Coletivo Da Ponte Pra Cá e centros acadêmicos divulgam repúdio a mensagens de ódio disseminadas no perfil "Spotted PUC-SP", no Instagram
por
João Curi
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11/04/2024 - 12h

Quem paga a conta? Essa parece ser a pergunta-chave que abriu portas demais no principal campus da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, em Perdizes. Desde as reivindicações por direitos a uma refeição gratuita no refeitório até o desconforto de apresentar, periodicamente, um grande volume de documentação para comprovar a baixa renda, estudantes bolsistas são alvo de posicionamentos agressivos de alguns estudantes.


Nos últimos anos, centros acadêmicos têm se preocupado mais com a condição social de estudantes contemplados por bolsas, sejam de natureza filantrópica (fomentada pela FUNDASP) ou por programas governamentais. Isso se dá pelo aumento de denúncias e reclamações desse mesmo público quanto ao tratamento recebido por outros estudantes (qualificados como “pagantes”), tanto presencialmente quanto online.


Segundo relatos, houve episódios de discriminação socioeconômica, conhecida como aporofobia, que tem confrontado a permanência de estudantes bolsistas na universidade. Embora não exista um coletivo com esta finalidade, nos últimos anos, o perfil de Instagram “Spotted PUC-SP” (@spottedpucsp) veiculou publicações que trouxeram à tona uma série de movimentos considerados elitistas, como a contestação do direito ao posicionamento de estudantes "não-pagantes" sobre decisões estruturais do campus.


A página, inclusive, já foi investigada, em setembro do ano passado, pelo jornal laboratorial da PUC-SP, o Contraponto, que trouxe à tona os ideais políticos do perfil desde seu surgimento até as recentes manifestações em favor de campanhas eleitorais de centros acadêmicos. Este ano, porém, a principal campanha defendida pela conta originalmente dedicada à paquera é a implementação de catracas no campus Perdizes.


Ainda que a discussão tenha se aquecido nas redes sociais, a pauta foi reclamada para debate entre as entidades competentes à decisão: a mantenedora FUNDASP, a Reitoria, coletivos estudantis e centros acadêmicos da PUC-SP. Mesmo assim, os esforços da página em reacender essa suposta reivindicação deram abertura, na verdade, a uma enxurrada de comentários ofensivos e caluniosos direcionados aos estudantes bolsistas.


Em consequência, entidades acadêmicas, lideradas pelo coletivo Da Ponte Pra Cá - Frente Organizada de Bolsistas, organizaram-se para apresentar materiais de denúncia e repúdio aos atos discriminatórios observados dentro e fora do campus. Na última terça-feira (9), 28 entidades acadêmicas e administrativas ligadas à universidade assinaram uma publicação conjunta de um vídeo-denúncia, acompanhado de um documento completo reunindo imagens comprobatórias e exigências à mantenedora, FUNDASP, por medidas efetivas em prol dos bolsistas.


Diante disso, o Centro Acadêmico Benevides Paixão, o Benê, trouxe a pauta à tona como uma de suas prioridades de gestão. "A situação é grave e requer cuidado e vigilância. Estamos em constante contato com o nosso corpo docente, coordenação e direção para tomarmos todas as ações possíveis", declara a entidade acadêmica, em nota exclusiva à AGEMT.


O dossiê acusa, principalmente, o Spotted PUC-SP por disseminar casos de roubo e demais ocorrências ligadas à criminalidade de forma irresponsável e suposta motivação política por detrás. De acordo com o texto, “o que fica sempre evidenciado é que aqueles que são relatados como suspeitos dessas atividades são sempre pessoas negras, reforçando novamente o estereótipo racista que permeia nossa sociedade, que associa criminalidade e violência a uma raça/cor”, aponta o documento.


Não obstante, a garantia do sigilo também deu vazão a um fluxo de informações desprovidas de checagem dos fatos ou comprovação da verdade em torno dos casos relatados, “muitas vezes de caráter aporofóbico e racista, causando, sem fundamento, um pânico generalizado na comunidade estudantil”, descreve o texto. Nessa direção, a página se tornou um dos principais hospedeiros de manifestações consideradas elitistas, segundo as denúncias coletadas.

 
Quando o alarme soa, dada a notoriedade de algumas discussões acaloradas pela dualidade de posicionamentos nos comentários, é comum que as publicações sejam removidas do perfil. Ainda assim, de acordo com os apontamentos da denúncia endossada pelo coletivo Da Ponte Pra Cá nas redes sociais, o movimento de cunho discriminatório se fez presente também em outros meios, como em grupos do aplicativo de mensagens Whatsapp.

 

''Não podemos ignorar a realidade de negligência e discriminação das demandas e das necessidades das pessoas pobres em uma universidade elitizada", declara o coletivo Da Ponte Pra Cá, em nota exclusiva à AGEMT. "A denúncia produzida e a mobilização dos estudantes bolsistas torna-se urgente e extremamente necessária diante de um cenário de descaso, como o da PUC-SP".

 

Afinal, quem paga a conta? Desde a segunda-feira, 15, até o momento de publicação desta reportagem, o perfil do Spotted PUC-SP está desativado. A AGEMT tentou contato com o administrador da conta, mas não teve retorno.

 

Nota da PUC-SP

A PUC-SP, na sua prática cotidiana, não compactua com discriminação de qualquer tipo. Essa questão figura no Estatuto e no Código de Ética da Universidade, que toda comunidade deve seguir.

A Instituição entende que qualquer pessoa que for testemunha ou alvo de um ato de discriminação deve procurar as autoridades competentes.

Afirmamos que a PUC-SP não tem nenhuma responsabilidade sobre o perfil privado e anônimo do Instagram @spottedpucsp.     

Assessoria de Comunicação Institucional (ACI)

As obras reunidas no Centro Cultural Banco do Brasil, convidam cada visitante a navegar por diferentes aspectos da produção de mais de 60 artistas negros
por
Beatriz Alencar Gregório
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15/03/2024 - 12h

O Centro Cultural do Banco do Brasil abraçou, dessa vez, o Projeto Afro: uma plataforma afro-brasileira de mapeamento e difusão de artistas negros; com a exposição “Encruzilhadas da Arte Afro-Brasileira”.

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OBRA - Paty Wolff : Divulgação: Projeto Afro


Com uma experiência imersiva, educativa e cativante, o Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) proporcionou uma visão de que “a população afro-brasileira não é só centrada na questão da escravidão (...) a gente sabe fazer arte. A arte não é só a europeia; a gente sabe desenvolver, temos vários fatores culturais”, explicou Otávio Rodrigues, visitante da exposição. A mostra é composta de mais de 60 artistas e obras que vão desde pinturas a formatos áudio visuais. “Foi uma exposição que não falava sobre nossos colonizadores e sim sobre nossos povos, de preto para preto, e mostra que a gente sabe fazer muita coisa. Me senti num lugar que realmente falava sobre a real história afro-brasileira”. Para interagir, como ocorreu com Otávio, visite o CCBB até o dia 18/03/2024. Mas, você pode conferir uma prévia que a AGEMT preparou, acessando o link:

https://www.instagram.com/reel/C4iXXhYrdLK/utm_source=ig_web_copy_link&igsh=MzRlODBiNWFlZA==

 

 

O CA de Jornalismo, Benevides Paixão, sofre três renúncias ao cargo de presidente em apenas um ano. Novas eleições serão convocadas.
por
João Curi
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14/12/2023 - 12h

Depois dos portões escancarados, siga o caminho das pedras. Contorne a Prainha, que não tem areia nem mar, e aproveite para observar as artes nas paredes. Elas te guiarão ao outro lado, de frente à quadra – estamos perto. Continue andando até as escadas, e já o verá. Não se distraia com a natureza ainda, atente-se às pedras irregulares deste trecho final, são traiçoeiras com os desavisados. Cuidado, cuidado, e... agora sim.
 

Portão de entrada do centro acadêmico Benê
Foto: Mohara Ogando Cherubin

 

Este é o Centro Acadêmico de Jornalismo Benevides Paixão. Mas pode chamar de Benê. É mais íntimo. Não repare nos rasgos do sofá, é o charme. Guarde a atenção às paredes. São nelas que estão os nomes, protestos, intervenções artísticas, lembretes, tudo que você não pode encontrar no conforto de um sofá macio. A realidade acadêmica. Interprete como poesia.

Este espaço custa a ser abandonado. Quando largam de mão, chegam outras duas para cuidar. É quase um amor de mãe, não fosse a efemeridade. No período de um ano, o Benê já teve três.

 

A primeira: Rafaela Serra

Esteve na gestão do centro acadêmico desde 2021 até o início de 2023. Como presidente, foi eleita em 2022 e deixou o cargo, por vontade própria, no começo deste ano. “Sinto que o Benê foi muito mais ativo nessa época por conta da oposição ao governo Bolsonaro”, aponta. “Todos os centros acadêmicos, de alguma forma, tinham essa demanda. E também éramos contrários a algumas políticas da FUNDASP à época”.

A ex-presidente relembra grandes colaborações do Benê em eventos de destaque na PUC nos últimos anos, como o Tribunal do Genocídio organizado pelo Coletivo Professor André Naveiro Russo, junto a docentes, funcionários e estudantes dos cursos de Jornalismo e de Direito. O julgamento simbólico foi sediado no teatro TUCA, na manhã do dia 25 de novembro de 2021, e condenou o então presidente Jair Bolsonaro aos crimes contra a humanidade, de genocídio, de epidemia, infração de medida sanitária preventiva e charlatanismo.

No ano passado, a gestão também foi ativa na campanha “Vira Voto”, em favor da campanha presidencial do então candidato Luís Inácio Lula da Silva, que esteve presente no campus durante o “Ato em defesa da democracia e do Brasil”, no dia 24 de outubro de 2022. No dia seguinte, inclusive, o teatro TUCA sediou a cerimônia da 44ª edição do Prêmio Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos, que compôs o cronograma da também 44ª Semana do Jornalismo, ministrada pelo centro acadêmico com apoio da coordenação do curso e da FAFICLA (Faculdade de Filosofia, Comunicação, Letras e Artes).

O Benê, que tem nome de gente, já não é o mesmo de anos atrás, assim como acontece entre as gentes. A mudança acompanha o tempo, e quem vem de trás mal o reconheceria agora. Quando as máscaras levantaram, custaram a cair. Com o campus vazio, o espaço dos estudantes perdeu o sentido. Mas sobreviveu.

“Não sei se foi por conta da pandemia, mas o movimento estudantil todo sofreu modificações”, observa Rafaela. “A PUC se tornou uma faculdade mais elitista no decorrer dos tempos. Vemos cursos ainda com um movimento estudantil forte, como o Direito, mas isso já não acontece no curso de Jornalismo, talvez por conta da quantidade de alunos”.

Dentre os projetos implementados pela gestão, o Benemateca não teve a adesão esperada em nenhuma de suas três edições. Com o intuito de assistir a filmes selecionados que incentivassem discussões sociais, o público presente – uma média de dez pessoas - acalorava debates mediados pelo professor Mauro Perón, que se dispôs a agregar-se à iniciativa. A falta de quórum, entretanto, desmotivou Rafaela e demais organizadores para uma quarta edição.

Este ano, no primeiro semestre, o Benê divulgou em suas redes sociais uma campanha contra o Spotted - uma conta na plataforma Instagram, mantida por estudantes anônimos da PUC-SP, com o propósito informal de mediar flertes e mensagens de paquera entre os discentes. A ex-presidente aponta que o perfil “estava disseminando mentiras, falando de assaltos ao redor da PUC com imagens falsas, de abordagens policiais, implementando medo e caos”.

 

Depois de tantas contribuições, mobilizações, e mais importante, fazer-se presente no movimento estudantil, Rafaela admite que a atividade se tornou incompatível com suas prioridades e expectativas. No começo deste ano, enquanto se preparava para elaborar o TCC, a presidente eleita decidiu abdicar do cargo para focar em concluir sua graduação. “Saí porque eram poucas pessoas para tocar a quantidade de demanda que tínhamos e não sentia muito apoio dos estudantes do próprio curso”, declara. “Vemos uma mudança no que os alunos querem abordar. Estão cansados de falar de política, e consequentemente isso irá refletir na adesão ou não do movimento estudantil”.

 

A segunda: Maria Clara Alcântara

 

Em agosto deste ano, Maria Clara também abdicou do cargo. Segundo a ex-presidente, as atividades necessárias para gerir o centro acadêmico se tornaram incompatíveis com sua nova rotina de estágio e aulas no período noturno. Apesar de sua vontade de entregar o cargo através de novas eleições, o Centro Acadêmico de Jornalismo não organizou uma nova chapa e, portanto, não convocou os processos eleitorais necessários para a sucessão democrática.

Mas isso não significa que o cargo ficou em aberto.

 

A terceira: Giovanna Freitas

Chegou este ano, como caloura. Conheceu o campus já nos primeiros dias de aula, ao contrário de sua antecessora, e entregou-se ao movimento estudantil assumindo a Tesouraria do Benê.

Com a saída do vice-presidente da gestão reorganizada, Murari Vitorino, ainda no primeiro semestre, Giovanna decidiu que assumiria o cargo para as supostas próximas eleições, previstas para agosto deste ano. “A Macla até mandou um documento falando que a gente tinha que se organizar para fazer essa votação, durante as férias, só que nunca aconteceu”, relata. “Eu achei estranho porque não sabia quando ia acontecer, não tinha ninguém se mobilizando. No final de agosto, ela [Maria Clara] mandou uma mensagem falando que não ia mais ser a presidente do Benê, e que se alguém podia se disponibilizar para ser. Como eu já tinha esse planejamento de assumir o cargo de vice, pensei: ‘Posso me encaixar nesse cargo’. Ela perguntou no grupo, e só eu respondi”.

Sem eleições – com planos frustrados desde maio -, sem presidente ou vice, Giovanna assumiu o cargo de forma automática. Sua liderança foi decidida por uma única mensagem, solitária e decisiva perante o silêncio dos demais integrantes. “Foi muito rápido esse processo”, admite. “Eu falei que queria e, no dia seguinte, eu já era presidente. Não teve processo eleitoral, não teve votação, não teve formação de chapa”.

Diante disso, a incerteza prevaleceu sobre a primeiranista, que convocou uma reunião, no começo de outubro, para tratar com urgência sobre as eleições previstas para o mesmo mês e preencher os cargos em aberto. Contudo, a única decisão acordada foi a remodelagem da gestão, que detinha caráter provisório “porque ainda pretendemos que mais gente entre”.

Relação de cargos do Benê (outubro de 2023)

Presidente: Giovanna Freitas

Vice-presidente: Melissa Joanini

Coordenadora de Eventos: Beatriz Barbosa

Coordenadora de Espaço Físico: Livia Soriano

Coordenadora de Comunicação: Laura Celis/Eduarda Basso

Relações Públicas: Romulo Santana/Artur Maciel

Tesouraria: Artur Maciel

A presidente provisória ainda relembrou um episódio que ocorreu durante o evento de recepção aos novos estudantes do segundo semestre de 2023, no dia 9 de agosto. Ao final da Aula Magna ministrada pelo jornalista e apresentador Serginho Groisman, no Tucarena, uma das integrantes do Benê se manifestou da plateia, em meio à seção dedicada às perguntas, para contestar a ausência do Centro Acadêmico de Jornalismo na organização do evento. Diante do constrangimento, os centros acadêmicos e coletivos à frente da organização – CA Leão XIII, da FEA (Faculdade de Economia, Administração, Contábeis e Atuariais); CA 22 de Agosto, do curso de Direito; coletivos Glamour e Da Ponte Pra Cá - responderam que um convite foi enviado ao Benê, mas não obtiveram resposta. Na época, a então coordenadora de redes sociais, Lais Bonfim, assumiu o erro e reconheceu a responsabilidade da gestão pela ausência contestada de forma pública pela companheira de CA.

“Meu desejo como presidente é que o Benê esteja mais engajado com os assuntos dentro da faculdade, como foi o que aconteceu no evento ‘Lembrar é resistir’, que estivemos presentes”, destaca. “A gente está passando por um processo de reestruturação, mas não vai ter diferença quanto às linhas de pensamento. Eu vi como a Macla tocou o Benê, e eu tento seguir desse jeito”.

Esta reportagem foi apurada desde outubro deste ano. Giovanna assumiu o cargo, de forma provisória, e o deixou antes de completar dois meses, por discordâncias com a nova gestão. Até o momento desta reportagem, o Benê permanece sem uma presidente definitiva.

Mas não sem cuidados.

 

Mãe é quem cuida

Lívia Soriano, diretora do espaço físico do Centro Acadêmico Benevides Paixão, estufa o peito para falar dele. Dá nome inteiro e tudo. Chegou na PUC há menos de um ano, mas tempo é detalhe. Nesse breve primeiro período, já trouxe vida para dentro do centro acadêmico – literalmente. Fez caber um aquário minúsculo numa mesinha, no canto, onde abrigou um peixe de estimação. Nomeou-o mascote do Benê, e a novidade repercutiu entre os estudantes do curso.

“Eu comecei a frequentar muito o bosque e eu notei que o espaço físico não era tão agradável assim”, confessa. “Eu e as meninas, a gente se juntou, limpou o Benê inteiro, limpou lá dentro, começou a organizar, e a gente quer mudar ainda bastante coisa”.

E o cuidado prevalecia para além das ideias soltas e da empolgação de primeiranista. Com a ajuda de mais três colaboradoras, todas do segundo semestre, botou as mãos na massa para cumprir com o projeto de revitalização do espaço, que jazia negligenciado. Chamou ajuda para a faxina do depósito, livrou-se das tralhas, abriu espaço onde não tinha e reorganizou os móveis para encaixar o divã novo. Deixou tudo nos trinques.

Lívia cuida do CA como se fosse sua casa, e não deixa de ser. Enquanto a quarta presidente não chega, pensa no pequeno de terça a terça, até mesmo nos finais de semana. Campus afora, vê as mobílias nas vitrines e planeja onde encaixaria no espaço bem-varrido. Tem a planta inteirinha decorada em sua cabeça. “A gente quer mudar o sofá porque vemos que os outros centros acadêmicos têm uma área de lazer, têm um lugar para as pessoas ficarem, e aqui a gente não tem praticamente nada, e ninguém fazia nada sobre isso”, e foi quando encarou o forro rasgado, que era impossível de ignorar. “O sofá que estamos agora também tem muitas fofocas. Falam que tem pombo aqui dentro, é difícil. É todo furado, e nunca mudaram”.

Os planos se estendem à longa data, com arrecadação de fundos para reformar o centro acadêmico revitalizado. Falta o brilho que os seus olhos enxergam e querem compartilhar com o mundo. Não basta reforçar a tinta branca nas paredes, recolher os descartes indevidos, ajeitar os móveis, deixar espaço para mais artes, isso tudo foi apenas o primeiro passo. “A gente não sabe ainda se vai chamar alguém ou coisa parecida, mas temos planos...”, estima.

O centro acadêmico continua se reorganizando. Em todos os âmbitos.

“O Benê tem passado por uma reestruturação”, declara Melissa Joanini, indicada pela gestão como a possível sucessora ao cargo de presidente. “Neste momento, a diretoria está sendo reformulada, a fim de lançar a chapa o quanto antes. Estamos organizando as ideias e projetos internos e externos, sem mais detalhes no momento”.

Até o fechamento desta reportagem, já encerrado o período letivo de 2023, o Benê não convocou novas eleições e não apresentou uma nova chapa de forma oficial.

“Provavelmente, consigo te dar um parecer mais concreto em janeiro”, continua Melissa.

Os centros acadêmicos mobilizaram um ato de paralisação do corpo estudantil, com apoio da bateria Psicolata e de professores, para reclamar os direitos de formação na Reitoria e em frente à Fundasp
por
Artur dos Santos
Giuliana Zanin
João Curi
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20/10/2023 - 12h

Na última quarta-feira, 18, estudantes e professores dos cursos de Psicologia, Fonoaudiologia, Fisioterapia e Engenharia Biomédica da PUC-SP se mobilizaram contra o bloqueio dos estágios nos equipamentos de saúde do SUS (Sistema Único de Saúde) para o próximo ano. Em nota informativa, formalizada pela Comissão Aberta sobre os Estágios no SUS, estudantes independentes lideram a reivindicação de acesso, com apoio do corpo docente - com direito a aula pública - e a presença de figuras políticas no ato. 

 

É nosso dever reivindicarmos nossos direitos de formação, que é o estágio no SUS, [...] é nosso dever garantir, através da luta política, investimentos pesados em saúde, seguridade social e um ensino popular, pensado pela e para a classe trabalhadora”, declara a Comissão Aberta, em nota.

 

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Alunos dos cursos de saúde da PUC-SP se reuniram na prainha. Foto: Giuliana Zanin

 

Enquanto ecoavam “A nossa luta é todo dia, o nosso estágio não é mercadoria”, os manifestantes estenderam faixas e cartazes em frente ao prédio da Fundasp e também ocuparam a Reitoria da universidade. 

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Os universitários protestam contra a precarização da educação e do sistema de saúde. Foto: Giuliana Zanin

O problema foi gerado a partir de um impasse entre a PUC-SP e a Secretaria Municipal da Saúde (SMS) quanto às contrapartidas oferecidas por instituições de ensino ao órgão. Apesar da entrega de R$176.162,23, a Secretaria determinou que a PUC-SP, por ser uma universidade privada,  deveria pagar R$306.000,00 em materiais e equipamentos hospitalares. A medida vai contra o que normalmente é requisitado de instituições filantrópicas, como é o caso da Pontifícia. 

 

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Estudantes se concentram em frente à Fundação São Paulo (Fundasp). Foto: Giuliana Zanin

Numa tentativa de negociação, a Universidade promoveu a ampliação dos serviços acadêmicos, incluindo disciplinas de graduação, pós-graduação e cursos de educação continuada, além de eventos e projetos educacionais. O objetivo é atender aos requisitos da Escola Municipal de Saúde/SMS, responsável pela promoção dos estágios dos cursos focados no segmento.

Segundo  o atual presidente do Centro Acadêmico de Psicologia (CAPSI), André Sanches, o bloqueio de estágios no SUS é parte de um projeto maior de precarização da saúde pública, que visa colocar o ensino em uma lógica mercantilizada. Para ele, isso “vai contra tudo que nós defendemos aqui na PUC”. O estudante também afirmou à Agemt que a mobilização estudantil no ato representa a urgência do assunto e o descontentamento com o atual ritmo das negociações por parte da Reitoria e da Fundação São Paulo, mantenedora da PUC-SP.

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Os estudantes percorreram as ruas de Perdizes com cartazes e cantos de união. Foto: Giuliana Zanin

A presença de preceptores nos estágios de psicologia também é uma problemática reivindicada pelos estudantes. No início deste ano, os estágios do curso passaram a ser obrigatoriamente acompanhados por preceptores - que atuam na supervisão das sessões realizadas por estagiários -, sob ameaça de processo aos administradores que não os incluíssem em seus turnos. Além disso, os estudantes reclamam da perda de autonomia e da interferência nos métodos utilizados no acompanhamento de pacientes na e condução de casos.

A assessoria de comunicação da PUC encaminhou a reportagem para a Direção da Faculdade de Ciências Humanas e da Saúde (FCHS) da universidade, que declarou em nota ter retomado as negociações com a Secretaria Municipal da Saúde.

"Informamos que reestabelecemos, com bom entendimento, o contato com a Prefeitura Municipal de São Paulo e Secretaria Municipal de Saúde e, ao longo da próxima semana, teremos reuniões para solucionar a questão dos estágios nos campos da SMS".

Procurada, a pasta municipal não respondeu até o fechamento desta edição. O espaço segue aberto para a SMS. 

Manifestantes se reuniram em busca de garantir direitos reprodutivos e autonomia das mulheres
por
Helena Maluf
Gabriela Jacometto
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04/10/2023 - 12h

Na última quinta-feira (28), uma multidão expressiva tomou as ruas da capital paulista em apoio à descriminalização do aborto. Organizada por grupos de ativistas e apoiadores da causa, a manifestação reuniu pessoas de diferentes idades, gêneros e origens, todas compartilhando o mesmo desejo: garantir o direito à escolha das mulheres sobre seus próprios corpos.

A marcha aconteceu no dia Internacional da luta a favor do aborto nos países latino-americanos e caribenhos, e enfatizou como o  procedimento nesses países também faz parte da desigualdade de classes. “As ricas pagam, e as pobres morrem”, diziam as manifestantes. De acordo com dados do Ministério da Saúde, cerca de 1 milhão de abortos induzidos ocorrem todos os anos no Brasil, sendo quase 500 mil procedimentos feitos de forma clandestina. A maioria das mulheres que realizam o aborto em condições precárias são negras e de baixa renda.

Essa “onda verde”, como é chamado o fenômeno de luta a favor da legalização do aborto nos países vizinhos, é responsável por pressionar os poderes políticos e judiciais pelo direito ao acesso e decisão de abortar. Outros países na América do Sul como Uruguai, Argentina, Guiana, Guiana Francesa, Colômbia e Chile já reconhecem o aborto como prática legal. Segundo as palavras de Alberto Fernández, presidente da Argentina, “a legalização do aborto salva a vida de mulheres e preserva suas capacidades reprodutivas, muitas vezes afetadas por esses abortos inseguros.”.

manifestantes
Bateria do bloco de carnaval "Ay que alivio" com bandanas personalizadas em homenagem a onda verde. Foto: Helena Maluf                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                 
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Bandeira em homenagem a onda verde escrito "Aborto legal já". Foto: Helena Maluf                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                           

Muitos especialistas que defendem a legalização no Brasil explicam que a mesma deve ser entendida como uma questão de saúde pública, e não moral ou religiosa. “As políticas públicas não podem sofrer influência das ideologias religiosas ou até mesmo morais. As mulheres precisam ter o direito de escolha, precisam ser livres para decidir”, explica Tabata, 29, do movimento Católicas Pelo Direito de Decidir. 

A concentração teve início na Avenida Paulista, um dos principais pontos da cidade, e rapidamente se espalhou por ruas adjacentes. Os participantes exibiam cartazes, bandeiras e faixas com mensagens pró-escolha, destacando a importância de garantir o acesso seguro e legal ao aborto. Muitos usavam camisetas e adereços verdes, cor que se tornou símbolo da luta pela legalização em diversos países.

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Manifestantes da rede Divam com bandeira e cartaz personalizados. Foto: Helena Maluf                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                 

Entre os manifestantes, havia uma ampla diversidade de discursos e argumentos.”Só quem morre no Brasil e no mundo são as mulheres que não podem pagar o aborto seguro. Nenhum lugar onde o abortou deixou de ser crime, aumentaram os números de aborto mas diminuiu os números das mortes. Elas vão continuar abortando, mas a diferença é que a nossa classe não vai morrer”, expôs Fabiana (52), de São José dos Campos.

Martins (16), estudante do Colégio Objetivo em São Paulo, também se mobilizou. “Como homem, reconheço a importância, a gente tem que unir como coletivo para lutar pelos ideais certos”.

A manifestação ocorreu de forma pacífica e as autoridades locais acompanharam o evento para garantir a segurança dos participantes e transeuntes. Estavam presentes até mães e pais com crianças, como no caso de Luana (42), que levou seu filho João (8), “É para eles já começarem a entender a importância de participação em manifestações políticas, a importância do feminismo, dos direitos das mulheres é importante demais” afirmou.

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Cartaz escrito "Juntas somos mais fortes" feito por manifestante. Foto: Helena Maluf                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                             
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Bandeira produzida por um grupo de manifestantes com os dizeres "Feministas na rua". Foto: Helena Maluf                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                

A medida que noite caiu, a multidão se dispersou, mas a mensagem da manifestação ficou clara: a busca pela igualdade de gênero e pelo direito das mulheres se decidirem sobre seus corpos permanece um tema crucial na sociedade brasileira, com esperanças de mudanças futuras na legislação em relação ao aborto.

A quarta feira promovida pelo MST na capital paulista
por
Felipe Assis Pereira da Silva
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19/06/2023 - 12h

Com a ideia de apresentar os produtos produzidos pelos assentamentos dos membros do MST, a feira da reforma agrária é fundamental para que mais pessoas possam conhecer o trabalho do movimento, junto com suas ideias sobre a reforma agrária no Brasil, principal bandeira do grupo. O evento foi carregado pela movimentação de pessoas, vindo e vindo, carregando o nome e dando visibilidade para um dos mais importantes e atuantes movimentos sociais das ultimas décadas. 

 

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A abundancia de alimentos produzidos pelo MST. Autor: Felipe Assis 

 

 

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Grande movimento de pessoas comprando alimentos, enchendo os corredores da feira. Autor: Felipe Assis 

 

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Pessoas passeando pelo evento. Autor: Felipe Assis

 

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Membros da organização da feira. Autor: Felipe Assis

 

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 Corredor de plantas que foram comercializadas na feira. Autor: Felipe Assis 

 

IV Feira Nacional da Reforma Agrária é realizada em São Paulo
por
Maria Eduarda Jussiani
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19/06/2023 - 12h

A 4ª edição da feira do Movimento Sem Terra foi realizada no período de 11 a 14 de maio no Parque da Água Branca, a qual reuniu cerca de 320 mil pessoas para compartilhar a diversidade de alimentos da terra trazidos de todas as regiões do Brasil. Segundo a programação, foram oferecidos produtos da Reforma Agrária, apresentações culturais, oficinas, seminários, culinária da terra, artesanato e muito mais. Além de contar com a presença de 412 artistas que proporcionaram uma imersão na música, dança e expressões culturais, entre eles estavam Jorge Aragão, Liniker e Gaby Amarantos.

A feira tem como objetivo trazer consigo o fortalecimento da cultura e resistência, a partir da compreensão do MST sobre a importância da produção de alimentos saudáveis.

 

Socialização e troca de experiências entre os visitantes.
Socialização e troca de experiências entre os visitantes. Autor: Maria Eduarda Jussiani

 

 

Diversidade de produtos de acampamentos e assentamentos de todo o Brasil.
Diversidade de produtos de acampamentos e assentamentos de todo o Brasil. Autor: Maria Eduarda Jussiani

 

 

Participação de 1700 feirantes.
Participação de 1700 feirantes. Autor: Maria Eduarda Jussiani

 

 

Visitantes compartilhando experiências.
Visitantes compartilhando experiências. Autor: Maria Eduarda Jussiani

 

 

Foram oferecidos cerca de 1730 tipos de produtos.
Foram oferecidos cerca de 1730 tipos de produtos. Autor: Maria Eduarda Jussiani

 

 

Além artesanatos em barro, madeira e renda, foram oferecidos livros, camisetas e bonés.
Além artesanatos em barro, madeira e renda, foram oferecidos livros, camisetas e bonés. Autor: Maria Eduarda Jussiani

 

 

 

Apoiadora usando um dos produtos oferecidos na feira.
Apoiadora usando um dos produtos oferecidos na feira. Autor: Maria Eduarda Jussiani
Registros da comemoração do dia do trabalhador na ocupação do MSTC
por
Ian Valente Rossignoli
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04/05/2023 - 12h

Na ultimá segunda-feira, 1° de maio, foi comemorado o dia do trabalhador feriado nacional que tem como tradição a promoção de festas para comemorar a massa que gira engrenagens do país. Em 2017 o Movimento dos Sem Teto do Centro (MSTC) ocupou um prédio no centro da cidade de São Paulo, oferecendo moradia, cultura através de oficinas, além de realizarem almoços abertos com chefs convidados, afim de uma maior visibilidade à luta por moradia.

O edíficio ocupado foi nomeado de Cozinha Ocupação 9 de julho, realizou um grande festival comemorando o dia do trabalhador, a festa contou com vários shows e performaces, além da venda de comida e bebida do MST. Também houve uma grande feira de vendas de produtos artesanais e items relacionados a personalisdades defensoras da causa.

Banner da festa do trabalhador
Banner da festa do trabalhador
Área de shows do evento
Área de shows do evento
Feira de vendas de produtos do MST
Feira de vendas de artigos do MST
Jardim e horta da ocupação
Jardim e horta da ocupação
Um barco aleatório no meio da ocupação
Um barco aleatório no meio da ocupação
Sala dentro do prédio ocupado com mais produtos do MST
Sala dentro do prédio ocupado com mais produtos do MST
Bandeira do bloco tricolor antifacista
Bandeira do bloco tricolor antifacista
Grafite dentro do edíficio "Quem ocupa cuida"
Grafite dentro do edíficio "Quem ocupa cuida"
Camisas "O futuro é feminista"
Camisas "O futuro é feminista"
Envolvimento em caso de estupro de vulnerável, quando ainda era jogador, faz técnico corintiano chegar sob protestos.
por
Vinícius Evangelista
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26/04/2023 - 12h

Na quinta-feira (20), pouco depois de anunciar a saída do técnico Fernando Lázaro, o Corinthians anunciou Cuca como seu novo treinador. O contrato tem duração de um ano e não possui multa rescisória para nenhuma das partes. A contratação gerou protestos por parte da torcida, o principal motivo é a condenação de Cuca por envolvimento no estupro de uma garota de 13 anos em Berna, na Suíça, em 1987. Na época, Cuca era jogador do Grêmio, de Porto Alegre, e foi condenado a 15 meses de prisão por atentado ao pudor com uso de violência. Além dele, outros três jogadores da equipe gaúcha - Eduardo Hamester, Henrique Etges e Fernando Castoldi - também estavam envolvidos.

 

O muro do Centro de Treinamento Doutor Joaquim Grava amanheceu com pichações na sexta-feira (21). Em uma das manifestações, uma faixa foi erguida com a frase  “não estuprem o Corinthians”. Mesmo com os protestos, o nome de Cuca contou com o aval do apresentador e comentarista Neto, considerado ídolo do clube. 

“Se eu fosse você, Duílio, eu contrataria o Cuca. Pra mim o nome é o Cuca. E outra coisa, esquece aí os lacradores em relação ao Cuca, esquece isso” - disse o apresentador em seu programa diário “Os Donos da Bola”, horas antes do treinador ser anunciado.

 

Faixa no CT do Corinthians com 3 frases escritas, são elas: “Fora cuca”, “Repeita as minas?”, “Não estuprem o corinthians”, “Time do Povo?”
Uma das várias faixas no CT do Corinthians contra a chegada de Cuca - Reprodução/Twitter

 

REAÇÃO DA ARQUIBANCADA

 

Em contrapartida, algumas das principais torcidas organizadas do Corinthians repudiam a contratação. A Camisa 12 relembrou a Democracia Corinthiana ao criticar o presidente do clube. 

“Duílio, honre a história que seu pai construiu, como presidente da Democracia Corinthiana, e desfaça essa besteira histórica que você acaba de divulgar” - afirmou nota divulgada em uma rede social. Duílio Monteiro Alves é filho de Adilson Monteiro Alves, ex-diretor do clube, e integrante do movimento político que tinha como objetivo lutar contra a ditadura militar do Brasil, ficando conhecido como “Democracia Corinthiana”.

 

Outra torcida organizada a se manifestar foi a Pavilhão 9, que reafirmou seu descontentamento com o nome escolhido, e disse que não se pode pensar apenas em titulos. 

“Não podemos abrir mão da nossa história somente por pensar em títulos” - finaliza a nota.

 

A Estopim da Fiel também se pronunciou através de nota em rede social e questionou o posicionamento do clube. 

“O tal ‘time do povo’ será conivente com todas as atitudes vindas do técnico que foi apresentado em suas redes sociais hoje?”, diz a publicação. 

 

Relembrando a hashtag “Respeita as Minas”, campanha promovida pelo Corinthians em favor dos direitos das mulheres, a Fiel Macabra emitiu uma nota em repúdio a contratação do treinador. 

“A Hashtag Respeita As Minas, tanto propagada em suas campanhas publicitárias, cai por terra diante do que essa diretoria propõe a partir de agora para o futebol masculino [...] Jogaram a história do Corinthians no lixo” - diz um dos trechos do posicionamento. 

 

Principal torcida organizada do Corinthians, a Gaviões da Fiel, foi uma das últimas a se pronunciar sobre a contratação de Cuca. Sem citar diretamente o treinador, a organizada republicou uma nota de um grupo político do clube, o Arquibancada 95, e direcionou as críticas ao presidente Duílio Alves. 

“No último ano de seu mandato, Duílio Monteiro Alves deixou claro que o Corinthians está em um carro desgovernado ladeira abaixo. O maior clube do Brasil está à deriva e ele não tem a menor ideia do que fazer” - diz o posicionamento da chapa. (As notas na íntegra podem ser lidas abaixo).

 

APRESENTAÇÃO TENSA

 

Na primeira entrevista coletiva como comandante do clube, Cuca foi questionado sobre as acusações e manifestações por parte da torcida. O treinador se declarou inocente e contou a sua versão dos fatos. 

“Tenho muita vaga lembrança de tudo que aconteceu, porque foi há muito tempo. Nessa lembrança que eu tenho, eu tinha 23 anos na época, nós iríamos jogar uma partida e pouco antes subiu uma menina no quarto que eu estava junto com mais três jogadores, era um quarto duplo, com duas camas de casal de um lado que fazia um ‘L’ e pegava duas camas do outro... Essa foi a minha participação nesse caso, eu sou totalmente inocente, eu não fiz nada” - disse o treinador.

 

Segundo Cuca, a vítima teria dito por três vez que ele não foi um de seus agressores. 

“A vítima não sou eu, a vítima é a moça, e por três vezes a moça teve lá na frente e disse: ‘o rapaz não está’, se a vítima falou que eu não estava e eu juro por nossa senhora, que é o que eu mais adoro e amo na vida, que eu não estava, como que eu posso ser condenado pela internet, que no mesmo momento que te julga, te pune? [...] Lógico que é cabido o protesto dentro de tudo que é lido e passado, mas é isso. [...] Do fundo do coração, pode ter protesto, pode ter o que for, não é maior do que minha vontade de estar aqui” - afirmou.

 

Cuca apreensivo durante entrevista coletiva
Cuca em entrevista coletiva - Foto: Rodrigo Coca / Agência Corinthians

 

Durante a apresentação do treinador, o presidente do clube, Duílio Monteiro Alves, foi questionado por jornalistas sobre a condenação de Cuca. O presidente afirmou que havia pesquisado sobre o caso e que acreditava na inocência do técnico. 

“Se ele tivesse envolvimento, jamais seria técnico do Corinthians, mesmo que o crime tivesse prescrito e passado 100 anos. Mas a vitima não reconhece Cuca como envolvido. Ele foi condenado à revelia, por não estar no julgamento. O Corinthians jamais contrataria um estuprador” - disse Duílio durante a apresentação. 

 

VERSÃO CONTESTADA

 

Na última terça-feira (25), o advogado suíço Willi Egloff, que acompanhou a adolescente envolvida no caso na época, em entrevista portal UOL, afirmou que Cuca foi reconhecido pela vítima como um dos abusadores. 

“A declaração de Alexi Stival (Cuca) é falsa. A garota o reconheceu como um dos estupradores. Ele foi condenado por relações sexuais com uma menor” - contestou o advogado.

 

ENTENDA O ESCÂNDALO DE BERNA

 

Em Julho de 1987, o Grêmio participava de um torneio amistoso de pré-temporada em Berna, na Suíça. Cuca, na época com 23 anos, era recém-chegado de empréstimo do Juventude e disputaria aquele torneio junto à equipe gremista. No dia 30 daquele mês, o Grêmio se encontrava hospedado no hotel Metrópole. Segundo testemunhas, uma garota invadiu o edifício acompanhada de dois amigos com o objetivo de conseguir uma camisa do clube.

 

O grupo teria batido na porta do quarto onde estavam acomodados quatro jogadores, dentre eles, Alexi Stival, o Cuca. Os dois amigos que acompanhavam a menina teriam sido expulsos do quarto enquanto a porta se fechava com a garota dentro. No boletim de ocorrência registrado pela garota, ela relatou ter sido abusada sexualmente dentro daquele quarto.

 

O caso foi parar na justiça, com o julgamento final acontecendo dois anos depois, quando o Jornal Der Bund, principal jornal de Berna à época, publicou sobre a condenação.

 “O tribunal criminal de Berna condenou, ontem, os três jogadores de futebol brasileiros. Alexi (Cuca), Eduardo e Henrique, do Grêmio Porto Alegre, foram condenados por atentado ao pudor e coação. O tribunal condenou o quarto jogador, Fernando, apenas por coação” - destacava a matéria.

 

Imagens do jornal “Der Bund” com a matéria citada acima
Matéria do Jornal Der Bund, um dia após o julgamento. - E-Newspaper Archives.CH

 

O jornal também revelou o resultado de um exame pericial feito na vítima pelo Instituto de Medicina Legal da Universidade de Berna. 

“Foram encontrados vestígios de esperma de Alexi Stival e Eduardo, não havendo como comprovar marcas de violência física, a vítima relata que ficou paralisada e em estado de choque durante o ato. Por isso, não conseguiu gritar ou se desvencilhar” - detalhou a reportagem. Essa informação foi confirmada pelo advogado Willi Egloff ao portal UOl. 

 

PROTESTOS INTERNOS

 

Logo em sua partida de estreia, Cuca foi novamente recebido com protestos por parte da torcida em frente ao estádio Hailé Pinheiro - popularmente conhecido como Serrinha - onde o Corinthians perdeu para o Goiás pelo placar de 3 a 1, na 2ª rodada do Brasileirão. 

 

No minuto 87 da partida, profissionais do departamento de futebol feminino do Corinthians publicaram uma nota se posicionando sobre o assunto. Pelas redes sociais, atletas como Gabi Portilho, Tamires Dias, Carol Tavares e o técnico Arthur Elias publicaram a seguinte nota:

 

“Estar em um clube democrático significa que podemos usar a nossa voz, por vezes de forma pública, por vezes nos bastidores.

‘Respeita As Minas’ não é uma frase qualquer. É, acima de tudo, um estado de espírito e um compromisso compartilhado.

Ser Corinthians significa viver e lutar por direitos todos os dias.”

 

Ainda na noite de terça-feira (25), Cuca, através de sua assessoria, divulgou uma nota sobre os episódios de protesto que o treinador vem enfrentando e das notícias veiculadas sobre o caso. Na nota, a assessoria afirma que não vai tolerar ofensas e que, a partir de agora, o técnico apenas vai se manifestar sobre o caso por meio de advogados, que contam com representantes na Suíça. O texto é assinado pelos advogados Beatriz Saguas e Daniel Leon Bialski. 

 

“O treinador Cuca esclarece que está totalmente concentrado e empenhando toda a sua energia para o jogo decisivo que o time enfrentará amanhã e, diante das notícias veiculadas nos últimos dias a seu respeito, comunica que a partir desta nota, ele se manifestará e será representado exclusivamente por meio de seus advogados que contam com representantes na Suíça.

Desta forma, refuta as acusações que lhe são atribuídas, que remontam há mais de trinta anos e que foram investigadas e apuradas na ocasião.

O treinador segue desempenhando seu trabalho com lisura e honradez há décadas e, por essa razão, não deverá tolerar afrontas e ofensas contra sua idoneidade, caráter e integridade”

O Corinthians se prepara para enfrentar o Remo nesta quarta-feira (26), na Neo Química Arena, às 21h30, pelo jogo da volta da Copa do Brasil. Depois de perder o primeiro jogo por 2 a 0, a equipe paulista precisará vencer por três gols de diferença para se classificar no tempo normal, ou vencer com vantagem de dois gols para levar a disputa para os pênaltis, caso contrário o time estará eliminado da competição.

Cuca aflito com a mão direita cobrindo a boca
Cuca em sua estréia no comando do Corinthians - Foto: Isabela Azine/AGIF


 

Confira a íntegra das notas divulgadas pelas torcidas organizadas do Corinthians:


 

CAMISA 12

 

“Viemos a público manifestar nossa total repulsa a uma das maiores vergonhas que o Corinthians acaba de nos impor, que é a contratação desse treinador. Nossa história jamais pode aceitar uma pessoa com um crime hediondo (condenado em trânsito em julgado) e que não cumpriu sua pena de 15 meses, entre seus quadros de funcionários.

O Corinthians foi fundado para ser o clube dos excluidos, dos pobres, que abraçou muita gente. O que está em jogo é a reputação de um dos maiores movimentos sociais desse País.

Não aceitamos que esse treinador use a camisa da Democracia Corinthiana, tão representativa em nossa história. Duilio, honre a história que seu pai construiu, como presidente da Democracia Corinthiana, e desfaça essa besteira histórica que você acaba de divulgar”.


 

PAVILHÃO 9

 

“Cuca não! Não queremos nossa história marcada, é inadmissível!

Um clube com a história do Corinthians, não pode aceitar uma contratação dessa e rasgar toda nossa luta. Direção, por acaso vocês já se esqueceram do escândalo de Berna?

Não podemos aceitar, porém o que esperar de uma diretoria que não possui o mínimo de preparo para comandar um clube da altura do Corinthians, não possui limites éticos. Alias, o que tem a dizer a diretoria de responsabilidade social sobre esse tipo de contratação?

E responsabilidade da torcida do Corinthians assumir o protagonismo no fomento a uma cultura responsável com relação ás violências que atingem a maioria de sua torcida. Não podemos abrir mão da nossa história somente por pensar em títulos”.


 

ESTOPIM DA FIEL

 

“Caros Corinthianos(as), por meio deste, viemos a público manifestar nossa total insatisfação com a contratação do técnico Cuca.

É inadmissível que um clube com a história do Corinthians tenha sua equipe principal dirigida por alguém que NÃO tem ética, e respondeu um processo criminal de tamanha crueldade.

Nossa história não pode ser rasgada dessa maneira, e não podemos admitir algo do tipo.

O tal "time do povo" será conivente com todas as atitudes vindas do técnico que foi apresentado em suas redes sociais hoje? Redes Sociais essas, que são usadas todos os dias com campanhas que vão de contrapartida ao que ele (cuca) foi condenado.

Exigimos a saída imediata de Cuca, nunca seremos coniventes com isso, e ressaltamos que nunca fomos procurados para tal decisão. Sem mais!”.


 

FIEL MACABRA

 

“Um clube de excluídos, de todas as raças, credos e crenças, não poderia jamais nos colocar na situação em que o Corinthians nos impôs hoje.

Um clube, cujo presidente, de uma familia Corinthiana tradicional, desonra toda a luta dos seus antepassados.

A luta pela democracia, perpetuada na história do Corinthians, está sendo manchada por uma diretoria incompetente e sem responsabilidade social como tanto pregam.

A Hashtag Respeita As Minas, tanto propagada em suas

campanhas publicitárias, cai por terra diante do que essa diretoria propõe a partir de agora para o futebol masculino.

Somos, e estamos totalmente contra, repudiando a contratação desse senhor, o qual não pronunciaremos o nome, como técnico de futebol do clube.

Jogaram a história do Corinthians no lixo.

Como Corinthians de alma, seguiremos apoiando sempre os 90 minutos. Mas que fique clara nossa posição totalmente contrária ia contratação deste senhor para o comando técnico.

O Corinthians é maior que tudo isso. E isso um dia acaba. 

Fora Diretoria Incompetente.

Fora todo mundo”.

 

GAVIÕES DA FIEL / ARQUIBANCADA 95

 

“No último ano de seu mandato, Duílio Monteiro Alves deixou claro que o Corinthians está em um carro desgovernado ladeira abaixo. O maior clube do Brasil está à deriva e ele não tem a menor ideia do que fazer.

No terceiro e último ano do seu mandato, é nítido que ele jogou na lata do lixo todo o planejamento e toda a pré-temporada do Corinthians. Ele não tinha nenhum plano B para colocar no lugar do Fernando Lázaro (este quando assumiu o cargo de técnico no maior time do Brasil, não tinha as credenciais mínimas para ser técnico), a quem ele jogou na fogueira sabendo que não daria certo.

Duilio viu, jogo após jogo, o Corinthians piorar seu rendimento, ser eliminado pelo Ituano em casa, se complicar na Copa do Brasil e perder o primeiro jogo em casa na Libertadores.

E não telefonou pra ninguém, não examinou nomes, não fez contatos, nada. Nenhum plano.

Então fez o que sabe fazer de melhor: trouxe para o Corinthians o técnico mais controverso da história e o que menos tem a ver com o corinthianismo.

Que em alguns momentos jogou o nome do Corinthians na lama em suas entrevistas coletivas quando estava nos rivais. Duílio apagou incêndio com gasolina porque não tinha nem nunca teve um plano B e dividiu o povo corinthiano quando precisávamos de união.

O grupo Renovação & Transparência não pode continuar no poder na figura de Duilio, Andrés e todos os seus sucessores. O Corinthians precisa ser gerido com profissionalismo, e a camisa e a história do Corinthians precisam ser respeitadas”.

Dados revelam como a violência de gênero, o déficit de mulheres na política e a disparidade salarial ainda são lutas a serem travadas.
por |
09/03/2023 - 12h

Por Malu Araújo e Luísa Ayres

Apesar de terem ocorridos alguns avanços nesses últimos anos, a sociedade brasileira ainda é, em sua grande parte, arraigada no machismo estrutural. O clichê de que “8 de março precisa ser todo dia”, não se reflete nos demais dias do ano, visto que muitas mulheres são violentadas, desencorajadas a ocuparem lugares de poder e, em sua grande maioria, ganham salários inferiores aos dos homens, entre outros episódios lamentáveis.

Principais manchetes de jornais sobre taxas de feminicídio- Montagem: Malu Araújo
Principais manchetes de jornais sobre taxas de feminicídio- Montagem: Malu Araújo

 

 

Violência: substantivo feminino, sujeito masculino

Diante desse cenário, a violência de gênero se constitui como uma estratégia de silenciamento feminino, uma vez que as mulheres são uma das maiores vítimas em casos de estupro, assédio e violência, segundo o Atlas da Violência de 2021.

 

 

Infográfico do Atlas da Violência de 2022
Infográfico sobre violência de gênero- Fonte:  Atlas da Violência de 2022

 

O Fórum Brasileiro de Segurança Pública apontou que em 2022, 699 mulheres foram vítimas de feminicídio, tendo-se uma média de 4 por dia. Esses dados ainda foram colocados em perspectiva com a redução dos casos de homicídios de 2019 para cá, salientando o contraste de queda nos homicídios em relação aos casos de feminicídio.

Além disso, é importante lembrar que dentro dessa violência há um recorte racial, uma vez que as mulheres pretas e pardas representaram 67% dos casos no ano de 2020, segundo o  Instituto Igarapé. Tal situação também pode ser ligada a outra luta do movimento feminista: a liberdade reprodutiva, já que as mulheres negras também são as que mais morrem com a prática do aborto inseguro.

 

Onde elas estão?

Apesar de serem a maior parte da população global, as mulheres são minorias em cargos políticos e de liderança. No caso das candidaturas políticas femininas, o relatório de Desigualdade de Gênero e Raça na Política Brasileira apontou que menos de 14% das candidatas se elegem para prefeitas. Já na câmara dos vereadores elas equivalem a 35%, mas isso porque existe uma cota que as legendas partidárias devem cumprir: 30% desse espaço deve ser de presença feminina.

E mesmo quando ocupam os meios políticos, as mulheres continuam sendo impedidas do pleno exercício de seu cargo. Um dos últimos exemplos marcantes dentro da política brasileira foi o assédio sofrido pela deputada estadual Isa Penna, durante uma votação de orçamento na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp).  Além do assédio, Penna ainda teve que lidar com uma série de ameaças de morte e estupro.

Esse acontecimento evidencia como o conjunto de valores sexistas e misóginos do patriarcado, impede que as candidatas exerçam seus direitos com segurança e respeito. Essa estrutura patriarcal se vale da violação desses direitos e do cerceamento do espaço feminino, mesmo quando estes já estão garantidos por lei.

Relatório da Violência Política Contra a Mulher, disponível no site da Transparência Eleitoral analisa a participação de mulheres na política mundial. Na conclusão, o estudo aponta ausência feminina- sobretudo, no Brasil, como um dos principais obstáculos para alcançar um melhor desempenho  global.

A questão também é tratada no livro "Sempre Foi Sobre Nós", de Manuela d'Ávilla em parceria com diversas outras figuras femininas conhecidas na política, como Dilma Rousseff, Marina Silva, Erika Hilton e Isa Penna. A obra, através de relatos pessoais de cada autora separados em capítulos, narra, das mais diversas perspectivas, as dificuldades que cada uma enfrentou no campo da política sendo mulher.

 

Nem comercial. Nem romântico. Político!

As flores e presentes, símbolos da comercialização do 8 de março, por sua vez, também não são suficientes para apagar a enorme disparidade salarial entre homens e mulheres. Isso porque atualmente as mulheres ganham 78% do que um homem ganha, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

É importante, a partir de todo cenário e denúncias narradas até aqui, lembrar que o 8 de março é um registro histórico de infinitas lutas por mais espaço e respeito, que estão longe de cessar.