A falta de saneamento básico não é novidade no Brasil. Entretanto, durante a pandemia de COVID-19, a falta de estrutura passou a contribuir com a transmissão do vírus. Podendo ser encontrar no ar e na água, o problema afetou justamente a parcela mais vulnerável da população: os moradores de baixa renda.
Cristina Fonseca, 26 anos e mãe de três crianças pequenas, vive de perto a destruição causada pela estrutura precária, o desemprego, a falta de apoio estatal e as vidas perdidas pelo coronavírus. Até março de 2020, Fonseca conseguia alimentar as crianças com trabalhos periódicos, "bicos" como ela mesma chama de faxineira em casa de família, manicure e babá. Impossibilitada financeiramente de prover pelo os próprios filhos, ela teve que cuidar de outras crianças para garantir o minímo para as dela. O pai de seus filhos, uma paixão forte que durou só até a gravidez do terceiro bebê, não tem contato com ela nem com as crianças há mais de um ano.
Quem a ajudava na manutenção da casa e nas contas do dia a dia era seu pai: "minha família sempre foi simples, nunca sobrou um real em casa. Mas meu pai também nunca deixou faltar, sempre me ajudou com as crianças e com as contas de casa." Infelizmente, a situação se agravou quando o pai de Cristina, um senhor de 67 anos foi diagnosticado com COVID-19 em setembro de 2020. "Entrei em desespero, os hospitais estavam todos lotados, eu e nem as crianças podíamos ficar perto dele. Ficou impossível de sair para trabalhar e nossa situação financeira piorou muito."
Cris, como gosta de ser chamada, acredita que ela mesma pode ter passado o vírus ao pai, "me culpo muito, mas eu não tinha o que fazer! O auxílio que o governo dá não dava pra nada e eu precisava sair para trabalhar para continuar colocando comida na mesa."
Na mesma época que Lourenço Fonseca, pai de Cristina, foi diagnosticado houve um surto de coronavírus na região. As áreas mais pobres das cidades de todo o Brasil foram as mais afetadas pelas altas taxas de contaminação e número de óbitos. Essa epidemia singular se deu porque para essa população, seguir as recomendações convencionais de prevenção à COVID-19 não é tarefa fácil. Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad Contínua), 10% das casas têm falta de água, pelo menos, uma vez por semana. O acesso à água potável é uma das instalações de saneamento básico.
Na casa da família Fonseca não era diferente. A falta de água era mais cotidiano para eles do que a presença. O cotidiano para as crianças, a mãe e o avô era encher baldes para que fosse possível fazer o básico da higiene pessoal e pudessem cozinhar e ter um pequeno estoque do líquido em casa. A água parada, a impossibilidade de manter a quarentena, a necessidade de trabalhar fora de casa, o desemprego e a falta de um auxílio emergencial justo fez com que muitos moradores não conseguissem cumprir as medidas de isolamento social. Em entrevista, o médico infectologista da Sociedade Brasileira de Infectologia, Renato Grinbaum, explica que esses fatores foram extremamente prejudiciais para a saúde dessas famílias em vulnerabilidade. O tamanho e a estrutura das casas também faz diferença, a falta de ventilação e de cômodos para isolamento tornou a vida dessas famílias ainda mais complicada.
Durante a pandemia, a desigualdade social ganhou ainda mais evidência. De acordo com dados da Fundação Getúlio Vargas (FGV), o número de brasileiros em extrema pobreza triplicou entre agosto de 2020 e fevereiro de 2021: o país saltou de 9,5 milhões para 27 milhões de pessoas.
No caso da família Fonseca, que já lutava contra as estatísticas a situação tomou outro rumo quando Lourenço veio a óbito, por causa de complicações devido ao COVID-19. "Agora só me resta meus filhos, não tenho emprego, o auxílio do governo só diminuiu e não consigo mais segurar as pontas seu meu pai. Dói muito a falta dele, tanto dentro de mim quanto em casa." Cris tem família no interior de São Paulo e, assim que conseguir juntar dinheiro para sua passagem e das crianças, pretende pegar a estrada para nunca mais voltar. "Vou atrás de dignidade."
Como o assunto reverbera na internet e entre especialistas
Raul Santiago, morador do Complexo do Alemão, criou a hashtag #diáriodeumfaveladonapandemia poucos dias após a Organização Mundial da Saúde decretar a pandemia em março de 2020. Na ocasião, o morador e ativista social na ONG Papo Reto, estava sem água em casa há 3 dias.
Nas redes sociais, Raul ensina os moradores a lavarem as mãos com a menor quantidade de água. Em um tweet de abril de 2020, explicou como ele e a família costumam fazer para estocar (e manter a água limpa) durante a pandemia.
A falta de água durante a pandemia não afeta apenas a parte da higiene básica, mas pode contribuir para espalhar o vírus. O projeto "Estação de Tratamento de Efluentes Sustentáveis do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia", da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), confirmou a presença do vírus Sars-Cov-2 em esgotos perto dos hospitais da cidade. Isso facilita a possibilidade de infecção pelo contato com a água não tratada - o vírus resiste até 10 dias nesses locais.
O médico infectologista, consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia e professor na faculdade de medicina do ABC, Munir Aiub, apontou que o esgoto rastreia o coronavírus nos bairros: “O vírus é excretado pelas fezes e pela urina. Com a coleta de amostras de esgoto, podemos inferir como está a distribuição da doença em determinada região.”
Aiub comentou sobre projetos não concluídos de tratamento de esgoto e criticou o Estado por não investir o suficiente no saneamento básico. Para o infectologista, o governo pode melhorar a situação ao investir o dinheiro das "coletas de impostos e arrecadação pela União” nos serviços de esgoto.
O infectologista afirmou que o ciclo de doenças e internações continuarão existindo caso o governo federal, municipal ou estadual não olhe para o saneamento básico. Segundo a Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental (ABES), o país teve 40 mil internações em 2020. Isso custou cerca de R$ 16 milhões ao Brasil.
Em 2018, dados do Trata Brasil registraram 233.880 internações e 2.180 óbitos por doenças causadas em função do contato com esgoto. Por Bianca Ferreira
A importância do saneamento antes, durante e depois da COVID-19
Para Juliana de Lemos, bióloga e professora, oferecer saneamento básico com logística é essencial: “A importância das instituições que gerenciam instrumentos de saneamento básico desde o planejamento atuam nessa área.”
A professora reforçou a importância de um saneamento básico de qualidade para combater doenças: “Quando as formas de transmissão estão ligadas com o mantimento da saúde das pessoas e do meio ambiente ou quando o saneamento básico não existe ou tem problemas, os organismos se tornam mais vulneráveis a contrair doenças causadas por vírus.”
Sobre as medidas para evitar danos ao meio ambiente por conta do saneamento básico, a bióloga pontua três ações: presença de órgãos gestores para planejar instrumentos de saneamento básico e garantir sua distribuição; consulta constante com instituições especializadas na área; contato com pessoas diretamente afetadas pela situação.
O saneamento básico é um direito garantido na Constituição e pela Lei 11.445/07. Ele assegura a distribuição de água potável, a coleta e tratamento do esgoto, a drenagem urbana - que lida com a água da chuva -, e a coleta de resíduos sólidos para todos.
Em levantamento do Ranking de Saneamento de 2020, 100 milhões de brasileiros não possuem cobertura da coleta de esgoto e 35 milhões não usufruem de água tratada.
No Brasil, uma em sete casas não está ligada à rede de água. Dados do Trata Brasil em 2016 apontam 9,6 milhões de residências sem água na torneira e cerca de 90% do esgoto em áreas irregulares nas 100 maiores cidades do país.
Em março de 2020, no início da pandemia de Covid-19, Ana Oliveira, de 23 anos, trabalhava em quatro escolas infantis. Com o fechamento de todas, perdeu seus empregos e buscou alternativas para manter sua renda. A única opção que surgiu foi praticamente se mudar para casa de uma prima - com medo de pegar o transporte público e se infectar - e cuidar de seus filhos de 5 meses e 7 anos. Essa reviravolta na sua vida gerou um avanço de exaustão e falta de tempo durante o isolamento. "Quando aceitei ser babá estava tudo indo bem, mas no decorrer dos meses, duas escolas pediram para eu retornar. Como precisava de dinheiro extra, aceitei. De segunda a sexta fico na casa das crianças, me restando apenas o fim de semana para preparar e gravar as quatro aulas de inglês. Com tanta coisa acontecendo deixei de ter um tempo só meu e quando tenho pausas acabo limpando meu quarto", afirma.
Relatos como o da professora de artes ficaram comuns durante a pandemia. O aumento de jornadas exaustivas, imposição de metas abusivas e medo de ficar desempregado, agravaram os transtornos mentais e são eles uma das principais causas de afastamento do trabalho no Brasil. Segundo a Previdência Social de 2017, os transtornos ansiosos estão na 15º posição de doenças que mais geram afastamento do trabalho no país, e resultam em 28,9 mil casos. Em 2018, o INSS concedeu 8.015 licenças para o tratamento de transtornos mentais adquiridos no ambiente de trabalho. No ano seguinte, uma empresa de recrutamento relatou que 44% dos colaboradores brasileiros já sofreram de Burnout (transtorno depressivo, gerado pelo esgotamento físico e mental).
Com a chegada da pandemia, a incerteza do que irá acontecer no dia seguinte preocupou a todos. O medo do contágio da Covid-19 pelos familiares, a angústia dos cortes nas empresas, em razão da crise econômica atual e o estresse para aqueles que o trabalho triplicou, são algumas das razões para o avanço dos transtornos mentais no último ano. As doenças mais comuns são: crise de ansiedade, ataques de pânico, síndrome de Burnout e depressão. Cerca de 54% das pessoas entrevistadas pela Área de Inteligência de Mercado do Grupo Abril, estão extremamente preocupadas com a situação atual, 47% sentem dificuldade para descansar e 23% não estão mais conseguindo dormir direito.
A engenheira mecânica Thayna Zattar, de 24 anos, foi uma entre milhares trabalhadores demitidos durante a pandemia. No início do isolamento, recebeu a notícia de que não poderia mais trabalhar na empresa, já que muitos clientes haviam cancelado projetos de sua área, resultando na impossibilidade de manter os funcionários. "Com a perda do emprego, eu percebi que tive um aumento na minha ansiedade, principalmente por conta do atual cenário onde várias pessoas também perderam seus empregos. Não está sendo fácil dormir e relaxar", afirma. Já Thayna acredita, que a consequência disso é uma concorrência maior no mercado de trabalho, gerando uma disputa acirrada.
As empresas estão cada vez mais exigentes para contratar, mesmo que seja para uma vaga no nível Júnior. A jovem comenta sobre os pré-requisitos da vaga que exigem atuação na área de 2 a 3 anos e conhecimentos específicos avançados. Não sendo em vão que a cada ano, surgem 160 milhões de novos casos de doenças relacionadas ao trabalho, conforme a Previdência Social de 2017. Outro dado da pesquisa do Grupo Abril mostra que 76% das pessoas se preocupam com a superlotação dos hospitais. É o caso de Natália Barbosa, advogada de 25 anos, que continuou trabalhando presencial, já que sua empresa não aderiu ao isolamento social. Ela pegou Covid-19 e transmitiu para os pais, já em idade avançada.
"Nesse período, senti novos sintomas, como síndrome do pânico, junto com as crises de ansiedade e episódios depressivos que eu já tinha anteriormente", afirma. Hoje, já curada do vírus e com os pais bem, continua trabalhando presencial e se cuidando com um psicólogo.
De acordo com o Jornal do Campus, na semana de 29 de março a 4 de abril de 2020, as pesquisas no Google por atendimento psicológico chegaram a 88% e para o serviço online avançou para 41%. Segundo uma apuração da Isma-BR e da consultoria Betânia Tanure Associados, no Brasil, 75% da população tem alguma sequela de estresse e 30% destes sofrem de burnout. Esse desgaste físico e psíquico afeta diretamente a lucratividade das empresas. Quem sofre de burnout trabalha, em média, 5 horas a menos. 2020 e 2021 certamente serão lembrados como os anos mais estressantes, cansativos e tristes da história.
Esse cenário trouxe uma nova realidade para a área de recursos humanos, mudando a maneira como as equipes interagem e trabalham. Esgotado física e mentalmente, a produtividade de um profissional diminui consideravelmente. A situação se torna um lembrete para as empresas, pois antes de qualquer meta de trabalho, existem seres humanos que precisam de cuidados, compreensão e atenção.
Para evitar ao máximo o avanço dos transtornos mentais durante a pandemia, a Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou um guia chamado "Cuidados para saúde mental durante a pandemia", indicando para fazer pausas e descansar entre os turnos de trabalho ou até mesmo tirar um momento para relaxar dentro do expediente. Também não esquecer de prestar atenção na alimentação, já que passamos mais tempo em casa e não recusamos algumas bolachinhas, bolos ou pão.
Continuar se exercitando foi outra sugestão da OMS e manter sempre o contato com a família e amigos, da maneira que for possível. E é claro, evitar o uso de tabaco, álcool ou outras drogas. Segundo o órgão, isso é uma ilusão passageira e a longo prazo, piora o bem-estar físico e mental. Para alcançar uma boa qualidade de vida e conseguir aproveitar os momentos felizes, a saúde mental é essencial. Porém, mantê-la exige atenção, esforço e cuidado diário. Apenas o fim da pandemia não será suficiente para melhorar o estado de ânimo daqueles que vêm sofrendo crises de pânico e ansiedade durante o isolamento.
Pensando nisso, ainda em 2020, a Pfizer, uma das empresas responsáveis pela realização de uma das vacinas em circulação, liberou um guia sobre saúde mental pós pandemia. Construído de forma colaborativa por 21 especialistas renomados no Brasil, o guia oferece um olhar sensível e sistêmico sobre o cuidado mútuo. Ele foi feito para servir como auxílio a profissionais da saúde que trabalham no atendimento diário de pessoas que tiveram suas vidas afetadas pela Covid-19. De tudo isso, é possível analisar uma coisa boa: as consequências da pandemia fez com que as pessoas começassem a valorizar mais com sua saúde mental. De acordo com uma pesquisa feita pela Mastercard, 62% dos brasileiros passaram a se preocupar mais com sua saúde mental, enquanto 58% acreditam que cuidar da saúde se tornou essencial.
A demanda de psicólogos e psiquiátricos nos serviços da Prefeitura de São Paulo aumentou consideravelmente durante o isolamento social. De acordo com a Associação Brasileira de Psiquiatria a procura aumentou 82% em consultórios particulares no Brasil. Com isso, o número de atendimentos nos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) de SP passou de 24 mil em setembro de 2019 para 52 mil em outubro de 2020. Independente da forma, todos devem buscar meios de cuidar de sua saúde mental e psíquica para evitar danos cada vez mais graves. Procurando respeitar seus limites e dominar os pensamentos, as pessoas podem usar esse momento caótico como forma de fortalecer sua saúde e o autoconhecimento.
Por Beatriz Aguiar, Gabriella Lopes e Sara de Oliveira
O que é a voz? Segundo o Google é o “som ou conjunto dos sons produzidos pelas vibrações das pregas vocais sob pressão do ar que percorre a laringe”. Para nós, humanos, a voz se mistura com outro conceito: a de sentimento, definido como a capacidade de se comover. É exatamente assim que pessoas que usam a voz como instrumento de trabalho se sentem. Ao mesmo tempo que precisam pensar nelas como cordas vocais a serem cuidadas, também vêem nela um meio de trabalhar com aquilo que amam. Por outro lado, nem todos têm esta consciência e negligenciam os cuidados que deveriam ter para não se prejudicarem.
Clara Rocha
Aos 11 anos, Clara descobriu um cisto de prega vocal - região da laringe que nos permite emitir sons, ou seja, a voz. Estes cistos podem ser congênitos ou causados pelo abuso vocal. No caso de Clara, que ainda era novinha, foi um infortúnio passar por isso tão cedo. Logo as complicações viriam.
Na adolescência decidiu se juntar ao coral da igreja e consequentemente, passou a usar a voz com frequência. Dessa vez, o assunto era mais sério e a “roquidãozinha”, considerada fofa pelos amigos e familiares, causada pelo cisto, se tornou um problema. A saída era ir para a mesa de cirurgia e resolver de uma vez por todas a questão. Por mais assustadora que fosse, o resultado foi positivo. “Dava conta da demanda”, explica Clara.
E a “demanda” era alta. Clara cresceu e se tornou dubladora, fonoaudióloga e professora - uma das três profissões que mais utilizam a voz no dia a dia. Sua experiência com o cisto lhe trouxe consciência da importância em cuidar do seu instrumento de trabalho.
Sua rotina como profissional que canta, dubla, narra e atua, além de coach vocal e fonoaudióloga, envolve uma série de exercícios ao longo da semana. O resultado é uma voz, segundo ela, bem condicionada e pronta para o que der e vier. Narrações para comerciais de um minuto? Ela tira de letra sem precisar de aquecimento. Agora, para o uso da voz durante horas, como quando vai dar uma aula ou cantar, os aquecimentos lhe dão conforto e preparação.
Clara, é o verdadeiro exemplo da necessidade de cuidar da voz. Para alguém que saiu de cordas vocais prejudicadas por um cisto e para se tornar multi-funções, é uma grande vitória e exemplo para quem quer começar no ramo.
Um panorama geral
Clara ainda aproveita sua visão como profissional e conta o panorama geral da história de profissionais da voz no Brasil. Para ela, o erro mais comum cometido por profissionais da voz é procurar ajuda apenas quando adoecem. O cuidado da voz, explica, deve ser acima de tudo, preventivo. Entretanto, observa esperança nas novas gerações.
A profissional conta ter muitos alunos que buscam tratamento médico preventivo. A nova geração, segundo sua percepção, prefere prevenir a remediar. É comum ver alunos de teatro e dublagem consultarem otorrinolaringologistas e fonoaudiólogos com frequência, ao contrário de uma geração mais antiga que tinha o costume de procurar o médico somente quando necessário.
Flávia Alves
Flávia ainda quando criança quebrou o estereótipo de que videogames eram só para os meninos. Apaixonada pelo mundo dos games, em 2011 decidiu empreender um blog para reunir informações de um dos maiores RPG’s online da história, “World Of Warcraft” (WoW). A princípio a ideia era criar um diário pessoal no qual pudesse acessar facilmente todas as informações que encontrasse de WoW, mas com o tempo, atraiu uma galera interessada no assunto. Graças ao sucesso em falar do game, - e com o tempo, de vários outros - percebeu que sua vocação era explicar para o mundo sobre aquilo que mais gostava: jogos eletrônicos.
Foi assim que Flávia se tornou comentarista de campeonatos de e-Sports. Assim como existe o Brasileirão, a Copa do Mundo e o Super Bowl, existem as competições de jogos digitais dos mais variados tipos. Ela trabalha há mais de dez anos na área e atualmente, está comentando o campeonato de “Fortnite”, da empresa Epic Games.
O antes e depois
Flávia conta que sua carreira cresceu junto com o setor. O e-Sports se popularizou no Brasil com o estouro do jogo “League of Legends” que atraiu para o campeonato em 2015, mais de 10.000 espectadores ao Allianz Park. Na mesma época, nasceu a necessidade de ter pessoas especializadas que pudessem narrar e comentar o que estivesse rolando na partida.
Nessa época, a comentarista explica que tudo ainda era muito novo. Antes da pandemia, as narrações aconteciam ao vivo em um estúdio parecido com de jornais televisivos. O investimento era intenso na estética, mas quase nada no conforto. Ela conta que não existia cuidados com a saúde dos narradores e comentaristas. “Quando narrei “”, fiquei doze horas ao vivo”, comenta. A voz, obviamente, ficava desgastada e como o contrato, normalmente, é por temporada e não-fixo, não havia investimento das empresas nos cuidados dos profissionais.
Conforme o mercado evoluiu, esses problemas também foram sendo discutidos. Hoje, ela conta que não pode narrar mais que quatro horas seguidas e que durante esse tempo tem direito a pausas, intercalando com outro comentarista. Mesmo assim, as empresas ainda dão pouco suporte a eles.
Flávia explica que esse cuidado está começando agora e bem devagar. A Epic Games está oferecendo um mês de tratamento com a fonoaudióloga para os narradores e comentaristas que estão trabalhando em seu campeonato. Ela vê isso de forma bastante positiva, pois não tem o hábito de fazer tratamento contínuo para cuidar da voz. “Não é algo que eu faço sempre, mas deveria. A voz é um instrumento de trabalho e é preciso fazer manutenção”.
(Profes)“Sora Fátima”
Fátima Nietto tem 58 anos e mais de 35 anos de magistério. Formada em Educação Artística e Desenho Geométrico, Fátima é professora de arte e música e por isso, leciona em três instituições diferentes, com alunos de diferentes idades: do fundamental, com crianças do segundo ano até o nono, até alunos do ensino médio.
A "sora Fátima”, como os alunos a chamam, ganha por aula e a sua semana são 49 aulas no total, mas já chegou a ter 63 aulas semanais. Fátima disse que mesmo aposentada numa instituição, ela nunca gostou de ficar em casa e das “tarefas de casa”, sempre gostou muito de trabalhar e prefere, por isso, ter tantas aulas e continuar trabalhando nesta idade, não a incomoda.
O instrumento de trabalho de um professor é a voz. A partir dela o professor consegue se comunicar e ensinar o aluno. Portanto obviamente precisa de cuidado, porque sem a voz não tem aula. Fátima acabou desenvolvendo um problema nas cordas vocais. Chegou a ficar sem voz alguma. Isto foi há dez anos atrás. Ela foi ao médico que passou remédios, mas foi necessário repouso total por alguns dias. Sem falar nada e nem forçar a voz.
Fátima vs água
Preocupada com a saúde da sua voz, Fátima foi até uma fonoaudiológica para entender melhor o que aconteceu e avaliar a saúde de suas cordas vocais. Este acompanhamento durou oito meses e o aprendizado vai para sempre. Mas, o maior problema da professora é que ela não tomava água. Essa foi a causa de todo o problema que ela tem até hoje. Fátima falava muito e não tomava água suficiente. Por conta disso, aprendeu a sempre andar com uma garrafinha com água.
"Aprendi alguns exercícios, alguns eu já sabia por conta do coral, então eu comecei a fazer assim, exercício de manhã antes de começar a trabalhar, entendeu? E também me ajudou bastante. Mas hoje, quem me ajuda muito, aqui, ó [mostra a garrafinha]. É uma terapia. Precisa da garrafinha, entendeu?”, disse rindo.
A paulista sempre gostou de cantar. Já cantou nos corais do bairro da Colônia, o italiano, coral livre estes em Jundiaí, cidade do interior de São Paulo na qual ela mora há mais de 23 anos, e outro na capital paulista. Mas há quatro anos parou e não foi por conta dos problemas na voz, mas por causa da falta de tempo daquelas 49 aulas que acabaram deixando-a sem tempo. Mas ela disse que sente falta, porque era algo que ela gostava muito.
Tanto os corais como a fono a ajudaram muito. Até os dias de hoje a professora precisa fazer aquecimento vocal: “quando a escola é mais longe é melhor porque dá mais tempo de aquecer quando estou no carro” e também acabou ficando com a voz rouca por conta do esforço e da falta da água.
Fonoaudióloga
Conversando com a fonoaudióloga e atriz Danyelle Sardinha, formada em audiologia no Centro Universitário de Várzea Grande/MT (UNIVAG), frisou que a água junto com os exercícios de aquecimento e desaquecimento de voz são fatores fundamentais para o bom cuidado com a voz. Em todos os casos citados, todos os personagens utilizam a voz como instrumento, e por isso, é muito importante cuidar.
Dnnyelle afirma que existem pessoas que têm mais acesso à informação e conseguem cuidar da voz, um dos principais clientes são professores. Enquanto isso, feirantes, por exemplo, são os que menos procuram. Além disso, ela pontuou que cada profissional faz o uso da voz de maneira diferente, seja na quantidade de horas que ele trabalha, o tom da voz e a dinâmica. Logo, o trabalho desenvolvido pela fonoaudióloga também é diferente, mas existem cuidados básicos como a hidratação e o aquecimento.
O aquecimento é um passo fundamental para qualquer indivíduo que vá falar, para os profissionais que usam a voz como objeto de trabalho é essencial. Logo, o aquecimento varia também, em média ela recomenda 15 minutos. Mas, a pessoa deve ir até ao fonoaudiólogo para saber que tipo de aquecimento e desaquecimento de voz é mais indicado para a pessoa e evitar lesões nas cordas vocais por fazer o processo errado.
No Brasil, o acesso ao sanemamento básico é decisivo para o período menstrual. Estudantes podem perder até 45 dias de aula por não terem acesso a nenhum item de higiene básica para esta fase, o que leva a improvisar com os métodos, utilizando: pedaço de pano, papelão, papel e até miolo de pão. Neste podcast vamos tratar sobre essa realidade que milhares de pessoas ainda sofrem:
No contexto da pandemia, mas abordando temas atemporais, Pedro Catta-Preta Martins e Luise Goulart buscam compreender a situação atual da área de saúde mental e seus desafios em meio ao isolamento social. Para tal, foram entrevistadas a psicóloga Any Carolina Ribeiro e a estudante Luana*, que lidou com quadros de síndrome do pânico e ansiedade durante o surto de Covid. As perspectivas das convidadas não se limitam a apenas explicar o presente momento, mas também discorrem sobre temas essenciais ao combate aos transtornos psicológicos em geral. Clique aqui para ouvir o podcast.
*Preservamos o sobrenome da entrevistada por questões de privacidade.
**Imagem: vectorjuice (freepik.com)