Mesmo com a crescente da terceira idade no mercado de trabalho 53,8% dos idosos que trabalham estão na informalidade
por
Eduardo Bettini
Rafael Jorge
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18/11/2025 - 12h

O etarismo está surgindo como um problema para o mercado de trabalho. Uma pesquisa recente da Michael Page chamada: Talent Trends 2025, mostra que 4 em cada 10 profissionais idosos sofrem preconceito em seus trabalhos, mesmo que, em 2025, eles representem cerca de 15,6% da população brasileira, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A discriminação por idade compromete sua saúde mental e os força a buscar refúgios em diversas áreas. 

Por mais que a taxa de idosos ainda inseridos no mercado tenha aumentado 5% entre 2012 e 2025, segundo dados da Fundação Getúlio Vargas (FGV), 53,8% deles são trabalhadores informais, devido ao “isolamento” que a terceira idade sofre em seus empregos e a insegurança com o valor relativamente baixo da aposentadoria, a média sendo R$ 1.863,38, pouco mais de um salário-mínimo, de acordo com o site Agência Brasil. 

 

Gráfico da FGV sobre o percentual de informalidade por faixa etária em 2025
Gráfico da FGV sobre o percentual de informalidade por faixa etária em 2025 

Os processos seletivos atuais não têm a prioridade de buscar idosos, e sim jovens adultos por volta dos 20 anos. “Normalmente a faixa etária mais comum nos cargos de entrada é de 20 a 30 anos”, diz Marisa Silva, líder de recrutamento da New Home Inc. Ela explica também que a idade aumenta nas vagas de liderança, com média de 30 a 50 anos, porém, são oferecidas com uma frequência menor. 

Após a pandemia, o avanço tecnológico das corporações aumentou, conforme um levantamento da FGV, e os gastos das empresas na área de TI passaram a representar 8,7 % de suas receitas: “no meu ponto de vista, existe um viés dentro das empresas e seus trabalhadores: os idosos ficaram pra trás”. Silva considera que está cada vez mais difícil para o idoso entrar no mercado, ao passo no qual o preconceito cresce contra a terceira idade, isolando-os em cargos que exigem mais experiência. 

Além da questão financeira, o descarte dos idosos no mercado também traz consequências para a saúde mental dessa faixa etária: de acordo com o IBGE, a depressão atinge 13% da população entre 60 e 64 anos. A aposentadoria e o isolamento social estão fazendo os idosos se “refugiarem”, seja em busca de trabalho ou de um novo passatempo. 

Por conseguinte, a autoestima desse grupo tende a ser baixa, pois é comum não serem respeitados no mercado de trabalho tradicional. “Durante 10 anos fui chamado de ‘velho’ na empresa que trabalhei. Quando fui demitido, quis processar a empresa por assédio moral, mas ninguém quis testemunhar com receio de represálias” disse Oscar de Oliveira de 62 anos para a Folha de São Paulo em 2023. Diante desse cenário, tendem a buscar abrigo em outras áreas. 

É o caso, por exemplo, do teatro. Fernando Saba, professor, ressalta a importância das aulas na recuperação da autoestima desses idosos: “se a aula é em uma terça, esse vira o dia mais importante da semana pra eles”. 

"Eles precisam desse espaço para preencher esse vazio e não sentir a depressão, e é muito bacana ver como eles ficam proativos quando entram em um projeto.", explica o professor. "O teatro está cheio de benefícios e as pessoas estão começando a perceber isso." 

*Nome da empresa e entrevistada fictícios  

Editado por Gabriela Scholze e João Pedro Beltrame

 

Proposta de limitar a interrupção da gravidez a 22 semanas em casos de estupro reacende embate político e expõe falhas no sistema de saúde
por
Manoella Marinho
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18/11/2025 - 12h

 

O debate sobre aborto voltou a ganhar força no Congresso Nacional em 2025, impulsionado pela tramitação da PL 1301/2025, que estabelece um limite de 22 semanas para a realização do aborto em casos de estupro. O projeto de lei reafirma uma disputa histórica: de um lado, setores religiosos e conservadores defendem a restrição como um ato de ‘proteção a vida’; de outro, movimentos de direitos humanos e especialistas em saúde pública alertam que as consequências dessa medida podem aumentar a insegurança, a desigualdade e os riscos à saúde da mulher. 

 Embora o aborto ainda seja tratado como um tabu social e político, ele nunca deixou de ser uma realidade cotidiana. No Brasil, o procedimento é permitido legalmente em casos de estupro, risco a vida da gestante e anencefalia fetal. Ainda assim, o acesso ao aborto legal é marcado por barreiras institucionais e sociais. De acordo com o Governo de Minas Gerais, as mulheres demoram semanas ou meses para conseguirem atendimento no SUS, enfrentando estigmas e dificuldades de localizar um serviço público propício ao procedimento legalmente garantido. Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada  (Ipea), apenas um terço das vítimas de estupro conseguem acessar ao procedimento juridicamente a tempo; com essa proposta de redução do prazo, o risco é ampliar ainda mais o número de mulheres impulsionadas a clandestinidade.

A defesa do projeto é abordada principalmente por parlamentares da bancada conservadora. Para o Senador Eduardo Girão (Novo-CE), o aborto não deve ser tratado como uma questão de saúde pública, mas como uma violação do ‘direito a vida’. “Organizações como a OMS continuam defendendo o chamado aborto seguro, como se fosse possível segurança numa prática que nada mais é que um terrivel assassinato de crianças indefesas. A diferença é apenas o tempo”. O posicionamento do senador, possui forte influência religiosa sob o debate político, em que o termo “vida” é mobilizado como argumento central para bloqueio de avanços no tópico. Segundo a Organização Mundial da Saúde, a criminalização e a restrição não reduzem o número de abortos, apenas aumentam número de procedimentos inseguros. 

A limitação que pode ser gerada pela PL 1301/2025, pode aprofundar um quadro já crítico no SUS. De acordo com uma matéria publicada na Câmara dos Deputados,  estima-se que cerca de 200 mil mulheres sejam internadas todos os anos por complicações de abortos inseguros, realizados em clínicas clandestinas ou com métodos arriscados. Além de representar um custo elevado para o SUS, esse cenário expõe as mulheres a riscos graves, como infecções, hemorragias e até a morte. A OMS classifica o aborto seguro legal como um procedimento essencial de saúde pública. Em países que legalizaram ou ampliaram o acesso, como na Argentina, observa-se resultados positivos. De acordo com a Folha De São Paulo, após a legalização, as mortes relacionadas ao aborto no país tiveram uma queda significativa. Entre 2013 e 2023, o número de casos diminuiu de 50 para 18, com uma aceleração dessa tendência a partir de 2021, ano em que a lei entrou em vigor.

Já em relação ao Uruguai, o Multimedia Mysu en Los Medio Estudos, utilizou estudos do Instituto Guttmacher que mostram como entre 1990-1994 e 2015-2019, a taxa de gravidez indesejada diminuiu 24%, enquanto a taxa de aborto se manteve relativamente estável. No Brasil, porém, o foco ainda recai sobre o aspecto moral, o que deixa de lado a realidade da saúde reprodutiva.






Créditos: Fotografo Sérgio Lima para Poder 360

 

A deputada federal Sâmia Bomfim (PSOL-SP) criticou durante a votação em regime de urgência de outro projeto com teor semelhante, o PL 1904/24. “Criança não é mãe, e estuprador não é pai”, afirmou no plenário, sintetizando a reação de setores progressistas ao que consideram um retrocesso nos direitos sexuais e reprodutivos. 

A deputada Érika Hilton (PSOL-SP) defende, em sua pauta, que criminalizar e restringir o acesso não protege vidas, apenas penaliza mulheres vulneráveis. “Mulheres presas por usarem exercer seu direito ao próprio corpo, muitas delas presas apenas por conta da cor da sua pele, do seu saldo bancário ou do seu CEP. Essa a anistia que nos interessa”, afirmou ao apresentar uma proposta de anistia para mulheres condenadas por aborto.

A discussão nacional sobre o aborto não é recente. Em 1977, em depoimento à CPI da Mulher, a psicanalista Carmen da Silva já denunciava a hipocrisia da penalização. “Calcula-se que 2 milhões de abortos são realizados anualmente no Brasil. A penalidade do aborto seria mera hipocrisia, a acobertando uma indústria rendosíssima que, por ser clandestina, funciona condições às vezes desumanas”. Décadas depois, o cenário persiste, em que a clandestinidade permanece como única alternativa para milhares de mulheres, especialmente as de classe baixa. 

O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, alertou os riscos de equipar o aborto, em qualquer fase, a homicídio, como propôs o PL 1904/24. “Quando se discute a possibilidade de equiparar o aborto, em qualquer momento, há um crime de homicídio, isso de fato é, perdoe-me, uma irracionalidade. Não tem o menor cabimento, a menor lógica, a menor razoabilidade”. A declaração revela um campo de tensão no próprio Legislativo, indicando que nem todos os parlamentares de perfil conservador apoiam medidas de caráter extremo. 

Esse posicionamento torna-se ainda mais relevante diante do PL 1301/2025, que, embora não equipare o aborto ao homicídio, propõe limitar a interrupção da gravidez em casos de estupro ao prazo de doze semanas. A medida, apesar de reconhecer formalmente a legalidade do procedimento, impõe restrições que podem gerar efeitos negativos, sobretudo por ignorar as barreiras enfrentadas pelas vítimas para identificar a gestação e acessar o SUS. Assim, mesmo sem adotar o radicalismo de propostas anteriores, o projeto mantém-se ancorado em uma lógica punitiva e moralizante, que reforça o controle sobre os corpos femininos em vez de assegurar, de forma efetiva, os direitos já garantidos por lei.

Ao restringir o acesso baseado em um prazo rígido, a PL ignora a complexidade da situação das mulheres vítimas de violência sexual. No Brasil, muitas delas sequer conseguem identificar a gravidez precocemente, acessar informações seguras, lidar com os impactos psicológicos e familiares ou chegar a um serviço de saúde habilitado em tão pouco tempo. Esse cenário evidencia a desconexão entre a legislação proposta e a realidade do SUS, marcado por lacunas de cobertura, infraestrutura e acolhimento.






Créditos: Portal GOV

 

O debate tem foco exclusivamente na limitação temporal do aborto, na qual se deixa de lado medidas essenciais que deveriam ser trabalhadas, como educação sexual ampla, acesso a métodos contraceptivos, atendimento psicológico e acompanhamento às vítimas de violência. A ausência dessas políticas integradas evidenciam modelo que prioriza punição, e coloca princípios pessoais na frente de princípios públicos invés de proteção, perpetuando a marginalização das mulheres mais vulneráveis.

Em termos jurídicos, o impacto da aprovação do projeto seria significativo. A redução do prazo legal poderia gerar litígios, questionamentos constitucionais e pressões sobre o Judiciário, especialmente em casos de gestação tardia decorrente de estupro, na qual a vítima enfrenta barreiras estruturais para acessar unidade de saúde. A possibilidade de criminalizar indiretamente essas mulheres, amplia a necessidade de políticas de anistia e revisão das normas existentes, como sugere a deputada Érika Hilton. 

A futura tramitação do PL 1301/2025, depende das capacitações do Congresso para equilibrar as pressões políticas, religiosas e morais com a realidade concreta da sociedade brasileira. Reforçando que tratar o aborto apenas como crime é insuficiente e perigoso. O tema precisa ser abordado como política de saúde pública, com base em dados e não moralismos, garantindo o acesso seguro e digno às mulheres. Enquanto o debate político se intensifica, o SUS continua com consequências diretas aos efeitos da clandestinidade. E no cotidiano, quem sofre as sequelas são mulheres reais, com nome, rosto, histórias e direitos que, muitas vezes, permanecem invisíveis no meio das disputas ideológicas.


 

Editado por: Joana Prando e Luiza Zacanno

98% dos profissionais negros apontam para maior dificuldade no trabalho
por
Por Anna Sofia Carsughi e Larissa Viana
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18/11/2025 - 12h

“Senti a dor de ser subestimada pela minha cor, ser agredida verbalmente e até mesmo excluída”, afirma a jornalista Indianara Campos. Mulher negra e de origem indígena, ela concedeu uma entrevista a alunas da faculdade PUC-SP na última semana, e compartilhou como os estigmas relacionados à falta de diversidade e inclusão impactam sua carreira e sua saúde mental até os dias atuais.

Fazer parte de um grupo historicamente vulnerável impõe uma série de desafios em um Brasil que se vê diante de um cenário intolerante. No jornalismo, as questões raciais ainda se  configuram como um pretexto para dificultar a ascensão de profissionais que fazem parte de grupos marginalizados. Segundo dados do Jornal da USP,  98% dos profissionais pretos ou pardos da área apontaram mais dificuldade para desenvolver a carreira do que os colegas brancos, além de 52,3% das mulheres negras afirmarem já ter sido vítimas de misoginia e racismo.

Para Indianara, esse preconceito se materializou no início de sua jornada profissional, momento em que compreendeu como suas origens poderiam ser usadas como contexto para dificultar a sua carreira. “Percebi que a minha ancestralidade, por mais digna que fosse de orgulho, poderia ser usada como impeditivo para alcançar meu sonho”, diz ela. 

Essa barreira continuou no próprio ambiente de trabalho. Durante o seu trajeto profissional, ela conta que passou por diversos episódios de discriminação por parte de entrevistados e até mesmo colegas de trabalho, indivíduos que não compreendiam o peso e a violência causada pelo racismo. As agressões eram muitas vezes minimizadas e subestimadas, fazendo com que a compreensão de que se tratavam de casos de preconceitos étnicos e raciais fosse um processo transformador para sua visão de mundo. 

Ser a única repórter negra e indígena dentro das emissoras desafiou seu senso de identidade: era orientada a parecer mais “chique”, alisar o cabelo. “Senti a dor de ser subestimada pela minha cor, ser agredida verbalmente e até mesmo excluída”, relata a mulher.

A visão do jornalismo como espaço de ampliação de visões e transformação social incentivou o adentramento na profissão. Além disso, Campos relata que o cenário vem evoluindo e que, apesar de ser um processo lento, permite maior presença de diversidade em espaços profissionais. Mas, mesmo assim, “ainda há quem se incomode com a nossa presença. Há quem nos queira apenas como objetos de ilustração para uma ‘imagem’ de diversidade”.

Esse ambiente de trabalho impacta diretamente na saúde mental dos jornalistas, que enfrentam  diariamente situações estressantes diante de eventos extremos e outras formas de cobertura jornalística. O ambiente jornalístico é desgastante, por mais dinâmico que seja o veículo ou a emissora.  Segundo o estudo “The Burnout Crisis in Journalism: Solutions for Today’s Newsroom”, lançado em 2024, 80% dos entrevistados acreditam que um dos maiores desafios que o jornalismo enfrenta atualmente é a questão do Burnout. 

Para a melhor performance no trabalho, o corpo precisa manter um nível adequado de estresse. Há uma dose saudável de adrenalina que potencializa a produtividade, mas o excesso pode levar ao burnout. Essa condição coloca o corpo num constante estado de ansiedade que pode levar a problemas crônicos de saúde mental.

 

 

Gráfico colorido sobre burnout
Foto: Sinjorba- Sindicato dos jornalistas da Bahia

A entrevistada declara que é comum ter colegas ansiosos ou que desenvolvem depressão por tudo que envolve o processo de descoberta, apuração e finalização de um material. “Quando essas situações se unem às questões raciais que se desenvolvem pela falta de letramento por parte da sociedade, isso pode causar um grande estrago na saúde mental”, fala Indianara. O racismo estrutural, materializado na discriminação racial cotidiana, afeta a população e grupos minoritários que encaram essa realidade. 

Ela indica grupos de apoio, como a rede de acolhimento do “aquilombamento”, que busca a união de pessoas negras e a vivência ancestral como ferramenta de resistência e promoção de saúde desse grupo. O debate sobre as práticas terapêuticas também precisa ser estimulado, e o estigma sobre bem-estar psicológico precisa ser eliminado. Nesses grupos de apoio, ela diz que os integrantes sempre se lembram que sua cor não define suas capacidades.

Foi preciso muita terapia para amparar a trajetória de Indianara Campos e a de muitos outros profissionais que se identificam com a entrevistada. Para ela, desistir não era uma opção. Encontrar pessoas que  incentivaram o seu trabalho e que estavam dispostas a acreditar em seu crescimento pessoal e profissional, foi crucial para a jornalista seguir em frente. 

“Durante minha caminhada, devido às situações discriminatórias que passei, cheguei a pensar em encerrar minha vida. Graças ao apoio familiar, à fé e à minha rede de apoio, me levantei. Hoje eu digo que consigo ver a “vida colorida” novamente”, relata a jornalista. Para ela, esse processo desafiador foi importante para dar voz a quem ainda não tem, para que assim, essas pessoas possam ser vistas e ouvidas pela sociedade. 

 

A pesquisadora Sylvia Moretzsohn analisa como a imprensa retrata a violência nas favelas e critica o uso de termos que legitimam a ação do Estado
por
João Luiz Freitas
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13/11/2025 - 12h

Com um saldo de 121 mortos, a operação policial realizada no dia 28 de outubro nos complexos do Alemão e da Penha, zona norte do Rio de Janeiro, reacendeu o debate sobre a forma como a imprensa cobre as questões de segurança pública. Manchetes que falam em “guerra ao tráfico”, “combate ao crime” ou “megaoperação” voltaram a ocupar o noticiário. Para a pesquisadora Sylvia Moretzsohn, professora aposentada da Universidade Federal Fluminense (UFF) e especialista em ética e prática jornalística, a recorrência dessas abordagens revela uma aliança estrutural entre mídia e sistema penal.

“Uma explicação para o comportamento da nossa imprensa, de modo geral, quando se trata de crime e segurança pública, está na relação de solidariedade entre mídia, que atua como porta-voz da classe dominante, e o sistema penal”, afirma Sylvia em entrevista.

A pesquisadora diz que essa leitura é sustentada também pelo jurista Nilo Batista, no artigo “Mídia e sistema penal no capitalismo tardio”, publicado há mais de vinte anos. Citando o texto, Sylvia destaca que o neoliberalismo, ao gerar desemprego e marginalização, “precisa de um poder punitivo onipresente e capilarizado para o controle penal dos contingentes humanos que ele mesmo marginaliza”. Em outro trecho, também mencionado por ela, Batista observa que o compromisso da imprensa com o projeto neoliberal é o que explica a “vinculação mídia-sistema penal, incondicionalmente legitimante”.

Segundo Sylvia, a relação entre mídia e senso comum é outro ponto central para entender o problema. “O exercício do jornalismo, para ser crítico, deveria ser capaz de confrontar o senso comum, para mostrar que a realidade não é o que parece ser. A mídia institucionalizada, entretanto, tende a reproduzir o discurso de ‘lei e ordem’ e a naturalizar o crime e a figura do criminoso”, explica.

Esse processo, conforme complementa em um de seus artigos acadêmicos, favorece a reprodução de estereótipos e dificulta abordagens críticas. Ela cita o jurista italiano Luigi Ferrajoli, que define o “direito penal máximo” como uma visão de justiça voltada para a defesa dos interesses da maioria contra uma minoria “desviada”, lógica que se encaixa perfeitamente na cobertura policial brasileira.

Suspeitos presos são levados por policiais durante a Operação Contenção para fora da favela Vila Cruzeiro, no complexo da Penha, Rio de Janeiro
Suspeitos presos são levados por policiais durante a Operação Contenção para fora da favela Vila Cruzeiro, no complexo da Penha, Rio de Janeiro - Foto: Mauro Pimentel

Questionada sobre o uso de expressões como “guerra ao tráfico” e “megaoperação”, Sylvia é categórica: “A forma de nomear faz toda a diferença. Falar em ‘guerra’ já pressupõe a existência de um inimigo a combater, e a abater. Falar em ‘megaoperação’ quando o que ocorreu foi uma matança, uma chacina, é legitimar o discurso do governo.” Ela também critica o uso de termos como “narcoterroristas” e “neutralizar”, utilizados por autoridades e muitas vezes repetidos pela imprensa. “É um eufemismo para matar. Eliminar, executar, assassinar”, afirma.

Em relação ao comportamento dos repórteres, a pesquisadora descarta a ideia de que o problema seja apenas falta de preparo. “Não creio que haja medo. Há conivência e obediência às determinações das chefias. Há também uma convicção formada em favor do discurso da autoridade”, diz.

Sylvia defende que os cursos de jornalismo incluam noções de criminologia, para que os futuros profissionais possam adotar um olhar mais crítico sobre a cobertura policial. “Ofereci na UFF uma disciplina chamada Jornalismo e Criminologia. Seria um passo importante para um enfoque crítico da cobertura, mas ainda insuficiente, porque entraria em choque com a linha editorial das empresas jornalísticas”, observa.

Quando questionada sobre a metáfora que compara a posição da imprensa entre estar ao “lado do helicóptero” ou “ao lado da janela das casas atingidas”, Sylvia responde sem hesitar: “Está sempre ao lado do helicóptero”. Mas ela faz uma ressalva: “Isso não significaria necessariamente uma adesão ao discurso do helicóptero. O jornalista precisa estar desse lado por motivos práticos e objetivos: só pode entrar lá, numa situação de perigo, se estiver protegido. Mas poderia ser crítico, denunciar abusos, o que raramente ocorre”.

Sylvia recorda ainda um debate antigo sobre o uso de coletes à prova de bala pelos repórteres. “Alguns diziam que se sentiam mal com aquilo, porque o uso dos coletes os distinguia dos moradores, tão vulneráveis. Isso tinha um peso na hora de tentar uma aproximação com eles”, relembra.

Sobre o papel das redes sociais na disputa pela narrativa, Sylvia aponta que as empresas jornalísticas “lidaram muito mal com as transformações trazidas pela internet” e que a busca por reafirmar a autoridade do jornalismo tradicional resultou em contradições. Ela cita o Projeto Editorial da Folha de S.Paulo (2017), que se propunha a combater a desinformação, mas lembra que a falsidade não surgiu com a internet. “Os jornais se cansaram de publicar mentiras ou meias verdades, mas principalmente dão como verdade uma versão naturalizada dos fatos, que raramente abre espaço ao contraditório. Isso também é uma forma de desinformar”, afirma.

Em tom crítico, Sylvia recorda ainda uma peça publicitária da Folha, de 1987, intitulada “Hitler”, que terminava com a frase: “É possível contar um monte de mentiras dizendo só a verdade”. “Pena que o jornal não siga o próprio alerta”, diz.

Alexandre de Moraes já pode decidir por início do cumprimento da pena de prisão
por
CRISTIAN FRANCISCO BUONO COSTA
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12/11/2025 - 12h

A Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) realizou, na última sexta-feira (7), o julgamento virtual dos embargos de declaração apresentados por Jair Bolsonaro e outros condenados do chamado “núcleo 1” da trama golpista. A sessão abriu às 11h e o sistema de votação permaneceria disponível até 23h59 de 14 de novembro. Esse tipo de recurso serve para apontar eventuais omissões ou contradições do acórdão e, em regra, não reverte o resultado do julgamento principal.

Ainda no dia 7, formou-se a unanimidade para rejeitar o recurso de Bolsonaro, com votos de Alexandre de Moraes (relator), Flávio Dino, Cristiano Zanin e Cármen Lúcia. Luiz Fux não participa desta fase, após sua migração para a Segunda Turma. O entendimento também alcançou os demais réus do grupo, como Braga Netto, Anderson Torres, Augusto Heleno, Almir Garnier, Paulo Sérgio Nogueira e Alexandre Ramagem.

 

Bolsonaro no STF

O ex-presidente Jair Bolsonaro acompanha julgamento no STF. (Foto: Antonio Augusto/STF)

Na sequência da votação, o colegiado encerrou o julgamento com placar de 4 a 0 e manteve a condenação de Bolsonaro a 27 anos e 3 meses de prisão, ao rejeitar os embargos de declaração. As defesas buscavam evitar a execução das penas em regime fechado, mas a Primeira Turma considerou que os argumentos já haviam sido examinados no mérito.

A decisão não implica prisão imediata. Caberá ao relator declarar o trânsito em julgado e, então, decidir sobre a execução das penas, inclusive o local de cumprimento e eventuais pedidos da defesa. Até essa etapa, o ex-presidente segue em prisão domiciliar no âmbito de outro inquérito, e os réus ainda podem tentar medidas residuais, embora a própria Primeira Turma tenha deixado claro que não há direito automático a novo recurso ao plenário.

 

 

 

 

Parlamentar foi autor de episódio racista durante CPI dos Aplicativos na Câmera de São Paulo
por
Dayres Vitoria
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28/04/2023 - 12h

Nesta última terça-feira (24), a Câmara Municipal de São Paulo aprovou, de forma unânime - 51 votos a favor, nenhum contra e nenhuma abstenção - o processo de cassação contra o vereador pelo crime de racismo cometido. 

“Não lavar a calçada... É coisa de preto, né?", foi o que disse Camilo Cristófaro, Avante, em 3 de maio de 2022. Durante uma sessão híbrida da CPI dos Aplicativos que ocorria na Câmara de São Paulo, o vereador, que participava da reunião de forma on-line, teve o áudio vazado que deixou “escapar” o comentário ofensivo. 

 

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Após fala racista, o vereador foi desfiliado de seu antigo partido, o PSB - Crédito: Estadão

No episódio, a única a reagir a fala racista, diante de dezenas de parlamentares que também participavam da reunião, foi a vereadora Luana Alves, do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL). A então parlamentar, autodenominada negra, foi a solicitante da instauração de inquérito contra o vereador na delegacia de crimes raciais e quem acionou a Corregedoria da Câmara. 

Por unanimidade, foi aprovado a abertura de processo disciplinar contra Cristófaro, mas há quase um ano do ocorrido, a apuração pelo crime de racismo estava parada na Corregedoria da Câmara de São Paulo. Somente nesta terça-feira (24), o processo foi adiante. 

Para tentar se defender durante a época, Camilo Cristófaro alegou, inicialmente, que a fala se referia a um carro. Depois voltou atrás e se justificou dizendo se tratar apenas de uma brincadeira direcionada a um amigo. O parlamentar fez questão de ressaltar que não era racista.

A única punição imediatista que enfrentou, um dia após o episódio, foi sua desfiliação do seu então, o PSB. 

Com a aprovação do processo de sua cassação, Camilo Cristófaro, já indiciado, deverá ser julgado pelo crime de racismo em 2 de maio, véspera de um ano da data do delito cometido.  
 

Cartazes espalhados pela cidade de São Paulo com a frase "Respeite o espaço das outras pessoas" trazem questões sobre machismo em espaços públicos.
por
Giuliana Barrios Zanin
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28/04/2023 - 12h

No último domingo (16), a companhia de transportes começou o lançamento da ação nos coletivos municipais com o intuito de refletir os desconfortos que são enfrentados durante as viagens. O projeto ainda tende a ser colocado em mais de 12,9 mil ônibus até o dia 30 de abril.

A iniciativa já se disseminou por mais de 2 milhões de visualizações apenas em redes sociais. Com o acesso expandido, tanto dentro dos meios de locomoção quanto nas mídias, a ideia já foi utilizada em outros países, como em Madri e Estados Unidos, pela a união de mulheres contra o “manspreading” – prática de pessoas do sexo masculino se sentarem de pernas abertas e ocupar mais assentos. 

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A prática do “manspreading” é comum em transportes e provoca incômodo entre os passageiros./Eduardo Rodrigues

Para Karina Sousa, 20, o incômodo no transporte acontece desde pequena. Aprendeu a se “portar” nos espaços. “São incontáveis as vezes que a gente vê isso acontecendo, eu até acostumei e realmente evito sentar do lado de homens no transporte público, e infelizmente é uma coisa que ninguém toma providência”. Um levantamento realizado neste ano pelo “Viver em São Paulo: mulheres” em conjunto da Rede Nossa São Paulo mostrou que 45% das moradoras paulistas dizem já terem sofrido assédio sexual nos canais móveis.

O trajeto de medo e agonia é perseguidor delas e negligente ao olhar dos outros. ”Nunca vi nenhum cobrador, motorista ou passageiro fazendo algo, apesar de estar estampado nos anúncios do ônibus essa campanha.”, relata Karina. O desabafo da jovem estudante de jornalismo é sincero, persistente e dialoga com a devolutiva de que pelo quinto ano seguido, os automóveis públicos são os principais locais em que pessoas do sexo feminino se sentem inseguras e percebem a importunação cometida pelos homens- informações fornecidas pela mesma pesquisa. 

Ações afirmativas como a de agora já foram impostas anteriormente. Em 2022, a mesma companhia movimentou a cidade com a chamada "Ponto final ao racismo”, instituída em painéis dentro e fora dos circulares. 

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SPTrans estampa circulares em apoio às campanhas de combate ao preconceito./Diário do Transporte

Ainda é muito cedo para falar sobre mudanças, mas a própria Organização das Nações Unidas (ONU) reconhece a utilização de mecanismos populares para o apoio às camadas discriminadas. Na cartilha disponiblizada pelo site oficial, eles descrevem “Nessas seis últimas décadas, a maioria dos instrumentos internacionais firmados e ratificados pelo Brasil apresentam as ações afirmativas como estratégias reconhecidas e recomendadas pela ONU para a promoção da igualdade e o combate à discriminação e delineiam as bases conceituais para que as ações positivas de Estado promovam a igualdade.” Mas será que sem a participação civil será suficiente?

Diante das estatísticas, ativistas sociais acreditam que essa escolha é um dos caminhos importantes para combater os preconceitos e as desigualdades e, por isso, o papel dos serviços que recebem milhões de pessoas todos os dias é notificá-las e chamá-las para as lutas. Para Karina, outra possibilidade mais efetiva é uma campanha interna com os próprios funcionários para atentá-los e saber orientá-los diante dos casos.

 

Medo e constantes ataques às escolas do país foram debatidos por deputados, psicólogos, sindicatos e representantes do Movimento Estudantil.
por
Luísa Ayres
Beatriz Brascioli
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24/04/2023 - 12h

O debate acerca da segurança no ambiente escolar chegou, na penúltima segunda feira (17) na Assembleia Legislativa de São Paulo, reunindo políticos, membros de sindicatos e representantes do Movimento Estudantil para conversar sobre o problema, buscando soluções práticas. Organizada pela professora e deputada estadual Maria Izabel Azevedo Noronha (PT) –mais conhecida como Bebel–, a audiência pública relembrou o ataque a uma escola na zona leste da capital paulista e como esses crimes têm se proliferado por outros estados. Bebel, também presidente do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo, fez questão de relacionar o contexto de violência atual nas instituições de ensino com as diretrizes do governo anterior. "O comportamento hostil de um presidente que fazia a simbologia de arma o tempo todo né, e ao mesmo tempo o negacionismo da ciência, se isso não tiver um impacto na cabeça dos jovens, eu não sei então o que é lidar com ser humano", exclamou. 

Pânico 

A preocupação em relação aos ataques à comunidade escolar tem movimentado a mídia e preocupado a maioria dos pais e responsáveis, que sentem cada vez mais medo de deixar seus filhos nas instituições de ensino e não os ter de volta ao final do dia. Várias escolas têm reforçado a segurança, impedido a entrada de outros parentes ou conhecidos que não estejam autorizados formalmente. Também tem monitorado ameaças e boatos e eventualmente cancelado aulas em datas específicas, como aconteceu no último dia 20 deste mês, em que corria pela internet um suposto ataque organizado que seria executado em diversas creches e escolas pelo Brasil.  

Também em entrevista à AGEMT, Fernanda Cunha Soares, professora da rede pública municipal, conta que até mesmo nas creches e berçários o medo dos atentados tem prejudicado a frequência de comparecimento dos alunos. “Quando teve o ataque, aquele dia [27 de março] quase não veio criança”, explica a professora, apesar de pontuar que os pais, ainda que bastante assustados, precisam trabalhar e dependem do serviço das creches.  “A vida das crianças está em risco e dos profissionais da educação também. Não temos segurança nas escolas”, afirma.  

A mãe de uma aluna do oitavo ano do ensino fundamental do Colégio Jardim São Paulo, localizado na zona norte da capital, contou sobre a segurança da escola e suas preocupações. “A segurança da escola é boa, sempre tem um guarda na porta e na esquina. Após as ameaças, houve uma melhoria na segurança, com viatura na porta. O diretor estava recebendo os alunos na portaria ", diz a mãe. Segundo ela, o maior receio é de que os próprios alunos estejam por trás dos ataques. Já em relação às redes sociais, o principal meio de divulgação dos ataques e boatos, a mãe garante que observa os limites de horário e tempo de uso de sua filha e acredita, em parte, que a crescente onda de ataques tem relação com a divulgação constante feita pelas mídias. 

Existe solução? 

imagem alesp debate segurança escolar
Evento reuniu diversas partes de um mesmo problema social. Reprodução: Assembleia Legislativa de São Paulo.

Desde 2002, segundo estudo feito pela Universidade de Campinas (Unicamp), cerca de 23 ataques a escolas aconteceram no país, resultando em 30 mortes, dentre professores, alunos e profissionais da educação. No entanto, a violência no ambiente escolar não se limita a atentados e massacres externos, já que para muitas crianças e jovens, o estudo vem acompanhado do sofrimento em passar por situações de bullying, racismo e gordofobia. Segundo o Instituo Locomotiva IBGE, quase 70% dos estudantes e professores afirmaram já ter presenciado alguma cena de violência no ambiente educacional. 

Ainda na audiência, Yan Evanovich, coordenador de juventude da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão/MEC e membro do Grupo de Trabalho Interministerial para Prevenção à Violência nas Escolas, opinou sobre a solução da constante violência nas instituições de ensino, afirmando que a questão não depende apenas de uma maior segurança policial, propriamente dita. Com isso, a audiência trouxe à tona questões importantes, como a necessidade de se ter psicólogos e psicólogas dentro do ambiente escolar. Marcela Milano, do Sindicato dos Psicólogos do Estado de São Paulo concorda plenamente com a necessidade de um trabalho psicológico mais presente e eficiente nas escolas. "O psicólogo é tão importante para uma escola quanto é o assistente social. Quem atuar nas escolas não estará ali somente para atendimentos individuais de saúde mental, mas também coletivos", garantiu.

Celia Beatriz, psicóloga especialista em psicopedagogia, afirma, em contato com a AGEMT,  que casos de violência nas escolas“ certamente fragilizam o psicológico das pessoas que passam por essas situações, e isso por si só, já deveria ter um efeito de atenção e cuidado por parte dos profissionais através do encaminhamento para terapia ou trabalho em grupo de prevenção”, explica, ressaltando que não necessariamente as vítimas dessas violências se tornarão agressores. 

De qualquer maneira, "95% dos estudantes com mais 91% dos professores e 95% das famílias concordam que as questões de saúde mental, como esgotamento, ansiedade e outros problemas se tornaram mais relatados (...)", exemplificou a professora Bebel, com base também na pesquisa do Instituto Locomotiva apresentada no dia da audiência. 

Por outro lado, o cuidado com a saúde mental, também segundo Beatriz, ajudaria a minimizar essas possibilidades. “Nos Estados Unidos, alguns trabalhos mostram que em muitos casos, os agressores são alunos atuais ou já foram alunos dessa instituição e já apresentavam uma tendência agressiva, com personalidades emocionalmente frágeis e com perfis de pouca tolerância à frustração, características que poderiam ser minimizadas com uma intervenção terapêutica”, inclusive em trabalhos em grupo com os próprios alunos, professores e funcionários das escolas, que poderiam se beneficiar de intervenções sobre saúde mental e convivência como um todo, complementa.  

O jornal Estadão recentemente postou uma nota em suas redes sociais explicando a importância do cuidado ao tratar e divulgar ataques e atos violentos nas escolas, já que a extrema exposição e divulgação podem acabar incentivando outros atentados. “Pesquisas mostram que essa exposição pode levar a um efeito de contágio, de valorização e de estímulo do ato de violência em indivíduos e comunidades de ódio, o que resulta em novos casos. A visibilidade dos agressores é considerada como um ‘troféu’ dentro dessas redes”, dizia a nota. Além disso, é preciso se atentar também quanto ao prejuízo à vida pessoal dos alunos, professores e pais, principais vítimas de todo esse cenário. 

O ‘AlertaSP’ estará disponível para uso a partir desta quinta-feira
por
Hadass Leventhal
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20/04/2023 - 12h

 

Na quarta-feira (19), a prefeitura de São Paulo anunciou o lançamento do AlertaSP, aplicativo móvel voltado à segurança nas escolas municipais da capital paulista. 

Com uso restrito para ataques violentos, similar a um “botão de alerta", a plataforma será uma maneira de acionar forças de segurança do estado e equipes de socorro, segundo a Prefeitura. A iniciativa foi desenvolvida pela Secretaria Municipal de Inovação e Tecnologia (SMIT) e atenderá 8 mil escolas públicas e privadas.

Em nota à AGEMT, a Prefeitura explicou o funcionamento do projeto. "Por meio da ferramenta, as escolas poderão acionar a GCM, que irá contactar também PM e SAMU em qualquer situação de emergência ou risco”. De acordo com a instituição, o aplicativo estará disponível ao público a partir desta quinta-feira (20). 

Somente a equipe gestora das escolas terá acesso ao cadastro - diretores, assistentes de direção, coordenadores pedagógicos e coordenadores são os únicos usuários cujas chamadas serão aceitas. É necessário que o educador faça um cadastro na rede se não estiver registrado no Portal de Atendimento da Prefeitura. 

Caso o botão seja acionado, o aplicativo se conectará ao Sistema Integrado de Gestão do Relacionamento com o Cidadão (SIGRC) para que o profissional registre o motivo da denúncia e confirme o seu envio. Em seguida, a Guarda Civil Metropolitana (GCM) receberá o protocolo por e-mail e avaliará as providências a serem tomadas.

Para uma professora da rede pública que não quis ser identificada, a militarização das escolas não deve ser considerada a solução final. “Se eu acionar a GCM, isso já é um problema. Precisamos trabalhar numa perspectiva de evitar que essas interrupções aconteçam”.

A educadora explica que o recente aumento dos ataques nos colégios é o resultado de tudo que foi validado pelo poder público nos últimos anos. Desigualdade social, política de autoritarismo, violência nas redes sociais, e banalização da vida são alguns dos fatores que culminam no crescimento da violência. 

ATAQUES RECENTES

No dia 5 de abril, um homem adulto invadiu uma creche em Blumenau (SC) e assassinou quatro crianças com machadadas. Um caso similar aconteceu em São Paulo na Escola Estadual Thomazia Montoro, onde um aluno de 13 anos matou a professora Elizabeth Tenreiro, de 71 anos, e deixou mais duas feridas. Em ambos os casos, os assassinos foram presos em flagrante. 

Diante dos episódios, o prefeito Ricardo Nunes (MDB) assinou o decreto Proteção Escolar de Cultura e Paz na última quinta-feira (13). As ações incluem um investimento de R$35,4 milhões na educação, um aumento de 50% da Ronda Escolar da GCM, ampliação em 25% das equipes de apoio psicológico nas escolas, além do próprio botão de alerta, entre outras medidas.

Entretanto, na avaliação da professora que a reportagem ouviu, não existe uma única solução passível de ser aplicada em todas as unidades escolares. Pelo contrário, ela recomenda que cada educador analise as peculiaridades da sua unidade e desenvolva sua própria estratégia. O poder de decisão precisa estar nas mãos dos indivíduos em que atuam nas instituições em perigo.  

Ela alerta, portanto, para a necessidade de uma visão educacional social e a longo prazo. “Fechar o portão, colocar câmera e ter polícia nas escolas são medidas paliativas que, em momentos extremos como esse, até precisamos adotar, mas nada disso vai resolver o problema. As escolas públicas, por exemplo, precisam de um quadro de funcionários completo para garantir às comunidades que seus filhos serão plenamente atendidos”, finaliza. 

Na ALESP, os feitos do governo em debate na segunda-feira (10).
por
Gustavo Oliveira de Souza
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20/04/2023 - 12h

Na tarde da última segunda-feira (10), na Sessão Ordinária presidida por Mônica Seixas (PSOL) e Conte Lopes (PL), alguns deputados relembraram toda a trajetória do atual governador do Estado de São Paulo, eleito em outubro do ano passado.

O primeiro com a palavra foi Danilo Balas (PL). Após a exibição do vídeo feito pelo Governo de São Paulo, o deputado do PL faz elogios ao governador: “Exalto Tarcísio de Freitas e sua equipe técnica aguerrida, que trabalhou 100 dias sem parar”. Ao falar do leilão do Rodoanel de São Paulo, Balas alfineta a gestão do ex-governador Rodrigo Garcia, que assumiu o cargo após a renúncia de João Doria: “Aqueles que têm 30 anos de política, sabem a enrolação que foi o governo anterior. Os 94 deputados lembram a enrolação que foi o Rodoanel Norte”.

Após a conclusão da fala do deputado do Partido Liberal, Paulo Fiorilo (PT) é chamado e começa seu discurso se dizendo “abismado”. Ele rebate os elogios tecidos por Danilo, citando o encerramento de unidades do Bom Prato. Na capital, a unidade de Campos Elísios foi fechada para reforma e no litoral paulista, a unidade de São Vicente também foi encerrada de forma temporária. Fiorilo prossegue mencionando a greve feita pelos metroviários no fim do mês de março e a redução de 30% para 25% na verba do estado destinada à educação. A informação a qual o deputado se refere é a proposta que visa destinar os 5% restantes para o setor da saúde e que ainda está na fase inicial, já que o governador ainda cogita enviá-la à Assembleia Legislativa. Por fim, Fiorilo define o governo de Tarcísio como “reativo”.

Paulo Fiorilo. Foto de Rodrigo Costa
Deputado Paulo Fiorilo. Foto de Rodrigo Costa

Ao fim da exposição de Fiorilo, Paulo Reis (PT) vai ao microfone e também comenta as declarações de Danilo. Ele afirma que o deputado “está de parabéns” por que “é muito difícil defender o governo Tarcísio” e argumenta sobre a redução do valor de insalubridade recebido pelo setor administrativo da Polícia Civil do Estado em que valor passaria a ser recebido em grau mínimo sendo R$196,38. Vale lembrar que em 2021, uma PL protocolada pelo deputado Coronel Telhada (PP), havia tentado alterar o valor da gratificação. O deputado também pede para que o governador elabore um projeto que reestruture a carreira desses profissionais.

Danilo volta a citar decretos que foram assinados pelo atual governo. Entre eles, a respeito de estudos feitos para a desestatização da Sabesp e o decreto sobre a concessão das linhas da CPTM para a iniciativa privada. Ao falar da condução da equipe sobre a tragédia ocorrida pelas chuvas no litoral norte do Estado, Balas afirma: “ Nunca vi um governador de um estado fazer o que o governador Tarcísio fez”

O último a falar foi Gil Diniz (PL). O deputado começa sua fala citando o discurso de Paulo Fiorilo e também dá a sua opinião acerca do governo Federal, chama o presidente Lula de ex-presidiário e faz um trocadilho, classificando o mandato como “desgoverno”. Ele continua sua exposição defendendo o seu colega de partido, Danilo Balas, faz novos elogios a Tarcísio e afirma seu descontentamento com as falas de Reis. A discussão dos dois deputados se estende com Reis dizendo que Diniz “não contribui para o ambiente harmônico da casa” e faz críticas ao partido de Gil. O membro do Partido Liberal encerra a sessão dizendo que o Partido dos Trabalhadores está numa “crise existencial”.

Tarcísio de Freitas completou 100 dias no Governo de São Paulo, na última segunda-feira (10). O membro do Republicanos iniciou os trabalhos no dia 1° de janeiro, após vencer Márcio França na disputa eleitoral em outubro do ano passado.