A nova cinebiografia de Bob Dylan simplifica o início de carreira do astro e dilui suas fúrias com o mundo
por
Clara Dell'Armelina
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10/03/2025 - 12h
(Timothée Chalamet e Elle Fanning em cena do filme "Um Completo Desconhecido"/Foto de Macall Polay)
(Timothée Chalamet e Elle Fanning em cena do filme "Um Completo Desconhecido"/Foto de Macall Polay)

         Indicado a oito estatuetas no Oscar de 2025, mas não tendo vencido nenhuma, “Um Completo Desconhecido” (2024) é um filme que faz jus ao nome: o telespectador senta na poltrona de cinema e encara o protagonista do início ao fim como um completo desconhecido – por mais que, pelo menos em teoria, o filme seja uma biografia. Com uma história cansativa e hollywoodiana, cheia de personagens caricatos e estereotipados, as duas horas e vinte do novo longa de James Mangold resumem-se a uma playlist da discografia de Bob Dylan com músicas tocadas a cada dez minutos e a história de sua traição em função de um egocentrismo e de sua personalidade excessivamente presunçosa, traços que me parecem quase obrigatórios em narrativas que Hollywood tenta fazer de grandes artistas.

         No início do filme, o que vemos na tela é um homem sem dinheiro e sem teto chegando a Nova York no ano de 1961. Por uma falta de profundidade no enredo, não sabemos e nem saberemos de onde veio e o que busca. Ele apenas carrega consigo o romantizado sonho de tocar para seu ídolo debilitado no hospital, Woody Guthrie. Durante a visita ao doente, Dylan conhece um amigo próximo de Guthrie, o músico Pete Seeger, que lhe oferece um lugar para passar a noite. As poucas linhas dramáticas no encabeçamento da história - Quem eram as pessoas no carro de Pete? Quem Bob conhece na cidade? Onde ele vai morar? Como ele começa sua carreira musical? - fazem parecer como se as estrelas estivessem alinhadas desde o início para Bob Dylan, dando um caráter inverossímil.

         Seeger tem papel fundamental na introdução de Bob Dylan ao mundo da música, mas o jovem astro parece sempre ter uma postura ingrata para com ele, em função de seu desprezo a se reduzir a gêneros musicais e ao que a indústria musical exige, o que o faz enfrentar seu primeiro conflito profissional: a gravadora, Columbia, rejeita suas músicas originais e só o deixa fazer covers de clássicos folk.

         Fato é que, após o episódio de encontro entre Dylan e o músico Pete Seeger, o filme parece contar uma história atropelada. Com o protagonista, logo em sua primeira noite de um show sem compromisso, tendo a presença de profissionais da indústria musical que imediatamente oferecem-se para representá-lo. E de uma mulher, Joan Baez (Monica Barbaro) também do ramo musical, que parece já admirá-lo reciprocamente. Assim, logo nos primeiros minutos de filme, o protagonista é cercado do sonho americano estereotipado: uma mulher e oportunidade na carreira musical.

         Em uma apresentação, Dylan conhece quem viria a ser sua futura namorada, Sylvie Russo (Elle Fanning), e clichês no momento de traçar as personagens é o que menos falta. Sylvie, por exemplo, é a clássica namorada politizada e pintora, mas que incorpora uma personalidade correta demais para as expectativas de Bob Dylan. Assim, ele encara sua amante e companheira de carreira, Joan Baez, traçada como uma mulher mais solta e tranquila, como uma válvula de escape para o cansaço que seu namoro lhe traz.

(Timothée Chalamet e Monica Barbaro cantando em cena do filme "Um Completo Desconhecido"/Foto de  Divulgação/20th Century) Divulgação/20th Century
(Timothée Chalamet e Monica Barbaro cantando em cena do filme "Um Completo Desconhecido"/Foto de Divulgação/20th Century)

         Mas estes perfis de personagens clichês florescem ainda mais nos empresários responsáveis pela carreira dos músicos: homens brancos, espalhafatosos, com charuto na mão e que reprimem o artista de sair dos padrões – até o momento em que são desobedecidos e o artista alcança seu sucesso supremo.

         O filme apenas retrata seu lado público, aquele que o mundo já conhece. Foca excessivamente em suas relações românticas em detrimento de suas singularidades como pessoa. Não conhecemos o eu de Bob além de sua arrogância, deixando de fora até os Beatles, cuja popularidade deu um exemplo que o atingiu como um raio. Além disso, em certo ponto do filme, James Mangold parece entender que, para contar a história de um astro da música, o essencial é empurrar uma chuva incessante de músicas de sua discografia, contando pouca história e tocando muita música.

         O roteiro parece vincular a mudança estilística de Bob meramente ao seu entusiasmo por Little Richard e Buddy Holly, e ao seu prazer em ouvir o amigo Bob Neuwirth (Will Harrison) tocar guitarra elétrica. No final, o personagem de Bob não expressa nenhum motivo mais básico do que o desejo de não envelhecer cantando “Blowin' in the Wind”, culminando em sua apresentação de rock elétrico no Festival Newport Folk (1965) que gerou opiniões das mais controversas.

         Se a ideia da cinebiografia de um artista é alcançar plateias maiores, além dos próprios fãs, é necessário um certo didatismo para explicar quem é seu protagonista e porque ele mereceu virar tema de um filme. Mas nem isso “Um Completo Desconhecido” (2025) faz. A história superficialmente contada faz com que não conheçamos bem a história de vida do próprio protagonista. Os espectadores que não sabiam da biografia de Bob Dylan, após o filme, passam a saber apenas que lhe desagradava ser encaixado em padrões de gêneros musicais, como o folk, e que era alguém complicado no quesito de relacionamentos, mas em que estas duas informações o fazem merecedor do protagonismo do filme?

 

Um Completo Desconhecido (A Complete Unknown) — EUA, 2024

Direção: James Mangold

Roteiro: James Mangold, Jay Cocks, Elijah Wald

Elenco: Timothée Chalamet, Joe Tippett, Edward Norton, Eriko Hatsune, Peter Gray Lewis, Peter Gerety, Lenny Grossman, David Wenzel, Scoot McNairy, Riley Hashimoto, Eloise Peyrot, Maya Feldman, Monica Barbaro, Dan Fogler, Reza Salazar, David Alan Basche, James Austin Johnson, Joshua Henry, Boyd Holbrook, Elle Fanning

Duração: 141 min

Contrariando expectativas do público, o longa foi o grande vencedor da noite, sendo consagrado em cinco categorias
por
Thaís de Matos
Giovanna Hagger
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10/03/2025 - 12h

“Anora” ganhou o principal prêmio da noite no Oscar 2025 no último domingo (02) em Los Angeles. Além de melhor filme, o longa levou mais outras quatro estatuetas.

A atriz, Mikey Madison, carregando sua estatueta do Oscar ao lado do diretor, Sean Baker, também carregando sua estatueta.
Mikey Madison ao lado de Sean Baker, diretor da película. FOTO: Carlos Barria/Reuters

 

A obra conta a história de Ani (Mikey Madison), dançarina e profissional do sexo, que vê uma oportunidade de sair dessa vida ao se casar com um oligarca russo, Vanya (Mark Eidelstein). A protagonista vê sua felicidade ser interrompida quando a poderosa família do rapaz chega aos Estados Unidos com a intenção de acabar com o casamento.

Na mesma noite, o filme também foi consagrado com os prêmios de Melhor Direção, Melhor Atriz (Mikey Madison), Melhor Roteiro Original e Melhor Edição. Das seis indicações, a produção não conquistou somente a categoria de Melhor Ator Coadjuvante com Yura Borisov, Kieran Culkin em “A Verdadeira Dor” levou a estatueta.

Após o anúncio de “Anora” como Melhor Filme, os produtores Alex Coco, Samantha Quan e o diretor Sean Baker receberam suas estatuetas e destacaram a importância do cinema independente em seus discursos. “À todos os sonhadores e jovens cineastas por aí: contem as histórias que vocês querem contar, contem as histórias que te movem. Eu prometo que vocês nunca vão se arrepender”, disse Quan.

Coco comentou o valor da produção (6 milhões de dólares) e ressaltou que foi toda feita em Nova York com uma equipe de 40 funcionários. “Nós fizemos esse filme de forma independente; se você está tentando fazer filmes independentes, por favor continue fazendo, nós precisamos de mais, essa é a prova.” Por fim, após os agradecimentos a Academia e a equipe, Baker exclamou um pedido de “vida longa ao filme independente”.

Da esquerda para a direita, os produtores Samantha Quan, Sean Baker e Alex Coco.
Da esquerda para a direita, os produtores Samantha Quan, Sean Baker e Alex Coco. FOTO: Monica Schipper/Getty Images

 

"Anora" ter ganho seis estatuetas dividiu a opinião dos críticos cinematográficos e do público. Alguns portais, como o Omelete, acharam muito justo os prêmios recebidos pelo filme por representar as trabalhadoras do sexo no cinema. Entretanto, outros, como o jornal Metrópole, avaliam que a obra reforça alguns estereótipos e que, por sua visão, o público pode acabar subjugando a realidade dessas mulheres.

Além do Oscar, “Anora” também venceu premiações como a Palma de Ouro no Festival de Cannes de 2024, Melhor Filme no Critics Choice Awards e Melhor Comédia ou Musical no Globo de Ouro, fora outros triunfos. 

"Anora" estreou nos cinemas brasileiros em 23 de janeiro de 2025 e atualmente continua em cartaz, sem uma data prévia para entrar nos streamings.

Confira o trailer do filme abaixo:

Mostra “Todo Mundo” exibe equipamentos e produções que exaltam o trabalho do fotógrafo
por
Sophia Razel
Letícia Alcântara
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25/11/2024 - 12h

O Instituto Moreira Salles recebe, até 9 de março de 2025, a exposição gratuita “Todo Mundo”. A mostra celebra a trajetória do cineasta e fotógrafo Thomaz Farkas, exprimindo sua contribuição para o cenário cultural brasileiro. 

Fotos em preto e branco de torcedores no estádio do Pacaembu, em 1942
Fotos de Thomaz Farkas, de  torcedores no estádio do Pacaembu, em 1942 - Foto: Sophia Razel

Farkas, filho de imigrantes húngaros, chegou ao Brasil ainda muito novo, em meados de 1940. Em suas fotos, documentava as diferenças sociais e as nuances do cotidiano com sensibilidade e maestria. O fotógrafo tinha um olhar único e capturava com louvor o cenário e o modo de vida brasileiro. 

Cinco pessoas sentadas assistindo um filme em um telão
Visitantes atentos  assistindo a um dos documentários do cineasta em telão presente na exposição - Foto: Sophia Razel

Um dos seus trabalhos mais famosos, a “Caravana Farkas”, produzido entre os anos de 1960 e 1970, foi um marco no cinema brasileiro. A Caravana foi idealizada a partir do desejo do fotógrafo em explorar e documentar tradições e comunidades que não tinham voz e visibilidade, sendo considerado um marco no audiovisual. 

 

Tela com miniaturas de fotos estampadas em painel
Mosaico fotográfico colorido com imagens do projeto “Caravana Farkas”, que retrata o cotidiano de brasileiros - Foto: Sophia Razel

 

Mulher em pé assistindo um vídeo em uma sala branca. com cartazes na parede
Visitante assiste vídeo da curadora Rosely Nakagawa, próxima à fotografias, documentos e cartazes produzidos por Farkas. Por: Letícia Alcântara
Manuscrito de Thomas Farkas estampado na parede, em que narra seu amor pela fotografia
Manuscrito de Farkas que fala da relação do fotógrafo com a fotografia - Por: Letícia Alcântara
Câmeras fotográficas analógicas em uma estante de vidro
Modelos variados de câmeras clássicas que representam o  profissionalismo e pioneirismo de Thomaz Farkas - Por: Sophia Razel
Pôster vermelho com letras pretas escrito "Fotótica" e, ao lado, pôster bege com fotografias em preto e branco e letras
Pôster da Fopoctica, loja e galeria fundada em São Paulo pelo fotógrafo (à esquerda), e pôster da Cinemateca (à direita) - Por: Letícia Alcântara

Ao colocar seu foco sobre pessoas comuns, o fotógrafo destaca a beleza e a riqueza do Brasil em seus aspectos mais simples, e, ao mesmo tempo, muito significativos.

Fotos em preto e branco do projeto "Caravana Farkas"
Fotos em preto e branco o que contém imagens do projeto “Caravana Farkas”, retratando mais algumas imagens do cotidiano dos brasileiros - Foto: Letícia Alcântara

A exposição está disponível para visitação de terça a domingo, das 10h às 20h. As obras se distribuem entre o 7° e 8° andar do Instituto Moreira Salles, localizado na Avenida Paulista, 2424.

Fotógrafo Thomaz Farkas segurando uma câmera na mão
Imagem de Thomaz Farkas, já mais velho, junto com frase que expressa sua paixão pela fotografia - Foto: Letícia Alcântara

 

Documentário sobre sistema prisional gera debate sobre a sensibilização de reclusos
por
Maria Eduarda dos Anjos
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31/10/2024 - 12h

Dirigido por Débora Gobitta, o documentário “Liberta!” percorre a realidade da ressocialização no Brasil e o impacto que a literatura tem no ecossistema carcerário, dentro e fora das prisões. O objetivo principal é humanizar, sob a visão do público, uma parcela de mais de 663 mil brasileiros privados de liberdade, segundo levantamento da Secretaria Nacional de Políticas Penais (Senappen) em 2024. A obra pontua as origens escravocratas do código penal brasileiro, enquanto coloca o sistema prisional como o “maior navio negreiro da atualidade”, em como as políticas de reintegração social atuais são ineficientes. 

A Lei de Execução Penal, desde 2011, conta com a possibilidade de diminuição de tempo de reclusão por estudo. Dentre as práticas está a leitura, que comprovada pela escrita de uma resenha sobre a obra literária, pode encurtar até 4 dias de penitência. Limitado, o recurso pode ser usado para a leitura de até 12 livros ao ano, rendendo 48 dias. Uma bibliotecária conta que, apesar de começarem a ler pela barganha, muitos excedem o limite de livros por mês para diminuir a pena e adotam a literatura como a companheira do tempo de tempo de prisão. 

O longa retrata uma indignação revigorante também daqueles que dão as diretrizes do funcionamento do sistema penal e não estão de acordo com a herança escravocrata e punitivista que ele carrega, além da parte que a mídia tem em propagar uma histeria coletiva que cria no senso público uma necessidade por medidas como a prisão preventiva, que até o fim de 2023, deteve cerca de 213 mil pessoas em aguardo de julgamento em situações precárias e celas superlotadas. 

cartaz de divulgação do filme/ reprodução
Cartaz de divulgação do filme/ reprodução

O documentário ultrapassa o rótulo de “preso” ou “oficial de justiça”, com  entrevistas que focam no impacto transformador que o contato com a leitura teve em cada um dos detentos, ex-detentos, assistentes sociais, professores e juristas, para tirar do individual exemplos de práticas que poderiam ser a regra do coletivo. A literatura alimenta o universo interno dessas pessoas e desperta um interesse pelo conhecimento que é importante a jornada de vida após a liberdade.

Talvez a história mais tocante foi a da parceria desenvolvida entre Jaime Queiroga, coordenador do Sarau Asas Abertas, e Gih Trajano, poeta e slammer (poeta que participa de batalhas de poesia): ele estava prestes a desistir da poesia, e ela, prestes a entrar de volta para o crime, como contam no longa. O primeiro contato ainda no cárcere foi ruidoso, mas logo desenvolveram uma parceria e amizade que se materializou no “Encontro de Ideias Audiovisuais”, na Cinemateca Brasileira.
Durante o bate-papo após a sessão, os realizadores do filme agradeceram a todos que fizeram aquilo possível e estavam na plateia, em uma maratona de aplausos que mostrava como “Liberta!” se preocupou não só em mostrar, mas ser ferramenta ativa da reintegração de quem já passou pelo sistema prisional. Gih foi imortalizada pela Academia de Letras do Cárcere, e usa a arte como ferramenta de trabalho e de libertação, uma forma de “vingança”, como declama em um dos poemas citados no filme.
Patricia Villela Marino, presidente do instituto Humanistas 360, que auxilia recém egressas a retomarem suas vidas do lado de fora, era uma das convidadas e co-produtoras do documentário, e levou quase uma fileira inteira de integrantes do projeto a se levantarem para receber sua homenagem.

Como documentário de impacto social, a exibição de “Liberta!” é direcionada principalmente a grupos educacionais ou que lidem diretamente com a restrição de liberdade, o que já o levou à Fundação Casa, Penitenciária Maria Julia Maranhão em João Pessoa, UNICAMP e UFRGS, e chegará na Alesp, segundo a produtora Daniela Conde.
Na sessão da Cinemateca Brasileira, após ser questionada sobre o que a sociedade civil pode fazer, responde: “Mobilizar a sociedade civil, e o filme foi pensado para isso. A grande intenção é que ele chegue nos policiais penais, que ainda são muito resistentes à organizações da sociedade civil entrar nos presídios, por mais que haja espaço É claro que ninguém muda o sistema sozinho, mas é uma importantíssima redução de danos, e redução interessa muito”.
 

Com 417 filmes, o festival explora a diversidade da cinematografia mundial
por
Beatriz Yamamoto
Maria Eduarda Jussiani
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30/10/2024 - 12h

A 48ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, o maior evento de cinema do Brasil, começou na quinta-feira, 17 de outubro, trazendo uma ampla seleção de filmes de diversas partes do mundo. Contando com 417 produções de 82 países, a Mostra promete exibir longas premiados e novas vozes do cinema global até o dia 30 de outubro. 

As exibições ocorrem em 19 salas da capital paulista, com grande concentração na região da Avenida Paulista e Rua Augusta, que se transformam no epicentro cultural da cidade durante o evento. Além disso, a Cinemateca Nacional, pela segunda vez consecutiva, é um espaço importante da Mostra, abrigando não apenas sessões tradicionais, mas também apresentações especiais e gratuitas.

Nesta edição, o cinema indiano ganha destaque como tema central, proporcionando ao público brasileiro uma nova perspectiva sobre a diversidade e riqueza da cinematografia mundial. O jornalista Matheus Mans, especialista em audiovisual e membro votante da Online Film Critics Society, comenta a escolha: “Eu fiquei muito feliz e bastante surpreso com a escolha da Índia como tema da Mostra de São Paulo de 2024. Apesar de ser um cinema que está sendo redescoberto fora dos limites da Índia, ainda há um estigma forte no Brasil. Muita gente pensa apenas nas produções com danças e altos valores de produção, mas o cinema indiano tem pérolas maravilhosas.”

 

Poster
Imagem: Reprodução / 48ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo

 

O cartaz da Mostra é uma arte de Satyajit Ray, retirada do storyboard de “A Canção da Estrada” (1955), seu primeiro longa. Ray, cineasta, artista gráfico, compositor e escritor, será homenageado com a exibição de sete de seus filmes, feitos entre  1955 e 1966. Essa homenagem destaca a cinematografia da Índia, que conta com cerca de 30 filmes na programação. As obras refletem a diversidade do cinema indiano, com a participação de diretores, atores e produtores no evento.

A programação também inclui títulos que oferecem diversos olhares sobre o Oriente Médio, com três filmes do cineasta palestino Michel Khleifi, além de obras restauradas do cinema brasileiro. A Mostra homenageia Rogério Sganzerla com a versão digitalizada de “Abismu” e celebra os 40 anos de “Paris, Texas” (1984), os 20 anos de “Os Educadores” (2004) e o centenário do italiano Marcello Mastroianni, com a exibição de “Marcello Mio” (2024), de Christophe Honoré, além de seis filmes estrelados por ele.

Reconhecida por promover o cinema brasileiro, a Mostra oferece visibilidade a novos cineastas. Matheus ressalta a importância do evento para o reconhecimento de novos talentos, mas acredita que ainda há espaço para uma maior valorização: “É importante para o cineasta ser exibido ali, passar por uma validação crítica, mas poderia haver um trabalho mais forte para que esses profissionais tenham uma projeção nacional mais ampla, além da bolha cinéfila.”

A troca de experiências entre cineastas nacionais e internacionais é outro ponto fundamental da Mostra, que ao longo dos anos tem se consolidado como um espaço de diálogo criativo. Mans reforça a relevância dessa interação: “O Brasil precisa dessas parcerias, principalmente em um mercado audiovisual que muitas vezes não tem o investimento necessário para grandes projetos. A Mostra é um ponto importante para fomentar essas conexões.”

Entre as produções destacam-se o aguardado “The Shrouds”, de David Cronenberg, o vencedor da Palma de Ouro “Anora”, de Sean Baker, e a obra nacional “Ainda Estou Aqui”, de Walter Salles, prometendo uma sessão especial com a presença do diretor e elenco. “Com certeza vai ser uma daquelas sessões históricas da Mostra que não dá para perder”, afirma Matheus Mans.

Este ano, a Mostra conta com a 1ª edição da Mostrinha, uma iniciativa voltada para a nova geração, dedicada à infância e à juventude, que apresenta 22 títulos em sessões espalhadas pela cidade. Entre os filmes estão “Ponyo: Uma Amizade que Veio do Mar” e “O Serviço de Entregas da Kiki”, do Studio Ghibli, além de produções nacionais como “Castelo Rá-Tim-Bum” e “O Menino Maluquinho”. A Mostra também exibe 27 títulos com recursos de acessibilidade, incluindo coproduções brasileiras, documentários, ficções e animações.

Os ingressos para o evento variam entre R$15,00 e R$30,00, com opções de pacotes e credenciais permanentes disponíveis para compra online e nas bilheteiras dos cinemas participantes. Além disso, há sessões gratuitas espalhadas pela cidade, tornando o evento acessível a um público ainda mais amplo.

Com uma programação diversa e imperdível, a 48ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo reforça sua posição como um dos eventos mais relevantes do calendário cultural do país.

Para saber mais sobre a Mostra, acesse: 48.mostra.org

A sétima arte vem passando por problemas nos últimos anos
por
Cristian Francisco Buono Costa
Matheus Pogiolli de Oliveira
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27/11/2023 - 12h

Por Cristian Buono (texto) e Matheus Pogiolli (audiovisual)

 

Entrar naquela sala escura onde o cheiro de pipoca quente e a ansiedade pelo espetáculo se misturam é uma experiência que está ficando cada vez mais rara. Os cinemas de rua, outrora um ponto de encontro cultural e social nas cidades, estão diminuindo à sombra da crescente dominação dos serviços de streaming. Os efeitos dos últimos anos no cinema já podem ser observados em gerações mais jovens. Aos 25 anos, Lucas Oliveira, amante de cinema e estudante de audiovisual, afirma que o preço se une à vontade e praticidade, pesando na escolha entre cinema ou streaming.

 

 

Ele demonstra, inclusive, uma vontade maior em acompanhar Blockbusters do que outros filmes, demonstrando uma rotina maior em acompanhar os serviços de filmes e séries em casa.

 

Cinema Room Images | Free Photos, PNG Stickers, Wallpapers & Backgrounds -  rawpixel

A experiência de assistir a um filme no cinema é única e insubstituível. O som envolvente, a qualidade da imagem na tela grande e a atmosfera criada pela coletividade da plateia proporcionam uma imersão impossível de se reproduzir em casa. É como comparar um jantar caseiro a uma refeição em um restaurante gourmet. Ambos são agradáveis, mas a experiência é diferente. Com o advento dos serviços de streaming, a oferta de conteúdo audiovisual em casa é imensa e conveniente. Isso é inegável. Mas, ao mesmo tempo em que as opções aumentam, os cinemas diminuem. As salas estão se tornando obsoletas, como velhos monumentos de um passado glorioso, enquanto as pessoas se afundam em seus sofás e assistem a filmes em suas telas de TV. A perda gradual dos cinemas de rua vem mostrando uma sociedade que está se tornando cada vez mais isolada, onde a experiência coletiva é substituída pela individualidade. 

Segundo dados da Agência Nacional do Cinema (Ancine), a renda de 2023 está consideravelmente atrás quando comparado a 2019, último ano antes da pandemia: considerando o período de 5 de janeiro a 2 de agosto, estão em 75 milhões de espectadores e 1,49 bilhão de reais em arrecadação, enquanto em 2019 os cinemas do país receberam 173 milhões de pessoas e arrecadaram 2,75 milhões de reais.

Gianluca afirmou amar a experiência conjunta do cinema, algo que apenas uma sala lotada pode proporcionar...

Gianluca também afirma que o preço dos streamings é responsável por uma menor procura pelas salas de cinema...


Ele também entende que a praticidade dos streamings auxiliam para o declínio do cinema...


 
File:Busan Cinema Center at BIFF 2020 - 09.jpg - Wikimedia Commons
 

Por conta da crise sanitária causada pela pandemia do Covid-19, os cinemas contaram com grande redução de público. A maioria deles, inclusive, fecharam após os acontecimentos iniciados no ano de 2019. Ainda segundo dados da Anvisa, os cinemas do Brasil receberam em 2020 e 2021 por volta de 39 e 52 milhões de espectadores, respectivamente. Além dos problemas enfrentados pelas questões citadas, os cinemas contaram com um concorrente de muita força e de mais praticidade: os streamings e suas séries. Netflix, Prime Vídeo, HBO MAX e muitos outros serviços “tomaram” o lugar das salas escuras com suas produções cada vez mais qualificadas e tomadas por investimentos milionários, e continuam com grande crescente mesmo após a diminuição brutal das limitações impostas aos cinemas, causadas, é claro, pela pandemia. Segundo a edição de 2022 do estudo “Eu nas Séries”, da NBCUniversal Brasil, cerca de 93% dos brasileiros, algo como 115 milhões de fãs, acompanham séries – em 2018, na primeira edição da pesquisa, essa porcentagem era de 51%.

No universo em constante transformação do entretenimento, a batalha entre o cinema e o streaming revela-se como um duelo cinematográfico épico. Enquanto as telas continuam a ser desbravadas, a magia da sétima arte e a conveniência do streaming convergem e colidem. Seja na atmosfera imersiva da sala escura ou na comodidade da transmissão digital, uma certeza permanece: a paixão pelos filmes persistirá, moldando o futuro do entretenimento para as próximas gerações. O embate entre o tradicional e o contemporâneo cria uma vasta rede de experiências, onde cada tela conta sua própria história, formando assim mais um capítulo na evolução da narrativa visual.

Filho de um dos fundadores do Clube Atlético Juventus, Angelo Agarrelli une o bairrismo ao amor pela equipe mooquense. Além disso, a filha Bianca é peça fundamental para a manutenção do famoso Portal da Mooca
por
Fabrizio Delle Serre
Caio Batelli
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31/10/2023 - 12h

Moleque Travesso da Mooca querida! 

Breve relato de Angelo Agarelli e Bianca Agarelli, pai e filha, donos do Portal da Mooca. Sr Angelo conta da sua história como torcedor juventino e morador do tradicional bairro da zona leste de São Paulo. Por sua vez, Bia apresenta mais detalhadamente sobre o site e página de sucesso.

Vale ressaltar que todas as fotos históricas utilizadas foram retiradas do acervo de imagens do Portal da Mooca.

Apesar das dificuldades de adaptação, imigrantes ainda conseguem achar um tempo de convívio em família.
por
Octávio Alves
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23/10/2023 - 12h
Conheça os cinco integrantes que estão apostando na potência de suas rimas e beats
por
Maria Clara Aoki
Pedro Escaleira de Oliveira
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24/10/2023 - 12h

 Juca, Luanito, TheoRex, Grilo e Diluna, são os integrantes que vocês conheceram no documentário que fala sobre a história do grupo e seus processos de construção artísticos. Suas batidas e rimas nascem dos sentimentos que falam, pensam e sentem.  Um documentário repleto de fotos, entrevistas e muita música, para mostrar que eles vão além de só um grupo, se consideram uma família. 

AGEMT conversa com um produtor de trilhas audiovisuais
por
Beatriz da Cunha Porto, Giovanna Oliveira da Silva e Lorrane de Santana Cruz
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04/09/2023 - 12h

Até o momento não existe uma lei em relação à propriedade intelectual e o uso da inteligência artificial. A falta de legislação facilita que as criações sejam feitas. Em um curto período de tempo, as produções de imagens e músicas por meio de IA ganharam a internet.  Antes quem era apenas um telespectador, hoje pode ser um produtor e é necessário uma atenção para que as desinformações não comecem a surgir e se tornarem perigosas. 

Para esse podcast entrevistamos um usuário da IA que usa a ferramenta para dar à músicas vozes de outros artistas.