Associação Paulista de Apoio ao Transplante (APAT) alia acolhimento e ajuda financeira para pacientes na fila de espera
por
Khadijah Calil
Lais Romagnoli
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04/09/2025 - 12h

Diagnosticada inicialmente com fibrose hepática, que evoluiu para uma cirrose sem causa definida, Andréa Teixeira Soares aguardou oito anos por um transplante de fígado. Nesse período, perdeu três gestações e viu a incerteza se tornar rotina. Hoje, ela é coordenadora da Associação Paulista de Apoio ao Transplante (APAT) e ajuda outros que passam pela mesma experiência da espera por um órgão.


O Brasil é referência mundial em transplantes públicos: mais de 30 mil procedimentos foram realizados em 2024, segundo dados do Ministério da Saúde. Porém, no mesmo ano,  78 mil pessoas ainda permaneciam na fila de espera sem tempo estimado, com a procura maior por rins, córneas e fígado.


A situação de Andréa, que hoje atua na tesouraria da APAT, faz parte dessa estatística que aponta que a espera por um órgão compatível e a falta de acolhimento nesse período geram um novo obstáculo para quem precisa da cirurgia.

Andréa Teixeira Soares, coordenadora da APAT.
Andréa hoje atua na tesouraria da APAT. Foto: Khadijah Calil


Após passar pela operação e por um processo delicado de recuperação, Andréa foi convidada para atuar como voluntária na APAT, na casa que hoje é localizada no Cambuci, em São Paulo. “Eu sabia o que significava estar naquela fila e eu queria ajudar. A vida é uma troca, ninguém vive sozinho”, diz a coordenadora, à AGEMT.

Criada há 20 anos por médicos clínicos e cirurgiões da clínica Hepato, a APAT atende pacientes de outros estados que não conseguem permanecer em São Paulo durante o tratamento pré e pós-transplante e auxilia financeiramente e socialmente na permanência na capital durante esse período. Todo o trabalho realizado pela associação é mantido através de doadores, voluntários, ex-pacientes, médicos e entidades sociais.

Desde sua fundação em 2004, a instituição já realizou mais de 10,5 mil atendimentos e mantém uma casa de apoio que oferece estadia, alimentação, orientação psicológica, nutricional e acompanhamento médico para pacientes e acompanhantes vindos de diversos lugares do País.

Os pacientes chegam encaminhados por equipes médicas de diferentes estados quando estão próximos de receber um órgão e chegam junto a um acompanhante, para a internação, administração de medicamentos e cuidados individuais. Sem comprometer a autonomia dos transplantados, a associação enfatiza que o processo não termina na cirurgia e que cada órgão exige um protocolo de recuperação individual.

 Todo o trabalho realizado pela associação é mantido através de doadores, voluntários, ex-pacientes, médicos e entidades sociais.
Além do acolhimento social, a APAT atua no campo científico. Foto: Lais Romagnoli

Entre os que encontraram acolhimento na instituição está André, transplantado há 19 anos e diabético. Ele perdeu a visão, mas afirma ter ganhado uma nova percepção sobre a vida ao morar temporariamente no lar de apoio: “Eu agradeço pela oportunidade de poder viver bem, de ter esse suporte. Hoje eu não enxergo mais, mas posso ver além do que meus olhos me mostram. Sinto o carinho e esforço de todos aqui.”

Casos como o dele, que passou por um transplante duplo (rim e fígado), não são incomuns, mas aumentam o tempo de espera, já que o órgão precisa vir de um “doador falecido” – que tenha morrido de AVC, morte encefálica ou com morte causada por parada cardiorrespiratória, também de acordo com o Ministério da Saúde.

Além do acolhimento social, a APAT atua no campo científico. Médicos da clínica Hepato participam de pesquisas nacionais e internacionais, estágios no exterior e projetos de formação de equipes transplantadoras. A instituição também lidera o “Transplantes sem Fronteiras”, que apoia a criação de novos centros e casas de apoio inspirados nesse modelo.

“Nosso objetivo é impedir que pacientes abandonem o tratamento por falta de recursos. Muitas vezes, o transplante é a única chance de um recomeço”, afirma Andréa.

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Psiquiatras estão preocupados com jovens que fazem uso excessivo de vídeos curtos.
por
Martim Tarifa
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20/05/2025 - 12h

Segundo a psiquiatra Luciana Bagatella, estímulos gerados pelos vídeos liberam uma carga esgotadora de dopamina no cérebro. Uma carga tão grande acaba causando colapso nesse sistema, que agora exigirá estímulos mais intensos para alcançar o bem-estar, que antes era alcançado com estímulos muitos menores. “Assim, tarefas como trabalhar, estudar e praticar atividades físicas, ficam mais difíceis de serem desempenhadas”, afirmou Luciana.  

A Dra. alerta que os jovens podem ser os principais afetados, pois seu cérebro ainda está em desenvolvimento e eles são os principais usuários de redes sociais. Segundo ela, os vídeos têm impacto direto na saúde mental desses jovens: “Podem desenvolver transtornos psiquiátricos, tais como transtornos ansiosos, transtornos de humor, dependências, dentre outros.”  

Jovens entretidas por seus smartphones. Foto: Reprodução
Jovens entretidas por seus smartphones. Foto: Reprodução

O jovem de 17 anos Téo Lima desinstalou as redes sociais por conta dos vídeos curtos. Ele se deu conta que estava viciado e que o tempo que passava vendo vídeos curtos poderia ser mais aproveitado fazendo atividades mais úteis na opinião dele. Apesar de não se sentir afetado mentalmente, ele ouviu profissionais falando disso e desinstalou para se prevenir, porque não achava que aquele conteúdo contribuía em algo para sua vida. “Eu não queria ser afetado por esses vídeos, então desinstalei de forma preventiva”, disse ele.  

Sem mais vídeos curtos, Téo percebe que sente mais vontade de realizar outras atividades e aproveita mais seu dia. “Comecei a ler jornais, assistir programas de TV e ler mais livros do que eu lia antes.” No caso desse jovem, a informação foi fundamental para que ele percebesse como sua saúde mental estava vulnerável e decidisse parar de consumir esse tipo de conteúdo. 

Mas infelizmente, Téo é um caso raro, já que 41% dos usuários do TikTok no Brasil têm entre 16 e 24 anos.  Segundo o DataReportal o Brasil tem mais de 98 milhões de usuários ativos no TikTok, o que significaria mais de 40 milhões de jovens ativos no aplicativo.  

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Em sua quarta edição, ação reforça a importância da informação e do apoio às famílias
por
João Pedro Lindolfo
Lucca Andreoli
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04/06/2025 - 12h

 

Fotografia: Wellington Freitas  Reprodução/Instagram: @35elementos
Fotografia: Wellington Freitas 
Reprodução/Instagram: @35elementos

A caminhada de conscientização sobre a síndrome Cri Du Chat - ou Síndrome do Choro do Gato, uma alteração genética rara que afeta o desenvolvimento físico e intelectual - aconteceu no sábado (17), no Parque Villa Lobos, em São Paulo.

A doença, presente em uma a cada 50 mil pessoas, ocorre quando uma parte do cromossomo cinco é perdida, o que causa características como a face arredondada, olhos separados, mandíbula pequena, orelhas baixas e um choro agudo parecido com um miado de gato, de onde vem o apelido.

O diagnóstico é realizado através da genética clínica, com testes que avaliam os cromossomos, e o teste de FISH ou CGH-array, que detectam a deleção do cromossomo cinco.

A síndrome impacta diretamente a rotina das famílias, exigindo acompanhamento contínuo com diferentes especialistas. Por isso, a disseminação de informações confiáveis e o estímulo ao diagnóstico precoce são fundamentais para promover mais qualidade de vida às crianças e a quem cuida delas.

A importância do diagnóstico precoce vai além do aspecto clínico: ele abre caminhos para que as famílias se organizem emocionalmente e encontrem apoio em redes especializadas, fortalecendo a jornada de cuidado e inclusão. O conhecimento da síndrome, associado à troca de experiências entre famílias, é um passo decisivo para transformar desafios em conquistas diárias.

Em 2022 foi lançado o primeiro livro a respeito da síndrome no Brasil, intitulado de "Síndrome de Cri du Chat: mais amor, realidade e esperança” (EFeditores e Literare Books International, 264 págs., R$ 72), além de ser o ano da primeira edição da caminhada dedicada a pessoas que convivem com a síndrome.

A publicação veio a partir da vivência de famílias e do engajamento de profissionais que acompanham de perto os desafios do diagnóstico e do tratamento. O livro se tornou referência para quem busca compreender não só os aspectos clínicos da condição, mas também as realidades sociais, emocionais e educacionais enfrentadas por quem convive com ela.

Com entrevistas de profissionais médicos, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais e psicólogos, a obra de Sandra Doria Xavier, Fernando da Silva Xavier e Monica Levy Andersen traz também uma perspectiva que auxilia familiares e profissionais que trabalham com portadores da síndrome.

Capa do livro: Síndrome Cri Du Chat: mais amor, realidade e esperança  Instagram: @criduchatbrasil
Capa do livro: Síndrome Cri Du Chat: mais amor, realidade e esperança 
Instagram: @criduchatbrasil

A publicação do livro e a realização da caminhada refletem o compromisso com a visibilidade da condição. Ao longo dos últimos anos, a entidade tem promovido ações que unem acolhimento, informação e mobilização social, contribuindo para a construção de uma rede de apoio mais sólida e atuante.

Em meio a esse esforço coletivo, o aspecto emocional e comunitário da Caminhada se destaca. “Encontrar outras famílias na Caminhada Cri Du Chat é encontrar a sua tribo”, define Juliane Gehm, mãe do Martin. “É um momento onde todos podem ser livres para ser quem são!”

Agora em sua quarta edição, a “Caminhada Cri Du Chat 2025” apresentou uma programação com atividades inclusivas, como áreas sensoriais (massinha, slime, bolha de sabão), desenhos e pinturas, pinturas faciais e tatuagens de adesivo, além de recreação com palhaços e personagens infantis.

Através do ato de conscientização, familiares, profissionais e portadores trouxeram luz ao tema. 

Segundo a neuropsicóloga Bianca Balbueno, a estimulação precoce é a chave: “Nos primeiros anos de vida, o cérebro da criança está num pico de neuroplasticidade, ou seja, a capacidade de aprendizagem é mais potente neste período, sendo assim, a estimulação precoce aproveita essa fase para promover o desenvolvimento de áreas centrais, como motor, cognitivo e social.” 

“Intervenção precoce promove o desenvolvimento redirecionando e fortalecendo trilhas de aprendizagem que podem estar em risco, especialmente em casos de alterações do neurodesenvolvimento”, ela acrescenta. 

Essa também foi a percepção de Lilian Lima, engenheira de software e mãe do Heitor Monteiro Lima, de 7 anos. O diagnóstico veio aos 19 dias de vida e aos 30 dias ele já iniciou a fisioterapia. “Com 2 anos e 9 meses ele andou. Hoje ele corre, chuta bola, arremessa para a cesta, ensaia quicar e treina saques de vôlei”, conta Lilian. Ela lembra que, no início, havia muitos medos — do desconhecido, do futuro e de como seria criar um filho com um prognóstico tão incerto. Mas reforça que o acesso a terapias e os estímulos desde cedo fizeram toda a diferença. “A fisioterapia foi essencial nos primeiros anos de vida, e os estímulos fizeram toda a diferença.”

Ainda sobre o plano de tratamento, Bianca afirma que deve ser individualizado “pois cada criança terá uma necessidade diferente, mesmo tendo o mesmo diagnóstico. Leva-se em consideração não apenas características da síndrome, mas áreas gerais de desenvolvimento, comportamentos desafiadores, excessos e déficits comportamentais, bem como a rede de apoio da família e o suporte fornecido pela escola”.

Participantes exploram atividades sensoriais durante a Caminhada. Fotografia: Wellington Freitas Reprodução/Instagram: @35elementos
Participantes exploram atividades sensoriais durante a Caminhada.
Fotografia: Wellington Freitas
Reprodução/Instagram: @35elementos
Caminhada tem presença de personagens infantis e momentos de interação Imagem: Wellington Freitas  Reprodução/Instagram: @35elementos
Caminhada tem presença de personagens infantis e momentos de interação
Imagem: Wellington Freitas 
Reprodução/Instagram: @35elementos
Espaço de desenho e pintura incentiva a criatividade  Fotografia: Wellington Freitas  Instagram: @35elementos
Espaço de desenho e pintura incentiva a criatividade 
Fotografia: Wellington Freitas 
Instagram: @35elementos
Cabo de guerra e outras dinâmicas de grupo promovem inclusão  Fotografia: Wellington Freitas  Instagram: @35elementos
Cabo de guerra e outras dinâmicas de grupo promovem inclusão 
Fotografia: Wellington Freitas 
Instagram: @35elementos

 

Após dois anos da concessão pública, Pérola Byington tem conflitos na administração da Organização Social Seconci
por
Daniella Ramos
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15/05/2025 - 12h

O Centro de Referência em Saúde da Mulher, do estado de São Paulo, trocou a humanização no atendimento pelo cumprimento de metas a serem batidas. Isso é o que garantem os funcionários que acompanharam a mudança vivida pelo hospital nos últimos três anos.

Em setembro de 2022, o Hospital Pérola Byington mudou de nome e local. Foi da Avenida Brigadeiro Luís Antônio, na região central, para a Avenida Rio Branco, nos Campos Elíseos, região conhecida como Cracolândia. E passou a se chamar “Hospital da Mulher”.

Após concessão do Estado para a Seconci, o local passou a ser uma Parceria Público-Privada (PPP). A enfermeira Denise Souza, funcionária pública que continua no hospital após a privatização, relata que no Pérola havia um comprometimento com um atendimento mais humanizado aos paciente, mas a atual organização social se preocupa mais com as metas que devem ser batidas pelos funcionários.

“Na primeira vez, achei tudo muito bonito e limpo, apesar das pessoas em situação de rua ao redor do hospital”, afirma Áurea Suda, tia de uma paciente em início de tratamento. Ela reclama da falta de assentos na recepção para aguardar atendimento.

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Fachada do Hospital da Mulher na Avenida Rio Branco. Foto: Daniella Ramos


Hoje, o hospital ainda atende pelo SUS. Após a PPP, funcionários públicos e privados passaram a trabalhar juntos. O número de leitos de UTI quadruplicou e essa melhoria veio junto ao aumento de cirurgias para bater metas, segundo relato de Denise. No Pérola Byington, havia apenas 5 leitos, o que quase causou a morte da paciente Edma Dias, internada para remoção de um nódulo. Ela relata ter ido mais de 3 vezes para o centro cirúrgico: "voltava, pois não conseguia realizar a cirurgia devido à falta de leito de UTI".

Denise ainda diz sentir falta de trabalhar em um hospital de referência como o Pérola Byington. Ela lamenta que o atual Hospital da Mulher ainda não tenha conquistado o destaque devido. “A notoriedade não é feita apenas com equipamentos, temos que contar com uma boa gestão da Organização”, reitera a enfermeira. 

Entramos em contato com a assessoria da Secretaria da Saúde, mas não tivemos retorno até a publicação da matéria.

 

 

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Entenda os danos causados por fake news sobre a alimentação
por
Laura Petroucic
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08/05/2025 - 12h

Com o acesso ilimitado à internet, atualmente é fácil encontrar informações sobre nutrição. Basta um clique para que as pessoas se informem sobre dietas e calorias pelo Instagram, TikTok ou X (antigoTwitter). Mas é preciso tomar muito cuidado com a fonte desses dados. Clickbaits como “arroz dá câncer”, “o açúcar das frutas faz mal” e “emagreça cinco quilos tomando essa sopa” parecem absurdos, porém muitas pessoas acabam tomando essas frases como verdadeiras. A nutricionista Fernanda Zanon, em entrevista à AGEMT, explica: “Informações nutricionais falsas podem levar a deficiências nutricionais, problemas hormonais e queda de imunidade”. E acrescenta: "os danos de misturar desinformação com alimentação não são apenas físicos, mas também psicológicos. A relação com a comida fica deturpada e confusa, podendo até gerar distúrbios alimentares em pessoas que buscavam melhorar sua alimentação", explica Zanon.

Um dos grandes responsáveis pela onda de desinformação nutricional são influenciadores com milhões de seguidores que, mesmo sem nenhuma formação na área, fazem postagens indicando dietas e produtos sem eficácia comprovada. Vitaminas e chás milagrosos são vendidos sem nenhum tipo de fiscalização por parte das big techs — e quem sofre o prejuízo são os consumidores.

E por que as pessoas compartilham esse tipo de desinformação na internet? Fernanda afirma que "algumas dessas pessoas acreditam porque tiveram alguma experiência pessoal que funcionou para elas — e acabam generalizando, como se aquilo fosse uma verdade universal. O que funciona para um pode ser prejudicial para outro. Outras, infelizmente, estão mais interessadas em ganhar visibilidade e engajamento, mesmo sabendo que o que divulgam não tem respaldo científico”, diz. 

Fernanda também comenta sobre o motivo de a população preferir buscar soluções online: “ainda existe uma barreira de acesso, seja por questões financeiras, falta de informação ou até pela ideia de que só se deve procurar um nutricionista quando se quer emagrecer. Isso faz com que muita gente recorra à internet em busca de respostas rápidas e fáceis — o famoso milagre!”. Em um país cuja acessibilidade à saúde ainda é segregada, a conscientização sobre o impacto negativo da desinformação é essencial para criar um ambiente mais seguro e saudável para todos, como aponta Fernanda. 

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Em meio à pandemia Covid-19, pessoas se mobilizam para ajudar portadores de depressão através da tecnologia
por
Lincoln Oliveira de Castro
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25/06/2020 - 12h

No momento em que todos os holofotes estão virados para o coronavírus, outra doença, altamente letal é deixada de lado. Pelos números da Organização Mundial da Saúde, 300 milhões de pessoas em todo o mundo sofrem de um mal silencioso que pode levar à morte: a depressão.

             Normalmente, quando alguém fala que está em depressão, muitos acabam não levando a sério e tratam apenas como um momento de tristeza. Aí que as pessoas se enganam. Segundo a psicóloga Mariana Caciaccaro, Presidente da Associação de ex-alunos e famílias de terapia da PUC-SP, o humor deprimido é diferente de depressão, que é multifatorial.

            Silenciosa e traiçoeira, a doença possui três desencadeadores. O biológico, que é passado dos pais para os filhos, o sociológico, que vai desde a mudança brusca das condições financeiras até o bullying e o psicológico, que envolve traumas, ansiedade crônica, estresse crônico e outros distúrbios. No Brasil, já é considerada o “mal do século”, alcançando mais de 5,8% da população, taxa considerada acima da global(4,4%).

Visto que neste transtorno as pessoas se sentem solitárias e podem até cometer suicídio, é necessária uma atenção especial. É o que dizem os terapeutas. Para Valéria Meirelles, terapeuta formada em psicologia na PUC-SP: “É necessário ter muito cuidado, entender a história deles. O depressivo é atendido de duas a três vezes por semana, sempre acompanhado de um psiquiatra. O meu trabalho como terapeuta é mostrar à pessoa que ela ainda pode ser útil.”.

Além do trabalho terapêutico, existem plataformas online que também dão suporte às pessoas com estes problemas e atendem 24 horas por dia. É o caso do Centro de Valorização da Vida e o entre laços.

Com a chegada do novo coronavírus, a depressão passa por uma nova etapa. Não há mais aquele abraço, aquele beijo. Enquanto ficar em casa protege da pandemia, alerta para o aumento dos casos de depressão e, consequentemente, de suicídio. Neste intuito, a tecnologia vem se mostrando essencial na adoção de novas medidas.

Recentemente, André Fernandes, um pastor e influenciador digital, lançou um aplicativo para dar suporte online contra a depressão em tempos de COVID-19. O aplicativo que tem como objetivo atuar no combate à depressão, ansiedade e suicídio (segundo maior causador de mortes entre jovens entre 15 e 29 anos em todo mundo), dá suporte 24 horas por dia, sete dias por semana. Em entrevista ao portal UOL, o pastor disse o seguinte: “Em um momento em que todos se voltaram para o número de mortes causadas pela pandemia do COVID-19, não podemos esquecer que, comprovadamente, o suicídio causa mais mortes no mundo do que as guerras e epidemias. Além disso, precisamos pensar no consequente abalo emocional que situações como a que estamos vivendo nesses tempos [AQ1] podem gerar para a sociedade como um todo.”.

Seguindo a mesma linha do pastor e influenciador digital, outros também vêm demonstrando solidariedade e ajudando pessoas. No caso de Tomás Levy, estudante e atleta de remo do Sport Club Corinthians Paulista, a ideia foi criar um canal no instagram para contar um pouco de como lida com o preconceito por ser portador da síndrome de tourrete, doença que carrega desde os quatro anos: “Sempre tive muita vontade de gravar os vídeos, mas sempre tive muita vergonha. É muito vergonhoso sentir este preconceito, porém temos uma chave para desconstruí-lo e a minha foi essa, contando a minha história e ajudando as pessoas.”.

Para a psicóloga Valeria Meirelles, qualquer medida preventiva contra a depressão é valida: “Todas as medidas preventivas contra a depressão são importantes. Todo canal que dá voz a uma angústia é importante.”.

No entanto ela ressalta para os perigos das redes sociais:

“As redes sociais, por darem voz a essa angústia são muito boas, mas, ao mesmo tempo são muito ruins. Tem que ser muito criterioso com o que você lê e bloquear as pessoas que não te agradam.”.

            Ainda que existam pessoas se movimentando em prol de outras que necessitam, “fazendo o bem sem ver a quem”, falta muito para que a discussão sobre a depressão e o suicídio chegue ao nível ideal. É a opinião da psicóloga Mariana Cacciacaro: “Na faculdade de psicologia tem sido feito muito com relação a isso. Em Setembro, a PUC fez algumas discussões na semana do Setembro Amarelo, no entanto, neste período de pandemia, vemos que este assunto está chegando muito mais nos profissionais da área do que nos pacientes.”.

            Ela ressalta que para que a discussão chegue ao ideal, é indispensável um aumento da consciência pública: “Assim como a discussão do uso da camisinha, a depressão precisa ter um aumento de consciência pública. Isso precisa ser levado para pessoas de menor renda em maior número, e de uma maneira que todos entendam como funciona.”.

            A depressão não é brincadeira, quando uma pessoa fala que está com a doença, por mais que depois de dito não seja diagnosticado, ela merece toda a atenção e ajuda. Quando atinge o ponto extremo, leva as pessoas a se suicidarem. Por ano, segundo a Organização Pan-Americana de Saúde(OPAS) e a Organização Mundial de Saúde(OMS), mais de 800 mil pessoas tiram as suas vidas, ou seja, essa discussão precisa de mais debates, mais consciência pública e, principalmente, ser levada a sério.  


 

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Em meio à pandemia do coronavírus, estudantes relatam crises diárias e ansiedade; psicólogos destacam um grande desafio
por
Raphael Dafferner Teixeira
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23/06/2020 - 12h

Desde a declaração da quarentena por parte do governador de São Paulo, João Dória (PSDB), no dia 22 de março, as aulas presenciais foram paralisadas. Assim, em aulas EAD, os estudantes têm enfrentado diferentes dificuldades.

Foto João Fernando Cruz Fernandes

O estudante João Fernando Cruz Fernandes, 18, relatou que, o mês de abril, foi o pior de todos: “Nessa época, eu tive ao menos uma crise por dia”. O morador do bairro Parque Continental, zona oeste de São Paulo, acha que o vestibular que fará no final do ano tem sido um dos maiores responsáveis, além de não poder ver seus amigos, não sair de casa e ir à academia, atividades que faz com frequência. 

Fernandes considerou que este seu temor de não passar no vestibular, além da própria pressão que já está envolvida no processo, tem uma grande relação com seu relacionamento familiar: “Meu pai me bota muita pressão”.

Aliviado, se considera melhor psicologicamente em comparação com abril e maio. Sua última grande crise foi quando comemorava seu aniversário, dois dias antes da data na verdade, no dia 24 de maio, quando seus pais, irmãs e sua namorada fizeram uma “mini festa surpresa” para ele. Porém, Fernandes confessou que não conseguia sentir felicidade: “Eu não conseguia parar de chorar”.

Contudo, os já matriculados na universidade têm dificuldades completamente diferentes. Para Fernanda Malagrino Galvão, 18, estudante de psicologia na PUC-SP, os estudos não são um peso. Muito pelo contrário, têm ajudado muito: “Estou adorando estudar. Amo fazer os trabalhos”, afirmou entusiasmada. Porém reconhece seu privilégio de já estar em uma faculdade: “Se eu fosse prestar vestibular no fim do ano, eu não aguentaria”.

A estudante ainda considera que estudar psicologia em um momento em que a saúde mental é uma questão, tem a ajudado a levar melhor esse problema: “O que a gente está aprendendo tem tudo a ver com o que está acontecendo agora”.

Foto Fernanda Malagrino Galvão

Galvão está desde o dia 2 de abril na casa de sua família em São Sebastião, litoral Norte de São Paulo. A estudante da PUC se considera bem psicologicamente “minha saúde mental continua a mesma de antes da pandemia”, disse. A jovem está dividindo a casa com mais nove pessoas, atualmente, algo que a ajudou muito: “Estar com muitas pessoas ajuda muito, na verdade. Quando eu estava em São Paulo, eu sentia que a casa estava sempre vazia, eu me sentia mais sozinha”, e ainda completou: “Interagir com mais pessoas diminui um pouco esta angústia”.

Durante o mês de março, quando ainda estava em seu apartamento no Alto de Pinheiros, zona oeste de São Paulo, Galvão dizia se sentir muito angustiada. “Caminhava para um ‘cenário ruim’”, confessou.

Quando estava em São Paulo, a universitária disse que as notícias a afligiam “eu chorei lendo algumas”, desabafou.

Para a psicóloga que já trabalha há oito anos na Escola Vera Cruz, Maria Teresa Oliveira Lima, 57, os adolescentes, mais do que nunca, enfrentam um desafio enorme: “Já são mais de 80 dias! E 80 dias sem ver os amigos, ir à escola, sentir o vento no rosto, para os adolescentes, é muito tempo!”, disse. Porém, Oliveira ressalta a diferença entre cada um, dizendo que alguns respondem melhor que outros: “É um problema global, mas cada comunidade, cada pessoa é afetada pela pandemia de uma forma”.

Além disso, Oliveira ressaltou que os jovens são afetados de maneira diferente que os adultos, o que acaba tendo um impacto psicológico muito grande: “Justamente no momento em que estão ‘ganhando a cidade’ perdem o direito a Ela”.

Apesar das dificuldades, a psicóloga formada pela PUC-SP avalia que não teve um número maior de conversas com os alunos agora do que presencialmente, mas “com certeza elas incluíram temas novos”, e reiterou ainda a importância de os jovens terem alguém para desabafar com durante um momento como esse.

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por
Isabella Candido
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27/05/2020 - 12h

A nova rotina em meio à pandemia de Covid-19 não está sendo fácil  e aprender a lidar com isso tem sido um processo gradual. Mais do que a responsabilidade de se precaver para não atingir os mais vulneráveis, é preciso ter consciência para identificar situações que representam privilégios e reconhecer que a vulnerabilidade não está ligada somente à saúde das vítimas, mas às desigualdades em que  elas estão inseridas.

Quando se pensa que a primeira morte no Rio de Janeiro foi de uma empregada doméstica, cuja patroa, além de não considerar necessária uma dispensa remunerada para o isolamento, também não informou que poderia estar contaminada pelo vírus, fica evidente que  as complicações da doença têm endereço e alvo certo. Entretanto, tem sido comum  o discurso de que “estamos todos no mesmo barco”. Realmente, o vírus pode atingir a toda e qualquer pessoa. Mas a realidade é que ele vem sendo muito mais danoso para as pessoas de baixa renda e as comunidades em que vivem. As periferias do Brasil são as regiões mais vulneráveis nessa pandemia, onde os moradores vêm vivendo em situação de risco e fácil contaminação, sem as condições essenciais para cumprir as recomendações de higiene.  

Até agora, o distrito com maior número de mortes por Covid-19 ou por suspeita da doença na capital paulista é a Brasilândia. A região teve um total de 156 mortes contabilizadas pela prefeitura até o dia 16 de abril. No início do mês, eram 103 óbitos, mas nos últimos 15 dias houve um aumento de 53% no número. Uma média de 53,5 mortes por cada 100 mil habitantes. Apesar disso, pouco se ouve de medidas de assistência que possam ser realmente efetivas para a  população das favelas.

Moradores apontam o não cumprimento das medidas de preveão e isolamento como um fator para o agravamento da situação. Os famosos bailes de rua continuam sendo realizados, atraindo muitos jovens que, em outros momentos, também se reúnem com os amigosExistem comércios não essenciais funcionando normalmente e uma grande movimentação nas ruas. Outro fator influente é a desinformação. Boatos e fake news se disseminam enquanto informação de qualidade não chega para todos.

Embora haja casos de  desrespeito ao isolamento, a maioria das pessoas estão na rua por necessidade. Para muitos, é preciso ir para o corre para sobreviver a essa pandemia. Ninguém pode se dar ao luxo de parar. Se parar, não come, não paga aluguel, não compra remédio e nem vive. Quem anda  pelo bairro vê gente como se não houvesse isolamento algum. Os hospitais estão saturados e já atingiram sua capacidade máxima de atendimento. E, com isso, ter acesso à saúde está cada vez mais difícil.

Quando se tem uma casa bem estruturada e acabada, com mais de um cômodo, comida na mesa, brinquedos, aparelhos eletrônicos, uma boa rede de Wi-fi e uma TV com vários canais, cumprir à risca a medida de isolamento não é tão difícil assim. Mas como pedir para várias pessoas dividindo um único cômodo, sem conforto ou distração alguma, sem alimento e elementos básicos de higiene, ficarem em casa? Centenas de jornais estão noticiando o movimento nas favelas. Mas só quem vive na periferia sabe que muitas vezes é na rua que se encontra aquilo que deveria  ter em casa.

Enquanto as soluções propostas pelo governo não conversam com a realidade da periferia,  várias ONGs vêm fazendo um grande trabalho para dar auxílio a essas comunidades. Na Brasilândia, institutos como o Adê Ferreira e as ONGs Sou da paz e Amigos do Gordão estão realizando ações para evitar que se aumente ainda mais o contágio e ajudar as famílias afetadas pela Covid-19.

“Isolamento social, home office e álcool em gel têm sido importantes para impedir que o vírus se espalhe ainda mais. Mas a dificuldade é bem maior para quem não pode levar o expediente para dentro de casa, quem está sem recursos para compra de kit de higiene pessoal, ou quem precisa dividir um só cômodo com a família inteira”, afirmou Lucas Ferreira da Silva, diretor do Instituto Adê Ferreira.  

Em entrevista concedida à Agemt no dia 24 de abril, Silva contou  que grande parte da população da Brasilândia ainda estava à espera do auxílio emergencial anunciado pelo governo. Muitos não têm acesso à internet ou enfrentam dificuldades para lidar com ela, o que dificulta o processo, resultando na aglomeração nas portas das unidades da Caixa Econômica na região.

Ao passo que o Covid-19 avança nas periferias, aumentam também as internações e mortes da população negra. Dados do boletim epidemiológico do Ministério da Saúde divulgado no dia 18 de abril apontam que 54,8% dos óbitos registrados são de pessoas negras e pardas. É impossível se falar da relação da pandemia com a desigualdade social sem levar em consideração as questões raciais que são um elemento fundamental na pobreza da população.

Em um efeito sistêmico de séculos de discriminação e racismo, as pessoas negras são maioria da população de baixa renda e, consequentemente, as mais afetadas direta e indiretamente pelo vírus. Uma grande parcela não foi liberada de seu emprego ou é trabalhador informal, por isso se expõe para obter o sustento da família. Muitos vivem em condições precárias, com dificuldade no acesso à saúde pública e sem os recursos básicos para se prevenir do vírus.  

“Muita gente morrendo, pois os leitos dos hospitais próximos estão cheios. Se fôssemos esperar pelo setor privado ou pelo governo, mais vidas seriam perdidas.Temos que agradecer a iniciativa dos moradores que estão tomando a frente, buscando parcerias para entrega de cestas e materiais de higiene pessoal”, acrescentou Silva.

Diante do descaso do Estado e das circunstâncias em que a população das periferias do Brasil vem vivendo após a chegada do vírus, a pandemia tornou explícita a realidade genocida de um país marcado pela desigualdade de classe e raça. A pandemia, nas comunidades, não é uma luta contra um vírus, mas uma guerra, perdida, contra uma vulnerabilidade resultante de anos de negligência.  Fica claro, mais uma vez, e não para todos, quem pode morrer aqui.

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Inara C. F. Novaes
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15/05/2020 - 12h
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Imagem: Inara Novaes

 

Nós, humanos, sempre nos julgamos donos da natureza. Hoje, uma ameaça invisível que se propaga pelos ares nos prova o contrário e expõe nossa fragilidade. As máquinas e a tecnologia prometeram-nos um mundo de maravilhas, no qual os limites seriam transponíveis e nada seria capaz de nos parar; desmantelamos ecossistemas e os esculpimos de acordo com as nossas vaidades.


Enxergamos agora, as consequências em um planeta que ultrapassou os 4 milhões de infectados: “a medida que destruímos as florestas, por exemplo, as diferentes espécies de animais que vivem nelas são obrigadas a se mover e as doenças passam de um animal para outro. E esse outro animal, obrigado a estar mais próximo dos humanos, provavelmente pode infectá-los”, descreve Jane Goodall, famosa primatologista britânica, em entrevista à Revista Exame, sobre a crise do novo coronavírus. 


A pandemia nos fez despertar subitamente da fantasia e cair sem paraquedas na realidade, nos confrontando com os limites do corpo e com a nossa transitoriedade; não somos o centro do universo, tampouco donos dele. Desde então, os que nunca dormem, que nunca param, foram forçados a puxar o freio de mão e estacionar, sem antes terem a oportunidade de desacelerar; agora não é somente o vírus que nos espanta, mas também a incapacidade de ficarmos a sós conosco e com os nossos próprios medos.

 

Luiza
Imagem enviada por Luíza Canato

O vírus desprezou a nossa necessidade de saber e de controle, a substituindo por uma sensação aguda de incertezas e impotência: “penso que o fato de estarmos lidando com o imprevisível pode nos deixar ansiosos, inseguros, temos naturalmente a necessidade de controle, de saber. Além disso, tenho percebido que o isolamento imposto pode trazer à tona questões que as pessoas tendem a ignorar, com a correria do dia a dia”, descreve a psicanalista Luíza Canato.

Moradora de Santos, cidade do litoral paulista, a psicanalista não costumava realizar sessões online, mas elas mostraram-se uma boa alternativa para superar as barreiras do isolamento social e continuar prestando os seus serviços, inclusive de maneira gratuita: “eu não realizava atendimento online e tive que começar a fazer de repente. Tinha essa dúvida, se seria possível estabelecer novos vínculos, penso que com pacientes que já estavam em processo terapêutico isso não foi uma questão, mas com novos sim. E eu me surpreendi muito, vi que era possível”.

Todavia, Luíza cita ter feito algumas mudanças em sua rotina para adequar-se à quarentena: “A questão relacionada à estrutura técnica é bem delicada, preciso separar um ambiente isolado, pois não estou indo até a minha clínica que fica em um prédio comercial, preciso de uma boa conexão, tenho que estar atenta para ver se o celular ou notebook estão com bateria, são coisas que eu não tinha que me preocupar antes”.

 

LOUISE
Imagem enviada por Louise Quintella

Da cidade do Rio de Janeiro, a psicóloga Louise Quintella realiza sessões virtuais e garante que exigem o mesmo cuidado que as presenciais, observando inclusive algumas particularidades: “a sessão online se utiliza da mesma competência técnica, sigilo, obrigatoriedade de registros e ética profissional que a presencial. Além disso, tem sido muito importante conseguir chegar até pessoas que estavam impossibilitadas de atendimento seja por transtornos como pânico e fobia social, que a depender do quadro, não conseguem sair de casa; e ainda a situação dos expatriados, que se sentem muito solitários e relatam que fazer terapia com alguém da mesma cultura é crucial.”

Além de superar barreiras geográficas e sociais, Louise relatou que não notou grandes mudanças na efetividade do atendimento: “acredito que definir limitações dependa de cada pessoa. Para uma pessoa que prefere o contato físico, nem que seja apenas o aperto de mãos na despedida da sessão, provavelmente as limitações pesam. Mas na minha experiência, não muda praticamente nada e tenho percebido maior adesão do que quando eu tinha o consultório presencial”.

 

RUI
Imagem enviada por Rui Brandão

Para Rui Brandão, médico da capital paulista e co-fundador da Zenklub (plataforma que conecta pessoas à especialistas em bem-estar emocional), o interesse pela terapia online pode ser uma reação direta da tomada de consciência da geração atual em cuidar da mente, assim como do corpo. Ainda assim, ele declara que há um longo caminho a ser percorrido, mas a tecnologia aliada às boas práticas do setor podem contribuir positivamente para o crescimento desse segmento.

Rui ressalta ainda a importância de nos cuidarmos e valorizarmos nossa saúde mental nesse momento de turbulência: "criar uma rotina considerando todos os fatores externos (mundo) e internos (dentro de casa), pode ajudar a minimizar os impactos de uma situação como esta em que estamos vivendo. Outras pandemias deixaram marcas como o estresse pós-traumático, por exemplo. Quanto mais as pessoas se cuidarem agora, menos problemas terão em um futuro não tão distante. É importante se manter positivo”.


Esse também é um momento oportuno para nos aproximarmos das pessoas que estão ao nosso redor, afinal, no rodo cotidiano que nos sufoca nem sempre temos tempo para cuidarmos uns dos outros: “não se cobrar tanto por produtividade, quarentena não é férias, está todo mundo ansioso e preocupado mesmo. Buscar estar próximo das pessoas por chamadas de vídeo, fazer atividades como assistir filme em simultâneo com amigos e aproveitar para estreitar laços com quem está ‘confinado’ com você, se for possível”, observa a psicóloga Louise.


Para finalizar, é importante ressaltar que os dias melancólicos que parecem nunca chegar ao fim podem nos trazer, sobretudo, a esperança de reconciliação com a nossa dimensão humana, sujeita a diversas vulnerabilidades: “é tempo de parar, sentir e observar. Penso que devemos dar espaço a nossa fragilidade, é normal sentir medo, angústia e ansiedade é uma oportunidade para nos observar e aprender a lidar com esses sentimentos”, finaliza a psicanalista Luíza Canato.
 

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Victor Prudencio
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11/05/2020 - 12h

Um dos pacientes que mais estão sofrendo com o novo coronavírus é a economia mundial. Neste começo de ano, quando o isolamento social se impôs como a principal medida de combate à pandemia,  vários recordes negativos foram quebrados.

Nos Estados Unidos, maior economia do planeta, o principal índice da Bolsa de Nova York, o Dow Jones, teve o pior desempenho para um primeiro trimestre desde 1896. O desemprego voltou a aumentar depois de dez anos, atingindo 4,4% em março. E a tendência é só piorar.

Especialistas do banco Goldman Sanchs, por exemplo, acreditam que o Produto Interno Bruto (PIB) vai diminuir em 24% no segundo trimestre, terminando o ano com recuo de 3,8%. O desemprego, por sua vez, pode superar 30%, conforme relatório do Federal Reserve (o banco central americano).

As previsões sombrias se estendem para o mundo todo. Segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), o PIB global deve cair 3% neste ano. No Brasil, a retração esperada é de 5,3%, a maior da história. Já a Organização Internacional do Trabalho (OIT) estima que 195 milhões de empregos vão desaparecer no mundo com a Covid-19.

Em artigo publicado no fim de março, o economista estadunidense Nouriel Roubini observou que os impactos econômicos do novo coronavírus têm sido não apenas mais rápidos, mas também mais graves do que os da crise financeira de 2008 e da Grande Depressão de 1930. O que demorou três anos para acontecer nas crises anteriores, levou menos de um mês na conjuntura atual.

Outra tragédia que a crise econômica de 2020 pode causar é a morte de centenas de milhares de crianças, de acordo com a ONU. Segundo um relatório do secretário-geral, António Guterres, quase 369 milhões de crianças de 143 países dependem das refeições que recebem na escola. Com as medidas de isolamento social, essas crianças correm o risco de não satisfazer suas necessidades nutricionais.

Outra previsão da ONU é que o número de pessoas vivendo na extrema pobreza (R$145 por mês) vai aumentar drasticamente, já que, por causa da recessão, os trabalhadores informais, autônomos e sem contrato assinado ficarão à beira do penhasco financeiro.

Pessoas perdendo o emprego, falta de alimentos para crianças e vários setores econômicos caminhando para a falência. A crise de 2020 é uma avalanche em que a bola de neve não para de crescer. De acordo com o contador Felipe Motta, os setores da economia que mais irão sofrer são o de aviação, importações e varejo. 

“Empresas de aviação cancelando voos a todo instante, o medo da população em ir para um lugar novo agora e o dólar custando mais de R$ 5 é o cenário perfeito para uma catástrofe”, diz Motta, referindo-se ao setor aéreo.

Afetadas pelo câmbio, as empresas de importação também começaram a sofrer os danos da crise, já que trazer as peças para as indústrias, por exemplo, ficou extremamente caro e, com a economia parada, as perspectivas de lucro minguaram. Isso porque as pessoas não estão indo às lojas comprar os produtos, e, se o comércio não vende, ele também não vai atrás das peças nas indústrias, gerando portanto um círculo vicioso que causa um prejuízo alto para esse ramo.

“Tudo está conectado. A indústria vai mal se o varejo vai mal e vice-versa. Com as pessoas dentro de casa, como que elas vão a shoppings e lojas? Vai ser outro setor da economia fortemente atingido”, explica o contador.

Nesse cenário caótico, líderes de grandes nações buscam meios de frear um pouco esse caminhão desgovernado que assola o planeta. O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sancionou no fim de março um pacote de US$ 2 trilhões para estimular a economia – o maior pacote do gênero já registrado na história do país. Entre as medidas anunciadas, está o envio de cheques de US$ 1.200 para os cidadãos mais necessitados.

Na Europa, o governo do Reino Unido vai garantir US$ 400 bilhões em empréstimos para empresas afetadas pela pandemia. Na França, será feita a entrega imediata de recursos a trabalhadores e empresas. Na Itália, o pagamento de hipotecas será suspenso e o governo dará auxílio financeiro às empresas afetadas e para a população necessitada. 

No Brasil, o auxílio emergencial de R$ 600 pode ser solicitado por pessoas de baixa renda. Além disso, o Congresso aprovou o estado de calamidade pública no país, o que permite maiores gastos, e o Ministério da Economia anunciou a injeção de R$147,3 bilhões para se contrapor aos impactos da crise.

“Os governos estão fazendo o necessário para que essa crise não se torne a maior da história. É um processo extremamente trabalhoso e cauteloso”, diz o economista Luis Souza, sublinhando o caráter inédito da situação atual, em que uma crise de saúde se alastra junto com uma crise econômica.

“A paralisação de quase todas as atividades também nunca havia acontecido na história. Nem mesmo nas crises de guerras, quando apenas lojas e restaurantes fechavam. Atualmente fechamos tudo”, acrescenta Souza. Ele acredita que a recuperação será demorada. “Sofreremos os efeitos até, no mínimo, 2023.”