A partir desta quinta-feira (22), uma frente fria de características continentais, associada a um ciclone extratropical no mar, começará a avançar sobre o país, segundo previsão da Climatempo. Os ventos frios trarão uma redução nas temperaturas, que será sentida, principalmente, no Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro e Mato Grosso do Sul. As temperaturas devem cair entre 5°C e 7°C abaixo da média, com marcas previstas de 19°C em São Paulo e 17°C em Curitiba.
O cenário climático do país está prestes a mudar com a chegada dessa massa de ar polar vinda da Argentina. Ela deve promover uma queda significativa nas temperaturas no Centro-Sul, trazendo um alívio temporário para a população. Nos últimos dias, os brasileiros vêm sofrendo com calor extremo. Os termômetros registraram temperaturas recordes em diversas regiões do país. Manaus (AM) e Rio Branco (AC), por exemplo, atingiram 36,7°C, no último domingo (18), enquanto Cuiabá (MT) registrou recordes de 41,8°C e 42,0°C nos dias anteriores.
Esta onda de calor veio após uma frente fria, que estabeleceu mínimas históricas, em meados de agosto.
O Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) emitiu, na terça-feira (20), um alerta vermelho, indicativo de perigo máximo para onda de calor, para nove estados brasileiros: São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Paraná, Santa Catarina, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Rondônia. A região de maior alerta é a central, especificamente Mato Grosso. A previsão do Inmet é que as temperaturas altas, que devem ficar, pelo menos, 5ºC acima da média, se estendam até essa sexta-feira (23).
O calor acontece devido a um “anticiclone”. O fenômeno climático é uma área de alta pressão, que influencia nas ondas de calor, pois a alta pressão dificulta a formação de nuvens, e mantém uma massa de ar quente sobre as regiões. A situação de calor intenso é ainda mais grave por estar associada a uma baixíssima umidade relativa (UR) do ar. Durante esse período, a UR ficou na casa dos 20% e 30%, sendo que o ideal para a saúde é entre os 50% e 80%.
Dessa maneira, as circunstâncias oferecem riscos para a saúde, podendo causar problemas respiratórios, dor de cabeça e náusea. A umidade do ar abaixo de 25% pode aumentar o risco dos sintomas, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).
Embora o frio traga uma redução nas temperaturas, especialistas, como o meteorologista Fábio Luengo, garantem que esta onda de frio não será tão severa quanto a registrada nas últimas semanas. A expectativa é de uma queda notável, mas não extrema, evitando novos recordes de baixas temperaturas.
O mês de agosto tem sido marcado por um comportamento climático extremamente volátil, com rápidas transições entre calor intenso e frio severo. A nova frente fria promete continuar essa tendência de variações extremas, algo que exige atenção às mudanças climáticas rápidas e suas implicações para a população.
Em um mês, as enchentes no Rio Grande do Sul, um dos principais estados do Brasil, ultrapassaram os marcos de uma histórica tragédia. O Guaíba, lago que banha a capital e diversos outros municípios, passou dos cinco metros e causou a maior catástrofe ambiental já vista no RS. O último evento dessa magnitude havia sido em 1941, quando o nível de água atingiu 4,76 metros e deixou 70 mil pessoas desabrigadas.
O que parecia ser o maior desastre da história do Rio Grande do Sul, já não é mais. Desde o dia 27 de abril de 2024, fortes chuvas atingiram o estado do extremo Sul do país. O fenômeno se agravou no dia 29 de abril e na data seguinte (30) foi registrada a primeira morte. Após 10 dias ininterruptos de chuvas intensas, 6 bacias de rios ficaram sobrecarregadas e passaram a transbordar. Com isso, a água invadiu os municípios e cidades. Essa água se alastrou até o Guaíba, que também ficou sobrecarregado e transbordou. No dia 04 de maio o recorde do nível de água do lago Guaíba foi batido. Em 1941, o lago atingiu 4,76 metros e esse era o maior registro que se tinha no Estado. Entretanto, nesse novo desastre o nível ultrapassou os 5 metros. Os números mostram que no dia seguinte da marca, o nível chegou aos 5,32 metros, o maior já visto na história. Assim, locais que nunca haviam sido afetados em outras enchentes, tiveram sua realidade modificada. A água atingiu lugares que jamais havia atingido.
As estatísticas mostram o tamanho do que acontece no Rio Grande do Sul. Até o momento (01 de junho), cerca de 171 mortes já foram registradas e esse número tende a crescer cada vez mais conforme os corpos são encontrados entre as enchentes e os destroços. Após mais de um mês de tragédia, outro número que impacta é de que existem mais de 600 mil pessoas desabrigadas por todo o Estado. A “Grande Enchente”, como é conhecida a tragédia que marcou o ano de 1941 no Rio Grande do Sul, foi um dos maiores desastres que já ocorreram no país. Por muito tempo, os gaúchos ouviram histórias desse acontecimento, como uma espécie de lenda do Estado. Na época, os temporais começaram no dia 10 de abril e duraram 35 dias. Cidades foram invadidas. Lavouras, estradas e ferrovias foram destruídas. Tudo isso pela água dos rios que transbordaram.
Em entrevista exclusiva, Adriana Teixeira, jornalista e editora executiva da revista GALÁxIA, conta como foi sua experiência quando foi para o Rio Grande do Sul e conheceu a história do Estado. “Eu tenho amigos que moram no Rio Grande do Sul. Tive a oportunidade de visitá-los em algumas ocasiões e ter acesso à história do Estado. A “Grande Enchente”, como eles chamam por lá, é de fato um momento contado de geração em geração, pois, infelizmente, marcou a vida de todos os gaúchos”, diz Teixeira.
De acordo com registros da época, coletados pelo museu Joaquim Felizardo, cerca de 70 mil moradores do Estado ficaram desabrigados. Para se ter noção da magnitude da situação, esse número era equivalente a um quarto de toda a população do Rio Grande do Sul em 1941. Além disso, um terço dos locais comerciais ficaram embaixo d'água e diversas indústrias foram fechadas. Falta de luz e a paralisação do abastecimento de água nas cidades também fizeram parte desse momento trágico.
Após esse evento, diversos especialistas já se voltaram ao tema para alertarem sobre uma possível nova tragédia e avisaram que se nada fosse feito, o caos poderia ser ainda maior. A arquiteta Mima Feltrin, em entrevista à Revista Veja, trata as novas enchentes como fato anunciado. “Estamos falando de, pelo menos, 25 anos de avisos”, diz. Para ela, essa falta de ações diante dos estudos realizados nos anos posteriores ao desastre, ainda é uma estratégia política. “Aqui no Brasil a lógica é inversa. Gastamos cerca de 14 vezes mais com reconstrução do que com a prevenção de tragédias”.
Adriana Teixeira, que também é doutoranda em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP e estuda os impactos da desinformação no cotidiano, afirma que esse fator pode ser muito prejudicial nesse momento de calamidade. A jornalista destaca que “Centros de monitoramento de desinformação alertam para a ampla circulação no ambiente online de mensagens falsas sobre o desastre climático no Rio Grande do Sul”. Além disso, ela acredita que essa “calamidade pública tem sido usada por políticos da extrema direita, influenciadores e empresários para a obtenção de lucro financeiro, engajamento e influência sobre a política nacional e o debate sobre a crise climática”
Entre alguns materiais compartilhados durante a entrevista, Adriana comentou sobre estudos realizados por algumas organizações que buscam compreender as principais narrativas de desinformação e seus impactos no desastre do RS. Ela apresentou dois levantamentos, realizados pela UFRJ e pela NetLabs entre os dias 27 de abril e 10 de maio. Os relatórios expõem que “boa parte do conteúdo desinformante sobre o desastre climático no Rio Grande do Sul tem como objetivo descredibilizar o governo federal e gerar desconfiança em torno de instituições governamentais”.
Para a editora da Revista GALÁxIA, “A imensidão de mensagens fraudulentas também serve para gerar déficit informacional e distrair a audiência sobre as informações que buscam relatar os fatos e que são necessárias para enfrentar a tragédia”. Ela também acredita que “os efeitos dessas mensagens falsas são devastadores”. Por fim, Adriana relata que “a desinformação confunde a população vítima do desastre climático, prejudica a distribuição das doações e dificulta o trabalho de agentes públicos, socorristas e voluntários”.Além disso, de maneira contundente, ela enfatiza que em situações catastróficas como essa, “a desinformação amplifica o ambiente de caos”.
Para o processo de reconstrução do estado é necessário que planos políticos e sociais, que envolvem educação ambiental e cooperação regional e internacional, sejam elaborados. Essas estratégias, quando implementadas de forma integrada e colaborativa, podem ajudar a reerguer não apenas a infraestrutura física, mas também a resiliência do Rio Grande do Sul após uma tragédia ambiental.
A Organização Meteorológica Mundial (OMM), agência das Nações Unidas especializada em clima, divulgou, em abril, o relatório “Estado do Clima na Ásia 2023”.
O Órgão destacou, em comunicado à imprensa, o ritmo acelerado de alterações nos principais indicadores observados, como: aumento da temperatura no continente, derretimento e recuo dos glaciares, aquecimento da água do mar e a subida de seu nível.
As alterações nestes dados reforçam a gravidade das mudanças climáticas no continente.
O relatório aponta que a tendência de aquecimento global se intensificou e que, no longo prazo, as consequências do desequilíbrio da natureza serão cada vez mais intensas.
O aumento desenfreado de emissão de gases do efeito estufa, ocorrido desde a Revolução Industrial, com o uso intensivo de combustíveis fósseis para movimentar os motores e máquinas, a utilização de técnicas arcaicas na agricultura e pecuária, como a queimada de florestas para semear capim e possibilitar a criação de gado em larga escala ou a monocultura, e o uso intensivo de agrotóxicos em áreas extensas tem causado uma desordem severa na natureza ao longo dos anos.
A Ásia, continente com a maior extensão terrestre, que se estende até o Ártico, é a região do mundo em que o aquecimento é superior à média global e mais propensa a desastres naturais, sendo os perigos relacionados à água a principal ameaça.
As tempestades e inundações são os maiores causadores de vítimas e perdas econômicas no continente. Em 2023, ocorreram 79 desastres associados às chuvas intensas com inundações na Ásia, afetando diretamente nove milhões de pessoas, com mais de 2000 vítimas fatais.
O relatório destaca o aumento da temperatura da superfície dos oceanos, sendo que no continente os mares estão aquecendo três vezes mais rápido que a temperatura média global dos oceanos. O derretimento e recuo dos glaciares, com a consequente subida do nível do mar, ocasionam sérios problemas para as sociedades, economia e ecossistemas da região.
Como a natureza não escolhe nem onde, nem quem ela atingirá mais severamente, os países, com limitada infraestrutura sofrem de forma desproporcional, com consequências mais duradouras.
Como exemplo, o ciclone tropical Mocha, que, em maio de 2023 provocou 156 mortes em Mianmar e Bangladesh. A chuva torrencial, classificada como tempestade ciclônica extremamente severa, atingiu a costados países situados no golfo de Bengala, obrigando milhares de pessoas a abandonarem as suas casas.
Além dos fenômenos climáticos associados à água, ocorre na Ásia aumento significativo da temperatura, com ondas de calor sufocantes que podem causar desidratação e insolação.
As ondas de calor são o mais letal dos eventos extremos causados pelas mudanças climáticas. Em 2023, o Japão viveu o verão mais quente já registrado em sua história.
Na China, em muitas estações meteorológicas foram anotados recordes de temperaturas. Na Índia, as fortes ondas de calor levaram à morte 110 pessoas devido à insolação.
Os trabalhadores que vivem expostos a condições extremamente quentes e úmidas, como os operários da construção civil ou quem trabalha em atividades ao ar livre, são os que correm maiores riscos de estresse térmico.
O relatório da OMM reforça a necessidade de que os serviços meteorológicos nacionais de toda a região produzam dados e os divulguem de forma sistematizada e em tempo hábil, para melhor alertar a população sobre os riscos eminentes de um evento climático na tentativa de reduzir danos.
As tempestades contínuas que se alastraram pela maioria dos municípios gaúchos fizeram com que o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB-RS), decretasse estado de calamidade pública, por 180 dias. Essa decisão, divulgada na última quarta-feira (1) no Diário Oficial do Estado, permite que órgãos e entidades da administração pública prestem apoio à população afetada.
Até o momento, foram apontados 83 óbitos, 111 desaparecidos e, pelo menos, 129 mil desalojados, de acordo com o boletim mais recente divulgado pelas autoridades gaúchas.
A situação do RS foi classificada como um desastre nível 3. Segundo a Defesa Civil do Rio Grande do Sul, “os danos causados são importantes e os prejuízos vultosos”. Todo o território está em alerta de risco hidrológico extremo, com níveis dos rios acima da cota de inundação - quando as águas passam a causar danos ao município.
A prefeitura de Porto Alegre iniciou a evacuação de seus moradores na última sexta-feira (3). O lago Guaíba, que banha a capital, ultrapassou a marca dos 5m acima de seu nível normal - circunstância que deve se manter por, no mínimo, 4 dias. A situação se agravou, especificamente na zona norte da cidade, por causa de um rompimento de uma das comportas do lago - o portão 14.
Por que as chuvas estão ocorrendo?
Chuvas fortes já são esperadas na região Sul, entre dezembro e março, devido ao El Niño, que provoca o aquecimento anormal das águas do oceano Pacífico. Entretanto, o Rio Grande do Sul está sendo atingido por níveis pluviais anormais por uma combinação de alguns fenômenos climáticos:
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Intensa corrente de ventos que causa instabilidade climática;
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Onda de calor na região central do Brasil causa um bloqueio atmosférico por estagnação do movimento normal do ar - naturalmente essa é uma região de alta pressão atmosférica;
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Sucessão de frentes frias e chuvosas proveniente da Argentina, que ficaram estagnadas na região Sul do Brasil por causa do bloqueio causado pela onda de calor;
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Corredor de umidade proveniente da Amazônia é desviado pelos Andes, e acaba atingindo a região Sul do Brasil. A umidade causa precipitação;
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La Niña e altas temperaturas no oceano Atlântico geram mais umidade e precipitação.
Em entrevista à TV Brasil, Marcelo Seluchi, coordenador do Centro Nacional de Monitoramento e Alerta de Desastres Naturais (Cemaden), explica que as chuvas não devem cessar tão prontamente. “Esta situação [as chuvas], infelizmente, deve se manter, com poucas mudanças, pelo menos até sábado com volumes muito elevados ainda, até superiores a 250 milímetros, especialmente na porção centro-norte do estado”, diz Seluchi.
O envolvimento do governo federal
O presidente Lula (PT) desembarcou na cidade de Santa Maria, uma das mais afetadas, na quinta-feira (2), para se encontrar com Leite.
Junto à ele estavam os ministros Rui Costa (Casa Civil), Jader Filho (Cidades), Renan Filho (Transportes), Waldes Góes (Integração e Desenvolvimento Nacional), Marina Silva (Meio Ambiente e Mudança do Clima) e Paulo Pimenta (Secretária da Comunicação), além do chefe do gabinete do Comandante da Aeronáutica, Major-Brigadeiro do Ar Antonio Luiz Godoy Soares e do comandante do Exército, general Tomás Paiva.
“Fiz questão de trazer os ministros aqui porque quero que eles assumam o compromisso em solidariedade ao povo do Rio Grande do Sul, para que a gente possa minimizar o sofrimento que esse evento extremo da natureza está causando no estado”, afirmou Lula.
Após retornar à Brasília, Lula anunciou a criação de uma sala para conseguir monitorar diariamente a situação do RS. O governo federal, que já reconheceu o estado de calamidade do RS, mobilizou 626 militares na região para salvamento e resgate das vítimas.
Foram enviadas 45 viaturas, 12 embarcações e botes de resgate, e oito aeronaves pela Marinha e Exército, também para auxiliar no resgate dos afetados.
O governo federal liberou nesta segunda-feira (6) R$534 milhões em emendas individuais de parlamentares gaúchos, que estavam alocados na área da saúde. Segundo o ministro Paulo Pimenta, até quarta-feira (8), devem ser liberados mais R$80 milhões.
“A gente não vai permitir que faltem recursos para que a gente possa reparar os danos causados”, disse o presidente da República durante sua visita ao RS.
A Agemt tentou contato com moradores das regiões afetadas, mas não conseguiu resposta devido à falta de internet local. Até o momento, segundo balanço do governo do RS, 740 mil pessoas estão sem acesso a serviços essenciais, como energia elétrica, serviços de telefonia e internet e abastecimento de água.
São Paulo ainda não entrou no debate da adaptação às mudanças climáticas. A maior cidade da América Latina, ainda faz com que seus moradores vivam em condições improcedentes. O meio insustentável em que a capital está inserida, impede a população paulistana de possuir qualidade de vida e existir plenamente. Uma metrópole que sofre com o racismo ambiental, altas taxas de poluição, causando diversos problemas de saúde, e nenhuma indicativa de uma transição energética, acaba vinculada a uma realidade limitada e que dificulta o seu desenvolvimento. Inserir o planeta em um cenário mais sustentável e, consequentemente, mais duradouro e habitável para futuras gerações, é essencial; por isso, torna-se cada vez mais necessário a adoção de medidas que garantam isso.
Na aula inaugural promovida pelo curso de Pós-Graduação em Governanças Global e Formulação de Políticas Internacionais da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), que ocorreu na quinta-feira, 25 de abril, o pré-candidato à Prefeitura de SP, Guilherme Boulos, dedicou bastante tempo de sua fala a essa discussão. O deputado, que palestrava sobre cidades sustentáveis, afirmou: “O que as cidades precisam fazer? Desenvolver planos de adaptação às mudanças climáticas e, ao mesmo tempo, cumprir metas de redução das emissões de gás de efeito estufa. Hoje nós não estamos discutindo isso aqui na cidade de São Paulo”.
São Paulo está entre as 10 cidades brasileiras que mais emitem carbono, o que contribui em massa para as constantes e intensas mudanças climáticas às quais a cidade tem sido submetida. Dos 12 mil ônibus responsáveis pelo translado da população paulistana, apenas 84 são elétricos, além de serem restritos ao centro de São Paulo. A grande problemática desses números, é a emissão de carbono causada pelo diesel. No entanto, o transporte público ainda é a opção mais sustentável, uma vez que os carros utilitários são os maiores agentes na emissão de poluentes
O dióxido de carbono (CO2) é um dos principais Gases de Efeito Estufa (GEE). Dessa maneira, sua emissão faz com que a temperatura da Terra aumente, por impedir que o calor saia da atmosfera. Vários problemas decorrem da emissão de gases e do aquecimento global. “No contexto global, as principais consequências são as mudanças climáticas, com eventos extremos cada vez mais frequentes e intensos; e a debilitação da saúde pública, devido à exposição a poluentes atmosféricos”, informa Célio Bermann, professor associado do Instituto de Energia e Ambiente da USP.
A transição energética, ou seja, a substituição do uso de energia fóssil (petróleo e seus produtos) para uma energia limpa e renovável, é uma realidade em outras cidades. Shenzhen, na China, possui 18 milhões de cidadãos - 6 milhões a mais que São Paulo - e foi a cidade pioneira na transição energética urbana. Atualmente, 100% de sua frota de ônibus são elétricos. O que impede que São Paulo, a cidade mais rica do Brasil, faça também essa mudança?
Para o atual prefeito da cidade, Ricardo Nunes, falta infraestrutura. O político, entretanto, responsabiliza a empresa Enel, e afirma que a instituição não entregou pontos de carregamento elétrico para a compra de mais ônibus de energia limpa. De qualquer maneira, é uma urgência eletrificar os ônibus de São Paulo. Em parte, é necessário cumprir com o Acordo de Paris, que foi assinado em 2015, e visava impedir o aumento da temperatura da terra; em outra parte, a sistematização elétrica permite que os custos com transporte público diminuam a longo prazo. “Eletrificar a frota de ônibus, além de ser um grande caminho para reduzir a emissão de carbono, também é um caminho para democratizar o direito ao transporte público. Porque o ônibus elétrico, pode chegar a ser 50% mais barato do que o ônibus a diesel”, explica Boulos.
O que são cidades sustentáveis
A definição de cidades sustentáveis se baseia no intuito de cuidar do meio ambiente para garantir um futuro global mais promissor. Por meio de políticas públicas propostas pela administração, tem como pilar principal a responsabilidade ambiental, vitalidade cultural e o ideal de economia sustentável. Seu conceito está associado a uma visão que preza pelo equilíbrio das atividades socioeconômicas e ambientais de uma população.
Ao redor do mundo, famosas metrópoles aderiram ao conceito de cidade sustentável e demonstraram melhoria no funcionamento de seus ecossistemas. Essa iniciativa gerou benefícios tanto nos aspectos ambientais como na área da saúde e da economia. Na Dinamarca, a cidade de Copenhague tem se mobilizado cada vez mais para contribuir com essa iniciativa, com a construção de estradas voltadas especificamente para a prática do ciclismo e a venda de bicicletas elétricas a baixo custo. Zurique, na Suíça, é responsável por reciclar mais de 40% de seus resíduos hoje e mais de 80% de seus hotéis possuem certificado de sustentabilidade. Já Tóquio, no Japão, possui um dos sistemas de transporte público que tem a menor emissão de carbono mundial.
Assim como todas essas cidades, São Paulo necessita que o poder público e os provedores de serviços adotem essa mentalidade sustentável. O professor Célio enfatiza essa necessidade: “O poder público pode e deve dar sua contribuição, com políticas públicas indutoras nessa direção. Entretanto, além do governo e da população, cabe às indústrias, comércio e serviços de transportes (rodoviário, ferroviário, marítimo, aeroviário) darem também sua contribuição, pois são os assim denominados ‘setores produtivos’ os principais responsáveis pelos danos ambientais, que comprometem a existência de todos os seres vivos no nosso planeta.”
O Estado, até então, tem se mantido omisso em relação ao tema e à implementação dessas práticas sustentáveis no país. A ausência de ações de combate à destruição ambiental, acarretam no surgimento, cada vez mais frequente, de desafios a serem enfrentados futuramente.