Acompanhe como foi a primeira mesa do evento , realizado no Tucarena, teatro da PUC-SP
por
Beatriz Alencar Gregório
João Pedro Lopes Oliveira
Geovana Bosak Santos
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15/03/2024 - 12h

Na quarta-feira (13), a Agência Pública celebrou seus 13 anos de jornalismo investigativo no Tucarena, em Perdizes, em  parceria com o   curso de Jornalismo e a Faculdade de Filosofia, Comunicação, Letras e Artes da PUC São Paulo. O evento "Pública 13 anos: O jornalismo na linha de frente da democracia", contou com três mesas de debate ao longo do dia, reunindo nomes ilustres do jornalismo, da antropologia e do clima. A comemoração discutiu temas como a desinformação, a crise climática e a defesa da democracia.

A primeira mesa, com o tema “Desinformação e Populismo Digital”, foi mediada por Natalia Viana, co-fundadora e diretora executiva da Pública, ela também se graduou em Jornalismo na PUC e mencionou a escolha da universidade para sediar o evento. Segundo ela, “a democracia é a cara da PUC”. Como convidadas, juntaram-se à mesa a antropóloga Leticia Cesarino e a pesquisadora Nina Santos para discutir as ondas de desinformação, a regulamentação da inteligência artificial e o poder das big techs e algoritmos nos sistemas de informação.

Ao final da discussão, também foram abertas perguntas ao público. Geovana Bosak, estudante de jornalismo perguntou: "Como você vê o futuro do jornalismo em um ambiente que está cada vez mais dominado pela manipulação dos algoritmos e pela desinformação?"

Nina Santos:

"O jornalismo está passando por um momento de transformação, porque de fato a economia da atenção, que é o rege o funcionamento das plataformas digitais, acaba mudando muito até a forma de acesso das pessoas ao jornalismo. O que a gente vê nas últimas pesquisas é que as pessoas acessam cada vez mais o conteúdo jornalístico através das plataformas. Ao invés de entrar diretamente nos veículos, elas entram nas plataformas digitais, que são espaços de informação e também de entretenimento, e através dessas plataformas que elas acabam se informando sobre o que tá acontecendo, o que é importante, e sobre o quê que elas precisam agir".

A Agência Maurício Tragtenberg esteve presente na primeira mesa de discussão "Desinformação e Populismo Digital", e gravou um vídeo de cobertura. Para conferir, acesse: 

https://www.instagram.com/reel/C4icdfIOyQo/utm_source=ig_web_copy_link&igsh=MzRlODBiNWFlZA==

 

Como a adesão do sistema de videomonitoramento no Brasil representa a falência da segurança pública
por
Gabriela Figueiredo
Victoria Leal
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27/11/2023 - 12h

Por Gabriela Figueiredo e Victoria Leal 

"Estão criando uma polêmica em algo que a gente já construiu, um sistema que muitas cidades já desenvolvem, que no metrô tem, em vários locais tem, é como se fosse algo muito inovador e na verdade estamos atrasados. São Paulo está correndo atrás de um prejuízo". Ricardo Nunes, prefeito da cidade de São Paulo, sobre o sistema de videomonitoramento Smart Sampa.

O Smart Sampa é o novo sistema de videomonitoramento da cidade de São Paulo, que iniciou, na segunda-feira (7) de agosto de 2023, a instalação de 20 mil câmeras inteligentes de segurança, que integram a tecnologia de biometria facial, com serviços públicos da cidade, para monitoração em tempo real da população. 

O sistema funciona unindo informações captadas dos rostos dos cidadãos pelas câmeras de segurança distribuídas pela cidade, com o banco de dados do sistema de segurança pública da região, para identificar, principalmente, pessoas que cometem infrações, mas segundo prefeito da capital paulista, Ricardo Nunes, a monitoração será utilizada em união com outros órgãos, para identificar possíveis acidentes e chamados voltados para políticas públicas.

O prefeito explicou ainda que “tem que ter mais de 90% de similaridade na biometria facial [para iniciar uma operação de busca] e não teremos a transmissão automática às forças policiais quando for detectado alguém que seja, por exemplo, um procurado da Justiça. Ele vai passar ainda por um comitê integrado à Controladoria Geral do Município para a análise antes do envio”.

A decisão do consórcio que cuidará do sistema passou por um pregão eletrônico, que contou com a participação de 12 empresas, em que o contratado foi o Consórcio Smart City SP, formado pelas empresas CLD – Construtora, Laços Detentores e Eletrônica LTDA, Flama Serviços LTDA, Camerite Sistemas S.A. e PK9 Tecnologia e Serviços LTDA, com previsão de instalação das câmeras em 18 meses, por um custo mensal de R$ 9,8 milhões.

 

HISTÓRICO

O sistema de videomonitoramento já tem seu histórico no Brasil, com instalações no Rio de Janeiro e Bahia. Em uma pesquisa publicada em novembro deste ano, pela Rede de Observatórios da Segurança - grupo criado em maio para coletar indicadores que não são divulgados oficialmente - de março a outubro, foram detidas 151 pessoas com o uso de tecnologias de reconhecimento facial, sendo 52% dos casos na Bahia, 37% no Rio de Janeiro e 7% em Santa Catarina.

A organização não oficial levantou os dados usando reportagens de veículos de imprensa, páginas das polícias e de outras organizações e órgãos nas redes sociais. Ainda, segundo a pesquisa, o perfil das pessoas presas segue a tendência da população carcerária, sendo 90% das pessoas negras, 88% homens, com idade média de 35 anos e com abordagens por tráfico de drogas e roubo.

E é aqui que o histórico passa a ter seu contrapeso na implementação da tecnologia. Em um primeiro teste executado durante os quatro dias de Micareta, em Feira de Santana, Carnaval fora de época que acontece no município próximo a Salvador, mais de 1,3 milhão de pessoas tiveram seus rostos captados e 903 chamados foram gerados, mas apenas 33 mandados de prisão foram cumpridos.

No Rio de Janeiro, uma mulher e um homem foram detidos por engano em Copacabana, em julho, com acusação de homicídio, em que, no processo de investigação do caso, foi descoberto que a procurada já estava na prisão havia 4 anos.

A professora do Programa de Tecnologias Inteligentes e Design Digital (TIDD) PUC SP, Dora Kaufman, explica que "o reconhecimento facial é uma das aplicações da técnica de aprendizado de máquina, subcampo da inteligência artificial", a aplicação serve para diversas atividades, desde reconhecimento de imagens em pesquisas no Google até biometria facial, em que o algoritmo aprende com base exemplos extraído de dados.

No caso da biometria facial, um dos obstáculos é processo de reconhecimento do rosto, que não chega à precisão completa. O cálculo acontece a partir da distância entre alguns pontos do rosto e comparação com o banco de dados. Quando um certo grau de semelhança é emitido, o alerta é direcionado.

A professora ainda aponta que “existem estudos de ONGs indicando que mais de 20 secretarias de segurança de cidades brasileiras estão usando esses sistemas, com falhas significativas. O problema é alguém ser reconhecido equivocadamente, ou seja, ser preso sem ter incorrido em nenhum crime simplesmente porque o sistema falhou”.

 

O CICLO SE REPETE

Com 90% de identificação da população preta em alvo do sistema e uma das maiores porcentagens da instalação de câmeras na zona mais rica da cidade - 3.300 câmeras na região central, 6 mil na Zona Leste, 3.500 na Oeste, 2.700 na Norte e 4.500 na Sul -

Amailton Azevedo, professor do Programa de Estudos Pós-graduados em História e do Departamento de História da Faculdade de Ciências Sociais da PUC-SP, aponta que "trata-se de outros mecanismos para renovar e sofisticar o racismo made in Brazil. Se há a tese de que considera o racismo brasileiro se manifesta de modo silencioso e velado, de outro, pode-se defender que políticas de segurança como essas tornam explícitas as soluções brancas para problemas negros e mestiços".

O prefeito Ricardo Nunes afirmou ainda que “quem tem que estar preocupado é quem fez alguma coisa contra a lei, mas quem não tem nada contra a lei, fique despreocupado. Alguém que fez algo contra a lei, alguém que traz transtorno para a sociedade, acho que essas pessoas têm que estar preocupadas”.

Em uma alusão com o mundo real, o anime japonês “Psycho-Pass” mostra, ainda no primeiro episódio, como o sistema de monitoramento por inteligência artificial pode ser falho a ponto de pôr em risco a vida da população que “não tem nada contra a lei”. O episódio apresenta um medidor de “potencial de criminalidade”, monitorado pelo Estado, que após atingir certos estágios, pode levar a prisão ou execução.

Após sofrer um trauma por tentativa de abuso, a personagem vítima tem seu psycho-pass elevado a nível de execução, mesmo sem nunca ter apresentado qualquer sinal natural do “potencial de criminalidade”.

Sendo 90% de potencial de identificação do sistema de monitoramento ou 90% dos alvos sendo pessoas pretas, a falta de precisão do Smart Sampa e de qualquer outro sistema vira mais um agravante para um problema estrutural da sociedade.

 

IMAGEM DE CAPA: Reprodução Portal Outras Palavras

Qualidade da água do rio continua muito ruim, mas margens recuperadas já trazem benefícios para a população
por
Lucas Gomes
Matheus Marcolino
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21/11/2023 - 12h

Por Lucas Gomes (texto) e Matheus Marcolino (audiovisual)

 

Jhonatan Barbosa cresceu e passou grande parte de sua vida adulta em Cidade Tiradentes, extremo da Zona Leste de São Paulo. O dia a dia na periferia não era fácil. Ele começou a trabalhar aos 14, em buffets nas festas dos ricos do centro da capital. Já que a rotina de horas e horas dentro do transporte público era extremamente desgastante, sonhava em viver em um grande centro. E esse sonho é antigo: quando criança, nos anos 1990, sua mãe costumava levá-lo a um consultório médico na avenida Paulista. No caminho, passavam por hospitais e grandes monumentos da cidade, além da Marginal Pinheiros, que margeia o rio. Ele via os prédios na região da Vila Olímpia com espanto. Parecia uma outra realidade. 

Em 2019, Jhonatan conheceu sua atual esposa. Na época, ela morava numa kitnet em Santo Amaro, Zona Sul da capital. Com o início da pandemia, em 2020, ele decidiu se mudar para lá. O sul oferecia a Jhonatan o que o leste não tinha: além de conseguir morar perto do trabalho, agora ele e a companheira tinham opções de lazer, como as margens do Rio Pinheiros, que vive um processo de despoluição há quatro anos. Inaugurou-se um programa de casal: andar de bicicleta, caminhar, ou até mesmo fazer yoga no recém-inaugurado Parque Bruno Covas. Criou-se uma relação com um rio que estava morto.

O Rio Pinheiros sempre fez parte da história de São Paulo. Ele foi navegável até o início do século passado, quando o interesse do setor energético impulsionou uma mudança: o curso do Pinheiros mudou, e o rio passou a correr em direção à represa Billings, construída para servir como um reservatório para geração de energia hidrelétrica. Nos quase 100 anos que se passaram desde então, o Pinheiros foi um dos rios mais violentados pela população e pelo poder público, e se tornou sinônimo de sujeira, mau cheiro e descaso.

Em 2019, João Dória, então governador do Estado de São Paulo, fez uma promessa bastante ambiciosa: despoluir o Rio Pinheiros até o fim de 2022. O programa “Novo Rio Pinheiros” previa o investimento de mais de R$ 1,5 bilhão, que focaria no tratamento de esgoto para impedir que lixo e dejetos continuassem chegando ao rio. 

O mapeamento “Observando os Rios”, da ONG SOS Mata Atlântica, acompanha a situação do Rio Pinheiros e dá uma nota para a qualidade da água em três pontos de medição: Ponte João Dias, Ponte do Jaguaré e Ponte da Cidade Jardim. Desde o início do monitoramento mensal, em agosto de 2021, somente em duas vezes os pontos de medição não receberam a nota mínima (péssimo): em outubro de 2021, João Dias recebeu nota “ruim”, sendo o mesmo caso da Ponte Cidade Jardim, em janeiro deste ano. 

César Pegoraro, biólogo e integrante da Equipe de Água da SOS Mata Atlântica, conta que, passados quatro anos desde o início do programa Novo Rio Pinheiros, os avanços são inegáveis, mas a situação segue calamitosa. Foram registradas 650 mil ligações de domicílios à rede de esgoto, diminuiu-se a carga orgânica do rio, mas o estado da água do Pinheiros ainda é horrível. “A gente ressuscitou um rio e conseguiu devolver esse rio à UTI. Ele não é um rio saudável”, explica.  Na visão de César, João Dória cometeu um erro ao estipular uma data de entrega, já que a natureza tem um tempo próprio - e, às vezes, resultados concretos podem demorar a chegar.

A principal métrica usada no mundo para medir a limpeza de um rio é a de DBO (Demanda Bioquímica de Oxigênio). Ela determina quanto oxigênio é consumido em cada litro de água por causa da poluição. Em 2022, a gestão Dória afirmou que a meta estava sendo cumprida. “Dos 13 pontos de monitoramento do rio, 11 já apresentaram o chamado DBO abaixo de 30 mg/L, quantidade mínima para que a água não tenha odor, melhore a turbidez e permita vida aquática”, relata, em nota, a Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística (SEMIL) do Governo do Estado de SP. 

José Carlos Mierzwa, chefe do Departamento de Engenharia Hidráulica e Ambiental da Escola Politécnica (POLI) da USP, conta que um DBO de 30 mg/L não é o ideal para um rio vivo. Segundo ele, para que haja vida aquática é necessário um DBO na faixa dos 5 mg/L. O projeto de despoluição é coordenado pela SEMIL-SP e conta com participações da Sabesp e da Cetesb. 

Os órgãos e empresas citadas foram procurados, mas não responderam até o fechamento da reportagem. 

O CHEIRO 

Jhonatan conta que sentiu uma melhora no odor vindo do rio Pinheiros durante os últimos anos. O cheiro não incomoda seu trajeto para o trabalho ou quando ele sai com sua companheira para caminhar no Parque Bruno Covas, por exemplo. Na estação Cidade Universitária, da Linha 9-Esmeralda, porém, a história é outra: um odor forte de esgoto é notado pelos usuários do transporte público. A estudante Ana Carolina diz que o cheiro se intensifica em dias de chuva ou de calor, que estão se tornando cada vez mais comuns na capital.

Pegoraro explica que as diferenças entre os diferentes pontos do rio se dão pelos muitos afluentes do Pinheiros e do processo de saneamento nas regiões atendidas por eles. Enquanto nos arredores do Parque Bruno Covas o rio é mais verde e o tratamento de esgoto é localizado e avançado, regiões como a da estação Cidade Universitária ou do Parque Villa-Lobos sofrem para tratar grandes quantidades de esgoto. Os rios Pirajussara e Jaguaré, principais afluentes dessas localidades, ainda têm uma carga orgânica maior - o que acaba deixando o cheiro mais forte.

A IMPORTÂNCIA DO RIO

Um rio vivo impacta a comunidade de seu entorno de muitas formas, mas duas são as mais destacáveis. O primeiro - e mais imediato - aspecto é o da oferta de lazer. O Rio Pinheiros, por exemplo, teve suas margens revitalizadas, e pessoas como Jhonatan e outros moradores da Zona Sul ganharam uma nova opção de convívio com a família, amigos e natureza, mesmo que nem todo ambiente esteja próprio para isso. A despoluição de rios é uma boa oportunidade para o setor de turismo, e o caso do Rio Sena, na Europa, chama atenção: antes tido como “morto”, o canal francês agora é favorito a receber competições de natação nas Olimpíadas de Paris, em 2024.
 

O segundo aspecto impactado por um rio vivo é a saúde física e mental da população. A baixa qualidade da água dos rios vem, principalmente, do mau tratamento de esgoto - que afeta especialmente os mais pobres. Um relatório da OMS, divulgado em 2013, apontou que cada dólar investido em saneamento gera 4,3 dólares de economia na saúde global. “Saneamento é qualidade de vida e saúde pública”, afirma José Carlos Mierzwa, que acredita que o investimento do poder público nesse sentido é extremamente necessário.

A saúde mental também não fica para trás. Publicado em 2010, um estudo da Universidade de Chiba (JAP) aponta que a convivência com áreas verdes reduz o estresse e a pressão arterial. “Teríamos muito mais saúde se tivéssemos rios mais limpos. (...) Ajudariam muito a melhorar a saúde mental das pessoas e a diminuir a violência urbana”, aponta Pegoraro. 

Apesar dos avanços tímidos nos quatro anos do Novo Rio Pinheiros, o poder público e a sociedade civil devem continuar engajados no processo de recuperação do rio. Assim, quem sabe, o próximo passo pode ser tirar o Pinheiros da UTI.
 

Como a falta de regulamentação das plataformas digitais modula o comportamento civil e estatal
por
Amanda Tescari
Fernanda Querne
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12/11/2023 - 12h

Por Amanda Tescari (texto) e Fernanda Querne (audiovisual) 

 

A modernização contínua das sociedades atuais a partir dos avanços tecnológicos alavancou diversos questionamentos acerca dos rumos da coletividade. No âmbito político, o neoliberalismo se alia ao fator tecnológico, formando uma nova forma de enxergar a realidade que nos cerca: a tecnocracia. Essa sistemática se dá com base na credibilidade da atuação do Estado alicerçada no conhecimento técnico enquanto verdade científica, de modo que esta se mistura com a ideologia política.    

Por mais que esteja vestido sob os trajes de neutralidade, este estudo teórico continua submetido à estrutura mercadológica, sujeito aos interesses de quem a controla - as big techs - razão pela qual é de grande importância a regulamentação do meio digital, viabilizando uma maior segurança dos dados e informações fornecidos online. 

 É possível entender a virada tecnológica feita pelas grandes corporações a partir do livro “A cidade Inteligente: Tecnologias urbanas e democracia”. Os autores são Evgeny Morozov e Francesa Bria. Morozov publicou Big Tech: a ascensão dos dados e  a morte da política. Já a edição de 2018 da Forbes citou Bria como uma das cinquenta mulheres mais influentes da Tecnologia pelos seus projetos focados em democracia digital. 

O livro explica como o neoliberalismo faz parte do conceito das cidades inteligentes, as quais continuarão buscando soluções digitais corporativas - em especial das plataformas digitais, dando magnitude aos nossos dados a partir dos sistemas algoritmos - lugares de controle e modulação de comportamentos. Surge então o questionamento sobre a ideia de neutralidade tecnológica e modernização constante. Isso porque as smarts cities se beneficiam deste tipo de governo, no qual a sua administração passa por uma descentralização. Assim, mesmo tendo que seguir alguns dispositivos regulatórios de governança, há uma ausência  de regulamentação das plataformas. 

 

                                           

                                            Legenda: Carro elétrico em Yokohama, Japão Foto: Smart Cities World

 

No universo das redes sociais, essa regulação também assume um papel primordial. Isso porque, em razão da rapidez exacerbada inerente aos tempos atuais, os indivíduos acabam por experienciar cada vez mais a sensação de pressa e inquietação. Decorrente disso, as redes sociais acabam por ocupar um papel de “poupar” o nosso tempo, e dentro deste contexto, tornam-se o meio mais prático de observar e compreender o que está acontecendo no mundo. 

Sobre o tema, o professor da Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP) Marcus Bastos opina, dizendo sobre a importância do regulamento das redes sociais, já que estas se transformam em um vetor dominante da construção do imaginário das pessoas e podem ser extremamente problemáticas em função da polarização, discursos de ódio e das fake news.

Não apenas ele, o advogado especializado em direito digital Bruno Bícego também destaca a importância da regulação dos ambientes online. Atuando de maneira próximo ao universo aqui elucidado, ele evidencia a questão sob seu aspecto político, enfatizando que a regulamentação em nada se confunde com o impedimento da liberdade de expressão, direito assegurado aos cidadãos brasileiros. 

Ao contrário disso, Bruno ainda expõe, em uma conversa realizada também digitalmente, sobre como a regulamentação precisa visar responsabilizar estas big techs, que atuam promovendo e investindo em campanhas em massa de propagação de fake news, de discurso de ódio ou até manipulação da opinião pública e de processos eleitorais e, consequentemente, colocando em risco a nossa democracia. 

A questão política resta, então, cada vez mais sensível dentro deste cenário. Os nossos dados são valiosos para o algoritmo e, dentro de um ciclo quase que interminável, os conceitos de informação e propaganda política se misturam na formação da opinião pública. Através da coleta e análise de dados de maneira extremamente personalizada, é possível delimitar perfis cada vez mais assíduos dos usuários, o que faz com que as grandes corporações estejam até mais íntimas de cada indivíduo do que eles mesmos. 

Para o professor, isso implica numa grande capacidade de manipulação em termos de marketing ou propaganda política. Durante a conversa, ele versa também sobre o fenômeno da pós -verdade e das fake news, destacando que, inicialmente, a pós verdade surge no sentido de derrubar narrativas que expliquem o mundo de forma absoluta. 

Contudo, a disputa de narrativas leva a uma dificuldade de encontrar consensos objetivos sobre muitas coisas - inclusive, às vezes, sobre fatos nomeadamente incontroversos. Com o algoritmo cada vez mais direcionado aos próprios interesses de cada um, torna-se mais palatável acreditar em tudo aquilo que aparece em nossos feeds, e, desta maneira, a checagem dos fatos torna-se cada vez mais acessória no processo de consumo e compartilhamento de informações. 

Conforme as pessoas ficam cada vez mais restritas a seus círculos e bolhas, essa dinâmica se acentua, pois elas perdem o acesso ao contraditório, fazendo com que se tornem cada vez mais convictas de suas visões de mundo. A discussão acerca da importância da regulação das redes sociais é de suma importância nessa geração tão tecnológica. No Brasil, entre as discussões no Supremo Tribunal Federal e o Congresso Nacional, o debate sobre o tema aguarda os próximos capítulos para que tenha seus detalhes mais bem delineados. 

 

 

Estudo comandado pela NewsGuard aponta que 20% das buscas na plataforma trazem desinformação
por
Sophia Pietá Milhorim Botta
Isabella Santos
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06/11/2023 - 12h

Após o sucesso estrondoso da rede social chinesa Tiktok, durante a pandemia de Covid-19, a plataforma ultrapassou seu posto de postagens de danças, entretenimento e brincadeiras para uma rede em que as fake news e a disseminação de conteúdos ofensivos e mentirosos dominaram os perfis dos usuários. Desde desinformações sobre política, cultura, ciência e até sobre a manipulação de vozes e imagens através da inteligência artificial. Um caso recente foi a recriação da voz do ex-presidente dos Estados Unidos Barack Obama se defendendo de uma nova e explosiva teoria da conspiração sobre a morte repentina de seu ex-chefe de cozinha, em uma falsificação convincente para criar narrativas falsas na internet. “Embora eu não consiga compreender a base das alegações feitas contra mim, peço a todos que se lembrem da importância da união, da compreensão e de não se precipitar em julgamentos”, diz a voz. 

Uma pesquisa realizada pelo Instituto Francês de Opinião Pública (Ifop), em 2023, apontou para uma preocupação entre os jovens: a desconfiança na ciência. E um dos grandes motivos seria a forte propagação de fake news nas redes sociais, principalmente no TikTok. Por meio de vídeos rápidos, com muita imagem, áudios e legendas claras, usuários que não se identificam e criam perfis sem nomes reais, disseminam uma série de conteúdos falsos, utilizando de imagens adulteradas e inverdades para convencer o público, principalmente os jovens que ainda estão em formação estudantil. A “Geração Tik Tok”, como ficou conhecida, se torna refém, uma vez que elas nascem sabendo mexer nos celulares, computadores e são experts nas redes sociais. Isso faz com que esses jovens se informem somente das plataformas digitais, não leem um livro, jornal ou revista, todo o conhecimento deles vem das informações expostas nessas plataformas em que as fake news e teorias da conspiração dominam os conteúdos.

Um exemplo é o atual conflito de Israel X Hamas, que dominou a internet e o Tiktok vem sendo acusado de espalhar desinformação e conteúdos ilegais em sua plataforma. Vídeos de outras guerras antigas, áudios de outros conflitos e informações falsas sobre a cultura desses povos são espalhados rapidamente tendo um alto alcance em todo o mundo. Recentemente um comentarista político francês Jackson Kinkle fez uma postagem via Twitter alegando que estaria acontecendo protestos na França Pró-Palestina compartilhando um vídeo que alegava ser o protesto. Após internautas checarem a veracidade, foi constatado que o vídeo se tratava da torcida do time brasileiro de futebol Palmeiras em uma comemoração durante um partida contra o Boca Juniors. 

Após casos de fake news, preconceito cultural e muita desinformação, o comissário europeu Thierry Breton enviou uma carta direcionada ao CEO da plataforma, Shou Zi Chew, em que o Tiktok teria 24 horas para remover conteúdos irregulares divulgados na plataforma ou deverá arcar financeiramente com multas. Segundo Breton, a rede social deve ser “oportuna, diligente e objetiva” na remoção de informações erradas. “Em primeiro lugar, dado que a sua plataforma é amplamente utilizada por crianças e adolescentes, você tem uma obrigação especial de protegê-los de conteúdo violento que retrata a tomada de reféns e outros vídeos explícitos que supostamente circulam amplamente na sua plataforma, sem as devidas salvaguardas”, escreveu Breton.

Por se tratar de uma plataforma 100% gratuita e que proporciona um alto alcance e monetização aos usuários que tiverem seus vídeos viralizados, o sensacionalismo acaba dominando os conteúdos. Através de imagens explícitas, efeitos de voz, sonoplastia e pouca fiscalização, o deep fake publicado alcance pessoas ao redor do mundo de diferentes idades, fazendo com que segundos se torne fatal para a desinformação generalizada.

Segundo um estudo da NewsGuard, empresa de segurança dos Estados Unidos, 20% das buscas no Tiktok trazem desinformação. O estudo do “pesquisar” do aplicativo foi constatado que dos 540 vídeos analisados, 105 foram classificados como conteúdos contendo informações falsas. Executivos do Google reconheceram o Tiktok como mecanismo de busca padrão da Geração Z, esse fato explica a falta de informação verdadeira propagada pelos jovens. 

 

Literatura foi por muito tempo a principal forma de entretenimento da população, mas com as tecnologias isso mudou
por
Felipe Volpi Botter
Felipe Bragagnolo Barbosa
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16/10/2023 - 12h

A tecnologia é algo que facilitou e muito a vida da população, em praticamente todas as áreas, mas é fato que nas últimas décadas, a humanidade vem perdendo o hábito de ler. Uma pesquisa realizada em 2019 pela Kantar Media, no Reino Unido, mostra que só 51% dos adultos haviam lido pelo menos um livro no ano anterior. Existem diversas tecnologias que podem estar tirando a atenção das pessoas, como é o caso dos streamings, dos videogames, entre outras. Para o professor Pedro Ivo, em entrevista para AGEMT, "as pessoas têm ficado cada vez mais imediatistas, querendo coisas mais fáceis e rápidas de consumir, e cada vez em maior quantidade. Exemplo disso é o TikTok, que traz trechos curtos de músicas, sempre se renovando, ou seja, você absorve grande quantidade e variedade de informações, sem reter o conteúdo".  

Os livros estão na contramão disso: pra ler um livro você demora muito mais tempo, e não consegue atingir a mesma quantidade do que conteúdos curtos e imediatos. A produção também é muito mais demorada: escrever um livro demora muito mais do que produzir um vídeo ou uma música para o TikTok. Por isso, as novas mídias acabam sendo mais fáceis e rápidas de consumir que os livros. O que também significa menos profundidade e menos qualidade de reflexão, entretenimento e edificação. "A troca dos livros, por essas mídias digitais, significa um empobrecimento cultural das pessoas, que se tornam mais imediatistas e menos profundas” , diz Ivo. 

O Kindle vem sendo uma opção muito utilizada pelos leitores da atualidade.  “Minha opinião neste caso é inteiramente pessoal. Eu prefiro livro físico, porque me dá mais liberdade e visão mais ampla. No livro físico eu consigo interagir melhor com minhas anotações, com meus grifos, com minhas reflexões e, eu posso ir e voltar", declara Ivo, que acrescenta, sobre uma conversa que a esposa teve com uma amiga psicóloga, quando disse que "as telas, como as do Kindle ou de celulares e computadores, empobrecem o trabalho cerebral, porque só uma parte do cérebro trabalha. Quando mexemos com o livro físico, com visão ampla, mais setores do nosso cérebro são utilizados.” 

Como último questionamento, foi perguntado ao Ivo se ele acredita que essa diminuição da leitura vai continuar crescendo, ou ainda teremos uma volta das pessoas para ela, e ele comenta o seguinte. “Não posso prever o futuro, mas o que vejo com o presente é o abandono dos livros e a preferência pelas mídias. Infelizmente, não vejo uma reviravolta que retorne ao livro, não no presente”. 

A baixa da leitura resulta em um mercado onde assistimos pedidos de recuperação financeira ou até mesmo falência de grandes livrarias. Mas por quê? Um dos motivos é que o brasileiro lê muito menos comparado ao resto do mundo, em média 4 livros por ano, se comparada com o Canadá por exemplo, é pífia, os canadenses em média leem 12 livros por ano.  Um dos agravantes é a diminuição da compra de livros vindo do estado, em que comprava e distribuía os livros para escolas, faculdades e entre outros. Essa queda é resultado da grande crise de 2015 e agravando ainda mais a pandemia de Covid-19. A chegada da Amazon agravou mais ainda, os preços muito mais abaixo e a logística e facilidade de entrega, sem contar o sucesso do Kindle. 

As empresas brasileiras não acreditaram na tecnologia e evolução da leitura, de acordo com o vídeo do canal Elementar do Youtube, Pedro Herz, dono da livraria Cultura, em entrevista em 2011, disse não acreditar nos E-Books e no futuro do Kindle. Tiveram a oportunidade de crescer com a tecnologia, mas estagnaram e o mercado não perdoou.


 
 

Como a tecnologia tem mudado a forma de fazer filmes
por
FABIANA CAMINHA
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03/10/2023 - 12h

A indústria cinematográfica é mais um dos setores que sofreram uma transformação significativa na última década devido à influência da inteligência artificial (IA). Desde os processos iniciais, como a elaboração do roteiro e a seleção do elenco, até a pós-produção, os efeitos especiais e a distribuição da obra, hoje em dia tudo tem uma ajudinha da IA. A partir de uma base de dados, essa tecnologia gera respostas automatizadas que agilizam o processo da produção de filmes e permitem que as empresas aumentem a eficiência das operações ao mesmo tempo em que reduzem os custos laborais.

No entanto, o uso da IA no cinema tem sido objeto de discussão após o início da greve dos roteiristas de Hollywood. A manifestação surgiu a partir da ameaça ao trabalho dos escritores, que podem ter seu trabalho substituído por máquinas automatizadas. A utilização da IA nesse sentido tem levantado importantes questões éticas e legais relacionadas a direitos autorais e à privacidade dos profissionais envolvidos.

Greve dos roteiristas.
Greve dos roteiristas de Hollywood. Reprodução: AP Photo

A manifestação desses trabalhadores americanos chegou ao fim depois de 148 dias de greve. De acordo com o G1, o sindicatos dos roteiristas fez um acordo provisório para retornar ao trabalho enquanto a questão ainda está sendo discutida. Essa foi a primeira disputa trabalhista envolvendo o uso de IA e alguns pontos cruciais foram estabelecidos. Por exemplo, ficou acordado que as produtoras devem informar sempre que usarem material produzido por IA e nenhum software de inteligência artificial poderá ser creditado como escritor ou roteirista. Além disso, os estúdios não podem exigir que um roteirista utilize a IA em seu trabalho. Não há proibições quanto ao uso de roteiros para treinar esses sistemas, mas os escritores têm o direito de saber que seu trabalho foi utilizado dessa forma.

Essa greve representa a preocupação por parte dos trabalhadores em relação ao futuro da inteligência artificial. Segundo o cineasta e professor da Academia Internacional de Cinema, André Moncaio, é necessário usar a tecnologia sem desvalorizar o trabalho do profissional. “É claro que essas inovações tecnológicas moldam um futuro promissor para a indústria, mas a IA nunca vai ser capaz de substituir a criatividade humana”.

Ainda que esse tipo de produção não seja comum, um sistema de inteligência artificial criou um filme sozinho. O BenjaminAI criou o filme de ficção científica “Zone Out”, em 48 horas. Embora o filme tenha apenas 5 minutos de duração, ele foi escrito, produzido, dirigido e editado através da IA. A obra é de 2018 e não surpreende por sua qualidade, mas não deixa de ser um evento marcante na história do uso da inteligência artificial na produção cinematográfica. "A inteligência artificial já revolucionou o modo de fazer cinema. Não são só os estúdios gigantes de Hollywood que usam essa tecnologia para facilitar a produção dos filmes, hoje isso já é mais acessível e a IA está em praticamente todo lugar. Mas assim, apesar de melhorar e simplificar vários processos da produção, a arte vem da mente humana. A emoção vem da mente humana. Isso não tem como ser substituído. O cinema precisa de emoção”, diz Moncaio ao G1. 

Simpósio internacional traz a história da internet e as perspectivas dos profissionais para o futuro da área
por
Beatriz C. Porto, Giovanna O. da Silva e Lorrane de Santana Cruz
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02/10/2023 - 12h

Nos dias 11 e 12 de setembro aconteceu o 2° TechnoIN - Simpósio Internacional em Tecnologias da Inteligência, desenvolvido pelo Grupo de Pesquisa em Transformação Digital e Sociedade, do Programa de Pós Graduação em Tecnologias da Inteligência e Design Digital. O objetivo do evento é criar um diálogo entre estudantes, pesquisadores e profissionais do Brasil e Canadá. 

No dia 12, o painel 2: A história da internet e a evolução da IA (Inteligência Artificial), contou com a presença de Claudio Pinhanez, Demi Getschko, Dora Kaufman, Solange Luz e Soumo Mukherjee. Os pontos principais desta palestra foram contar o surgimento da internet, o treinamento de IA e debater sobre o que poderá acontecer no futuro com a Inteligência Artificial.  

Demi Getschko é professor da PUC-SP, e abriu a palestra falando sobre a história da internet apresentando sua perspectiva profissional. "A internet começa a partir de uma pesquisa em um laboratório de pesquisas avançadas dos Estados Unidos, chamado Arpanet". Getschko, conta que conviveu com alguns dos pesquisadores da internet. "Tenho vários estudos desses pioneiros que estão vivos e eu tive a sorte de conhecê-los bem". 

Explicando um pouco, sobre o contexto histórico do que viria a se tornar internet e como funcionava ele explica: "certamente a Arpanet nasceu com o dinheiro militar, é um projeto feito com o financiamento militar, assim como o GPS".  "Arpanet era uma rede de troca de pacotes o software original servia para realizar essas trocas. Quando mudado, foi implementado no lugar dele um conjunto chamado TCP ou TCPI". Esse IP foi nomeado de internet protocol, ou seja, protocolo de internet. 

Já Claudio Pinhanez, do IBM Research Brasil, contextualizou a história da Inteligência Artificial no mundo. "Vou tentar falar sobre IA como alguém que trabalha há 35 anos nessa área. Comecei a trabalhar em torno de 1987, antes do Brasil entrar na bitnet". Ele continua, "eu gostaria de usar esse espaço para a gente entender o que está acontecendo em Inteligência Artificial e todo esse enorme fuzuê que ronda o assunto, já que todo mundo virou especialista sobre o assunto". 

Tentando desmentir conspirações e fakes news criadas sobre esse tema, ele verbaliza, "É preciso dar um contexto para colocar calma, paciência e a gente se conter um pouco no que a gente está falando sobre IA". 

Apesar de um debate muito atual no meio digital, a inteligência artificial não é algo criado e pensado recentemente. "O que está acontecendo na IA não é novo, nós estamos na quarta, quinta onda com excitação em volta do assunto". Ainda falando sobre o seu trabalho, Pinhanez conta sobre uma exposição que aborda inteligência artificial. "A IBM atuou com o Museu Catavento, nós montamos uma exposição para ensinar a respeito da IA para crianças e famílias. Eu montei um mural com os momentos que considero importantes". 

Voltando algumas décadas, mais especificamente em 1950, Cláudio conta que já havia pesquisas sobre as máquinas inteligentes. "O pesquisador britânico Alan Turing, ficou intrigado ao mexer com sistemas avançados de computação no contexto da época, ele pensou na ideia de que esses sistemas iriam virar inteligentes". Algumas décadas depois, em 1990 o profissional da IBM, diz que é uma época interessante e que se os problemas eram as máquinas, era necessário adicionar mais máquinas. O aprendizado dessas tecnologias é uma característica muito forte". 

E por fim, o último convidado foi o professor da Toronto Business College, Soumo Mukherjee. Que iniciou sua participação dizendo concordar com os demais participantes do painel. "Primeiro eu gostaria de dizer sobre as duas fases da internet, quero falar do passado e do futuro. Nós temos uma especulação sobre a ideia de enciclopédia final, ela seria um repositório de informações humanas. Mas eu aprendi que isso não existe, é apenas uma teoria sobre ficção". 

Ainda sobre essa teoria Soumo diz que, "essa ficção está ali já quase imediata, duas décadas depois nós tínhamos a Wikipedia, e ela não está na nuvem". Finalizando, o professor Mukherjee explora o assunto IA. "Agora nós temos um crescimento explosivo de inteligência artificial, não tem singularidades, mas os trabalhos estão mudando isso é uma realidade. Isso é trabalho para cientistas de dados, e o que devemos fazer é procurar soluções para assim ter dados de uma forma rápida, que possam ser processados", completa o professor.

 

Rock in Rio e The Town viralizam graças à tecnologia e a inteligência artificial
por
Isabella Santos
Sophia Pietá
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02/10/2023 - 12h

Os festivais de música são uma forma de entretenimento que vem se tornando grandioso a cada ano. Rock in Rio, Lollapalooza, The Town, Tomorrowland, são grandes exemplos que procuram trazer para o público a música, diversão e tecnologia. Sempre inovando, a indústria do entretenimento procura se reinventar trazendo novidades para uma experiência única ao público. No século da tecnologia marcado por celulares, redes sociais e inovações, a organização dos maiores festivais busca se encaixar nesse padrão. Com pontos de carregamento para smartphones, aplicativos em tempo real, ativações publicitárias e transmissões ao vivo, os eventos se tornaram mais confortáveis e adaptáveis à realidade da atual sociedade. 

No Rock in Rio 2022, por exemplo, foi criado um aplicativo do festival que possibilitava os presentes no evento acessassem informações em tempo real com os horários dos shows do dia, o palco indicado, ferramentas exclusivas aos PCDs, horário de chegada e saída dos ônibus do evento, marcas parceiras e agendamento das atrações extras. Esse aplicativo se tornou tendência entre os festivais, pela fácil acessibilidade e modernidade. Já nos shows, os artistas procuram a cada ano inovar em suas apresentações com novidades tecnológicas e multissensoriais. “Eu vejo que esse tipo de show com experiências visuais e sensoriais tem conquistado cada vez mais o público. O fato de o artista interagir com a plateia de formas diferentes acaba gerando uma maior conexão ali. As experiências sem dúvidas são únicas e inesquecíveis, mas acaba deixando uma expectativa ainda maior de surpreender nas próximas apresentações” conta para a AGEMT, a assessora de imprensa Maria Fernanda Moog, que trabalha com artistas como Alok, Claudia Leitte, Matuê e Vitão.  

Durante a passagem ao Brasil, a banda britânica Coldplay esgotou os ingressos do Rock in Rio do dia 10 de setembro de 2022 e entregou ao seu público um show personalizado que contava com pulseiras de led programas para mudar de cor de acordo com as batidas das músicas. Eles são pioneiros nesse tipo de tecnologia que envolve o público durante toda a apresentação. 

 

fonte: reprodução

O show de Alok na primeira edição do The Town contou com mais de 42 máquinas de lasers, batendo o recorde de maior quantidade de máquinas em um show. Além disso, ele também utilizou drones especiais para formar projeções no céu causando impacto no público e na imprensa, considerado um dos melhores shows do dia. "Quando se oferece uma experiência diferenciada para o público chama muito mais atenção da imprensa e, consequentemente, dos compradores. Porém, quando o artista já traz o mesmo formato de show há um tempo, acaba sendo mais do mesmo na divulgação, então neste caso, o ideal é divulgar em formato de turnê, falando sobre todas as praças que serão atendidas e os diferenciais dessas apresentações", explica Moog.

A grande tendência deste ano, a inteligência artificial, já está começando a ser utilizada em shows. No The Town ela marcou presença na apresentação do rapper Matuê em que a voz de sua avó, a poeta Núbia Brasileira, foi recriada através da IA para recitar seus poemas e conselhos. Para concluir, essa projeção foi utilizado uma base de gravações antigas para colocar sua voz de volta à vida com base no tom de voz e emoções ao falar, ficando o mais fiel possível a voz real de sua avó.  

Moog acredita que cada vez mais os artistas têm apostado e seguirão com estratégias envolvendo ideias inovadoras para trazer um maior diferencial em suas apresentações. Seja através de show de luzes,  projeções de vídeos e imagens em tela no palco, etc. Participando do processo do show de Matuê a profissional pode afirmar que essas tecnologias auxiliam na aproximação com o público e trazem experiências únicas à plateia.

A tecnologia mudou a maneira de conhecer pessoas e de se apaixonar, mas será que ela é tão eficiente quanto o romance à moda “antiga”
por
Catarina Pace
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02/10/2023 - 12h

À medida que a tecnologia avança, outras partes da vida pessoal também são determinadas por ela, e o romance não escapou dessa vez. Antigamente, o romantismo não era algo para se descartar, pelo contrário, os casais tinham um compromisso maior com os valores e família, mas também demonstravam que o amor era real. Com o tempo, tudo mudou, e por bem ou por mal, os relacionamentos também. 

Só o Tinder -- um dos aplicativos de namoro mais usados no mundo -- coleciona mais de 75 milhões de usuários ativos mensais. E suas motivações para buscar relações através de APPs são diversas, inclusive por impulsividade, auto estima ou realmente a de encontrar um namorado ou namorada. Em entrevista para AGEMT, um usuário do Tinder que preferiu não ser identificado, não descarta a opção de conhecer um futuro namorado (a) pelo aplicativo: "Eu acho que as pessoas que estão em um aplicativo de namoro, estão querendo algo mais casual, para matar a carência. Mas mesmo assim, tem pessoas que estão buscando algo mais sério nesses aplicativos. Eu já me relacionei emocionalmente em alguns APPs de relacionamento que deram muito certo, e foi muito bom”, declarou.

Segundo uma pesquisa da Pew Research de 2023, cerca de 50% de todos os adultos com menos de 30 anos já usaram algum site ou aplicativo de namoro. Mas ao longo do tempo, esses apps de paquera foram saturando, principalmente porque os matchs eram baseados em fotos, reforçando um estereótipo. Agora, a maioria deles está usando Inteligência Artificial para que as combinações sejam mais perfeitas. Alguns usam testes de personalidade e de tipo físico para que os filtros fiquem cada vez mais certeiros na hora de dar um match com a pessoa ideal.  

Eles estão cada vez mais inovadores em suas funções de cupido, mas será que é possível que possam identificar uma verdadeira conexão amorosa? O rastreamento de emoções não é algo totalmente fora da realidade, muitas empresas e aplicativos já fazem isso através de relógios que calculam frequência cardíaca, por exemplo. Mas essas ferramentas não conseguem dizer uma das maiores questões para os casais: saber se um relacionamento pode durar. 

Para a estudante de psicologia e usuária ativa do Tinder, Maria Laura Souza, o aplicativo abre portas, mas se mal utilizado, vira um APP de pessoas descartáveis. “Na era do amor líquido e dos relacionamentos virtuais, os indivíduos passam a manter vínculos afrouxados a fim de desfazê-los rapidamente", é um trecho do artigo “O amor nos tempos do Tinder". Algumas pessoas acabam se validando por quantos matchs possuem, ou se as pessoas que elas gostam, curtem ela de volta.”, disse ela. 

Autora: Catarina Pace
Imagem: [Reprodução/LT Latercera] 

Um dos exemplos mais recentes sobre a combinação IA e amor, é o aplicativo Aimm, um tipo de casamenteiro digital que usa uma assistente virtual para realizar avaliações intensas de personalidade antes de “conduzir” o usuário a um casamento. Ele ajuda a encontrar a combinação ideal. Mas como um computador pode saber o que é o verdadeiro amor humano? A paixão pode ser traduzida perfeitamente através de uma máquina? 

Só o futuro poderá dizer. Até hoje, os computadores funcionam através de bases de dados e algoritmos, juntando todas as informações sobre um usuário e suas atividades dentro do aplicativo. Se as inovações continuarem nesse ritmo, não seria impossível um computador identificar um sentimento. 

Os APPs de relacionamento usam uma tecnologia chamada aprendizado por reforço, que aprende com o mecanismo de avaliação dos próprios usuários na plataforma e relatos sobre as experiências nos encontros. Além dele, as plataformas podem adotar ainda, mecanismos de rastreamento baseados no comportamento do usuário dentro do aplicativo, como a frequência de mensagens, tipos de perfis visitados e a duração das interações. Tudo que é captado vai para a base de dados do aplicativo, e cada vez mais, há a chance de acontecer um match muito bem combinado. 

Para o usuário anônimo, os aplicativos de relacionamento não servem para substituir sentimentos e atitudes reais, mas eles vêm para somar. “Eu acho que as coisas acontecem naturalmente mesmo quando é online. Acredito que até hoje existe um tabu sobre conhecer as pessoas online, como se fosse algo ruim, pejorativo. E eu acho que encontrar pessoas na rua, no dia a dia, na vida real, é mais legal, tem uma certa mágica. Mas as relações que se constroem não dependem do como você conheceu a pessoa, a única coisa que muda é essa magia do primeiro encontro, por exemplo. Eu acho que pouco importa como você a conheceu na hora de construir uma relação.”, conclui. 

A educadora sexual e especialista em relacionamentos, Sham Boodram toca em um ponto importante na série O Futuro (Netflix, 2023). Ela diz que "mesmo que a inteligência artificial seja uma ótima ferramenta para ensinar as pessoas a ter boas conexões, ela pode acabar evitando que essas pessoas aprendam a fazer boas relações por si só: Elas tem um programa que vai fazer isso pra elas, ao invés de você mesmo fazer”, diz Sham.

Há um certo medo implícito em ficar dependente dessa tecnologia nas relações pessoais e amorosas, principalmente por ser uma ferramenta frequentemente usada para conhecer pessoas novas e sair do seu próprio círculo social, o que pode ser um grande problema. Esses APPs ainda não são capazes de impedir completamente problemas como encontros frustrados, discriminação, racismo e assédio e podem reforçar pré conceitos que usuários não demonstravam antes deles. 

A tecnologia pode ser vista como um facilitador de muitas tarefas diárias, até para o amor. Maria acredita que eles apresentam certos benefícios como o de iniciar novas conversas e ciclos, e expor pessoas a lugares que seu ciclo social não as levaria. “Um malefício, eu diria a superficialidade das relações, a sensação de que você pode ser descartado e a necessidade de validação por ter o melhor perfil para poder encontrar outras pessoas.”, concluiu a estudante. 

É difícil prever as próximas inovações da IA dentro dos aplicativos de relacionamento, mas que vão facilitar o encontro de duas pessoas  compatíveis, é algo certo. Cada vez mais certeiros nos matchs, os aplicativos podem ser um ponto de partida para um bom romance ou para uma grande decepção amorosa, coisas que só os humanos conseguem sentir, por enquanto. Agora, basta esperar e ver (ou experimentar) qual será a próxima descoberta que as IAs farão no mundo do amor.