os bioabsorventes, de pano, para vender. É muito mais do que oferecer auxílio, é oferecer também perspectiva dentro de um sistema em que as mulheres são marginalizadas e esquecidas.

AGEMT - Por que vocês decidiram estabelecer a meta de 30.000 reais na arrecadação?

A - Os 30 mil reais foi um valor pensado pelo custo da logística como, por exemplo, o frete, os bioabsorventes, embalagens etc. Foi tudo pensado direcionado para um presídio específico, para mulheres específicas.

AGEMT -  Você acha importante que a questão da pobreza menstrual seja ensinada para crianças (pré-adolescentes no início da vida menstrual)?

A - Sim, com certeza. Eu acredito que a pobreza menstrual tem que ser falada, ensinada, porque é só com discussão que podemos pensar em projetos. Sejam projetos governamentais ou um projeto como o nosso, que são apenas jovens tentando fazer a sua parte. Então eu acho muito importante e, quando penso nessa questão do ensino, acredito que não só falar sobre pobreza menstrual, mas também sobre educação menstrual. E não só isso, falar também de educação sexual. É chocante como não falamos com naturalidade sobre a nossa menstruação e estamos sempre coagidas com tudo. Isso é muito triste, porque é só a partir do diálogo que realmente haverá alguma mudança e não só o diálogo entre quem menstrua, mas entre os que não menstruam também.

 AGEMT -   Como a pobreza menstrual pode afetar também a questão econômica? (porque, por exemplo, muitas mulheres, quando estão menstruadas, não vão ao trabalho/aula por falta de absorvente)

A - Como vocês falaram, muitas mulheres que estão menstruadas muitas vezes não conseguem ir para o trabalho ou para a escola e também tem a questão da dor, da cólica, da TPM, que muitas vezes é desprezada. Lembro que eu gastava mais de 50 reais para comprar dois pacotes grandes [de absorventes descartáveis] e que às vezes não duravam nem dois ciclos inteiros porque meu fluxo é muito grande. E o que são 50 reais para uma família com várias pessoas que menstruam? A gente vive em um país que tem um monte de gente passando fome, como vamos pensar em métodos de menstruação com gente passando fome? Isso é bizarro, porque as pessoas ainda acham que higiene menstrual é um luxo, mas na verdade é só higiene básica. É muito triste.

AGEMT - Qual a importância do projeto de lei da 428/2020, da Tabata Amaral?

A - Eu acho bizarro como só em 2020 essa pauta foi levantada com mais força. Isso chega a ser ridículo, porque nós não começamos a menstruar agora. Preservativos sempre tiveram né [sempre foram disponibilizados pelo governo], e é muito importante continuar tendo mesmo, mas não ter sido implementado nada sobre absorventes antes é bizarro. Isso mostra a vulnerabilidade que mulheres e pessoas que menstruam, de modo geral, sofrem.

 AGEMT - Além do projeto de lei da 428/2020, da Tabata Amaral, existe algum outro movimento do governo para combater a falta de acesso a absorventes higiênicos?

A - Existiu um outro projeto da Luciana Genro, do PSOL, no Rio Grande do Sul, para que absorventes fossem colocados em cesta básica, e acho que no Rio e no Mato Grosso também. Mas, no Congresso, essa discussão nunca teve tanta força, acredito que esteja começando a ter nesse momento com a internet e os debates que são levantados lá.

 

Leia mais sobre pobreza menstrual aqui.

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Estado norte-americano, que já aplicou mais de 37 milhões de vacinas, segue orientação do Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos. Brasileiros que moram no país estão na expectativa para a nova fase
por
Marcelo Moreira
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04/06/2021 - 12h

O Estado da Califórnia, nos Estados Unidos, anunciou que planeja suspender a obrigatoriedade do uso de máscara, conforme recomendação do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC, na sigla em inglês). Um informativo oficial afirma que a expectativa é de que isso aconteça no dia 15 de junho. A medida vale só para as pessoas que já tomaram as duas doses da vacina contra a Covid-19.

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covid19.ca.gov

Com quase 40 milhões de habitantes, segundo o Departamento do Senso dos Estados Unidos, 37.826.298 doses de imunizantes contra a Covid-19 já foram aplicadas no estado, de acordo com o governo, ou seja, mais da metade da população já está vacinada. Enquanto isso, cresce a esperança para o fim das restrições e a volta à vida normal.

Maria Holtz
(Foto: arquivo pessoal)

Para a jovem brasileira Maria Holtz, de 22 anos, que trabalha como au par (programa de intercâmbio de inglês onde se trabalha como babá de crianças na casa que reside), no Vale do Silício, na Califórnia, o novo momento é sinal do cumprimento de medidas de prevenção seguidas pelos moradores da região. “Eu fiquei bem feliz ao saber que o uso da máscara não será mais obrigatório. Aqui, as pessoas seguem, desde março de 2020, com o uso de máscara, de álcool em gel, e distanciamento social. Lembro de um dia que eu estava no supermercado e eu cheguei mais perto de uma pessoa e ela ficou brava comigo.

Os restaurantes ficaram fechados todo esse tempo e voltaram a abrir no final de dezembro do ano passado”, afirma Holtz.  Mesmo com a pouca idade, Maria já conseguiu tomar as duas doses da vacina contra a Covid-19, o que não seria possível no Brasil por conta do atraso da imunização no país. Ela conta que a situação brasileira em relação à pandemia repercute negativamente sempre que há pronunciamento do presidente Jair Bolsonaro. “Quando o Bolsonaro fala alguma coisa, as pessoas não gostam, até porque a Califórnia é muito focada no Joe Biden, que é totalmente oposto ao presidente brasileiro”, ressalta.

De acordo com dados do Governo da Califórnia, 62.092 pessoas já morreram em decorrência da Covid-19 no estado, desde o início da pandemia. Investindo em ciência, os Estados Unidos vacinam com os imunizantes da Pfizer/BioNTech, Moderna e Janssen (Johnson & Johnson). Para a jovem Maria Holtz, uma única certeza: “a vacina salva”. “É preciso um pouco de estudo sobre o cenário atual, um pouco de respeito, porque aqui também não foi fácil. O comércio também fechou. O recado é: tome vacina, porque ela, realmente, protege do vírus”, finaliza Holtz. 

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