Apontada como uma ferramenta no combate às mudanças climáticas, a nuclearização envolve questões colaterais complexas
por
Vítor Nhoatto
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30/05/2025 - 12h

O setor de energia respondeu em 2024 por 68% de toda a emissão de CO2 no mundo, segundo relatório da United Nations Environment Programme (UNEP). O gás é o principal causador do aquecimento global e precisa diminuir drasticamente nos próximos anos, apontando para a necessidade da chamada transição energética e descarbonização. Mudar a forma como se produz energia é um desafio, e a nuclearização ressurge como uma possível resposta.

A produção de energia a partir de material nuclear é antiga, e de forma simplificada funciona em algumas etapas. O combustível radioativo (urânio) tem seus átomos divididos no processo de fissão, liberando uma grande quantidade de energia que aquece a água em torno do reator e o vapor gerado acaba movimentando turbinas na usina que geram a energia. 

O que chama a atenção para a modalidade é a produção de grandes quantidades de energia com pouco material e baixa pegada de carbono em comparação aos combustíveis fósseis. De acordo com dados de 2020 da German Environment Agency levantados pela organização holandesa fundada em 1978, World Information Service on Energy (WISE), para cada Kwh gerado por usinas nucleares, cerca de 117 gramas de CO2 são emitidos. No caso do carvão e do gás natural as médias giram em torno de 950 e 440 gramas respectivamente. 

Cláudio Geraldo Schön, doutor em Ciências Naturais pela Universität de Dortmund, mestre em Engenharia Metalúrgica pela Universidade de São Paulo (USP) e professor titular na instituição destaca o potencial e a evolução nuclear com o passar dos anos. "Expandi-la poderia substituir as usinas termelétricas, diminuindo a geração de gases de efeito estufa [...] “o processo é continuamente atualizado, e resulta em avanços mesmo sendo uma tecnologia consolidada”.

Foi na extinta União Soviética que a primeira usina nuclear para uso doméstico começou a funcionar para contextualização, a Obninsk em 1954. Em seguida vieram outras, como a de Calder Hall no Reino Unido em 1956 e Shippingport nos Estados Unidos da América (EUA) em 1957. No Brasil, a usina Angra I foi a pioneira, com operações iniciadas em 1985.

Cinza e não verde

No entanto, o cinzento urânio traz um efeito não tão expressivo. Segundo a Agência Internacional de Energia (AIE), se a capacidade de produção nuclear triplicasse, a redução na emissão de CO2 do setor de energia seria cerca de apenas 6% devido principalmente à grande quantidade de carbono liberada na construção de reatores e usinas, que exigem grandes quantidades de recursos e décadas até começarem a funcionar, e para a mineração do urânio também. 

Além disso, a pegada de carbono das principais fontes renováveis de produção de energia são bem mais baixas que a nuclear. Ainda de acordo com o levantamento de 2020 da German Environment Agency, no caso da solar, cada Kwh emite algo em torno de 30 gramas de CO2, para a eólica a cifra é inferior a 10 e para a hidrelétrica de apenas 4 aproximadamente. 

Para o especialista sênior em energia nuclear e integrante da WISE International, Jan Haverkamp, a energia nuclear não é efetiva e nem tem a emergência climática como foco. “O uso do argumento climático é uma cobertura para outros interesses [...] os países com uso tradicional de energia nuclear não a desenvolveram devido às alterações climáticas, o fator inicial foi militar como EUA, China, Rússia e Brasil. Já para outros países era um sinal de importância, como no caso da Romênia, Bulgária e Coreia do Sul. Ou ainda visando a redução da dependência do petróleo como na Alemanha e Reino Unido, ou ainda uma tentativa fracassada de desenvolver uma fonte barata de energia como na Suécia e Canadá”.

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Última usina nuclear na Alemanha começou a ser demolida em 2023, mas novo governo de extrema-direita avalia reativar a base; “resumindo, para alguns é geopolítica” comenta Jan Haverkamp - Foto: Thomas Frey / DPA / Picture Alliance

Atualmente existem 437 reatores nucleares em funcionamento no mundo, que representam 14% de toda a energia gerada no mundo, de acordo com a World Nuclear Association (WNA). Os EUA ocupam a primeira posição do ranking com 96 unidades, com França, China e Rússia em seguida com 56, 55 e 37 cada, respectivamente. O país asiático tem planos inclusive de se tornar uma potência nuclear, e até 2035 ter o dobro da capacidade atual dos EUA. 

No caso do Brasil, a geração nuclear responde por apenas 2% da matriz energética, produzidos nas usinas Angra I e Angra II. Ambas fazem parte da Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto, ao lado da Angra III, ainda em obras, e o complexo começou a ser construído durante a ditadura militar no país.  

Aquilino Senra Martinez, doutor em Ciências da Engenharia Nuclear pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e ex-membro do Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia da Presidência da República explica as nuances da modalidade: “O seu uso para geração de eletricidade depende do contexto de cada país. Em lugares com alta demanda e poucos recursos renováveis, a sua expansão pode ser estratégica. No cenário das mudanças climáticas, ela não pode ser descartada, mas também não deve ser tratada como solução única".

Com dimensões continentais e clima tropical, o Brasil se destaca no cenário mundial justamente pelo seu potencial de produção energética renovável, e hoje é referência no quesito. O Balanço Energético Nacional (BEN) de 2024, feito pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE) em parceria com Ministério de Minas e Energia (MME), constatou que foi de 49% o índice de energia proveniente de fontes renováveis. 

Mesmo assim, no fim do ano passado a usina Angra I teve seu licenciamento para operação renovado por mais 20 anos pela Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), órgão do Governo Federal, e demandará investimento de R$3,2 bilhões nos próximos 3 anos. A continuação das obras de Angra III seguem em análise, mesmo com a administradora das usinas, a empresa de capital misto Eletronuclear, tendo uma dívida de R$6,3 bilhões com a Caixa e o Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES). 

As operações no terceiro reator foram paralisadas em 2015 e voltaram somente em 2022 após reajuste do orçamento, com 65% das obras concluídas. Isso demandou um investimento até então de R$7,8 bilhões, e apesar da conclusão não ter sido incluída no novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) anunciado em 2023, estima-se cerca de R$20 bilhões necessários para tal.

Para Rárisson Sampaio, porta-voz da Frente de Transição Energética do Greenpeace Brasil, essas cifras revelam como a nuclearização desvia dinheiro necessário das fontes renováveis e ameaça um desenvolvimento sustentável e acessível. “O investimento em usinas nucleares não se conecta com a realidade do país, que poderia direcionar tais recursos para outras áreas, fortalecendo políticas como o Luz para Todos, que garante acesso a fontes de energia limpa, segura e barata, combatendo a pobreza energética e alinhando-se aos ODS da Agenda 2030”, diz Sampaio. 

Criado em 2003, o programa do Governo federal tem como intuito universalizar o acesso à energia no país, especialmente em áreas afastadas e periféricas e já impactou 17,5 milhões de pessoas. Para essa nova fase, uma das frentes é justamente possibilitar a instalação de placas solares em domicílios de baixa renda. 

Jan Haverkamp, da WISE, defende como em muitos países o investimento na energia nuclear desvia efetivamente o foco e dinheiro para medidas concretas no combate às mudanças climáticas, o que não é verídico: “As fontes de energia renováveis ​​produzem atualmente mais energia do que a nuclear em todo o mundo, e essa quantidade continua aumentando. A geração nuclear está mais ou menos estável há 3 décadas. A Finlândia, por exemplo, está atrasada na implementação de energia eólica desde que decidiu construir a usina Olkiluoto 3, que sofreu um atraso significativo”.

Segurança x planejamento

De acordo com estimativas de 2024 da Agência Internacional de Energia, a demanda energética global aumentará 4% ao ano entre 2024 e 2025, cifra bem maior que os 2,5% registrados em 2023. Os principais impulsionadores serão o maior uso de ar-condicionado devido justamente às mudanças climáticas, a progressiva eletrificação da frota de veículos, imprescindível na descarbonização do setor, e pelo avanço das Inteligências Artificiais (IA). 

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Demanda por energia pelas big techs só cresce, tal qual o uso de água potável para resfriamento dos computadores, o que aponta para uma necessidade de consciência ao usar IAs e a internet -  Foto: Microsoft / Divulgação

Os data centers deverão mais que duplicar as suas necessidades de energia até 2030 segundo a AIE, ultrapassando em alguns anos a energia consumida pelo Japão. Corroborando com esses indicativos, o Ministério de Minas e Energias realizou um estudo que aponta para um aumento de 25% na necessidade de produção energética brasileira até 2034. Nesse cenário, uma questão levantada na transição energética é a segurança e expansão necessárias para a manutenção sadia da sociedade.

Carlos Schön argumenta sobre o papel da energia nuclear, portanto, e as questões em relação ao clima: “Nós produzimos muita energia, mas ainda é pouco considerando o tamanho do país [...] a energia nuclear é a principal aliada das fontes renováveis, justamente porque essas dependem de fatores extrínsecos (sol na geração fotovoltaica, vento na geração eólica) que por sua própria natureza são flutuantes”.

Uma vez extraído do solo, o urânio pode abastecer por décadas uma usina nuclear, as quais em média podem funcionar por 40 anos, com a possibilidade de extensão, como no caso de Angra I, em funcionamento desde 1985 e renovada até 2044. Tudo isso acontece também sem depender de fatores externos como o vento, que pode danificar as hélices das turbinas eólicas, as nuvens que afetam a produção solar e a variação dos reservatórios que impactam as hidrelétricas. 

Contudo, Ana Fabiola Leite Almeida, professora do Departamento de Engenharia Mecânica e Produção da Universidade Federal do Ceará (UFC) e Mestre em Química pela instituição, destaca que o problema reside no planejamento energético. Mesmo que a produção diminua, é algo manejável com vontade. “O risco não está nas renováveis em si, mas na falta de planejamento. Em cenários críticos, pode haver queda média de 20 a 40% na produção energética dependendo da região, mas com previsibilidade climática, diversificação geográfica e sistemas híbridos conseguimos mitigar esses efeitos”, explica Almeida.

Em períodos como de ondas de calor em que a demanda energética aumenta, fontes como as termelétricas passam a ter maior participação na produção de energia, e como são mais caras que as hidrelétricas, a conta de luz pressiona o bolso da população. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no acumulado de 2023 o aumento na tarifa foi de 9,52%, bem acima da inflação, de 4,62% no mesmo período. 

Relatório de 2024 do Tribunal de Contas da União (TCU) em parceria com a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e a Empresa de Pesquisa Energética aponta que a nuclearização não resolveria justamente essa questão. A energia nuclear produzida em Angra III aumentará em 2,9% a conta de luz por ano e custará à população até 77 bilhões em despesas na contratação se a obra for concluída.

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“Existe todo um investimento que pode ser perdido, mas não justifica a continuidade de Angra III. É o resultado do  mal planejamento e desalinhamento com a política energética aponta Rarisson do Greenpeace - Foto: Eletrobras / Divulgação

O mesmo estudo do TCU destaca que as despesas com a obra “parada” chegam a R$2 bilhões por ano e uma desistência definitiva custaria cerca de R$13 bilhões, menos que o montante necessário para conclusão. Países como Áustria, Portugal e Dinamarca não classificam a energia nuclear como uma fonte limpa, e Itália e mais recentemente Alemanha, desativaram seus reatores ainda em funcionamento.

No caso do Brasil em relação ao setor de energias, as renováveis se destacam em várias frentes. Segundo o “Atlas Eólico” de 2022 do governo do Espírito Santo em parceria com a Embaixada Alemã, o potencial de geração pelo vento somente no estado é de 160 GWh, quase um terço da demanda anual do país hoje.

A energia solar também é outro enorme potencial, levando em consideração que o Brasil é o país que mais recebe irradiação solar no mundo, até então desperdiçado. Em 2023 a companhia de consultoria BloombergNEF apontou que se as políticas de incentivo à modalidade permanecerem iguais, em 2050 a capacidade de geração será de 121 GW por ano. Na ocasião, o presidente da Associação Brasileira de Energia Solar (Absolar), Ronaldo Koloszuk, defendeu que isso pode acontecer ainda em 2040 com apoio e expansão do setor. 

Ana Fabiola destaca: "O Brasil tem um dos maiores potenciais renováveis do mundo, mas para isso precisamos investir em inovação, infraestrutura de rede, armazenamento e educação técnica [...] é preciso ter suporte de armazenamento, interligação entre regiões e tecnologias de resposta à demanda. As fontes renováveis podem sim suprir a demanda crescente se houver vontade política e investimento contínuo", afirma. 

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Maior parque solar do mundo fica em Minas Gerais e foi inaugurado em 2023, fazendo com que a capacidade do estado chegue a 8 GW por ano - Foto: Solatio / Divulgação

Potencial radioativo denso

Falando em demandas futuras e recursos para sanar problemas sem gerar mais, uma outra implicação da energia nuclear gira em torno dos resíduos perigosos da atividade. A World Nuclear Association aponta que o resíduo nuclear equivalente à demanda de uma pessoa por um ano é do tamanho de um tijolo. Pode não parecer tanto de início, mas o problema está na radioatividade do material. 

A meia vida do urânio 235, o tempo que o material leva para se desintegrar e deixar de ser extremamente radioativo, gira em torno de 700 milhões de anos. Durante esse tempo as substâncias líquidas e sólidas precisam ficar armazenadas e isoladas do mundo, seja em reservatórios subterrâneos, piscinas gigantes ou toneis de chumbo. Não existe hoje uma solução para esse material, e como os primeiros usos são do século passado apenas, respostas sobre o comportamento dele também não foram encontradas. 

Isso em si já acende um alerta pois relega uma questão das gerações passadas às futuras, e a possível fuga de material radioativo das usinas pode colocar em risco a segurança nacional com a produção de bombas. Mas olhando para a história mais uma vez, a situação se complica. Em 1986 ocorreu na atual Ucrânia o famigerado desastre nuclear de Chernobyl, zona até hoje inabitável. A explosão da usina contaminou uma área de milhares de quilômetros ao seu redor, causou milhares de mortes e adoeceu os que resistiram. Um caso mais recente foi em Fukushima no Japão em 2011, que apesar de menor e diferente, reforça o cuidado exigido. 

Aquilino Senra afirma que a questão é muito relevante no debate atual, mas avanços foram feitos e que não deve ser a única levada em consideração: “É essencial que seja considerado dentro de um contexto histórico e tecnológico, à luz dos avanços obtidos nas décadas subsequentes e da comparação com outras fontes de geração de energia, como as fontes fósseis, que também provocam milhares de mortes anuais em decorrência da poluição atmosférica”.

A Organização das Nações Unidas estima que por ano a poluição atmosférica mata entre 7 e 8 milhões de pessoas ao redor do mundo. Somente no ano de 2021, 8,1 milhões de pessoas morreram, além do fator contribuir decisivamente para o desenvolvimento de câncer de pulmão e doenças respiratórias. 

Fazendas de turbinas eólicas, sítios de placas solares e usinas hidrelétricas também estão sujeitas a acidentes e impactam o meio ambiente, mas em um grau muito menor. Além dos grandes desastres, existe a possibilidade de vazamento de material radioativo. No Brasil, por exemplo, a Comissão Nacional de Energia Nuclear constatou um caso em 2022 na unidade de Angra I, no qual a água contaminada chegou ao mar. Na ocasião, a Eletronuclear foi multada em mais de R$2 milhões de reais pelo órgão

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ONG fez protestos em frente a usina de Angra I e relembrou o desejo ilegal de milhões de litros de água contaminada pela usina em 1986 - Foto: Greenpeace Brasil / Divulgação

Rárisson do Greenpeace destaca: “a energia nuclear não tem lugar em um futuro seguro, limpo e sustentável. A energia nuclear é cara e perigosa. Apesar de oferecer energia não intermitente, há outras soluções no país que podem ser mais eficientes, seguras e baratas [...] só porque a poluição nuclear é invisível não significa que seja limpa, nessa conta toda, a energia nuclear é inexpressiva”.

Mesmo assim, nos últimos anos empresas e nomes do vale do silício floresceram no cenário da nuclearização em defesa dos chamados Small Modular Reactors (SMR), em tradução livre, pequenos reatores modulares. Segundo a Agência Internacional de Energia, as unidades menores podem ser uma solução para a demanda crescente por energia dos data centers, e por serem menores, construídos em uma fábrica e depois enviados ao local de destino, podem baratear os custos.

Com um tempo de construção diminuído para cerca de 5 anos em comparação aos reatores convencionais e cinco vezes menores em tamanho, o primeiro SMR instalado no mundo data de 2023 na China, o Linglong One. A capacidade do reator será de 1 GW quando entrar em operação regular segundo a Corporação Nacional de Energia Nuclear da China. Mesmo assim, de acordo um estudo independente da Universidade de Stanford que avaliou os dados preliminares da empresa norte-americana NuScale Power, mais lixo radiativo é gerado e há maior dispersão de energia no interior dos SMRs.

Os principais projetos na área ainda vão levar tempo também, com expectativa de começarem a operar em meados da próxima década apenas, como o da britânica Rolls Royce. Ainda existe a startup de Bill Gates, Terra Power, com expectativa que o seu reator em Wyoming, o estado menos populoso do país, entre em operação no começo de 2030. No entanto, nessa data as emissões de CO2 na atmosfera já deverão ter caído 42% para que o aquecimento fique em 1,5 graus celsius de acordo com o relatório de 2024 da United Nations Environment Programme.

 “Não é surpresa que tecno-oligarcas como Gates, Musk, Zuckerberg e Bezos sejam especialmente atraídos pelas ideias por trás de pequenos reatores nucleares modulares. Mas eles não percebem que essas tecnologias são fundamentalmente diferentes da internet ou mesmo das estruturas de energia renovável, incluindo armazenamento, com custos mais elevados em comparação com sistemas totalmente renováveis, tempos de desenvolvimento muito mais longos e sérios riscos”, alerta Jan Haverkamp da WISE International.

Questões climáticas serão discutidas em meio a Amazônia
por
Cecília Schwengber Leite
Helena de Paula Barra
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09/05/2025 - 12h

Entre os dias 10 e 21 de novembro, Belém (PA) hospedará a 30° Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP-30). Durante o evento, a capital paraense receberá líderes mundiais, cientistas, organizações não governamentais e representantes da sociedade civil com o objetivo de discutir ações para enfrentar a emergência climática global. Os principais temas a serem debatidos são a redução de emissões de gases de efeito estufa; adaptação às mudanças climáticas; financiamento climático para países em desenvolvimento; tecnologias de energia renovável e soluções de baixo carbono; preservação de florestas e biodiversidade; justiça climática e os impactos sociais das mudanças climáticas.

Capital paraense se prepara para receber mais de 40 mil visitantes durante os principais dias da Conferência. Foto: Marcelo Souza / Agência Pará
Capital paraense se prepara para receber mais de 40 mil visitantes durante os principais dias da Conferência. Foto: Marcelo Souza / Agência Pará

Em entrevista à AGEMT, Sérgio Haddad, economista, pedagogo e mestre e doutor em História e Sociologia da Educação pela Universidade de São Paulo (USP); e Janaina Uemura, formada em relações internacionais pela Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), e em filosofia pela Universidade de São Paulo (USP) levantam as principais questões envolvendo a simbologia da COP-30 ter Belém como sede e o papel dos governos e sociedade civil em eventos como esse, principalmente com relação aos seus desdobramentos. Para ouvir a matéria completa, acesse o link:

 

Como anda o suporte aos afetados e a responsabilização pela tragédia?
por
Leticia Falaschi
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07/05/2025 - 12h

Em 5 de novembro de 2015, a barragem de rejeitos do Fundão, localizada no distrito Bento Rodrigues, na cidade de Mariana, rompeu. Naquele dia, aproximadamente 40 milhões de metros cúbicos de lama infectada da mineração desabaram sobre Bento Rodrigues e o Rio Doce. Desde dentão, a lama assombra os sobreviventes da tragédia e deixa rastros quase que irreversíveis, sobre o rio afetado e as cidades pelas quais ele passava. Sustento, acesso a água limpa, e modo vida: fatores para sempre abalados para os habitantes de Mariana. A cidade carrega, por 9 anos, severas mudanças ambientais e desequilíbrio do ecossistema local. 

Quase uma década depois do desastre, a Samarco e suas acionistas, a anglo- australiana BHP Billiton e Vale, empresas responsáveis pela mineração e pela barragem que se rompeu, seguem tentando articular uma defesa que não as categorize como como réus. Em novembro de 2024, nove anos após o ocorrido, a Justiça Brasileira absolveu todos os denunciados pelo Ministério Público Federal, segundo a alegação de que as evidências expostas, até então não, permitiam atribuir configuração de crime aos acusados.  

Enquanto isso, o escritório de advocacia de Londres, Pogust Goodhead, processa a BHP na justiça inglesa. A ação se move em defesa de certa de 620 mil afetados pela tragédia e reivindica 260 bilhões de reais de indenização às vítimas e as cidades impactadas. A primeira fase do julgamento acabou em 13 de março, e a corte decidirá se a BHP é responsável até os dias 2 e 3 de março. Durante a primeira etapa do julgamento inglês, foram apresentadas provas de que a barragem já dava sinais de problemas na drenagem e no armazenamento muito antes do colapso de funcionamento.

Relatórios que denunciaram a existência de uma fissura na barragem notada ainda em 2014 pela Samarco, entre outros indicativos prévios de esgotamento do sistema. A defesa da BHP nega as acusações disse que os conselheiros da Samarco não foram notificados, e que os engenheiros especialistas contratados os asseguraram a estabilidade de barragem. A expectativa, dado os caminhos tomados pelo julgamento, é que a empresa seja responsabilizada.

Caso isso aconteça, as definições dos valores de indenizações pode ser um processo longo, podendo perdurar até 2026. Frente a isso, segundo a legislação inglesa, a defesa das vítimas tem direito ao adiantamento parcial da indenização quando o julgamento tende a ir a favor, uma tentativa de mitigar possíveis atrasos.  Em contraste, a justiça brasileira, no acordo firmado ano passado, pede R$ 170 bilhões para as empresas, dos quais 38 bilhões já foram gastos em ações de compensação. Em comparação ao processo internacional, o Brasil se mostrou mais passivo diante das operações de das operações das grandes empresas estrangeiras afetando a vida dos brasileiros. Uma das maiores tragédias ambientais do Brasil tende a ter maior suporte vindo de fora. Entenda o caso com a repórter Leticia Falaschi. 

Novo leilão de campos de exploração indica lentidão da transição energética
por
Anna Cândida Xavier
Camila Bucoff
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05/05/2025 - 12h

Sob pressão do Governo Federal, técnicos do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) negaram licença à exploração da Petrobras na Margem Equatorial. O pedido já havia sido negado em 2023, mas com o avanço das negociações, voltou à tona a exigência de estudos estratégicos sobre o impacto às comunidades indígenas e tempo de resposta e atendimento à fauna atingida por óleo. Em entrevista à AGEMT, a cientista política e professora da Universidade Federal do Espírito Santo e coordenadora do LAPAGE (Laboratório de Pesquisa em Política Ambiental e Justiça), Cristiana Losekann, explica como está a questão ambiental na região. 

Venha entender mais sobre o assunto no podcast!

 

 

Culpa, medo e urgência influenciam comportamento de uma geração que teme não ter tempo
por
Luane França
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03/05/2025 - 12h

“Vocês estão falhando conosco. Mas os jovens já começaram a entender sua traição. Os olhos de uma geração futura inteira estão sobre vocês. E, se vocês escolherem fracassar, eu lhes digo: nós jamais perdoaremos [...] O mundo está despertando. E a mudança está chegando, quer vocês queiram ou não", diz Greta Thunberg, ativista e ambientalista sueca, que, com apenas 16 anos, atravessou o silêncio em um discurso na Cúpula de Ação Climática da Organização das Nações Unidas (ONU), em setembro de 2019. Na ocasião, ela convocou os líderes mundiais à responsabilidade diante da crise climática.

No ano seguinte a esse pronunciamento, a humanidade enfrentaria um desafio global: a pandemia de Covid-19. Embora a origem da pandemia envolva muitos fatores, não dá para ignorar o papel da crise climática nesse contexto. O desmatamento crescente e a destruição dos habitats naturais têm aproximado seres humanos de animais silvestres como nunca antes, o que acaba facilitando o surgimento e a propagação de doenças que antes ficavam restritas à natureza. 

Até 12 de março de 2025, a Organização Mundial da Saúde (OMS) registrou oficialmente mais de 7 milhões de mortes confirmadas por Covid, embora o número real de vítimas seja possivelmente ainda maior, considerando subnotificações e mortes indiretas decorrentes das repercussões da pandemia. Hoje, quase seis anos após o discurso de Thunberg, a crise climática continua crítica e novas formas de se comportar começaram a emergir. Entre elas, a ecoansiedade se destaca como um reflexo emocional desse cenário. Mas até que ponto essa sensação está moldando a maneira como as pessoas lidam com o tempo, tomam decisões e buscam viver o presente?

Significado e a transformação do presente

De acordo com a Associação Americana de Psicologia (APA), a ecoansiedade é caracterizada como um medo crônico da catástrofe ambiental, conceito que também foi integrado ao Dicionário Oxford. Embora seja um conceito relativamente recente, ela revela uma inquietação crescente diante da incerteza em relação ao futuro, tanto pessoal quanto coletivo. Marcado pelos efeitos aparentemente irreversíveis das mudanças climáticas, o fenômeno tem ganhado visibilidade na mídia e, sobretudo, entre os jovens, que sentem com particular intensidade o peso do que ainda está por vir. Matheus Arantes, estudante do 5º semestre de odontologia na Universidade Cidade de São Paulo (Unicid), relata que, por um período, foi tomado por uma sensação constante de desespero. O gatilho veio em 2019, ano em que o número de queimadas na Amazônia aumentou 30% em relação a 2018, segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Foram 89.178 focos de incêndio registrados no bioma.

“Me lembro de não conseguir parar de pensar naquilo e de me sentir sufocado por não poder fazer nada para ajudar [...] Ficava o tempo todo focado nos desastres ambientais, como se, pela primeira vez, eu tivesse realmente percebido que o mundo estava acabando. Isso me deixava exausto, como se eu estivesse carregando um peso que não conseguia controlar [...] Hoje, acordo sabendo que tudo ainda está acontecendo, mas a sensação de impotência só aumentou”, desabafa Arantes.

O relato do estudante é um entre tantos que revelam como a crise climática deixou de ser uma projeção distante para se tornar uma presença constante na vida de quem está crescendo em meio a ela. A ansiedade provocada pelas mudanças no planeta não se limita mais a sentimentos de medo ou angústia , ela já começa a interferir em escolhas práticas, inclusive nas que envolvem o futuro da vida humana, como a decisão de ter filhos. Uma pesquisa internacional, realizada entre maio e junho de 2021, conduzida por pesquisadores de diversas instituições, incluindo o Centro de Inovação em Saúde Global da Faculdade de Medicina da Universidade de Stanford e a Universidade de Helsinque, e financiada pela plataforma Avaaz, entrevistou 10 mil jovens entre 16 e 25 anos em dez países.

No Brasil, 48% dos entrevistados afirmaram que a crise climática os faz hesitar quanto à possibilidade de ter filhos, o maior percentual entre os países analisados. A média global foi de 39%. O estudo também revelou que 55% dos jovens acreditam que terão menos oportunidades do que seus pais tiveram. Essa percepção revela algo mais profundo do que apenas pessimismo: trata-se de uma dificuldade real de se projetar no tempo.

A crise ambiental, juntamente com outras demandas sociais e econômicas, cria uma sensação de compressão do tempo. O futuro se torna uma ameaça, não mais algo a ser conquistado, mas uma ideia difícil de visualizar. O impacto disso se reflete nas escolhas de vida, como o adiamento do desejo de ter filhos ou a falta de planos a longo prazo. A crítica aqui não está dirigida aos indivíduos, mas ao contexto que os leva a esse tipo de decisão.

Essa mudança de perspectiva representa uma interrupção na continuidade dos projetos de vida. O luto não é apenas pelo planeta, mas pela própria ideia de futuro. O problema está na dificuldade de muitos jovens em se imaginar em um cenário concreto. Ana Lizete Farias, psicanalista e doutora em Meio Ambiente pela UFPR, dedica seus estudos a compreender o sofrimento psíquico sob a ótica socioambiental. Em sua análise, ela observa: "Os discursos hegemônicos hoje ainda estão muito centrados em uma questão urbana e de classe média, o que acaba silenciando as vivências das classes mais baixas, transformando os sofrimentos dessas populações em algo abstrato. Não estamos convivendo com essa realidade de forma direta. Não se pode viver uma romantização dos desastres ambientais", ressalta Farias. 

A ecoansiedade já faz parte da vida de quem habita regiões mais expostas aos efeitos diretos da crise climática. Para trabalhadores rurais, populações de baixa renda, indígenas e pessoas negras, os desastres ambientais não são uma previsão futura, mas uma experiência contínua. Nesse cenário, a fauna também sofre com os impactos da destruição dos habitats naturais, o que agrava ainda mais o sofrimento dessas comunidades que dependem diretamente dos ecossistemas.

A emergência climática também pressiona o sistema de saúde e acentua desigualdades já existentes. Nesses contextos, a ecoansiedade não vem apenas do medo do que pode acontecer, mas da convivência diária com um cenário que há tempos se deteriora. "Precisamos ouvir diretamente, sem a mediação de um discurso positivista. A ecoansiedade precisa ser compreendida e recolocada dentro das questões de justiça ambiental".

 

Dois homens plantam juntos em um vaso na Avenida Paulista
Dois homens plantam juntos em um vaso na Avenida Paulista - Foto: Luane França

 

Ninguém muda o mundo sozinho

Ana também chama atenção para os riscos de naturalizar a ecoansiedade.. Encará-la como um simples efeito colateral da modernidade, algo ao qual deve se adaptar, é perigoso. Além disso, é preciso atenção aos discursos catastrofistas. Muitas vezes, eles se expressam por meio de uma linguagem técnica que culpabiliza ou de uma retórica apocalíptica que, em vez de mobilizar, paralisa. Ninguém age movido apenas pelo terror, esse tipo de narrativa tende a gerar desamparo, afastando as pessoas em vez de envolvê-las. Em alguns casos, a linguagem utilizada não responsabiliza quem realmente deveria ser responsabilizado. Ela falha em atingir os setores que têm maior impacto ambiental e, ao mesmo tempo, impede que as pessoas se sintam parte do problema e parte da solução. Diante do excesso de informação, muitas pessoas acabam se sentindo sobrecarregadas e incapazes de transformar esse conhecimento em ação.

A questão não é fazer com que cada indivíduo “faça mais” sozinho, mas sim incentivar ações coletivas, que envolvam empatia, solidariedade e responsabilidade compartilhada. Precisa-se questionar as estruturas, como a indústria e os sistemas de produção e entender que é possível pressioná-las. A transformação não é individual: ela depende de laços e de pertencimento. Mais do que um bombardeio de dados, Farias destaca a importância de boas informações e de narrativas coletivas que reconectem as pessoas — formas de construir pertencimento e estar juntos, mesmo em meio ao caos.

 

 

Nova vegetação é alternativa para a desertificação causada pelo desmatamento no local
por
Ana Julia Bertolaccini
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30/10/2023 - 12h

O reflorestamento feito por um dos vizinhos da Avenida Paulo Azzini em Mairinque (cidade do interior de São Paulo) é exemplo bem sucedido de uma alternativa para reverter a desertificação causada pelo desmatamento. Neste local, a duplicação da via e a retirada dos eucaliptos para venda causaram a degradação da vegetação local. O desmatamento e a perda de solo fértil e produtivo intensificam os efeitos da crise climática que o planeta enfrenta, recentemente classificada como fase de “ebulição global” pelo secretário-geral da ONU (União das Nações Unidas), pois a redução do número de árvores é uma das causas do efeito estufa. Iniciativas de reflorestamento como essa servem de inspiração para a construção de uma consciência ambiental, necessária para a desaceleração de um dos maiores problemas ambientais da atualidade.

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Espécie de planta com textura aveludada, encontrada na Avenida Paulo Azzini// Autor: Ana Julia Bertolaccini
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Espécie plantada recentemente// Autor: Ana Julia Bertolaccini
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Folhas de pé de manga//Autor:Ana Julia Bertolaccini
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Espécie de planta com folha grande e brilhosa// Autor: Ana Julia Bertolaccini
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Espécie de planta popularmente conhecida como Espada-de-São-Jorge// Autor: Ana Julia Bertolaccini
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 Avenida Paulo Azzini, Mairinque- SP// autor: Ana Julia Bertolaccini

 

Investimento milionário da Alemanha gera visibilidade e possibilita o pioneirismo brasileiro na mitigação dos gases de efeito estufa
por
Malu Araujo
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10/10/2023 - 12h

Na última semana de setembro, dia 28, foi inaugurado o primeiro Centro de Hidrogênio Verde do Brasil, na Universidade Federal de Itajubá (UNIFEI), em Minas Gerais. 

As expectativas são de que o novo centro ajude na pesquisa do uso de hidrogênio verde como uma energia limpa alternativa para reduzir a poluição.

Combustível do futuro: Centro de Hidrogênio Verde é inaugurado em Itajubá, MG — Foto: Divulgação / GIZ
Combustível do futuro: Centro de Hidrogênio Verde é inaugurado em Itajubá, MG — Foto: Divulgação / GIZ

O investimento de quase R$ 25 milhões do governo alemão no projeto promove a análise do uso de hidrogênio em processos industriais, na produção de energia elétrica e como uma fonte alternativa sustentável para a mobilidade urbana. O Centro de Hidrogênio Verde (CH2V) será gerado exclusivamente por energia renovável (painéis fotovoltaicos) e abrigará laboratórios destinados a diferentes frentes de pesquisa focadas no uso do hidrogênio para reduzir a emissão de carbono.

Além disso, a CH2V também contará com a inserção de disciplinas ligadas à UNIFEI com foco no hidrogênio verde, com o objetivo de promover mais conhecimento, troca de experiências e qualificação profissional na área.

O professor de Engenharia Elétrica e de Controle e Automação da UNIFEI, Rondineli Rodrigues, contou que com o CH2V espera-se não apenas o fomento da pesquisa, mas também novas áreas de estudo.

O docente explica que as pesquisas não se restringem aos laboratórios do centro. Na verdade, o objetivo é ampliar o ensino para alunos da graduação, inicialmente em EAD, contemplando também outros cursos e níveis de formação, com os cursos de pós-graduação e especialização. 

Para além desse leque que se abre, Rodrigues também acredita que o Brasil possa se tornar um dos “grandes players mundiais em relação à produção de hidrogênio verde e, consequentemente, no desenvolvimento da tecnologia no país”, destaca.

Repercussão local e expectativas dos estudantes

Apesar do orgulho em relação ao pioneirismo da universidade, a estudante de Engenharia Ambiental da IUNIFEI, Bárbara Novaes, comenta que o evento de inauguração “poderia ter tido um pouco mais de repercussão local”.

Na visão de Bárbara, o tema ainda se encontra fechado na “bolha da universidade”, já que a informação permanece no “boca a boca”. Para ela, “seria interessante democratizar mais essa informação e fazê-la chegar em todo mundo”, tendo em vista a relevância do assunto em escala nacional.

Como estudante, Bárbara compartilha, com orgulho, a expectativa de que seja possível obter mais oportunidades de pesquisa e parcerias com universidades nacionais e internacionais a partir dessa visibilidade.

Rodrigues, por sua vez, acrescenta que a UNIFEI poderá ser pioneira no desenvolvimento energético sustentável a partir do CH2V. O projeto ajudará na produção do hidrogênio e em seu uso cotidiano, impactando âmbitos como a mobilidade urbana e as grandes indústrias nacionais.

Com a urgência do aquecimento global e a busca por soluções aos efeitos da crise climática, o hidrogênio verde (H2V) pode entrar no mercado como uma peça-chave na descarbonização da indústria. 

Não à toa, ele vem sendo chamado de combustível do futuro.

Mas, afinal, o que é o Hidrogênio Verde?

O hidrogênio verde apresenta vantagens significativas para a economia global e para o meio ambiente, tais como:

  • Uma fonte totalmente sustentável, que não emite gases poluentes durante sua produção ou combustão;

  • Capacidade de armazenamento que possibilita o uso em diversos setores;

  • Sua versatilidade permite  a conversão em eletricidade ou em combustíveis sintéticos, atendendo a demandas comerciais, industriais e de mobilidade.

No Brasil, esse projeto encontra um terreno fértil para prosperar, isso porque, segundo um estudo da Enerdata, o País se encontra em segundo lugar no ranking mundial de produção de energia renovável, com 89,2%, atrás apenas da Noruega, que lidera com 98,5%.

Parceria com a Alemanha e o futuro do Brasil

Atualmente, a Alemanha é um dos países que mais tem investido na produção de H2V, segundo o Portal Hidrogênio Verde, sendo acompanhada por Austrália, Países Baixos, China, Arábia Saudita e Chile.

A aliança Brasil-Alemanha existe desde 2020, com o objetivo de promover oportunidades de negócios entre empresas e instituições brasileiras e alemãs.

Fato é que a vantagem competitiva no setor, alinhada a investimentos de pesquisa, posiciona o País em um ponto estratégico para o cumprimento dos planos de descarbonização e mitigação dos efeitos climáticos no planeta. Conforme retificado no Acordo de Paris, em 2016, a meta brasileira propõe reduzir as emissões de gases de efeito estufa (GEEs) em 37%, comparado aos níveis de 2005, até 2025.

Em paralelo a isso, o professor Rondineli conclui que o Centro de Hidrogênio Verde vem como uma oportunidade para que o Brasil ganhe notoriedade no assunto, tornando-se mais forte no setor e entrando efetivamente no debate ambiental "como um grande protagonista”, finaliza.

Ainda não tão populares, automóveis elétricos vieram para revolucionar o mercado
por
Pedro Amancio Camargo Netto
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03/10/2023 - 12h

O senso comum é de que os carros elétricos não poluem o meio ambiente, mas a produção e descarte de baterias é um dos fatores de maior impacto ambiental na atualidade.

A Porsche é uma marca de automóveis alemã que foi fundada em 25 de abril de 1931, tem modelos de carros a combustão, como por exemplo: 911 GT3RS e carros elétricos, como por exemplo: Taycan TurboS

Carro com montanha ao fundo

Descrição gerada automaticamente

Porsche 911GT3RS                                                                                         Foto: NetCarShow/Reprodução

 

Segundo o Inmetro, o modelo da Porsche 911 GT3RS emite pelo escapamento 43 mg/km de gases orgânicos não metano e de óxidos de nitrogênio (NMOG, NOx), 78 mg/km de monóxido carbônico (CO) e 3 mg/km de aldeídos (CHO), segundo o programa brasileiro de etiquetagem veicular (PBEV), o modelo em questão emite 231 g/km de dióxido de carbono (CO2), usando como combustível a gasolina.

 

Interface gráfica do usuário, Texto, Aplicativo

Descrição gerada automaticamente

Foto: Nota verde/PBEV

    

Segundo a nota verde, que é uma classificação de quanto às Emissões de Poluentes relativas aos limites vigentes do Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores - PROCONVE - Fase L7, existe uma classificação que vai da nota A até a nota E, sendo a nota “A” os menores níveis de emissão de poluentes, a nota “E” os maiores níveis de emissão de poluentes os, o modelo Porsche 911 GT3RS tem a nota “B”.

Segundo Boris Feldman, jornalista automotivo, engenheiro elétrico e escritor do AutoPapo da UOL “A poluição do carro elétrico é bem mais simples, rápida e barata pois dispensa montar vários componentes (caixa, escapamento, alternador, filtros, etc) e o do motor elétrico muito mais leve e menor que o motor a combustão”.

 

 

Carro prateado estacionado

Descrição gerada automaticamente

Porsche Taycan GTS / Foto: NetCarShow/Reprodução

 

O modelo também da Porsche Taycan TurboS, segundo o inmetro emite 0 mg/km de gases orgânicos não metano e de óxidos de nitrogênio (NMOG, NOx), 0 mg/km de monóxido carbônico (CO) e 0 mg/km de aldeídos (CHO). Referente nota verde o modelo Taycan TurboS tem a nota “A”, para o inmetro o modelo Taycan TurboS não emite de dióxido de carbono (CO2).

 

 

Porsche baterias Taycan

Porsche baterias Taycan / Foto: Divulgação/Porsche

 

   

Para Feldman, uma das coisas que podem ser feitas para a diminuição da poluição é "substituir o combustível fóssil nos carros a combustão". Para os elétricos a substituição tem que ser nas baterias. Para combustíveis mais sustentáveis e baterias menos poluentes.

O Brasil é um país continental, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas) o tamanho do território é de 8.510.417,771 km² ,segundo o ministério dos transportes o brasil tem 75,8 mil km, dos quais 65,4 mil km correspondem a rodovias pavimentadas e 10,4 mil km são de rodovias não pavimentadas, segundo o escritor do AutoPapo Boris Feldman esse é um dos problemas para aumentar a popularidade dos carros elétricos no país “dimensões continentais que dificultam instalar pontos de recarga.”

 

Carro parado na rua

Descrição gerada automaticamente

CAOA Chery iCar / Foto: Divulgação

 

Segunda a MEDIDA PROVISÓRIA Nº 1.172, DE 1º DE MAIO DE 2023 o salário mínimo é de R$ 1.320,00 (mil trezentos e vinte reais) e o preço de um carro elétrico mais em conta, segundo o AutoPapo é Caoa Chery iCar, com preço de R$ 119.990. Para o Feldman o Brasil somente terá mais carros elétricos circulando quando os preços diminuírem “quando eles baixarem de preço e aumentarem o alcance.”

A moda por uma perspectiva sustentável e circular
por
Thainara Sabrine
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03/10/2023 - 12h


A indústria da moda está entre as que mais poluem no mundo, a revista Modefica (em 2021) estimou que um caminhão de lixo têxtil é desperdiçado por segundo nos aterros, e cerca de 70% à 80% das roupas que podem ser fabricadas tem potencial para acabar no lixo ou acumuladas em espaços sem terem sido utilizadas. A tendência é que os dados se multipliquem cada vez mais com o crescimento das chamadas "fast fashion" e o consumismo exacerbado de roupas.

 

mulher branca vestindo um vestido verde, curto de mangas longas. Deitada em uma pilha de tecidos
 Foto: Stella McCartney/Reprodução

A moda é sazonal, acompanha estações e acontecimentos que possam representar algum marco, a rapidez com que isso acontece está cada vez mais aparente, e as consequências dessa velocidade estão na demanda ambiental necessária para a fabricação e o descarte irresponsável. Manuela Troccoli, estudante de jornalismo e pesquisadora de história da moda pontua “A indústria da moda é a 2º mais poluente do mundo ficando atrás apenas da indústria do petróleo, sem contar que é uma das que mais demandam o uso de água e matérias primas ambientais para a produção das peças.”.  Em contraponto a isso, Manuela se demonstra positiva quanto a consciência também crescente sobre o uso responsável e uma moda que possa representar mudanças significativas no consumo “Saiu um entrevista recente nos EUA que 14% dos americanos estavam mais interessados em consumir moda sustentável, peças que tenham menos impacto ambiental, o que engloba todo ecofashion, então acho que talvez estejamos caminhando para um futuro melhor.” comenta.

Vestindo Lixo: O reuso como alternativa

Para pensar em prática de contraponto ao consumismo podemos considerar o movimento upcycling, que é a ideia de reutilizar de forma criativa, fazer o reaproveitamento de peças que geralmente seriam destinadas ao lixo ou que por ventura fiquem paradas sem aproveitamento, nesse movimento essa peça pode retornar a circular.

O movimento está em constante crescente dentro e fora das passarelas, e já existem movimentos que representam essa progressão, o projeto “Transmutação têxtil e o Reaproveitamento de Peças” que acontece no Centro Cultural Santo Amaro sugere uma oficina de moda que  apresenta técnicas de costura para desenvolver peças a partir do reuso de materiais têxteis já existentes, visa promover a conscientização sobre o descarte de roupas, tornando a moda circular uma alternativa possível para o cotidiano.

Dandara Marya, arte educadora, produtora de moda visual e idealizadora da oficina traz a perspectiva de  “Movimentar a transmutação têxtil, um laboratório que propõe através de técnicas de costura estimular as pessoas a promoverem uma consciência de que esse consumo também é um mecanismo de construção de estereótipos. A conversação da moda inclusiva e consumo consciente em espaços culturais, colaborativos, ONGs e residências artísticas, nos dá a ideia de uma forma de reuso e menos descarte. Isso é essencial para conscientizar e para ampliar essa discussão em territórios sem tais recursos de conhecimento. A proximidade a esse debate é um passo muito grande para que possamos discutir sobre como a moda nos define.”

O desfile  “Corpa Criativa” desenvolvido  por Sollar é resultado da elaboração das peças feitas por alunes durante a oficina ministrada por Dandara e figurinos do acervo pessoal de 'Corpa Sollar' que também foram elaboradas a partir da técnica de reuso. “O desfile fala muito sobre identidade, para a moda além desse consumo, é sobre fazer a moda que realmente veste o nosso corpo.” comenta Sollar. 

 

colagem de fotos representando um pouco do desfile e peças elaboradas na oficina.
fotos do desfile "Corpa Criativa" com roupas elaboradas na oficina transmutação textil e do acervo de "Corpa Sollar" -  Fotos por Ludmila Bernardi (@ludmilabernardi) 

 

Mayara Nogueira, estuda e experiência a moda,  é adepta ao movimento da moda sustentável, compartilha que o motivo para se vestir de maneira sustentável está diretamente ligado ao fato de se preocupar com a geração de lixo e os efeitos no meio ambiente, diz não encontrar desafios para aplicar a moda sustentável em seu cotidiano “O bazar é muito acessível, se você não gostar da peça dá pra arrumar, cortar e costurar de outra forma, então acho que não tem nenhum desafio” comenta. Nogueira, ainda complementa dizendo que o existe um caminho comum para a moda sustentável e que está principalmente em repensar nosso consumo “Repensar o que a gente compra, o quanto a gente compra, onde  a gente compra, e usar a criatividade, pegar uma peça que já existe e usar de outra forma, com uma peça a gente tem muitas possibilidades, assim a gente ressignifica a moda e nosso dia a dia”. 

 

Mayara Nogueira posando em ensaio de fotos
Mayara em editorial reprodução instagram @ollhodetiggre Foto Por Ludmila Bernardi

 

A moda é cíclica e diversa, é a expressão da identidade e pode representar muito mais do que o simples ato de vestir-se, escolher moda sustentável é tornar-se um ato político diante uma crise ambiental. 

O rompimento com o sistema colonialista expõe a dura realidade ambiental que sustenta os belos aquecedores franceses
por
Pedro Bairon Sant' Anna Perez
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03/10/2023 - 12h

O Níger, (país que se localiza na África Saariana) passou por um golpe de estado. O presidente Mohamed Bazoum foi deposto pelo próprio exército nacional, que com sua queda instituiu Abdourahmane Tiani como novo líder da Nação.

            O antigo presidente Mohamed Bazoum era um forte aliado do ocidente na luta contra os grupos extremistas islâmicos, e em muitos negócios envolvendo exportação de matéria prima, como por exemplo o urânio. O Níger é o quarto maior produtor de urânio do mundo, e o maior do continente africano, sendo assim nos últimos anos o país formou sua economia com base em exportação deste produto, principalmente para sua ex-colonizadora, a França.

            No entanto, a recente troca de regime foi vista com maus olhos pela parte ocidental da comunidade internacional, tendo em vista a aproximação de países como China e Rússia do continente africano. O receio ocidental se concretizou, pois, o regime vigente demonstrou uma forte aproximação com Rússia e China, e com esse novo laço criado, algumas coisas mudaram nas políticas de importação e exportação do Níger.

            O país decidiu que não iria mais exportar urânio para a França, que por não ser autossuficiente no quesito da matéria prima, precisa do urânio nigerense para se aquecer durante o rigoroso inverno francês, como disse o bacharel em Geografia Tiago Fuoco: “A França talvez seja o país mais dependente do urânio do Níger, e essa dependência é um grande problema para Paris, principalmente com o inverno chegando na Europa”. O Níger tomou essa medida drástica por conta dos interesses em fortalecer sua indústria, mas também como uma resposta às sanções francesas impostas à Rússia por conta da recente guerra contra à Ucrânia.

            Agora que os aquecedores franceses estão em jogo, muitos olham para essa situação através de uma óptica diplomática. Porém a maneira em que o urânio é extraído no Níger engloba problemas extremamente complexos, talvez até mais que o jogo de xadrez do tabuleiro geopolítico contemporâneo. Nos últimos 40 anos, apenas na mina de Cominak em Akouta, foram extraídas mais de 75 mil toneladas de urânio, ou seja, no mínimo são extraídas por ano 1.875 toneladas apenas nessa mina

Mina de cominak
Mina De Cominak

              O urânio é retirado diretamente do solo, então uma solução ácida é adicionada para separar o minério do urânio, esse processo traz como resultado um líquido apelidado de “licor de urânio”, que depois de decantado e filtrado converte-se em um concentrado, o “yellowcake” que consiste no urânio em formato de pasta, como é comercializado. 

Yellowcake
Yellowcake

             Esse processo que parece simples e inofensivo é na verdade extremamente nocivo tanto à saúde humana, quanto a todos os ecossistemas. O procedimento de extração do urânio é considerado perigoso até mesmo em países desenvolvidos que o realizam com toda a segurança e dezenas de protocolos, como por exemplo no Canadá, como disse o bacharel em química, Vítor Fernandes: O urânio tem um poder destrutivo que não pode ser subestimado, pois além da forte radioatividade, se espalha com uma facilidade insana”. No entanto, quando consideramos esse tipo de extração em países subdesenvolvidos, e sem as condições de segurança de trabalho necessárias aos trabalhadores e ao meio ambiente, o resultado é catastrófico.

O urânio por si só é extremamente radioativo, e a radiação além de justificar sua periculosidade em si mesma, também se espalha pelo solo, pelo ar, e pela água. Ou seja, acaba destruindo três ecossistemas diferentes, sem mencionar os notáveis danos aos nigerenses que habitam regiões próximas a essas minas, fazendo com que a extração de urânio não tenha sua periculosidade reduzida aos trabalhadores, mas também a todas as pessoas que cercam os pontos de extração de urânio.

Além de todos os problemas ambientais que implica a extração do urânio, uma parte ínfima do dinheiro arrecadado com a exploração é revertida a população (tendo em vista que o Niger lucra quantias exorbitantes de dinheiro com a exploração de urânio, porém devido a subnotificação não existem meios de saber ao certo o tamanho do problema) , que sob essas circunstâncias acaba se envenenando por migalhas, como explica a charge do artista francês Damien Glez.

Charge

Tradução da charge: Você prefere ficar rico, porém envenenado. Ou pobre com saúde‽ Pergunta o francês 

O urânio que é rico, não eu. Responde o Nigerense.