Estamos preparados para perder alguém próximo? Como pensar na vida sem aquela pessoa importante? O choque, a negação, a angústia, a saudade, a tristeza, o sofrimento… Tantos sentimentos pairam sobre o ser humano e muitos não sabem lidar com a falta de alguém que era muito importante. A dor, que nem sempre é só emocional, mas também física, assola pessoas de diversas idades. E isso também não importa, a faixa etária, o parentesco com a pessoa ou o último contato com ela. Todos têm sua fase do luto e cada um reage de uma forma.
A pessoa enlutada pode ter cinco estágios durante esse processo: a negação, a raiva, a barganha, a depressão e a aceitação. Não necessariamente nessa ordem, cada indivíduo se vê nesse mar de sentimentos e alguns não sabem qual é o protagonista do momento. Mas eles sempre aparecem.
Assim aconteceu com Diogo Amaral, de 20 anos, ao perder sua tia Natalia Nogueira Gusmão, há oito anos, para uma das doenças mais cruéis que existem: o câncer. Ele sabia que o estado dela era grave, mas sempre acreditou que ela ia se recuperar. “Minha ficha demorou pra cair. Quando recebi a notícia do meu pai, até falei ‘Para de brincar, pai’.” Ele não sabia, mas já estava no estágio da negação.
Quando toca no assunto, Diogo fica mais reflexivo. Olhando para um ponto fixo, ele relembra os momentos em que eles passavam juntos, de como ela o apoiava na carreira futebolística e do quanto seria importante para ele que ela visse suas conquistas. “Era uma pessoa que me ajudava demais. Me ajudava para que eu desse passos maiores na minha vida. Era uma pessoa que eu queria muito que tivesse próxima para ver que eu joguei duas Copinhas [Copa São Paulo de Futebol] e participar desses momentos.”, afirma.
Seus olhos brilham contando como sua família é unida e ao relembrar dos momentos alegres com sua tia, das conversas entre eles, ao dizer que ela foi a pessoa que o ensinou a mostrar o dedo do meio pela primeira vez e ao falar das brincadeiras entre os dois, ele sorriu, inclusive com os olhos. Mesmo sendo um assunto que ele pouco fala, pois entende que foi sua maior perda, ele está mais conformado hoje em dia. Após um suspiro fundo, ele relata que o período mais difícil desse processo foi a aceitação. Cair a ficha de que alguém que ele amava não estaria mais no seu dia a dia dando carinho, não participaria mais da sua vida e que ainda tinha muito para viver e se foi muito cedo, o machucou por muito tempo. “Foi um choque de realidade. Pra mim foi complicado lidar com esse momento, porque é um momento muito dolorido, de muita dor, tanto na saúde mental quanto na física”, completa Diogo.
Assim como ele não estava preparado para perder sua tia, mesmo sabendo que o caso dela era delicado, cerca de 48,6% dos brasileiros não estão prontos para lidar com a morte de outra pessoa, segundo pesquisa realizada pelo Studio Ideias e encomendada pelo Sindicato dos Cemitérios e Crematórios Particulares do Brasil (Sincep), em 2018. Os dados mostram também que 30,4% não sabem como ou com quem falar sobre morte. E isso mostra como o tema é um tabu em nossa sociedade. Apenas 21% dos jovens discutem o tema e o assunto não fica muito mais recorrente ao longo da vida. Dos brasileiros com mais de 55 anos, apenas 32,5% conversam sobre a morte. Entre as mulheres, o tema é ligeiramente mais recorrente: 29,3%.
Já que as mulheres falam um pouco mais que os homens sobre o tema, Orciça Gomes Barbalho e Bruna Oliveira - mãe e filha - relataram seu período de luto e como foi o processo ao perderem, em 2019, Argemiro Dias de Oliveira, seu esposo e seu pai, que faleceu de infarto.
Foi um período muito difícil para toda a família. Bruna sempre foi muito próxima de seus irmãos por parte de mãe, da sua mãe e principalmente do seu pai. Ela se alegrava muito e seus olhos brilhavam ao lembrar da época em que eles se falavam todos os dias e mesmo ela já sendo adulta, seu Argemiro fazia questão de saber se ela tinha almoçado no trabalho, se ela estava bem, se tinha chegado bem em casa etc. Ela conta que foi um choque enorme e que o sentimento de perda de um ente querido é inexplicável, mas confessa que não demorou tanto para que a ficha caísse. O estágio da aceitação não demorou a chegar. “Mesmo sendo algo muito difícil, já estava de alguma forma me preparando por conta da idade do meu pai e a ordem natural das coisas”.
Para ela, os primeiros três meses foram mais difíceis, pois sentia falta, lembrava dele a todo momento e até sua rotina mudou. Mas consegue analisar e perceber que seu psicológico se tornou mais estruturado com toda a situação, pois esteve tratando de todas as questões burocráticas do pós e isso a deixou mais firme emocionalmente do que abalada pelo processo. Ela fala com entusiasmo sobre sua família e completa: “passei a ter uma visão de aproveitar o máximo dos momentos com as pessoas, de cuidar, de não me deixar abalar pelas coisas da vida e dar prioridade para a família”.
Na pesquisa do Sincep, 17% dos entrevistados declararam não gostar de deixar transparecer seus sentimentos. Bruna conta, de certa forma aliviada, que não se enquadra nesse número, pois não tem problemas em falar sobre, mas sempre se mantinha forte por sua mãe e se permitia chorar nos momentos mais reservados para que não abalasse mais dona Orciça.
Hoje, com 36 anos, ela conta entusiasmada que o espiritismo a ajudou a entender e acolher o próximo após essa perda. “Acredito que estamos nessa vida só de passagem e que um dia iremos encontrar nossos entes queridos em outro plano. Por conta da religião, sinto que sou mentorada e guiada pelo espírito do meu pai e sempre que preciso, ou recebo uma mensagem de acalento ou tenho sonhos onde vejo que ele está muito feliz e sereno e isso acalma o meu coração!”, ela afirma. Bruna reconhece que o processo foi bem mais difícil para sua mãe, que ainda tem “sequelas” da perda de seu marido.
Dona Orciça é mãe de quatro filhos: um homem e duas mulheres do seu primeiro casamento e Bruna do seu segundo matrimônio, com Argemiro. Sempre batalhou por eles e corria atrás de suas coisas. Foi um baque muito forte perder aquele que compartilhava a vida com ela por cerca de 40 anos. Ela relata, com a voz embargada, que foi em seus braços que seu marido deu seu último suspiro. Ela ficou desesperada, pediu ajuda dos vizinhos, que prontamente chamaram os bombeiros, mas nada mais poderia ser feito. No velório e no enterro, ela fala que estava extremamente triste, mas não demonstrava isso. Dias depois, ela chorava muito, pois o sentimento de saudade da sua companhia diária apareceu. Seus sentimentos já estavam aflorados e os estágios do luto estavam se manifestando. O sentimento de solidão estava presente, mesmo que seus filhos, netos e amigos prestassem apoio a ela. “Eu sentia muita falta dele, pois era quem eu convivia todos os dias”.
Dona Orciça começou a apresentar ansiedade, que piorou quando seu irmão faleceu um mês depois de seu marido. Tudo isso auxiliou para que o luto não cessasse e sim tivesse mais um motivo para se mostrar presente. “Senti muito quando meu irmão faleceu. Ele estava debilitado, mas não estamos prontos para perder alguém”, ela afirma.
Após esse acontecimento, um efeito dominó surgiu na vida dela. A ansiedade afetava o refluxo, que causava acidez no estômago, não permitindo ela de ter boas noites de sono, vários episódios de insônia, dores pelo corpo e as preocupações diárias. Idas aos médicos são constantes, pois com a idade, ela precisa ter esse acompanhamento. Mas ela fala com bom humor: “tenho vontade de parar de ir ao médico, porque parece que sempre tem algo diferente e não resolve”, diz ela rindo. Prestes a completar 77 anos, ela transparece estar um pouco mais conformada com a perda, mas também reconhece que isso afetou seu psicológico e consequentemente, seu físico. Se lamenta por “dar trabalho” aos filhos e netos que a acompanham nas consultas, mas agradece por isso. Em maio de 2024, teve outro baque: mais um irmão veio a falecer. Dessa vez, ela parecia estar aceitando mais a perda se compararmos com as anteriores. Mas dias depois, seu corpo deu sinais de que havia mexido com ela. Tontura, mal-estar, enjoo, um compilado de sintomas que podem sim estar atrelados com o ocorrido. “Acho que com a perda do meu outro irmão e eu ter comido algo que não fez bem, ajudou a causar esse mal-estar”.
Dona Orciça sempre foi uma mulher de fé. Assiste às missas, vai à igreja e também acompanha sua filha Bruna em centros de Umbanda, reconhecendo que isso a faz bem também e a ajudou em alguns momentos. “Gosto de tomar um passe e conversar com os guias, sinto que preciso”, ela afirma.
É possível ver que o luto se manifesta nas pessoas e cada uma lida com ele de uma forma. Cada indivíduo tem seu tempo e sua forma de passar pelo processo. Tudo depende da situação. Segundo a pesquisa de 2018, cerca de 82,4% dos brasileiros acham que não tem nada mais sofrido que a dor da perda de alguém. Isso nos faz refletir a frase que muitos falam na hora de prestar condolências ao outro: “não consigo imaginar a dor que você está sentindo”. E a realidade é essa, não sabemos o quão dolorido está sendo para aquela pessoa, pois cada um tem sua experiência. Além disso, fazer com que o assunto seja mais frequente em nossa sociedade pode ajudar para que mais pessoas estejam preparadas para esse momento que é certo em nossas vidas ou até saber como agir nessa ocasião, já que 73% dos brasileiros acham tabu falar sobre a morte. Tornando esse tipo de conversa mais comum, as pessoas irão ver que está tudo bem não estar bem, está tudo bem ter saudade, chorar, pois não é fácil esquecer alguém que marcou nossa trajetória.
Esta matéria foi produzida como parte integrante das Atividades Extensionistas do curso de Jornalismo da PUC-SP.
lr, plataforma de blogging que permite aos usuários publicarem textos, imagens, vídeo, links, citações, e áudio, alcança sua maior popularidade. Lá era o lugar onde adolescentes que se sentiam diferentes dos demais, costumavam ir para se conectar com outros jovens passando por problemas parecidos. , links, citações, e áudio, alcança sua maior popularidade. Lá era o lugar onde adolescentes que se sentiam diferentes dos demais, costumavam ir para se conectar com outros jovens passando por problemas parecidos.
Jaquetas jeans, calças pretas “skinny” rasgadas e camisetas de bandas, eram o uniforme dos jovens presentes no Tumblr. O modelo e influenciador digital, Lucas Pegoraro, também conhecido pelo seu nome de usuário nas redes @sugarrluck, revela que o Tumblr aflorou sua criatividade na hora de se vestir e impactou demais sua relação com a moda. As meninas, também usavam coroas de flores, minissaias xadrez e podiam ser encontradas em suas mãos letras de músicas tristes de artistas influentes na rede, como: Artic Monkeys, Lana Del Rey, Marina and the Diamonds, The XX, Lorde, The 1975 e Sky Ferreira. O gênero musical indie pop, teve grande influência no estilo dos adolescentes presentes no Tumblr e na estética soft grunge – mais do que uma estética visual e sonora – influenciava jovens a falarem abertamente de maneira melancólica sobre sua depressão e seus pensamentos suicidas.
Os usuários costumavam a publicar letras de músicas, imagens e até relatos sobre suas vidas que faziam uma certa romantização do transtorno depressivo. O Tumblr era obcecado pela estética da “garota triste”, consiste em jovens mulheres deprimidas ou à beira da loucura, que possuem comportamentos autodestrutivos – faziam uso de drogas, álcool e cigarros. Ela também está presente no mundo musical. Em 2014, a cantora Lana Del Rey, lançou seu terceiro álbum de estúdio chamado “Ultraviolence”, presente nesse álbum estava a canção “Sad Girl”, que como a cantora colocou em entrevista para a Genius “a faixa é sobre ainda ser uma garota triste, que há coisas que estão fora de seu controle e também é sobre ela fazer coisas que quer, ao invés do que deveria fazer”. Lana, que ganhou popularidade graças ao Tumblr em 2012, é uma artista que transforma suas tristezas em músicas, que acabam ressoando com muitas pessoas, especialmente com essas jovens. Ela canta como se a depressão fosse algo que ela aproveitasse de alguma forma. O que influencia meninas, para o bem ou mal, a reformular como elas veem a depressão, vendo como algo que não é debilitante e sim algo artístico ou necessário.
Até hoje, podemos ver essa estética presente no estilo e comportamento de jovens mulheres e recém adultas. Em 2023, usuários da rede social TikTok, criaram o termo “bed rotting”, algo que muitos costumavam chamar de procrastinação, foi batizada pela geração Z como “apodrecimento na cama”, que consiste em ficar horas após acordar, deitado na cama mexendo no celular, ouvindo música, vendo filmes ou até lendo. Esse comportamento pode piorar sintomas de ansiedade e depressão e a “garota triste” - ainda presente nos dias atuais- tem também esse tempo para ficar deitada na cama não fazendo nada de produtivo. O conceito da “garota triste”, não é novo. Ao longo da história e da literatura, já foi muito explorado por autores como Shakespeare, Sylvia Plath e Virginia Wolf. Lana Del Rey posa em frente a bandeira dos Estados Unidos (Foto: Getty Images)
A escritora Pip Finkemeyer, escreveu um artigo para a Harper´s Baazar, com o título que faz analogia a música “Sad Girl” da Lana Del Rey, “Garotas tristes, garotas loucas, garotas más: A evolução da tropa literária”, no qual ela discorre sobre o ganho de popularidade de livros com protagonistas femininas depressivas e problemáticas. Ela diz que essa personagem é geralmente branca, privilegiada – para que ela tenha tempo de “apodrecer na cama” - e pertence a geração millenium – que foi a geração mais presente durante o pico do Tumblr. Nesse artigo, ela diz a frase “A internet está cheia de pessoas expressando ou performando uma tristeza, não literal, mas sim uma estética dela, para ser trocada por simpatia e identificação”. No Tumblr, foi popularizado por essas comunidades, o compartilhamento de sintomas psicológicos, diagnósticos e a exposição de familiares e amigos que queriam ajudar essas pessoas a melhorar mentalmente, eles que ninguém mais os entendia, então, muitas pessoas que não possuem depressão mas são extremamente impressionáveis, ao serem expostas a esse tipo postagens de pessoas romantizando transtornos mentais, elas podem sentir que para ser interessantes elas precisam ter algum tipo de transtorno mental, já que todos estavam se conectando pelos seus problemas. Além de pessoas que sofriam de problemas psicológicos, poderiam sentir que a depressão era o que tornava elas interessantes.
O influencer Lucas Pegoraro, diz que já caiu em perfis de jovens meninas que praticavam automutilação e compartilhando mensagens negativas. “Era uma coisa muito glamourizada, uma coisa maluca!” diz. Ele sentia que pela quantidade que ele consumia daquelas postagens, aquilo começaram a afetá-lo. “Ser triste era um glamour”. Hoje, Lucas nos diz que olha para isso e vê a problemática.
A volta do Tumblr
Hoje, uma das redes sociais mais usadas pelos jovens é o TikTok, onde são compartilhados vídeos curtos. O aplicativo tem tanta influência na geração atual, que chega a popularizam as tendências de moda e comportamento. Nessa rede, a hashtag “2014 Tumblr”, tem mais de 126 milhões de visualizações, provando que a fascinação por essa era está crescendo novamente, mas por quê?
A nostalgia é um sentimento melancólico que aparece quando relembramos experiencias passadas que nos são significativas. Quando passamos por grandes mudanças na vida, sentimentos de tristeza tendem a ser gerados ao lembrar-se de quando tudo era mais simples e com menos desafios. Então, esse sentimento de nostalgia se apresenta quando queremos de volta o período das nossas vidas em que tínhamos menos preocupações, suporte emocional e que a diversão ainda era inocente. Existe um fenômeno psicológico chamado de viés de efeito de desvanecimento, em inglês chamado de “Fading Affect Bias” (FAB), que consiste em nosso cérebro enxergar as memórias adquiridas ao longo da nossa trajetória com um filtro e escolhermos o que guardar de determinadas experiências, isso acontece por conta do fardo de termos de carregar nosso passado conosco, mesmo ele possuindo eventos tristes e doloridos, e isso seria insuportável se essas memórias doessem tanto quanto a experiência em si.
Existia uma teoria de que tendências de moda costumam voltar após de 10 anos de seu pico, o que costumava acontecer a cada 20 anos e de acordo com a WGSN, autoridade em previsões de tendências, de que devido ao consumo da sociedade andar tão acelerado, isso está inclinado a diminuir cada vez mais. Essa teoria é comprovada ao abrir o Instagram e se deparar com uma postagem da cantora e uma das maiores influenciadoras do TikTok, Addison Rae, segurando um IPhone 5 – celular de desejo no início da década passada - em frente ao espelho e aplicado um efeito muito popular durante os primeiros anos da criação da rede. Influenciadora Addison Rae em frente ao espelho com seu novo Iphone 5 (Foto: Addison Rae/Instagram)
“Eu super estou voltando a consumir esse conteúdo, inclusive até entro no Tumblr para pegar umas referências, também para fugir um pouco dessa bolha da internet que está tudo a mesma e nada muda” diz o influenciador Lucas Pegoraro a respeito da reascensão da estética presente na rede social.
Toda essa comoção da Geração Z mais velha e dos Millenials mais novos, se torna uma espécie de paradoxo curioso: apesar da volta da estética associada ao Tumblr, a rede em si não teve o crescimento correspondente, talvez por conta da sua interface não ser tão dinâmica e sua funcionalidade não ter avançado ao longo dos anos. A plataforma teve uma decaída significativa de usuários em 2018, 84 milhões de usuários foram perdidos após a implementação de uma política rigorosa de conteúdo adulto, fazendo com que esses que estavam lá por conta do conteúdo livre e variado, migrassem para novas redes.
De qualquer forma, as tendências dissipadas no TikTok duram pouco e aparecem novas delas todos os dias. Então, tudo leva a acreditar que essa é só mais uma, passageira como as outras.
Quem paga a conta? Essa parece ser a pergunta-chave que abriu portas demais no principal campus da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, em Perdizes. Desde as reivindicações por direitos a uma refeição gratuita no refeitório até o desconforto de apresentar, periodicamente, um grande volume de documentação para comprovar a baixa renda, estudantes bolsistas são alvo de posicionamentos agressivos de alguns estudantes.
Nos últimos anos, centros acadêmicos têm se preocupado mais com a condição social de estudantes contemplados por bolsas, sejam de natureza filantrópica (fomentada pela FUNDASP) ou por programas governamentais. Isso se dá pelo aumento de denúncias e reclamações desse mesmo público quanto ao tratamento recebido por outros estudantes (qualificados como “pagantes”), tanto presencialmente quanto online.
Segundo relatos, houve episódios de discriminação socioeconômica, conhecida como aporofobia, que tem confrontado a permanência de estudantes bolsistas na universidade. Embora não exista um coletivo com esta finalidade, nos últimos anos, o perfil de Instagram “Spotted PUC-SP” (@spottedpucsp) veiculou publicações que trouxeram à tona uma série de movimentos considerados elitistas, como a contestação do direito ao posicionamento de estudantes "não-pagantes" sobre decisões estruturais do campus.
A página, inclusive, já foi investigada, em setembro do ano passado, pelo jornal laboratorial da PUC-SP, o Contraponto, que trouxe à tona os ideais políticos do perfil desde seu surgimento até as recentes manifestações em favor de campanhas eleitorais de centros acadêmicos. Este ano, porém, a principal campanha defendida pela conta originalmente dedicada à paquera é a implementação de catracas no campus Perdizes.
Ainda que a discussão tenha se aquecido nas redes sociais, a pauta foi reclamada para debate entre as entidades competentes à decisão: a mantenedora FUNDASP, a Reitoria, coletivos estudantis e centros acadêmicos da PUC-SP. Mesmo assim, os esforços da página em reacender essa suposta reivindicação deram abertura, na verdade, a uma enxurrada de comentários ofensivos e caluniosos direcionados aos estudantes bolsistas.
Em consequência, entidades acadêmicas, lideradas pelo coletivo Da Ponte Pra Cá - Frente Organizada de Bolsistas, organizaram-se para apresentar materiais de denúncia e repúdio aos atos discriminatórios observados dentro e fora do campus. Na última terça-feira (9), 28 entidades acadêmicas e administrativas ligadas à universidade assinaram uma publicação conjunta de um vídeo-denúncia, acompanhado de um documento completo reunindo imagens comprobatórias e exigências à mantenedora, FUNDASP, por medidas efetivas em prol dos bolsistas.
Diante disso, o Centro Acadêmico Benevides Paixão, o Benê, trouxe a pauta à tona como uma de suas prioridades de gestão. "A situação é grave e requer cuidado e vigilância. Estamos em constante contato com o nosso corpo docente, coordenação e direção para tomarmos todas as ações possíveis", declara a entidade acadêmica, em nota exclusiva à AGEMT.
O dossiê acusa, principalmente, o Spotted PUC-SP por disseminar casos de roubo e demais ocorrências ligadas à criminalidade de forma irresponsável e suposta motivação política por detrás. De acordo com o texto, “o que fica sempre evidenciado é que aqueles que são relatados como suspeitos dessas atividades são sempre pessoas negras, reforçando novamente o estereótipo racista que permeia nossa sociedade, que associa criminalidade e violência a uma raça/cor”, aponta o documento.
Não obstante, a garantia do sigilo também deu vazão a um fluxo de informações desprovidas de checagem dos fatos ou comprovação da verdade em torno dos casos relatados, “muitas vezes de caráter aporofóbico e racista, causando, sem fundamento, um pânico generalizado na comunidade estudantil”, descreve o texto. Nessa direção, a página se tornou um dos principais hospedeiros de manifestações consideradas elitistas, segundo as denúncias coletadas.
Quando o alarme soa, dada a notoriedade de algumas discussões acaloradas pela dualidade de posicionamentos nos comentários, é comum que as publicações sejam removidas do perfil. Ainda assim, de acordo com os apontamentos da denúncia endossada pelo coletivo Da Ponte Pra Cá nas redes sociais, o movimento de cunho discriminatório se fez presente também em outros meios, como em grupos do aplicativo de mensagens Whatsapp.
''Não podemos ignorar a realidade de negligência e discriminação das demandas e das necessidades das pessoas pobres em uma universidade elitizada", declara o coletivo Da Ponte Pra Cá, em nota exclusiva à AGEMT. "A denúncia produzida e a mobilização dos estudantes bolsistas torna-se urgente e extremamente necessária diante de um cenário de descaso, como o da PUC-SP".
Afinal, quem paga a conta? Desde a segunda-feira, 15, até o momento de publicação desta reportagem, o perfil do Spotted PUC-SP está desativado. A AGEMT tentou contato com o administrador da conta, mas não teve retorno.
Nota da PUC-SP
A PUC-SP, na sua prática cotidiana, não compactua com discriminação de qualquer tipo. Essa questão figura no Estatuto e no Código de Ética da Universidade, que toda comunidade deve seguir.
A Instituição entende que qualquer pessoa que for testemunha ou alvo de um ato de discriminação deve procurar as autoridades competentes.
Afirmamos que a PUC-SP não tem nenhuma responsabilidade sobre o perfil privado e anônimo do Instagram @spottedpucsp.
Assessoria de Comunicação Institucional (ACI)
Nos últimos cinco meses, a rotina de Tomaz Nobre às terças, quintas e sábados é a mesma: organizar e supervisionar o Baile da Terceira Idade, no Parque da Água Branca, localizado no bairro da Barra Funda, em São Paulo. Como coordenador do Instituto da Melhor Idade, – entidade que organiza os bailes semanalmente, mas também desenvolve outras atividades e cursos com os idosos – ele é o principal responsável por estruturar práticas que visam o bem-estar e procuram melhorar a qualidade de vida de pessoas acima dos 50 anos.
Os bailes da melhor idade no parque são bem conhecidos pela população, que sabe que o evento acontece de forma regrada à 20 anos. Cerca de 400 a 500 pessoas frequentam durante a semana, e mais de 800 nos finais de semana — que tem música ao vivo. Os homens, só podem entrar de calça social. As mulheres, estão bem arrumadas, com um vestido ou saia.
Os dois salões do galpão ficam lotados de casais dançando, alguns já formados antes e outros que se conheceram lá, além dos dançarinos solitários. Ao redor da pista, vários idosos ficam sentados. Talvez tímidos demais ou aguardando o convite de alguém. Do lado de fora cria-se uma atmosfera que chama a atenção dos que passam: pessoas abarrotadas observam o movimento lá de dentro com os rostos grudados nas grades das janelas. A banda toca um pouco de tudo: sertanejo, forró, samba, valsa e bolero são os ritmos favoritos do público animado, com dança da bandeirinha e um trenzinho das mulheres solteiras.
Atarefado, o coordenador anda de um lado para o outro durante todo o baile, com a missão de no final da tarde, ter entregado um bom resultado, com o desejo de manter o elevado patamar que o evento pede, visando o maior aproveitamento dos idosos: "A gente tem um público bem amplo para agradar. E exigente viu?" Tomaz brinca.
O som dos alto falantes além de ecoar por grande parte das extremidades do parque, sendo possível ouvir de longe, evidencia que animação e vontade de viver não é algo característico apenas dos jovens. Maria Ivone, de 65 anos, fica surpresa ao olhar pelo lado de fora: "É cheio! Eu não gosto de entrar não. Fico aqui do lado de fora balançando. Mas acho tão legal! Senhorinhas bem de mais idade, dançando! Bem melhor do que ficar numa cama de hospital, não é? Eu acho.", ela valoriza a organização do evento.
O baile também é o responsável pela formação de alguns casais. Um deles, Borges e Ana Mary, estão juntos há um ano e seis meses, graças ao evento semanal. "De uma forma descabida né? Porque a gente nunca espera, quando entra no ambiente, você não está esperando nada. De repente você senta no local e a pessoa dançando fica de olho em você. E assim estamos juntos até hoje, dançando.", conta o aposentado de 77 anos, embaixo da sombra das árvores que recobrem todo o parque e trazem um sentimento bucólico de cidade do interior para o meio da Avenida Matarazzo.
O local de realização dos bailes são os antigos casarões de paredes amarelas e grandes portas de madeira característicos da São Paulo dos anos 1930. Hoje em dia, balançam com toda animação e juventude de uma geração que reinventa o conceito sobre novas chances de amar na terceira idade: "Aconteceu na minha idade, agora, aconteceu que a gente se conheceu e estamos nos amando muito.", exalta Ana Mary, no auge dos seus 85 anos esboçando um olhar com brilho jovial e carismático por trás de seus óculos de grau de lentes amareladas.
Os gatos pretos, muitas vezes, são vítimas de superstições e preconceitos que remontam a tempos antigos. Associados a crenças populares e mitos, esses felinos muitas vezes enfrentam discriminação baseada em superstição e ignorância.
No Egito, esses felinos eram tratados como divindades, mas com a ascensão do cristianismo na Europa, houve uma mudança de perspectiva. Símbolos pagãos, não associados ao Deus cristão, começaram a ser vistos de forma pejorativa e desfavorável por muitas pessoas.
Ao longo dos séculos, difundiu-se a crença de que gatos pretos eram manifestações de espíritos malignos, considerados amaldiçoados. Essa associação com a bruxaria resultou na estigmatização desses animais, sendo vistos como sinônimo de má sorte.
Infelizmente, o preconceito contra esses bichinhos reflete nas taxas de adoção. Lares e abrigos de adoção de animais relatam que os gatos pretos têm mais dificuldade em encontrar lares, em comparação aos seus colegas de pelagem mais clara.
Segundo dados da ONG brasileira Catland, dedicada ao resgate e adoção de gatos, aproximadamente 60% dos 300 animais a espera de um lar possuem pelos de tonalidade mais escura.
Diversas organizações e defensores dos direitos dos animais têm incentivado o lançamento de campanhas ao combate do estigma associado a esses felinos pretos, visando educar o público sobre a origem infundada dessas superstições, a fim de promover a aceitação de todos os gatos, independentemente de sua cor.
Dia da Conscientização pelo gato preto. —Foto: Portal de educação Ambiental.
De acordo com uma entrevista dada ao G1, o Jornalista André Luis Rosa adotou recentemente o Simba, um gatinho preto, cheio de energia.
“Quando fui escolher o Simba, tinham inclusive outros gatinhos, brancos e rajados por exemplo. Só que o primeiro que saiu da caixinha foi ele e olhou com essa carinha e me apaixonei. A cor é o de menos, o que importa é o amor que ele dá”, conta.
Para ele, gato preto não dá azar, muito pelo contrário. “A única preocupação que dá, é essa unha dele, de arranhar uma roupa minha, um terno, uma blusa, enfim. Mas azar ele não dá não”, reforça o jornalista.
Amigo Pet: entenda a origem do preconceito contra gatos pretos e importância da adoção desses felinos. — Foto: Reprodução/TV Vanguarda
O estigma em relação aos gatos pretos persiste, fundamentado em tradições e mitos que atravessam o tempo. No entanto, podemos desafiar essas percepções arraigadas ao cultivar a compreensão e incentivar a adoção responsável. Reconhecer a singularidade de cada gato, independentemente da cor de sua pelagem, possibilita a construção de uma sociedade mais empática e justa para esses seres incríveis. A responsabilidade recai sobre cada um de nós para questionar e confrontar esses preconceitos, abrindo nossos corações e lares aos gatos pretos, contribuindo assim para quebrar o ciclo de discriminação.
ONG Alerta para rituais envolvendo gatos pretos em sextas feiras 13. — Vídeo: Youtube Diário do Litoral.