O que o resultado das eleições conta sobre a estruturação partidária no país
por
Annanda Deusdará
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06/11/2024 - 12h

No domingo (27/10), se encerraram as eleições municipais. O mapa da apuração do número de prefeituras por partidos nos estados, mostra o empenho pela conquista de mais municípios, causando uma descentralização nas áreas eleitorais. Em contrapartida a isso, o MDB e o União apresentam grande concentração nos estados do Norte e Centro-Oeste, apesar de terem vencido em outros lugares. 

De acordo com a análise da conjuntura política e eleitoral, feita pelo grupo de pesquisa Representação e Legitimidade Democrática (INCT/Redem) da Universidade Federal do Paraná (UFPR), houve uma manutenção da administração de partidos de Direita e Centro-Direita nos cargos da prefeitura. A Direita conquistou mais de 4,7 mil prefeituras,enquanto a esquerda irá administrar pouco mais de 746 cidades a partir de 2025.

Estão dentre os cinco partidos mais votados: PSD, MDB, PP, UNIÃO e PL. O PP e o MDB (Movimento Democrático Brasileiro), foram os únicos que elegeram prefeitos em todos os 26 estados brasileiros, o que demonstra uma ampliação na influência deles no cenário nacional.

Na região Norte, apesar de uma leve queda, o MDB manteve seu domínio. Em 2020, o partido havia conquistado 114 prefeituras, agora, passa a 112 sendo 83 localizadas no Pará. Já o União Brasil, que ficou em 2º lugar, teve um aumento de 87%, passando de 54 para 101 prefeitos eleitos, com destaque para o Tocantins (37) e o Amazonas (24). 

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Mapa da apuração do Pará com o MDB (em baixo) e União (em cima) -
Gráfico: Annanda Deusdará

 

No Amapá, o União também é predominante com 9 prefeituras. Já em Roraima apenas o MDB conseguiu espaço ocupando uma prefeitura.No Acre eles também não apresentam concentração, tendo uma prefeitura cada, quem domina a região é o PP(14). No Tocantins, o MDB ficou em 6° lugar, ocupando 4 cidades.

O MDB se destacou também na região Nordeste, onde foi o partido mais votado, conquistando 283 prefeituras, o que representou um aumento de 46,63%. Em 2° lugar, aparece o PSD que marcou presença em 275 municípios. 

No Centro-Oeste, o União se manteve em 1° lugar com 155 prefeitos eleitos, o destaque vai para o Goiás (95), com uma diferença de 48 cidades para o segundo partido, e Mato Grosso (60). Já o MDB conquistou espaço em 74 cidades, sendo mais forte em Goiás (47).

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Mapa da apuração do Mato Grosso com o União (em cima) e o MDB (em baixo)
Gráfico: Annanda Deusdará

No Mato Grosso do Sul os partidos União e MDB perderam a concentração. O União não elegeu nenhum prefeito e o MDB ficou em 3° lugar com 10 eleitos, enquanto o primeiro colocado (PSDB) ficou com 44.

Na Região Sudeste, o destaque foi para o PSD com 356 cidades, em 2° lugar ficou o PL com 185 prefeituras. No estado de Minas Gerais, apesar de não haver uma concentração tão expressiva como nos que foram citados anteriormente, os partidos União e MDB tiveram números consideráveis,69 e 82 respectivamente, ficando em 5° e 3° lugar. O tamanho do estado pode ter dificultado a conquista de grandes quantidades de municípios, visto que em um total de 847 prefeituras, o PSD, que foi o mais votado, foi eleito em 142 cidades, o que representa 16,76% do total do estado.

O PL se destacou nas regiões Sudeste e Sul (4° mais votado). Apesar disso, o partido se concentra em estados específicos e não na região como um todo. São Paulo, por exemplo, representou 56% do número de prefeitos eleitos no Sudeste. Já no Sul, Santa Catarina engloba 50% dos votos do PL

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Mapa da apuração da quantidade de prefeituras do PL no estado de São Paulo
Gráfico: Annanda Deusdará

 

Das quatro capitais da região, três passaram para o segundo turno nas disputa
por
Annanda Deusdará
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05/11/2024 - 12h

No último domingo (27), foram realizadas as votações para prefeito nas quinze capitais restantes. Após os resultados, os candidatos eleitos deram discursos declarando quais serão os próximos passos quando assumirem o cargo. Em todas as capitais a porcentagem de abstenção ultrapassou os 20%.

 

Campo Grande (MS)

Com uma diferença percentual de 3% Adriane Lopes, 48, (PP) foi a primeira prefeita eleita da cidade com 222.699 votos (51,45% dos votos válidos). Sua vice será a Dra. Camilla (Avante).   

O segundo turno teve também 16.871 votos nulos (3,66% do total), 11.704 votos em branco (2,54%) e ainda 184.812 abstenções, o equivalente a 28,60% do eleitorado.

Formada em Direito e Teologia, com pós-graduação em Administração Pública e Gerência de Cidades, Adriane Lopes foi a primeira mulher a assumir a prefeitura da capital. Após a renúncia do então prefeito Marcos Trad

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Adriane Lopes (PP) prefeita de Campo Grande - Foto: Divulgação

Adriane Lopes disse na sede do Tribunal Regional Eleitoral de Mato Grosso do Sul (TRE-MS), após a confirmação da vitória, que estava muito feliz e que nestes dois anos e meio de gestão, despertou a cidade e retomou várias obras paradas. Afirmou também que na nova gestão tem como prioridade a educação e a saúde.

Ela agradeceu os apoios que recebeu durante a campanha, como o do governador Eduardo Hídio, da senadora Tereza Cristina e do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Declarou ainda, que o resultado das eleições é representativo “Essa vitória, minha e da Camila, não é só nossa. Essa vitória é das mulheres do nosso país”

Desde o primeiro turno, a candidata estava em terceiro lugar nas pesquisas eleitorais que indicavam disputa de segundo turno entre Rose Modesto e Beto Pereira. Para contornar a situação, ela usou como principal argumento durante o fato de não ter conseguido resolver todos problemas da cidade por ter estado à frente da gestão municipal por apenas dois anos.

Apesar dos indicativos de derrota, Lopes conseguiu avançar e na última pesquisa Quaest encomendada pela TV Morena e divulgada no sábado (26), apareceu com 49% dos votos válidos, empatada tecnicamente pela margem de erro com Rose Modesto, que apareceu com 51%.

Durante sua candidatura, suas principais propostas incluíam a área da educação, saúde e infraestrutura. Dentre elas, estão: a criação de novas escolas; distribuição mensal de medicamentos de uso contínuo para pessoas com deficiência, pressão alta e diabéticos; além da criação de um Centro Médico de Cuidado com o Idoso.

A candidata Rose Modesto,46, é professora do Ensino Médio e já foi eleita vereadora (2008-2012); vice-governadora em 2014 e deputada federal em 2018 pelo PSDB. O seu vice foi Roberto Oshiro (União Brasil).

 

Cuiabá (MT)

O deputado federal Abilio Jacques Brunini Moumer, 40,(PL) foi eleito prefeito com 171.324 votos (53,80% dos votos válidos). Sua vice é a Coronel Vânia (Novo).  

A eleição teve 4.852 votos brancos (1,47% dos votos totais), e 7.234 votos nulos ( 2,19%). A abstenção foi de 114.533 eleitores, o que representa 25,73%.

Em 2016, Abílio foi eleito vereador de Cuiabá, pelo Partido Social Cristão (PSC). Como deputado federal, ficou marcado por polêmicas no congresso. Em junho de 2023, ele fez uma série de interrupções durante uma sessão da CPI dos atos golspitas.No mês seguinte, foi acusado por transfobia contra a deputada Erika Hilton (PSOL-SP), durante outra sessão da CPI. Em agosto do mesmo ano, foi acusado de fazer um gesto supremacista branco durante outra sessão da CPI do 8 de janeiro.

No discurso após a vitória, o prefeito prometeu priorizar a saúde, além de avançar no diálogo com os demais Poderes. "No momento temos que olhar o que tem de imediato e acredito que a Saúde é um problema que temos que resolver”, declarou.

 

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Abílio Brunini em entrevista na Rádio Centro América FM - Foto: Nathalia Okde

Abílio liderou a disputa à Prefeitura de Cuiabá desde o primeiro turno, quando teve 126.944 votos, 39,61% dos votos válidos. No segundo turno, recebeu o apoio do governador Mauro Mendes (União), do ex-presidente Jair Bolsonaro, além de igrejas e eleitores de direita. 

 

O candidato Lúdio, foi apoiado pelo presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, pelo vice-presidente Geraldo Alckmin, e por sete ministros do governo federal. O petista era o único do partido ainda na disputa por uma vaga no Executivo em Mato Grosso. Cuiabá também não teve vereador (a) do PT eleito para 2025.

 

Durante a campanha, Brunini fez promessas em diversas áreas, como saúde, educação, segurança e transporte. Entre elas estão: criação de Vilas de Saúde em cada distrito sanitário da capital; expansão da educação infantil e a implementação do Método Montessori; faixa azul exclusiva para motos e criação de paradas para embarque e desembarque de passageiros por APP; além de parceria com a Polícia Militar e Guarda Municipal para fortalecer a segurança nas escolas.

 

Goiânia (GO)

Sandro Mabel,65,(União) foi eleito com 353.518 votos (55,53% dos votos válidos). Sua vice é a Coronel Claudia (Avante).  

Apesar de Fred Rodrigues (PL),estar na frente no primeiro turno. Mabel avançou no segundo turno e venceu em todas as nove zonas eleitorais (ZEs)de Goiânia, essas ZEs estão localizadas nas regiões central, leste e norte 

Apesar do resultado, o número de abstenções quase igualou ao total de votos recebido pelo candidato. O resultado informado pelo TSE mostra que foram 352.393 abstenções, enquanto Mabel obteve 353.518 votos. O número representa 34,20% do total e foi o segundo maior do país entre as capitais que tiveram segundo turno. Também foram registrados 14.229 votos brancos e 27.080 nulos, que totalizaram 41.309.

Após a vitória, o prefeito eleito disse que começará a transição na segunda-feira (28). Ao lado de aliados, ele comemorou a vitória e falou sobre os próximos passos.

 

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Mabel comemora a vitória ao lado de seus aliados - Foto: Wesley Costa/ O Popular
 

Sobre os problemas financeiros da prefeitura com fornecedores, Mabel disse que pretende negociar e pagar todas as dívidas no início de 2025, principalmente as despesas com Saúde. “Eu tenho uma longa experiência como gestor, então essas dívidas não me assustam”. Declarou ainda que no começo de seu mandato irá retornar com a prestação de serviços básicos “Nós colocaremos Goiânia para funcionar rápido, inclusive a limpeza urbana, a gente dá uma faxinada nessa cidade logo”, frisou.

Seu projeto de governo foi dividido em três eixos: Cidade, Cidadão e Gestão. Entre suas propostas estão a conectividade e acesso à internet em toda a cidade; um aplicativo para que mulheres em perigo acionem rapidamente os órgãos de segurança e atendimento pediátrico 24 horas nas unidades de urgência e emergência. 

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Frederico Rodrigues,25, (PL), é ex-deputado estadual de Goiás(2023). Apesar de ter sido o candidato mais votado de Goiânia, teve seu mandato cassado por conta de irregularidades encontradas pelo TRE na prestação de contas da campanha de 2020.

Mabel foi deputado federal quatro vezes e uma vez deputado estadual. Na Câmara dos Deputados, foi responsável por projetos de lei sobre a implantação de crematórios públicos e a criação de cargos de provimento efetivo e funções comissionadas para o Tribunal Regional do Trabalho da 18ª Região (Goiânia).

 

Quais foram os candidatos eleitos e seus discursos pós-vitória
por
Maria Eduarda Cepeda
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05/11/2024 - 12h

 

No domingo, 27 de outubro, quatro das principais capitais do Norte foram às urnas para elegerem seus futuros prefeitos para 2025. Manaus teve seu atual prefeito, David Almeida (Avante), reeleito. Igor Normando (MDB) venceu para prefeito em Belém e recebeu o apoio do atual governador do Pará, em Palmas, Eduardo Siqueira Campos (Podemos), comemorou a vitória e destacou sua responsabilidade com a prefeitura e em Porto Velho (RO)

As quatro capitais contabilizaram mais de 2.192.245 votos válidos em seus colégios eleitorais. Manaus teve o menor número de abstenções com 23,39%, Belém obteve 25,19% das abstenções, Palmas com 25,73% e Porto Velho teve a maior porcentagem com 30,63% comparado às outras cidades, juntas as capitais somaram 44.579 de votos em branco. 

Belém (PA) 

Igor Normando (MDB) em campanha eleitoral
Normando agradeceu o apoio do atual governador do Pará e senadores em seu discurso. Foto: Cristino Martins

Igor Normando (MDB) venceu a disputa do segundo turno, com 56,36% dos votos válidos, contra o deputado federal Delegado Éder Mauro (PL) que recebeu 43,64%. A capital do Pará irá receber o deputado em seu novo cargo a partir de janeiro de 2025, que conta com o apoio da maioria da Câmara Municipal.

Em seu discurso, o candidato agradeceu os votos de seus eleitores e o apoio do governador Helder Barbalho (MDB), “Muito obrigado a cada um de vocês, obrigado ao governador Helder Barbalho, [..] não posso deixar de agradecer essa grande liderança”. Também disse que a maioria da população de Belém optou pela mudança, “Hoje a maioria da nossa população decidiu pela mudança e pela mudança com qualidade, com capacidade de gestão e a capacidade de enfrentar os desafios que a nossa cidade possui”

Manaus (AM)

David Almeida ao lado de uma cabine eleitoral
David Almeida segue para seu segundo mandato como prefeito em 2025. Foto: Divulgação/Assessoria

O atual prefeito da cidade de Manaus, David Almeida (Avante), foi reeleito no segundo turno contra o candidato Capitão Alberto Neto (PL). Com 54,59% dos votos válidos, o prefeito segue para mais um mandato.

Após sua reeleição, Almeida agradeceu a cidade e seus companheiros políticos,  "Quero agradecer a todos que estiveram nos apoiando e ao povo de Manaus que soube separar a verdade da mentira. Então, essa é uma vitória maiúscula, né, uma vitória da democracia.  [..] A cidade mudou, é o povo no poder, como a gente diz na comunidade, a favela venceu"

Palmas (TO) 

Eduardo Siqueira Campos sendo entrevistado pela imprensa após sua vitória ao lado de sua esposa
Em discurso após a vitória , o futuro prefeito destacou detalhes de sua vida pessoal. Foto: Edson Reis/g1 Tocantins

O candidato Eduardo Siqueira Campos, do Podemos, foi eleito com 53,03% dos votos válidos para prefeito da cidade de Palmas, ele venceu o segundo turno contra a candidata Janad Valcari (PL) que obteve 46,97% dos votos. Campos irá assumir o mandato em janeiro de 2025 até dezembro de 2028.

O futuro prefeito comemorou sua vitória com apoiadores e família, em seu discurso destacou a responsabilidade com a sua futura gestão, “Quem tem mandato, tem responsabilidade com Palmas. Todos conhecem meu temperamento. Eu tive que fazer uma campanha à altura do povo. [..] Não viemos para cá fazer fazenda, nós viemos fazer um estado. Nós não viemos para cá vender lote, viemos aqui fazer uma capital. Minha vida é conhecida, minha esposa é conhecida. Nós caminhamos à luz do dia”

Porto Velho (RO) 

Léo Moraes posando para foto para a divulgação de sua campanha eleitoral
Léo Moraes terá vice do mesmo partido, a advogada  Magna dos Anjos. Foto: Reprodução/Instagram 

Leonardo Barreto de Moraes (Podemos) foi eleito com 56,18% dos votos válidos, para prefeito na capital de Rondônia. Ele disputou o segundo turno com a candidata Mariana Carvalho, do União Brasil, que recebeu 43,82% dos votos. 

Quando anunciado os resultados do segundo turno, o candidato conversou com a imprensa e agradeceu os eleitores, amigos e a Deus pela sua vitória, "Eu estou muito feliz, eu agradeço primeiramente a Deus, agradeço a todos os amigos, a população que procura um renovo, que procura uma administração com capacidade de gestão que conheça as dores das pessoas. Vamos nos dedicar para entregar uma nova Porto Velho, sair desses índices tão prejudiciais que nos colocam em condição muito ruim [..]".

Saiba quem foram os prefeitos eleitos nas capitais da região
por
Khauan Wood
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01/11/2024 - 12h

Os cidadãos de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, e Curitiba, no Paraná, foram às urnas no último domingo (27) para definir os nomes que estarão no comando de suas prefeituras pelos próximos quatro anos. O centrão saiu vitorioso nas duas capitais.

Curitiba (PR)

531.029 de pessoas decidiram que Eduardo Pimentel (PSD) será o novo prefeito da cidade, número que chega a 57,64% dos votos válidos. Sua adversária foi a jornalista Cristina Graeml (PMB) que ficou com 42,36%, totalizando 390.254, essa foi a primeira vez que seu partido conseguiu levar um candidato ao segundo turno em uma capital desde a sua criação em 2016.

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Pimentel já acumulava dois mandatos como vice-prefeito da cidade, eleito em 2016 e reeleito em 2020. Foto: Eduardo Pimentel via X/Reprodução

 

Em seu discurso de vitória realizado na sede do Tribunal Regional Eleitoral do Paraná (TRE-PR), o sucessor do atual prefeito Rafael Greca (PSD) afirmou que pretende garantir a nova concessão do transporte público na cidade, implementar o ensino em tempo integral nas escolas municipais e aumentar o número de vagas em creches da prefeitura.

Porto Alegre (RS)

O atual prefeito Sebastião Melo (MDB) foi reeleito com 61,53% dos votos contra 38,47% da deputada Maria do Rosário (PT). Melo conquistou mais de 406 mil votos, cerca de 36 mil a mais em comparação ao segundo turno da eleição anterior, em 2020. Além disso, Porto Alegre terá uma mulher na vice-prefeitura da cidade pela primeira vez, Betina Worm (PL), médica veterinária e tenente-coronel do Exército.

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Melo é o terceiro prefeito que se reelege em Porto Alegre desde a redemocratização. Foto: Pedro Piegas/Correio do Povo

Com vitória em todas as regiões porto-alegrenses, o prefeito disse em seu discurso que uma de suas prioridades será implementar medidas que previnam novas enchentes na cidade, assim como as que ocorreram no início deste ano. Ele defendeu ainda a privatização do Departamento Municipal de Água e Esgoto (DMAE) e a busca de auxílio dos Governos Federal e Estadual para o setor.

Conheça os candidatos eleitos nas capitais nordestinas e seus discursos pós-vitória
por
Anna Cândida Xavier
Maria Eduarda Cepeda
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01/11/2024 - 12h

 

No domingo, 27 de outubro, o segundo turno das eleições municipais foi decidido em Fortaleza, João Pessoa, Natal e Aracajú. O Partido dos Trabalhadores conquistou sua única capital desde as eleições de 2016 em Fortaleza, com Evandro Leitão. Cícero Lucena foi reeleito em João Pessoa, a quinta capital nordestina a reeleger seus prefeitos em 2024. Em Natal, Paulinho Freire foi eleito com o apoio do atual prefeito na disputa com Natália Bonavides (PT). E o Partido Liberal conquista sua segunda capital nordestina em Aracajú com Emília Corrêa.

Nas quatro capitais que decidiram seus futuros prefeitos neste domingo, foram contabilizados 2.575.500 votos válidos nos colégios eleitorais que participaram do segundo turno. Fortaleza teve o menor número de abstenções de votos com o índice de 15,84%, João Pessoa com o total de 22,84% das abstenções, Aracaju com  25,16% e Natal finalizou com o maior nível de abstenção comparado às outras capitais, tendo no total 26,07%. A soma de votos em branco de todas as capitais foi de 50.620. 

Das nove capitais do Nordeste, sete elegeram prefeitos de partidos de direita ou de centro. Somente Evandro Leitão (PT) em Fortaleza e João Campos, do Partido Socialista Brasileiro, em Recife, representam partidos de esquerda nas capitais nordestinas. A votação expressiva na direita contrasta com o desempenho de Luiz Inácio Lula da Silva nas eleições de 2022 na região. O partido União Brasil conquistou três capitais nordestinas, Teresina, Natal e Salvador e o Partido Liberal elegeu prefeitos em Maceió e Aracajú. O partido Progressistas reelege Cícero Lucena em João Pessoa e em São Luís o Partido Social Democrático reelege Eduardo Braide. 

Fortaleza (CE)

Evandro Leitão (PT) ao lado do atual presidente Lula em campanha eleitoral
Presença marcante do presidente Lula na campanha de segundo turno de Evandro Leitão. Foto: Reprodução/Facebook

Evandro Leitão (PT) vence o segundo turno das eleições em Fortaleza por uma diferença de 10.838 votos em relação ao adversário André Fernandes (PL). No primeiro turno, o candidato do PT tinha apenas 34,33% do eleitorado, porém, foi eleito com 50,38% dos votos válidos. Fernandes recebeu o apoio de 49,62% dos eleitores.  

A principal estratégia da campanha foi aproximar a imagem do candidato às lideranças petistas no Ceará – o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ministro da Educação e ex-governador do Estado, Camilo Santana, e o atual governador, Elmano de Freitas. Evandro Leitão agradeceu a militância do Partido dos Trabalhadores em seu discurso de vitória e afirmou “o bem venceu o ódio, a humildade venceu a arrogância e prepotência, aqueles que se acham donos do poder, aqueles que se juntaram com o filhote de Bolsonaro, deram com os burros n’água”. 

João Pessoa (PB)

Cícero Lucena (PP) comemorando a vitória do segundo turno
Cícero Lucena assume seu quarto mandato em janeiro de 2025. Foto: Reprodução/Facebook

Cícero Lucena (PP) foi reeleito prefeito na capital de Paraíba, com 63,91% dos votos válidos, vencendo a disputa contra o candidato Marcelo Queiroga do Partido Liberal, que obteve 36,02% dos votos. O atual prefeito caminha para seu quarto mandato como prefeito, ocupou o cargo de 1997 a 2004 e o assumiu novamente em 2020. 

Nas redes sociais, Lucena agradeceu seus eleitores e enfatizou a continuidade de seus projetos para a cidade, “[..] A confiança que foi depositada em nós não será em vão. Vamos continuar construindo uma cidade mais justa, mais inclusiva, mais humana. O trabalho não para, e a vontade de fazer o bem segue ainda mais forte”. 

Natal (RN)

Paulinho Freire (União) como deputado federal na câmara dos deputados
Paulinho Freire deixará cargo de Deputado Federal para assumir a prefeitura de Natal. Foto: Ag. Câmara, Reprodução/UOL

Na capital do Rio Grande do Norte, Paulinho Freire (União) vence a disputa pelo segundo turno com 63,91% dos votos contra 44,66% de Natália Bonavides (PT). O candidato eleito tem uma longa história como político na cidade, foi vereador em 1992 e ocupou o cargo de presidente da Câmara Municipal de 1997 a 2002. Em 2008, foi vice-prefeito de Natal, em 2012 voltou a ser vereador e nas eleições de 2022, foi eleito como deputado federal. 

No Instagram o candidato, Paulinho Freire, relembra a trajetória da campanha e agradece o apoio dos partidos da coligação e, em especial, de Álvaro Dias, atual prefeito da cidade. “Uma eleição difícil, mas a população de Natal assimilou bem as nossas propostas, o nosso projeto, viu que não valia a pena Natal voltar ao passado, retroceder”. 

 

Aracaju (SE) 

Emília Corrêa (PL) posando para foto ao lado da cabine de votação.
A candidata não vinculou sua imagem ao ex-presidente Jair Bolsonaro em sua campanha no segundo turno. Foto: Reprodução / Instagram

 

Na capital sergipana, Emília Corrêa (PL) venceu a disputa para a prefeitura com 57,46% dos votos válidos contra o candidato Luiz Roberto do PDT. Esse é o seu primeiro mandato como prefeita, antes de embarcar na política Emília trabalhou como defensora pública e presidente da Procuradoria da Mulher na Câmara Municipal de Aracaju, em 2016 foi eleita vereadora e se reelegeu em 2020.

Em seu Instagram, a futura prefeita comemorou sua vitória com um vídeo onde está vestida de leoa e canta uma música gospel. Na descrição da publicação ela agradece seus eleitores e reforça a presença religiosa em seu futuro mandato, “a melhor forma de demonstrar o que estamos vivendo hoje é retratar a força que me move: a fé em Jesus, o Leão da Tribo de Judá (Apocalipse 5:5). E como uma leoa, que na natureza, desempenha um papel crucial na sobrevivência e no bem-estar de sua prole, vou estar à frente dos destinos de Aracaju, cuidando e protegendo, em especial daqueles que mais precisam. Vamos escrever um lindo capítulo na história da nossa cidade com Deus e o povo”. 

O apagamento das mulheres na sociedade e como a luta para o reconhecimento dessas acontece.
por
Laís Bonfim Carnelosso
Maria Clara Alcântara
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26/04/2022 - 12h

 Neste ano, dois fatos geraram reflexão sobre o apagamento da mulher: em Brasília, no dia 9 de março, Sandra Nara traiu seu marido com Givaldo Alves (morador de rua) que foi agredido após ser flagrado com ela. Depois, em 27 de março durante a cerimônia do Oscar, o comediante Chris Rock ofendeu Jada Pinkett através de uma piada. Como um meio de defendê-la, seu marido, Will Smith, respondeu a piada batendo no rosto do comediante. 

  A professora da PUC-SP e cientista social, Carla Cristina Garcia, disserta sobre a origem desse apagamento: “Ocorre porque nós temos, no ocidente, uma história androcêntrica, que é centrada no homem. Então, qualquer fato e qualquer coisa que você vai falar, escrever e refletir será feito através da figura do homem”. Assim, a mulher, mesmo que participe do evento, é posta como coadjuvante enquanto o elemento masculino é posto sob holofote.

   Em conformidade com o exposto, a mídia hegemônica ao noticiar os recentes fatos protagonizou os homens envolvidos. "Dentro do jornalismo, durante muito tempo, o entrevistado principal de uma matéria era um homem, quem segurava o microfone era um homem e quem refletia a respeito de um grande fato era um homem. " aponta a entrevistada.

  Givaldo Alves, por ter sido o foco das notícias, ascendeu às custas do quadro clínico de Sandra, que ficou internada por 30 dias por causa do surto psicótico. Conhecido hoje como “mendigo pegador”, está sendo considerado para cargos políticos.

  A situação de Jada Pinkett, a qual foi noticiada sem considerar a ridicularização da saúde dela, foi reforçada  no dia 1 de abril. Segundo Bill Maher, apresentador de “Real Time with Bill Maher”, ela não tem risco de vida, apenas queda de cabelo e podia usar uma peruca.


 

Foto retirada do Instagram
Foto retirada do Instagram
 

 Após a cerimônia do Oscar, a filósofa Djamila Ribeiro se manifestou nas redes sociais, apontando a frequência com que a mulher negra é motivo de piada e como presenciar a defesa dela incomoda a sociedade. A entrevistada Rozana Barroso, presidente da UBES, também se manifestou: "Naquela cena do Oscar, eu vi várias cenas que eu já vivi na minha vida também, de ser exposta ao ridículo por ser mulher." 

  Durante uma palestra feita no 11 de abril por Manuela Ávila na PUC-SP, Rozana e outras mulheres foram vítimas de um vídeo enganoso. "Os comentários dos apoiadores dele eram 'Vai emagrecer', ' O que que essa menina está fazendo aí?', 'Ai que cabelo feio', 'Macaca'... Estamos sempre expostas ao ridículo." diz a estudante, expondo o mesmo sentimento que Djamila.

       Para Rozana, o governo Bolsonaro contribui para o machismo. De acordo com ela, o presidente nunca aceita reuniões com movimentos sociais para levantar pautas importantes para as minorias e, por isso, a existência de uma bancada feminista é necessária para garantir que a voz dessa parcela da sociedade seja ouvida.

      Conforme dito por Carla Cristina Garcia, os movimentos feministas, em 1970, passaram a estudar a mulher como sujeitos ativos e não objetos, como antes. Com a importância dos movimentos feministas no ambiente acadêmico, as organizações estudantis englobam esses assuntos. 

         A presidente da UBES disse que o movimento estudantil atua na construção dos estudantes para viverem em sociedade. Dessa maneira, a organização trabalha pela permanência das mulheres nas escolas e universidades, sendo elas as mais afetadas por crises sociais e econômicas.

    O Feminismo age com diversas vertentes em meio à sociedade, como o feminismo liberal, marxista, negro, radical, interseccional, Indígena, trans e decolonial. Esses movimentos, durante a história brasileira, são responsáveis pelas  conquistas de direitos e leis que defendam a mulher, como:

  • 1946- Direito ao voto;

  • 1962- Direito de trabalhar sem pedir autorização ao marido;

  • 1977- Lei do divórcio;

  • 1988- Proibição da diferença do salário;

  • 1990- Igualdade no exercício do pátrio poder;

  • 2006- Lei Maria da Penha;

  • 2015- Lei do feminicídio e  registro de filhos em cartório sem o pai;

  • 2018- Criminalização da importunação sexual;

  • 2019- Prioridade do divórcio para vítimas de violência doméstica.


 

Foto retirada do Instagram
Foto retirada do Instagram: Cinzas da inquisição
 
A histórica e falsa ideia de igualdade entendida com a morte, e a forma que as implicações socioespaciais e econômicas influenciam nos direitos cemiteriais no estado de São Paulo.
por
Ana Kézia Andrade
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22/06/2022 - 12h

A desigualdade e segregação social sobrevivem à morte. A partir de análise comparativa em documentos históricos e relatos atuais observa-se que não é apenas o custo de vida que pesa no bolso do brasileiro, mas também o custo de morte. Dizem que a morte iguala a todos…Ledo engano, ao menos no plano material, pois a desigualdade social e até socioespacial mantém-se no post mortem, a mesma condição observada em vida nas metrópoles, estende-se e reproduz-se nas necrópoles.


A segregação social nas necrópoles são históricas e nem sempre ocorriam por motivos econômicos, pessoas em condições de escravidão eram enterradas do lado de fora das igrejas, conhecidas como "campo santo", enquanto pessoas ricas, senhores de escravos eram enterrados no espaço interno, simbolicamente mais próximas ao céu. Historicamente, não apenas escravos, mas judeus, suicidas e prostitutas também eram enterrados nos muros dos cemitérios, demarcando o locus da exclusão e estigma.

No estado de São Paulo, cidade de Cubatão, existe um espaço mortuário cujo os sepultados são protagonistas de histórias marcadas por segregação e esquecimento que perduraram até o fim, o Cemitério das Polacas. Fundado em 1929 pela Associação Beneficente e Religiosa Israelita de Santos, que ocupa um pequeno espaço no cemitério municipal, as lápides em sua maioria são de mulheres, conhecidas como polacas, que eram  judias que chegaram à América do Sul por volta do século XIX e XX,  com promessas de melhoria de vida e assim que chegavam eram exploradas e prostituídas, e caíram nas graças da negligência, descaso e por fim esquecimento social.

Discriminadas em vida e também em morte, esquecidas e escondidas como uma história que se prefere acobertar. Apesar de ser o primeiro cemitério israelita no Brasil a ser considerado como patrimônio histórico, o espaço vive abandonado e esquecido, reflexo da realidade vivida por essas mulheres, que viviam em condições miseráveis e exploração desregrada. Registros históricos relatam que por conta da rotina de se relacionarem com dezenas de homens por dia, contraiam doenças e possuíam baixa expectativa de vida e por conta do desprezo por parte da comunidade não podiam ser enterradas em cemitérios.

A historiadora Beatriz Kushnir, conta no livro “Baile de Máscaras: mulheres Judias e Prostituição” a história dessas mulheres que viveram marginalizadas e que para diminuírem o sentimento de exclusão social, fundaram ONG’s que procuravam ajudar essas mulheres até seus últimos dias . Eram mulheres consideradas impuras e pecadoras por uma comunidade que as excluíram, adoeceram e mataram, e por conta disso uniram forças e fundaram sinagogas e até cemitérios, para que pudessem ter direito a um fim digno, para que tivessem na morte a honra que lhes tinham sido negada em vida.

Atualmente, a segregação social expandiu-se, e com o advento da pandemia da Covid-19, observou-se o fenômeno de mortalidade entre classes mais vulneráveis socioeconomicamente, através de propagandas fomentadas com dinheiro público de que “O Brasil não pode parar’, grande parte dos trabalhadores expunham-se ao vírus desde o início para garantir o sustento e o pão na mesa, e terminaram por engordar as estatísticas de mortalidade do vírus, muitas famílias vivem a saudade de entes que perderam.

Mesmo que não escolha o alvo, o vírus exige isolamento. No início quando aplicou-se o conceito de “novo normal", com atividades desde trabalho à lazer de forma remota, o aumento de atividades home office e lives, empregadas domésticas, entregadores de aplicativo, e porteiros arriscaram suas vidas em troca de subempregos, a fim de assegurar um isolamento às classes privilegiadas, enquanto uns temiam sair de casa e perder suas vidas por conta da COVID-19, outros expunham-se diariamente porque o medo da fome era mais palpável que o medo da doença.

Famílias inteiras foram perdidas, corpos e almas não puderam chorar os seus, vidas negligenciadas, mortes esquecidas, histórias que se construíram em um Brasil profundamente desigual, desde a chegada dos escravos, polacas até os dias de hoje, em que a segregação se mantém estampada na distribuição territorial que empurrou seus descendentes às margens da sociedade e áreas ambientalmente mais degradadas e vulneráveis. Ainda como seus ancestrais, os direitos de sepultamento muitas vezes foram negligenciados, famílias não puderam sequer ter o direito e condições para isolamento social e nem para despedidas de seus entes, o desrespeito aos direitos fundamentais em relação ao morto, condena-o à segregação espacial, dada a sua classe social, tornando as vítimas cada vez mais em números estatísticos e desonrando o legado, sofrimento e dor vivenciados.

O número de adolescentes que emitiram o título é de 141.168, (11,6% dos que estão aptos), o menor índice já registrado da história.
por
Maria Eduarda Frazato, Maria Eduarda Mendonça, Vicklin de Moraes
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31/03/2022 - 12h

O ano de 2022 está repleto de eventos que podem mudar o destino do Brasil, dentre eles, as eleições para presidente, governadores, senadores e deputados. Mas um fato negativo chamou a atenção do TSE (Tribunal Superior Eleitoral): o número de adolescentes que tiraram seu título de eleitor bateu recorde negativo, sendo o menor já registrado de todas as eleições, 141.168 jovens, o que representa 11,6% dos que podem tirar o documento. 

Um dos fatores de desinteresse em adquirir o título é a falta de representatividade. É o que afirma João Marcos Aquino, 16, que apesar do voto ser facultativo nesta faixa etária, já obteve seu registro. “Na minha visão os jovens perderam a vontade de votar porque eles não têm mais esperança em relação a política no Brasil. E muitos não se sentem representados pelos que estão se candidatando”.

Após a ditadura militar em que o povo teve seu direito de escolha de representantes abolido, os adolescentes se mobilizaram em prol da democracia e obtiveram seu documento eleitoral. Em 1990, o número de jovens votantes foi 2,9 milhões, que representava 2,07% do eleitorado nacional.

É válido ressaltar que após crises políticas os jovens tendem a votar menos. Os dados do TSE apontam que desde a eleição de Fernando Collor de Melo - 1º presidente que sofreu mpeachment - os jovens perderam o interesse pelas eleições, registrando quedas de 3,2 milhões em 1992 para 2,1 milhões de eleitores em 1994 e 2,3 milhões em 1996 nos cartórios eleitorais.

Outro ponto que afasta o interesse político dessa faixa etária é a polarização ideológica, que desde as eleições de 2018 se tornaram evidentes. Essa divisão é uma das causas que vem afastando os adolescentes. É o que afirma a adolescente Larissa Yukari Bianchini, 16, que não tem vontade de votar até que seja obrigatório. “A minha falta de interesse em votar vem muito das discussões políticas atuais. Assim como a divisão de direita e esquerda evidente. E essa ideia de ter que escolher um lado me fez perder a vontade e curiosidade de ir votar. E também ser uma participante política, que sempre está buscando o que os seus representantes estão propondo.”

Ainda sobre a polarização, Bianchini acrescenta que “todo mundo diz que os jovens são o futuro, e realmente são. Mas a questão política é algo, na minha percepção, que você decide um lado e acaba dividindo sua vida”. Ao ser questionado sobre o valor de seu voto, Aquino diz: "Ainda que pareça insignificante a soma do meu voto com a de várias pessoas é o que vai definir o futuro do país .Eu espero que as pessoas votem com mais clareza e tenham mais certeza na hora de tomar essa decisão”.

Após o TSE divulgar o baixo número de títulos emitidos por adolescentes, famosos iniciaram uma campanha em suas redes sociais a fim de incentivar os jovens a emitirem seus documentos. Depois dessas iniciativas, cerca de 100 mil inscrições ocorreram entre 14 e 18 de março.

O festival Lollapalooza Brasil foi palco de muita música e também de muita manifestação política durante os três dias. O rapper Emicida abriu seu show dizendo “Se você tem de 15 a 18 anos, tira a p**** do título de eleitor.” O cantor Jão também se manifestou durante sua apresentação: "Esse ano nós batemos recordes de ausência de título de eleitor. Por favor, não adianta estar aqui no show e não votar. Vai votar, p****"

No festival, além da pauta sobre o documento eleitoral, a maior parte dos artistas puxou vaias contra o atual presidente da república, Jair Messias Bolsonaro. Coros de “Fora Bolsonaro” eram frequentes no evento. A cantora Pabllo Vittar desfilou com uma bandeira com o rosto do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva. 

Reprodução: Instituto Lula
Reprodução: Instituto Lula

As manifestações ultrapassaram fronteiras, pois a cantora galesa Marina and the Diamonds também se pronunciou contra Bolsonaro: "F***-** Bolsonaro. Estamos cansados dessa energia. Vocês são a nova geração e as coisas vão mudar. Eu tenho orgulho de vocês serem meus fãs."

Após as manifestações constantes no Lollapalooza, o ministro Raul Araújo do TSE definiu que o festival vetasse protestos eleitorais, por partes dos cantores que se apresentassem no domingo,27. Em caso de descumprimento, a multa foi estipulada no valor de 50 mil. Contudo, o TSE notificou a empresa errada, e a organização Time 4 Fun recorreu, anulando o pedido.

Mark Ruffalo via Twitter
Mark Ruffalo via Twitter.
Juliette
Juliette via Twitter.

 

Zeca Pagodinho
Zeca Pagodinho via Twitter.

 

 

 

Anitta
Anitta via Twitter.

 

 

O prazo para quem ainda deseja tirar título eleitoral é 4 de maio de 2022. Para emiti-lo basta acessar o site https://cad-app-titulonet.tse.jus.br/titulonet/novoRequerimento. Os documentos necessários são: RG, passaporte ou carteira de trabalho, comprovante de residência e uma selfie segurando o documento.

Professora e jornalista, a ex-apresentadora da MTV já foi subprefeita, vereadora e chefe de gabinete da Secretaria de Relações Internacionais de SP. Em entrevista, ela fala sobre sua vida pessoal, carreira política e expectativas para as eleições de 2022
por
Inara Novaes
Isabel Bartolomeu
Sabrina Legramandi
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29/11/2021 - 12h

Por Isabel Bartolomeu Simão, Inara Novaes e Sabrina Legramandi

 

AgeMT: Como você lida com a exposição da sua vida pessoal na mídia? O fato de você ser mulher, interfere, de alguma maneira, nisso?

Soninha: O fato de ser mulher significa que vão querer saber algumas coisas ao meu respeito que não teriam interesse em saber sobre um homem. É um tipo de curiosidade, até de bisbilhotice mesmo. Se um homem viaja muito a trabalho, ninguém pergunta para ele “como ficam seus filhos?” porque supõe-se que não é problema dele. Agora, para uma mulher, vão perguntar se é difícil conciliar trabalho e filhos.

Eu sempre me perguntei “o que eu quero da minha vida pessoal que seja público e o que eu não quero?”. Nas primeiras vezes que eu fui procurada para dar uma entrevista, tive que lidar com isso e o critério que estabeleci para mim é: quando saber de um aspecto da minha vida pessoal puder ser útil na vida de alguém, então, tudo bem, eu aceito falar sobre isso. Se for só uma curiosidade boba, de fuxico, eu prefiro não contar.

Quantas vezes na minha vida me ajudou ler uma entrevista de alguém e saber que a pessoa estava vivendo um puta de um drama, porque tinha filhos pequenos, teve os filhos muito cedo, demorou muito para conseguir fazer faculdade e fez. Eu tinha vinte anos e tinha duas filhas já, às vezes eu entrava em umas de achar que minha vida estudantil parou, que nunca mais iria conseguir voltar a estudar. Nesse sentido, assim como eu já me impactei por entrevistas, alguma coisa pessoal que eu diga pode ser impactante para alguém também.
 

AgeMT: Você se formou em cinema e ficou muito conhecida pelo seu trabalho como VJ na MTV. Por que você decidiu trocar a área da comunicação pela política? Foi realmente um desejo de mudar ou, para você, uma área complementa a outra?

Soninha: Eu pensava em fazer política antes de pensar em trabalhar em televisão, porque, quando eu era pequena, acompanhava política por influência da minha mãe. Ela não tinha uma militância externa, não fazia parte de nenhum movimento organizado, mas era muito atenta, interessada, crítica. Então esse interesse e essa indignação vinham para dentro de casa.

Com o passar dos anos, eu olhava para a política e falava “Deus que me livre, eu não quero, eu quero ser uma pessoa engajada politicamente, mas não disputar um cargo político”. E, assim, eu toquei minha vida na escola, no teatro amador, na faculdade e na TV sempre com a política presente.

Se eu tivesse que abandonar a política para ser apresentadora de televisão, não teria dado certo. Tirar a política da minha vida era impossível, o que aconteceu depois foi que eu tirei a televisão da minha vida, decidi ser candidata a vereadora. Porque, naquele momento, concluí que eu queria ter mais poder e, para ter mais poder, teria que disputar um cargo eletivo. Conciliei a vida na área política e o trabalho em televisão enquanto deu. O resumo da história é: eu não conseguiria abrir mão da política para trabalhar em televisão, cinema, mídia esportiva, no que quer que fosse.
 

AgeMT: Você possui uma vasta participação na política. Como esses anos de atuação contribuíram para sua visão sobre o papel e o exercício da cidadania?

Soninha: Eu achava que entendia muito de política antes de me eleger vereadora, porque, afinal de contas, fiz política a vida inteira. Sempre fui militante, ativista, engajada, leitora, consumidora de noticiário político e foi só quando me elegi que descobri o quanto que eu nem imaginava. A gente tem que decorar a tabela periódica para passar no vestibular, mas não precisa saber quantos vereadores tem a capital, quantos deputados tem a Assembleia Legislativa. A gente não sabe nem o básico, nem a regra do jogo, muito menos como o jogo é jogado.

Eu sofri muito no primeiro mandato, porque era tudo muito diferente do que eu imaginava. Me preparei para confrontos diretos de ideia e achei que era isso que ia me fazer sofrer. Na verdade, enquanto você tinha duas ideias aqui em debate, o que influenciava a vitória de uma sobre a outra era tudo que estava acontecendo em volta.

Esse compromisso com o que realmente pode transformar a realidade é o que eu tenho mais claro hoje. Como a gente pode se engajar em alguma coisa de modo que aconteça a transformação que a gente espera? Então, acho que é coisa que só dá para aprender mesmo com o tempo, a idade e a experiência na pele.
 

AgeMT: Como você descreveria sua experiência na política considerando que este é um espaço ocupado majoritariamente por homens brancos? Como essa desigualdade de gênero é percebida no exercício da profissão?

Soninha: Quando eu me elegi a primeira vez, éramos cinco vereadoras num conjunto de 55 parlamentares. Então, imagina, uma mulher para cada dez homens. O resultado disso é espacial, sabe? Era muito comum você estar num ambiente e só ter homem. Era muito frequente você ser a única mulher em determinado lugar. Isso é totalmente artificial, antinatural, o mundo não é assim. A gente estava num espaço que é para ser representativo por definição e não era nada representativo em vários sentidos: o do gênero, muito marcante, mas não tinha nenhuma pessoa trans, ninguém que se afirmasse homossexual, jovens, éramos apenas dois. 

Quando eu me elegi da segunda vez - teve 8 anos de intervalo entre um mandato e outro - no segundo, nós já éramos onze mulheres. Isso foi muito significativo e agora o número aumentou. Hoje é mais difícil acontecer esse retrato básico e absurdo: você aponta a câmera para um lado e só tem homem, mas ainda acontece, pode reparar. Os homens ainda são em número maior e, claro, que não é uma questão só do impacto visual e espacial, é a presença dos temas, a visão dos temas, a postura em relação aos temas, aos temas todos da sociedade. 
 

AgeMT: Nas suas entrevistas – principalmente as mais antigas – você sempre se definiu como socialista. Você ainda se define assim? Se sim, de que forma? Se não, qual modelo político você defende hoje e por quê?

Soninha: Eu sou uma pessoa com visão de esquerda, o que significa o seguinte: o coletivo precede o individual. Eu não acho que o direito individual é o que vem primeiro. Então, como isso reflete na política municipal? Quando a gente discute transporte coletivo versus transporte individual, né? Os usuários de transporte individual ficam revoltados com qualquer tipo de restrição que você impõe à circulação de veículos, e eu acho que a gente tem que privilegiar o transporte coletivo, que atende a um número muito maior de pessoas e atende muito mais ao interesse da população de modo geral. Então, a visão se reflete em coisas práticas até.

O Estado tem um papel decisivo para garantir o acesso a direitos: moradia, educação, saúde. Eu acredito, também, muito mais nos modelos baseados em cooperação, colaboração e solidariedade do que nos modelos de competição. Muita gente acha que esse é o melhor jeito. Eu não acredito nisso. Agora, isso não quer dizer que eu defenda que o Estado tem que fazer tudo. Eu acho que existem vários modelos interessantes de parceria: setor público - setor privado - terceiro setor - sociedade organizada, que podem garantir o acesso a serviços públicos de qualidade, que podem garantir o acesso a direitos, sem ser tudo estatal. 
 

AgeMT: Até meados de junho deste ano, você ocupava o cargo de chefe de gabinete da Secretaria de Relações Internacionais da Prefeitura de São Paulo, que tem Marta Suplicy como titular da pasta. Após a liberação de verba para a Motociata de Bolsonaro, que ocorreu na cidade, você foi exonerada do cargo. Esse evento repercutiu e recebeu críticas de grande parte da população paulista. Você pode falar um pouco sobre o assunto?  O que ocorreu? 

Soninha: Eu fiquei arrasada. Eu odiava saber que teria uma motociata do Bolsonaro sem nem imaginar que, por causa daquilo, eu perderia o meu emprego. Já era horrível a perspectiva do Bolsonaro desfilando de moto pela cidade de São Paulo, mas, o que aconteceu foi: por força das circunstâncias burocráticas, o dinheiro que seria originalmente da Secretaria de Turismo estava, vamos dizer, numa conta da Secretaria de Relações Internacionais, porque a Secretaria de Relações Internacionais foi criada no lugar da Secretaria de Turismo, que deixou de existir. 

Então, era uma fase de transição, sabe quando você muda de endereço, mas não mudou as contas ainda? Estão no nome do antigo proprietário? Era mais ou menos isso. A gente estava lá, na casa que era da Secretaria de Turismo e os recursos da Secretaria de Turismo continuavam ali, na nossa conta. Quando eles precisavam de dinheiro, eles mandavam um processo dizendo “sabe aquele nosso recurso que está aí com você? A gente vai precisar dele agora para um evento assim, assado”. Era um mero trâmite burocrático, o dinheiro era deles, não era meu. 

E, aí, eles precisavam do dinheiro porque seriam os responsáveis por alugar os gradis de proteção ao longo do percurso onde haveria a Motociata Para Cristo, que contaria com a presença do Presidente da República. Isso é o tipo de coisa que ninguém tem o direito de não fazer, não tem como dizer “eu discordo desse negócio, não vou colocar gradil porra nenhuma, se morrer alguém, que se dane”. Não existe isso, qualquer corrida de rua tem gradil protegendo o trajeto, quanto mais um passeio de motocicleta, quanto mais com a presença do presidente da República. 

Então, a Secretaria de Esporte, Lazer e Turismo, mandou lá o pedido e eu disse “sim, claro” e autorizei o repasse. Quando aconteceu o diacho da motociata, algumas pessoas começaram a dizer assim: olha lá, quem deu dinheiro para motociata do Bolsonaro, a secretaria da Soninha e da Marta, a Marta Suplicy está dando dinheiro para o Bolsonaro desfilar de moto. Olha o caos, a distorção absurda: ninguém deu dinheiro para ninguém. A prefeitura, como órgão público, tinha o dever de fornecer estrutura mínima, básica de segurança, para um evento daquele porte, com aquelas características.

O dinheiro foi autorizado por mim, num despacho de um processo em que eu não tinha nem poder de decisão. Só que repercutiu tanto, virou um discurso do tipo: a Marta ajudou o Bolsonaro, a Marta ajudou o Bolsonaro e aí ela falou “olha, eu não admito, eu não suporto ser associada ao Bolsonaro e, para quem está vendo de fora, a culpa é sua. Estão dizendo que eu ajudei o Bolsonaro, porque você assinou o despacho”. Eu fiquei arrasada, eu fiquei indignada, eu fiquei revoltada. Eu queria muito que a Marta, que era minha chefe, dissesse para o mundo “vocês estão enganados, vocês estão malucos”, mas ela optou por fazer esse gesto para demarcar posição.
 

AgeMT:  Quais são as expectativas para as eleições do próximo ano? Você acredita que, com o aumento da rejeição popular de Bolsonaro, é possível esperar a eleição de candidatos mais progressistas?

Soninha: Eu espero apaixonadamente que Jair Bolsonaro não chegue ao segundo turno. A eleição do Bolsonaro foi um desastre que se abateu sobre nós. Ela é um dos piores políticos da história do Congresso Nacional. Ele é medonho. Há muitos parlamentares cuja atuação eu desaprovo totalmente, mas eu não me lembro de ninguém pior do que o Bolsonaro. Até os políticos mais canalhas conseguem se comportar dignamente em um velório, em uma cena de desastre. Pode ser o pior patife, mas ele tem um pingo de humanidade para dizer: “meus sentimentos, minha senhora”. É uma coisa hedionda o que a gente viu durante a pandemia.

Felizmente, uma boa parte do eleitorado dele já enxerga isso. Muitas pessoas que rejeitaram Fernando Haddad se propõem a votar no Lula porque viram a catástrofe que foi. Eu sou uma dessas pessoas. Eu fui do PT (Partido dos Trabalhadores) e saí do PT com profundíssimas divergências, mas eu votei no Haddad contra o Bolsonaro no segundo turno de 2018. Contra o Bolsonaro, eu também voto no Partido dos Trabalhadores, eu voto no Lula. Mas eu espero, sinceramente, que Bolsonaro não chegue nem para o segundo turno. Eu espero que tenhamos cinco boas alternativas no primeiro turno para debater o país seriamente e, aí sim, no segundo, tomar a decisão necessária.
 

AgeMT: E quais foram as suas divergências em relação ao PT? Já que ainda estamos pensando em 2022, qual seria a melhor opção no primeiro turno?

Soninha: Eu tenho a felicidade de o meu partido ter um pré-candidato de quem eu gosto muito, o senador Alessandro Vieira. Ele é muito ponderado, é muito correto e tem uma qualidade: a honestidade intelectual, defender aquilo que ele acredita de verdade. Inclusive, esse foi um dos problemas que eu tive com o meu ex-partido. 

Eu percebi que algumas coisas que o PT defendia não convergiam com a conduta do partido. Ele tem a dissonância de ter um discurso radical, mas, durante o governo, ter um discurso moderado. 

Se o Alessandro Vieira não confirmar, eu digo que a candidatura do Lula, para mim, é a candidatura do segundo turno. É a minha opção ao Bolsonaro. Gosto muito de algumas proposições e algumas experiências de Ciro Gomes e, ao mesmo tempo, desaprovo alguns arroubos dele. Ele é muito inteligente, mas muito errático. Por isso, ele não tem meu voto para o primeiro turno. O Alessandro Vieira, por enquanto, tem o meu voto e, depois, veremos.
 

AgeMT: E você pretende concorrer a algum cargo nas próximas eleições?

Soninha: Eu estou cogitando seriamente em ser deputada federal no ano que vem. Mas, se eu pudesse escolher o cargo que eu quero exercer na minha vida, é como prefeita de São Paulo. Fui candidata duas vezes, fui nos debates, mas é impossível saber se eu vou ter a oportunidade de ser candidata de novo. Só isso já é um desafio.


Imagem de Capa: Reprodução/ Facebook.

Após entregar denúncia que atribui a Bolsonaro o crime de genocídio e que será levada a julgamento popular, Ex-Subprocuradora Geral da República exemplifica papel do MPF e alerta para a fragilidade das instituições
por
Camilo Mota
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22/11/2021 - 12h
Procuradora federal dos Direitos do Cidadão Deborah Duprat em pronunciamento na Comissão Mista da Medida Provisória (CMMPV) nº 870, de 2019
"CMMPV - Comissões Mistas Medidas Provisórias" by Senado Federal is licensed under CC BY 2.0

 

Deborah Duprat é jurista e foi membro do Ministério Público Federal de 1987 até o ano passado, quando se aposentou. Atuou em prol de temas como a preservação ambiental; ao lado do Instituto Socio-Ambiental, ISA, pelos povos indígenas; populações colocadas às margens - dos Direitos Humanos como um todo -, que marcam sua história.

Na mesma semana em que o Ministro Luis Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal, determinou que o Planalto esclarecesse a situação dos povos Yanomami e quase um mês após a entrega do relatório da CPI da covid-19 - que retirou do Presidente a responsabilização por genocídio, a Ex-Subprocuradora Geral da República Dra. Deborah Duprat entrega denúncia ao Tribunal Popular, que ocorrerá na próxima quinta-feira (25) no TUCA. O Julgamento será presidido pela desembargadora Kenarik Boujikian, e contará com a defesa do advogado Fábio Toffic.

Na entrevista, realizada no dia 20 de novembro de 2021, a jurista esclarece o papel do Ministério Público Federal na defesa do Estado Democrático e suas atribuições, alerta para a fragilidade das instituições da República e ressalta a importância do “exercício permanente de indignação” para a manutenção da democracia e da Justiça no país.

 

Para começar, nos últimos tempos a figura da Procuradoria Geral da República tem sido bastante questionada, principalmente na mídia, na cobertura política. A PGR e a Subprocuradoria, cargo que a senhora ocupou, são partes do Ministério Público Federal, constitucionalmente independente e que tem por objetivo fiscalizar os demais poderes. Mas como funciona essa estrutura na prática?

Primeiro, o Ministério Público brasileiro é uma jabuticaba. Ele é único no mundo e é interessante, porque foi uma aposta dos movimentos em luta, uma aposta de transformação institucional, colocando numa única instituição a defesa, promoção e defesa dos Direitos Humanos, o controle externo da atividade policial e a promoção da ação penal pública. Essa é a atividade típica dos Ministérios públicos no mundo. E aí há esse arranjo, que tem uma inteligência, mas o Ministério Público, próximo da Constituição, promoveu transformações extremamente importantes, até antes disso, no período da redemocratização. Agora, ao longo do tempo, ele foi perdendo muito a dimensão dos Direitos Humanos, digamos assim. Não é essa categoria de Direitos Humanos, na verdade Direitos Humanos são a forma como se estrutura a sociedade brasileira. Mas ele foi se distanciando desse projeto constituinte e foi ampliando muito o direito penal. E a gente sabe que toda vez que você amplia o direito penal, as vítimas são as vítimas históricas da discriminação: são pretos, pobres, indígenas, favelados, mulheres, o encarceramento feminino, que explodiu nos últimos anos. E o que é a Procuradoria   Geral e a Subprocuradoria Gerais? Elas são o topo da carreira. No topo da carreira está, não só o Procurador Geral da República, mas as câmeras de coordenação, que são uma maneira de você atuar coordenadamente. E tem a procuradoria federal dos direitos do cidadão. Eu tive a felicidade de ser por muito tempo membro desta última. Muitos anos, eu acho que oito mandatos seguidos, como coordenadora da sexta câmara que data de povos indígenas e comunidades tradicionais, e fui por quatro anos, que é o prazo máximo, procuradora Federal dos direitos do cidadão, que é um órgão que funciona como uma espécie de ombudsman.

 

E qual é a atuação específica do cargo de Procurador, quais são as atribuições além da fiscalização denúncia recebimento...?

O Procurador Geral da República, eu acho que é uma das figuras mais importantes, digamos, da República. Não tem nenhum poder alguém que concentre individualmente tantos poderes quanto o Procurador Geral da República. É o único cuja decisão sobre a promoção da ação penal não tem recurso. Ele decide se alguém vai ser processado ou não. Então, a partir do momento que ele decide isso, ninguém pode alterar esse entendimento. Já é uma disfuncionalidade. Nós temos que ter de alguma maneira um controle sobre algo tão absoluto. E o Procurador Geral da República tem poderes de transformação social absurdas, porque ele tem as ações do controle concentrado de constitucionalidade. Por meio dessas ações já foram decididas, por exemplo, cotas raciais, união homoafetiva, marcha da maconha, regularização fundiária na Amazônia, Registro Civil de população trans, Lei Maria da Penha, constitucionalidade. Então, tem um espaço de trânsito muito grande. E lembrando que a principal função do Procurador Geral da República é a defesa do Estado democrático.

A gente está falando muito Direitos Humanos, ação penal, mais a defesa do Estado democrático. Essa última é uma grande atribuição que a constituição confere ao Ministério Público brasileiro e com forte acento nessa figura central do Procurador Geral da República.

 

Recentemente, o Ex-Procurador Rodrigo Janot sinalizou uma possível candidatura, acompanhando ex-membros da lava-jato rumo à carreira política. E relembrando a independência do Ministério Público Federal, essa partidarização não é perigosa? E não soa estranho ser o presidente da República quem indica a figura de Procurador Geral?

Eu acho que qualquer carreira quando se encerra, tem que haver um período de quarentena para você ter esse distanciamento, você não fazer a sua carreira pensando na ascensão política, pensando em algo fora da carreira. Eu achava que, inclusive, Procurador Geral da República não poderia ser indicado Ministro do Supremo Tribunal Federal enquanto estivesse no cargo. Teria que ter um período de quarentena. Você não pode fazer da carreira do Ministério Público trampolim para outras, porque perde a capacidade de agir com Independência. E o que a gente está vendo é como a fragilidade disso, quando a instituição é capturada por essa partidarização. Eu não digo que não seja político, eu acho que todos nós temos uma dimensão política. Quando atuamos, atuamos politicamente. O Procurador Geral tem uma capacidade de atuação política absurda. O que eu recuso a aceitar é essa partidarização, essa ambição por poder.

 

A senhora, primeira mulher a comandar a PGR, interinamente em 2009, enviou uma representação em janeiro pedindo que o presidente fosse investigado pela condução da pandemia. O pedido foi arquivado. Logo após, deu-se início à CPI da covid que tomou os noticiários e deu luz a grandes escândalos e crimes cometidos pelo governo Federal. O relatório em si foi votado no último dia 26 indiciando o presidente por crimes como epidemia com resultado de morte, crimes contra a humanidade e de responsabilidade. O que podemos esperar do sistema judiciário, do PGR, sobre esses indiciamentos?

Nós estamos vivendo um período de anormalidade. É preciso que a gente acentue isso, porque as instituições não estão funcionando adequadamente. Se estivessem, o Procurador Geral da República já teria instaurado uma investigação. Porque não foi a CPI que deu início, vamos dizer, à claridade dos fatos que vinham sendo praticados pelo Presidente da República no contexto da pandemia. A CPI organizou aquilo que já estava expresso. A gente tem que lembrar aqui, nós temos na atualidade, eu já perdi a conta, mas muito mais do que 100 pedidos (de impeachment) por crime de responsabilidade, e perante o PGR, antes da CPI, uma infinidade de representações por crimes comuns principalmente no contexto da pandemia da covid-19. Enfim, nós temos que apontar o dedo para duas responsabilidades centrais: uma do PGR, a quem compete a ação penal pública exclusiva contra o Presidente da República. Então, cabe a ele, com exclusividade, determinar a investigação e determinar a responsabilização; E a outra: o presidente da Câmara dos Deputados, não só o atual, mas também o anterior, é preciso que se diga isso, essa noção de que o presidente controla a pauta do impeachment. Isso está errado. Não está na Constituição, não está na Lei do impeachment, e não está no regimento interno da Câmara. O presidente faz uma análise só de adequação da petição, a adequação formal, se ela tem assinaturas, se as assinaturas têm firma reconhecida, se tem rol de testemunhas, se os fatos estão com o mínimo de prova. Só isso. A Constituição determina que quem decide sobre a abertura de um processo de impeachment é a Câmara dos deputados, é o plenário, não é o presidente (da Câmara). Então está tudo errado. E diante desse quadro, a minha expectativa sobre algo ocorrer depois do relatório da CPI, que é um relatório preciosíssimo, é um documento que a gente tem que guardar e no futuro a gente fazer uma espécie de Justiça de transição, por toda minha expectativa em relação a esse documento, ela é muito baixa. Eu acho que ela fica como documento histórico, mas em termos de responsabilização, no momento, enquanto Bolsonaro for Presidente, eu tenho dúvidas severas, fortes, sobre a possibilidade de gerar algum efeito.

 

Além desses caminhos constitucionais, caso não percorridos devidamente ou não haja prosseguimento, quais são os dispositivos alternativos que a Constituição dispõe para que esses crimes não fiquem impunes?

Tem um que é objeto de muita polêmica, que é ação penal privada subsidiária. O que que é isso? Se o procurador-geral da República não age, não propõe a ação, se ele demora muito tempo, ou se nega a propor a ação, tem uma possibilidade de as vítimas proporem uma ação subsidiária. Seria esse o sentido da ação penal privada. É um instituto objeto de muita crítica porque significa mais uma expansão do Direito Penal. Se o Direito Penal já é grande, você imagina isso nas mãos das vítimas, principalmente de vítimas difusas, como é o caso de uma pandemia. Você não tem uma, duas, três vítimas você tem, enfim, os familiares das mais de 610.000 mortes. Você tem aqueles que ficaram incapacitados. de alguma maneira. Você tem um conjunto enorme, então imagina a explosão do Direito Penal. Então vejo isso com muita crítica. Então, eu espero que a gente consiga em algum momento fazer o país voltar a funcionar. E ainda resta uma possibilidade, que eu acho que ela não pode ser jamais abandonada, de Bolsonaro, uma vez fora do cargo, vir a responder por todos esses crimes. Você tem que lembrar que, por exemplo, o crime de pandemia com causa morte, que é a maneira como ele foi imputado a Bolsonaro pela CPI, é um crime hediondo. A pena dele é severa. Todas as restrições relativas às possibilidade de responsabilização nunca podem ser abandonadas. A gente não pode abandonar nunca a possibilidade de responsabilizar Bolsonaro fora do cargo porque aí ele responde perante a um juiz de primeiro grau, não tem foro privilegiado, e você tem uma um conjunto de Procuradores e Procuradores da República que podem propor essa ação. Então, não se concentra mais no Procurador-Geral da República, só não poderá responder por crimes de responsabilidade, porque eles pressupõem o exercício do cargo.

 

Genocício é uma das atribuições que a acusação faz a Bolsonaro na sua denúncia encaminhada à desembargadora Kenarik Boujikian, que presidirá o Tribunal do Genocídio na próxima quinta-feira. Qual é o intuito dessa nova denúncia e o que ela difere das atribuições da CPI?

Não difere em nada. A CPI resolveu não fazer a imputação por uma conveniência política do crime de genocídio, mas se você ler o relatório, no próprio relatório há atribuição do crime de genocídio. Não há na conclusão, mas quando ele vai narrar os fatos em relação aos indígenas, há sim o crime de genocídio. É uma coisa muito impressionante as pessoas pensam que genocídio é só quando há uma morte em massa de um segmento da população, não é isso. O crime de genocídio foi pensado a partir dos grandes holocaustos europeus, ignorando os holocaustos americanos, o que foi o holocausto indígena, depois o que foi a escravidão. E ele tem por princípio assegurar o pluralismo nos Estados Nacionais. Então, permitir que as minorias religiosas, étnicas, culturais, enfim, de todos os tipos de gênero, de orientação sexual, sigam existindo de acordo com as suas concepções de vida, que não seja imposta a elas condições diferentes ou sejam propostas a elas medidas de assimilação a uma cultura considerada mais valiosa. Essa é a ideia que o crime de genocídio busca suprimir. Em relação a nossa legislação interna, a gente tem uma lei que reproduz a convenção de 1948 e o estatuto de Roma também reproduz a convenção de 48, e tem um dispositivo que ele diz que é retirar as condições que permitem a existência desses grupos. Uma das condições centrais para a existência dos povos indígenas, como povos, são as terras. Então, nessa denúncia perante tribunal de genocídios, se mostra o quanto Bolsonaro não só falou, como ele desmobilizou todo o aparato administrativo para a proteção das áreas indígenas e como estimulou a invasão. Há um relatório do Cimi, Conselho Indigenista Missionário, que mostra que essas invasões cresceram no período da pandemia, com todas as implicações. Além da fragilidade territorial, as invasões foram vetores de transmissão da doença. Há quatro medidas cautelares concedidas pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos em relação a quatro povos, a quatro etnias: Yanomami, Munduruku, Guajajara e Awá, salvo engano. E todas essas áreas havia uma explosão da mortalidade, todas elas com áreas de invasão ou de garimpo ou de madeireiros muito grande, muito acentuado. A gente tem que lembrar que a única condenação que o Brasil tem genocídio é num Garimpo em área Yanomami, garimpeiros que mataram indígenas. Então eu tenho a absoluta certeza que há sim crime de genocídio. É preciso só atentar que genocídio não é só matar fisicamente, é você obrigar o povo a viver de acordo com regras externas.

 

Com relação ao Tribunal do Genocídio, isso seria uma das formas de Ação Penal Privada, que a senhora comentou e quais são os possíveis encaminhamentos posteriores?

Um tribunal Popular ele é tribunal de denúncia. Eu não digo que ele só tenha feito no plano simbólico, porque eu sempre acho que o simbólico e o real têm uma implicação entre si, então, algum efeito produz, algum efeito de mobilização, um sentimento de, pelo menos, indignação. Ele não tem de fato efeito concreto no mundo jurídico. Ele tem esse caráter performativo e toda a performatividade tem capacidade de incidir no real. Eu acredito, Gramsci diz isso, que as hegemonias podem ser vencidas porque elas têm rotas de fuga, só que você não sabe antecipadamente quais são, você tem que ir construindo possibilidades. Eu acho que o Tribunal é uma dessas possibilidades. Ele vai dar o resultado? Não sabemos. Nós temos que existir, temos que tentar. Eu acho que é esse exercício permanente da indignação que nos move.