Evento que acontece em outubro será palco de lançamentos importantes de franceses e chineses
por
Vítor Nhoatto
|
09/10/2024 - 12h

Criado em 1898, o Mondial de l'Auto, ou Paris Motor Show, é a feira automotiva mais antiga do mundo, e segue sendo uma das principais até hoje. Sediado no Paris Expo Porte de Versailles bienalmente, contará com as principais marcas do mercado entre os dias 14 e 20 de outubro.

Ao todo, 41 montadoras estarão presentes – mais que o dobro da edição de 2022 e mais do que em 2018, última realizada antes da pandemia de COVID-19. Apesar da volta de marcas que haviam abandonado o salão em 2022, como Citroën, Volkswagen e BMW, ainda estarão ausentes alguns nomes como Fiat, Toyota e Volvo. 

Presenças confirmadas na nonagésima edição do evento são de Renault, Ford, Peugeot e Audi, além de chinesas como BYD, Leapmotor e Xpeng. Como diferencial deste ano, a feira em Paris terá um estande especial com modelos icônicos da cultura pop e do cinema será montado com o Batmóvel, o carro do James Bond, o Delorean de "De Volta Para o Futuro" e outros.

BYD

BYD Sealion 07 em uma tonalidade de azul
Elétrico Sealion é baseado na nova plataforma 3.0 da BYD, que promete maior rigidez e modularidade - Foto: BYD/Divulgação

Parceira oficial da UEFA Champions League 2024, a chinesa Build Your Dreams marcará presença no Paris Motor Show, novamente, com lançamentos importantes. Foi na edição de 2022 da mostra que a marca se lançou na Europa de fato, com a apresentação de todos os modelos que hoje comercializa no continente. 

Dessa vez, a empresa levará a Paris seu modelo da divisão de alta performance: Yangwang U9, SUV elétrico, topo de linha. Espera-se que na mostra sejam exibidos mais detalhes sobre a instalação de uma fábrica na Hungria, para fugir da taxação de elétricos vindos da China, aprovada pela União Europeia na última sexta-feira (04).

Porém, o destaque ficará com a estreia europeia do mais novo membro da família Ocean, o SUV cupê elétrico, Sealion, com lançamento previsto no Brasil no ano que vem. Com até 600 km de autonomia (ciclo CLTC) e 500 cavalos, irá rivalizar com o best-seller Model Y.

Ford

Ausente na edição passada, a norte-americana usará o evento para mostrar o caminho que quer seguir nos próximos anos. Não foi só no Brasil que a marca passou por uma reestruturação, a exemplo, o Fiesta deixou de ser produzido e o Focus será o próximo, ambos considerados “modelos chatos” por Jim Farley, CEO da empresa. 

No lugar do buraco deixado na fábrica de Cologne, Alemanha, desde o final do ano passado, o SUV urbano Puma teve sua produção aumentada, e em Paris há a expectativa que seja apresentada sua versão elétrica. Também estarão presentes o Explorer europeu, SUV elétrico baseado na plataforma ID da Volkswagen, e a sua versão cupê, o Capri, estreando ao público no evento.

Kia

Outro retorno a Paris será da sul-coreana, Kia, com foco na sua linha de elétricos, almejando aumentar sua participação no mercado europeu. A versão remodelada do crossover EV6 será apresentada ao público, além do lançamento europeu do SUV urbano EV3, ambos em estudo para o Brasil também.

Grupo Renault

Teaser da traseira do Novo Renault 4
Continuando a abordagem iniciada no R5, o design do novo R4 tem elementos retrôs e futuristas - Foto: Renault/Divulgação

No entanto, as grandes estrelas do Mondial de l'Auto ficaram com as donas da casa. Do conglomerado Renault-Mitsubishi-Nissan, a francesa Alpine estará presente, marca de desempenho do grupo. Seguindo as tendências do mercado, o SUV cupê elétrico A390 será revelado, ainda em forma de conceito. 

Já em relação a Renault, maior fabricante francesa em número de vendas segundo a Associação de Construtores Europeus de Automóveis (ACEA), o esperado retorno do modelo 4 enfim será concretizado, agora como E-Tech. Apresentado no evento de 2022, em formato conceito, ele retornará às ruas após mais de 30 anos, agora no formato de um SUV urbano elétrico. Construído sobre a plataforma AmpR Small, apostará em um design retrô e muita personalidade, tal qual o irmão Renault 5 E-Tech, com quem compartilhará motorização e bateria.

Por fim, o grupo também apresentará o novo Dacia Bigster, versão alongada de sete lugares do Duster.  A marca romena, que no mercado brasileiro vende seus modelos com o emblema da Renault, — como o Sandero Stepway, vendido como Kardian — ainda trará o remodelado Spring, o Kwid europeu.  

Stellantis

Leapmotor T03 branco à esquerda e Leapmotor C10 branco à direita
Hatch T03 foca no preço, 16 mil euros, enquanto SUV C10 no conforto e espaço - Foto: Leapmotor/Divulgação

Das 15 marcas de automóveis do conglomerado Stellantis, alguns nomes importantes não comparecerão como Fiat, Jeep, Opel e até mesmo a francesa DS. Mesmo assim, o Paris Motor Show 2024 será o palco de importantes apresentações, como a estreia ao público do novo Alfa Romeo Junior, SUV compacto com opções híbridas ou elétricas.

Sob o duplo chevron da Citroën, em reestruturação na Europa para competir com a Dacia no mercado de modelos acessíveis, lançamentos também irão ocorrer. O facelift dos modelos C4 e C4X serão revelados, e os novos C3 e C3 Aircross serão apresentados ao público, esses bem diferentes das suas versões brasileiras. Além disso, um show car inédito irá mostrar a ideia de futuro para a marca.

E para fechar a participação das francesas, a Peugeot não poderia faltar. A marca de automóveis mais antiga do mundo, fundada em 1810, trata ao salão uma série de novidades, apesar de não serem modelos inéditos. Serão apresentados os novos E-3008 e E-5008 (aguardados no Brasil) em suas versões Long Range, com autonomia de até 700 km segundo o ciclo WLTP, e a versão elétrica do crossover 408, derivado do hatch E-308. Além disso, o conceito de 2023, Inception, estará presente, modelo que indica o futuro de design da marca.

No entanto, a principal aposta do grupo será o lançamento no mercado europeu da chinesa Leapmotor, que chega em breve no Brasil. Após uma parceria bilionária entre as empresas firmada em outubro do ano passado, os primeiros elétricos da marca serão enfim apresentados. O hatch subcompacto T03 e o SUV médio C10 serão os modelos responsáveis por essa inauguração, seguidos pelo inédito B10, que será revelado no evento. 

Tesla

Após a participação inesperada no Salão do Automóvel de Munique no ano passado, a Tesla também estará em Paris. A empresa de Elon Musk não confirmou quais modelos irá levar, mas espera-se o aguardado Robotaxi, com lançamento previsto para 10 de outubro, o remodelado Model Y, e a picape Cybertruck. 

Grupo Volkswagen

Novo Skoda Elroq na cor branca
O Skoda Elroq estreia a nova linguagem visual da marca e estará nas lojas já no começo de 2025

Em relação ao maior conglomerado automotivo da Europa em número de vendas, o VW Group terá suas principais marcas no evento, mas apenas um modelo inédito será apresentado. A Audi trará seus últimos lançamentos, as novas gerações de A5 e Q5, e os elétricos A6 e-tron e Q6 e-tron.

A checa Skoda usará o salão para apresentar ao público o novo Elroq, construído sobre a mesma plataforma dos VW ID.4 e ID.5 e Ford Explorer e Capri. O modelo apresentado na quinta-feira (03), será o SUV elétrico mais barato do grupo, que custará por volta de 33 mil euros, com uma autonomia de até 560 km. 

Com a ausência de Cupra, — mesmo com o lançamento recente do Terramar — Seat, Lamborghini e Porsche, a Volkswagen será a grande responsável pela novidade do grupo. Em Paris será apresentado o novo Tayron, substituto do Tiguan Allspace, que foi descontinuado com o lançamento da nova geração do Tiguan na Europa. Revelado por imagens vazadas pelo Ministério Chinês da Indústria e Tecnologia da Informação (MIIT), terá um design quase idêntico ao SUV no qual é baseado.

Demais marcas 

Também estarão presentes na edição 2024 do Salão de Paris, mas com lançamentos menores, a BMW e a Mini, com possivelmente os novos X3 e Cooper JCW. A norte-americana Cadillac também estará no evento com o Lyriq, e talvez o novo Optiq, ambos elétricos, em uma nova investida no continente europeu.

Completando a presença chinesa, o grupo GAC levará alguns modelos de sua marca Aion, com pretensão de vendas na região. A marca premium Hongqi também comparecerá, após a participação no Festival Goodwood no Reino Unido, em julho. Por fim, a recém saída do Brasil, Seres, e a Xpeng levarão seus elétricos ao Paris Expo Porte de Versailles.

A cultura popular jamaicana de sistemas de som comove e inspira transformações no estilo de vida dos brasileiros
por
Bianca Abreu
|
01/10/2024 - 12h

Por Bianca Abreu

Ao ar livre ou em um espaço fechado, caixas e auto-falantes são empilhadas umas sobre as outras formando grandes estruturas - por vezes tão altas que é preciso erguer a cabeça rumo ao céu para acompanhar seu tamanho. A elas se unem o toca-discos, vinis e amplificadores. Com a missão de manter esse grupo em harmonia chega o selecta, comandante desse conjunto que, desde seu surgimento na Jamaica na década de 40, foi nomeado Sound System. De lá pra cá, esse cenário já se repetiu incontáveis vezes e, faça chuva ou faça sol, esse movimento segue firme em seu objetivo coletivo de unir, informar e empoderar o povo negro e periférico - seja ele jamaicano ou brasileiro.

Foi uma espontânea sequência de oitos de maio na vida de um homem chamado Hadley Jones a responsável por tecer o surgimento desse que é um dos movimentos culturais mais relevantes do século XX. Em 1943, ele foi convocado para a Força Aérea da Inglaterra por conta da Segunda Guerra Mundial. Lá foi treinado como engenheiro de radar e enviado para a guerra na Europa um ano depois. Nessa mesma data, em 1945, o conflito foi dado como encerrado e, em 1946, Jones embarcou em Glasgow, na Escócia, para atravessar o Oceano Atlântico e retornar à sua terra natal.

 

Hadley Jones.
Hadley Jones. Foto: Acervo Hadley Jones / RedBull Music Academy / reprodução.

Em sua volta pra casa, ele trouxe na bagagem a habilidade de desenvolver circuitos elétricos e uma rede de contatos para a importação de discos de vinil. Em 1946, fascinado pelo rádio e sua capacidade de transmissão, o jamaicano - que também era músico - abriu uma loja de consertos do aparelho e aplicou ali seus novos conhecimentos adquiridos na Força Aérea. Confiando em seus novos saberes, Hadley Jones projetou, em 1947, seu primeiro amplificador. Em seguida, montou a loja Bop City e passou a comercializar vinis, tendo consigo uma coleção distinta de toda a ilha. Para valorizar essa coleção musical, trabalhou no desenvolvimento de um outro amplificador - dessa vez, de alta potência - e investiu em alto falantes poderosos. Seu equipamento realçava as frequências baixas, médias e altas como entidades separadas e permitia ao operador remixá-las. Seu principal objetivo era anunciar seus discos promovendo uma experiência de proximidade entre o público e a música.

Em certa ocasião, para promoção de um baile, o dono de uma loja de ferragens chamado Tom Wong encomendou à Hadley Jones um equipamento sonoro como o dele e o nomeou com o que, dali em diante, seria a nomenclatura substancial daquele conjunto: Sistema de Som. Assim, outros pedidos surgiram e o músico-engenheiro se firmou como o pioneiro inventivo da cultura Sound System jamaicana.

 

Pelo ar ou pelo mar, as ondas promoveram o intercâmbio cultural entre Brasil e Jamaica

O Mapa Sound System Brasil, primeira publicação nacional de mapeamento dos sistemas de som no país, explica que a ilha de São Luís do Maranhão foi a primeira parada em solo brasileiro que o reggae desembarcou. Na década de 70, o trajeto musical de uma ilha a outra foi realizado por meio das ondas de rádio, que superaram as marítimas e levaram as mensagens que protestam por justiça social aos ouvintes maranhenses. A conquista foi tamanha que, hoje, a cidade é conhecida como a Capital do Reggae.

Daniella Pimenta, integrante do coletivo Feminine-HiFi, seletora, produtora cultural e idealizadora do levantamento é uma das brasileiras arrebatadas pelo movimento. Ela conta que nenhum outro ambiente musical foi capaz de proporcioná-la uma experiência tão gratificante. O sentimento de pertencimento e a maneira como, a partir do grave, a música atinge, adentra e envolve o corpo são os principais fatores que contribuíram para o fascínio desde seu primeiro contato com o Sound System. Natan Nascimento, (também) seletor, produtor cultural, fundador do Favela Sound System e parceiro de Daniella no desenvolvimento do mapa, teve uma experiência semelhante a da colega: se apaixonou pela atmosfera da festa jamaicana à primeira vista. Já conhecia o reggae enquanto ritmo musical, mas a aliança entre o sistema de som e a música apresentou a ele a amplitude de sua dimensão cultural e social.

Tanto Dani quanto Natan foram atravessados pela magia desse movimento e o impacto foi terem seu estilo de vida transformado por ele, com convicções lapidadas e rotas profissionais reconduzidas. Mas apesar dos bons ventos nas festas do movimento, Dani confidencia que, em dado momento, empacou enquanto produzia o mapa. Ela própria contatava os coletivos para inseri-los no catálogo ilustrado mas, por alguma razão, passou a ser ignorada. O levantamento era fundamentado em perguntas simples, como fundação, equipe atual, principal vertente e localização. Além disso, uma foto do sistema de som era solicitada para que o conjunto pudesse ser registrado por completo.

O projeto só voltou a andar quando, em 2018, findou a parceria com Natan. Parte das equipes que não estavam listadas pelo fato de não terem retornado o contato a ela, curiosamente, o fizeram quando, por meio de uma publicação no Facebook, ele solicitou aos interessados o envio das mesmas informações. Ela ficou com a pulga atrás da orelha se perguntando, afinal, qual teria sido a razão para que ela nunca tenha recebido essas mesmas respostas. O resultado foi que ela conseguiu registrar 50 equipes e seu parceiro, o dobro.

Capa do Mapa Sound System Brasil.
Capa do livro Mapa Sound System Brasil. Composição: Daniella Pimenta / Natan Nascimento.

 

Vivendo de Sound System

Vitor Fya.
Vitor Fya, 25 anos, morador da Brasilândia e apreciador da cultura Sound System jamaicana. Foto: Vitor Lima / arquivo pessoal / Facebook.

Outro brasileiro seduzido pela cultura jamaicana é João Vitor Lima, de codinome Vitor Fya, morador da Brasilândia - distrito mais populoso da zona norte de São Paulo - e entusiasta da cultura Sound System há mais de uma década. Hoje, ele trabalha como serralheiro, mas aspira ter condições de fazer de seu estilo de vida mais do que um hobby: uma fonte de renda aliada à paixão.

Seu caminho se cruzou com o movimento Sound System quando ele tinha 15 anos. A primeira festa foi na extinta Fazendinha Skate Parque, pista de skate que fazia parte do complexo esportivo do Centro Educacional Esportivo Oswaldo Brandão (C.E. Vila Brasilândia). O espaço foi eliminado para ceder lugar à construção do Hospital Municipal da Brasilândia - cuja obra, de acordo com a secretaria de Infraestrutura Urbana e Obras, devia ter sido completamente entregue em 2017. No entanto, apenas em 2020 o hospital foi parcialmente aberto. A inauguração ocorreu pressionada pela alta da demanda hospitalar decorrente da pandemia de Covid-19. Não houve compensação pela retirada da pista de skate com a inclusão de um outro espaço público de lazer e esporte pela região e ficou “por isso mesmo”.

Fazendinha aos domingos
Movimentação dominical no Fazendinha Skate Park. Foto: Fazendinha Skate Park / Felipe Gomes / Facebook / Reprodução.
Obras no Fazendinha.
“No momento a obra passa por movimentação de terra e fundação. Nas áreas onde estamos trabalhando havia o CDC e parte do Centro Esportivo”, explica publicação da secretaria de Infraestrutura e Obras um dia antes do início das construções, 2015. Foto: Érika Kwiek / Site Prefeitura SP / Reprodução.
Obras do complexo Brasilândia.
À esquerda, o prédio do Hospital da Brasilândia. À direita, os guindastes das obras do metrô Brasilândia, linha 6, laranja. Construções planejadas de forma que possam atuar como um anexo. Foto: Bianca Abreu.

O Natural Dub, sistema de som comandado por Thales Silva, que comandava as sessões no Fazendinha, se posicionou via Facebook acerca da derrubada da área de lazer. Em nota, pontuou que é a favor de que mais hospitais possam ser construídos na Brasilândia, mas que isso ocorra - preferencialmente - em locais onde áreas de lazer recém construídas não precisem ser destruídas. Assim, o investimento na saúde do bairro não implicaria na dissolução de um espaço cultural frequentado pela juventude na região. Junto à mensagem datada de 22 de julho de 2015 foi publicado um conjunto de fotos do derradeiro evento realizado no local.

24º Vibe.
24º Vibe.
24º Vibe, último evento e amplificação realizados pelo Natural Dub no Fazendinha Skate Park, 2015. Fotos: Natural Dub SP / Facebook / Reprodução.

Em seguida, o Vitor conheceu o Anhangabaroots - como eram chamadas as sessões de diferentes coletivos promovidas ao longo do Vale do Anhangabaú, na região central de São Paulo - e ele foi essencial para aprofundar seu interesse pelo movimento Sound System. Foi lá que a chave virou, seus olhos brilharam e ele decidiu que a cultura dos sistemas de som seria a protagonista de seu estilo de vida. Ele relembra coletivos como o Trezeroots Sistema de Som e festas como a Terremoto, em que não só os sistemas de som das equipes África Mãe do Leão e Zyon Gate se agrupavam, mas que também formavam uma grande estrutura para amplificação a partir da união com outros coletivos.

Trezeroots.Trezeroots.
Trezeroots.
Anhangabaroots com Trezeroots Sistema de Som, 2014. Foto: Trezeroots Sistema de Som / Facebook / Reprodução.
Reunion of Dub.
Reunion of Dub.
Anhangabaroots com Reunion of Dub, 2014. Foto: DC Santos / Flickr / Reprodução.
Terremoto.
Anhangabaroots com Terremoto, 2014. Foto: DC Santos / Flickr / Reprodução.

Outro evento apontado pelo paulistano é a Virada Cultural. Ele destaca a variedade de vertentes reggueiras que podia prestigiar por conta da Arena Sound System, iniciativa que reuniu, simultaneamente, os principais coletivos no centro de São Paulo - sendo eles da capital ou não. Ele lamenta a falta de continuidade dessa programação.

 

Um sistema de som de qualidade aliado a bons discos faz relaxar e viajar sem sair do lugar

João Vitor considera que a cultura Sound System fisga seu público pela experiência completa e transformadora que proporciona. A qualidade dos equipamentos, sua instalação no espaço escolhido para a festa e o domínio musical de quem comanda a sessão são elementos essenciais para que a experiência seja agradável e enriquecedora. Estar em um ambiente seguro, acolhedor e com elementos educativos contribuem para instigar a curiosidade sobre os detalhes daquela cultura, expandindo sua consciência e fortalecendo a admiração e o vínculo com esse estilo de vida. São profundamente cultivados os princípios como respeito, tolerância e inclusão.

O sistema de som é estruturado por um conjunto de caixas equipadas de modo que a experiência sonora alcance e comova o público com o melhor desempenho possível. Para João Vitor, logo de cara, esse conjunto estrutural é o que mais chama a atenção. Os elementos gráficos, como cores e texturas, e a disposição de cada uma das peças de todo o aparato estrutural compõem a identidade do coletivo.

Salto Sound System
Formato de sistema de som do Salto Sound System, coletiva que apresenta-se em busca da “emancipação de mulheres negras e pessoas trans negras através da cultura Soundsystem”. Ilustração: Natan Nascimento / Mapa Sound System, 2019 / Reprodução.

 

Salto.
Formato de sistema de som do Salto Sound System, coletiva que apresenta-se em busca da “emancipação de mulheres negras e pessoas trans negras através da cultura Soundsystem”. Ilustração: Natan Nascimento / Mapa Sound System, 2019 / Reprodução.

A preocupação com o repertório também é parte indispensável da construção da identidade do sistema de som e de seu seletor. Ele deve ser capaz de aliar diferentes elementos sonoros a fim de abrilhantar sua performance e complementar o impacto artístico trago com a escolha dos discos reproduzidos - afinidade com o vinil é fundamental para qualidade do espetáculo. João explica que cada seletor costuma se especializar em um dos vários gêneros possíveis, mas que, nas sessões, costumam transitar entre eles, trazendo variedade e alguns ineditismos às suas apresentações. Vivenciando diferentes festas, ele passou a reconhecer uma variedade de vertentes como Roots, Steppa e Rub-A-Dub.

Questionado sobre conhecer a qualidade feminina na cena, João Vitor Lima exalta o trabalho do coletivo Feminine Hi-Fi, formado pelas seletoras e produtoras Laylah Arruda e Daniella Pimenta - reggueira que deu o pontapé no mapeamento dos sistemas de som em solo nacional.

Feminine HiFi.

 

Feminine HiFi.Feminine HiFi.Feminine HiFi.
Feminine HiFi.
Tendal da Lapa recebe 3ª edição do festival Feminine Hi-Fi, onde a line-up e o comando da sessão são 100% femininos. Foto: Bianca Abreu / Flickr.

 

Entre todos, ele: o pioneiro

Em vários momentos ao longo da conversa, Vitor salienta as virtudes do DubVersão Sound System - comandado por Fábio Murakami, o Yellow P (pronuncia-se ‘pi’) e pioneiro em terras paulistas. Desde 2001, ele propaga a cultura por toda São Paulo e o faz no mais genuíno modelo jamaicano, no que diz respeito à escolha por ambientes abertos e vertentes clássicas em sua performance. É o predileto de João Vitor - que comparece tanto às suas apresentações públicas como privadas - e foi o primeiro contato de Daniella Pimenta com o movimento. O evento Dub Na Praça acontece anualmente na Praça João Cabral de Resende, no Jardim Primavera, zona norte da capital paulista. É um espaço aberto e convidativo para curtir uma tarde gratuita nos moldes tradicionais do Sound System jamaicano. Já o Java, também comandado pelo Yellow P, é o braço pago dos eventos realizados pelo DubVersão e hoje ocorre na Rua Simonsen, na Sé. Além dessas duas festas inegociáveis, a agenda cultural paulista costuma integrar o DubVersão a novos espaços ao longo do ano.

Dubversão.Dubversão.
Dubversão.
DubVersão Sound System no Tendal da Lapa, 2023. Foto: Bianca Abreu.

João ressalta que prioriza as festas em que sente seu corpo e espírito em estado de conforto e harmonia. Ele conta que, quando vai ao Java, renova suas forças e sai de lá novinho em folha. Segundo ele, mesmo quando uma força maior impede que consiga adquirir o ingresso de uma das edições da festa, ele não reclama da cobrança existir pois a considera justa diante da qualidade da experiência promovida. Ele frisa que o coletivo sempre promove eventos gratuitos e que a qualidade da performance não se abala diante da cobrança da entrada no evento.

Ele conta que já leu comentários nas redes sociais em que alguns perfis reclamavam do fato de o Yellow P performar de costas para o público e questionam se isso seria sinal de vergonha. Vitor esclarece que, na realidade, isso faz parte da apresentação do seletor. Sua intenção é que o público visualize os caminhos que ele percorre para projetar os efeitos sonoros que escolhe ao longo da sessão. Para ele, isso é uma aula. Ele assiste atento e idealiza meios de reproduzir aquela performance em seus próprios equipamentos. O Susi In Transe, casa noturna que recebeu a seleção de Yellow P em suas primeiras apresentações declarou o fechamento de suas portas no último mês. O jovem paulistano lamenta o encerramento das atividades de mais um espaço cultural da cidade.

Susi In Transe
Produtor Daniel Ganjaman e Yellow P, em sessão no antigo Susi In Transe. Foto: Acervo Miguel Salvatore / UOL / Music Non Stop.

 

O desejo de compartilhar

Por conta da influência positiva que o Sound System como estilo de vida o proporcionou, João Vitor deseja ter a oportunidade de multiplicar os beneficiados por ele com a mesma maestria que os pioneiros que admira. Até hoje, como Vitor Fya, ele pôde comandar sessões em eventos de terceiros, como o RNR, sistema de som de seu bairro que o apadrinhou. Entretanto, sua intenção é alçar voos maiores para expansão do conhecimento sobre a cultura em seu território. Para ele, o que mais dificulta sua atuação na cena é o alto custo para tirar um plano como esse do papel, pois montar um sistema de som envolve custos com equipamentos, locomoção e investimentos no repertório musical. Ele gostaria de envolver a criançada do seu bairro nesse movimento cultural, despertando seu interesse em se aproximar da música a partir do manuseio de um toca-discos, estimular sua criatividade na administração dos botões da amplificação e inseri-los em uma prática onde é forte a relação de comunidade.

O intercâmbio cultural entre as ilhas jamaicana e brasileira se findou pela recíproca identificação dos oriundos das periferias de ambos os territórios. Os discos de vinil puderam expandir o alcance dos protestos de um subúrbio ao outro tendo as caixas empilhadas como aliada no ecoar dessas mensagens. Essa celebração reggueira reafirma a importância da valorização do território e o vigor dos encontros presenciais - por isso, conectando sensibilidade e força, tornou-se tradição cá e lá.

Elas estão presentes em alimentos como grãos e especiarias e são um risco à saúde amplamente desconhecido.
por
NINA JANUZZI DA GLORIA
|
24/09/2024 - 12h

Por Nina Januzzi da Glória

 

O ar na feira-livre de Perdizes é impregnado por uma vibrante mistura de aromas que se mesclam a cada passo: frutas frescas, ervas recém-colhidas, o toque apimentado das especiarias e aquele cheiro leve de terra úmida vindo das raízes expostas nas bancas. As barracas se alinham ao longo da rua, criando um verdadeiro mosaico de cores. O vermelho vivo dos tomates se contrasta com o laranja das cenouras e o amarelo das mangas que brilham ao sol da manhã. Penduradas nas estruturas de metal, as folhas verdes das alfaces e das couves balançam suavemente com a brisa, liberando um cheiro fresco e natural que convida os passantes a se aproximarem.

Os sons da feira são uma sinfonia própria: feirantes gritam suas promoções com entusiasmo, oferecendo abacates suculentos ou melancias frescas com gritos de “doce igual mel”. O barulho dos sacos de plástico sendo abertos, o tilintar das moedas e o burburinho constante de conversas animadas enchem o ar, enquanto os clientes circulam pelas barracas, atentos a cada detalhe. Homens e mulheres com sacolas de pano nas mãos escolhem minuciosamente o que levar para casa. Um idoso observa atentamente as frutas, apalpando as laranjas como quem avalia um velho conhecido. Mais adiante, uma mãe ensina ao filho a importância de cheirar as ervas antes de comprá-las, aproximando o manjericão do nariz do menino que ri, encantado com o aroma forte e adocicado da planta.

É difícil imaginar que algo de errado possa estar oculto em um cenário tão familiar e acolhedor. Tudo parece tão perfeitamente seguro, tão natural, que a ideia de uma ameaça invisível não passa pela cabeça de ninguém. Mas o que poucos sabem é que, entre esses produtos frescos e coloridos, algo que não pode ser visto a olho nu pode estar presente: micotoxinas.

Feira Rua Ministro Godói, bairro Perdizes  Foto: Nina J. da Gloria

Na barraca da dona Elza, o cheiro de especiarias é especialmente marcante. Uma combinação de cravo, canela e cúrcuma parece dançar pelo ar, envolvendo os clientes que se aproximam. Ela trabalha na feira há mais de 15 anos. Com suas mãos ágeis e firmes, pesa um saco de lentilhas para um cliente habitual enquanto conversa sobre as melhores receitas para preparar feijão com folhas de louro. Pergunto se ela já ouviu falar de micotoxinas. Ela franze a testa por um momento, hesita, e depois responde com um sorriso, enquanto termina de fechar o pacote com uma habilidade que só o tempo traz. E com certo espanto repete: “Micotoxinas?" E reafirma: não, que nunca ouviu falar disso. E confiando na tradição e no cuidado que sempre teve com seus produtos exclama que em sua barraca tudo é fresquinho, sem nenhum problema.

Essa despreocupação, no entanto, não é exclusividade de dona Elza. A maioria dos frequentadores da feira de Perdizes – e de qualquer outra feira-livre – desconhece o perigo representado por essas toxinas silenciosas. Elas são produzidas por fungos e podem estar presentes em alimentos comuns, como cereais, nozes, café e especiarias. E, embora sejam invisíveis, as micotoxinas têm potencial para causar danos graves à saúde humana: desde problemas hepáticos até a supressão do sistema imunológico. É uma contaminação sorrateira, que muitas vezes passa despercebida em meio ao colorido vibrante e ao frescor aparente das feiras.

Banca de frutas, especiarias   Foto: Nina J. da Gloria

A alguns quilômetros dali, o ambiente muda drasticamente. O colorido e o barulho da feira de Perdizes dão lugar à precisão e ao silêncio controlado do laboratório da Universidade de São Paulo, onde o pesquisador Eduardo Micotti da Gloria e sua equipe enfrentam de frente esse inimigo invisível. O cheiro esterilizado, frio e metálico do laboratório contrasta fortemente com os aromas vivos da feira. As superfícies de aço inoxidável e os equipamentos de alta tecnologia refletem a luz fria das lâmpadas fluorescentes, enquanto Eduardo caminha por seu ambiente de trabalho. Cada máquina tem uma função específica, desde a análise de amostras até a detecção de partículas minúsculas que os olhos humanos jamais conseguiriam ver.

Eduardo, um homem de aparência calma e de gestos precisos, me explica com entusiasmo a importância do trabalho que desenvolvem ali. Explica que as micotoxinas são mais comuns do que as pessoas imaginam. Elas podem estar em alimentos que consumimos todos os dias, como o milho, o café ou o amendoim enquanto ajusta cuidadosamente uma amostra de grãos de milho sob o microscópio. Todo o problema é que a contaminação não é visível. É possível consumir esses alimentos sem nunca perceber que estão contaminados.

                                                   

                       Equipamento usado no laboratório para análise dos grãos  Foto: Nina J. da Gloria

O pesquisador mostra uma amostra de grãos aparentemente perfeitos, tirados de um lote testado no laboratório. Ele conta que eles estão contaminados com aflatoxina, uma das micotoxinas mais perigosas. Se fossem vendidos na feira de Perdizes, ninguém suspeitaria de nada, comenta, reajustando o microscópio para mostrar os fungos que produzem essa toxina. A imagem que aparece na lente revela formas grotescas e bizarras, completamente alheias à aparência comum do milho que repousa no prato de tantas famílias. O laboratório de Eduardo pode não ser tão grande quanto as feiras ou tão movimentado quanto os campos de cultivo, mas seu trabalho é vital. Nele, a equipe está desenvolvendo novos métodos de detecção que podem ser aplicados diretamente no campo ou até em feiras, como a de Perdizes, com um sorriso de orgulho.Também mostra um protótipo de sensor automático, capaz de identificar a presença de micotoxinas em grãos sem a necessidade de processos laboratoriais demorados. O objetivo desse desenvolvimento é tornar a tecnologia acessível para todos, principalmente para os pequenos produtores, que muitas vezes não têm os recursos necessários para prevenir a contaminação.

Porém, Eduardo admite que a luta contra as micotoxinas vai além da ciência, pois é uma questão de saúde pública. O Brasil é um dos maiores produtores de alimentos do mundo, mas o controle sobre micotoxinas ainda é limitado. A fiscalização existe, mas é esparsa, e a falta de conhecimento entre consumidores e produtores só agrava o problema,” afirma ele, com um misto de frustração e esperança no olhar.

                                                   

     Pesquisador Eduardo Micotti da Gloria em seu laboratório, explicando sobre micotoxina   Foto: Nina J. da  Gloria

Para pequenos produtores rurais, como José dos Santos, que cultiva milho no interior de São Paulo, o problema das micotoxinas representa não só uma ameaça à saúde, mas também à sobrevivência econômica. Conta que perdeu metade da produção de milho no ano passado. Quando descobriu que estava contaminado, era tarde demais. As mãos calejadas refletindo a dureza da vida no campo e sem acesso às tecnologias avançadas, muitos agricultores como ele dependem de métodos tradicionais e da sorte para proteger suas safras. No entanto, como Eduardo explicou, a contaminação pode ocorrer facilmente durante o armazenamento, quando os grãos são expostos à umidade e ao calor, criando um ambiente ideal para o crescimento de fungos.

Ainda na feira de Perdizes, com o cheiro fresco de frutas e ervas ainda no ar, é possível refletir sobre a ironia da situação. Hoje, em uma época em que a informação está a um clique de distância, a ameaça representada pelas micotoxinas ainda é amplamente desconhecida. O trabalho de Eduardo e de tantos outros pesquisadores representa uma luz de esperança, mas não basta apenas contar com avanços tecnológicos. Para que a batalha contra essas toxinas seja realmente vencida, é necessário mais do que ciência. A palavra de ordem são políticas públicas mais rigorosas, fiscalização mais presente e, acima de tudo, conscientização coletiva. Os consumidores continuam escolhendo suas frutas e legumes com a mesma confiança de sempre, sem saber que o perigo pode estar escondido no que parece ser inofensivo. O conhecimento precisa chegar a todos, da dona de casa que faz compras semanalmente ao pequeno agricultor que depende de sua colheita. Porque, no fim, a segurança alimentar deve ser uma prioridade compartilhada por todos nós. O trabalho dos pesquisadores, como Eduardo, pode ser o primeiro passo, mas a jornada só será completa quando todos estiverem cientes e preparados para enfrentar o inimigo invisível que ronda silenciosamente nossos alimentos.

 

Butch Wilmore e Suni Williams decolaram em junho com previsão de retorno para 8 dias depois, mas tiveram problemas na nave
por
Juliana Bertini de Paula
|
12/09/2024 - 12h

 

A Nasa adiou o retorno de Butch Wilmore (61 anos) e Suni Williams (58 anos) em oito meses. A Starliner, aeronave da Boeing que levava os dois astronautas para a Estação Espacial Internacional (ISS), decolou no dia 5 de junho com previsão de retorno para o dia 13 do mesmo mês. Porém, problemas de vazamento de hélio e falha crítica nos propulsores - essenciais para manobras de acoplamento e reentrada na atmosfera terrestre - adiaram a volta para fevereiro de 2025.

Starliner (ou CST-100) é uma nave espacial em forma de cápsula proposto pela Boeing - empresa conhecida pelos aviões comerciais - em colaboração com a Bigelow Aerospace. A sua principal missão é a de transportar pessoas à Estação Espacial Internacional, e estações espaciais privadas, como a Estação Espacial Comercial. A CST-100 Starliner é projetada para ser capaz de permanecer em órbita por no máximo sete meses para ser reutilizada em até dez missões.

Esse foi o primeiro voo tripulado na espaçonave. O voo já havia passado por problemas com paraquedas antes mesmo da decolagem, que teve duas contagens regressivas descartadas. Além disso, o sistema de propulsão também já havia apresentado falhas.

 

Astronautas Suni Williams e Butch Wilmore à bordo da espaçonave Starliner. Foto: Nasa via Associated Press
Astronautas Suni Williams e Butch Wilmore à bordo da espaçonave Starliner. Foto: Nasa via Associated Press

O que acontecerá com Butch e Suni?

Wilmore e Williams são pilotos experientes e já acumularam 178 e 322 dias no espaço, respectivamente. Como acontece com todos os astronautas, isso os expõe à microgravidade e à radiação espacial, que afetarão a saúde de ambos.

O primeiro pode causar desmineralização óssea - com risco de osteoporose. Os astronautas perdem cerca de 1% a 1,5% de densidade óssea para cada mês passado no espaço. 

Além disso, esse ambiente também pode causar alterações na visão. Estudos espaciais mostraram que o sangue venoso muda a direção em que circula e se desloca para a cabeça, exercendo pressão intracraniana, o que afeta principalmente os olhos. A pressão prolongada também pode levar à Síndrome Neuro-ocular Associada ao Voo Espacial (Sans), que altera a capacidade de foco, às vezes de forma permanente.

 

Suni Williams e Butch Wilmore na ISS, sem gravidade. Foto: Reprodução/NASA
Suni Williams e Butch Wilmore na ISS, sem gravidade. Foto: Reprodução/NASA 

 

 

Já a radiação cósmica aumenta o risco de câncer para os astronautas, por meio do estresse oxidativo no corpo - quando compostos que não são úteis para a vida (radicais livres, água oxigenada, etc.) são produzidos em excesso. As consequências são   alterações na funcionalidade das membranas das células, o que leva ao aparecimento de tumores cancerígenos.

Não haverá falta de suprimentos, já que missões de reabastecimento de alimentos, água, oxigênio e filtragem de carbono são enviadas regularmente à estação. A ISS também conta com seis dormitórios, dois banheiros e um ginásio para os astronautas a bordo.

O resgate de Butch e Suni será feito pela missão da Crew Dragon, da SpaceX em 2025. Dois tripulantes foram removidos da missão para liberar assentos para os astronautas presos em órbita. A incerteza e a falta de concordância de especialistas não atendem aos requisitos de segurança e desempenho da agência para voos espaciais humanos, levando assim a liderança da NASA a mover os astronautas para a missão Crew-9.


 

O que acontecerá com a nave?

A aeronave retornará vazia à Terra com o piloto automático ativado, de acordo com Bill Nelson, chefe da Nasa. 

Aeronave Starliner, que retornará à Terra vazia. Foto: Reprodução/NASA
Aeronave Starliner, que retornará à Terra vazia. Foto: Reprodução/NASA

No sábado (1), o astronauta Butch relatou sons não identificados saindo do alto-falante da Starliner. Ele pediu aos controladores de voo em Houston para verificarem se podiam ouvir o som pulsante que saia de dentro da espaçonave. 

Em nota, a Nasa explicou que o ruído ouvido pelo astronauta a bordo da Estação Espacial Internacional parou. Segundo a agência, o ruído do alto-falante foi resultado de uma configuração de áudio entre a estação espacial e a Starliner.

Em sua terceira edição, a mostra se consolida na indústria automotiva, mas ainda pode melhorar
por
Vitor Nhoatto
|
19/08/2024 - 12h

Criado em 2022 como um substituto aos órfãos do Salão do Automóvel de São Paulo, suspenso desde 2018, o Festival Interlagos aconteceu mais uma vez. Tomando as instalações do The Town, mobilizou cerca de 120 mil pessoas entre os dias 09 e 11 de agosto e as principais marcas do mercado. Tudo isso mexendo com as emoções dos apaixonados pelas quatro rodas na mítica pista de Interlagos, zona sul da capital paulista.

Vista de cima da pista de Interlagos durante o Festival Interlagos Carros 2024
Obras acontecem no complexo, palco da música em São Paulo e agora definitivamente das motos e carros também - Foto: Vitor Nhoatto

Um pouco de história

Idealizado inicialmente como Festival Duas Rodas em 2021 pela revista de mesmo nome e pela Fullpower, que como o nome sugere era dedicado ao universo das duas rodas, foi com o tempo se expandindo. No ano seguinte, mudou para Festival Interlagos Motos, já com um público considerável, e anunciou também um irmão mais novo e maior, a edição Carros. 

As expectativas eram altas, já completavam quatro anos de ausência de qualquer evento dedicado ao mundo dos automóveis no Brasil. Em um país com uma relação forte com os veículos, terra de Ayrton Senna e com relevância internacional no setor, algo estava faltando. Não era por baixa adesão popular tal buraco, mas como no mundo todo, pós-pandemia e gradativamente mais volátil, reclamações e reivindicações assombravam os tradicionais salões. 

Por parte das empresas, o principal descontentamento era com o formato em si. Estático, grandioso e caro, cada vez mais um negócio impraticável. E por parte dos espectadores, batia um cansaço do título de “agente unicamente passivo”. 

Com o Festival Interlagos as coisas seriam diferentes. Saía o termo antiquado e entrava em cena um evento de experiência automotor. Nele, os visitantes passariam a poder experimentar na pista os modelos antes restritos a exposição, enquanto as empresas poderiam comercializar seus produtos. E assim foi.

Jeep Gladiator Rubicon azul no canto com foco na sala de financiamentos do outro lado do Boulevard
De forma oposta aos estandes, salas de negócios e de financiamentos para o visitante se tornar cliente em Interlagos - Foto: Vitor Nhoatto

A primeira edição teve recepção morna, participação de dez marcas e um pouco mais de 20 mil pessoas. Em 2023, o público dobrou e apesar de ter mantido a quantidade de marcas, foi o palco de lançamentos no mercado brasileiro como o Ora 03 da GWM e o GR Corolla da Toyota. Já em 2024, o crescimento foi de fato expressivo: 19 fabricantes de veículos e 118,7 mil visitantes, segundo a organização do evento.

Como era o evento?

Sua estrutura manteve-se, com estandes localizados na área dos boxes da pista e também no piso superior, chamado de paddock mall. No entanto, para comportar o número bem maior de expositores, a pista se transformou em uma mostra a céu aberto. Com direito a terra nos calçados e caminhada na grama, mas sem o lamaçal visto no Lollapalooza, era visível a expansão do evento.

Em alguns momentos, era possível ter a sensação de algo de grande porte e com relevância minimamente nacional. Se ouviam alguns sotaques diferentes, principalmente sulistas, e havia fila nas principais ativações do festival, seguramente a sala de briefing - etapa anterior ao test-drive - e nas brincadeiras interativas nos estandes, com destaque para o divertido e aconchegante espaço da Renault.

Estande da Renault com Kardian laranja ao fundo e cafeteria no canto direito
Estande da marca francesa lembrava mais uma sala de estar do que uma exposição de carros - Foto: Vitor Nhoatto

O contato com as aparentes intermináveis obras do local prejudicava a imersão completa em alguns momentos na área externa, e os tapumes não tornavam a experiência visual tão agradável. Longe do charme e glamour dos salões com certeza. Mesmo assim, o entretenimento era diverso e cativante. Para as crianças, área kids com atividades de pintura e brinquedos infláveis, aos gamers, uma arena com simuladores, e aos passeadores de shopping, lojas de acessórios com atividades interativas e brindes, além de um quiosque da perfumaria Natura.

A praça de alimentação era modesta, com mais opções comparado às outras edições, mas ainda sem tantas variedades vegetarianas e veganas, além de preços não tão chamativos. Falando em valores, os ingressos custavam entre R$98 e R$2.960. A sinalização foi outro ponto a ser melhorado. Não havia muitas indicações de onde ficavam a área de credenciamento, de test drive, a tirolesa (herdada do The Town) ou mesmo a localização das escadas.

Outro destaque foram as atrações. Houveram apresentações de pilotos na pista de drift e shows de Fernando e Sorocaba e Filipe Ret. Aqui a organização foi vitoriosa, pois nenhum incidente ocorreu e as apresentações cativaram a plateia. Para curtir a dupla sertaneja, era necessário comparecer no sábado e ter o ingresso Show Pass, que custava R$250 e permitia o acesso a um churrasco, à vontade, por cinco horas. Para ver o rapper, na sexta-feira, o ingresso básico já era suficiente.

Dos boxes aos holofotes

Partimos para o foco do evento, os carros, área em que as coisas prometiam ser melhores e realmente emocionantes. Chegando ao autódromo, o barulho dos motores na pista chamava a atenção no longo percurso até o local de fato do evento. Transfers gratuitos estavam disponíveis no estacionamento para quem não fosse fã da caminhada, tanto ida como volta.

Caso houvesse vontade de sentir com as próprias mãos, e pneus, o circuito, era necessário desembolsar R$495 para correr com três veículos. Havia também o Range Rover Pass por R$1.295 com direito a experimentar modelos como Evoque e Velar. Por último no topo, salgados R$2.960 permitiam andar de Lamborghini, Ferrari ou Porsche. 

Vários carros na parte dos boxes na pista de Interlagos, como Honda Civic Type R, Omoda E5 e Ford Mustang
No caso da maioria dos carros, como Type R e Mustang era necessário ter CNH por pelo menos três anos, enquanto com Lamborghini e Ferrari, 5 - Foto: Vitor Nhoatto

Dentro do prédio estava a maioria dos estandes. Na parte de cima, estavam empresas diversas do setor, com carros “vestindo” seus uniformes, inclusive alguns modelos exclusivos, como um Rolls Royce Cullinan e alguns Porsche 911. Embaixo, na área dos boxes propriamente, finalmente as marcas de automóveis. 

Estiveram presentes Mitsubishi, Honda, Renault, Toyota, Lexus e Abarth, sem grandes novidades. Além destas, a Volvo marcou presença com todos os carros de sua linha atual, incluindo o recém-lançado no Brasil, EX30, SUV compacto elétrico mais barato da marca. Aliás, o modelo teve uma das maiores demandas de test drive da mostra. 

No entanto, as estrelas do evento foram, mais uma vez, as marcas chinesas. Por todos os lugares do evento, víamos estandes de empresas de acessórios, estacionamento, pista e arena com alguns Ora 03. Falando de GWM, um dirigível com a logo da marca pairava pelo céu durante os dias do festival. Além disso, mais uma vez ela apresentou modelos inéditos, ainda em homologação. Dessa vez foram dois SUVs, um de luxo com seis lugares, Wey 07, e outro off road, Tank 300, ambos híbridos.

Do lado, encontrava-se outra protagonista oriental, a BYD. Na frente de suas compatriotas em números de vendas, a nona maior do Brasil também usou a festa para atiçar os consumidores. A minivan híbrida D9, da submarca premium Denza, chamava a atenção de imediato pela sua presença, apesar de ser um produto de nicho. O modelo que realmente irá mexer com o mercado e que estava no estande, trancado e com uma espécie de máscara, era o Yuan Pro.

Byd Yuan Pro com camuflagem colorida no canto esquerdo ao lado da minivan Denza D9 branca e Seal Stock Car mais ao fundo
Além de Yuan Pro e da estreia da Denza, Seal Stock Car prevê categoria elétrica inédita na competição - Foto: Vitor Nhoatto

Com dimensões próximas a de um Hyundai Creta, o SUV elétrico será lançado ainda esse ano no Brasil. A empresa promete preços competitivos tal qual o hatch subcompacto Dolphin Mini, presente lá também em sua nova versão de cinco lugares. 

Interlagos como palco

Em constantes reformas desde 2014, a complexa propriedade da Prefeitura de São Paulo possibilitou uma nova área na edição 2024 do Festival Interlagos Carros. No meio do circuito, mesmo local onde os palcos do The Town são montados, mais marcas estavam presentes como dito no início desta reportagem.

O acesso se dava pelas escadas externas, que possibilitavam uma boa visão da pista e atraiam os mais afetuosos por fotos. Mas, de novo, a distância poderia incomodar alguns. Era uma descida considerável, mas se optasse pelo elevador, que era um pouco demorado, o incômodo poderia ser menor. Já na grama, a emoção voltava e aumentava quando comparado à área interna.

De cara, o pomposo estande branco de uma marca totalmente desconhecida chamava os olhares. Seja pelo nome não "aportuguesado" e, portanto, curioso aos brasileiros, ou pela estreia da empresa em território nacional. Essa em questão é a Neta, chinesa com pretensões de fabricação no Brasil de seus carros, totalmente elétricos.

Estande de dois andares da Neta Auto na área externa do Festival Interlagos Carros 2024
A Neta Auto promete fechar 2024 com três modelos e 35 concessionárias no Brasil, dobrando a quantidade de lojas em 2025 - Foto: Vitor Nhoatto

Seus primeiros lançamentos serão um hatch, um SUV e curiosamente um esportivo. O primeiro, o AYA, era o único não disponível para test drive e concorrerá com Dolphin e Ora 03, apesar de menor, tamanho semelhante a um Chevrolet Onix. Custando a partir de R$124.900 na versão de entrada sem assistentes de condução, tem potencial. O design é questionável, mix de monovolume e crossover, e a autonomia é menor que seus concorrentes, 263 km segundo o Inmetro. Mesmo assim o preço é atrativo.

Na casa dos R$200 mil eis o X, SUV médio com pegada esportiva e moderna. Diferente do hatch, a presença do modelo de 4,68 metros é boa e atrai. Custará entre R$194.900 e R$214,900, com variações nos assistentes, mais uma vez, e no tamanho da bateria. A versão de entrada, 400, tem autonomia de 258 km, enquanto as outras duas, 500, segundo Inmetro, podem rodar até 317 km.

Por último e em um movimento até então inédito, um esportivo de duas portas, o Neta GT. Imponente e harmonioso, o veículo também era figura constante na pista de Interlagos. A disponibilidade para test drive do modelo havia se esgotado rapidamente no site antes do evento. Ainda sem preço definido, é o único do trio em homologação. AYA e X têm previsão de comercialização em setembro e o GT até o fim do ano. 

Diversidade e exclusividade

Seguindo pelo espaço, era possível se deparar com alguns robôs, carregadores (de celular e de veículos), food trucks, mais estandes e arenas. Destaque na área de apresentações foi a pista de drift, atrás dos estandes mais ao final da área externa do evento. 

Três carros de drift, dois Nissan 350Z e um Nissan Silvia na p[ista de drift
Apenas os pilotos podiam derrapar na pista, por questões de segurança claro, mas o público curtia como se estivesse em meio a fumaça - Foto: Vitor Nhoatto

Após as fortes emoções a caminhada continuava. Perto da nova pista de habilidades, uma espécie de circuito formado por cones, estavam mais duas estreantes, e chinesas. Pertencentes a Chery, mas lançadas como marcas independentes, tal qual em mercados europeus, Omoda e Jaecoo.

A primeira, de apelo mais jovem e dinâmico, trouxe o híbrido leve 5 e sua versão elétrica E5. O porte é parecido ao rival Jeep Compass, mas com uma caída de teto acentuada e estilo que puxa para um SUV coupe. Já a segunda, com uma pegada mais cúbica e um toque maior de refinamento, apresentou o 7, híbrido plug-in. A qualidade percebida da tríade é boa, nível de equipamento completo e promessa de preços competitivos quando comercializados no início de 2025. A expectativa antes do evento era de início ainda este ano.

Os três modelos estavam disponíveis para teste, porém, foram ofuscados pela outra novata e demais chinesas. Até o último dia haviam horários disponíveis. Mesmo assim, as empresas têm altas expectativas. Investimento de R$200 milhões, rede com 50 concessionárias até o ano que vem, 30 mil vendas anuais, quatro modelos inéditos e intenção de produção nacional. 

De frente a pequena plataforma das chinesas, algo cercado de expectativas e história, o estande Museu Automóvel. De longe, a silhueta de dois clássicos já atraia os olhares, e lá dentro, até os menos entendidos sabiam que estavam diante de lendas do mundo dos automóveis. 

A iniciativa foi outra novidade da edição 2024, e trouxe raridades do século passado, como o Plymouth Superbird, além do trio de superesportivos Porsche 918, McLaren P1 e Ferrari LaFerrari. No espaço que também contava com um estúdio de tatuagem, fotos e comentários com onomatopeias de espanto eram constantes, seja de crianças ou adultos.

Mais ao fundo, estrategicamente próximos da pista off-road, que era inclusa em todos os ingressos, mas sujeito a disponibilidade no local, estavam estandes de Jeep, Ram, Ford e BYD novamente. A estadunidense Ford levou suas picapes Ranger Raptor e F-150 para o ar livre, com a segunda apresentada inclusive em sua variante elétrica Lightning, futuro lançamento. Enquanto isso, a BYD dedicou seu segundo estande a seu mais novo modelo, a picape híbrida plug-in Shark, primeira com tal motorização no segmento. 

Por fim, mas não menos relevante, a Chevrolet esteve no evento. Além de alguns modelos Stock Car espalhados pelo Festival e da nova edição do carro de competição no estande em si, havia outra novidade. Tendo sido anunciada apenas algumas semanas antes, se tratava da Blazer EV, verdadeira estrela do espaço.

Três modelos Blazer EV no estande da Chevrolet, dois dos carros vermelhos e um prata.
Preço do modelo que estrelou o filme Barbie em 2023 ainda não foi divulgado, mas pelo posicionamento proposto deve ficar em torno de R$500 mil - Foto: Vitor Nhoatto

Após alguns atrasos por questões no desenvolvimento do software do modelo que marca a chegada de uma nova geração de elétricos na GM, enfim é hora. Haviam três no estande e alguns rodando na pista. De apelo esportivo - conhecido como o SUV do Camaro nos Estados Unidos - cativa pelo design, tanto exterior como interior. O acabamento é ótimo, mas ainda aquém dos rivais na mira da marca no Brasil, BMW iX3 e a nova Porsche Macan. Além disso, fica devendo piloto automático adaptativo e centralização na faixa de rodagem. 

De olho no futuro

Em sua terceira edição, o Festival Interlagos Carros mostrou-se mais maduro, e a participação do público e das empresas comprovou a sua consolidação no calendário das quatro rodas. Obviamente, o glamour e as emoções proporcionadas pelo sucessivamente adiado Salão do Automóvel de São Paulo não são as mesmas. Mas isso não é de todo mal.

O local mexe com o imaginário popular e as demandas do público por participação efetiva se cumpriram, apesar de ainda limitada e cara para a maioria. Além disso, as marcas podem, finalmente, vender seus produtos e os custos operacionais são consideravelmente menores, segundo as participantes em suas coletivas de imprensa. Enfim, de alguma forma, ambos os lados são agradados.

O caminho traçado até aqui foi exitoso, apesar de problemas organizacionais e estruturais. Além disso, o futuro parece promissor e a prefeitura de São Paulo, inclusive, confirmou as datas para 2025. Edição Motos acontecerá entre 28 de maio a 1 de junho e Carros de 11 a 15 de junho. Já o Salão, estipulado até então para novembro de 2025, segue em negociações.

Ápice de atividade solar ocorre neste ano e atividades celestes já podem ser observadas
por
Juliana Bertini de Paula
|
05/06/2024 - 12h

 

Desde o início de maio, explosões solares foram observadas por laboratórios astronômicos de todo o planeta, causando auroras boreais pela Europa. Cientistas afirmam que o ano de 2024 será de atividades solares extremas.

“É o momento que os astrônomos piram”, diz Marcelo Rubinho, um dos astrônomos residentes do planetário de São Paulo. Ele explicou o fenômeno em entrevista à AGEMT.
 

O que são?

As explosões solares são uma súbita liberação de energia com segundos de duração que acontecem nas manchas solares, regiões ativas um pouco mais frias.

“Por ser fluido, os campos magnéticos do Sol ficam embaraçados e quanto mais embaraçados, mais atividade solares ocorrem. Isso ocorre normalmente a cada 11 anos, mas neste está anormal”, explica o astrônomo.

Ilustração explicando o campo magnético solar. Foto: Addison Wesley
Ilustração explicando o campo magnético solar. Foto: Addison Wesley.

 

 

As linhas destes campos funcionam como tubos para o plasma, composto por partículas, principalmente elétrons. As linhas formam caminho para o material passar de uma região para outra. Assim, o local onde a energia é expelida se torna mais frio e se formam as manchas solares. O Sol se mantém nesse estado até trocar a polaridade a cada 11 anos.

 

Nestas regiões existe uma concentração de plasma armazenado. Quando há alguma instabilidade nessa região, ocorre a explosão, originando radiação eletromagnética que pode ejetar partículas para o sistema solar. 

 

Como podem afetar a vida na terra?

 

Nessas explosões, pode ou não acontecer uma ejeção solar. Caso essa liberação de partículas esteja exatamente alinhada à Terra, pode atingir satélites artificiais, causando dano nos painéis solares, interrupção de transmissão de dados, e, na litosfera, alterações  no fornecimento de energia, provocando apagões e afetando sistemas de navegação.

 

“A chance da terra ser atingida é muito pequena pois a ejeção tem que sair na direção da Terra e a Terra tem que esta na linha direta da ejeção”, conta Rubinho. 

 

 Porém, as explosões não causam riscos diretos para os seres na Terra devido ao campo magnético, que impede que as partículas extremamente energéticas atinjam os seres vivos. Mas um astronauta que está fora desse campo, por exemplo, e que por algum motivo estaria fora da proteção de sua nave, poderia ter câncer de pele, catarata ou morrer.

 

Explosão solar, é perceptível o plasma seguindo as linhas do campo magnético. Foto: NASA.
Explosão solar, é perceptível o plasma seguindo as linhas do campo magnético. Foto: NASA. 

 

 

Na Terra, essas explosões se tornam perceptíveis com a ocorrência de auroras boreais incomuns no Hemisfério Norte e raras auroras austrais no Hemisfério Sul, como a que aconteceu na Argentina, observada em Ushuaia, no sul do país. No Chile, o fenômeno foi visto na região de Los Lagos e na Patagônia.

 

Aurora austral vista do Ushuaia, no sul da Argentina. Foto: Reprodução/Servicio Meteorológico Nacional/X.
Aurora austral vista do Ushuaia, no sul da Argentina. Foto: Reprodução/Servicio Meteorológico Nacional/X.

 

 

Na Europa, há relatos nas redes sociais de aurora boreal na Hungria, na Suíça, no Reino Unido e no norte de Portugal. Já nos Estados Unidos, a aurora boreal foi vista nos estados de Massachusetts, Wisconsin e Flórida.

 

Atividades extremas

Na primeira quinzena de maio deste ano foram registradas as explosões mais intensas desde 2003. 

Uma grande mancha escura na superfície do sol, nomeada AR3664, cresceu e se tornou uma das maiores e mais ativas manchas solares vistas neste ciclo solar.

 

Mancha AR3664, que cresceu nos últimos meses. Foto NOAA.
Mancha AR3664, que cresceu nos últimos meses. Foto NOAA

 

 

O fenômeno atraiu atenção dos astrônomos após o Centro de Previsão do Tempo Espacial da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA) emitir um aviso de aumento do risco de erupções solares.

 

 Essas atividades são categorizadas por tamanho com letras, sendo a classe X a mais poderosa. Em seguida, existem as erupções da classe M, que são 10 vezes menos poderosas do que as da classe X, seguidas pelas erupções da classe C, que são 10 vezes mais fracas do que as da classe M, e assim por diante.

Acompanhado da letra, há uma escala numérica que vai até 9, para registrar a força da erupção.

 

Em 15 de maio, a Nasa, agência espacial estadunidense, registrou a explosão mais potente nos últimos 20 anos. Ela foi classificada como X8.7. Apesar de intensa, a atividade aconteceu no lado oeste do Sol, que se encontra em rotação na direção contrária da Terra. Por isso, não é esperado que o fenômeno provoque efeitos no planeta.

 

Outros fenômenos

 

Além das tempestades solares, dois meteoros chamaram a atenção dos cientistas recentemente: um que atravessou Portugal e Espanha e outro no Brasil.

 

Em 19 de maio, uma enorme bola de fogo gerada pela súbita destruição de uma rocha procedente de um cometa sobrevoou a região espanhola de Extremadura e vários distritos do noroeste de Portugal, até se desintegrar sobre o Oceano Atlântico. 

Essa rocha atravessou a atmosfera terrestre a uma velocidade de 161 mil km/h. A sua cor esverdeada e azulada indica que a bola de fogo é composta por magnésio.

 

Bola de fogo azulada vista em partes da Europa. Foto: Reprodução/Facebook.
Bola de fogo azulada vista em partes da Europa. Foto: Reprodução/Facebook.

 

 

Outro evento parecido ocorreu na madrugada da última sexta-feira (31). O observatório espacial Heller & Jung, localizado em Taquara, Porto Alegre, registrou a queda vertical de um meteoro sobre o Rio Grande do Sul.

"Este meteoro ingressou na atmosfera a uma altitude de 101,4 quilômetros e se extinguiu sobre o centro do estado na área de Santa Maria a uma altitude de 32 quilômetros", explica o professor Carlos Fernando Jung, responsável pelo observatório, em entrevista ao G1.

 

 

Meteoro caindo de maneira vertical no Rio Grande do Sul. Foto: Observatório Heller & Jung
Meteoro caindo de maneira vertical no Rio Grande do Sul. Foto: Observatório Heller & Jung

 

 

Outras atividades espaciais são esperadas ainda para esse ano, como eclipses lunares, chuva de meteoros e lançamentos de missões espaciais.

Acompanhe como foi a primeira mesa do evento , realizado no Tucarena, teatro da PUC-SP
por
Beatriz Alencar Gregório
João Pedro Lopes Oliveira
Geovana Bosak Santos
|
15/03/2024 - 12h

Na quarta-feira (13), a Agência Pública celebrou seus 13 anos de jornalismo investigativo no Tucarena, em Perdizes, em  parceria com o   curso de Jornalismo e a Faculdade de Filosofia, Comunicação, Letras e Artes da PUC São Paulo. O evento "Pública 13 anos: O jornalismo na linha de frente da democracia", contou com três mesas de debate ao longo do dia, reunindo nomes ilustres do jornalismo, da antropologia e do clima. A comemoração discutiu temas como a desinformação, a crise climática e a defesa da democracia.

A primeira mesa, com o tema “Desinformação e Populismo Digital”, foi mediada por Natalia Viana, co-fundadora e diretora executiva da Pública, ela também se graduou em Jornalismo na PUC e mencionou a escolha da universidade para sediar o evento. Segundo ela, “a democracia é a cara da PUC”. Como convidadas, juntaram-se à mesa a antropóloga Leticia Cesarino e a pesquisadora Nina Santos para discutir as ondas de desinformação, a regulamentação da inteligência artificial e o poder das big techs e algoritmos nos sistemas de informação.

Ao final da discussão, também foram abertas perguntas ao público. Geovana Bosak, estudante de jornalismo perguntou: "Como você vê o futuro do jornalismo em um ambiente que está cada vez mais dominado pela manipulação dos algoritmos e pela desinformação?"

Nina Santos:

"O jornalismo está passando por um momento de transformação, porque de fato a economia da atenção, que é o rege o funcionamento das plataformas digitais, acaba mudando muito até a forma de acesso das pessoas ao jornalismo. O que a gente vê nas últimas pesquisas é que as pessoas acessam cada vez mais o conteúdo jornalístico através das plataformas. Ao invés de entrar diretamente nos veículos, elas entram nas plataformas digitais, que são espaços de informação e também de entretenimento, e através dessas plataformas que elas acabam se informando sobre o que tá acontecendo, o que é importante, e sobre o quê que elas precisam agir".

A Agência Maurício Tragtenberg esteve presente na primeira mesa de discussão "Desinformação e Populismo Digital", e gravou um vídeo de cobertura. Para conferir, acesse: 

https://www.instagram.com/reel/C4icdfIOyQo/utm_source=ig_web_copy_link&igsh=MzRlODBiNWFlZA==

 

Como a adesão do sistema de videomonitoramento no Brasil representa a falência da segurança pública
por
Gabriela Figueiredo
Victoria Leal
|
27/11/2023 - 12h

Por Gabriela Figueiredo e Victoria Leal 

"Estão criando uma polêmica em algo que a gente já construiu, um sistema que muitas cidades já desenvolvem, que no metrô tem, em vários locais tem, é como se fosse algo muito inovador e na verdade estamos atrasados. São Paulo está correndo atrás de um prejuízo". Ricardo Nunes, prefeito da cidade de São Paulo, sobre o sistema de videomonitoramento Smart Sampa.

O Smart Sampa é o novo sistema de videomonitoramento da cidade de São Paulo, que iniciou, na segunda-feira (7) de agosto de 2023, a instalação de 20 mil câmeras inteligentes de segurança, que integram a tecnologia de biometria facial, com serviços públicos da cidade, para monitoração em tempo real da população. 

O sistema funciona unindo informações captadas dos rostos dos cidadãos pelas câmeras de segurança distribuídas pela cidade, com o banco de dados do sistema de segurança pública da região, para identificar, principalmente, pessoas que cometem infrações, mas segundo prefeito da capital paulista, Ricardo Nunes, a monitoração será utilizada em união com outros órgãos, para identificar possíveis acidentes e chamados voltados para políticas públicas.

O prefeito explicou ainda que “tem que ter mais de 90% de similaridade na biometria facial [para iniciar uma operação de busca] e não teremos a transmissão automática às forças policiais quando for detectado alguém que seja, por exemplo, um procurado da Justiça. Ele vai passar ainda por um comitê integrado à Controladoria Geral do Município para a análise antes do envio”.

A decisão do consórcio que cuidará do sistema passou por um pregão eletrônico, que contou com a participação de 12 empresas, em que o contratado foi o Consórcio Smart City SP, formado pelas empresas CLD – Construtora, Laços Detentores e Eletrônica LTDA, Flama Serviços LTDA, Camerite Sistemas S.A. e PK9 Tecnologia e Serviços LTDA, com previsão de instalação das câmeras em 18 meses, por um custo mensal de R$ 9,8 milhões.

 

HISTÓRICO

O sistema de videomonitoramento já tem seu histórico no Brasil, com instalações no Rio de Janeiro e Bahia. Em uma pesquisa publicada em novembro deste ano, pela Rede de Observatórios da Segurança - grupo criado em maio para coletar indicadores que não são divulgados oficialmente - de março a outubro, foram detidas 151 pessoas com o uso de tecnologias de reconhecimento facial, sendo 52% dos casos na Bahia, 37% no Rio de Janeiro e 7% em Santa Catarina.

A organização não oficial levantou os dados usando reportagens de veículos de imprensa, páginas das polícias e de outras organizações e órgãos nas redes sociais. Ainda, segundo a pesquisa, o perfil das pessoas presas segue a tendência da população carcerária, sendo 90% das pessoas negras, 88% homens, com idade média de 35 anos e com abordagens por tráfico de drogas e roubo.

E é aqui que o histórico passa a ter seu contrapeso na implementação da tecnologia. Em um primeiro teste executado durante os quatro dias de Micareta, em Feira de Santana, Carnaval fora de época que acontece no município próximo a Salvador, mais de 1,3 milhão de pessoas tiveram seus rostos captados e 903 chamados foram gerados, mas apenas 33 mandados de prisão foram cumpridos.

No Rio de Janeiro, uma mulher e um homem foram detidos por engano em Copacabana, em julho, com acusação de homicídio, em que, no processo de investigação do caso, foi descoberto que a procurada já estava na prisão havia 4 anos.

A professora do Programa de Tecnologias Inteligentes e Design Digital (TIDD) PUC SP, Dora Kaufman, explica que "o reconhecimento facial é uma das aplicações da técnica de aprendizado de máquina, subcampo da inteligência artificial", a aplicação serve para diversas atividades, desde reconhecimento de imagens em pesquisas no Google até biometria facial, em que o algoritmo aprende com base exemplos extraído de dados.

No caso da biometria facial, um dos obstáculos é processo de reconhecimento do rosto, que não chega à precisão completa. O cálculo acontece a partir da distância entre alguns pontos do rosto e comparação com o banco de dados. Quando um certo grau de semelhança é emitido, o alerta é direcionado.

A professora ainda aponta que “existem estudos de ONGs indicando que mais de 20 secretarias de segurança de cidades brasileiras estão usando esses sistemas, com falhas significativas. O problema é alguém ser reconhecido equivocadamente, ou seja, ser preso sem ter incorrido em nenhum crime simplesmente porque o sistema falhou”.

 

O CICLO SE REPETE

Com 90% de identificação da população preta em alvo do sistema e uma das maiores porcentagens da instalação de câmeras na zona mais rica da cidade - 3.300 câmeras na região central, 6 mil na Zona Leste, 3.500 na Oeste, 2.700 na Norte e 4.500 na Sul -

Amailton Azevedo, professor do Programa de Estudos Pós-graduados em História e do Departamento de História da Faculdade de Ciências Sociais da PUC-SP, aponta que "trata-se de outros mecanismos para renovar e sofisticar o racismo made in Brazil. Se há a tese de que considera o racismo brasileiro se manifesta de modo silencioso e velado, de outro, pode-se defender que políticas de segurança como essas tornam explícitas as soluções brancas para problemas negros e mestiços".

O prefeito Ricardo Nunes afirmou ainda que “quem tem que estar preocupado é quem fez alguma coisa contra a lei, mas quem não tem nada contra a lei, fique despreocupado. Alguém que fez algo contra a lei, alguém que traz transtorno para a sociedade, acho que essas pessoas têm que estar preocupadas”.

Em uma alusão com o mundo real, o anime japonês “Psycho-Pass” mostra, ainda no primeiro episódio, como o sistema de monitoramento por inteligência artificial pode ser falho a ponto de pôr em risco a vida da população que “não tem nada contra a lei”. O episódio apresenta um medidor de “potencial de criminalidade”, monitorado pelo Estado, que após atingir certos estágios, pode levar a prisão ou execução.

Após sofrer um trauma por tentativa de abuso, a personagem vítima tem seu psycho-pass elevado a nível de execução, mesmo sem nunca ter apresentado qualquer sinal natural do “potencial de criminalidade”.

Sendo 90% de potencial de identificação do sistema de monitoramento ou 90% dos alvos sendo pessoas pretas, a falta de precisão do Smart Sampa e de qualquer outro sistema vira mais um agravante para um problema estrutural da sociedade.

 

IMAGEM DE CAPA: Reprodução Portal Outras Palavras

Qualidade da água do rio continua muito ruim, mas margens recuperadas já trazem benefícios para a população
por
Lucas Gomes
Matheus Marcolino
|
21/11/2023 - 12h

Por Lucas Gomes (texto) e Matheus Marcolino (audiovisual)

 

Jhonatan Barbosa cresceu e passou grande parte de sua vida adulta em Cidade Tiradentes, extremo da Zona Leste de São Paulo. O dia a dia na periferia não era fácil. Ele começou a trabalhar aos 14, em buffets nas festas dos ricos do centro da capital. Já que a rotina de horas e horas dentro do transporte público era extremamente desgastante, sonhava em viver em um grande centro. E esse sonho é antigo: quando criança, nos anos 1990, sua mãe costumava levá-lo a um consultório médico na avenida Paulista. No caminho, passavam por hospitais e grandes monumentos da cidade, além da Marginal Pinheiros, que margeia o rio. Ele via os prédios na região da Vila Olímpia com espanto. Parecia uma outra realidade. 

Em 2019, Jhonatan conheceu sua atual esposa. Na época, ela morava numa kitnet em Santo Amaro, Zona Sul da capital. Com o início da pandemia, em 2020, ele decidiu se mudar para lá. O sul oferecia a Jhonatan o que o leste não tinha: além de conseguir morar perto do trabalho, agora ele e a companheira tinham opções de lazer, como as margens do Rio Pinheiros, que vive um processo de despoluição há quatro anos. Inaugurou-se um programa de casal: andar de bicicleta, caminhar, ou até mesmo fazer yoga no recém-inaugurado Parque Bruno Covas. Criou-se uma relação com um rio que estava morto.

O Rio Pinheiros sempre fez parte da história de São Paulo. Ele foi navegável até o início do século passado, quando o interesse do setor energético impulsionou uma mudança: o curso do Pinheiros mudou, e o rio passou a correr em direção à represa Billings, construída para servir como um reservatório para geração de energia hidrelétrica. Nos quase 100 anos que se passaram desde então, o Pinheiros foi um dos rios mais violentados pela população e pelo poder público, e se tornou sinônimo de sujeira, mau cheiro e descaso.

Em 2019, João Dória, então governador do Estado de São Paulo, fez uma promessa bastante ambiciosa: despoluir o Rio Pinheiros até o fim de 2022. O programa “Novo Rio Pinheiros” previa o investimento de mais de R$ 1,5 bilhão, que focaria no tratamento de esgoto para impedir que lixo e dejetos continuassem chegando ao rio. 

O mapeamento “Observando os Rios”, da ONG SOS Mata Atlântica, acompanha a situação do Rio Pinheiros e dá uma nota para a qualidade da água em três pontos de medição: Ponte João Dias, Ponte do Jaguaré e Ponte da Cidade Jardim. Desde o início do monitoramento mensal, em agosto de 2021, somente em duas vezes os pontos de medição não receberam a nota mínima (péssimo): em outubro de 2021, João Dias recebeu nota “ruim”, sendo o mesmo caso da Ponte Cidade Jardim, em janeiro deste ano. 

César Pegoraro, biólogo e integrante da Equipe de Água da SOS Mata Atlântica, conta que, passados quatro anos desde o início do programa Novo Rio Pinheiros, os avanços são inegáveis, mas a situação segue calamitosa. Foram registradas 650 mil ligações de domicílios à rede de esgoto, diminuiu-se a carga orgânica do rio, mas o estado da água do Pinheiros ainda é horrível. “A gente ressuscitou um rio e conseguiu devolver esse rio à UTI. Ele não é um rio saudável”, explica.  Na visão de César, João Dória cometeu um erro ao estipular uma data de entrega, já que a natureza tem um tempo próprio - e, às vezes, resultados concretos podem demorar a chegar.

A principal métrica usada no mundo para medir a limpeza de um rio é a de DBO (Demanda Bioquímica de Oxigênio). Ela determina quanto oxigênio é consumido em cada litro de água por causa da poluição. Em 2022, a gestão Dória afirmou que a meta estava sendo cumprida. “Dos 13 pontos de monitoramento do rio, 11 já apresentaram o chamado DBO abaixo de 30 mg/L, quantidade mínima para que a água não tenha odor, melhore a turbidez e permita vida aquática”, relata, em nota, a Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística (SEMIL) do Governo do Estado de SP. 

José Carlos Mierzwa, chefe do Departamento de Engenharia Hidráulica e Ambiental da Escola Politécnica (POLI) da USP, conta que um DBO de 30 mg/L não é o ideal para um rio vivo. Segundo ele, para que haja vida aquática é necessário um DBO na faixa dos 5 mg/L. O projeto de despoluição é coordenado pela SEMIL-SP e conta com participações da Sabesp e da Cetesb. 

Os órgãos e empresas citadas foram procurados, mas não responderam até o fechamento da reportagem. 

O CHEIRO 

Jhonatan conta que sentiu uma melhora no odor vindo do rio Pinheiros durante os últimos anos. O cheiro não incomoda seu trajeto para o trabalho ou quando ele sai com sua companheira para caminhar no Parque Bruno Covas, por exemplo. Na estação Cidade Universitária, da Linha 9-Esmeralda, porém, a história é outra: um odor forte de esgoto é notado pelos usuários do transporte público. A estudante Ana Carolina diz que o cheiro se intensifica em dias de chuva ou de calor, que estão se tornando cada vez mais comuns na capital.

Pegoraro explica que as diferenças entre os diferentes pontos do rio se dão pelos muitos afluentes do Pinheiros e do processo de saneamento nas regiões atendidas por eles. Enquanto nos arredores do Parque Bruno Covas o rio é mais verde e o tratamento de esgoto é localizado e avançado, regiões como a da estação Cidade Universitária ou do Parque Villa-Lobos sofrem para tratar grandes quantidades de esgoto. Os rios Pirajussara e Jaguaré, principais afluentes dessas localidades, ainda têm uma carga orgânica maior - o que acaba deixando o cheiro mais forte.

A IMPORTÂNCIA DO RIO

Um rio vivo impacta a comunidade de seu entorno de muitas formas, mas duas são as mais destacáveis. O primeiro - e mais imediato - aspecto é o da oferta de lazer. O Rio Pinheiros, por exemplo, teve suas margens revitalizadas, e pessoas como Jhonatan e outros moradores da Zona Sul ganharam uma nova opção de convívio com a família, amigos e natureza, mesmo que nem todo ambiente esteja próprio para isso. A despoluição de rios é uma boa oportunidade para o setor de turismo, e o caso do Rio Sena, na Europa, chama atenção: antes tido como “morto”, o canal francês agora é favorito a receber competições de natação nas Olimpíadas de Paris, em 2024.
 

O segundo aspecto impactado por um rio vivo é a saúde física e mental da população. A baixa qualidade da água dos rios vem, principalmente, do mau tratamento de esgoto - que afeta especialmente os mais pobres. Um relatório da OMS, divulgado em 2013, apontou que cada dólar investido em saneamento gera 4,3 dólares de economia na saúde global. “Saneamento é qualidade de vida e saúde pública”, afirma José Carlos Mierzwa, que acredita que o investimento do poder público nesse sentido é extremamente necessário.

A saúde mental também não fica para trás. Publicado em 2010, um estudo da Universidade de Chiba (JAP) aponta que a convivência com áreas verdes reduz o estresse e a pressão arterial. “Teríamos muito mais saúde se tivéssemos rios mais limpos. (...) Ajudariam muito a melhorar a saúde mental das pessoas e a diminuir a violência urbana”, aponta Pegoraro. 

Apesar dos avanços tímidos nos quatro anos do Novo Rio Pinheiros, o poder público e a sociedade civil devem continuar engajados no processo de recuperação do rio. Assim, quem sabe, o próximo passo pode ser tirar o Pinheiros da UTI.
 

Como a falta de regulamentação das plataformas digitais modula o comportamento civil e estatal
por
Amanda Tescari
Fernanda Querne
|
12/11/2023 - 12h

Por Amanda Tescari (texto) e Fernanda Querne (audiovisual) 

 

A modernização contínua das sociedades atuais a partir dos avanços tecnológicos alavancou diversos questionamentos acerca dos rumos da coletividade. No âmbito político, o neoliberalismo se alia ao fator tecnológico, formando uma nova forma de enxergar a realidade que nos cerca: a tecnocracia. Essa sistemática se dá com base na credibilidade da atuação do Estado alicerçada no conhecimento técnico enquanto verdade científica, de modo que esta se mistura com a ideologia política.    

Por mais que esteja vestido sob os trajes de neutralidade, este estudo teórico continua submetido à estrutura mercadológica, sujeito aos interesses de quem a controla - as big techs - razão pela qual é de grande importância a regulamentação do meio digital, viabilizando uma maior segurança dos dados e informações fornecidos online. 

 É possível entender a virada tecnológica feita pelas grandes corporações a partir do livro “A cidade Inteligente: Tecnologias urbanas e democracia”. Os autores são Evgeny Morozov e Francesa Bria. Morozov publicou Big Tech: a ascensão dos dados e  a morte da política. Já a edição de 2018 da Forbes citou Bria como uma das cinquenta mulheres mais influentes da Tecnologia pelos seus projetos focados em democracia digital. 

O livro explica como o neoliberalismo faz parte do conceito das cidades inteligentes, as quais continuarão buscando soluções digitais corporativas - em especial das plataformas digitais, dando magnitude aos nossos dados a partir dos sistemas algoritmos - lugares de controle e modulação de comportamentos. Surge então o questionamento sobre a ideia de neutralidade tecnológica e modernização constante. Isso porque as smarts cities se beneficiam deste tipo de governo, no qual a sua administração passa por uma descentralização. Assim, mesmo tendo que seguir alguns dispositivos regulatórios de governança, há uma ausência  de regulamentação das plataformas. 

 

                                           

                                            Legenda: Carro elétrico em Yokohama, Japão Foto: Smart Cities World

 

No universo das redes sociais, essa regulação também assume um papel primordial. Isso porque, em razão da rapidez exacerbada inerente aos tempos atuais, os indivíduos acabam por experienciar cada vez mais a sensação de pressa e inquietação. Decorrente disso, as redes sociais acabam por ocupar um papel de “poupar” o nosso tempo, e dentro deste contexto, tornam-se o meio mais prático de observar e compreender o que está acontecendo no mundo. 

Sobre o tema, o professor da Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP) Marcus Bastos opina, dizendo sobre a importância do regulamento das redes sociais, já que estas se transformam em um vetor dominante da construção do imaginário das pessoas e podem ser extremamente problemáticas em função da polarização, discursos de ódio e das fake news.

Não apenas ele, o advogado especializado em direito digital Bruno Bícego também destaca a importância da regulação dos ambientes online. Atuando de maneira próximo ao universo aqui elucidado, ele evidencia a questão sob seu aspecto político, enfatizando que a regulamentação em nada se confunde com o impedimento da liberdade de expressão, direito assegurado aos cidadãos brasileiros. 

Ao contrário disso, Bruno ainda expõe, em uma conversa realizada também digitalmente, sobre como a regulamentação precisa visar responsabilizar estas big techs, que atuam promovendo e investindo em campanhas em massa de propagação de fake news, de discurso de ódio ou até manipulação da opinião pública e de processos eleitorais e, consequentemente, colocando em risco a nossa democracia. 

A questão política resta, então, cada vez mais sensível dentro deste cenário. Os nossos dados são valiosos para o algoritmo e, dentro de um ciclo quase que interminável, os conceitos de informação e propaganda política se misturam na formação da opinião pública. Através da coleta e análise de dados de maneira extremamente personalizada, é possível delimitar perfis cada vez mais assíduos dos usuários, o que faz com que as grandes corporações estejam até mais íntimas de cada indivíduo do que eles mesmos. 

Para o professor, isso implica numa grande capacidade de manipulação em termos de marketing ou propaganda política. Durante a conversa, ele versa também sobre o fenômeno da pós -verdade e das fake news, destacando que, inicialmente, a pós verdade surge no sentido de derrubar narrativas que expliquem o mundo de forma absoluta. 

Contudo, a disputa de narrativas leva a uma dificuldade de encontrar consensos objetivos sobre muitas coisas - inclusive, às vezes, sobre fatos nomeadamente incontroversos. Com o algoritmo cada vez mais direcionado aos próprios interesses de cada um, torna-se mais palatável acreditar em tudo aquilo que aparece em nossos feeds, e, desta maneira, a checagem dos fatos torna-se cada vez mais acessória no processo de consumo e compartilhamento de informações. 

Conforme as pessoas ficam cada vez mais restritas a seus círculos e bolhas, essa dinâmica se acentua, pois elas perdem o acesso ao contraditório, fazendo com que se tornem cada vez mais convictas de suas visões de mundo. A discussão acerca da importância da regulação das redes sociais é de suma importância nessa geração tão tecnológica. No Brasil, entre as discussões no Supremo Tribunal Federal e o Congresso Nacional, o debate sobre o tema aguarda os próximos capítulos para que tenha seus detalhes mais bem delineados.