Contratado no dia 21 de abril de 2023, o treinador brasileiro Alexi Stival, o Cuca, chegava ao Corinthians após a demissão do técnico Fernando Lázaro. Com um passado "obscuro", Stival foi contratado sob protestos não só da torcida do Corinthians, mas até mesmo de torcedores rivais. Acusado de estuprar uma garota de 13 anos em 1987, quando era jogador do Grêmio Football Club Porto Alegrense, em uma excursão do clube gaúcho à Alemanha, Cuca nunca pagou pelo crime. Depois de mais de 25 anos, Cuca voltou a ganhar notoriedade no futebol brasileiro. Agora como treinador, o brasileiro liderou o Clube Atlético Mineiro a sua primeira conquista da Copa Libertadores da América, em 2013. Na época, poucas pessoas tinham conhecimento do episódio de 1987, permitindo com que o Alexi tivesse sua passagem por Belo Horizonte quase que despercebida por seus atos.
Três anos após liderar o Galo ao título da América, Cuca é contratado pela Sociedade Esportiva Palmeiras com o objetivo de liderar a equipe a conquistar o campeonato brasileiro, conquista que não vinha à sala de troféus do clube paulista desde 1994. Mais uma vez com pouca ciência da população e protestos quase que isolados nas redes sociais, Stival saiu do clube mais uma vez impune por seus atos passados. Depois de algum tempo fora dos holofotes, Cuca leva o Santos Futebol Clube à final da edição de 2020 da Copa Libertadores da América, cuja a equipe da baixada foi derrotada pelo Palmeiras por 1 a 0. No ano seguinte, ele volta ao Atlético Mineiro e lidera o clube a conquista do Campeonato Brasileiro, depois de 50 anos de seca, e da Copa do Brasil, sete anos após o último título do clube. Alegando problemas de saúde, o treinador deixou o cargo no final da temporada. Apesar do sucesso, a evolução das redes sociais e do conhecimento do caso de 1987 pelos apaixonados pelo futebol aumentou, e pela primeira vez, Cuca viu a pauta voltar a ser parte de sua vida.
Foi quando, em abril de 2023, o Corinthians, após demitir Fernando Lázaro, contratou Cuca. Conhecido por ser um clube abertamente ligado a causas sociais e democráticas, o Timão deu "um tiro no próprio pé" ao assinar com o treinador. Não demorou muito para que as manifestações contra o vínculo recém assinado acontecessem. Menos de 30 minutos após o anúncio, era possível ver centenas de pessoas na porta do Centro de Treinamento Joaquim Grava protestando contra o novo treinador e o presidente Duílio Monteiro Alves.
Cuca estreou no comando técnico do Corinthians diante do Goiás. A partida em Goiânia colocou em cheque todo o legado da famosa e histórica Democracia Corinthiana, movimento que lutou contra a Ditadura Militar, entre os anos de 1982 e 1984, liderada pelo Doutor Sócrates e companheiros de equipe. Na ocasião, o clube paulista foi derrotado pelo esmeraldino por 3 a 1. Na quarta-feira (26), o Corinthians tinha uma missão complicada. Reverter a dura derrota contra o Remo-PA por 2 a 0 era uma missão complicada dentro de campo, e com os milhares de protestos nas redes e arquibancadas, o Corinthians teria mais um adversário: a relação entre Cuca e o torcedor.
Com gols de Adson e Roger Guedes, o Corinthians conseguiu empatar o confronto no último lance do tempo regulamentar. A equipe paulista conquistou a vaga às oitavas de final da Copa do Brasil nos pênaltis. Na entrevista coletiva, Cuca anunciou, uma semana após assumir o cargo, que não era mais o treinador do Corinthians. Alexi também revelou que os atletas não apoiaram a decisão do profissional e queriam que ele permanecesse no clube. A relação, inclusive, gerou protestos da equipe feminina do Timão, que fez publicações nas redes sociais contra Cuca. Em setembro de 2021, o Corinthians, em parceria com a Nike, lançou a campanha "Respeita as Minas". Após a contratação de Cuca, a equipe se sentiu "atacada" pela diretoria do clube e pela falta de luta pelos direitos das mulheres.
A situação foi um ataque, não só ao legado da Democracia Corinthiana, mas a tudo que o clube acreditou e construiu durante seus 113 anos de história. Segundo o filósofo sul-coreano Byung-Chul Han, que nunca veio ao Brasil, mas por meio do seu livro "Infocracia", a demissão do técnico pode ser explicada por uma crise geral da democracia, devido à evolução das redes. Para Han, a “nuvem” expõe apenas aquilo que o usuário gostaria de ver através do algoritmo, mas tem o poder de manipular o que o usuário recebe, que pode ser utilizado para mudanças de opinião. Entretanto, quando assuntos, principalmente delicados, deixam sua “bolha”, as reações nas redes são inúmeras. No caso de Cuca, a esmagadora maioria pedia que o treinador cumprisse um período na prisão, enquanto uma breve minoria pedia para que a história fosse deixada no passado.
O novo dilema das redes, que controla e consegue até mesmo “mudar” resultados de eleições presidenciais, como foi no caso das fake news na eleição de Donald Trump, em 2016, tem o poder de expandir informações e histórias para diferentes grupos, que, teoricamente, não receberiam essas mensagens por não fazerem parte da “bolha”. Em entrevista para a AGEMT, o torcedor do Corinthians Bruno Spade afirmou que foi contra a contratação do treinador e afirmou que o acordo “manchou tudo aquilo que o Corinthians lutou e prezou desde os primeiros anos de sua história”. O jovem de 18 anos também disse que torceu para a equipe ser eliminada pelo Remo na Copa do Brasil e que não comemorou a classificação: “Pela primeira vez torci para que o meu time fosse amassado, que a gente não conseguisse se classificar pra esse pesadelo acabar logo”.
Para Bruno, a decisão de Cuca rescindir com o Timão aconteceu pelos grandes protestos na porta do centro de treinamento e pelas redes sociais: “ Acredito que se não fossem os protestos tanto no CT, quanto nas redes sociais, ele teria continuado no Corinthians. Ainda bem que a torcida abraçou as causas que o clube sempre defendeu e conseguiu tirá-lo em uma longa e dolorida semana para o apaixonado pelo Timão”. Como ensina Han, a forte mudança do comportamento das manifestações públicas das mídias sociais permite que a sociedade seja manipulada pelo algoritmo, mas que também possa usá-la para trazer justiça a quem mereça.
Por Ian Valente (texto) e Rodolfo Dias (audiovisual)
Capadócia, o Red Canyon, o Mar Morto e as cachoeiras Tortum são alguns pontos de alto valor que facilmente se acha em agências especializadas em turismo, estas regiões tem algo em comum, são todas encantos estonteantes do oriente médio. As infinidades de desertos e regiões áridas dão uma coloração avermelhada que não se assemelha a nenhum outro lugar no mundo. Porém, estas belezas são ofuscadas pelo "calor" politico que se instaura a quase um século, que marca e denuncia conflitos que estigmatizam muitos países ricos e exuberantes. O destaque fica entre Israel e o grupo palestino, Hamas protagonizam tais situações que necessitam cuidado e atenção.
A relação conflituosa tem raízes históricas complexas que surgiram desde a proclamação da república de Israel apoiada pelos EUA. No entanto, um dos momentos-chave que marcou o início de uma série de conflitos significativos ocorreu em 2006, com as eleições legislativas palestinas e a subsequente tomada do controle da Faixa de Gaza pelo Hamas em 2007. Isso levou a um aumento nas tensões entre o Hamas, que governa Gaza, e Israel. Desde então, houve diversos conflitos armados entre Israel e o Hamas, mas em maio de 2021, foi observado um aumento acentuado na violência entre eles, quando confrontos em Jerusalém Oriental, disputas sobre o acesso à Mesquita de Al-Aqsa e a expulsão de famílias palestinas de suas casas em Sheikh Jarrah desencadearam um conflito em grande escala. O Hamas lançou foguetes em direção a Israel, e Israel respondeu com ataques aéreos em Gaza. Esse conflito durou cerca de 11 dias antes de um cessar-fogo mediado pelo Egito entrar em vigor. Em outubro deste ano, o Hamas arquitetou o maior ataque já realizado ao Estado de Israel. A organização de origem palestina lançou em 7 de outubro um ataque surpresa, matando aproximadamente 800 soldados e 400 civis israelitas cerca de 1.200, não 1.400, como anunciado inicialmente, além da captura de reféns. Como resposta, os israelitas lançaram diversos bombardeios à Faixa de Gaza, porém com muito mais armamento e estratégia que o Hamas. Tais ataques de Israel já mataram mais de oito mil palestinos, dentre eles muitos são crianças e mulheres, visto que os ataques foram direcionados a hospitais e áreas residenciais, além das bases do Hamas. Israel alega que os ataques foram feitos para atingir somente o Hamas, e que os “terroristas” usam a população de Gaza como escudos humanos.
Logo a notícia se espalhou pelo mundo, com uma ampla cobertura da mídia hegemônica causando reações diversas àqueles que sabiam como o confronto se sucedeu. Aí surgem as redes-sociais como importante fonte de informação sobre o conflito. Vídeos e fotos dos resultados dos ataques, com crianças e civis muito machucados, moldaram como as pessoas enxergam esse conflito. A influência das redes sociais na formação de opinião sobre o conflito entre Israel e o Hamas é significativa e complexas, estas plataformas têm um papel crucial na disseminação de informações, mas também na amplificação de pontos de vista polarizados e na propagação de discursos extremados. Por um lado, as redes sociais oferecem acesso a uma variedade de perspectivas, permitindo que indivíduos de diferentes partes do mundo expressem suas opiniões e compartilhem informações. Isso pode enriquecer a compreensão do conflito ao expor usuários a narrativas diversas e vozes que, de outra forma, poderiam não ser ouvidas. Além disso, as plataformas digitais têm sido usadas para mobilizar apoio e conscientização sobre questões humanitárias associadas ao conflito, impulsionando movimentos de solidariedade e ativismo.
No entanto, as redes sociais também têm sido criticadas por amplificar polarizações e disseminar desinformação. Por meio de algoritmos que mostram conteúdo com o qual os usuários já concordam, criam-se bolhas de filtro que reforçam pontos de vista existentes, dificultando a exposição a diferentes perspectivas. Isso pode levar a uma compreensão limitada e distorcida do conflito, contribuindo para uma visão unilateral e extremada. É crucial que os usuários estejam cientes do papel das redes sociais na formação de opinião e busquem fontes diversas e confiáveis de informação para compreender a complexidade do conflito entre Israel e o Hamas. Estar consciente dos filtros e algoritmos das plataformas pode ajudar na busca por uma visão mais abrangente e informada sobre esse assunto delicado e multifacetado.
Foi apontado como as redes sociais podem distorcer fatos e pendular para um lado da história. Uma estudante judia da PUC, que preferiu não se identificar acredita que as redes são um veículo importante devido o alcance, ela busca usar o seu Instagram para mostrar como os judeus e descendentes israelitas sofrem preconceito, mesmo não possuindo nenhuma relação com os crimes de guerra que o Estado de Israel vem cometendo contra o povo palestino. Ela realça que a guerra deu abertura às pessoas antissemitas de espalharem seu ódio sem pudor. A estudante compreende que os mais afetados devido todo o processo histórico, são os palestinos, mas que preconceito é inaceitável em qualquer circunstância e que ao invés de nos tornamos fanáticos e como torcidas de futebol se tornarem inimigo, devemos aproveitar a tecnologia e esse espaço para abrir um diálogo entre os dois lados e entendermos o que cada um sofre, ajudando uns aos outros nesse momento delicado.
Por Lucas Allabi (texto) e Guilherme Gastaldi (audiovisual)
O termo deepfake, traduzido do inglês, é uma mistura de “deep learning” e “fake”. Ou seja, é um sistema de aprendizado constante de uma inteligência artificial que visa criar vídeos e imagens falsas com cada vez mais semelhanças à realidade. A tecnologia teve início no ano de 2017. Usuários do Reddit usaram os softwares Keras e TensorFlow para criar uma IA que mapeia rostos e os substitui por outro qualquer. O software consegue até imitar expressões faciais e movimentos labiais.
Isso facilitou o uso de qualquer um a esse tipo de tecnologia, já que ela deixou de ser manual, substituindo frame por frame o vídeo selecionado, e automatizou completamente o processo. A tecnologia, com nenhuma regulação sob ela, logo se popularizou e começou a ser utilizada para diversas finalidades. Se tornou comum vídeos pornográficos serem feitos com rostos de pessoas que nunca fizeram parte de nenhum vídeo erótico.
No começo era uma espécie de fetichização da pessoa, visando dar prazer para quem tinha desejo por alguém que nunca fez pornografia. O uso criminoso dessa tecnologia, entretanto, logo surgiu. Diversos relatos da época revelaram tentativas de suborno feitas por criminosos que ameaçavam publicar deepfakes de civis. A vítima deveria pagar ao infrator para que um vídeo pornográfico com seu rosto não fosse publicado como verdadeiro.
A quantidade de usos de deepfakes para fins criminosos cresceu com a crescente facilidade do público de acessar essa tecnologia. Com um rápido google achamos ferramentas gratuitas como o aplicativo Reface, os sites DeepSwap e DeepFakes Web e os programas FaceApp e DeepFaceLab.
Com a evolução do acesso ao deepfake, também aumentaram os crimes relacionados à tecnologia. É possível forjar um vídeo para criar um álibi, um depoimento para convencer que uma pessoa defende um determinado ponto de vista ou mesmo uma situação de crime, de modo a incriminar alguém. Tudo depende da criatividade do editor e de quantos vídeos da pessoa estão disponíveis na internet.
Um exemplo é que, nos Estados Unidos, ganhou projeção um golpe que usou o rosto do influenciador mais popular do mundo, MrBeast, que tem 201 milhões de inscritos no seu canal do YouTube. O vídeo usa um clone de James Stephen Donaldson, o dono do canal MrBeast, que oferecia iPhones 15 em troca de quantias irrisórias de dinheiro no Tik Tok. O que seria uma abordagem implausível, ganha em persuasão ao se considerar que ele se tornou famoso ao distribuir prêmios a quem supera desafios em seu canal.
No ano de 2022, com as eleições presidenciais no Brasil, notou-se um crescimento no uso da ferramenta, dessa vez, com o objetivo de manipular falas e criando narrativas tendenciosas com o objetivo de favorecer um lado, ao mesmo tempo em que prejudicava o outro. Além disso, a suscetibilidade de grande parte da população brasileira de acreditar favorece o uso de ferramentas que promovem a disseminação de desinformação.
Em pesquisa divulgada em janeiro de 2022 pela Kaspersky, empresa tecnológica russa especializada na produção de softwares de segurança à Internet, em parceria com a Corpa, a maior parte dos brasileiros não sabem reconhecer quando um vídeo foi editado usando o deepfake. Segundo o estudo, 66% dos brasileiros ignoram a existência dessa técnica. O relatório revela também que a maioria dos entrevistados brasileiros (71%) não reconhece quando um vídeo foi editado digitalmente usando essa técnica.
Na mesma linha, a professora da PUC-SP Lúcia Santaella elenca alguns motivos pelos quais identificar um deepfake pode ser difícil, especialmente para pessoas sem conhecimento tecnológico. A pesquisadora lembra que as teorias da percepção revelam que o ser humano não pode duvidar daquilo que vê, ou seja, vídeos costumam ser tomados como verdade. Em segundo lugar, as peças audiovisuais manipuladas normalmente são consumidas a partir da tela de um smartphone, o que, pelo tamanho reduzido, dificulta a identificação de detalhes que denunciem a edição.
Ela ainda ressalta que nós estamos acostumados a ver filmes e vídeos dublados. Portanto, a atenção ao movimento labial é um hábito que nós não temos. A nossa atenção toda vai para a sequência visual do vídeo, para o que é contado, narrado ou apresentado.
No ano dessa eleição, foi produzido um vídeo de deepfake onde os âncoras do Jornal Nacional, William Bonner e Renata Vasconcellos, falavam que o candidato à presidência Lula (PT) e seu vice Geraldo Alckmin (PSB) eram “bandidos”. Visto o prestígio do programa e dos apresentadores, o vídeo passou como verdadeiro para vários espectadores, criando o perigo de manipular os votos para a eleição. Esses resultados são preocupantes e evidenciam como nossa sociedade ainda é muito vulnerável à essa nova tecnologia e como precisamos nos preparar e entender o seu funcionamento.
Além disso, a apuração mostra como políticos e influenciadores podem ter grande sucesso utilizando a manipulação digital para favorecer campanhas de desinformação, principalmente nas redes sociais como Twitter e WhatsApp, onde esses vídeos recebem uma tração muito grande e são compartilhados em massa, tanto por pessoas que não sabem que o vídeo é mentira como pessoas tem plena consciência da falta de veracidade do conteúdo, mas compartilham da mesma maneira para favorecer pontos de vista particulares.
A internet é fundamental em nossas vidas, estamos conectados quase que inconscientemente a ela, seja jogando, conversando, postando nossas opiniões, buscando conteúdo ou diversas outras funções que a internet pode exercer, mas não podemos nos enganar ao pensar que possuímos total controle sobre ela, pois não possuímos. A internet muitas vezes passa a sensação de um oceano de possibilidades, o que não passa de uma ilusão criada pela própria, tudo que fazemos está sendo observado e condicionado e devido aos algoritmos estamos consumindo apenas o que é condizente com “nossa bolha”.
Esse espaço virtual possui uma vasta capacidade de armazenamento de dados e informações, e por isso ela é capaz de muitas vezes direcionar por meio de seu algoritmo o conteúdo que será apresentado para nós, muitas vezes filtrando nossos gostos e nos privando culturalmente, socialmente e até gastronomicamente, nos privando de muito conhecimento e impedindo uma possível ampliação cultural por conta dessa manipulação causada pelas grandes corporações, que conseguem realizar isso ao possuir um vasto acesso aos nossos dados, que liberamos ao realizar cadastros e respondendo questionários de gostos e personalidade em seus sites e redes.
As redes sociais também podem ter efeitos negativos, por sua grande influência na sociedade atual elas podem ser determinantes para importantes acontecimentos. Um grande exemplo das redes sociais sendo utilizadas de maneira maléfica é no caso das eleições presidenciais dos Estados Unidos em 2016, no qual o candidato republicano Donald Trump foi eleito usando táticas antidemocráticas. O ex-presidente utilizou de uma manipulação dos algoritmos com base em dados pessoais que foram vendidos pelas empresas de meios de comunicação, convertendo muitos dos “indecisos” para votarem a favor de Trump, se utilizando de muitas das chamadas “fake news” (notícias falsas).
Essa prática não foi determinante apenas nessa eleição, esse esquema de manipulação também definiu a votação do Brexit (saída do Reino Unido da União Europeia), se utilizando desses dados pessoais dos usuários de redes sociais como o Facebook para a manipulação do indivíduo, se utilizando de uma estratégia de algoritmo com base na personalidade e traçando um perfil do eleitorado visando convencer os mais suscetíveis à se tornarem um possível voto favorável, essa estratégia foi desenvolvida pela empresa Cambridge Analytica.
De acordo com Brittany Kaiser, responsável pelas campanhas de empresa durante o período que compreendeu os dois períodos históricos acima, a ferramenta detida pela Cambridge Analytica não possuía apenas a função de melhorar o marketing da empresa, mas era capaz de manipular mentes de usuários que superava o simples uso das redes sociais; era impossível se libertar dessa influência, visto que ela já se via presente nas mais diversas esferas da sociedade mundial. A empresa reproduzia a verdade conveniente a quem lhe pagava, passando uma imagem distorcida a quem a via e gerando um sentimento de que uma simples tomada de decisão resolveria diversos dilemas impostos de maneira exacerbada na internet.
A vitória do republicano Donald Trump em 2016 foi o início de uma onda da extrema direita pelo mundo que teve impacto também em nosso país, com o resultado das eleições 2018 elegendo Jair Bolsonaro também com grande influência das redes sociais. O candidato e atual presidente da república foi acusado de manter uma rede de trafego de notícias falsas e tendenciosas por meio de grupos informais de conversas, no caso o aplicativo WhatsApp, atitude que pode tê-lo ajudado a ganhar a disputa contra o candidato Fernando Haddad, do PT.
O gráfico a seguir exemplifica as fake news sobre os candidatos do 2° turno nas eleições brasileiras de 2018:
Segundo essa tabela da Agência Lupa e Projeto Comprova, é apontado que Bolsonaro foi bem mais beneficiado por fake news que seu concorrente Fernando Haddad, com 87,5% das notícias falsas sendo favoráveis ao mesmo. Além das fake news em maior quantidade que favorecem Bolsonaro os temas abordados também são menos genéricos e mais chocantes, podendo se concluir que se trata de um método de sua equipe e não somente coincidências.
Uma das fake news mais famosas propagadas pelo atual presidente, com mais de 400 mil compartilhamentos, foi sobre Fernando Haddad (PT) ter criado o “kit gay” para crianças de seis anos. É possível encontrar não só esse, mas também outros boatos acerca do mesmo tema. Além de acusarem Haddad de ter criado o “kit gay”, em outros boatos também o acusam de incentivar a pedofilia e o incesto. O “kit gay”, nesses boatos, teria a função de sexualizar as crianças precocemente e ensinar a elas a “ideologia de gênero”.
O assunto foi tão relevante que o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) ordenou que as publicações do ex candidato do PSL acusando o ex ministro da educação de distribuir o tal “kit gay” nas escolas públicas enquanto seu período no ministério fossem retiradas do ar, pois este kit nunca existiu
Foto de Jair Bolsonaro segurando o livro “Aparelho Sexual & Cia” no Jornal Nacional da Globo (Reprodução/TV Globo)
As noticias falsas atingiram principalmente os idosos, que possuem pouca familiaridade com a internet e redes sociais, normalmente com dificuldades de confirmar o que se vê nos espaços virtuais. Em entrevista com Maria Francisca, senhora de 79 anos, a mesma afirma ter participado de diversos grupos do aplicativo Whatsapp onde eram compartilhadas as noticias, onde se afirmava que haviam fraudes nas eleições de 2022 em relação as urnas. Também era incitado uma possível intervenção militar, o que motivou diversos acampamentos em frente aos quarteis generais, tudo organizado e fomentado nos grupos de Whatsapp e do Telegram. Maria diz se sentir muito chateada por ter disseminado tanta desinformação e agradece ao Tribunal Superior Eleitoral e as agencias de checagem por informarem os fatos, mesmo que a grande maioria dos outros participantes não acreditem nas fontes e sigam com a versão compartilhada nos grupos.
Por Lais Romagnoli (texto) e Khadijah Calil (audiovisual)
Caio Silva atua na área da educação há 3 anos e atualmente é professor de duas escolas estaduais localizadas em São Paulo. Ele que foi estudante do ensino particular, sempre trabalhou em escolas públicas e percebe que o governo de São Paulo está intensificando o uso de tecnologias dentro das salas de aula, mas considera que os recursos não são implantados para que isso ocorra de maneira satisfatória, sobretudo pela quantidade de equipamentos disponíveis.
Em meio a sala de aula vazia, ele afirma que mesmo com a distribuição de tablets e computadores, os prazos costumam ser curtos para as realizações de provas e trabalhos. Além da quantidade de aparelhos não ser condizente com o número de alunos, parte deles não realizam suas tarefas a tempo nas datas solicitadas.
Com um olhar de indignação ele acredita que esse tipo de situação não deve ocorrer em centros educacionais particulares, uma vez que há um cuidado muito rigoroso a essas questões. Alunos do ensino particular já possuem a tecnologia inserida na educação há muito tempo, já estão acostumados com salas de aula repletas de computadores e tablets.
Em relação ao uso de aparelhos eletrônicos em sala de aula, Caio acredita que a tecnologia pode auxiliar na compreensão dos conteúdos e na superação das dificuldades dos alunos além de proporcionar uma aula mais dinâmica do modelo tradicional. Ele também enfatiza que as ferramentas oferecidas pela escola e pelo governo são essenciais, mas aponta questões negativas sobre o uso.
Caio confessa que mesmo com a utilização em massa do celular em sala de aula para uso pessoal, como acessar o Instagram ou assistir vídeos de assuntos variados no Tiktok, muitos alunos ainda demonstram um desinteresse pelo uso da tecnologia quando atrelada a educação, principalmente os do ensino médio.
Caio conta que os alunos entre 11 a 18 anos costumam aceitar a inserção da tecnologia em sala de aula. Ele acredita que cabe ao profissional uma reflexão com os estudantes para que compreendam aquilo como algo positivo. No entanto, o professor muitas vezes esbarra em uma cultura escolar, que já vem de décadas, que dificulta essa sensibilização por parte dos estudantes.
Questionado sobre a influência da era digital na educação, o profissional enfatiza que a tecnologia possibilita um acesso a informações que nunca tivemos em nossa história, mas é necessário pensar na forma que utilizamos essa ferramenta. É preciso um olhar crítico acerca da qualidade desses materiais que os jovens que estão saindo do Ensino Médio terão acesso.
A Internet pode sim ser positiva, com várias formas de se adquirir e transmitir conhecimento, conta. Mas também, com o advento das redes sociais, muitos estudantes acabam por perder o interesse em questões que realmente podem mudar a sua vida. A realidade é transportada para as redes sociais e tudo que se almeja é um cumprimento de padrões impostos pelas redes. Ele enfatiza que o fator principal para se entender o lado positivo e negativo é compreender com qual finalidade esse jovem vai utilizar a Internet e seus aparelhos eletrônicos.
Os avanços tecnológicos passaram a ter domínio da sociedade de forma que os equipamentos se tornaram essenciais para o cotidiano, com benefícios e malefícios. Essa modernização atingiu o âmbito educacional, trazendo a tona um debate sobre a maneira que celulares e computadores podem ser contribuintes ou não na formação dos estudantes.