Maior evento europeu do setor continua na rota por novidades eletricas e mais concorrência a cada ano
por
Vítor Nhoatto
|
22/09/2025 - 12h

Ocorrido entre os dias 9 e 14 de setembro, o IAA Mobility recebeu mais de 500 mil visitantes, superando a sua última edição em 2023. Estiveram presentes as germânicas Audi, BMW, Mercedes, Opel, Porsche e Volkswagen, mas Fiat, Peugeot e nenhuma japonesa compareceu. Com isso, mais uma vez uma grande parte de Munique foi palco para as chinesas se consolidarem e expandirem.

Com o lema “It’s all About Mobility”, em tradução livre, “É Tudo Sobre Mobilidade”, o foco da mostra se manteve em soluções inteligentes e inovadoras. Startups como a Linktour com  seus micro carros elétricos, e marcas de bicicletas e motocicletas elétricas estavam por todos os lados do München Expo Center. E repetindo o formato aplicado desde 2021, com o chamado “Open Space”, uma área de experiências interativas gratuitas ao ar livre, os visitantes podiam experimentar tudo isso.

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

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 Além disso, a inovação tecnológica foi tema de muitos debates e coletivas de imprensa com representantes da indústria. Fornecedoras como a Bosch, Aisin e Revolt, além de empresas de carregadores como a Charge X e E-Mobilio e a gigante de baterias CATL foram só alguns dos mais de 750 expositores presentes. 

Setor premium atento

Falando em eletricidade, ela estava no centro das atenções de todas as marcas, apesar das vendas de carros elétricos (BEV) terem sido prejudicada na Europa no ano passado. O fim ou diminuição de subsídios governamentais e metas de descarbonização estagnadas na União Europeia foram os principais motivos segundo o Global EV Outlook 2025 da International Energy Agency (IEA). No entanto, as projeções para esse ano e os próximos são de crescimento.

De olho nisso a BMW lançou o novo iX3, modelo mais importante em anos ao inaugurar uma nova era para a alemã. A segunda geração do modelo estreia uma plataforma sob medida e exclusiva para elétricos de nova geração, chamada de Neue Klasse. O destaque fica com a nova bateria de 108.7kWh de capacidade integrada ao chassi, compatível com carregamento ultrarrápido de até 800V - ganha 372km em apenas dez minutos - e autonomia de 805km em uma carga segundo o ciclo WLTP. 

No quesito design a ruptura com o passado é ainda mais evidente, com uma nova linguagem visual, inspirado nos modelos da BMW dos anos 80. No interior foi inaugurado o Panoramic iDrive, com o painel de instrumentos correndo ao longo de todo o para-brisa, um novo volante de quatro raios e um multimídia com inteligência artificial de 17,5 polegadas. “A Neue Klasse é o nosso maior projeto futuro e marca um grande salto em termos de tecnologias, experiência de condução e design”, frisou o presidente do conselho de administração da marca, Oliver Zipse.

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Alemã aproveitou o evento para apresentar o futuro Sedan i3, que seguirá o capítulo iniciado pelo SUV iX3,  irmão de plataforma. Foto: BMW Group / Divulgação 

Do outro lado do pavilhão, a Mercedes-Benz fez um movimento parecido, lançando a segunda geração do GLC elétrico. O modelo foi o primeiro elétrico da marca, ainda em 2018 como EQC. Mas pelas vendas baixas havia sido descontinuado no ano passado, e agora retorna com o nome “GLC With EQ Technology”, para evidenciar as mudanças. Rival direto do iX3, segue a linguagem de design inaugurada no novo CLA no ano passado, aqui com uma grade iluminada e enormemente proeminente.

Construído sob a inédita plataforma elétrica MB.EA Medium, independente do GLC, a combustão portanto, possui carregamento de até 800V e uma bateria de 94kWh, traduzidos em 713 km de autonomia. No interior, o SUV inaugura o “Hyperscreen”, transformando o painel inteiro em uma tela de 39.1 polegadas. O interior pode ser todo vegano e certificado, e a comunicação Car-to-X - que coleta e envia dados para comunicar outros veículos - se destaca no quesito segurança. O preço inicial deve girar em €60 mil quando chegar às lojas ainda esse ano, tal qual o rival.

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Faróis possuem tecnologia Matrix, e sob o capô há um espaço de 128 litros para bagagens. Foto: Mercedes-Benz / Reprodução

Mas nem só de SUVs o mercado premium é formado, e a Polestar compareceu a Munique para o lançamento mundial do seu novo modelo de topo, o sedã 5. A marca do grupo Geely, divisão de performance da Volvo até 2017, aposta em sustentabilidade e alta performance, estreando a nova plataforma PPA do grupo. São 872 cavalos, tração integral, aceleração de 0 a 100 em 3,2 segundos e ausência de janela traseira, tal qual no crossover 4.

Um presente e futuro elétrico

Nas duas últimas edições do Salão de Munique, ambientalistas protestaram em frente ao evento em defesa de uma mudança sistêmica da indústria, o que se repetiu. As ONGs Extinction Rebellion e Attac levaram placas pedindo por mais investimento em transporte público e justiça social, jogando atenção para uma mentalidade individualista e o preço dos elétricos. 

Em relação a essa questão, um estudo da empresa de consultoria, Gartner, mostra que até 2027 os BEVs serão mais baratos de produzir que os carros a combustão (ICEVs), e o Grupo Volkswagen promete preços competitivos para sua nova geração de elétricos. 

Foram revelados no evento quatro modelos para o segmento B baseados na plataforma MEB Entry do conglomerado. O principal deles foi o ID.Polo da Volkswagen, com previsão de início de vendas em maio na casa dos € 25 mil. Como o seu nome sugere, é a versão elétrica do hatch Polo, e contará com baterias de 38 e 56 kWh, com uma autonomia de 350 e 450 km respectivamente. Uma versão GTI do modelo será também comercializada, com 223 cavalos.

Continuando o apelo esportivo que a versão encurtada da plataforma em que os modelos do segmento C, ID.3 e ID.4, são construídos, a espanhola Cupra mostrou a versão de produção do Raval. Com dimensões e motorizações basicamente iguais às do ID.Polo, promete continuar a expansão da nova marca do grupo, antigamente uma divisão de performance da Seat.

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Cupra Raval, ID.Polo e ID.Polo GTI  (direita) serão lançados em março do ano que vem, enquanto os SUVs Epiq e ID.Cross (esquerda) chegarão no segundo semestre. Foto: Volkswagen AG / Divulgação

Como era de se esperar pela relação do Polo com o T-Cross, sua versão SUV, o conceito ID.Cross foi mostrado. Com o mesmo tamanho do modelo que substituirá em 2026, integra o segmento disputado dos B-SUV elétricos, formado por nomes como Peugeot e-2008, Renault 4 e Volvo EX30. Focando em espaço e ergonomia, marca a volta de botões físicos no volante e do ar condicionado, além de um maior uso de materiais reciclados. 

Por fim, a Skoda apresentou a sua versão do SUV, denominada Epiq. Tal qual os irmãos de plataforma, será construído em Pamplona, na Espanha, e contará com a capacidade de carregar dispositivos externos como eletrodomésticos (V2L). A velocidade de carregamento é de até 125 kW, indo de 10% a 80% em 20 minutos, e o modelo estreará uma nova identidade visual para a tcheca no ano que vem.

Ascensão chinesa continua 

Aprofundando essa questão dos preços, são as marcas chinesas que se destacam globalmente, como destaca a IEA. Com grandes reservas dos minérios utilizados nas baterias, as fábricas para construí-las e anos de investimento estatal na tecnologia, seguiram com sua expansão em solo alemão. 

A BYD, maior marca chinesa em números, marcou presença com o recém lançado Dolphin Surf - a versão europeia do Dolphin Mini. Avaliado com cinco estrelas pelo Euro NCAP, é um dos BEVs mais baratos hoje à venda na Europa, custando cerca de € 20 mil. No campo dos híbridos plug-in (PHEV) a Station Wagon do segmento D, Sealion 06, foi lançada, focada em conforto e tecnologia com até 1.092 km de autonomia combinada.

Outra marca com novidades foi a Leapmotor, que já vende o hatch subcompacto T03 e o D-SUV C10 no continente, de lançamento marcado para o Brasil ainda em 2025. Pertencendo 20% à Stellantis, que controla a sua operação internacional, apresentou o inédito hatch B05, rival de Volkswagen ID.3 e BYD Dolphin. Sob a mesma plataforma do C-SUV B10, terá cerca de 400 km de autonomia e início de vendas para o ano que vem por cerca de € 30 mil.

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"O B05 (direita) reflete nosso compromisso com a inovação, acessibilidade e a capacitação da próxima geração de motoristas em toda a Europa e além", declarou o CEO global da marca, Zhu Jiangming. Foto: Leapmotor / Divulgação

Munique foi para além de um lugar de novos modelos, mais uma vez o palco de marcas inteiras debutando em solo europeu. A marca AITO, do grupo Seres, que usa a tecnologia da Huawei, se lançou no mercado internacional com os SUVs 9, 7 e 5. Mirando as marcas premium alemãs nos segmentos E e D, podem ser tanto BEVs ou elétricos com extensor de autonomia (REEV), repetindo a abordagem da Leapmotor com o C10.

O grupo Changan Auto iniciou as operações da sua marca Deepal com os SUVs de apelo jovem e esportivo S05 e S07, ambos com opções de serem elétricos ou PHEVs. No campo de luxo, a marca Avatr da gigante chinesa mostrou seu primeiro concept car, o Xpectra, além dos modelos 06, 07 e 12, já comercializados em alguns países europeus e com planos de chegarem a 50 mercados em breve.

A premium Hongqi esteve presente e revelou o C-SUV elétrico EHS5, além de anunciar planos de expansão com 15 modelos e 200 pontos de venda pela Europa nos próximos anos. E aumentando a sua aposta no evento, a Xpeng teve um stand dentro do pavilhão e apresentou a nova geração do P7, sedã que começou a ser comercializado na Europa no IAA Mobility 2023.

Além disso, a recém chegada ao Brasil, GAC, estreou no velho continente levando cinco modelos para a mostra. Seguindo com o “European Plan Market” anunciado no ano passado, lançou como modelos de topo o novo GS7, um SUV grande híbrido plug-in, e a MPV híbrida (HEV) E9. Mas os destaques da marca foram o hatch AION UT, rival de BYD Dolphin, e o D-SUV rival de Tesla Model Y, o AION V.

O primeiro possui bateria de 60 kW/h com 430 km de autonomia e previsão de início da comercialização em 2026 na casa dos € 30 mil. Já para o segundo, comercializado no Brasil por R$214.990, o preço de € 35.990 foi anunciado, muito competitivo para o segmento. Com 510km de autonomia e cinco estrelas no teste do Euro NCAP - com mais ADAS que o brasileiro - será o primeiro a chegar às lojas, já em setembro em mercados como Portugal, Finlândia e Polônia. O plano é que a marca venda em todos os países europeus até 2028.

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Estava ainda em Munique o carro elétrico voador GOVI AirCab (ao fundo) buscando mostrar os avanços da indústria chinesa, segundo a empresa. Foto: GAC Group / Divulgação

Eletrificação em todos os níveis 

Para além das novatas, ícones do mercado aproveitaram os holofotes da feira para se renovarem completamente. Esse foi o caso da única francesa presente, a Renault, que lançou a sexta geração do hatch Clio, o segundo carro mais vendido no continente em 2024.

Construído sob a mesma plataforma que o seu predecessor, mantém o motor 1.2 TCe e uma opção movida a GPL, mas as semelhanças acabam por aqui. No powertrain, estreia um novo sistema full-hybrid (HEV) formado por um motor 1.8 e dois elétricos, resultando em 160 cavalos e modo de condução elétrico na cidade. Conforme a estratégia da marca, o Clio não terá versão elétrica, papel delegado ao hatch de estilo retrô, o 5.

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Hatch cresceu 6 centímetros em comprimento, evocando uma silhueta mais esportiva e afilada. Foto: Renault Group / Divulgação

No quesito design, o carro rompe por inteiro com a geração anterior, o oposto do que havia acontecido com a quinta geração em relação à quarta. A frente ostenta uma nova assinatura em DRL, que forma o símbolo da Renault, e a traseira possui lanternas duplas, nunca vistas em um Clio. O interior é todo novo também em relação ao antecessor, mas com o mesmo layout e sistema operacional do Google do irmão elétrico 5.

A Volkswagen foi outra que debutou no IAA uma nova geração de um best-seller, o T-Roc. Em sua segunda encarnação, também não terá versões elétricas, sendo o último novo carro a combustão desenvolvido pela marca. Haverão pela primeira vez no SUV opções micro-híbridas (MHEV), já conhecidas dos irmãos de plataforma como o Golf e A3, além de um novo sistema HEV, com 134 e 168 cavalos. Não haverá, pelo menos por ora, versões PHEV, sendo o único modelo sob a MEB Evo sem essa possibilidade, no entanto.

Seu exterior é uma evolução da primeira geração, mantendo linhas semelhantes e o seu apelo descolado, descrito pela marca. As dimensões aumentaram, 12 centímetros em comprimento, chegando a 4.37 metros, o colocando alinhado a rivais como o Toyota CH-R e Mazda CX-30. Por dentro a abordagem continua, com telas maiores e mais itens de conectividade e segurança assistida, mas com uma disposição de elementos clássica, vista nos últimos Golf e Tiguan.

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Modelo construído em Portugal foi o quinto carro mais vendido na Europa no ano passado. Foto: Volkswagen Group / Divulgação

Concorrência de todos os lados

Além das chinesas em franca expansão nos últimos anos no continente, outras concorrentes vêm se destacando na corrida pelos elétricos principalmente. A coreana Kia compareceu ao evento e mostrou ao público os novos integrantes da família EV, o EV4 e o EV5. 

O primeiro é um hatch do segmento C, acompanhado de uma variante sedã. Já o último se trata de um modelo lançado em 2023 - inclusive a venda no Brasil desde o ano passado - mas que chega só agora à União Europeia como a versão elétrica do Sportage. Sua conterrânea e marca irmã também esteve em Munique com o Concept 3, prevendo o futuro Hyundai Ioniq 3, equivalente do EV4.

Mas nem só da Ásia as novidades chegam, com a primeira marca turca de automóveis elétricos, a Togg, debutando em solo alemão a sua ofensiva no continente europeu. Fundada em 2018 e com a primeira fábrica inaugurada em 2022, apresentou o C-SUV T10X e o sedã T10F ao público. A pré-venda dos modelos começará em 29 de setembro na Alemanha, e no ano que vem a empresa pretende iniciar seus trabalhos na França e Itália, com meta de ter até 2030 um milhão de veículos em toda a Europa.

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Preços ainda não foram divulgados, mas devem ficar em torno de € 40 mil tomando como base as cifras no mercado turco. Foto: Togg / Divulgação

Construídos sob uma plataforma elétrica, ambos receberam nota máxima no Euro NCAP recentemente, com mais de 9% de proteção para adultos e 80% nos ADAS. A respeito do desempenho, a bateria possui 88.5 kWh de capacidade, e autonomias de até 500 e 600 km para o SUV e o sedã respectivamente. 

“Nossos modelos proporcionam uma experiência de mobilidade voltada para o usuário e voltada para o futuro”, comentou Gürcan Karakaş, CEO da marca durante o evento. A marca anunciou ainda que trabalha no terceiro de cinco modelos que irá lançar até o fim da década, o B-SUV T8X. Karakaş finalizou destacando que prepara para introduzir baterias de pirofosfato de lítio (LFP), e que a indústria deve estar preparada para as mudanças e maior concorrência.

Evento continua sua evolução com mais atrações e marcas patrocinadoras, mesmo com menos montadoras
por
Vítor Nhoatto
|
18/06/2025 - 12h

 

Em sua quarta edição, ocorrida entre os dias 12 e 15 de junho, o Festival Interlagos Edição Carros se consolidou no setor. Realizada no autódromo de mesmo nome, na zona sul de São Paulo, contou com lançamentos de Ford, Honda e GWM. Além disso, nomes como IZA e Ferrugem animaram os amantes das quatro rodas.

Ao todo, estiveram presentes 18 marcas de automóveis, contando Omoda e Jaecoo como marcas separadas. A quantia diminuiu em relação à edição de 2024, que teve 19. Este ano, marcas como Chevrolet e Renault não compareceram. Mas ao andar pelos boxes da pista e no gramado que recebe os festivais Lollapalooza e The Town, a diferença é imperceptível. 

Se por um lado havia uma fabricante a menos, o número de stands de marcas patrocinadoras aumentou e chamava bastante a atenção. Desde casas de apostas até plataformas de venda de produtos online, com direito a uma estátua de leão que atraia as câmeras dos celulares. Completava o cenário a roda gigante popular nos eventos musicais que ali ocorrem, mas que não estava disponível para passeio.

No quesito alimentação, havia um número grande de opções, com uma dezena de food trucks e quiosques para petiscos e um restaurante com buffet também. Ponto importante é a falta de bebedouros pelo complexo, obrigando a todos a comprarem água, mesmo com os shows musicais que pedem por estações de hidratação.

Já em relação à organização do evento, mesmo com as obras aparentemente incessantes em Interlagos, com tapumes e entulhos em alguns locais, estavam menos intrusivas no campo de visão do espectador que as edições passadas. A sinalização continuou precária, com muitas pessoas perguntando para seguranças como descer para a área dos boxes e para o meio da pista, onde as grandes marcas ficavam.

Baseado no conceito de experiência automotor, o formato das edições anteriores foi mantido. Diferente de um Salão do Automóvel tradicional, os interessados poderiam andar na pista por R$593 com o ingresso Drive Pass, e também negociar com representantes de concessionárias a compra dos carros expostos e testados.

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Era possível ainda se sujar na lama, e nem precisava pagar mais pelo Drive Pass, com o Street Pass de R$107 já era suficiente. Foto: Vítor Nhoatto

Tudo isso faz do festival um exemplo atraente financeiramente para as marcas e emocionalmente para o público. Em Portugal, isso acontece de forma parecida com o ECAR Show e, na Espanha, com o Automobile Barcelona, por exemplo. Mas é só no Brasil que uma pista de corridas todo pode ser explorada. Além disso, para diminuir os custos, a edição Carros aconteceu apenas duas semanas depois da edição Motos, reaproveitando a estrutura e agilizando o processo para as montadoras, segundo a organização do evento. 

Palco de lançamentos 

Mesmo sem Volkswagen e o novo Tera, e a Chevrolet tendo optado por lançar os facelift de Onix e Tracker em julho em evento fechado, grandes revelações tomaram Interlagos. No quesito modelo inédito não houve nenhum caso por parte das montadoras tradicionais, limitadas a reestilizações e apresentações ao público de carros já mostrados em solo brasileiro.

Dessa vez presente somente com a Abarth, o conglomerado Stellantis aproveitou o ambiente de corrida que a marca do escorpião evoca e mostrou o renovado Pulse. Seguindo as atualizações da versão não envenenada da Fiat, ganhou nova grade frontal e teto panorâmico, além de banco do motorista com ajuste elétrico para o esportivo. Ficaram de fora, no entanto, novos assistentes de condução como leitor de placas de trânsito e piloto automático adaptativo, disponíveis em veículos mais baratos que os R$157.990 anunciados.

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Por trás do Pulse de hoje, o Abarth 600 dos anos 1960, exposto também pela marca em Interlagos. Foto: Vítor Nhoatto

Ainda em relação às europeias, a Volvo esteve presente novamente, inclusive reaproveitando muitos dos EX30 amarelos da edição passada. Falando nele, que não oferece mais a cor citada, ganhou uma nova versão em território brasileiro, a Cross Country. Apresentada em fevereiro na Europa, chega aqui como topo da gama por R$314.950. Se diferencia das demais pelas caixas de roda e proteções na frente e atrás em plástico preto, além de estrear um novo sistema de propulsão, com  tração integral e 428 cavalos, e indo de 0 a 100km/h em apenas 3,7 segundos.

Também foram mostrados ao público o XC90 atualizado, lançado em 2015, que ganhou sobrevida após a decisão da sueca de prolongar o ciclo dos seus modelos a combustão até uma maior maturação do mercado de elétricos. E ao lado dele estava também o recém lançado no Brasil, o novo EX90, antes tido como sucessor do irmão e agora como complemento e modelo topo de gama da marca. 

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De alguma forma a eletrificação chega para o cliente Volvo, seja com o elétrico EX30 ao fundo ou com o híbrido plug-in XC90 dourado à direita. Foto: Vítor Nhoatto

Mudando de continente, a Honda aproveitou a ocasião para apresentar o facelift do Civic e do HR-V. Ambos receberam mudanças sutis na grade dianteira e parachoques, além de novas lanternas traseiras e desenho de rodas para o segundo. No interior, o sistema multimídia do sedã ganhou novas funcionalidades e o console central do SUV foi alterado levemente para facilitar o acesso ao carregador por indução. Os preços não foram divulgados, no entanto. 

A conterrânea Mitsubishi estava presente novamente, mas diferente da edição 2024 trouxe modelos realmente novos em sua linha, apesar de nenhuma revelação no evento. Lançado no país há poucos meses, a nova geração da picape Triton estava presente e o destaque do stand foi o novo Outlander, anunciado no mês passado. Agora híbrido plug-in, se coloca como modelo mais tecnológico da marca no Brasil, mas custa quase R$400 mil. 

Novidade este ano no festival, a Hyundai também não trouxe novidades, mas aproveitou para mostrar para os consumidores o recém-lançado Kona, o SUV de oito lugares Palisade e o eletrônico Ioniq 5. Os modelos marcam uma nova fase da divisão de importados da coreana no país, administrada pela CAOA e separada da HMB que fabrica os modelos HB20 e Creta. 

Por fim, a estadunidense Ford levou a Interlagos a linha Tremor de suas picapes Maverick, Ranger e F-150, reforçando o apelo off-road da marca com direito a um segundo stand só para elas próxima à pista off-road. Já dentro dos boxes, a reestilização do seu segundo modelo mais importante no país hoje, o Territory, foi revelada.

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Além da mudança estética que tenta alinhar o Territory a linguagem visual da marca, também conta com novo design para as rodas.Foto: Vítor Nhoatto

Atrás apenas da Ranger em vendas e popularidade, é rival de modelos best-sellers como os Jeep Compass e Toyota Corolla Cross, SUVs médios. Com uma frente toda remodelada, mais arredondada e passível de julgamentos, mudou a cor dos estofados internos mas manteve o seu preço de R$215 mil. Importado da China, pretende crescer na categoria com a estratégia, custando menos que os dois concorrentes citados em versões equivalentes.

Ascensão chinesa continua 

Falando mais sobre a potência asiática, se nenhuma surpresa veio por parte das montadoras já estabelecidas, mais uma vez as chinesas ocuparam em todos os sentidos Interlagos, e tiveram destaque. Com revelações importantes e presentes na pista e no barro, elas focaram em mostrar qualidade e potencial tecnológico irreverente.  

Veteranas do Festival, BYD e GWM foram desta vez por caminhos distintos, com a primeira sem lançamentos no mercado de fato, mas trabalhando fortemente o imaginário da marca no Brasil. No stand o ato principal foi o supercarro elétrico YangWang U9, chamando todas as atenções com o seu vermelho vivo e asa traseira enorme. Além disso, era impossível não reparar o carro “dançando”, demonstrando a suspensão independente sofisticada do modelo que consegue saltar e andar somente com três rodas.

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Ao lado de Dolphin Mini e King, U9 roubava os olhares com seus 1.300 cavalos elétricos. Foto: Vítor Nhoatto

Do lado de fora quem brilhava era o também elétrico YangWang U8, agora sob o formato SUV. Capaz de girar no próprio eixo e flutuar, corria pela pista e chamava atenção pelo porte de cerca de cinco metros de comprimento e design singular. Nada foi falado sobre a possível comercialização de ambos no Brasil, o que não era esperado, mas sim as onomatopeias e expressões de surpresa que eles provocam.

Já em relação ao rival GWM, a estratégia foi repetir o que fez em 2024: apresentar novos modelos. A picape híbrida Poer e o SUV Tank 9 foram as estrelas da vez, com a primeira já tendo aparecido em evento com o vice-presidente Geraldo Alckmin na futura fábrica da empresa no Brasil. No caso do segundo, promete complementar a linha Tank após a chegada do Tank 300, na edição passada revelado, e agora ocupando a pista off-road e as ruas também. 

Cenário similar ocorreu no stand da Omoda & Jaecoo, marcas do grupo Chery que em 2024 debutaram em Interlagos e agora já contam com cerca de 50 lojas pelo país. Foram apresentados a versão híbrida do Omoda 5, vendido aqui até então somente como elétrico sob o nome E5, e o inédito Omoda 7, um híbrido plug-in para rivalizar com BYD Song Plus e o GWM Haval H6. Ambos tem previsão de lançamento até final do ano.

Porém, o destaque da mostra foi a novata GAC, que chegou ao mercado brasileiro oficialmente no mês passado já com 33 lojas e cinco modelos. Estilizada sob o slogan Go and Change, vá e mude em português, é o acrônimo para Guangzhou Automobile Group, e se pronuncia “gê á cê”. 

Com um dos maiores estandes da edição, o mesmo que a também estreante chinesa Neta usou no ano passado, era um dos mais movimentados também. O centro das atenções era o elétrico Hyptec  HT com suas portas traseiras “asa de gaivota”, ao estilo do rival Tesla Model X. Custando a partir de R$299.990, é o modelo topo de gama da marca à venda aqui, e promete agitar o mercado dos SUVs elétricos grandes, com uma cabine extremamente luxuosa.

Mais ao fundo estava o também elétrico e SUV, Aion V, com uma pegada mais quadrada e prática. Com porte de GWM Haval H6, tela para o ajuste do ar condicionado no banco de trás, massagem nos dianteiros e até 602 km de autonomia segundo o ciclo chinês NDEC, custa a partir de R$214.990, mesmo preço que o rival híbrido. A MPV (Multi Purpose Vehicle) Aion Y e o sedã Aion ES completavam a linha elétrica.

E apostando também nos híbridos, o SUV GS4 marcou presença, rival direto do supracitado H6 e do recém atualizado BYD Song Plus. A partir de R$189.990 é tido pela marca como o modelo com maior potencial de vendas, e aposta em um design ousado cheio de vincos e quinas, além de qualidade, conforto e tecnologia por um preço mais acessível que modelos menores como o Toyota Corolla Cross inclusive.

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Espaço da GAC remetia a conforto, natureza e um estilo de vida novo, como proposto pela marca. Foto: Vítor Nhoatto

Vale notar, no entanto, que apesar de todo o apelo high tech, nenhum dos modelos conta com leitor de placas de trânsito e detector de fadiga, presentes nos rivais da GWM e BYD. Além disso, o sedã Aion ES, com a mira para o BYD King, não possui nenhum assistente de condução e acabamento digno de Fiat Mobi por R$170 mil. Só o tempo dirá se a estratégia será efetiva ou desaparecerá em um ano como a Neta.

Museu a céu aberto

Ao lado da imersão chinesa a nostalgia tomava conta no segundo espaço da Honda no evento. Entrando era possível admirar o Civic Type-R, o mais potente já feito e vendido por quase meio milhão no Brasil. De frente a ele estava o primeiro Civic fabricado no Brasil, parecendo que havia saído da loja em 1997.  

E como um espaço de memória da japonesa pedia, um tributo a parceria de Ayrton Senna e a marca levou ao festival itens exclusivos do ídolo brasileiro. Acompanhado do capacete usado por ele estava exposto um exemplar 1992 do Honda NSX, esportivo que contou com a participação do piloto no desenvolvimento e que é lembrado pelos fãs por isso. Os entusiastas das pistas ainda puderam ver de perto o primeiro Honda que ganhou na Fórmula Indy.

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História não se compra e contra isso as chinesas não podem lutar. Foto: Vítor Nhoatto

Não necessariamente só de antiguidades que se faz um museu, mas também obras de arte, como abrigava um pavilhão mais adiante. Nele os interessados podiam fazer tatuagens no estúdio presente enquanto admiravam os dois carros mais caros do Brasil. 

No seu tom azul vibrante de lançamento, o superesportivo Bugatti Chiron estava sempre rodeado de câmeras, queixos caídos e pessoas de todas as idades. Com 1.500 cavalos, estima-se que custe cerca de R$40 milhões e é o único exemplar em solo brasileiro. E acompanhando o francês estava o Pagani Utopia, feito artesanalmente e em apenas 99 unidades. O único exemplar no país é branco e possui faixas azuis e vermelhas, importado por cerca de R$60 milhões.  

Estavam mais ao fundo ainda uma Porsche Taycan e uma Mercedes G-Class, que torcem pelos pescoços pelas ruas, mas se contentavam em ser apenas os figurantes do espaço desta vez. Falando na alemã, pela primeira vez esteve no evento, com um stand discreto no gramado e apenas quatro modelos, mas que estavam quase sempre rodeados de interessados. Ao lado também estavam as novatas no evento, BMW e Mini, com seus últimos modelos, mas sem novidades.

De volta ao prédio, Lexus e Toyota repetiam a estratégia das alemãs, sem alardes, e para completar o mundo das exclusividades, um cercado contava com um Rolls Royce Ghost, um McLaren GT, alguns Mitsubishi Lancer Evolution e até mesmo uma Tesla Cybertruck. Se não fosse o suficiente, no andar de cima empresas de acessórios e produtos automotivos em geral trouxeram Nissan GT-R, Ford Mustang e mesmo Ferrari. Lembrando que se fosse de desejo, por  R$1.970 à R$3.950 era possível pilotar máquinas como essas com o ingresso Sport Pass.

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Seja criança ou não, entusiasta ou leigo, muitos modelos chamavam atenção de todo mundo que passava por Interlagos. Foto: Vítor Nhoatto

Para completar a experiência no fim da noite, ainda aconteceram shows de cantores a lá Lollapalooza em pleno mês de junho. No dia 13 se apresentaram Seu Jorge e IZA, seguidos da dupla Maiara e Maraisa no dia seguinte, e Diogo Nogueira e Ferrugem no domingo (15). 

A Prefeitura de São Paulo anunciou em abril deste ano que renovou o contrato com a organização do evento para edições anuais até 2028, comprovando o sucesso do formato. Mesmo que o Salão do Automóvel de São Paulo volte depois de sete anos em novembro, como foi anunciado, o espaço do Festival Interlagos é só dele, e parece mais que nunca robusto e consolidado pelas marcas, governo e também pelo público. 

Para Mércia Cristina, a ausência do celular trará um aproveitamento melhor dos conteúdos educacionais
por
Laila Santos
Tamara Ferreira
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09/06/2025 - 12h

Em 13 de janeiro deste ano, foi sancionada a lei nº 15.100/2025 pelo Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que limita o uso de celulares em escolas das redes pública e privada. O objetivo é diminuir os impactos negativos deste aparelho, como o vício em tecnologia, a falta de concentração e os prejuízos à saúde mental dos jovens. Não está proibido portar os dispositivos eletrônicos nas classes, mas sua utilização é apenas para emergências, necessidades de saúde e atividades pedagógicas que necessitam deles. Tudo fica sempre sob supervisão do professor. Essa 'brecha' tem levado muitos alunos a tentar burlar as regras, afirma Mércia Cristina de Freitas Andrade, inspetora de alunos em uma escola da rede pública, em entrevista à AGEMT. 

Com foco em diminuir o cyberbullying, que causa dificuldades nas relações interpessoais e no desempenho escolar, além dos problemas de sono e das questões psicológicas, as instituições de ensino tiveram que definir as estratégias de implementação da lei, inclusive em recreios e intervalos entre as aulas.   

Estudante com um celular em sala de aula
Estudante com um celular em sala de aula. Foto/Agência de Notícias Yonhap

Com a dependência em inteligências artificiais (IAs) atualmente, a funcionária do Educandário comentou se notou alguma diferença na aprendizagem dos alunos com a utilização desenfreada da internet e o acesso à inteligência artificial: "O uso de celulares e a utilização da IA, de certa forma, fez com que os alunos fizessem o uso demasiado de respostas e pesquisas prontas. Dessa forma, a aprendizagem e o aprimoramento da bagagem cultural foram seriamente comprometidos", ressalta. 

São Paulo foi o primeiro estado a adotar a medida, antes mesmo da criação da lei federal. Os regulamentos mais detalhados da implementação da legislação ficaram ao cargo do CNE (Conselho Nacional de Educação), órgão consultivo do Ministério da Educação (MEC), que decidiu dar autonomia aos colégios na maneira de armazenar e lidar com os aparelhos. Para Mércia, a proibição foi uma medida tardia, mas necessária e, com isso, os estudantes poderão fazer melhor uso do tempo e se concentrar melhor nos estudos. Ela cita: “Notei uma ligeira melhora nas relações humanas. Uma atenção mais direcionada às disciplinas, mas ainda uma resistência à proibição…" 

A entrevistada: Mércia Cristina
A entrevistada: Mércia Cristina de Freitas Andrade. Foto/Arquivo Pessoal

Essa atitude reflete um relacionamento não saudável com um dispositivo que era, praticamente, parte do material escolar e que está cada vez mais presente na vida social. Quando foi proibido, causou uma onda de irritação nos jovens, relata a inspetora.   

A partir de 2018, a Organização Mundial da Saúde (OMS) começou a reconhecer a dependência do celular e em outros meios digitais como um transtorno chamado nomofobia. Um estudo da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) diz que cerca de 25% dos adolescentes brasileiros são viciados na internet. Além disso, a Opinion Box traz os dados de que 95% das crianças do país, entre 10 e 12 anos, têm acesso a pelo menos um smartphone.  Com essa medida, espera-se que a escola volte a ser um ambiente de interação, que os estudantes voltem a ter uma aprendizagem mais fluida e que desenvolvam uma relação mais equilibrada com a tecnologia. 

Apontada como uma ferramenta no combate às mudanças climáticas, a nuclearização envolve questões colaterais complexas
por
Vítor Nhoatto
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30/05/2025 - 12h

O setor de energia respondeu em 2024 por 68% de toda a emissão de CO2 no mundo, segundo relatório da United Nations Environment Programme (UNEP). O gás é o principal causador do aquecimento global e precisa diminuir drasticamente nos próximos anos, apontando para a necessidade da chamada transição energética e descarbonização. Mudar a forma como se produz energia é um desafio, e a nuclearização ressurge como uma possível resposta.

A produção de energia a partir de material nuclear é antiga, e de forma simplificada funciona em algumas etapas. O combustível radioativo (urânio) tem seus átomos divididos no processo de fissão, liberando uma grande quantidade de energia que aquece a água em torno do reator e o vapor gerado acaba movimentando turbinas na usina que geram a energia. 

O que chama a atenção para a modalidade é a produção de grandes quantidades de energia com pouco material e baixa pegada de carbono em comparação aos combustíveis fósseis. De acordo com dados de 2020 da German Environment Agency levantados pela organização holandesa fundada em 1978, World Information Service on Energy (WISE), para cada Kwh gerado por usinas nucleares, cerca de 117 gramas de CO2 são emitidos. No caso do carvão e do gás natural as médias giram em torno de 950 e 440 gramas respectivamente. 

Cláudio Geraldo Schön, doutor em Ciências Naturais pela Universität de Dortmund, mestre em Engenharia Metalúrgica pela Universidade de São Paulo (USP) e professor titular na instituição destaca o potencial e a evolução nuclear com o passar dos anos. "Expandi-la poderia substituir as usinas termelétricas, diminuindo a geração de gases de efeito estufa [...] “o processo é continuamente atualizado, e resulta em avanços mesmo sendo uma tecnologia consolidada”.

Foi na extinta União Soviética que a primeira usina nuclear para uso doméstico começou a funcionar para contextualização, a Obninsk em 1954. Em seguida vieram outras, como a de Calder Hall no Reino Unido em 1956 e Shippingport nos Estados Unidos da América (EUA) em 1957. No Brasil, a usina Angra I foi a pioneira, com operações iniciadas em 1985.

Cinza e não verde

No entanto, o cinzento urânio traz um efeito não tão expressivo. Segundo a Agência Internacional de Energia (AIE), se a capacidade de produção nuclear triplicasse, a redução na emissão de CO2 do setor de energia seria cerca de apenas 6% devido principalmente à grande quantidade de carbono liberada na construção de reatores e usinas, que exigem grandes quantidades de recursos e décadas até começarem a funcionar, e para a mineração do urânio também. 

Além disso, a pegada de carbono das principais fontes renováveis de produção de energia são bem mais baixas que a nuclear. Ainda de acordo com o levantamento de 2020 da German Environment Agency, no caso da solar, cada Kwh emite algo em torno de 30 gramas de CO2, para a eólica a cifra é inferior a 10 e para a hidrelétrica de apenas 4 aproximadamente. 

Para o especialista sênior em energia nuclear e integrante da WISE International, Jan Haverkamp, a energia nuclear não é efetiva e nem tem a emergência climática como foco. “O uso do argumento climático é uma cobertura para outros interesses [...] os países com uso tradicional de energia nuclear não a desenvolveram devido às alterações climáticas, o fator inicial foi militar como EUA, China, Rússia e Brasil. Já para outros países era um sinal de importância, como no caso da Romênia, Bulgária e Coreia do Sul. Ou ainda visando a redução da dependência do petróleo como na Alemanha e Reino Unido, ou ainda uma tentativa fracassada de desenvolver uma fonte barata de energia como na Suécia e Canadá”.

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Última usina nuclear na Alemanha começou a ser demolida em 2023, mas novo governo de extrema-direita avalia reativar a base; “resumindo, para alguns é geopolítica” comenta Jan Haverkamp - Foto: Thomas Frey / DPA / Picture Alliance

Atualmente existem 437 reatores nucleares em funcionamento no mundo, que representam 14% de toda a energia gerada no mundo, de acordo com a World Nuclear Association (WNA). Os EUA ocupam a primeira posição do ranking com 96 unidades, com França, China e Rússia em seguida com 56, 55 e 37 cada, respectivamente. O país asiático tem planos inclusive de se tornar uma potência nuclear, e até 2035 ter o dobro da capacidade atual dos EUA. 

No caso do Brasil, a geração nuclear responde por apenas 2% da matriz energética, produzidos nas usinas Angra I e Angra II. Ambas fazem parte da Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto, ao lado da Angra III, ainda em obras, e o complexo começou a ser construído durante a ditadura militar no país.  

Aquilino Senra Martinez, doutor em Ciências da Engenharia Nuclear pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e ex-membro do Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia da Presidência da República explica as nuances da modalidade: “O seu uso para geração de eletricidade depende do contexto de cada país. Em lugares com alta demanda e poucos recursos renováveis, a sua expansão pode ser estratégica. No cenário das mudanças climáticas, ela não pode ser descartada, mas também não deve ser tratada como solução única".

Com dimensões continentais e clima tropical, o Brasil se destaca no cenário mundial justamente pelo seu potencial de produção energética renovável, e hoje é referência no quesito. O Balanço Energético Nacional (BEN) de 2024, feito pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE) em parceria com Ministério de Minas e Energia (MME), constatou que foi de 49% o índice de energia proveniente de fontes renováveis. 

Mesmo assim, no fim do ano passado a usina Angra I teve seu licenciamento para operação renovado por mais 20 anos pela Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), órgão do Governo Federal, e demandará investimento de R$3,2 bilhões nos próximos 3 anos. A continuação das obras de Angra III seguem em análise, mesmo com a administradora das usinas, a empresa de capital misto Eletronuclear, tendo uma dívida de R$6,3 bilhões com a Caixa e o Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES). 

As operações no terceiro reator foram paralisadas em 2015 e voltaram somente em 2022 após reajuste do orçamento, com 65% das obras concluídas. Isso demandou um investimento até então de R$7,8 bilhões, e apesar da conclusão não ter sido incluída no novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) anunciado em 2023, estima-se cerca de R$20 bilhões necessários para tal.

Para Rárisson Sampaio, porta-voz da Frente de Transição Energética do Greenpeace Brasil, essas cifras revelam como a nuclearização desvia dinheiro necessário das fontes renováveis e ameaça um desenvolvimento sustentável e acessível. “O investimento em usinas nucleares não se conecta com a realidade do país, que poderia direcionar tais recursos para outras áreas, fortalecendo políticas como o Luz para Todos, que garante acesso a fontes de energia limpa, segura e barata, combatendo a pobreza energética e alinhando-se aos ODS da Agenda 2030”, diz Sampaio. 

Criado em 2003, o programa do Governo federal tem como intuito universalizar o acesso à energia no país, especialmente em áreas afastadas e periféricas e já impactou 17,5 milhões de pessoas. Para essa nova fase, uma das frentes é justamente possibilitar a instalação de placas solares em domicílios de baixa renda. 

Jan Haverkamp, da WISE, defende como em muitos países o investimento na energia nuclear desvia efetivamente o foco e dinheiro para medidas concretas no combate às mudanças climáticas, o que não é verídico: “As fontes de energia renováveis ​​produzem atualmente mais energia do que a nuclear em todo o mundo, e essa quantidade continua aumentando. A geração nuclear está mais ou menos estável há 3 décadas. A Finlândia, por exemplo, está atrasada na implementação de energia eólica desde que decidiu construir a usina Olkiluoto 3, que sofreu um atraso significativo”.

Segurança x planejamento

De acordo com estimativas de 2024 da Agência Internacional de Energia, a demanda energética global aumentará 4% ao ano entre 2024 e 2025, cifra bem maior que os 2,5% registrados em 2023. Os principais impulsionadores serão o maior uso de ar-condicionado devido justamente às mudanças climáticas, a progressiva eletrificação da frota de veículos, imprescindível na descarbonização do setor, e pelo avanço das Inteligências Artificiais (IA). 

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Demanda por energia pelas big techs só cresce, tal qual o uso de água potável para resfriamento dos computadores, o que aponta para uma necessidade de consciência ao usar IAs e a internet -  Foto: Microsoft / Divulgação

Os data centers deverão mais que duplicar as suas necessidades de energia até 2030 segundo a AIE, ultrapassando em alguns anos a energia consumida pelo Japão. Corroborando com esses indicativos, o Ministério de Minas e Energias realizou um estudo que aponta para um aumento de 25% na necessidade de produção energética brasileira até 2034. Nesse cenário, uma questão levantada na transição energética é a segurança e expansão necessárias para a manutenção sadia da sociedade.

Carlos Schön argumenta sobre o papel da energia nuclear, portanto, e as questões em relação ao clima: “Nós produzimos muita energia, mas ainda é pouco considerando o tamanho do país [...] a energia nuclear é a principal aliada das fontes renováveis, justamente porque essas dependem de fatores extrínsecos (sol na geração fotovoltaica, vento na geração eólica) que por sua própria natureza são flutuantes”.

Uma vez extraído do solo, o urânio pode abastecer por décadas uma usina nuclear, as quais em média podem funcionar por 40 anos, com a possibilidade de extensão, como no caso de Angra I, em funcionamento desde 1985 e renovada até 2044. Tudo isso acontece também sem depender de fatores externos como o vento, que pode danificar as hélices das turbinas eólicas, as nuvens que afetam a produção solar e a variação dos reservatórios que impactam as hidrelétricas. 

Contudo, Ana Fabiola Leite Almeida, professora do Departamento de Engenharia Mecânica e Produção da Universidade Federal do Ceará (UFC) e Mestre em Química pela instituição, destaca que o problema reside no planejamento energético. Mesmo que a produção diminua, é algo manejável com vontade. “O risco não está nas renováveis em si, mas na falta de planejamento. Em cenários críticos, pode haver queda média de 20 a 40% na produção energética dependendo da região, mas com previsibilidade climática, diversificação geográfica e sistemas híbridos conseguimos mitigar esses efeitos”, explica Almeida.

Em períodos como de ondas de calor em que a demanda energética aumenta, fontes como as termelétricas passam a ter maior participação na produção de energia, e como são mais caras que as hidrelétricas, a conta de luz pressiona o bolso da população. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no acumulado de 2023 o aumento na tarifa foi de 9,52%, bem acima da inflação, de 4,62% no mesmo período. 

Relatório de 2024 do Tribunal de Contas da União (TCU) em parceria com a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e a Empresa de Pesquisa Energética aponta que a nuclearização não resolveria justamente essa questão. A energia nuclear produzida em Angra III aumentará em 2,9% a conta de luz por ano e custará à população até 77 bilhões em despesas na contratação se a obra for concluída.

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“Existe todo um investimento que pode ser perdido, mas não justifica a continuidade de Angra III. É o resultado do  mal planejamento e desalinhamento com a política energética aponta Rarisson do Greenpeace - Foto: Eletrobras / Divulgação

O mesmo estudo do TCU destaca que as despesas com a obra “parada” chegam a R$2 bilhões por ano e uma desistência definitiva custaria cerca de R$13 bilhões, menos que o montante necessário para conclusão. Países como Áustria, Portugal e Dinamarca não classificam a energia nuclear como uma fonte limpa, e Itália e mais recentemente Alemanha, desativaram seus reatores ainda em funcionamento.

No caso do Brasil em relação ao setor de energias, as renováveis se destacam em várias frentes. Segundo o “Atlas Eólico” de 2022 do governo do Espírito Santo em parceria com a Embaixada Alemã, o potencial de geração pelo vento somente no estado é de 160 GWh, quase um terço da demanda anual do país hoje.

A energia solar também é outro enorme potencial, levando em consideração que o Brasil é o país que mais recebe irradiação solar no mundo, até então desperdiçado. Em 2023 a companhia de consultoria BloombergNEF apontou que se as políticas de incentivo à modalidade permanecerem iguais, em 2050 a capacidade de geração será de 121 GW por ano. Na ocasião, o presidente da Associação Brasileira de Energia Solar (Absolar), Ronaldo Koloszuk, defendeu que isso pode acontecer ainda em 2040 com apoio e expansão do setor. 

Ana Fabiola destaca: "O Brasil tem um dos maiores potenciais renováveis do mundo, mas para isso precisamos investir em inovação, infraestrutura de rede, armazenamento e educação técnica [...] é preciso ter suporte de armazenamento, interligação entre regiões e tecnologias de resposta à demanda. As fontes renováveis podem sim suprir a demanda crescente se houver vontade política e investimento contínuo", afirma. 

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Maior parque solar do mundo fica em Minas Gerais e foi inaugurado em 2023, fazendo com que a capacidade do estado chegue a 8 GW por ano - Foto: Solatio / Divulgação

Potencial radioativo denso

Falando em demandas futuras e recursos para sanar problemas sem gerar mais, uma outra implicação da energia nuclear gira em torno dos resíduos perigosos da atividade. A World Nuclear Association aponta que o resíduo nuclear equivalente à demanda de uma pessoa por um ano é do tamanho de um tijolo. Pode não parecer tanto de início, mas o problema está na radioatividade do material. 

A meia vida do urânio 235, o tempo que o material leva para se desintegrar e deixar de ser extremamente radioativo, gira em torno de 700 milhões de anos. Durante esse tempo as substâncias líquidas e sólidas precisam ficar armazenadas e isoladas do mundo, seja em reservatórios subterrâneos, piscinas gigantes ou toneis de chumbo. Não existe hoje uma solução para esse material, e como os primeiros usos são do século passado apenas, respostas sobre o comportamento dele também não foram encontradas. 

Isso em si já acende um alerta pois relega uma questão das gerações passadas às futuras, e a possível fuga de material radioativo das usinas pode colocar em risco a segurança nacional com a produção de bombas. Mas olhando para a história mais uma vez, a situação se complica. Em 1986 ocorreu na atual Ucrânia o famigerado desastre nuclear de Chernobyl, zona até hoje inabitável. A explosão da usina contaminou uma área de milhares de quilômetros ao seu redor, causou milhares de mortes e adoeceu os que resistiram. Um caso mais recente foi em Fukushima no Japão em 2011, que apesar de menor e diferente, reforça o cuidado exigido. 

Aquilino Senra afirma que a questão é muito relevante no debate atual, mas avanços foram feitos e que não deve ser a única levada em consideração: “É essencial que seja considerado dentro de um contexto histórico e tecnológico, à luz dos avanços obtidos nas décadas subsequentes e da comparação com outras fontes de geração de energia, como as fontes fósseis, que também provocam milhares de mortes anuais em decorrência da poluição atmosférica”.

A Organização das Nações Unidas estima que por ano a poluição atmosférica mata entre 7 e 8 milhões de pessoas ao redor do mundo. Somente no ano de 2021, 8,1 milhões de pessoas morreram, além do fator contribuir decisivamente para o desenvolvimento de câncer de pulmão e doenças respiratórias. 

Fazendas de turbinas eólicas, sítios de placas solares e usinas hidrelétricas também estão sujeitas a acidentes e impactam o meio ambiente, mas em um grau muito menor. Além dos grandes desastres, existe a possibilidade de vazamento de material radioativo. No Brasil, por exemplo, a Comissão Nacional de Energia Nuclear constatou um caso em 2022 na unidade de Angra I, no qual a água contaminada chegou ao mar. Na ocasião, a Eletronuclear foi multada em mais de R$2 milhões de reais pelo órgão

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ONG fez protestos em frente a usina de Angra I e relembrou o desejo ilegal de milhões de litros de água contaminada pela usina em 1986 - Foto: Greenpeace Brasil / Divulgação

Rárisson do Greenpeace destaca: “a energia nuclear não tem lugar em um futuro seguro, limpo e sustentável. A energia nuclear é cara e perigosa. Apesar de oferecer energia não intermitente, há outras soluções no país que podem ser mais eficientes, seguras e baratas [...] só porque a poluição nuclear é invisível não significa que seja limpa, nessa conta toda, a energia nuclear é inexpressiva”.

Mesmo assim, nos últimos anos empresas e nomes do vale do silício floresceram no cenário da nuclearização em defesa dos chamados Small Modular Reactors (SMR), em tradução livre, pequenos reatores modulares. Segundo a Agência Internacional de Energia, as unidades menores podem ser uma solução para a demanda crescente por energia dos data centers, e por serem menores, construídos em uma fábrica e depois enviados ao local de destino, podem baratear os custos.

Com um tempo de construção diminuído para cerca de 5 anos em comparação aos reatores convencionais e cinco vezes menores em tamanho, o primeiro SMR instalado no mundo data de 2023 na China, o Linglong One. A capacidade do reator será de 1 GW quando entrar em operação regular segundo a Corporação Nacional de Energia Nuclear da China. Mesmo assim, de acordo um estudo independente da Universidade de Stanford que avaliou os dados preliminares da empresa norte-americana NuScale Power, mais lixo radiativo é gerado e há maior dispersão de energia no interior dos SMRs.

Os principais projetos na área ainda vão levar tempo também, com expectativa de começarem a operar em meados da próxima década apenas, como o da britânica Rolls Royce. Ainda existe a startup de Bill Gates, Terra Power, com expectativa que o seu reator em Wyoming, o estado menos populoso do país, entre em operação no começo de 2030. No entanto, nessa data as emissões de CO2 na atmosfera já deverão ter caído 42% para que o aquecimento fique em 1,5 graus celsius de acordo com o relatório de 2024 da United Nations Environment Programme.

 “Não é surpresa que tecno-oligarcas como Gates, Musk, Zuckerberg e Bezos sejam especialmente atraídos pelas ideias por trás de pequenos reatores nucleares modulares. Mas eles não percebem que essas tecnologias são fundamentalmente diferentes da internet ou mesmo das estruturas de energia renovável, incluindo armazenamento, com custos mais elevados em comparação com sistemas totalmente renováveis, tempos de desenvolvimento muito mais longos e sérios riscos”, alerta Jan Haverkamp da WISE International.

Esclarecendo dúvidas sobre os riscos em uma conversa com Luiz Padulla
por
Clara Dell'Armelina
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05/05/2025 - 12h

O mundo está farto de plástico. Estão presentes em utensílios, móveis, roupas e, agora, também nos alimentos, mas não para por aí, estudos recentes, como o feito por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), comprovam a existência de plástico acumulado no corpo humano. Estamos falando de microplásticos, pequenas partículas de plástico com dimensões inferiores a 5 milímetros causadoras de danos tóxicos aos seres vivos. 

A presença de plástico nos oceanos foi detectada pela primeira vez na década de 70 e só em 2004, com o pesquisador Richard Thompson, que tivemos o conhecimento dos "microplásticos". Entre 2010 e 2020 foi quando  identificaram a presença de microplástico em toda a cadeia alimentar, mas só a partir de 2023 que as pesquisas se voltaram para mapear seus impactos na saúde humana. O professor, biólogo, doutor e autor do blog "Biólogo Socialista", Luiz Fernando Padulla, conversa sobre o assunto com a repórter da AGEMT. Confira!

Como as Gerações Z e Alpha estão redefinindo a interação social e a relação com a tecnologia na vida pessoal e profissional.
por
Brenda Martins
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24/09/2024 - 12h

Por Brenda Costa Martins

 

Em meio as mesas de escritório um pai de família cansado de executar suas atividades inicia seu retorno para casa, passando por telões, propagandas e inumeráveis fontes de luz por cada uma das esquinas da cidade em que nasceu,. Certamente nada se parecia com a cidade de que se lembra de sua infância. Após um trajeto com tráfego lento, entra em seu condomínio pelo reconhecimento automático da placa do veículo, e em sua casa pelo reconhecimento de sua face pela câmera da sua porta, que da entrada a sua sala, possuindo um conjunto diverso de eletrônicos em sua sala: a TV smart que possibilita acesso a streamings, reguladores inteligentes de temperatura, robôs que limpam o chão automaticamente e eletrodomésticos que aceitam comandos diversos, por fim se depara com seu filho, que estava completamente entregue ao seu videogame, o que o faz pensar sobre como a tecnologia mudou a forma de viver, e como será a vida do seu filho de agora em diante. A realidade desse pai não é muito diferente de como se mostra a vida da população nas grandes cidades nos dias atuais.

À medida que o mundo se torna cada vez mais digital, as gerações mais jovens, Z e Alpha, já não conhecem a vida sem a tecnologia. Para elas, o mundo analógico é uma história contada pelos pais, uma realidade distante que soa quase fictícia em uma era onde tudo, desde brinquedos até o trabalho, é permeado por redes digitais, plataformas e dispositivos inteligentes. Para a Geração Z, nascida entre 1997 e 2010, e a Geração Alpha, nascida a partir de 2010, a tecnologia não é uma ferramenta acessória: é uma extensão natural de sua existência. Nessa nova era, é interessante observar como essas gerações lidam com questões de identidade, adaptação e transformação – não apenas tecnológica, mas social e psicológica.

A Geração Z, referida como “nativa digital” pelo educador Marc Prensky, é aquela que cresceu em um ambiente saturado de dispositivos e redes digitais. Desde brinquedos interativos na infância até o primeiro contato com smartphones e redes sociais na adolescência, esses jovens foram introduzidos a um mundo de interatividade quase instantânea. O “Z” que os identifica vem de “zap”, sugerindo rapidez, eficiência e um ritmo que exige respostas ágeis e experiências em tempo real. Eles aprendem e se adaptam rapidamente, valorizando a autonomia e explorando a comunicação e a informação sob novas perspectivas. Ao mesmo tempo, essa geração enfrenta desafios únicos e, muitas vezes, invisíveis. Vícios em redes sociais, padrões irreais de vida e beleza, além da pressão de se manter conectado e apresentar uma versão idealizada de si mesmo são preocupações que surgem naturalmente com o uso excessivo de plataformas digitais. Esse comportamento acaba criando um paradoxo: são jovens hiperconectados, mas que enfrentam problemas de saúde mental e emocional ligados à constante comparação e aprovação virtual.

Para a Geração Alpha, o cenário é ainda mais interessante. Estes são os primeiros verdadeiros “filhos” da era digital, aqueles que cresceram rodeados por smartphones, tablets, assistentes de voz e até eletrodomésticos inteligentes que reagem a comandos. O mundo digitalizado não é um ambiente que eles precisem “aprender”; é o mundo em que nasceram e onde, desde cedo, desenvolvem suas percepções e habilidades. Dado Schneider, professor e escritor sobre as novas gerações, aponta que o desenvolvimento dessas crianças é incrivelmente rápido. É comum que, com poucos anos de idade, já dominem o funcionamento de celulares e tablets, clicando, deslizando e explorando as possibilidades de maneira intuitiva. No entanto é necessário observar o que essa familiaridade implica: enquanto essas crianças crescem com uma capacidade notável de adaptação e aprendizado tecnológico, surgem questionamentos sobre os impactos dessa exposição contínua à tecnologia em aspectos como a capacidade de atenção, habilidades sociais e criatividade.

A educação, um dos pilares fundamentais para o crescimento de qualquer geração, enfrenta desafios profundos diante dessas transformações. Marc Prensky, além de cunhar o termo “nativos digitais”, também criou o conceito de “imigrantes digitais” – aqueles que, nascidos antes da era digital, precisam se adaptar a ela como quem aprende um novo idioma, com um “sotaque” que denuncia sua origem. Para Prensky, a educação do século XXI precisa reformular suas abordagens para acompanhar a mente dos nativos digitais. Métodos de ensino que considerem a curiosidade e a velocidade de aprendizado dessas gerações são essenciais. O sistema educacional enfrenta o desafio de se reinventar para ir além da memorização e promover a criatividade, a análise crítica e o uso consciente das ferramentas digitais. Nesse contexto, a tecnologia não deve ser um fim, mas um meio de potencializar as habilidades e o pensamento crítico dos jovens, sem deixar de lado as nuances emocionais e sociais que os definem.

A relação da Geração Z com o consumo também reflete essa cultura digitalizada. Eles são vorazes consumidores de inovação, tecnologia e de marcas que se alinham aos seus valores e ideais. Temas como sustentabilidade, diversidade e responsabilidade social ganham destaque, pois esses jovens estão atentos às práticas e discursos das empresas que apoiam. Mais que isso, eles esperam que suas experiências de consumo sejam práticas, rápidas e customizáveis – um reflexo direto do mundo digital e personalizado em que vivem. Para eles, a conveniência e a experiência fluida são quase uma exigência, o que desafia as empresas a se manterem sempre à frente, atualizadas e conscientes de suas necessidades e desejos. A mensagem é clara: transparência, agilidade e propósito são os valores que definem sua relação com o mundo ao seu redor.

No âmbito profissional, a entrada da Geração Z e a futura inserção da Geração Alpha no mercado de trabalho exigem uma nova mentalidade por parte das empresas. Jovens que cresceram com a tecnologia não são facilmente atraídos por processos burocráticos ou ambientes rígidos. Eles buscam ambientes colaborativos, flexíveis e dinâmicos, onde possam expressar suas ideias e contribuir para uma cultura de inovação. Segundo o IBGE, 48% da Geração Z já está ativa no mercado, e eles trazem consigo uma visão de mundo que desafia as normas tradicionais de trabalho. Mais do que nunca, é essencial que os líderes saibam ouvi-los, entendam suas motivações e promovam uma cultura organizacional aberta às mudanças tecnológicas e às novas perspectivas.

Esses impactos estão apenas começando com desdobramentos profundos da era digital na formação das novas gerações. Em um futuro não muito distante, a Geração Alpha estará ocupando espaços ainda mais significativos, e pode ser fascinante observar como seu contato com a tecnologia desde a infância moldará o modo de vida e de pensar. Talvez a maior lição seja justamente essa: mesmo aqueles que não são nativos digitais precisam, como imigrantes, aprender a língua tecnológica – ainda que com sotaque – para construir um mundo que permita às gerações futuras crescerem de forma equilibrada, onde a tecnologia seja não só uma ferramenta, mas uma ponte para uma existência mais rica e significativa.

Elas estão presentes em alimentos como grãos e especiarias e são um risco à saúde amplamente desconhecido.
por
NINA JANUZZI DA GLORIA
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24/09/2024 - 12h

Por Nina Januzzi da Glória

 

O ar na feira-livre de Perdizes é impregnado por uma vibrante mistura de aromas que se mesclam a cada passo: frutas frescas, ervas recém-colhidas, o toque apimentado das especiarias e aquele cheiro leve de terra úmida vindo das raízes expostas nas bancas. As barracas se alinham ao longo da rua, criando um verdadeiro mosaico de cores. O vermelho vivo dos tomates se contrasta com o laranja das cenouras e o amarelo das mangas que brilham ao sol da manhã. Penduradas nas estruturas de metal, as folhas verdes das alfaces e das couves balançam suavemente com a brisa, liberando um cheiro fresco e natural que convida os passantes a se aproximarem.

Os sons da feira são uma sinfonia própria: feirantes gritam suas promoções com entusiasmo, oferecendo abacates suculentos ou melancias frescas com gritos de “doce igual mel”. O barulho dos sacos de plástico sendo abertos, o tilintar das moedas e o burburinho constante de conversas animadas enchem o ar, enquanto os clientes circulam pelas barracas, atentos a cada detalhe. Homens e mulheres com sacolas de pano nas mãos escolhem minuciosamente o que levar para casa. Um idoso observa atentamente as frutas, apalpando as laranjas como quem avalia um velho conhecido. Mais adiante, uma mãe ensina ao filho a importância de cheirar as ervas antes de comprá-las, aproximando o manjericão do nariz do menino que ri, encantado com o aroma forte e adocicado da planta.

É difícil imaginar que algo de errado possa estar oculto em um cenário tão familiar e acolhedor. Tudo parece tão perfeitamente seguro, tão natural, que a ideia de uma ameaça invisível não passa pela cabeça de ninguém. Mas o que poucos sabem é que, entre esses produtos frescos e coloridos, algo que não pode ser visto a olho nu pode estar presente: micotoxinas.

Feira Rua Ministro Godói, bairro Perdizes  Foto: Nina J. da Gloria

Na barraca da dona Elza, o cheiro de especiarias é especialmente marcante. Uma combinação de cravo, canela e cúrcuma parece dançar pelo ar, envolvendo os clientes que se aproximam. Ela trabalha na feira há mais de 15 anos. Com suas mãos ágeis e firmes, pesa um saco de lentilhas para um cliente habitual enquanto conversa sobre as melhores receitas para preparar feijão com folhas de louro. Pergunto se ela já ouviu falar de micotoxinas. Ela franze a testa por um momento, hesita, e depois responde com um sorriso, enquanto termina de fechar o pacote com uma habilidade que só o tempo traz. E com certo espanto repete: “Micotoxinas?" E reafirma: não, que nunca ouviu falar disso. E confiando na tradição e no cuidado que sempre teve com seus produtos exclama que em sua barraca tudo é fresquinho, sem nenhum problema.

Essa despreocupação, no entanto, não é exclusividade de dona Elza. A maioria dos frequentadores da feira de Perdizes – e de qualquer outra feira-livre – desconhece o perigo representado por essas toxinas silenciosas. Elas são produzidas por fungos e podem estar presentes em alimentos comuns, como cereais, nozes, café e especiarias. E, embora sejam invisíveis, as micotoxinas têm potencial para causar danos graves à saúde humana: desde problemas hepáticos até a supressão do sistema imunológico. É uma contaminação sorrateira, que muitas vezes passa despercebida em meio ao colorido vibrante e ao frescor aparente das feiras.

Banca de frutas, especiarias   Foto: Nina J. da Gloria

A alguns quilômetros dali, o ambiente muda drasticamente. O colorido e o barulho da feira de Perdizes dão lugar à precisão e ao silêncio controlado do laboratório da Universidade de São Paulo, onde o pesquisador Eduardo Micotti da Gloria e sua equipe enfrentam de frente esse inimigo invisível. O cheiro esterilizado, frio e metálico do laboratório contrasta fortemente com os aromas vivos da feira. As superfícies de aço inoxidável e os equipamentos de alta tecnologia refletem a luz fria das lâmpadas fluorescentes, enquanto Eduardo caminha por seu ambiente de trabalho. Cada máquina tem uma função específica, desde a análise de amostras até a detecção de partículas minúsculas que os olhos humanos jamais conseguiriam ver.

Eduardo, um homem de aparência calma e de gestos precisos, me explica com entusiasmo a importância do trabalho que desenvolvem ali. Explica que as micotoxinas são mais comuns do que as pessoas imaginam. Elas podem estar em alimentos que consumimos todos os dias, como o milho, o café ou o amendoim enquanto ajusta cuidadosamente uma amostra de grãos de milho sob o microscópio. Todo o problema é que a contaminação não é visível. É possível consumir esses alimentos sem nunca perceber que estão contaminados.

                                                   

                       Equipamento usado no laboratório para análise dos grãos  Foto: Nina J. da Gloria

O pesquisador mostra uma amostra de grãos aparentemente perfeitos, tirados de um lote testado no laboratório. Ele conta que eles estão contaminados com aflatoxina, uma das micotoxinas mais perigosas. Se fossem vendidos na feira de Perdizes, ninguém suspeitaria de nada, comenta, reajustando o microscópio para mostrar os fungos que produzem essa toxina. A imagem que aparece na lente revela formas grotescas e bizarras, completamente alheias à aparência comum do milho que repousa no prato de tantas famílias. O laboratório de Eduardo pode não ser tão grande quanto as feiras ou tão movimentado quanto os campos de cultivo, mas seu trabalho é vital. Nele, a equipe está desenvolvendo novos métodos de detecção que podem ser aplicados diretamente no campo ou até em feiras, como a de Perdizes, com um sorriso de orgulho.Também mostra um protótipo de sensor automático, capaz de identificar a presença de micotoxinas em grãos sem a necessidade de processos laboratoriais demorados. O objetivo desse desenvolvimento é tornar a tecnologia acessível para todos, principalmente para os pequenos produtores, que muitas vezes não têm os recursos necessários para prevenir a contaminação.

Porém, Eduardo admite que a luta contra as micotoxinas vai além da ciência, pois é uma questão de saúde pública. O Brasil é um dos maiores produtores de alimentos do mundo, mas o controle sobre micotoxinas ainda é limitado. A fiscalização existe, mas é esparsa, e a falta de conhecimento entre consumidores e produtores só agrava o problema,” afirma ele, com um misto de frustração e esperança no olhar.

                                                   

     Pesquisador Eduardo Micotti da Gloria em seu laboratório, explicando sobre micotoxina   Foto: Nina J. da  Gloria

Para pequenos produtores rurais, como José dos Santos, que cultiva milho no interior de São Paulo, o problema das micotoxinas representa não só uma ameaça à saúde, mas também à sobrevivência econômica. Conta que perdeu metade da produção de milho no ano passado. Quando descobriu que estava contaminado, era tarde demais. As mãos calejadas refletindo a dureza da vida no campo e sem acesso às tecnologias avançadas, muitos agricultores como ele dependem de métodos tradicionais e da sorte para proteger suas safras. No entanto, como Eduardo explicou, a contaminação pode ocorrer facilmente durante o armazenamento, quando os grãos são expostos à umidade e ao calor, criando um ambiente ideal para o crescimento de fungos.

Ainda na feira de Perdizes, com o cheiro fresco de frutas e ervas ainda no ar, é possível refletir sobre a ironia da situação. Hoje, em uma época em que a informação está a um clique de distância, a ameaça representada pelas micotoxinas ainda é amplamente desconhecida. O trabalho de Eduardo e de tantos outros pesquisadores representa uma luz de esperança, mas não basta apenas contar com avanços tecnológicos. Para que a batalha contra essas toxinas seja realmente vencida, é necessário mais do que ciência. A palavra de ordem são políticas públicas mais rigorosas, fiscalização mais presente e, acima de tudo, conscientização coletiva. Os consumidores continuam escolhendo suas frutas e legumes com a mesma confiança de sempre, sem saber que o perigo pode estar escondido no que parece ser inofensivo. O conhecimento precisa chegar a todos, da dona de casa que faz compras semanalmente ao pequeno agricultor que depende de sua colheita. Porque, no fim, a segurança alimentar deve ser uma prioridade compartilhada por todos nós. O trabalho dos pesquisadores, como Eduardo, pode ser o primeiro passo, mas a jornada só será completa quando todos estiverem cientes e preparados para enfrentar o inimigo invisível que ronda silenciosamente nossos alimentos.

 

Butch Wilmore e Suni Williams decolaram em junho com previsão de retorno para 8 dias depois, mas tiveram problemas na nave
por
Juliana Bertini de Paula
|
12/09/2024 - 12h

 

A Nasa adiou o retorno de Butch Wilmore (61 anos) e Suni Williams (58 anos) em oito meses. A Starliner, aeronave da Boeing que levava os dois astronautas para a Estação Espacial Internacional (ISS), decolou no dia 5 de junho com previsão de retorno para o dia 13 do mesmo mês. Porém, problemas de vazamento de hélio e falha crítica nos propulsores - essenciais para manobras de acoplamento e reentrada na atmosfera terrestre - adiaram a volta para fevereiro de 2025.

Starliner (ou CST-100) é uma nave espacial em forma de cápsula proposto pela Boeing - empresa conhecida pelos aviões comerciais - em colaboração com a Bigelow Aerospace. A sua principal missão é a de transportar pessoas à Estação Espacial Internacional, e estações espaciais privadas, como a Estação Espacial Comercial. A CST-100 Starliner é projetada para ser capaz de permanecer em órbita por no máximo sete meses para ser reutilizada em até dez missões.

Esse foi o primeiro voo tripulado na espaçonave. O voo já havia passado por problemas com paraquedas antes mesmo da decolagem, que teve duas contagens regressivas descartadas. Além disso, o sistema de propulsão também já havia apresentado falhas.

 

Astronautas Suni Williams e Butch Wilmore à bordo da espaçonave Starliner. Foto: Nasa via Associated Press
Astronautas Suni Williams e Butch Wilmore à bordo da espaçonave Starliner. Foto: Nasa via Associated Press

O que acontecerá com Butch e Suni?

Wilmore e Williams são pilotos experientes e já acumularam 178 e 322 dias no espaço, respectivamente. Como acontece com todos os astronautas, isso os expõe à microgravidade e à radiação espacial, que afetarão a saúde de ambos.

O primeiro pode causar desmineralização óssea - com risco de osteoporose. Os astronautas perdem cerca de 1% a 1,5% de densidade óssea para cada mês passado no espaço. 

Além disso, esse ambiente também pode causar alterações na visão. Estudos espaciais mostraram que o sangue venoso muda a direção em que circula e se desloca para a cabeça, exercendo pressão intracraniana, o que afeta principalmente os olhos. A pressão prolongada também pode levar à Síndrome Neuro-ocular Associada ao Voo Espacial (Sans), que altera a capacidade de foco, às vezes de forma permanente.

 

Suni Williams e Butch Wilmore na ISS, sem gravidade. Foto: Reprodução/NASA
Suni Williams e Butch Wilmore na ISS, sem gravidade. Foto: Reprodução/NASA 

 

 

Já a radiação cósmica aumenta o risco de câncer para os astronautas, por meio do estresse oxidativo no corpo - quando compostos que não são úteis para a vida (radicais livres, água oxigenada, etc.) são produzidos em excesso. As consequências são   alterações na funcionalidade das membranas das células, o que leva ao aparecimento de tumores cancerígenos.

Não haverá falta de suprimentos, já que missões de reabastecimento de alimentos, água, oxigênio e filtragem de carbono são enviadas regularmente à estação. A ISS também conta com seis dormitórios, dois banheiros e um ginásio para os astronautas a bordo.

O resgate de Butch e Suni será feito pela missão da Crew Dragon, da SpaceX em 2025. Dois tripulantes foram removidos da missão para liberar assentos para os astronautas presos em órbita. A incerteza e a falta de concordância de especialistas não atendem aos requisitos de segurança e desempenho da agência para voos espaciais humanos, levando assim a liderança da NASA a mover os astronautas para a missão Crew-9.


 

O que acontecerá com a nave?

A aeronave retornará vazia à Terra com o piloto automático ativado, de acordo com Bill Nelson, chefe da Nasa. 

Aeronave Starliner, que retornará à Terra vazia. Foto: Reprodução/NASA
Aeronave Starliner, que retornará à Terra vazia. Foto: Reprodução/NASA

No sábado (1), o astronauta Butch relatou sons não identificados saindo do alto-falante da Starliner. Ele pediu aos controladores de voo em Houston para verificarem se podiam ouvir o som pulsante que saia de dentro da espaçonave. 

Em nota, a Nasa explicou que o ruído ouvido pelo astronauta a bordo da Estação Espacial Internacional parou. Segundo a agência, o ruído do alto-falante foi resultado de uma configuração de áudio entre a estação espacial e a Starliner.

Em sua terceira edição, a mostra se consolida na indústria automotiva, mas ainda pode melhorar
por
Vitor Nhoatto
|
19/08/2024 - 12h

Criado em 2022 como um substituto aos órfãos do Salão do Automóvel de São Paulo, suspenso desde 2018, o Festival Interlagos aconteceu mais uma vez. Tomando as instalações do The Town, mobilizou cerca de 120 mil pessoas entre os dias 09 e 11 de agosto e as principais marcas do mercado. Tudo isso mexendo com as emoções dos apaixonados pelas quatro rodas na mítica pista de Interlagos, zona sul da capital paulista.

Vista de cima da pista de Interlagos durante o Festival Interlagos Carros 2024
Obras acontecem no complexo, palco da música em São Paulo e agora definitivamente das motos e carros também - Foto: Vitor Nhoatto

Um pouco de história

Idealizado inicialmente como Festival Duas Rodas em 2021 pela revista de mesmo nome e pela Fullpower, que como o nome sugere era dedicado ao universo das duas rodas, foi com o tempo se expandindo. No ano seguinte, mudou para Festival Interlagos Motos, já com um público considerável, e anunciou também um irmão mais novo e maior, a edição Carros. 

As expectativas eram altas, já completavam quatro anos de ausência de qualquer evento dedicado ao mundo dos automóveis no Brasil. Em um país com uma relação forte com os veículos, terra de Ayrton Senna e com relevância internacional no setor, algo estava faltando. Não era por baixa adesão popular tal buraco, mas como no mundo todo, pós-pandemia e gradativamente mais volátil, reclamações e reivindicações assombravam os tradicionais salões. 

Por parte das empresas, o principal descontentamento era com o formato em si. Estático, grandioso e caro, cada vez mais um negócio impraticável. E por parte dos espectadores, batia um cansaço do título de “agente unicamente passivo”. 

Com o Festival Interlagos as coisas seriam diferentes. Saía o termo antiquado e entrava em cena um evento de experiência automotor. Nele, os visitantes passariam a poder experimentar na pista os modelos antes restritos a exposição, enquanto as empresas poderiam comercializar seus produtos. E assim foi.

Jeep Gladiator Rubicon azul no canto com foco na sala de financiamentos do outro lado do Boulevard
De forma oposta aos estandes, salas de negócios e de financiamentos para o visitante se tornar cliente em Interlagos - Foto: Vitor Nhoatto

A primeira edição teve recepção morna, participação de dez marcas e um pouco mais de 20 mil pessoas. Em 2023, o público dobrou e apesar de ter mantido a quantidade de marcas, foi o palco de lançamentos no mercado brasileiro como o Ora 03 da GWM e o GR Corolla da Toyota. Já em 2024, o crescimento foi de fato expressivo: 19 fabricantes de veículos e 118,7 mil visitantes, segundo a organização do evento.

Como era o evento?

Sua estrutura manteve-se, com estandes localizados na área dos boxes da pista e também no piso superior, chamado de paddock mall. No entanto, para comportar o número bem maior de expositores, a pista se transformou em uma mostra a céu aberto. Com direito a terra nos calçados e caminhada na grama, mas sem o lamaçal visto no Lollapalooza, era visível a expansão do evento.

Em alguns momentos, era possível ter a sensação de algo de grande porte e com relevância minimamente nacional. Se ouviam alguns sotaques diferentes, principalmente sulistas, e havia fila nas principais ativações do festival, seguramente a sala de briefing - etapa anterior ao test-drive - e nas brincadeiras interativas nos estandes, com destaque para o divertido e aconchegante espaço da Renault.

Estande da Renault com Kardian laranja ao fundo e cafeteria no canto direito
Estande da marca francesa lembrava mais uma sala de estar do que uma exposição de carros - Foto: Vitor Nhoatto

O contato com as aparentes intermináveis obras do local prejudicava a imersão completa em alguns momentos na área externa, e os tapumes não tornavam a experiência visual tão agradável. Longe do charme e glamour dos salões com certeza. Mesmo assim, o entretenimento era diverso e cativante. Para as crianças, área kids com atividades de pintura e brinquedos infláveis, aos gamers, uma arena com simuladores, e aos passeadores de shopping, lojas de acessórios com atividades interativas e brindes, além de um quiosque da perfumaria Natura.

A praça de alimentação era modesta, com mais opções comparado às outras edições, mas ainda sem tantas variedades vegetarianas e veganas, além de preços não tão chamativos. Falando em valores, os ingressos custavam entre R$98 e R$2.960. A sinalização foi outro ponto a ser melhorado. Não havia muitas indicações de onde ficavam a área de credenciamento, de test drive, a tirolesa (herdada do The Town) ou mesmo a localização das escadas.

Outro destaque foram as atrações. Houveram apresentações de pilotos na pista de drift e shows de Fernando e Sorocaba e Filipe Ret. Aqui a organização foi vitoriosa, pois nenhum incidente ocorreu e as apresentações cativaram a plateia. Para curtir a dupla sertaneja, era necessário comparecer no sábado e ter o ingresso Show Pass, que custava R$250 e permitia o acesso a um churrasco, à vontade, por cinco horas. Para ver o rapper, na sexta-feira, o ingresso básico já era suficiente.

Dos boxes aos holofotes

Partimos para o foco do evento, os carros, área em que as coisas prometiam ser melhores e realmente emocionantes. Chegando ao autódromo, o barulho dos motores na pista chamava a atenção no longo percurso até o local de fato do evento. Transfers gratuitos estavam disponíveis no estacionamento para quem não fosse fã da caminhada, tanto ida como volta.

Caso houvesse vontade de sentir com as próprias mãos, e pneus, o circuito, era necessário desembolsar R$495 para correr com três veículos. Havia também o Range Rover Pass por R$1.295 com direito a experimentar modelos como Evoque e Velar. Por último no topo, salgados R$2.960 permitiam andar de Lamborghini, Ferrari ou Porsche. 

Vários carros na parte dos boxes na pista de Interlagos, como Honda Civic Type R, Omoda E5 e Ford Mustang
No caso da maioria dos carros, como Type R e Mustang era necessário ter CNH por pelo menos três anos, enquanto com Lamborghini e Ferrari, 5 - Foto: Vitor Nhoatto

Dentro do prédio estava a maioria dos estandes. Na parte de cima, estavam empresas diversas do setor, com carros “vestindo” seus uniformes, inclusive alguns modelos exclusivos, como um Rolls Royce Cullinan e alguns Porsche 911. Embaixo, na área dos boxes propriamente, finalmente as marcas de automóveis. 

Estiveram presentes Mitsubishi, Honda, Renault, Toyota, Lexus e Abarth, sem grandes novidades. Além destas, a Volvo marcou presença com todos os carros de sua linha atual, incluindo o recém-lançado no Brasil, EX30, SUV compacto elétrico mais barato da marca. Aliás, o modelo teve uma das maiores demandas de test drive da mostra. 

No entanto, as estrelas do evento foram, mais uma vez, as marcas chinesas. Por todos os lugares do evento, víamos estandes de empresas de acessórios, estacionamento, pista e arena com alguns Ora 03. Falando de GWM, um dirigível com a logo da marca pairava pelo céu durante os dias do festival. Além disso, mais uma vez ela apresentou modelos inéditos, ainda em homologação. Dessa vez foram dois SUVs, um de luxo com seis lugares, Wey 07, e outro off road, Tank 300, ambos híbridos.

Do lado, encontrava-se outra protagonista oriental, a BYD. Na frente de suas compatriotas em números de vendas, a nona maior do Brasil também usou a festa para atiçar os consumidores. A minivan híbrida D9, da submarca premium Denza, chamava a atenção de imediato pela sua presença, apesar de ser um produto de nicho. O modelo que realmente irá mexer com o mercado e que estava no estande, trancado e com uma espécie de máscara, era o Yuan Pro.

Byd Yuan Pro com camuflagem colorida no canto esquerdo ao lado da minivan Denza D9 branca e Seal Stock Car mais ao fundo
Além de Yuan Pro e da estreia da Denza, Seal Stock Car prevê categoria elétrica inédita na competição - Foto: Vitor Nhoatto

Com dimensões próximas a de um Hyundai Creta, o SUV elétrico será lançado ainda esse ano no Brasil. A empresa promete preços competitivos tal qual o hatch subcompacto Dolphin Mini, presente lá também em sua nova versão de cinco lugares. 

Interlagos como palco

Em constantes reformas desde 2014, a complexa propriedade da Prefeitura de São Paulo possibilitou uma nova área na edição 2024 do Festival Interlagos Carros. No meio do circuito, mesmo local onde os palcos do The Town são montados, mais marcas estavam presentes como dito no início desta reportagem.

O acesso se dava pelas escadas externas, que possibilitavam uma boa visão da pista e atraiam os mais afetuosos por fotos. Mas, de novo, a distância poderia incomodar alguns. Era uma descida considerável, mas se optasse pelo elevador, que era um pouco demorado, o incômodo poderia ser menor. Já na grama, a emoção voltava e aumentava quando comparado à área interna.

De cara, o pomposo estande branco de uma marca totalmente desconhecida chamava os olhares. Seja pelo nome não "aportuguesado" e, portanto, curioso aos brasileiros, ou pela estreia da empresa em território nacional. Essa em questão é a Neta, chinesa com pretensões de fabricação no Brasil de seus carros, totalmente elétricos.

Estande de dois andares da Neta Auto na área externa do Festival Interlagos Carros 2024
A Neta Auto promete fechar 2024 com três modelos e 35 concessionárias no Brasil, dobrando a quantidade de lojas em 2025 - Foto: Vitor Nhoatto

Seus primeiros lançamentos serão um hatch, um SUV e curiosamente um esportivo. O primeiro, o AYA, era o único não disponível para test drive e concorrerá com Dolphin e Ora 03, apesar de menor, tamanho semelhante a um Chevrolet Onix. Custando a partir de R$124.900 na versão de entrada sem assistentes de condução, tem potencial. O design é questionável, mix de monovolume e crossover, e a autonomia é menor que seus concorrentes, 263 km segundo o Inmetro. Mesmo assim o preço é atrativo.

Na casa dos R$200 mil eis o X, SUV médio com pegada esportiva e moderna. Diferente do hatch, a presença do modelo de 4,68 metros é boa e atrai. Custará entre R$194.900 e R$214,900, com variações nos assistentes, mais uma vez, e no tamanho da bateria. A versão de entrada, 400, tem autonomia de 258 km, enquanto as outras duas, 500, segundo Inmetro, podem rodar até 317 km.

Por último e em um movimento até então inédito, um esportivo de duas portas, o Neta GT. Imponente e harmonioso, o veículo também era figura constante na pista de Interlagos. A disponibilidade para test drive do modelo havia se esgotado rapidamente no site antes do evento. Ainda sem preço definido, é o único do trio em homologação. AYA e X têm previsão de comercialização em setembro e o GT até o fim do ano. 

Diversidade e exclusividade

Seguindo pelo espaço, era possível se deparar com alguns robôs, carregadores (de celular e de veículos), food trucks, mais estandes e arenas. Destaque na área de apresentações foi a pista de drift, atrás dos estandes mais ao final da área externa do evento. 

Três carros de drift, dois Nissan 350Z e um Nissan Silvia na p[ista de drift
Apenas os pilotos podiam derrapar na pista, por questões de segurança claro, mas o público curtia como se estivesse em meio a fumaça - Foto: Vitor Nhoatto

Após as fortes emoções a caminhada continuava. Perto da nova pista de habilidades, uma espécie de circuito formado por cones, estavam mais duas estreantes, e chinesas. Pertencentes a Chery, mas lançadas como marcas independentes, tal qual em mercados europeus, Omoda e Jaecoo.

A primeira, de apelo mais jovem e dinâmico, trouxe o híbrido leve 5 e sua versão elétrica E5. O porte é parecido ao rival Jeep Compass, mas com uma caída de teto acentuada e estilo que puxa para um SUV coupe. Já a segunda, com uma pegada mais cúbica e um toque maior de refinamento, apresentou o 7, híbrido plug-in. A qualidade percebida da tríade é boa, nível de equipamento completo e promessa de preços competitivos quando comercializados no início de 2025. A expectativa antes do evento era de início ainda este ano.

Os três modelos estavam disponíveis para teste, porém, foram ofuscados pela outra novata e demais chinesas. Até o último dia haviam horários disponíveis. Mesmo assim, as empresas têm altas expectativas. Investimento de R$200 milhões, rede com 50 concessionárias até o ano que vem, 30 mil vendas anuais, quatro modelos inéditos e intenção de produção nacional. 

De frente a pequena plataforma das chinesas, algo cercado de expectativas e história, o estande Museu Automóvel. De longe, a silhueta de dois clássicos já atraia os olhares, e lá dentro, até os menos entendidos sabiam que estavam diante de lendas do mundo dos automóveis. 

A iniciativa foi outra novidade da edição 2024, e trouxe raridades do século passado, como o Plymouth Superbird, além do trio de superesportivos Porsche 918, McLaren P1 e Ferrari LaFerrari. No espaço que também contava com um estúdio de tatuagem, fotos e comentários com onomatopeias de espanto eram constantes, seja de crianças ou adultos.

Mais ao fundo, estrategicamente próximos da pista off-road, que era inclusa em todos os ingressos, mas sujeito a disponibilidade no local, estavam estandes de Jeep, Ram, Ford e BYD novamente. A estadunidense Ford levou suas picapes Ranger Raptor e F-150 para o ar livre, com a segunda apresentada inclusive em sua variante elétrica Lightning, futuro lançamento. Enquanto isso, a BYD dedicou seu segundo estande a seu mais novo modelo, a picape híbrida plug-in Shark, primeira com tal motorização no segmento. 

Por fim, mas não menos relevante, a Chevrolet esteve no evento. Além de alguns modelos Stock Car espalhados pelo Festival e da nova edição do carro de competição no estande em si, havia outra novidade. Tendo sido anunciada apenas algumas semanas antes, se tratava da Blazer EV, verdadeira estrela do espaço.

Três modelos Blazer EV no estande da Chevrolet, dois dos carros vermelhos e um prata.
Preço do modelo que estrelou o filme Barbie em 2023 ainda não foi divulgado, mas pelo posicionamento proposto deve ficar em torno de R$500 mil - Foto: Vitor Nhoatto

Após alguns atrasos por questões no desenvolvimento do software do modelo que marca a chegada de uma nova geração de elétricos na GM, enfim é hora. Haviam três no estande e alguns rodando na pista. De apelo esportivo - conhecido como o SUV do Camaro nos Estados Unidos - cativa pelo design, tanto exterior como interior. O acabamento é ótimo, mas ainda aquém dos rivais na mira da marca no Brasil, BMW iX3 e a nova Porsche Macan. Além disso, fica devendo piloto automático adaptativo e centralização na faixa de rodagem. 

De olho no futuro

Em sua terceira edição, o Festival Interlagos Carros mostrou-se mais maduro, e a participação do público e das empresas comprovou a sua consolidação no calendário das quatro rodas. Obviamente, o glamour e as emoções proporcionadas pelo sucessivamente adiado Salão do Automóvel de São Paulo não são as mesmas. Mas isso não é de todo mal.

O local mexe com o imaginário popular e as demandas do público por participação efetiva se cumpriram, apesar de ainda limitada e cara para a maioria. Além disso, as marcas podem, finalmente, vender seus produtos e os custos operacionais são consideravelmente menores, segundo as participantes em suas coletivas de imprensa. Enfim, de alguma forma, ambos os lados são agradados.

O caminho traçado até aqui foi exitoso, apesar de problemas organizacionais e estruturais. Além disso, o futuro parece promissor e a prefeitura de São Paulo, inclusive, confirmou as datas para 2025. Edição Motos acontecerá entre 28 de maio a 1 de junho e Carros de 11 a 15 de junho. Já o Salão, estipulado até então para novembro de 2025, segue em negociações.

Ápice de atividade solar ocorre neste ano e atividades celestes já podem ser observadas
por
Juliana Bertini de Paula
|
05/06/2024 - 12h

 

Desde o início de maio, explosões solares foram observadas por laboratórios astronômicos de todo o planeta, causando auroras boreais pela Europa. Cientistas afirmam que o ano de 2024 será de atividades solares extremas.

“É o momento que os astrônomos piram”, diz Marcelo Rubinho, um dos astrônomos residentes do planetário de São Paulo. Ele explicou o fenômeno em entrevista à AGEMT.
 

O que são?

As explosões solares são uma súbita liberação de energia com segundos de duração que acontecem nas manchas solares, regiões ativas um pouco mais frias.

“Por ser fluido, os campos magnéticos do Sol ficam embaraçados e quanto mais embaraçados, mais atividade solares ocorrem. Isso ocorre normalmente a cada 11 anos, mas neste está anormal”, explica o astrônomo.

Ilustração explicando o campo magnético solar. Foto: Addison Wesley
Ilustração explicando o campo magnético solar. Foto: Addison Wesley.

 

 

As linhas destes campos funcionam como tubos para o plasma, composto por partículas, principalmente elétrons. As linhas formam caminho para o material passar de uma região para outra. Assim, o local onde a energia é expelida se torna mais frio e se formam as manchas solares. O Sol se mantém nesse estado até trocar a polaridade a cada 11 anos.

 

Nestas regiões existe uma concentração de plasma armazenado. Quando há alguma instabilidade nessa região, ocorre a explosão, originando radiação eletromagnética que pode ejetar partículas para o sistema solar. 

 

Como podem afetar a vida na terra?

 

Nessas explosões, pode ou não acontecer uma ejeção solar. Caso essa liberação de partículas esteja exatamente alinhada à Terra, pode atingir satélites artificiais, causando dano nos painéis solares, interrupção de transmissão de dados, e, na litosfera, alterações  no fornecimento de energia, provocando apagões e afetando sistemas de navegação.

 

“A chance da terra ser atingida é muito pequena pois a ejeção tem que sair na direção da Terra e a Terra tem que esta na linha direta da ejeção”, conta Rubinho. 

 

 Porém, as explosões não causam riscos diretos para os seres na Terra devido ao campo magnético, que impede que as partículas extremamente energéticas atinjam os seres vivos. Mas um astronauta que está fora desse campo, por exemplo, e que por algum motivo estaria fora da proteção de sua nave, poderia ter câncer de pele, catarata ou morrer.

 

Explosão solar, é perceptível o plasma seguindo as linhas do campo magnético. Foto: NASA.
Explosão solar, é perceptível o plasma seguindo as linhas do campo magnético. Foto: NASA. 

 

 

Na Terra, essas explosões se tornam perceptíveis com a ocorrência de auroras boreais incomuns no Hemisfério Norte e raras auroras austrais no Hemisfério Sul, como a que aconteceu na Argentina, observada em Ushuaia, no sul do país. No Chile, o fenômeno foi visto na região de Los Lagos e na Patagônia.

 

Aurora austral vista do Ushuaia, no sul da Argentina. Foto: Reprodução/Servicio Meteorológico Nacional/X.
Aurora austral vista do Ushuaia, no sul da Argentina. Foto: Reprodução/Servicio Meteorológico Nacional/X.

 

 

Na Europa, há relatos nas redes sociais de aurora boreal na Hungria, na Suíça, no Reino Unido e no norte de Portugal. Já nos Estados Unidos, a aurora boreal foi vista nos estados de Massachusetts, Wisconsin e Flórida.

 

Atividades extremas

Na primeira quinzena de maio deste ano foram registradas as explosões mais intensas desde 2003. 

Uma grande mancha escura na superfície do sol, nomeada AR3664, cresceu e se tornou uma das maiores e mais ativas manchas solares vistas neste ciclo solar.

 

Mancha AR3664, que cresceu nos últimos meses. Foto NOAA.
Mancha AR3664, que cresceu nos últimos meses. Foto NOAA

 

 

O fenômeno atraiu atenção dos astrônomos após o Centro de Previsão do Tempo Espacial da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA) emitir um aviso de aumento do risco de erupções solares.

 

 Essas atividades são categorizadas por tamanho com letras, sendo a classe X a mais poderosa. Em seguida, existem as erupções da classe M, que são 10 vezes menos poderosas do que as da classe X, seguidas pelas erupções da classe C, que são 10 vezes mais fracas do que as da classe M, e assim por diante.

Acompanhado da letra, há uma escala numérica que vai até 9, para registrar a força da erupção.

 

Em 15 de maio, a Nasa, agência espacial estadunidense, registrou a explosão mais potente nos últimos 20 anos. Ela foi classificada como X8.7. Apesar de intensa, a atividade aconteceu no lado oeste do Sol, que se encontra em rotação na direção contrária da Terra. Por isso, não é esperado que o fenômeno provoque efeitos no planeta.

 

Outros fenômenos

 

Além das tempestades solares, dois meteoros chamaram a atenção dos cientistas recentemente: um que atravessou Portugal e Espanha e outro no Brasil.

 

Em 19 de maio, uma enorme bola de fogo gerada pela súbita destruição de uma rocha procedente de um cometa sobrevoou a região espanhola de Extremadura e vários distritos do noroeste de Portugal, até se desintegrar sobre o Oceano Atlântico. 

Essa rocha atravessou a atmosfera terrestre a uma velocidade de 161 mil km/h. A sua cor esverdeada e azulada indica que a bola de fogo é composta por magnésio.

 

Bola de fogo azulada vista em partes da Europa. Foto: Reprodução/Facebook.
Bola de fogo azulada vista em partes da Europa. Foto: Reprodução/Facebook.

 

 

Outro evento parecido ocorreu na madrugada da última sexta-feira (31). O observatório espacial Heller & Jung, localizado em Taquara, Porto Alegre, registrou a queda vertical de um meteoro sobre o Rio Grande do Sul.

"Este meteoro ingressou na atmosfera a uma altitude de 101,4 quilômetros e se extinguiu sobre o centro do estado na área de Santa Maria a uma altitude de 32 quilômetros", explica o professor Carlos Fernando Jung, responsável pelo observatório, em entrevista ao G1.

 

 

Meteoro caindo de maneira vertical no Rio Grande do Sul. Foto: Observatório Heller & Jung
Meteoro caindo de maneira vertical no Rio Grande do Sul. Foto: Observatório Heller & Jung

 

 

Outras atividades espaciais são esperadas ainda para esse ano, como eclipses lunares, chuva de meteoros e lançamentos de missões espaciais.