Com a presença de convidados especiais, Boitempo, em parceria com o MST, promove a comemoração dos 207 anos do pensador e 30 anos da editora
por
Isabela Fabiana
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09/06/2025 - 12h

O encontro ocorreu no Espaço Cultural Elza Soares, das 10h as 18h, tendo como principais pautas a crise ambiental, o identitarismo, colonialismo e precarização do trabalho. O evento acontece desde 2018, e contou com a participação de grande nomes do pensamento crítico contemporâneo,  na politica e nas artes como, por exemplo, Rita Von Hunty, Douglas Barros, Paulo José Netto, Manuela D’Villa, Luciano Genro, Ricardo Antunes, entre outros. 

Para alimentação, o MST preparou refeições agroecológicas para café da manha, almoço e café da tarde. Além de debates, com pautas importantes, o evento contou com uma feira literária, entre as editoras participantes estavam a Veneta, Ruptura, a própria Boitenpo, Camisa Critica, Boitata, oferecendo revistas gratuita, contracorrente e muitas outras. Confira a reportagem em vídeo

 

 

 

 

Neste ano de 2025, a Escola Nacional Florestan Fernandes, localizada em Guararema (SP), celebra suas duas décadas de existência, sendo um dos principais exemplos de centros de formação política e pedagógica na América Latina 
por
Inaiá Fernandes Misnerovicz
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09/06/2025 - 12h

As festividades pelos 20 anos da ENFF não se limitaram à sua sede. Durante a reunião da Coordenação Nacional do MST, realizada de 20 a 24 de janeiro em Belém (PA), cerca de 400 dirigentes participaram de atividades comemorativas que ressaltaram a importância da formação política na luta por uma sociedade mais justa.

Para o segundo semestre de 2025, está prevista a realização de um Seminário Internacional de Formação Política na própria Escola. O evento reunirá militantes e educadores de diversos países para debater os desafios contemporâneos da formação política e reafirmar o caráter internacionalista da escola e do Movimento Sem Terra. 

A ENFF é marcada por princípios de sustentabilidade e trabalho coletivo desde o seu início. Ela foi erguida pelas mãos de mais de 1.200 militantes. “A Escola se constituiu numa referência de trabalho voluntário, solidariedade e de internacionalismo desde o seu processo de construção até os dias atuais, pois o método político-pedagógico se reafirma, nas dimensões do trabalho, da organicidade, da mística, da arte e da cultura, do estudo e da prática dos valores humanistas e socialistas. A colaboração de todas as pessoas que se fazem presentes na sua estrutura física.” explica Selma Santos, dirigente do MST que compõe a CPP, a Coordenação Política e Pedagógica da ENFF. 

Essa vivência coletiva se expressa também na rotina da escola: “as pessoas participam das limpezas diárias, preparam as místicas, estudam em núcleos de base. Vivenciam o cotidiano da ENFF de forma coletiva, respeitosa e solidária”, complementa. A organização cotidiana da escola é garantida pela Brigada Apolônio de Carvalho, formada por militantes do MST, e pelo apoio da Associação de Amigos e Amigas da ENFF, que mobiliza solidariedade em diferentes formas — de contribuições financeiras a doações de livros e roupas. 

Os edifícios foram construídos com tijolos de solo-cimento produzidos no próprio local, reduzindo o impacto ambiental e o custo da obra. O financiamento veio de doações de apoiadores da Reforma Agrária no Brasil e no exterior, incluindo a venda de fotografias de Sebastião Salgado e o livro Terra, uma parceria com o cantor Chico Buarque. “A arquitetura da ENFF é extraordinária. Ela apresenta uma outra lógica de construção em diálogo com a preservação ambiental”, destaca Selma. “Durante a construção, muitos militantes aprenderam essa técnica e a implementaram em seus assentamentos. A ‘máquina de tijolos utilizada ali, está sendo experimentada em [países de] África e, em breve, na Venezuela.” 

Foto: Sara Sulamita
Foto: Sara Sulamita

Desde sua inauguração, a escola já formou cerca de 70 mil pessoas, em parcerias com 35 universidades brasileiras e internacionais. Também são oferecidos programas de mestrado e doutorado em Desenvolvimento Territorial na América Latina e Caribe, em colaboração com a Universidade Estadual Paulista (Unesp). “Esse resultado é positivo quantitativa e qualitativamente. Ele se reflete no fortalecimento das organizações populares que tiveram militantes formados pela escola, tanto no Brasil quanto em outros países da América Latina, atuando nas lutas estudantis, das mulheres, da moradia, da educação e nos processos de construção de poder popular”, avalia Selma. 

A ENFF também é um espaço de articulação internacional, que recebe militantes de diversos países e promove o intercâmbio de experiências entre movimentos populares. Esse caráter internacionalista reforça seu papel estratégico na construção de uma sociedade mais justa e igualitária. 

A formação na escola é fortemente influenciada pelo pensamento de Florestan Fernandes e Paulo Freire. “Os dois mestres se colocam na perspectiva da prática–teoria–prática, da ação–reflexão–ação, que parte do estudo teórico enraizado em uma prática concreta. Por isso, o principal critério para participar de um curso na ENFF é ser militante ativo em uma organização popular, com o objetivo de qualificar sua atuação”, explica a coordenadora. Segundo ela, Florestan Fernandes é um grande referente intelectual para o movimento por ter afirmado sua opção pelos pobres e excluídos. Seu trabalho trouxe à tona questões da causa indígena e negra, enquanto defendia a educação pública e a superação do capitalismo. Todos esses temas seguem atuais e necessários.” 

Por fim, Selma destaca a importância da cultura e da mística como parte da formação integral dos sujeitos: “Elas reafirmam valores, constroem sentido coletivo e ajudam a formar seres humanos completos, capazes de sonhar e lutar por um mundo diferente. É o contraponto à lógica do ter. O mais importante é o ser — humano e integral.”, conclui. 

22 de Agosto escolhe não aderir a mobilização e contribui para a descredibilizar movimento estudantil
por
Annick Borges
Davi Rezende
Manoella Marinho
Rafael Pessoa
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29/05/2025 - 12h

Sem o apoio do maior centro acadêmico da universidade, paralisação realizada pelos alunos da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) na última semana foi alvo de disseminação de informações falsas. Estudantes contrários ao movimento e até figuras políticas propagaram desinformação sobre as manifestações, na tentativa de enfraquecer os atos.

Os protestos e a paralisação na universidade conquistaram importantes avanços para o movimento estudantil, além de atenção na mídia. Pela seriedade das reivindicações, todos os coletivos estudantis e centros acadêmicos da PUC-SP se manifestaram aderindo ou não aos atos.

Estudantes esperando a assembleia nas arquibancadas
Plateia da assembleia organizada pelo Centro Acadêmico 22 de Agosto, na manhã do dia 22 de maio, na PUC-SP, campus Monte Alegre. Foto: Manoella Marinho.

 

Iniciadas pelos Centros Acadêmicos de Ciências Sociais (CACS), Serviços Sociais (CASS), Relações Internacionais (CARI) e pela Coletiva Afroindígena Saravá, as manifestações que paralisaram as atividades dos cursos da Faculdade de Ciências Sociais (FACSOCS), e logo ocuparam o edifício Cardeal Motta, conhecido como “prédio velho”, foram adotadas pelos demais CAs da universidade. Em 21 de maio, dois dias após o início das manifestações, os Centros Acadêmicos de Psicologia (CAPSI), Jornalismo (Benevides Paixão), Letras (Clarice Lispector), assim como o Coletivo de Bolsistas Da Ponte Pra Cá e o Comitê de Estudantes em Solidariedade ao Povo Palestino (ESPP), também demonstraram apoio.

Laís Hera se dirigindo aos estudantes das arquibancadas que estavam assistindo a assembleia
Lais Hera, presidente do CA 22 de Agosto, em assembleia do curso de Direito no dia 22 de maio, na PUC-SP, campus Monte Alegre. Foto: Eduardo Bettini.

 

Desde o início da mobilização, o Centro Acadêmico de Direito, o 22 de Agosto, liderado pela gestão Alvorecer, não se fez presente de forma ativa para entender os motivos da paralisação ou explicar aos alunos do curso que representam. Através de um pronunciamento no Instagram, Lais Hera, presidente do CA, afirmou que fez um movimento rápido de votação sobre a adesão à greve, três dias após o início do processo. Na quinta-feira (22), falou sobre a paralisação com os estudantes de Direito, porém, em entrevistas para a AGEMT, alunos que não quiseram se identificar deixaram claro que muitos não sabiam os motivos da manifestação, mas mesmo assim foram incentivados a votar a favor ou contra em um formulário on-line.

Em publicações feitas nas redes sociais, como o X (antigo Twitter), alunos do curso de Direito demonstraram insatisfação com as manifestações do dia 20 de maio. Nas postagens, criticam o movimento, ainda que assumam que não conhecem as pautas reivindicadas.

Reprodução de um tweet
Publicação no X em crítica às manifestações feitas no dia 20 de maio, na PUC-SP, campus Monte Alegre. Foto: Reprodução/X.

 

O resultado foi um espetáculo na quadra da universidade, sem equipamento de som de qualidade, onde quem quisesse ser escutado precisava gritar. Em sua imensa maioria, os estudantes de Direito do período diurno votaram contra a paralisação e deram seguimento às aulas. Na sessão noturna, o cenário foi diferente. Alunos presentes relataram uma assembleia caótica, virtual e presencialmente, com direito a uma chuva de comentários preconceituosos por meio de alguns que estavam presentes via transmissão ao vivo.

Comentário preconceituoso feito na assembleia geral transmitida pelo 22 de Agosto
Comentário feito por usuário do Instagram em transmissão ao vivo da assembleia do curso de Direito na noite do dia 22 de maio, na PUC-SP, campus Monte Alegre. Foto:Reprodução/Instagram.

 

No domingo (25), o Centro Acadêmico 22 de Agosto se pronunciou sobre o ocorrido da última sexta-feira e defendeu a presidente do CA, Lais Hera, que foi alvo de comentários preconceituosos na live. Embora a intenção fosse de tomar a responsabilidade de apoiar Hera, o pronunciamento criticou o movimento estudantil de diversas formas, inclusive em uma parte específica explicando que “uma mobilização deve obedecer a etapas claras e transparentes, que legitimam qualquer deflagração grave”. 

 

No mesmo dia, outro comunicado foi expedido pela presidente do Centro Acadêmico. Em vídeo, Hera alegou que só poderiam votar na assembleia geral aqueles que aderiram à manifestação. “Os alunos de Direito não votam sobre a paralisação geral, pois esta continua somente para os cursos em que se aderiram à paralisação”, afirmou. A informação falsa só foi desmentida pela mesa composta pelo comitê da paralisação na manhã de segunda-feira (26), na Assembleia dos Três Setores. 

Dada a situação de informações conflitantes, os alunos que estavam presentes na assembleia geriram uma votação pela volta do DCE (Diretório Central dos Estudantes), a fim de solucionar problemas futuros com gestões de CA. Por unanimidade, os estudantes votaram a favor da volta do Diretório na PUC-SP.

Gian Lucca, aluno do Direito discursando em meio a quadra na assembleia
Gian Lucca, aluno do curso de Direito, em discurso durante assembleia organizada pelo Centro Acadêmico 22 de Agosto, no dia 22 de maio, na PUC-SP, campus Monte Alegre. Foto: Eduardo Bettini.

Durante a sessão noturna da Assembleia dos Três Setores, alguns estudantes presentes foram atingidos pelo que relataram ser “água e lixo”, arremessados do terceiro andar. As reclamações ocorreram três vezes ao longo da noite, e mesmo a equipe de segurança da PUC-SP e a AGEMT terem tentado identificá-los, os agressores não foram encontrados.

No mesmo dia, em meio às falas dos estudantes, o ex-deputado do MBL, Douglas Garcia, compareceu à assembleia no intuito de criar conteúdo para o seu Instagram e atrapalhar o seguimento das discussões. “Só vocês falam e não deixam mais ninguém falar”, disse o deputado, que não é aluno da PUC-SP, dirigindo-se à mesa.

No primeiro momento, uma estudante o chamou para expor suas ideias. Garcia aceitou, porém, enquanto estava se dirigindo para a mesa, foi barrado por vários alunos. “A gente não dá palco para fascista”, completou Pedro Bezerra, militante do PCBR (Partido Comunista Brasileiro Revolucionário).

Essa não é a primeira vez que o ex-deputado grava vídeos no campus Monte Alegre. Em 26 de março, em frente à universidade, ele filmou conteúdos em defesa da anistia para o ex-presidente Jair Bolsonaro e os condenados pelos ataques a Brasília de 8 de janeiro de 2023. Durante a assembleia de 23 de maio, o militante do MBL foi expulso da instituição por alunos, seguranças e professores com gritos  de  “Fora fascista, fora!”

Após sete dias de paralisação, o movimento estudantil é ouvido pela reitoria da PUC-SP e FUNDASP
por
Annick Borges, Davi Rezende, Manoella Marinho e Rafael Pessoa
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29/05/2025 - 12h

 

O movimento estudantil da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) declarou o fim da paralisação no Campus Monte Alegre, liderada pela Coletiva Afroindígena Saravá, na noite desta terça-feira (27). A manifestação, que começou em 19 de maio, conquistou importantes vitórias para a comunidade acadêmica, como a retirada de queixa policial contra alunos, atendimento imediato de parte das reivindicações e uma “mesa de diálogo” com a reitoria para discutir as outras pautas do movimento. 

Um primeiro diálogo entre a comissão de paralisação e o padre Rodolpho Perazzolo, secretário executivo da Fundação São Paulo (fundasp), com o intuito de apresentá-lo formalmente às demandas dos estudantes, ocorreu na segunda-feira (26). Ao final da conversa, o sacerdote fez uma solicitação: que os piquetes interditando algumas das entradas da universidade fossem retirados. O pedido de Rodolpho foi acatado e, já no mesmo dia, e as barreiras foram removidas e devolvidas às devidas salas de aula. No dia seguinte, houve mais uma conversa com o padre, que exigiu o fim da ocupação em troca de remover a liminar judicial contra quatro alunos participantes da paralisação. 

As manifestações começaram com a articulação dos centros acadêmicos de Ciências Sociais (CACS), Serviços Sociais (CASS), Relações Internacionais (CARI) e a Coletiva Afroindigena Saravá, que paralisaram as atividades curriculares da Faculdade de Ciências Sociais (FACSOCS) em busca da democratização do ensino através de políticas afirmativas na universidade. 

Dentre as exigências da paralisação estão formação antirracista obrigatória para estudantes e funcionários, investigação e responsabilização nos casos de discriminalização, cotas trans e direito de estudantes bolsistas a dupla gratuidade no “bandejão” (restaurante universitário).

Ao longo da semana passada, outros centros acadêmicos participaram da ocupação, como o de Psicologia (CAPSI), Letras (Clarice Lispector), Jornalismo (Benevides Paixão), além de organizações como União da Juventude Comunista (UJC) e o coletivo de alunos bolsistas Da Ponte Pra Cá. Os centros acadêmicos de Direito, o 22 de Agosto, e dos cursos da Faculdade de Economia e Administração (FEA), o Leão XIII, após assembleias realizadas com seus alunos, não aderiram ao movimento.

Os piquetes foram colocados no último dia 21, com o intuito de bloquear diversas salas e passagens dos prédios. Entretanto, a ocupação teve seu início apenas na quinta-feira (22), quando os estudantes dormiram no campus Monte Alegre. A ocupação só foi decretada oficialmente no dia seguinte, em assembleia geral, sendo determinado também que os estudantes passariam o final de semana na universidade.

 

Criminalização do movimento estudantil

Os jovens que estavam lutando por suas reivindicações foram surpreendidos com uma liminar judicial, assim que foram tentar conversar com o reitor. A FUNDASP, mantenedora da PUC-SP, entrou com o pedido porque desde o dia 19 as entradas para o edifício Cardeal Motta, conhecido como “prédio velho”, foram bloqueadas, assim como uma das entradas do “prédio novo” (edifício Reitor Bandeira de Mello). Alegaram também uma mobilização para coleta de mantimentos, o que sinalizaria uma ocupação por um tempo maior do que poderiam prever. 

A liminar coloca os alunos como invasores da universidade, visto que pedem uma restituição de posse do imóvel. Ao todo, são 92 páginas de processo, no qual quatro estudantes são citados, com fotos e contas de rede social. Em assembleia que aconteceu no mesmo dia, estudantes negros representados pela Coletiva Saravá deixaram sua indignação pelos adjetivos no documento.

Reitor Vidal Serrano e seu assessor, ambos de costas em assembleia geral na sexta-feira (23), na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, campus Monte Alegre
Costas da assessoria da reitoria na assembleia discursando para o corpo discente. Foto: Rafael Pessoa.

 

Representantes de diversos comitês em apoio à ocupação e alunos de vários cursos se reuniram na área da “prainha”. As falas tiveram início na voz da presidenta do CACS, Renala Francisco Fernandes, que reafirmou as pautas defendidas pelo comitê de greve e deu detalhes da reunião com a reitoria. “Foi feito um debate, a gente apresentou os pontos de reivindicação, e a reitoria respondeu de uma forma muito genérica”, apontou. A aluna continua: “Sobre o curso de letramento de raça e gênero, falaram que já existe esse programa e que, de certa forma, seria ampliado, mas não eram os termos em que a gente está falando”. Os relatos do comitê de greve terminaram afirmando que “tanto a questão do ‘bandejão’, quanto das cotas raciais e trans não foram definidas. A gente saiu de uma reunião hoje em que não teve nada firmado”.

Durante o discurso de Renala, o reitor Vidal Serrano apareceu, quase como de surpresa, para compor a assembleia. “Caso a ocupação de fato continue, que o reitor tenha uma posição à lá Nadir Kfouri, e que não deixe que a polícia militar entre na PUC-SP”, finalizou a presidenta do CACS.

Em entrevista à AGEMT, o estudante de Direito Hector Batista, militante da UJC e da União Estadual dos Estudantes (UEE), afirmou: “A gente teve uma reunião com a vice-reitora e algumas pessoas do gabinete, pois o reitor estava no Rio de Janeiro em uma atividade com todas as PUCs do Brasil. Foi quando a gente soube da liminar da FUNDASP”. Ele comenta também sobre a presença do reitor na assembleia: “A gente ficou na expectativa de que ele pudesse vir falar com os estudantes, já que foi uma sugestão feita pelo nosso comitê, mas não tinha certeza de que ele apareceria de fato. A gente considera uma surpresa, principalmente pro público em geral”.

Estudantes em momento de votação na assembleia
Pedro Bezerra, militante do PCBR, Athos Soares da coletiva Saravá e Aiumii do comitê de estudantes em solidariedade ao povo palestino, durante assembleia geral do dia 23 de maio. Foto: Rafael Pessoa.

 

A sequência da assembleia se deu com falas dos representantes de diversos coletivos e centros acadêmicos da universidade. Letícia Chagas, professora da PUC-SP e advogada formada pela primeira turma de cotistas étnico-raciais da USP, marcou presença em um discurso de repúdio à liminar. “Reitor, os meus alunos não estão sozinhos. A negritude da PUC está muito forte porque não está só”, disse. A docente continua: “Foi um absurdo o que fez a FUNDASP, encampando um processo contra nomes específicos de alunos. Como o senhor pode ver, isso aqui não são cinco alunos, isso aqui é um mundo inteiro”. 

Durante a assembleia, o estudante do curso de Ciências Sociais e militante do Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR), Pedro Bezerra, criticou os métodos da FUNDASP: “Eu estou aqui para dizer que não vai ter reitoria e nem Fundação que vai nos intimidar e nem nos desarticular. Na noite de quarta-feira [21], um funcionário da PUC-SP, de crachá azul, foi dentro do centro acadêmico [de Ciências Sociais] e pediu o nome de quatro estudantes. São esses quatro que estão citados nominalmente no processo”

Como forma de manter a segurança dos estudantes presentes na manifestação, os representantes dos coletivos e centros acadêmicos reafirmaram para os alunos não darem seus nomes a nenhuma autoridade de justiça. Em grupos de WhatsApp criados para organizarem as atividades da ocupação, circulavam listas de nomes dos estudantes que dormiram na universidade. Tal ação foi então alertada pelos administradores dos grupos, com o risco dos nomes serem incluídos em outros processos judiciais. Por isso, muitos dos alunos optaram por não fornecerem seus nomes completos e cursos para a AGEMT.

A representante do Comitê de Estudantes em Solidariedade ao Povo Palestino (ESPP), Aiumii, expressou críticas à forma como a reitoria tem tratado os casos de arabofobia na PUC-SP. Em fevereiro e março de 2025, houve dois casos de mensagens com ameaças de morte em tom de limpeza étnica nas paredes do banheiro do “prédio velho”.

“Já há um ano, a gente denuncia para essa reitoria que houveram casos de ameaça de morte contra alunas árabes nessa faculdade. A resposta que deram para a gente todas as vezes foi que isso não é prioridade da faculdade”, disse Aimuii. Em sequência, a estudante afirmou: “A lágrima de sangue que chora a mãe que perdeu um filho martirizado para a PM, é a mesma lágrima que as mães palestinas choram quando perdem seus filhos”.

Estudante do segundo semestre de Direito, Gustavo Xavier dialogou diretamente com o reitor. “O que a gente está buscando aqui é uma emancipação estudantil. Uma emancipação dos estudantes negros, dos estudantes LGBT, de todos os estudantes” afirmou. Ele continua: “Eu pago 5 mil reais para ser discriminado. Eu não sou um invasor. O que for conquistado aqui, se deliberado, vai mudar vidas, vai mudar a história da PUC-SP”.

 

Posicionamento dos professores e funcionários

 

Durante a segunda-feira (26), os estudantes em ocupação organizaram mais uma assembleia, dessa vez em conjunto com as Associações dos Funcionários (AFAPUC) e dos Professores (APROPUC). Chamada de “Assembleia dos Três Setores”, o evento reuniu forças com as demais entidades da universidade, além de resgatar demandas do corpo docente e dos funcionários.

Professor João Teixeira em Assembleia dos Três Setores na segunda-feira (26), na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, campus Monte Alegre
 Representante da APROPUC, professor João Teixeira.  Foto: de Rafael Pessoa.

Durante a reunião, que teve uma sessão matutina e outra noturna, os alunos em manifestação leram uma carta escrita à FUNDASP, listando as exigências do movimento. As demandas foram levadas à uma reunião com o padre Rodolpho, marcada pelo mesmo inegociavelmente às 10 horas da manhã da própria segunda-feira (27) uma hora antes do agendado para a primeira sessão da assembleia. 

Representantes dos setores associados aos funcionários e professores, Rodrigo Mariano Costa e João Teixeira, respectivamente, fizeram suas falas em apoio ao movimento de ocupação da PUC-SP. 

Em discurso individual, Teixeira ratificou críticas à FUNDASP, a partir de denúncias feitas pelo Movimento Estudantil. O professor reafirmou a diferença salarial de até 50% entre os professores negros recém contratados como assistentes de ensino - mesmo possuindo formação de mestres, doutores e pós-doutores -, e professores brancos com a mesma experiência. Quando a militante da Coletiva Saravá, Ica Nishimoto, disse “Isso é racismo!” durante a fala de Teixeira,  o professor consentiu com a cabeça.

Ica Nishimoto abraçando Athos enquanto os estudantes que batem palmas após discurso
Abraço de Ica Nishimoto em Athos Soares após discurso. Foto: Rafael Pessoa.

 

O fim da assembleia diurna foi um ato de protesto realizado na frente do prédio da FUNDASP, onde os alunos se dirigiram para a sede para recepcionar a saída da equipe do comitê de paralisação, que tinha comparecido à reunião com o padre Rodolpho.  No entanto, não foram resolvidas as questões dos estudantes e sim feita uma oferta: retirar os piquetes da universidade, realizada pelos próprios alunos durante a noite, com o intuito de remover a liminar. No dia seguinte, terça-feira (27) houve mais uma conversa com o sacerdote, e nesta, enfim, o acordo para o fim da paralisação foi alcançado.

Fala do reitor Vidal Serrano

 

O reitor Vidal Serrano se mostrou aberto para dialogar com os alunos na assembleia de sexta-feira e solidário às pautas levantadas. “Na reitoria, temos um compromisso de portas abertas, então qualquer estudante que quiser falar comigo, é só marcar e será recebido. Acho as reivindicações de vocês legítimas, especialmente a questão relacionada ao ‘bandejão’”. Neste momento, os estudantes em frente à mesa questionaram juntos: “E o racismo?”, sendo respondidos pelo reitor com “o racismo também”.

Reitor Vidal Serrano e seu assessor, conversando pre assembleia geral na sexta-feira (23), na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, campus Monte Alegre
Reitor Vidal Serrano com sua assessoria na assembleia geral. Foto: Rafael Pessoa.

 

“Eu me comprometo com todas as questões raciais que estão colocadas por escrito em uma carta que vou deixar aqui, e vocês lêem depois”, continuou o reitor, que após o movimento dos alunos gritarem “lê” repetidamente, fez a leitura do documento. 

A carta apresentada pela reitoria consiste em cinco pontos com os quais ela se compromete, “sem prejuízo de futura construção conjunta e coletiva”. Dentre os tópicos listados estão “letramento racial; reformas nos cursos de graduação com o compromisso de efetivação de currículos antirracistas; restaurante universitário (qualidade da comida fornecida, expansão imediata da bolsa alimentação e dupla alimentação para todos os bolsistas); garantia de devida apuração a todo ato discriminatório e negociações quanto a permanência do programa de Pós-Graduação San Tiago Dantas”.

Em defesa do segundo ponto levantado na carta, Serrano apresentou as ações já feitas pela reitoria. “Nós estamos avaliando todos os cursos da graduação aqui, ouvimos 800 estudantes nos últimos dois meses e queremos apresentar para uma comissão de cada uma das faculdades o resultado dessa avaliação”. Em sequência, ele reconheceu déficits nos cursos: "É verdade que há aspectos relacionados à estrutura da universidade e à população que são deficitários, mas também é que vários dos nossos cursos precisam ser melhorados. Melhorados do ponto de vista científico e acadêmico”.

Reitor Vida Serrano em meio a estudantes na Assembleia Geral de sexta-feira (23), na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, campus Monte Alegre
"Prainha” lotada com o reitor no centro em meio a gritos de protesto contra a falta de atitude frente denúncias de racismo. Foto: Rafael Pessoa.

 

Ao fim da leitura da carta, o reitor foi questionado quanto à liminar que criminaliza os estudantes como “invasores” do campus, e se poderia fazer alguma mediação com a Fundação. “Queríamos garantir que ele se comprometesse com o diálogo com a Fundação, para que não haja nenhuma retaliação futura. Daqui a seis anos, com a gente formado, ainda podemos estar com uma dívida enorme por conta dessa liminar”, disse Renala Fernandes.

Em resposta, Serrano afirmou: "essa liminar não partiu da reitoria, em primeiro lugar. Nós não sabíamos. Eu não sou favorável a isso, não acho que seja correto entrar com ação contra os estudantes. Não sei se eu vou conseguir [remover a liminar], mas me comprometo a dialogar com a Fundação”. Após a presença do reitor na universidade, um primeiro comunicado foi divulgado via Instagram a fim de pontuar quais reivindicações seriam estudadas pela reitoria.

 

Várias outras exigências quanto à administração da universidade foram feitas ao reitor na assembleia. Pautas como o posicionamento frente à questão da solidariedade aos povos palestinos, a implementação de cotas para pessoas trans, entrada de alunos indígenas na universidade e até a presença do padre Rodolpho, diretor executivo da FUNDASP, para circular e ver a situação do campus foram levantadas.

Nesse momento, o reitor se despediu dos estudantes presentes, que se manifestaram contra sua ida. Enquanto pediam a Serrano “professor, tem mais”, este respondia “eu preciso ir embora, tenho outro compromisso”.

Após sua saída, a assembleia seguiu, até uma votação realizada pelos alunos onde, por unanimidade, foi determinada a continuação da ocupação até segunda-feira (26), com alunos permanecendo dentro da universidade durante o final de semana.

 

Com a continuação do movimento durante os dias e as reuniões com o padre, a paralisação chegou ao fim. O pedido de Rodolpho foi acatado pela comissão de greve e repassado para os demais. No mesmo dia, as barreiras foram retiradas e devolvidas às devidas salas de aula. Na terça-feira (27), houve mais uma conversa com o diretor executivo da Fundação São Paulo que exigiu o fim da ocupação em troca do fim da liminar.

Mesmo com um fim o movimento saiu muito vitorioso e em suas redes sociais publicou.

Em busca de melhorias no ambiente universitário, alunos passaram noites no campus em manifestação contra FUNDASP
por
Annick Borges, Davi Rezende, Manoella Marinho e Rafael Pessoa
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29/05/2025 - 12h

Estudantes da PUC-SP ocuparam a universidade a partir da noite de quinta-feira (22), em reivindicação de políticas antirracistas e melhorias na infraestrutura do campus Monte Alegre. Os alunos passaram as noites de 23 a 26 de maio no edifício Cardeal Motta, conhecido como “prédio velho”, organizando manifestações e palestras em defesa de suas demandas. 

Os Centros Acadêmicos de Ciências Sociais (CACS), Serviços Sociais (CASS), Relações Internacionais (CARI) e a Coletiva Afroindígena Saravá já organizavam a paralisação geral de seus cursos desde 19 de maio. Após assembleia geral com a presença do reitor Vidal Serrano, na sexta-feira (23) à noite, o comitê de greve definiu o início da ocupação.

 

Como foi a ocupação?

Em entrevista à AGEMT, o graduando de Direito Hector Batista, militante da União da Juventude Comunista (UJC) e da União Estadual dos Estudantes (UEE), conta como foi o processo.  

Estudante e militante Hector Batista em assembleia dos três setores na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, campus Monte Alegre, emocionado enquanto tira fotos
Hector Batista em assembleia dos três setores na noite de segunda-feira (26), na PUC-SP, campus Monte Alegre. Foto: Rafael Pessoa.

 

“Foi uma experiência incrível de conexão com muitos estudantes, que vieram, ou para passar a noite, ou para participar de algum momento do dia, com apoio até de professores que vinham aqui nos ajudar”, apontou o militante. “Foi um processo coletivo importante pra gente se fortalecer enquanto Movimento Estudantil, mas também para criar uma conexão com os outros alunos”, completou.

Durante a ocupação, os estudantes organizaram diversos eventos no campus, como rodas de conversa, aulas abertas, oficinas de confecções de cartazes, atividades esportivas e atos de protesto.

Hector descreveu como foram as atividades estruturadas pelo comitê de greve. “Teve uma palestra para falar sobre a questão da Palestina, uma para falar sobre o que é o CONSUN [Conselho Universitário], o CONSAD [Conselho Nacional de Secretários de Administração], a reitoria e a FUNDASP. A gente decidiu que não estamos deixando de ter aula, mas estamos construindo as nossas próprias aulas aqui durante o dia”, afirmou.


O movimento foi abraçado por muitos alunos e familiares que, mesmo não podendo estar presentes na ocupação durante os dias, colaboraram com doações de refeições e em dinheiro para o comitê. Alimentos e itens essenciais de cuidado foram fornecidos para que os estudantes que passaram as noites pudessem se manter.

“A gente acordava todos os dias bem cedo e tomava café da manhã em coletivo, então a gente recebeu muita doação de alimentos”, conta Hector. Ele continua: “A galera trouxe fruta, pão, tudo que a gente precisava. A mãe de um estudante nos trouxe até um caldo de mocotó para comermos, então foi um processo bem interessante”.

De acordo com Hector, os estudantes se dividiram em comissões para cuidar dos diferentes aspectos da ocupação. “A gente se dividia em tarefas: tinha a comissão de alimentação, de limpeza e de segurança, que precisava ficar de olho o tempo todo aqui pra caso a gente tivesse algum problema nas entradas”.

Toda a função de cuidado e limpeza dos espaços da universidade ficou por conta dos próprios alunos. Os centros acadêmicos e salas utilizadas passaram por uma faxina completa, assim como todos os bloqueios de cadeiras e mesas presentes no prédio foram removidos na noite de segunda-feira (26). Nas palavras do estudante de Ciências Sociais e militante do PCBR, Pedro Bezerra, durante assembleia realizada na manhã de segunda-feira (27)  não seria justo deixar aos funcionário da universidade cuidarem do espaço utilizado ao longo da ocupação pelos próprios alunos.

Estudante e militante Athos Soares em discurso na assembleia dos três setores na manhã do último dia 26 de maio, na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, campus Monte Alegre
Athos Soares discursando em assembleia dos três setores na manhã da segunda-feira (26), na PUC-SP, campus Monte Alegre. Foto: Rafael Pessoa.

 

Em uma assembleia organizada com os três setores da PUC-SP - estudantes, funcionários (representados pela Associação de Funcionário da PUC, AFAPUC) e professores (Associação de Professores da PUC, APROPUC) -, na segunda-feira (26), foi realizada uma votação sobre a continuidade da ocupação. O comitê de greve propôs que os alunos desocupassem o campus na mesma noite ou na manhã do dia seguinte, após reunião com o padre José Rodolpho Perazzolo, diretor executivo da FUNDASP. 

Após consulta realizada nas duas sessões da assembleia (diurna e noturna), a decisão foi de manter a ocupação até o dia seguinte. Pela manhã, foi determinado que os estudantes voltassem para suas casas e o movimento de paralisação terminasse após conversa com a Fundação.

Em comum acordo entre movimento estudantil e reitoria, o fim da manifestação foi comunicado através das redes sociais das partes na noite de terça-feira, com retorno normal das atividades no campus Monte Alegre na quarta-feira (28).

 

Coletivo Da Ponte Pra Cá e centros acadêmicos divulgam repúdio a mensagens de ódio disseminadas no perfil "Spotted PUC-SP", no Instagram
por
João Curi
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11/04/2024 - 12h

Quem paga a conta? Essa parece ser a pergunta-chave que abriu portas demais no principal campus da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, em Perdizes. Desde as reivindicações por direitos a uma refeição gratuita no refeitório até o desconforto de apresentar, periodicamente, um grande volume de documentação para comprovar a baixa renda, estudantes bolsistas são alvo de posicionamentos agressivos de alguns estudantes.


Nos últimos anos, centros acadêmicos têm se preocupado mais com a condição social de estudantes contemplados por bolsas, sejam de natureza filantrópica (fomentada pela FUNDASP) ou por programas governamentais. Isso se dá pelo aumento de denúncias e reclamações desse mesmo público quanto ao tratamento recebido por outros estudantes (qualificados como “pagantes”), tanto presencialmente quanto online.


Segundo relatos, houve episódios de discriminação socioeconômica, conhecida como aporofobia, que tem confrontado a permanência de estudantes bolsistas na universidade. Embora não exista um coletivo com esta finalidade, nos últimos anos, o perfil de Instagram “Spotted PUC-SP” (@spottedpucsp) veiculou publicações que trouxeram à tona uma série de movimentos considerados elitistas, como a contestação do direito ao posicionamento de estudantes "não-pagantes" sobre decisões estruturais do campus.


A página, inclusive, já foi investigada, em setembro do ano passado, pelo jornal laboratorial da PUC-SP, o Contraponto, que trouxe à tona os ideais políticos do perfil desde seu surgimento até as recentes manifestações em favor de campanhas eleitorais de centros acadêmicos. Este ano, porém, a principal campanha defendida pela conta originalmente dedicada à paquera é a implementação de catracas no campus Perdizes.


Ainda que a discussão tenha se aquecido nas redes sociais, a pauta foi reclamada para debate entre as entidades competentes à decisão: a mantenedora FUNDASP, a Reitoria, coletivos estudantis e centros acadêmicos da PUC-SP. Mesmo assim, os esforços da página em reacender essa suposta reivindicação deram abertura, na verdade, a uma enxurrada de comentários ofensivos e caluniosos direcionados aos estudantes bolsistas.


Em consequência, entidades acadêmicas, lideradas pelo coletivo Da Ponte Pra Cá - Frente Organizada de Bolsistas, organizaram-se para apresentar materiais de denúncia e repúdio aos atos discriminatórios observados dentro e fora do campus. Na última terça-feira (9), 28 entidades acadêmicas e administrativas ligadas à universidade assinaram uma publicação conjunta de um vídeo-denúncia, acompanhado de um documento completo reunindo imagens comprobatórias e exigências à mantenedora, FUNDASP, por medidas efetivas em prol dos bolsistas.


Diante disso, o Centro Acadêmico Benevides Paixão, o Benê, trouxe a pauta à tona como uma de suas prioridades de gestão. "A situação é grave e requer cuidado e vigilância. Estamos em constante contato com o nosso corpo docente, coordenação e direção para tomarmos todas as ações possíveis", declara a entidade acadêmica, em nota exclusiva à AGEMT.


O dossiê acusa, principalmente, o Spotted PUC-SP por disseminar casos de roubo e demais ocorrências ligadas à criminalidade de forma irresponsável e suposta motivação política por detrás. De acordo com o texto, “o que fica sempre evidenciado é que aqueles que são relatados como suspeitos dessas atividades são sempre pessoas negras, reforçando novamente o estereótipo racista que permeia nossa sociedade, que associa criminalidade e violência a uma raça/cor”, aponta o documento.


Não obstante, a garantia do sigilo também deu vazão a um fluxo de informações desprovidas de checagem dos fatos ou comprovação da verdade em torno dos casos relatados, “muitas vezes de caráter aporofóbico e racista, causando, sem fundamento, um pânico generalizado na comunidade estudantil”, descreve o texto. Nessa direção, a página se tornou um dos principais hospedeiros de manifestações consideradas elitistas, segundo as denúncias coletadas.

 
Quando o alarme soa, dada a notoriedade de algumas discussões acaloradas pela dualidade de posicionamentos nos comentários, é comum que as publicações sejam removidas do perfil. Ainda assim, de acordo com os apontamentos da denúncia endossada pelo coletivo Da Ponte Pra Cá nas redes sociais, o movimento de cunho discriminatório se fez presente também em outros meios, como em grupos do aplicativo de mensagens Whatsapp.

 

''Não podemos ignorar a realidade de negligência e discriminação das demandas e das necessidades das pessoas pobres em uma universidade elitizada", declara o coletivo Da Ponte Pra Cá, em nota exclusiva à AGEMT. "A denúncia produzida e a mobilização dos estudantes bolsistas torna-se urgente e extremamente necessária diante de um cenário de descaso, como o da PUC-SP".

 

Afinal, quem paga a conta? Desde a segunda-feira, 15, até o momento de publicação desta reportagem, o perfil do Spotted PUC-SP está desativado. A AGEMT tentou contato com o administrador da conta, mas não teve retorno.

 

Nota da PUC-SP

A PUC-SP, na sua prática cotidiana, não compactua com discriminação de qualquer tipo. Essa questão figura no Estatuto e no Código de Ética da Universidade, que toda comunidade deve seguir.

A Instituição entende que qualquer pessoa que for testemunha ou alvo de um ato de discriminação deve procurar as autoridades competentes.

Afirmamos que a PUC-SP não tem nenhuma responsabilidade sobre o perfil privado e anônimo do Instagram @spottedpucsp.     

Assessoria de Comunicação Institucional (ACI)

As obras reunidas no Centro Cultural Banco do Brasil, convidam cada visitante a navegar por diferentes aspectos da produção de mais de 60 artistas negros
por
Beatriz Alencar Gregório
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15/03/2024 - 12h

O Centro Cultural do Banco do Brasil abraçou, dessa vez, o Projeto Afro: uma plataforma afro-brasileira de mapeamento e difusão de artistas negros; com a exposição “Encruzilhadas da Arte Afro-Brasileira”.

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OBRA - Paty Wolff : Divulgação: Projeto Afro


Com uma experiência imersiva, educativa e cativante, o Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) proporcionou uma visão de que “a população afro-brasileira não é só centrada na questão da escravidão (...) a gente sabe fazer arte. A arte não é só a europeia; a gente sabe desenvolver, temos vários fatores culturais”, explicou Otávio Rodrigues, visitante da exposição. A mostra é composta de mais de 60 artistas e obras que vão desde pinturas a formatos áudio visuais. “Foi uma exposição que não falava sobre nossos colonizadores e sim sobre nossos povos, de preto para preto, e mostra que a gente sabe fazer muita coisa. Me senti num lugar que realmente falava sobre a real história afro-brasileira”. Para interagir, como ocorreu com Otávio, visite o CCBB até o dia 18/03/2024. Mas, você pode conferir uma prévia que a AGEMT preparou, acessando o link:

https://www.instagram.com/reel/C4iXXhYrdLK/utm_source=ig_web_copy_link&igsh=MzRlODBiNWFlZA==

 

 

O CA de Jornalismo, Benevides Paixão, sofre três renúncias ao cargo de presidente em apenas um ano. Novas eleições serão convocadas.
por
João Curi
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14/12/2023 - 12h

Depois dos portões escancarados, siga o caminho das pedras. Contorne a Prainha, que não tem areia nem mar, e aproveite para observar as artes nas paredes. Elas te guiarão ao outro lado, de frente à quadra – estamos perto. Continue andando até as escadas, e já o verá. Não se distraia com a natureza ainda, atente-se às pedras irregulares deste trecho final, são traiçoeiras com os desavisados. Cuidado, cuidado, e... agora sim.
 

Portão de entrada do centro acadêmico Benê
Foto: Mohara Ogando Cherubin

 

Este é o Centro Acadêmico de Jornalismo Benevides Paixão. Mas pode chamar de Benê. É mais íntimo. Não repare nos rasgos do sofá, é o charme. Guarde a atenção às paredes. São nelas que estão os nomes, protestos, intervenções artísticas, lembretes, tudo que você não pode encontrar no conforto de um sofá macio. A realidade acadêmica. Interprete como poesia.

Este espaço custa a ser abandonado. Quando largam de mão, chegam outras duas para cuidar. É quase um amor de mãe, não fosse a efemeridade. No período de um ano, o Benê já teve três.

 

A primeira: Rafaela Serra

Esteve na gestão do centro acadêmico desde 2021 até o início de 2023. Como presidente, foi eleita em 2022 e deixou o cargo, por vontade própria, no começo deste ano. “Sinto que o Benê foi muito mais ativo nessa época por conta da oposição ao governo Bolsonaro”, aponta. “Todos os centros acadêmicos, de alguma forma, tinham essa demanda. E também éramos contrários a algumas políticas da FUNDASP à época”.

A ex-presidente relembra grandes colaborações do Benê em eventos de destaque na PUC nos últimos anos, como o Tribunal do Genocídio organizado pelo Coletivo Professor André Naveiro Russo, junto a docentes, funcionários e estudantes dos cursos de Jornalismo e de Direito. O julgamento simbólico foi sediado no teatro TUCA, na manhã do dia 25 de novembro de 2021, e condenou o então presidente Jair Bolsonaro aos crimes contra a humanidade, de genocídio, de epidemia, infração de medida sanitária preventiva e charlatanismo.

No ano passado, a gestão também foi ativa na campanha “Vira Voto”, em favor da campanha presidencial do então candidato Luís Inácio Lula da Silva, que esteve presente no campus durante o “Ato em defesa da democracia e do Brasil”, no dia 24 de outubro de 2022. No dia seguinte, inclusive, o teatro TUCA sediou a cerimônia da 44ª edição do Prêmio Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos, que compôs o cronograma da também 44ª Semana do Jornalismo, ministrada pelo centro acadêmico com apoio da coordenação do curso e da FAFICLA (Faculdade de Filosofia, Comunicação, Letras e Artes).

O Benê, que tem nome de gente, já não é o mesmo de anos atrás, assim como acontece entre as gentes. A mudança acompanha o tempo, e quem vem de trás mal o reconheceria agora. Quando as máscaras levantaram, custaram a cair. Com o campus vazio, o espaço dos estudantes perdeu o sentido. Mas sobreviveu.

“Não sei se foi por conta da pandemia, mas o movimento estudantil todo sofreu modificações”, observa Rafaela. “A PUC se tornou uma faculdade mais elitista no decorrer dos tempos. Vemos cursos ainda com um movimento estudantil forte, como o Direito, mas isso já não acontece no curso de Jornalismo, talvez por conta da quantidade de alunos”.

Dentre os projetos implementados pela gestão, o Benemateca não teve a adesão esperada em nenhuma de suas três edições. Com o intuito de assistir a filmes selecionados que incentivassem discussões sociais, o público presente – uma média de dez pessoas - acalorava debates mediados pelo professor Mauro Perón, que se dispôs a agregar-se à iniciativa. A falta de quórum, entretanto, desmotivou Rafaela e demais organizadores para uma quarta edição.

Este ano, no primeiro semestre, o Benê divulgou em suas redes sociais uma campanha contra o Spotted - uma conta na plataforma Instagram, mantida por estudantes anônimos da PUC-SP, com o propósito informal de mediar flertes e mensagens de paquera entre os discentes. A ex-presidente aponta que o perfil “estava disseminando mentiras, falando de assaltos ao redor da PUC com imagens falsas, de abordagens policiais, implementando medo e caos”.

 

Depois de tantas contribuições, mobilizações, e mais importante, fazer-se presente no movimento estudantil, Rafaela admite que a atividade se tornou incompatível com suas prioridades e expectativas. No começo deste ano, enquanto se preparava para elaborar o TCC, a presidente eleita decidiu abdicar do cargo para focar em concluir sua graduação. “Saí porque eram poucas pessoas para tocar a quantidade de demanda que tínhamos e não sentia muito apoio dos estudantes do próprio curso”, declara. “Vemos uma mudança no que os alunos querem abordar. Estão cansados de falar de política, e consequentemente isso irá refletir na adesão ou não do movimento estudantil”.

 

A segunda: Maria Clara Alcântara

 

Em agosto deste ano, Maria Clara também abdicou do cargo. Segundo a ex-presidente, as atividades necessárias para gerir o centro acadêmico se tornaram incompatíveis com sua nova rotina de estágio e aulas no período noturno. Apesar de sua vontade de entregar o cargo através de novas eleições, o Centro Acadêmico de Jornalismo não organizou uma nova chapa e, portanto, não convocou os processos eleitorais necessários para a sucessão democrática.

Mas isso não significa que o cargo ficou em aberto.

 

A terceira: Giovanna Freitas

Chegou este ano, como caloura. Conheceu o campus já nos primeiros dias de aula, ao contrário de sua antecessora, e entregou-se ao movimento estudantil assumindo a Tesouraria do Benê.

Com a saída do vice-presidente da gestão reorganizada, Murari Vitorino, ainda no primeiro semestre, Giovanna decidiu que assumiria o cargo para as supostas próximas eleições, previstas para agosto deste ano. “A Macla até mandou um documento falando que a gente tinha que se organizar para fazer essa votação, durante as férias, só que nunca aconteceu”, relata. “Eu achei estranho porque não sabia quando ia acontecer, não tinha ninguém se mobilizando. No final de agosto, ela [Maria Clara] mandou uma mensagem falando que não ia mais ser a presidente do Benê, e que se alguém podia se disponibilizar para ser. Como eu já tinha esse planejamento de assumir o cargo de vice, pensei: ‘Posso me encaixar nesse cargo’. Ela perguntou no grupo, e só eu respondi”.

Sem eleições – com planos frustrados desde maio -, sem presidente ou vice, Giovanna assumiu o cargo de forma automática. Sua liderança foi decidida por uma única mensagem, solitária e decisiva perante o silêncio dos demais integrantes. “Foi muito rápido esse processo”, admite. “Eu falei que queria e, no dia seguinte, eu já era presidente. Não teve processo eleitoral, não teve votação, não teve formação de chapa”.

Diante disso, a incerteza prevaleceu sobre a primeiranista, que convocou uma reunião, no começo de outubro, para tratar com urgência sobre as eleições previstas para o mesmo mês e preencher os cargos em aberto. Contudo, a única decisão acordada foi a remodelagem da gestão, que detinha caráter provisório “porque ainda pretendemos que mais gente entre”.

Relação de cargos do Benê (outubro de 2023)

Presidente: Giovanna Freitas

Vice-presidente: Melissa Joanini

Coordenadora de Eventos: Beatriz Barbosa

Coordenadora de Espaço Físico: Livia Soriano

Coordenadora de Comunicação: Laura Celis/Eduarda Basso

Relações Públicas: Romulo Santana/Artur Maciel

Tesouraria: Artur Maciel

A presidente provisória ainda relembrou um episódio que ocorreu durante o evento de recepção aos novos estudantes do segundo semestre de 2023, no dia 9 de agosto. Ao final da Aula Magna ministrada pelo jornalista e apresentador Serginho Groisman, no Tucarena, uma das integrantes do Benê se manifestou da plateia, em meio à seção dedicada às perguntas, para contestar a ausência do Centro Acadêmico de Jornalismo na organização do evento. Diante do constrangimento, os centros acadêmicos e coletivos à frente da organização – CA Leão XIII, da FEA (Faculdade de Economia, Administração, Contábeis e Atuariais); CA 22 de Agosto, do curso de Direito; coletivos Glamour e Da Ponte Pra Cá - responderam que um convite foi enviado ao Benê, mas não obtiveram resposta. Na época, a então coordenadora de redes sociais, Lais Bonfim, assumiu o erro e reconheceu a responsabilidade da gestão pela ausência contestada de forma pública pela companheira de CA.

“Meu desejo como presidente é que o Benê esteja mais engajado com os assuntos dentro da faculdade, como foi o que aconteceu no evento ‘Lembrar é resistir’, que estivemos presentes”, destaca. “A gente está passando por um processo de reestruturação, mas não vai ter diferença quanto às linhas de pensamento. Eu vi como a Macla tocou o Benê, e eu tento seguir desse jeito”.

Esta reportagem foi apurada desde outubro deste ano. Giovanna assumiu o cargo, de forma provisória, e o deixou antes de completar dois meses, por discordâncias com a nova gestão. Até o momento desta reportagem, o Benê permanece sem uma presidente definitiva.

Mas não sem cuidados.

 

Mãe é quem cuida

Lívia Soriano, diretora do espaço físico do Centro Acadêmico Benevides Paixão, estufa o peito para falar dele. Dá nome inteiro e tudo. Chegou na PUC há menos de um ano, mas tempo é detalhe. Nesse breve primeiro período, já trouxe vida para dentro do centro acadêmico – literalmente. Fez caber um aquário minúsculo numa mesinha, no canto, onde abrigou um peixe de estimação. Nomeou-o mascote do Benê, e a novidade repercutiu entre os estudantes do curso.

“Eu comecei a frequentar muito o bosque e eu notei que o espaço físico não era tão agradável assim”, confessa. “Eu e as meninas, a gente se juntou, limpou o Benê inteiro, limpou lá dentro, começou a organizar, e a gente quer mudar ainda bastante coisa”.

E o cuidado prevalecia para além das ideias soltas e da empolgação de primeiranista. Com a ajuda de mais três colaboradoras, todas do segundo semestre, botou as mãos na massa para cumprir com o projeto de revitalização do espaço, que jazia negligenciado. Chamou ajuda para a faxina do depósito, livrou-se das tralhas, abriu espaço onde não tinha e reorganizou os móveis para encaixar o divã novo. Deixou tudo nos trinques.

Lívia cuida do CA como se fosse sua casa, e não deixa de ser. Enquanto a quarta presidente não chega, pensa no pequeno de terça a terça, até mesmo nos finais de semana. Campus afora, vê as mobílias nas vitrines e planeja onde encaixaria no espaço bem-varrido. Tem a planta inteirinha decorada em sua cabeça. “A gente quer mudar o sofá porque vemos que os outros centros acadêmicos têm uma área de lazer, têm um lugar para as pessoas ficarem, e aqui a gente não tem praticamente nada, e ninguém fazia nada sobre isso”, e foi quando encarou o forro rasgado, que era impossível de ignorar. “O sofá que estamos agora também tem muitas fofocas. Falam que tem pombo aqui dentro, é difícil. É todo furado, e nunca mudaram”.

Os planos se estendem à longa data, com arrecadação de fundos para reformar o centro acadêmico revitalizado. Falta o brilho que os seus olhos enxergam e querem compartilhar com o mundo. Não basta reforçar a tinta branca nas paredes, recolher os descartes indevidos, ajeitar os móveis, deixar espaço para mais artes, isso tudo foi apenas o primeiro passo. “A gente não sabe ainda se vai chamar alguém ou coisa parecida, mas temos planos...”, estima.

O centro acadêmico continua se reorganizando. Em todos os âmbitos.

“O Benê tem passado por uma reestruturação”, declara Melissa Joanini, indicada pela gestão como a possível sucessora ao cargo de presidente. “Neste momento, a diretoria está sendo reformulada, a fim de lançar a chapa o quanto antes. Estamos organizando as ideias e projetos internos e externos, sem mais detalhes no momento”.

Até o fechamento desta reportagem, já encerrado o período letivo de 2023, o Benê não convocou novas eleições e não apresentou uma nova chapa de forma oficial.

“Provavelmente, consigo te dar um parecer mais concreto em janeiro”, continua Melissa.

Os centros acadêmicos mobilizaram um ato de paralisação do corpo estudantil, com apoio da bateria Psicolata e de professores, para reclamar os direitos de formação na Reitoria e em frente à Fundasp
por
Artur dos Santos
Giuliana Zanin
João Curi
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20/10/2023 - 12h

Na última quarta-feira, 18, estudantes e professores dos cursos de Psicologia, Fonoaudiologia, Fisioterapia e Engenharia Biomédica da PUC-SP se mobilizaram contra o bloqueio dos estágios nos equipamentos de saúde do SUS (Sistema Único de Saúde) para o próximo ano. Em nota informativa, formalizada pela Comissão Aberta sobre os Estágios no SUS, estudantes independentes lideram a reivindicação de acesso, com apoio do corpo docente - com direito a aula pública - e a presença de figuras políticas no ato. 

 

É nosso dever reivindicarmos nossos direitos de formação, que é o estágio no SUS, [...] é nosso dever garantir, através da luta política, investimentos pesados em saúde, seguridade social e um ensino popular, pensado pela e para a classe trabalhadora”, declara a Comissão Aberta, em nota.

 

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Alunos dos cursos de saúde da PUC-SP se reuniram na prainha. Foto: Giuliana Zanin

 

Enquanto ecoavam “A nossa luta é todo dia, o nosso estágio não é mercadoria”, os manifestantes estenderam faixas e cartazes em frente ao prédio da Fundasp e também ocuparam a Reitoria da universidade. 

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Os universitários protestam contra a precarização da educação e do sistema de saúde. Foto: Giuliana Zanin

O problema foi gerado a partir de um impasse entre a PUC-SP e a Secretaria Municipal da Saúde (SMS) quanto às contrapartidas oferecidas por instituições de ensino ao órgão. Apesar da entrega de R$176.162,23, a Secretaria determinou que a PUC-SP, por ser uma universidade privada,  deveria pagar R$306.000,00 em materiais e equipamentos hospitalares. A medida vai contra o que normalmente é requisitado de instituições filantrópicas, como é o caso da Pontifícia. 

 

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Estudantes se concentram em frente à Fundação São Paulo (Fundasp). Foto: Giuliana Zanin

Numa tentativa de negociação, a Universidade promoveu a ampliação dos serviços acadêmicos, incluindo disciplinas de graduação, pós-graduação e cursos de educação continuada, além de eventos e projetos educacionais. O objetivo é atender aos requisitos da Escola Municipal de Saúde/SMS, responsável pela promoção dos estágios dos cursos focados no segmento.

Segundo  o atual presidente do Centro Acadêmico de Psicologia (CAPSI), André Sanches, o bloqueio de estágios no SUS é parte de um projeto maior de precarização da saúde pública, que visa colocar o ensino em uma lógica mercantilizada. Para ele, isso “vai contra tudo que nós defendemos aqui na PUC”. O estudante também afirmou à Agemt que a mobilização estudantil no ato representa a urgência do assunto e o descontentamento com o atual ritmo das negociações por parte da Reitoria e da Fundação São Paulo, mantenedora da PUC-SP.

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Os estudantes percorreram as ruas de Perdizes com cartazes e cantos de união. Foto: Giuliana Zanin

A presença de preceptores nos estágios de psicologia também é uma problemática reivindicada pelos estudantes. No início deste ano, os estágios do curso passaram a ser obrigatoriamente acompanhados por preceptores - que atuam na supervisão das sessões realizadas por estagiários -, sob ameaça de processo aos administradores que não os incluíssem em seus turnos. Além disso, os estudantes reclamam da perda de autonomia e da interferência nos métodos utilizados no acompanhamento de pacientes na e condução de casos.

A assessoria de comunicação da PUC encaminhou a reportagem para a Direção da Faculdade de Ciências Humanas e da Saúde (FCHS) da universidade, que declarou em nota ter retomado as negociações com a Secretaria Municipal da Saúde.

"Informamos que reestabelecemos, com bom entendimento, o contato com a Prefeitura Municipal de São Paulo e Secretaria Municipal de Saúde e, ao longo da próxima semana, teremos reuniões para solucionar a questão dos estágios nos campos da SMS".

Procurada, a pasta municipal não respondeu até o fechamento desta edição. O espaço segue aberto para a SMS. 

Manifestantes se reuniram em busca de garantir direitos reprodutivos e autonomia das mulheres
por
Helena Maluf
Gabriela Jacometto
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04/10/2023 - 12h

Na última quinta-feira (28), uma multidão expressiva tomou as ruas da capital paulista em apoio à descriminalização do aborto. Organizada por grupos de ativistas e apoiadores da causa, a manifestação reuniu pessoas de diferentes idades, gêneros e origens, todas compartilhando o mesmo desejo: garantir o direito à escolha das mulheres sobre seus próprios corpos.

A marcha aconteceu no dia Internacional da luta a favor do aborto nos países latino-americanos e caribenhos, e enfatizou como o  procedimento nesses países também faz parte da desigualdade de classes. “As ricas pagam, e as pobres morrem”, diziam as manifestantes. De acordo com dados do Ministério da Saúde, cerca de 1 milhão de abortos induzidos ocorrem todos os anos no Brasil, sendo quase 500 mil procedimentos feitos de forma clandestina. A maioria das mulheres que realizam o aborto em condições precárias são negras e de baixa renda.

Essa “onda verde”, como é chamado o fenômeno de luta a favor da legalização do aborto nos países vizinhos, é responsável por pressionar os poderes políticos e judiciais pelo direito ao acesso e decisão de abortar. Outros países na América do Sul como Uruguai, Argentina, Guiana, Guiana Francesa, Colômbia e Chile já reconhecem o aborto como prática legal. Segundo as palavras de Alberto Fernández, presidente da Argentina, “a legalização do aborto salva a vida de mulheres e preserva suas capacidades reprodutivas, muitas vezes afetadas por esses abortos inseguros.”.

manifestantes
Bateria do bloco de carnaval "Ay que alivio" com bandanas personalizadas em homenagem a onda verde. Foto: Helena Maluf                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                 
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Bandeira em homenagem a onda verde escrito "Aborto legal já". Foto: Helena Maluf                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                           

Muitos especialistas que defendem a legalização no Brasil explicam que a mesma deve ser entendida como uma questão de saúde pública, e não moral ou religiosa. “As políticas públicas não podem sofrer influência das ideologias religiosas ou até mesmo morais. As mulheres precisam ter o direito de escolha, precisam ser livres para decidir”, explica Tabata, 29, do movimento Católicas Pelo Direito de Decidir. 

A concentração teve início na Avenida Paulista, um dos principais pontos da cidade, e rapidamente se espalhou por ruas adjacentes. Os participantes exibiam cartazes, bandeiras e faixas com mensagens pró-escolha, destacando a importância de garantir o acesso seguro e legal ao aborto. Muitos usavam camisetas e adereços verdes, cor que se tornou símbolo da luta pela legalização em diversos países.

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Manifestantes da rede Divam com bandeira e cartaz personalizados. Foto: Helena Maluf                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                 

Entre os manifestantes, havia uma ampla diversidade de discursos e argumentos.”Só quem morre no Brasil e no mundo são as mulheres que não podem pagar o aborto seguro. Nenhum lugar onde o abortou deixou de ser crime, aumentaram os números de aborto mas diminuiu os números das mortes. Elas vão continuar abortando, mas a diferença é que a nossa classe não vai morrer”, expôs Fabiana (52), de São José dos Campos.

Martins (16), estudante do Colégio Objetivo em São Paulo, também se mobilizou. “Como homem, reconheço a importância, a gente tem que unir como coletivo para lutar pelos ideais certos”.

A manifestação ocorreu de forma pacífica e as autoridades locais acompanharam o evento para garantir a segurança dos participantes e transeuntes. Estavam presentes até mães e pais com crianças, como no caso de Luana (42), que levou seu filho João (8), “É para eles já começarem a entender a importância de participação em manifestações políticas, a importância do feminismo, dos direitos das mulheres é importante demais” afirmou.

placa
Cartaz escrito "Juntas somos mais fortes" feito por manifestante. Foto: Helena Maluf                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                             
cartaz
Bandeira produzida por um grupo de manifestantes com os dizeres "Feministas na rua". Foto: Helena Maluf                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                

A medida que noite caiu, a multidão se dispersou, mas a mensagem da manifestação ficou clara: a busca pela igualdade de gênero e pelo direito das mulheres se decidirem sobre seus corpos permanece um tema crucial na sociedade brasileira, com esperanças de mudanças futuras na legislação em relação ao aborto.