As mudanças no jornalismo têm dado brechas para a naturalização da precarização da profissão
por
Milena Camargo
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28/11/2023 - 12h

A 'Pejotização' - contratação em modelo PJ - tem sido um problema enfrentado pelos jornalistas. Com a crise do mercado da comunicação muitas empresas da área vem utilizando esse método como alternativa recorrente. Mas apesar de parecer uma alternativa cabível, para muitos isso significa uma negligência significativa para com os direitos dos empregados contratados nessa condição. 

O surgimento da internet e dos smartphones ocasionou em uma transformação drástica do mercado jornalístico. A população que antes se informava majoritariamente pelos conteúdos das grandes marcas do jornalísticas, atualmente se vê à mercê de uma infinidade de fontes e opiniões que estão disponíveis, livremente e gratuitamente, na internet. Apesar da desinformação advinda das ‘Fake News’ serem uma problemática a ser enfrentada, a democratização e a pluralidade das informações na internet impulsionam a grande maioria da população a consumir produtos dos informantes independentes. Segundo o presidente do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, Thiago Tanji: “Quando começou um crescimento da utilização dos dispositivos móveis aliado às redes sociais, a publicidade, não só do Brasil mas do mundo, migrou. Então hoje, o Google - que faz parte da empresa Alphabet - e o Meta – que é a maior empresa do Facebook – concentram 80% da publicidade Global.”

Homem com óculos de grau

Descrição gerada automaticamente

Figura 1Presidente do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo | Thiago Tanji

 

Essa mudança, portanto, estabelece um novo cenário empregatício para jornalistas, muito mais precário e instável. Na terceira semana desse mês a CNN, realizou mais uma sessão de ‘passaralho’, na qual mais de uma dezena de funcionários foram demitidos. Esse tipo de situação tem se tornado cada mais recorrente em decorrência, principalmente, dessa transformação no modelo de comunicação social.

As grandes marcas do jornalismo têm cada vez menos condições de manter seus quadros de funcionários e uma estrutura de trabalho digna e saudável. Diante desse contexto caótico, uma das saídas também utilizadas pelas empresas de comunicação, para além da demissão em massa, é a precarização do trabalho. A jornalista Sueli dos Santos afirmou em entrevista: “Eu não conseguia vagas que fizessem registro em carteira, então eu comecei no mercado de comunicação como PJ.”

A ‘Pejotização’ nada mais é do que a informalização da contratação em benefício do empregador e em detrimento do funcionário. Ao invés de contratar o jornalista - ou qualquer outro funcionário - em modelo CLT, como deve ser feito de acordo com as leis trabalhistas, as empresas vêm naturalizando cada vez mais a contratação via PJ (Pessoa Jurídica). As contratações PJ no Brasil vêm crescendo em larga escala e batendo recordes. Segundo dados do IBGE, somente neste ano, já são as contratações PJ no Brasil vêm crescendo em larga escala e batendo recordes. Segundo dados do IBGE, somente neste ano, já são milhões de trabalhadores inseridos nesta condição de trabalho. Segue abaixo o gráfico de um estudo da fundação Getúlio Vargas sobre com um comparativo em relação a ascensão da contração em PJ em detrimento da contratação em CLT.

                                                 Pejotização: uma análise a partir de dados da PNADC | Blog do IBRE

No modelo PJ o contratado não tem direitos, tais quais: décimo terceiro salário, férias remuneradas, seguro-desemprego, licença maternidade, contribuição junto ao INSS, indenização etc., como teria na contratação CLT. Muitas vezes para encobrir esses benefícios, o empregador acaba oferecendo um valor de salário um pouco mais alto do que o que se oferece no mercado como um todo, mas ele ainda sai em vantagem já que os direitos trabalhistas, ainda sim, são mais custosos. Entretanto, apesar de em alguns casos o empregador oferecer salários altos, essa não é uma regra. E muitas vezes, além da contratação ser informal, os salários oferecidos são equivalentes ou até mais baixos que os oferecidos pelo mercado.

Outro ponto relevante é que quando apresentadas aos candidatos, as vagas PJ vestem uma roupagem de ‘prestação de serviços’ onde o contratado seria um terceirizado da empresa. Entretanto, depois de contratado o empregador acaba exigindo uma habitualidade do empregado onde dele deve satisfações constantes como: pontualidade, subordinação e entregas de atividades regulares e cotidianas. É importante estar atento pois o prestador de serviços faz entregas pontuais e não lhe pode ser exigida uma habitualidade diária como na contratação CLT. “A questão do PJ não é de agora, é de muito tempo. A gente tem que entender que a relação de trabalho mudou, mas infelizmente com o trabalhador tendo desvantagem. Porque não é a contratação no modelo PJ que incomoda, o que de fato incomoda é ser contratado como PJ e ter obrigações de CLT.”, explica Sueli.

 

A mudança do mercado jornalístico apesar de ter sua relevância para o entendimento de todo o contexto empregatício, não deve ser uma justificativa da precarização por parte das empresas jornalísticas. É importante um olhar crítico sobre os novos rumos do mercado para tomadas de decisões mais conscientes, mas o reconhecimento e a luta pelos direitos trabalhistas devem nortear as pautas e decisões de todos os envolvidos na nova estruturação do mercado jornalístico. Thiago Tanji, relembra, portanto, a importância da luta coletiva em prol da defesa dos direitos trabalhistas: “Enquanto a legislação não mudar e continuar mantendo a impunidade às empresas que cometem essa fraude, nós temos que se agrupar e conversar sobre como conseguimos nos unir nessa questão.”

Com um desejo de trabalhar com livros, Julio decidiu seguir o rama da família
por
Leonardo de Sá
Kauã Alves
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21/11/2023 - 12h
Três homens acusam animal local de roubar suas propriedades
por
Artur dos Santos
Lucas Allabi
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21/11/2023 - 12h

Os cidadãos de uma vila estadunidense vivem, há uma semana, em estado de sítio. Os três fazendeiros mais ricos da cidade, Boggis, Bunce e Bean, arregimentaram diversos capangas que aterrorizam as ruas e estabelecimentos do pacato local à procura de uma raposa que eles acusam de roubo.

O primeiro a denunciar o suposto roubo foi Boggis, dono da maior avícola da região. De acordo com ele, o Sr.Raposo, com ajuda de um gambá, roubou cerca de dez galinhas suas para revendê-las aos animais da cidade.

Exasperado pelo sucesso do seu crime, o acusado roubou na mesma semana, e com ajuda do mesmo parceiro, um número desconhecido de gansos do criadouro de Bunce.

Em seguida, os criminosos, que aliciaram Kristofferson, sobrinho do Sr.Raposo e menor de idade, invadiram o armazém da cidra fabricada por Bean. Após nocautear o segurança do local, o Rato, eles fugiram com uma garrafa cada um.

Fontes anônimas revelaram que o Sr.Raposo, ex-escritor da coluna Raposa pela Cidade da Gazeta local, estava insatisfeito com sua situação financeira há algumas semanas e por isso decidiu cometer os roubos.

Os três fazendeiros, depois de perceberem o que tinha ocorrido, fizeram uma reunião na qual decidiram matar a raposa. Eles descobriram onde ele morava e montaram uma tocaia durante a noite em volta da sua casa para pegá-lo.

Os animais, reunidos na casa do Raposo, perceberam a emboscada e se esconderam na hora em que Boggis, Bunce e Bean abriram fogo contra eles. Os fazendeiros, em seguida, decidiram remover a árvore onde eles moravam. 

O Gambá, o Sr.Raposo e sua família, então, cavaram o chão debaixo da sua casa removida e construíram vários túneis subterrâneos. Os fazendeiros, obstinados em pegar quem lhes passou a perna, contrataram operários e máquinas de construção para escavar o local. 

Como não acharam os criminosos, Bunce ordenou que os seus empregados se armassem e montassem vigias e barricadas em toda a cidade para pegar os ladrões.

Já fazem alguns dias que a vila vive na espera pelo aparecimento do Sr.Raposo, e seus cidadãos parecem mais reféns dos fazendeiros que dos animais fugidos.

A polícia local não fez nada até agora e Boggis, Bunce e Bean não esboçam nenhuma vontade de desistir do plano de exterminar todos os animais relacionados com o roubo de suas propriedades.

Como não sabemos o paradeiro do Sr.Raposo, não conseguimos seu depoimento para essa reportagem.

 

Descubra a resposta desse questionamento, conhecendo um pouco mais desses dois times lendários da seleção brasileira.
por
Antônio Valle
Christian Policeno
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16/11/2023 - 12h

Brasil: 1982

A Seleção Brasileira de 1982, também conhecida como "Seleção de Ouro", ficou marcada por seu futebol ofensivo e vistoso. Apesar de ter encantado o mundo, o Brasil foi eliminado na 2° fase da Copa do Mundo para a pragmática Itália, de Zoff e Paolo Rossi, em um dos maiores jogos da história das Copas do Mundo.

A história desse jogo é recheada de bons enredos. Para a Seleção Brasileira, essa história começa a ser contada em 1979, quando Telê Santana assume o cargo de técnico, e, junto à CBF implementa o que é conhecido como "seleção permanente", isso é, os jogadores passaram a se reunir com mais frequência. Então, para o trabalho realizado em campo, não era mais só momento e a continuidade passou a ser chave.

A Seleção deu show e encantou o mundo em suas expedições internacionais, em preparação à Copa. Em 1981, a "Canarinho" bateu a Inglaterra em Wembley, pela primeira vez, assim como fez com a França no Parque dos Príncipes, e derrotou a Alemanha de virada. É muito devido a essa excursão que, ainda hoje, se discute o "time perfeito" e o que aconteceu na "Tragédia de Sarriá".

Entre o time de 1981, e o da estreia da Copa de 1982, o Brasil tinha apenas 2 modificações. Leandro, lateral-direito, entrou no lugar de Edevaldo, e Serginho Chulapa assumiu a 9 da seleção. Inclusive, achar o centroavante perfeito foi a maior dificuldade de Telê Santana, que testou alguns nomes, como: Roberto Dinamite e César, do Vasco, Nunes, do Flamengo, Roberto, do Sport, Baltazar, do Grêmio, e Reinaldo, do Atlético-MG. Telê escolheu Careca, do Guarani, mas o atacante se lesionou na fase final da preparação para o Mundial, e, então a vaga abriu novamente.

Na estreia da Copa do Mundo, contra a União Soviética, o Brasil entrou com Dirceu, no lugar de Paolo Isidoro. O time não funcionou, foi para o intervalo perdendo de 1x0. Com a volta de Isidoro o time melhorou e buscou a virada. Ainda não foi o suficiente para que ele se mantivesse no time titular. Na segunda partida, Telê achou seu quadrado de meio campo ideal: Cerezo, que havia voltado de suspensão, Falcão, primeiro jogador a atuar fora do país a disputar a Copa do Mundo pelo Brasil, Sócrates e Zico. O que chamava a atenção era a ausência de um ponta-direita.

O meio de campo era encantador: trocava passes e rodava a bola perfeitamente. Mas, às vezes, faltava velocidade. Zico e Sócrates revezavam quem caia pela direita, mas nem sempre conseguiam. Com as subidas de Leandro, e a falta de um ponta, criava-se espaços não compensados pelos zagueiros brasileiros.

A Itália reconheceu os erros brasileiros. E, foi subindo pela esquerda, que Cabrini achou o cruzamento perfeito para Paolo Rossi abrir o placar aos 5 minutos de jogo. Além disso, o a marcação individual italiana limitou o poder de criação dos meias brasileiros.

Ainda assim, o Brasil buscou o empate com Sócrates aos 12". Mas Rossi, em noite mágica ampliou, aos 25 minutos. O jogo foi para o intervalo com 2x1 no placar. No começo do segundo tempo, Falcão empatou, mas logo em seguida Rossi fez o terceiro e acabou com a alegria brasileira.

A Seleção Italiana era talentosa e perfeitamente ajustada defensivamente. Além disso, buscava vingança. Além da goleada, por 4x1, na Copa de 1970, o Brasil bateu a "Azzura" em 1978, na disputa pelo terceiro lugar. E, conseguiu.

"Enzo" Bearzot, técnico italiano de 1982, foi muito criticado ao convocar Paolo Rossi para a Copa, mas sua escolha rendeu uma das melhores revira voltas do futebol. O centroavante da Juventus, voltou da Espanha, com, além do troféu de campeão, o prêmio de melhor jogador e a artilharia do campeonato.

Mas, o que muitos não sabem, é que Rossi foi punido por 2 anos após envolvimento com apostas e manipulação de resultados, no esquema Totonero. Antes do Mundial, ele havia disputado apenas três partidas oficiais.

Para se ver como funciona o esporte. A Itália enfrentava um péssimo momento e seu futebol não convencia. A "Azzura" contou, justamente, com o criticado Paolo Rossi, para ganhar de uma das melhores seleções brasileiras de todos os tempos. O camisa 20 fez três gols, na vitória por 3x2, após um começo de campeonato medíocre do atacante.

 

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Seleção Brasileira de 1982. Reprodução: Esquemas táticos.

Brasil 1994:

Falando agora sobre a seleção tetracampeã do mundo, será possível observar se um futebol “feio”, também é capaz de trazer resultados. Ou melhor do que bons resultados, TÍTULO!

A seleção brasileira de 1994 era comandada por Carlos Alberto Parreira, mas antes disto, o técnico da seleção era Zagallo, uma lenda na seleção. Porém, como nem tudo são flores, Zagallo acabou sendo um “problema”, para o melhor jogador da “canarinho” de 1994. Isto, por que, o Baixinho não possuía uma boa relação com o treinador, e afirmou na época que não gostaria de ser convocado para a seleção brasileira caso ficasse no banco de reservas.

Com a chegada de Parreira, o baixinho foi bancado pelo treinador, e não decepcionou. Nas eliminatórias, Romário realizou um campeonato muito bom, e na copa do mundo de 1994, não foi diferente. O baixinho foi o artilheiro da seleção com cinco gols marcados, se firmando como um dos maiores centroavantes da história do futebol, e da “amarelinha”.

Falando um pouco sobre a Copa do Mundo, o Brasil chegou na competição com o pé direito, ganhando da Rússia pelo placar de 2X0, com gols de Romário e Raí, no segundo jogo, vitória sobre Camarões, com gols do “Baixinho”, Márcio Santos e Bebeto, e finalizando a fase de grupos, o Brasil tropeçou com a seleção da Suécia, empatando o jogo em 1X1.

Já no mata-mata, o osso começou a roer, e o Brasil ganhou da seleção norte americana por 1X0, em jogo difícil, com gol de Bebeto. Nas quartas de final, um jogo épico, o Brasil ganhou da ótima seleção da Holanda, por 3X2, em um jogo muito parelho, os gols foram marcados por Romário, Bebeto e Branco. Na semifinal, o Brasil enfrentou novamente a seleção da Suécia, e ganhou o jogo com placar mínimo de 1X0, com gol de Romário aos 35 minutos do 2 tempo.

No ultimo e mais decisivo jogo da competição, dois fatores extremamente relevantes estavam em cena, além é claro, de uma final de Copa do Mundo. Menos de dois meses antes da final competição, o maior ídolo do país na época, Ayrton Senna, morreu em um acidente de carro, durante uma corrida da Formula 1, deixando o país inteiro em lagrimas, outra questão, é que o Brasil passara pelo seu maior jejum de títulos de Copa do Mundo na história, sendo 24 anos sem levantar o troféu. Tudo isto trazia uma sensação de ainda mais apreensão, sobre o possível título da seleção.

O jogo foi extremamente nervoso, e terminou no placar de 0X0, levando a disputa para os pênaltis. Nos chutes ao gol, o Brasil sagrou-se campeão, pelo placar de 3X2, com o último pênalti isolado, pelo então melhor jogador do mundo na época, Roberto Baggio.

Jogar de maneira não tão vistosa, mas levantando o caneco, é sem dúvida mais prazeroso que o contrário.

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Seleção Brasileira de 1994. Reprodução: "é pênalti".

 

Best-seller de Carla Madeira tornou-se um dos livros de ficção mais vendidos do país
por
Bruna Quirino Alves
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14/11/2023 - 12h

“Tudo é rio” é o romance de estreia de Carla Madeira. Publicado pela editora Record, está na seleta lista dos livros brasileiros de ficção mais vendidos. Em 2021 e 2022, a obra vem dividindo com Torto Arado, de Itamar Vieira Junior (o mais vendido da categoria no Brasil), a atenção de leitores e críticos. Também pela Record, a autora lançou Véspera (2021), o terceiro e inédito romance, e relançou A Natureza da Mordida (2022), o segundo, que havia sido publicado em 2018.

Tudo é rio de Carla Madeira é um livro sobre transbordamento, como a própria autora define. O processo de leitura te leva em uma montanha-russa onde o amor, o ódio e o perdão se misturam em um rio de sentimentos, os quais não se pode controlar.

A história traz três personagens principais: Lucy, prostituta da cidade, e o casal Dalva e Venâncio. Eles, até então muito apaixonados, tiveram o casamento marcado por uma tragédia, que mudou completamente a dinâmica entre eles, a partir desse momento Lucy atravessa a história dos dois e é atravessada por eles com a mesma intensidade.

Carla Madeira constrói camadas sem uma régua moral e seus personagens apresentam complexidade e profundidade, enquanto fogem de maniqueísmos. Ao longo do livro, o leitor se vê em uma posição de confusão constante e a autora provoca essa sensação intencionalmente, e com excelência.

Inventivo na forma, o romance organiza-se por capítulos que desobedecem a ordem cronológica e vão e voltam, tal como uma série televisiva em que a câmera muda a cada cena. O tema do amor e da tragédia não tem nada de original, mas o grande trunfo de Carla Madeira é a forma pela qual sua linguagem poética, suave, nos conta essa história.

A obra é questionadora e provocante em uma essência, mas o principal questionamento gira em torno do perdão: Como perdoar o imperdoável e lidar com o amor que permanece?

Carla não se atém à superficialidade ao narrar detalhadamente o quão excruciante é a dor que Dalva, a personagem principal, vivencia em sua jornada pelo luto, até o perdão. A escolha de repetir certas cenas durante a narrativa é proposital e enfatiza como a dor pode ser paralisante, se manter em um ciclo destrutivo parece ser a única escolha.

A violência doméstica é retratada a partir de uma perspectiva diferente. A autora se afasta do julgamento e demonstra empatia com as mulheres que não conseguem sair desse tipo de situação, o que pode ser visto no seguinte trecho da obra:

“Dalva poderia tantas coisas se pudesse. Mas só pôde o que fez. Quem vê de fora faz arranjos melhores, mas é dentro, bem no lugar que a gente não vê, que o não dar conta ocupa tudo.”

Após receber críticas por “romantizar” a agressão, a autora afirma que o intuito nunca foi esse. Ela explora a sua própria curiosidade que permeia as motivações que levam uma mulher violentada à escolher ficar.

Tudo é rio é uma investigação sobre a água, ou seja, sobre tudo aquilo que é tão potente que não se pode limitar à qualquer coisa além de seguir o próprio fluxo. O amor, o ódio, a raiva, são sentimentos que, quando represados, tensionam o sujeito que sente e acabam transbordando. Aqui temos uma obra que permanece ressonando no leitor, mas não em sua mente racional, mas nesse intangível lugar onde mora aquilo que não conseguimos traduzir em palavras, só sentir.

Além de impactos sociais e humanitários, a ditadura de Pinochet moldou profundamente a economia chilena.
por
Barbara
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10/11/2023 - 12h

A instauração da ditadura militar no Chile por meio de um golpe de Estado em setembro de 1973 constituiu um capítulo sombrio na história. Com a destituição do governo de Salvador Allende, Augusto Pinochet assumiu o comando do país, inaugurando um período caracterizado pela repressão política e violações aos direitos humanos que perdurou até 1990. 

Augusto Pinochet

Além de impactos sociais e humanitários, a ditadura de Pinochet moldou profundamente a economia chilena. O país adotou políticas neoliberais como reformas que visavam reduzir o papel do Estado na economia, privatização de empresas estatais e abertura do mercado para investidores estrangeiros. Essa transição para o neoliberalismo teve implicações devastadoras na estrutura socioeconômica do Chile que podem ser observadas na história recente. Essa razão econômica, política e social foi implementada pelos “Chicago Boys”, economistas que tiveram passagem pela Universidade de Chicago, nos Estados Unidos, escola que distribuía e distribui a ideologia para governos mundo afora.  

protestos no chile

As consequências brutais da instituição desse modelo, que continuou após a redemocratização no país, sob o pretexto de uma suposta ciência, contribuíram fortemente para o surgimento de protestos intensos que tinham como objetivo a elaboração de uma nova constituição, em 2019. O debate e a tramitação de uma nova constituição seguem no país, enquanto a constituição de de Pinochet persiste.

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Os sistemas de educação, saúde e previdência, representam as violências dessa estrutura política e econômica sobre a população, que luta para seu fim e construção de uma nova constituição com direitos sociais universais.

 

Ausência de medidas governamentais levam ao aumento de casos de preconceito no país
por
Gabrielly Mendes
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13/11/2023 - 12h

Com a ascensão da extrema direita em Portugal imigrantes brasileiros têm percebido o aumento dos casos de xenofobia no país, estimulados por discursos nacionalistas de partidos de extrema-direita. Aluguéis caros e salários baixos também são dificuldades enfrentadas por quem busca se estabelecer em terras lusas. 

Atualmente, o Chega! é o partido de extrema-direita que mais conquista espaço na política portuguesa. A sigla fundada em 2019 possui pautas conservadoras e nacionalistas que são difundidas, principalmente, por André Ventura, atual presidente da legenda. Através de discursos xenófobos e anti-imigratórios, o deputado da Assembleia da República adota a mesma estratégia populista que elegeu à presidência Donald Trump, nos EUA, e Jair Bolsonaro, no Brasil. 

Em entrevista à Rádio Renascença, em maio de 2019, André Ventura disse que a Europa deve ser solidária, mas ao mesmo tempo manter o controle de suas fronteiras para que não se torne um espaço completamente aberto. “Para vir viver dos nossos impostos já temos cá muitos, não precisamos de mais”, opina. 

As declarações do líder do Chega! influenciam parte da população portuguesa. Dados de um levantamento realizado pelo Instituto Intercampus, que foram divulgados pelo jornal Correio Braziliense, mostram impressionante crescimento do partido -– que já é a terceira força da Assembleia da República, com uma bancada de 12 deputados.

O estudo aponta que as intenções de votos no partido de ultradireita saltou de 7,2%, há um ano, para 13,5%, ou seja, quase dobrou. Esse aumento confirma que o discurso inflamado do deputado André Ventura, presidente do Chega, está ecoando entre os portugueses, o que pode refletir no aumento da xenofobia contra imigrantes. 

Henrique de Barros (33), formado em cinema, decidiu sair do Brasil há um ano em busca de emprego. Ele conta que ao chegar em Portugal sofreu com violências verbais e generalizações depreciativas por ser brasieliro. "Já lidei com micro agressões como olhares feios e falas ríspidas; pessoas me chamando de pobre, oportunista e sem cultura. Além disso, pressupunham que eu era burro ou vivia em condições muito ruins no Brasil", conta. 

Barros trabalha como editor de vídeo, um emprego que se adequa à sua área de formação. Entretanto, ressalta que seu caso é uma exceção entre os imigrantes e os próprios portugueses, já que o país luso oferece poucas oportunidades para pessoas especializadas. “Quanto mais formação se tem, menos vale a pena porque a compensação não sobe igual.”. Ou seja, mesmo com um diploma o salário das pessoas continua limitado, o que as impede de arcar com o alto custo de vida no país. 

A disparada nos preços dos aluguéis ampliou as dificuldades dos imigrantes. Nos últimos anos, vários empresários compraram casas em cidades portuguesas para as transformarem em hospedagens e Airbnbs, o que tem feito os valores da especulação imobiliária dispararem. Segundo dados do EuroStat, os preços das casas aumentaram 46,9% nos países da União Europeia de 2010 até o 4° trimestre de 2022. A inflação acumulada ficou em 29,6% no mesmo período.  

Em um cenário de alta procura, os locatários portugueses não escondem sua xenofobia ao alugarem quartos ou apartamentos para imigrantes. “Já vi muitos depoimentos em grupos dizendo que não alugam boas casas para brasileiros ou, quando percebem que são imigrantes, dizem que as residências não estão mais disponíveis.”, relata Henrique de Barros.

Lis Barreto, que viveu dois anos e meio em Portugal, confirma a denúncia de Henrique. A pesquisadora de 32 anos, que foi ao país com o intuito de fazer uma extensão universitária, encontrou algumas dificuldades. Ela conta que devido aos altos preços de locação precisou compartilhar um apartamento com mais duas pessoas, a fim de dividir custos. Ela ainda destaca que o lugar onde morou era alugado informalmente, pois o proprietário era uma das poucas pessoas que alugava para brasileiros. 

Além de problemas relacionados à moradia, Lis Barreto relata episódios de xenofobia e machismo que sofreu no país. Apesar de não ter enfrentado agressões explícitas, as notava em algumas atitudes, como na diferença da abordagem reservada às mulheres brasileiras e às portuguesas durante uma paquera. “O machismo do português se manifesta de um jeito diferente do que o machismo do brasileiro. Fica na sutileza às vezes, mas você consegue perceber a diferença se comparar o tratamento que eles vão dar para outras mulheres. Não vão chegar da mesma forma.”. 

A pesquisadora também se recorda de sofrer generalizações, a exemplo das vezes em que se surpreenderam quando ela disse que estava fazendo doutorado no país; ou quando pressupunham que estava em Portugal com o intuito de encontrar um marido para ganhar cidadania. 

Henrique de Barros percebe a omissão do governo português diante dos casos de xenofobia, e diz que é raro ver algo sendo feito para evitar essas situações. "Sempre caminha para algo genérico no sentido de 'Vamos todos se respeitar', mas tem poucas ações públicas que eu vejo para integração positiva das culturas.", desabafa.

Infográfico de xenofobia contra estrangeiros em Portugal. Fonte: Poder 360

Além dos casos implícitos e presentes no cotidiano de diversos imigrantes, a ausência de ações concretas resulta em casos extremos. O engenheiro civil Saulo Jucá (51) foi agredido com socos e chutes dentro de uma cafeteria na cidade de Braga, Portugal, no dia 10 de junho deste ano. A data é considerada feriado nacional em que se comemora o Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas. Embriagado, o agressor perguntou a nacionalidade do engenheiro, que foi agredido quando confirmou ser brasileiro. Nenhuma autoridade ou instituição oficial portuguesa comentou o assunto. 

 

O atual governo brasileiro já manifestou preocupação com o tema. Anielle Franco, ministra da Promoção da Igualdade Racial, anunciou que o Poder Executivo pretende reforçar a rede de enfrentamento ao racismo e à xenofobia cometidos contra brasileiros que vivem em Portugal em abril deste ano. Essa rede terá o apoio do consulado brasileiro naquele país. 

Um mês antes, Portugal havia anunciado a criação do Observatório do Racismo e Xenofobia. O projeto une o governo e universidades e tem o objetivo de fornecer conhecimento sobre o tema para auxiliar ações governamentais e entidades  no combate à crescente intolerância. 

Henrique Barros considera o período atual péssimo para brasileiros se mudarem para Portugal, mas entende que é importante conversar com outros imigrantes antes da decisão final. "Meu conselho é entender bem suas prioridades e falar com pessoas que amaram e odiaram a experiência para entender os porquês”, finaliza.

Conheça o que o documentário traz além do álbum
por
LUANA GALENO
VICTORIA LEAL
GABRIELA FIGUEIREDO
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13/11/2023 - 12h

 

Exalando maturidade musical de um artista que cresceu no rap e não se limitou ao seu ritmo de origem, “AmarElo” do Emicida, se tornou mais do que um álbum musical, que não só reúne as principais facetas da cultura preta brasileira, mas abriu uma porta para ocupar lugares históricos e criar autoestima em qualquer um que tenha sido marginalizado. “AmarElo”, virou “AmarElo - É Tudo pra Ontem”, filme que descreve o processo criativo do álbum musical e apresenta os motivos da estreia deste no Theatro Municipal de São Paulo, com plateia majoritariamente preta e periférica. Ele é produzido por uma equipe de artistas, incluindo Leandro Roque de Oliveira, o Emicida, e direção estreante de Fred Ouro Preto.

Dividido em três atos (plantar, regar e colher), o documentário intercala a inspiração/criação das músicas, com as obras prontas, apresentadas no Theatro Municipal. A obra conta ainda como o artista paulistano desenvolveu as ideias que arquitetam o seu terceiro álbum de estúdio pelos percalços e desafios de toda sua concepção. Misturando ritmos musicais negros, com a história do povo preto brasileiro e crítica às mazelas sociais, em AmarElo, Emicida constrói uma narrativa baseada em amor, união, coragem e esperança, trazendo a dor e a alegria da vivência, para um campo sensível e intímo do ouvinte, se desvencilhando um pouco da acidez e firmeza que dominam outras obras suas. 

A trama do filme é construída em diferentes tipos de imagens. Enquanto os fatos históricos são apresentados com animações e ilustrações, o íntimo do artista é trazido por imagens de arquivo. Entre o backstage e o show no Municipal, assistimos todo processo de nascimento de um álbum e de um documentário que marcaria seu nome em premiações internacionais como o Grammy e o Emmy.

A trilha sonora é composta inteiramente pelos onze títulos que compõem a junção musical e guiam a narrativa, abrindo e fechando os arcos. Esse é o principal diferencial do audiovisual: ele tem história! Não apenas a de Emicida, mas a dos criadores e a de todos que um dia viriam a se identificar com alguma daquelas canções.

 

POR DENTRO DE “AMARELO”

Repleto de referências que vão muito além do espectro musical, o documentário aborda alguns dos principais pilares da cultura brasileira que contribuíram para a formação da sociedade que temos hoje. Muito além disso, AmarElo traz significâncias e significados para resgatar na memória do Brasil toda a pluralidade preta para a sua formação, que foi sucateada e apagada no processo de branqueamento da história. 

Em um movimento precursor de amostragem do passado, a narrativa explora em cada arco personalidades como Lélia Gonzalez, Aleijadinho, Wilson Neves e muito mais, referenciando também movimentos como a Semana de Arte Moderna de 1922 como ferramenta de marco representativo e divisor de ideias, que até então estavam consolidadas entre o aceito e o invisível. 

Explora também a ocupação de um espaço físico como marco, marco de uma luta viva e presente na vida de milhões de brasileiros. Estar no Municipal e ressignificá-lo como um ambiente condizente com o florescer de um grupo que foi reprimido por séculos leva a público discussões além da luta racial no Brasil, pois mostra como o racismo e ideais de embranquecimento trabalharam para o apagamento daqueles que foram, são e sempre vão ser a alma de todo um país.

AmarElo se faz necessário não somente por ser uma obra que ganhou relevância nos streamings, mas por sintetizar de forma visual a história preta intrínseca na construção de um país, facilitando a compreensão de um movimento individual que, após as dimensões conquistadas, ganha um caráter coletivo. 

Imagens flagram a relação de pais e filhas na torcida pelo time do coração.
por
Gabriella Maya
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13/11/2023 - 12h

O esporte mais famoso do mundo é para muitos uma paixão que ultrapassa as barreiras do campo. Além disso, pode ser o ingrediente secreto para fortalecer a relação entre pais e filhas.

Numa sociedade onde algumas pessoas ainda torcem o nariz para a ideia de que meninas também podem ser fanáticas por futebol, esse esporte se torna uma ponte entre gerações, que não passa só de avós para pais e filhos, mas também de avós para pais, mães e filhas.

Um domingo à tarde, com expectativa, um pai e filha pai se ajeitam no sofá para ver seu time do coração jogando. Esse já é um cenário comum em muitas famílias ao redor do mundo todo. Hoje elas não apenas assistem ao jogo, mas sabem toda a escalação antes do time entrar em campo, e reclamam quando o árbitro apita uma falta errada.

É sobre compartilhar risadas, vibrações, lágrimas, e sentimentos de frustrações e alegria.

O futebol, longe de ser apenas um esporte, torna-se um terreno fértil para diálogos que vão além de gols e cartões. É o caso da Lívia, que passou 1 ano afastada do pai, e fez do futebol a principal ferramenta de reconciliação: "Ficamos sem nos falar por quase um ano e meio, mesmo morando na mesma casa, por diferenças em opinião política. Isso nos fez muito mal, mas quando o Palmeiras entrou na era de ouro, com o Abel Ferreira, vi ali uma chance de me reaproximar e tornar nossa relação mais leve."

 

Lívia e o pai, Jackson, em um jogo do Palmeiras.
Lívia e o pai, Jackson, em um jogo do Palmeiras.​​​​​​ Autor: Gabriella Maya

 

As histórias dos jogadores, as reviravoltas inesperadas, as rivalidades intensas - tudo isso cria um caldo cultural que pais e filhas podem saborear juntos. Um esporte que é uma linguagem universal, onde quem acompanha tem algo em comum para falar, debater e se conectar.

 

 

A Política na Copa do Mundo e o Boicote Soviético
por
Cristiane Santos Gabriel
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13/11/2023 - 12h

Há exatamente 50 anos, um episódio peculiar marcou a história do futebol e refletiu a intensa influência da Guerra Fria no esporte. Em 21 de novembro de 1973, Chile e União Soviética protagonizaram um "não-jogo", uma partida que terminou antes mesmo de começar, com um gol relâmpago que assegurou a vaga chilena na Copa do Mundo de 1974, na Alemanha.

Para entendermos o que aconteceu naquele ano, precisamos conhecer o cenário político que cercou esse encontro crucial na modalidade. Em setembro de 1973, o Chile havia passado por um golpe militar, resultando no estabelecimento de um regime militar liderado por Augusto Pinochet. O Estádio Nacional de Santiago, palco da partida, tornou-se um centro de detenção e tortura de prisioneiros políticos, despertando a revolta internacional.

A União Soviética, como nona colocada nas eliminatórias europeias, enfrentou o terceiro colocado da América do Sul, o Chile, em uma repescagem. No jogo de ida em Moscou, a partida terminou empatada sem gols, surpreendendo aqueles que esperavam uma vitória fácil da equipe soviética.

A polêmica surgiu quando chegou a vez do jogo de volta em Santiago. A União Soviética se recusou a jogar no Estádio Nacional, denunciando-o como local de violações dos direitos humanos sob o regime de Pinochet. A Federação Soviética de Futebol solicitou à FIFA que a partida fosse realizada em um país vizinho, mas a recusa da entidade levou ao boicote soviético.

Em 21 de novembro de 1973, os jogadores chilenos entraram em campo sozinhos e, após uma relaxada troca de passes, Francisco "Chamaco" Valdés marcou um gol em um campo vazio. A União Soviética se recusou a participar, dando ao Chile uma vaga automática na Copa do Mundo.

 

Na União Soviética, a notícia de ficar de fora da Copa pela primeira vez desde 1958 gerou irritação na população, mas o ambiente repressivo impediu protestos públicos. A seleção chilena, por sua vez, celebrou a classificação até tarde, apenas ao enfrentar o Santos em um amistoso logo em seguida, perdendo por 5 a 0.

Na Copa do Mundo sediada na Alemanha, o Chile enfrentou desafios, sendo derrotado pela Alemanha Ocidental na estreia, empatando com a Alemanha Oriental e a Austrália. Os jogos do Chile foram boicotados pela TV russa, mas a Seleção, apesar das supostas diferenças políticas entre alguns jogadores, como críticas de Carlos Caszely ao regime militar, mostrou união em campo.

O "não-jogo" entre Chile e União Soviética em 1973 permanece como um capítulo peculiar na história das Copas do Mundo, destacando como a política e os eventos globais podem se entrelaçar até nos momentos mais inusitados do esporte. Esse episódio, marcado pelo boicote soviético, ecoa como um reflexo da intensidade das relações geopolíticas da época, que transcenderam fronteiras e influenciaram até mesmo o mundo do futebol.