A Agência Pública completou 13 anos no último dia 13 de março. Em comemoração, organizou um evento na PUC SP, para debater “Condições Climáticas e o Antropoceno”, entre outros temas mais do que necessários. A celebração contou com a presença do ativista e escritor Ailton Krenak, o climatologista Carlos Nobre e a jornalista Daniela Chiaretti. Durante a conversa, Krenak trouxe uma importante reflexão, em que enfatiza o fato de as mudanças climáticas recentes afetarem principalmente os mais pobres. Confira no link:
No último dia 13 de março, a Agência Pública comemorou seu 13 aniversário. O evento ocorreu no Tucarena e contou com a presença de personagens ilustres do cenário socioambiental e político. Giovana Girardi foi a responsável por mediar a mesa de debate, que tinha como convidados: Carlos Nobre, cientista ambiental; Daniela Chiaretti, jornalista de meio ambiente do jornal O Valor Econômico e Ailton Krenak, o mais novo imortal da Academia Brasileira de Letras.
O tema central da palestra foi o colapso climático e o antropoceno. Além disso, foram esclarecidas pautas importantes como o racismo climático, a desumanização social e a extinção de várias espécies. A conversa também buscou associar o jornalismo como ferramenta democrática e relacionar os impactos climáticos nesse tipo de modelo político. Confira tudo o que aconteceu nesse dia no YouTube.
O ativista indígena Ailton Krenak, o climatologista Carlos Nobre e a jornalista especial de meio ambiente do jornal Valor Econômico, Daniela Chiaretti, explicam como a crise ambiental e a política se entrelaçam. Além disso, chamam a atenção para o quanto é importante que todos, enquanto cidadãos, reflitam sobre suas próprias decisões em relação a essa pauta, que, segundo eles, é tão urgente. Confira a cobertura pelo TikTok. Direção: @biancao.producoes/ @brasilandiana
Áudio e imagens: @tvpucsp / @brasilandiana
Antropoceno e os colapsos ambientais foram os temas centrais da última palestra do dia 13 de março, em comemoração aos 13 anos da Agência Pública. Com participação do ativista e escritor, Ailton Krenak, do professor e Climatologista, Carlos Nobre, e da repórter ambiental e internacional, Daniela Chiaretti, a roda de conversa ocorreu no teatro Tucarena, em São Paulo, onde a discussão sobre a crise climática e o que nos espera no futuro tomou conta da arena.
A pergunta “estaríamos vivendo uma era antropocena” (ou a “era dos humanos”) iniciou a discussão. Isso porque em uma reunião recente da Comissão Internacional de Estratigrafia (ICM), foi definido que não. Por essa decisão, é possível perceber que a ICM ignora a marca que os seres humanos fizeram na geologia da terra pelos próximos anos. O professor Carlos Nobre explica: “[A] união internacional de Geologia quer ver se essas épocas geológicas não têm nenhuma que acontece na escala de séculos só em milhares de anos”, diz Nobre.
O professor explica que, diferente da Comissão, ele concorda com a nova nomeação da era: “Se a gente continuar com as emissões, nós vamos chegar em 2100 com 4 graus de aumento. Em 100 anos, nós vamos ter o mesmo aquecimento que levou 12.000 anos para sair da época Glacial e chegar na Interglacial”. No fim de sua fala, o climatologista exemplifica o impacto disso, explicando que, quando a temperatura subir, resultará em uma grande extinção: “Nós estamos tão próximos dessa extinção que fica difícil imaginar porque que não pode se chamar antropoceno”.
Após o professor falar, foi a vez de Ailton Krenak. O ativista inicia exemplificando o pensamento binário da ciência, e apresenta a ideia de uma fita métrica que guia os cientistas: "A metade do planeta já morreu, mas a ciência pode dizer ‘não, ainda não morreu, porque naquele ponto ali [na fita métrica]. Ele menciona que as ações do homem influenciaram tanto o planeta que a era antropocena foi antecipada: “Nunca na história do planeta nenhum organismo espertalhão, como os humanos, acelerou tanto as mudanças no mundo”.
O eruditismo dos povos tradicionais, em respostas a tendências específicas da ciência, toma cada vez mais rumo nas conversas. Krenak argumenta que a perspectiva científica da coisa está atrasada. Ele questiona “E se o nome da coisa não fosse “era geológica”? Se fosse por exemplo uma “era de sensibilidade cósmica”, essa coisa que você não acha que vive só dentro de uma esfera”. Ele conclui: “Para mim, as cosmovisões têm muito mais alcance que uma apreciação geológica”.
A jornalista Daniela Chiaretti diz que a grande mídia tem papel importante na exploração e distribuição dessa informação sobre as crises ambientais. Afirma também que no início das conversas sobre o aquecimento global, havia dificuldade para explicar alguns conceitos: “As convenções que iam ser feitas de clima de biodiversidade. Eu me lembro dos editores falando ‘o que é biodiversidade?’ Daí eu falava ‘é diversidade biológica", ressalta Chiaretti.
Parte da ciência moderna é compreender os pensamentos de comunidades tradicionais. A jornalista do Valor conta sobre sua experiência: “Eu adorei depois tentar traduzir um pouco o pensamento dos povos tradicionais indígenas Isso é Um Desafio".
Por fim, Ailton Krenak falou sobre sua experiência com o mundo contemporâneo e com as hipocrisias de estar falando desse tema em uma “estrutura ferro, cimento, fazendo os abrigos subterrâneos como se a gente já tivesse no apocalipse nuclear adiantado”. Descalço, o ativista e escritor perguntou qual a verdadeira utilidade e conhecimento acadêmico nessa luta a favor da vida na terra e da vida: “Deveriam fechar, por exemplo, uma faculdade de arquitetura que só reproduz essas coisas de ferro, cimento e vidro. Tá passando um atestado de que ela é incompetente e burra. Porque ela está construindo cemitérios futuristas para todos nós”, afirma Krenak.
Na quarta-feira, 13 de março, o Tucarena reuniu convidados renomados como Ailton Krenak, Ana Toni, Juliana Dal Piva e Letícia Cesarino no evento que comemorou o aniversário de 13 anos da Agência Pública, em parceria com o curso de Jornalismo e a Faculdade de Filosofia, Comunicação, Letras e Artes da PUC-SP. Com o tema "o jornalismo na linha de frente da democracia", as duas mesas no período da manhã debateram sobre desinformação e populismo digital. A noite, o tema do debate foi "o Colapso climático e o antropoceno". Mediados pela jornalista Giovana Girardi, os convidados Carlos Nobre, Ailton Krenak e Daniela Chiaretti abordaram os impactos da ação humana nos ciclos da natureza.
Ailton Krenak, Carlos Nobre e Daniela Chiaretti durante o evento de celebração de 13 anos da Agência
Pública. Imagem: José Cícero/ Agência Pública
Na conferência, transmitida pela TV PUC, Ailton defendeu a tese do racismo climático. “O planeta hoje, tem estimativa de cerca de 600 milhões de pessoas desabrigadas. Se afogando nos oceanos, tomando tiro no México, no Haiti, na Palestina. A experiência humana radicalizou a violência”, diz Krenak, que evidenciou que os mais pobres são os mais vulneráveis às mudanças climáticas e arremata o raciocínio com uma citação do escritor Eduardo Galeano que diz: “A serpente prefere picar o pé descalço, ela não pica o pé de quem usa bota. O ambientalista questiona qual o lugar da democracia numa sociedade em que existe uma camada popular que não tem condições de alcançar o patamar mínimo de ser humano, que vive esmagada pela polícia e abusada pelos governos.
O ativista expõe seu descontentamento, contra as grandes organizações como a ONU, UNESCO, OMS, entre outras. Expõe que estas não têm interesse algum pela democracia. “São superestruturas autoritárias que suportam a marcha capitalista do planeta, comendo o corpo da terra”. Ele relata que participou junto à UNESCO em um projeto em função da criação de uma reserva da biosfera na Serra do Espinhaço. Foi no meio do processo, enquanto tentavam achar alternativas para auxiliar a preservação do meio ambiente, que descobriu que a organização, na verdade, estava agendando outra conferência, que decidiria como seriam feitas as minerações em reservas de biosfera ao redor do planeta. “Então como vamos falar de democracia se os agentes estruturadores de uma ordem global não querem a democracia viva?”, destaca o filósofo.
Krenak evidencia a situação de total emergência do planeta. Compartilha que, por muitos mil anos, a Terra foi algo sagrada para os humanos, a natureza era um símbolo divino. Na sua visão, tudo muda quando o homem evolui e descobre como manusear a agricultura, colocando em sua função os metais e artefatos. O líder indígena lamenta, “passaram a acreditar que a terra é um organismo plástico, que podemos esticar, dobrar, enrolar, derrubar montanhas, comer os oceanos e acabar com as florestas[...] Não foi uma ação geológica que fez isso, fomos nós humanos.” A transmissão completa das mesas está disponível clicando aqui.
Quem é Ailton Krenak?
Ailton Alves Lacerda Krenak, nascido em 1953, é um líder indígena, filósofo, professor, escritor e ativista do meio ambiente. Desde sempre desejou impulsionar a cultura indígena e fazer a diferença para sua comunidade. Ailton foi alfabetizado e se formou em computação gráfica e jornalismo no Paraná. Em 1980, Ailton focou em movimentos indígenas e cinco anos depois fundou um instituto não governamental que prometia impulsionar a cultura indígena. Oito anos depois se conciliou com a União dos Povos Indígenas, a fim de proporcionar maior reconhecimento nacional à minoria. Também se alinhou com uma organização que era a favor da preservação de reservas naturais. Os anos como ativista tornaram Ailton um grande nome na luta ambiental. Em 2003, Krenak foi nomeado assessor especial de Minas Gerais com o intuito de visar os povos originários.
Recebeu título de Professor Doutor pela Universidade Federal de Juiz de Fora em 2016 e cinco anos depois pela Universidade de Brasília. Krenak foi chamado pela Netflix, para protagonizar a série Guerras do Brasil, onde ele cita momentos históricos de conflito armado. Durante sua vida, Ailton já lançou oito livros e desde o início de 2024, tem seu nome na Academia Brasileira de Letras.








