De 17 a 28 de maio aconteceu a 74ª edição do Festival de Cannes. O evento internacional que dura 12 dias surgiu em 1964 e premia produções cinematográficas do mundo todo. Mas, apesar de ter grande alcance, ele não tem espaço para todos. Mais uma vez, mulheres não têm tanto espaço quanto homens. Desde o surgimento do festival de Cannes, apenas duas mulheres ganharam a Palma de Ouro (o prêmio mais importante do evento).
Falando no Brasil, a situação é ainda mais desigual. Fernanda Torres, aos 20 anos, foi a primeira brasileira a vencer um prêmio. Ela ganhou a Palma de Ouro de Melhor Atriz por seu papel em “Eu Sei que Vou Te Amar (1986)”, de Arnaldo Jabor. Depois dela, só mais uma atriz brasileira ganhou. Sandra Corveloni, em 2008, por Linha de Passe, de Walter Salles e Daniela Thomas.
E essa falta de representatividade não está só no prêmio principal. Fica fácil perceber essa disparidade em números: para os prêmios de melhor direção e melhor roteiro, entre os 111 vencedores durante os mais de 70 anos de premiação, há apenas 4 mulheres, o que representa 3,5% do total.
Ouça aqui essa história completa no podcast: Cannes: aonde estão as mulheres?
No dia 20 de maio de 2022, o cantor britânico Harry Styles lançou seu terceiro projeto de estúdio denominado "Harry's House", produzido pelas gravadoras Columbia e Erskine Records. Com ritmos que remetem a década de 1980 e as discotecas, o projeto foge dos hits convencionais do cantor, sendo muito aclamado pela crítica que o consolidou como artista solo. Também foi bem aceito pelo público, pois debutou no topo da Billboard 200 e ocupou o TOP 10 Spotify Global no dia seguinte ao lançamento.
Além das plataformas online, Harry também conquistou o segmento de vinis, com 182 mil unidades vendidas, quebrando o recorde da maior semana de venda de discos da história da era moderna. Convidamos as administradoras do portal Best Harry Styles Brasil, Luísa e Vanessa, além da youtuber Mari Bianchini para falarmos sobre Harry's House e seu sucesso instantâneo. Clique aqui e confira o vídeo completo.
Dificilmente uma notícia circulada nos jornais fica limitada ao campo jornalístico. É comum que haja enormes desdobramentos a respeito do fato após a sua divulgação, seja se tornando assunto de debates ou até mesmo virando livro ou produção cinematográfica. É o que acontece, por exemplo, com crimes que chocam uma grande parcela de pessoas. Há casos dos quais é possível dizer que horrorizam o mundo inteiro. É nesse contexto que surge o gênero true crime.
O true crime é o termo em inglês designado para tratar das obras sobre crimes reais. Indo muito além do “baseado em fatos reais”, essas realizações normalmente têm alto teor jornalístico e jurídico , contendo entrevistas, autos de processos, gravações feitas em tribunais, imagens da cobertura da imprensa e diversos outros. “Fazer true crime é um processo muito sério, foi preciso ter um acompanhamento jurídico muito forte, porque a gente está falando de vidas, de vítimas e de pessoas que ainda estão entre nós”, disse Maurício Eça, diretor dos filmes “A Menina que Matou os Pais” e “O Menino que Matou Meus Pais”.
O trabalho de Eça, lançado pela Amazon Prime Video em outubro de 2021, retrata o assassinato do casal Manfred e Marísia von Richthofen a pauladas pelo genro Daniel Cravinhos e seu irmão Cristian. Apesar da maneira agressiva do crime, o que chocou o Brasil em 2002 foi o envolvimento da filha das vítimas, Suzane von Richthofen, como mandante. O cineasta disse que todo o processo de produção foi trabalhoso. “Todo o pessoal da equipe, os atores, os produtores, todos sabiam muito bem onde estavam pisando, tudo com um respeito imenso e sabendo os limites. Nós tivemos um cuidado absurdo e acho que isso fez a diferença”.
Em entrevista à AGEMT, Maurício relembrou algumas críticas feitas à realização dos longas-metragens, muitas delas eram ditas por pessoas que não sabiam ao certo como seria executado o projeto. A maioria se perguntava se os assassinos iriam receber cachê por isso, quando na verdade todo o procedimento foi feito com base nos documentos da época, não necessitando, assim, da ajuda dos criminosos. Portanto, além de não terem qualquer envolvimento com a iniciativa, os criminosos não receberam valor algum. “O que nos guia é o processo [judicial]”, declarou o diretor de cinema.
Ainda sobre a aceitação do público, ele reiterou que alguns espectadores procuram “respostas simples que não existem”, porque a verdade sobre o crime é conhecida somente pelos que estavam ali presentes. Assim, o intuito do true crime não é julgar ou inocentar alguém, mas apresentar o que se sabe sobre o ocorrido. Maurício acrescenta: “nosso objetivo em nenhum momento foi glamourizar essa história ou defender eles, era realmente mostrar [...]muitas vezes não tem que justificar, a gente tem que mostrar! Por que você vai justificar o que o cara fez? Não dá para justificar. É complicado né”.
Questionado sobre o porquê da categoria já ser tão popular fora do Brasil e só agora ter ganhado espaço por aqui, Maurício declarou que “o true crime já está sendo consumido no Brasil há muito tempo, mas só agora ele está sendo aceito em produções locais”. O diretor completa que parte do motivo de tal crescimento talvez seja devido a conjunturas do nosso tempo “a pandemia acelerou muito isso, tem um pouco de inconformismo, um pouco de curiosidade, acho que tem um pouco disso tudo”. Ele conta também o quão difícil foi convencer os investidores a produzirem tais filmes, “Foram anos para conseguir convencer as pessoas a fazerem esses filmes. Elas consomem tanta coisa gringa, por que não consumir do brasileiro?”.
É no mínimo curioso o interesse das pessoas por histórias muitas vezes sangrentas de crimes. Esse gênero cresce cada vez mais e no Brasil ainda temos diversos filmes e documentários sendo produzidos para o futuro, como confirmou o cineasta. A psicóloga e psicanalista Ana Carolina Valim, resgata os estudos de psicanálise de Jacques Alain Miller para explicar tanto interesse em um gênero trágico. Para ele, segundo Ana, “nada é mais humano do que o crime”. “Rejeitamos o crime porque ele mesmo nos faz humanos ao não cometê-lo. Por conseguinte, são os mesmos seres humanos que os cometem, pois foram eles mesmos que o inventaram. Não existe crime na natureza animal [...] os animais não sentem culpa por matar ”, esclarece Valim. Ainda sob esse aspecto, a profissional traz o debate acerca do entendimento da sociedade sobre o ato de matar: “Assistimos crimes de várias modalidades em nossas telas. Gostamos daquele que mata pelo bem e repudiamos aquele que mata pelo mal. Entretanto, o que não observamos é que essas duas figuras possuem o denominador comum: matar. Os super-heróis também causam fascínio na grande massa consumidora de ficções. Mas qual a diferença entre o herói que mata pelo bem e o monstro que mata pelo mal?”.
Enganam-se aqueles que acreditam que o cinema é somente entretenimento, na verdade, toda a sua história é marcada por filmes que têm a intenção de fazer denúncias e conscientizar seus espectadores. O clássico “Tempos Modernos(1936)” de Charlie Chaplin, por exemplo, expõe a desumanização e exploração do trabalhador no período da Grande Depressão com cenas cômicas, como quando o personagem Carlitos é puxado por uma máquina de produção e entra em suas engrenagens.
De Chaplin para cá muita coisa mudou, inclusive a facilidade de se assistir às produções audiovisuais. Mais de um século depois da estreia de Carlitos na tela grande, temos diversas plataformas digitais que permitem acesso a inúmeros filmes, séries e documentários sobre os mais vastos temas. Isso significa que as pessoas estão mais informadas sobre realidades que não a delas? Não necessariamente. Isso porque, infelizmente, o cinema pode criar estereótipos acerca de um assunto.
Reprodução: Cena do filme Tempos Modernos (1936).
É o que acontece com a comunidade neurodivergente ou atípica, isto é, indivíduos que apresentam o desenvolvimento neurológico diferente daquele esperado. Há múltiplos diagnósticos e níveis entre as próprias condições, sendo o TEA (Transtorno do Espectro Autista) uma das mais notórias pela mídia audiovisual.
O estigma criado em torno do TEA está vinculado com a imagem de “autista gênio”, normalmente essa personagem é superdotada com habilidades de raciocínio lógico e matemático; em contrapartida não consegue relacionar-se e comunicar-se de maneira efetiva com as pessoas ao seu redor, nessas narrativas é comum o personagem nem mesmo falar.
Um exemplo está no filme “Código Para o Inferno”(1998), em que um agente do FBI interpretado por Bruce Willis passa a proteger Simon Lynch (Miko Hughes), um menino de nove anos autista que, sem o menor esforço, desvenda um "indecifrável" código do governo americano que tinha custado dois bilhões de dólares. Há também “O Contador” (2016) que exibe a história do autista Christian Wolff (Ben Affleck) que fez da matemática sua língua materna e, assim, desempenha sua atividade profissional de maneira excepcional num escritório de contabilidade; entretanto atua também em trabalhos de lavagem dinheiro para os principais bandidos do mundo e, logo, descobre uma fraude de dezenas de milhões de dólares, o que coloca sua vida em risco.
Reprodução: Cena do filme Código Para o Inferno (1998).
Para Alexandre Barbosa, pai de Alice, diagnosticada com autismo antes dos dois anos, essas produções não trazem uma visão realista, e sim uma visão romantizada. Tal construção pode ser perigosa, segundo a psicóloga Thamara Bensi, uma vez que “estamos lidando com um Espectro, não temos um fenótipo comportamental e nem cognitivo único e isso pode gerar no senso comum um estereótipo limitante e irreal”.
Ainda sob essa perspectiva Bensi reforça que “A sociedade precisa ter ciência de que o autismo é um Espectro, no qual, essa população dependendo do repertório precisa de mais ou menos suporte. Todos os autistas possuem suas potencialidades e seus pontos a serem desenvolvidos”. O posicionamento da profissional se assemelha ao da cineasta Letícia Soares, com a frase “Ninguém é igual ou limitado a uma lista de sintomas, cada um vive o mundo de uma forma”, assim ela dá início a um dos seus vídeos publicados no YouTube no seu canal Aspie Aventura. É nele que Soares apresenta uma série documental performática, em conjunto com outros atípicos, na qual mostra que “cada um curte uma coisa diferente. Nos aventuramos juntos e as pessoas também conhecem meu modo de pensar”.
Diante disso, torna-se perceptível a necessidade de uma maior responsabilidade da sétima arte em representar essa comunidade. O bacharel em História e estudante de Licenciatura, William Morgado, diagnosticado com TEA aos doze anos, defende que neurodivergentes devem ser retratados como qualquer outra pessoa “com intelecto capaz de mostrar como somos; e que sabemos nos inserir na sociedade”.
A história sobre a trajetória, explosão e mudança na cultura de consumo de filmes e séries provocadas pela Netflix na última década, já é perceptível no cotidiano de todos nós. Entretanto, muito se engana quem pensa que a expansão do mercado de streaming iria parar por aí, já nos últimos meses começamos a ver a nova etapa dessa história: A Guerra dos Serviços.
Com a voraz adesão do público à Netflix, somado a mudança de comportamento que o serviço causou nos consumidores, trazendo uma enorme variedade de obras disponíveis para acesso com a pouco cliques de distância, tudo sem deixar o conforto de casa, passou a impactar de forma negativa as bilheterias de cinema, que por sua vez já não eram prioridade, e também afetando drasticamente os planos de televisão à cabo que passaram a ser totalmente substituídos em diversas casas por uma assinatura da Netflix. Esses impactos negativos, incentivou em grandes produtoras como HBO, Disney e Paramount, além de gigantes da tecnologia como a Amazon o desejo de criar novos serviços de streaming, que viessem para capitalizar em cima de um publico, que por muito tempo, viu a Nettflix dominar um mercado em crescente expansão.
A resposta das concorrentes à Netflix, passou a vir de forma intensa nos últimos anos, com diversos serviços de streaming exclusivos surgindo, mas também retirando suas obras de demais serviços. Entre os diversos casos, o mais discutido foi o da Disney, que retirou seus sucessos da Netflix, entre eles, filmes da Marvel, conteúdos da saga Star Wars e da Pixar.
Com estes conteúdos ficando cada vez mais espalhados, não somente a Netflix sentiu um grave impacto na perda de seu catálogo, assim como o público se viu refém de decidir quais serviços englobariam melhor sua preferência e orçamento, uma vez que os catálogos de filmes estão cada vez mais separados entre diversos serviços distintos. Lucas (23), escritor em um blog voltado aos filmes da Marvel, entrevistado sobre a maneira como escolhe os serviços de sua preferência disse: “preço e catálogo exclusivo são as prioridades no momento das escolha (…) opto pelo Amazon Prime pelo custo benefício, e também pelos serviços da HBO e Disney por terem as series exclusivas que mais me interessam”. Também questionado sobre a vontade de consumir algum conteúdo que tenha disponibilidade apenas em outros serviços, Lucas afirma que “normalmente tento assistir em casa de amigos quando surge uma oportunidade, mas em momentos no qual a necessidade grita mais alto, acabo recorrendo a pirataria”.
Os impactos dessa concorrência, podem ser visto em dados revelados pela em relatórios financeiros da empresa, os dados demonstram que ao decorrer de 2021 ocorreu uma queda se 75% na quantidade de novos assinantes quando comparada ao ano de 2020.
Infelizmente, no futuro próximo, essa guerra entre os serviços deve ganhar mais força. Lucas, questionado sobre expectativas para o futuro, diz: “espero que nos próximos meses, os serviços passem a oferecer planos de assinatura conjunta, ou preços mais acessíveis, assim, possibilitando um acesso a uma maior quantidade de assinaturas ao mesmo tempo”.