O estigma associado a pessoas em situação de vulnerabilidade social
por
Mayara Pereira
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23/06/2025 - 12h

Esse trabalho tem a função de ampliar a visibilidade da população em situação de rua por meio de informações, quebra de estigmas, leis e entrevistas com quem vive nessa situação de vulnerabilidade. 

https://medium.com/@mayaramay838

Um lugar onde a leitura também é um gesto de resistência
por
Nicole Domingos
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16/06/2025 - 12h

A literatura sempre foi um território de disputa simbólica, um espaço onde narrativas dominantes se impõem, mas também onde vozes dissidentes encontram brechas para existir. No caso da literatura LGBTQIAPN+, essas brechas são preciosas. O site palavras em trânsito, feito por Nicole Domingos, trata exatamente disso, desses pequenos espaços que já existiram e que existem hoje. É um lugar dedicado ao estudo, à crítica e à celebração da literatura LGBTQIAPN+.

Ao longo do site, vamos tratar especialmente sobre os corajosos que escrivam e gritavam dentro de deus próprios livros, ainda que estivessem dentro dos períodos de repressão, como a ditadura militar brasileira — esses autores utilizaram a palavra como forma de resistência.

A literatura não apenas narra experiências — ela reescreve a história a partir de corpos e afetos antes excluídos. Ela cura feridas simbólicas, questiona heranças opressoras e cria novos imaginários de existência. Ao nos colocar diante de personagens que amam, sofrem, resistem e sonham fora da norma, ela nos lembra de algo fundamental: toda existência merece ser narrada. E lida.

Para acessar esse mundo, basta clicar no link abaixo:

https://literatura-lgbt.my.canva.site/

 

 

Site Entrelinhas: em meio a arranha céus e vielas a natureza vai escorrendo
por
Vítor Nhoatto
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16/06/2025 - 12h

Apesar de viver-se um tempo de emergênciua climática e sentir seus efeitos na prática, nem todos são afetados da mesma forma. Para isso se dá o nome de racismo ambiental, tema central do novo site Entrelinhas. Idealizado e produzido pelo aluno de jornalismo, Vítor Nhoatto para a disciplina de Jornalismo Contra-Hegemônico, conta com a orientação da professora e doutora Anna Flávia Feldmann.

O projeto se desenvolve ao longo de uma série de quatro reportagens, que contam com entrevista de especialistas de norte a sul do Brasil e relatos de quem sente na pele o peso de viver em uma sociedade que precisa de mudança. É proposto um espaço de letramento racial e ambiebtal, baseado em dados e fatos, que muitas vezes são ofuscados pelos outdoors, ou ignoados por empresas e governos.

Com uma linguagem que se aproxima do dia a dia do leitor, o site ainda conta com reportagens especiais desenvolvidas pelo estudante, demonstrando como tudo está interligado. E para saber mais sobre as entranhas ambientais, é só acessar o Entrelinhas pelo link abaixo:

https://entrelinhasambiental.my.canva.site/

Com um compilado de quatro reportagens, textos trazem diferentes perspectivas sobre o tema
por
Nathalia de Moura
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16/06/2025 - 12h

O site Donas da Bola, idealizado por Nathalia de Moura para a disciplina de Jornalismo Contra-Hegemônico, lecionada pela Professora Doutora Anna Flávia Feldmann, visa, a partir de dados, imagens, entrevistas e diferentes perspectivas, mostrar a desvalorização do futebol feminino, além de impulsionar e dar voz à luta e às atletas.

Com um compilado de quatro reportagens, o primeiro texto contextualiza historicamente o futebol feminino, trazendo o olhar de Renata Beltrão, Mestre em Museologia e Coordenadora de Comunicação do Museu do Futebol. O segundo texto aborda a realidade das categorias de base feminina de clubes brasileiros. Com depoimentos das atletas Laryssa Lourenço e Giovanna Holanda, temos um panorama das equipes jovens e o sentimento das jogadoras perante a realidade enfrentada.

A terceira reportagem foca na cobertura jornalística na modalidade feminina, os desafios enfrentados e o que pode ser feito para melhorar, tudo isso com a ajuda da Jornalista do jornal Lance!, Juliana Yamaoka. Na quarta e última reportagem, uma entrevista com a goleira do Corinthians, Kemelli Trugilho, mostra um panorama do futebol profissional feminino e a situação dos clubes da elite brasileira, além das medidas que podem ser tomadas para alavancar e valorizar o esporte.

Para acessar as reportagens, basta clicar no link a seguir: https://donasdabola.my.canva.site/

A Republica Democrática do Congo - herança colonial em meio a sangue e cobalto.
por
Pedro Bairon
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16/06/2025 - 12h

 

“Da borracha à maçã” é um documentário que traça a longa linha de continuidade entre a violência colonial imposta ao Congo e os horrores da guerra civil que ainda hoje assombram o país. A partir da exploração genocida promovida pela Bélgica no século XIX, o filme revela como as feridas abertas pelo colonialismo jamais cicatrizaram — apenas se transformaram em novas formas de conflito, exclusão e disputa por poder.

O documentário mergulha nas causas históricas e étnicas da guerra civil congolesa, dando atenção especial à tensão entre tutsis e hutus, grupos marcados por rivalidades que ultrapassam fronteiras e carregam os traumas do genocídio em Ruanda. A entrada de milícias hutus no leste do Congo após 1994, e a resposta armada dos tutsis, reacenderam conflitos internos, arrastando a população civil para o centro de uma guerra prolongada, brutal e muitas vezes esquecida pelo olhar internacional.

“Da borracha à maçã” não é apenas um registro de tragédias; é uma crítica à forma como a história se repete quando as raízes da violência são ignoradas. Mostra que o mesmo sistema que arrancou borracha das florestas a golpes de chicote, e que hoje arranca cobalto das minas congolesas, deixou um legado de instabilidade, impunidade e sofrimento. Um chamado à memória e à justiça, diante de um conflito que não começou nos anos 1990 — mas sim nos porões do colonialismo europeu

 

Duração: 26:10 

Autor: Pedro Bairon 

Para visualizar o documentário acesse o link:  

.https://youtu.be/kqtTs-vZCwo

Há 13 anos, a ONU declarava a água como um direito humano universal, no Brasil, 15,8% da população não tem livre acesso a esse recurso
por
Maria Elisa Tauil
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18/09/2023 - 12h

O acesso à água potável e saneamento básico é um direito essencial, fundamental e universal, vital à vida humana com dignidade e reconhecido pela ONU como “condição para o gozo pleno da vida e dos demais direitos humanos” (Resolução 64/A/RES/64/292, de 28.07.2010). Mesmo assim, Mary Maia agricultora e moradora da Chapada do Apodi, divisa do Ceará e Rio Grande do Norte, vive com duas cisternas  de água, reservatório que faz a captação e armazenamento da água da chuva, instaladas em seu quintal.

Assim como Mary, os moradores da região enfrentam o semiárido brasileiro com as mesmas condições. Eles fazem parte dos 15,8% da população, aproximadamente 33 milhões de indivíduos, que não têm livre acesso à água potável no Brasil, conforme informações recentes do SNIS (Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento).

Apesar de enfrentarem a precariedade hídrica, os habitantes do município de Tabuleiro do Norte, localizado na Chapada do Apodi, acordam todos os dias sob a segunda maior reserva de água subterrânea do estado, a Bacia Potiguar. Enquanto o agronegócio usufrui do direito universal para plantar algodão e soja, com a falta de acesso ao aquífero e nenhuma assistência do governo para mudar a situação, a única opção de Mary é utilizar duas cisternas para uso próprio e irrigação da sua pequena plantação.

“Nesse quintal não tem água diariamente”, expõe a agricultora ao relatar as dificuldades de morar no local. “Não tem esse ditado, água é vida? E água é vida mesmo, o que a gente pode fazer sem água? Pra gente aguar um pé de planta falta, porque eu só tenho duas cisternas com água. Se aqui tivesse um poço eu tinha tudo isso aqui (quintal) cheio de fruta.”

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Acerola do quintal produtivo de Mary Maia. Foto: Maria Elisa Tauil

Assim como tantos outros pequenos agricultores, a vida de Mary é o seu quintal produtivo. Com a renda da família estando diretamente ligada à agricultura, ela diz que se vê refém da disponibilidade hídrica. “Quando tem água a gente consegue mais coisa, quando não tem as bichinhas (plantação) murcham e morrem,” expõe.

Também moradora da Chapada, a cozinheira Joana Bezerra reforça a denúncia da falta de água. “A nossa luta é a água, que não tem. A maioria não tem condições de furar poços e quem tem condições de fazer isso pela gente não faz, não resolvem o problema. As empresas têm água à vontade, por que nós não tem?”

Na casa onde Joana mora com o esposo, o acesso a água só é possível através de um poço de água no quintal. Consciente do seu privilégio por ter um fácil acesso ao recurso, a agricultora sabe que nem todos têm as mesmas condições. “O que poderia mudar é se tivesse água o bastante, o suficiente para todos, não é só para mim porque eu tenho um pocinho aqui no meu quintal, mas é pouca coisa. A gente quer é coisa pra comunidade, vizinhos, irmãos. É isso. É água.”

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Poço de água não tratada no quintal de Joana Bezerra. Foto: Maria Elisa Tauil

Conhecida como a alma do agronegócio do Ceará e um dos principais focos da fruticultura do Brasil, a Chapada do Apodi é vista, segundo o mapeamento feito pela Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE), como um paraíso natural devido ao seu solo fértil e grande disponibilidade de água, fator que não passou despercebido pela política agrária brasileira.

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Chapada do Apodi. Foto: Maria Elisa Tauil

Em 1987, com a intenção de incentivar o agronegócio de frutas para exportação, através do Departamento Nacional de Obras Contra a Seca (DNOCS), o Estado brasileiro construiu um perímetro irrigado na região. Na teoria, isso poderia representar uma grande mudança para os moradores da Chapada, mas na prática a função dessa água nunca foi cumprir os direitos humanos.

Aline Maia, técnica da Cáritas de Limoeiro do Norte, explica as complicações que os agricultores enfrentam. “Essa é uma região que envolve muitas complexidades, estamos num território que a gente tem água e as comunidades não acessam essa água. Historicamente elas resistem aqui buscando alternativas e estratégias.”

“A grande dificuldade é a própria falta de apoio do Estado. Você não tem água. Nós estamos debaixo da segunda maior reserva hídrica subterrânea, que é o aquífero Jandaíra-Açu, a segunda maior reserva de água subterrânea no Estado do Ceará, e as famílias daqui não têm acesso a essa água. O acesso é por meio de carro pipa. A agroecologia precisa de água, como é que você vai viver no semiárido, produzir como camponeses e camponesas se você não tem água”, crítica.

“A falta de água tem sido um dos principais desafios, injustiça hídrica como a gente costuma dizer.”

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Agricultora moradora da Chapada do Apodi segurando uma batata doce. Foto: Maria Elisa Tauil

ACESSO A ÁGUA NO BRASIL

A precariedade hídrica enfrentada pelos moradores da Chapado do Apodi, é um caso entre tantos outros da realidade brasileira que mostram a fragilidade no cumprimento da resolução da Organização das Nações Unidas (ONU), assinada em 28 de julho de 2010. Apesar de apresentar uma grande disponibilidade hídrica, a distribuição no Brasil é desigual.

Segundo o estudo “Avanços do Novo Marco Legal do Saneamento Básico no Brasil - 2023 (SNIS 2021)” realizado pelo Instituto Trata Brasil, divulgado em 2023, em colaboração com a GO Associados, a maior parte da população que não tem acesso a água potável está concentrada nas regiões Norte e Nordeste do país, assim como nas periferias das grandes cidades. Os dados comparam a disponibilidade hídrica das cidades do país, onde 99,07% dos brasileiros das 20 melhores cidades têm acesso a redes de água potável, enquanto somente 82,52% da população das 20 piores têm esse serviço.

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Fonte: Brasil de Fato

Além disso, durante o levantamento de dados, foi constatado que mais de 1.100 dos 5.568 municípios do país averiguados, não apresentaram a documentação imposta pela legislação que comprova a capacidade econômico-financeira das empresas de abastecimento de água potável e esgotamento sanitário de cumprir as exigências legislativas.

Ao divulgar os resultados da pesquisa, a presidente do Instituto Trata Brasil, Luana Siewert Pretto, devido à disparidade de investimento em saneamento básico, apontou a existência de dois “Brasis”. “Se a gente for avaliar a região Sudeste, há uma média de investimento bastante grande, e mais de 90% da população já tem acesso a água”, declara. 

“Falta priorização dos governantes em relação ao tema do saneamento básico. Às vezes a gente ainda vê a política de que obra embaixo da terra não é interessante”, afirma Luana Pretto. 

Outro fator agravante na distribuição de água no país é a precariedade na gestão hídrica. De acordo com a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), a irrigação corresponde ao consumo de 72%, à medida que as populações urbanas e rurais representam 10%, conforme um balanço sobre o consumo brasileiro feito em 2021. 

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Fonte: Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO)

Ainda conforme a FAO, o agronegócio é o setor que mais precisa de medidas de redução do consumo, uma vez que aproximadamente 60% de toda água usada na irrigação é desperdiçada. Pesquisas do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária no Mato Grosso (Incra), apontam que um único pivô, sistema muito utilizado por grandes empresas na agricultura irrigada, chega a desperdiçar um milhão de litros por hectare (10 mil metros quadrados) em somente um dia. 

Durante a 21ª Semana Mundial da Água, Achim Steiner, chefe do Programa de Meio Ambiente das Nações Unidas, informou que, sem gerar nenhum impacto, somente 10% da atividade de irrigação mundial é necessária para garantir o abastecimento de toda população. “Sistemas agrícolas que respeitam os ecossistemas não apenas provêm comida, fibra e produtos animais, eles também geram serviços como mitigação de enchentes, recarga de aquíferos, controle de erosão e são habitats para plantas, aves, peixes e outras espécies”, disse. 

UM DIREITO HUMANO FUNDAMENTAL E UNIVERSAL  

Há treze anos atrás, a ONU instituiu que o livre acesso à água potável e o saneamento básico é um dos direitos humanos fundamentais, o Comitê das Nações Unidas para os Direitos Econômicos afirma que: “O direito humano à água prevê que todos tenham água suficiente, segura, aceitável, fisicamente acessível e a preços razoáveis para usos pessoais e domésticos.” 

Mesmo o Estado brasileiro não assegurando a acessibilidade hídrica universal da população, existem medidas que procuram diminuir drasticamente o número de pessoas sem saneamento básico no país. O novo Marco Legal do Saneamento, versão atualizada da Lei nº11.445/2007, tem o propósito de atender 99% dos brasileiros com água potável e 90% com coleta e tratamento de esgotos até o final de 2023.  

Para João Amorim, professor da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), é necessária uma política pública para melhorar a distribuição hídrica no Brasil. “Tem que haver uma política pública permanente, perene, de acesso descentralizado de acesso à água (distribuição por meio de sistemas de abastecimento), saneamento, tratamento. Uma política pública ampla com recursos financeiros garantidos no Orçamento Geral da União que deve ser acompanhada de uma mudança de prática dos gestores locais e da participação social, cobrando, acompanhando, orientando, exigindo água pra todas as famílias urbanas e rurais, de todos os biomas e territórios,” alega.  

“Água é vida, alimento, soberania, segurança alimentar, autonomia, liberdade. 

Água pra plantar, cuidar, colher, cozinhar, beneficiar alimentos e consumir. 

Água pra criar animais, produzir ração, sementes, comida farta, sadia e diversificada.”  

 

Esta reportagem foi produzida como atividade extensionista do curso de Jornalismo da PUC-SP. 

Brasil ocupa a posição 129 no ranking internacional da representatividade feminina na política.
por
Annanda Deusdará
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18/09/2023 - 12h

Segundo o Conselho Nacional da Justiça (CNJ), até novembro de 2022, 112 casos relacionados ao tema foram contabilizados. Durante 1 ano e 3 meses de análise, foram registrados 7 casos de violência política de gênero por mês no país.

Apesar das mulheres representarem 53% do eleitorado brasileiro, os candidatos a cargos políticos ainda são predominantemente homens (66%), e os números pioram quando se fala sobre candidatas eleitas (18%) e reeleitas (14%), o que leva a essa discrepância?

O que é a violência política de gênero? Segundo a Secretaria da Mulher da Câmara dos Deputados, é considerado como crime todo ato que tenha como finalidade humilhar, excluir, limitar seu acesso ou obrigar mulheres a tomar alguma decisão. Como afirma o órgão em sua página da internet, essas violações são um dos motivos para a pouca representação feminina em ambientes políticos.

Os ataques podem se dar fisicamente, verbalmente ou pela web, o processo, assim como outras agressões feitas a mulheres ocorre de forma gradativa e pode ocasionar em morte das vítimas. A Secretaria da Mulher divide a violência em três tipos: candidatas, eleitas e práticas invisíveis. Serem excluídas ou constantemente interrompidas em debates, fazer com que a mulher pareça louca, roubar suas ideias, ameaças e violação de sua privacidade, são alguns dos crimes qualificados como violência política de gênero, que podem ser encontrados dentro do site da Câmara dos Deputados, assim como canais de denúncias.

 

Histórico no Brasil

As mulheres começaram na política brasileira tardiamente, devido à forte presença do patriarcado no país, onde as mulheres deveriam cuidar da casa enquanto seus maridos faziam o papel de sustentar o lar.

A luta pela participação feminina no âmbito político se iniciou no final do século XIX, com as mulheres da elite que tinham oportunidade de estudar fora do Brasil. Direito conquistado apenas em 1879, que buscaram ativamente a conquista do direito ao sufrágio feminino, que foi conquistado em 1932.

Apesar disto, para que pudessem exercer, tinham que obter autorização dos seus maridos e caso fossem solteiras ou viúvas, terem renda própria, todos estes requisitos dificultavam o voto e só foram retirados em 1934, entretanto com o Estado Novo, elas só puderam votar plenamente em 1946.

A primeira mulher a exercer um cargo político ocorreu em 1928 no Rio Grande do Norte, com 60% dos votos Alzira Soriano foi eleita prefeita da cidade de Lages, entretanto apesar de ter uma família influente, ela teve seus votos cassados após um ano de mandato, as alegações foram de ilegitimidade da emenda do estado.

Alzira Soriano (Imagem: Reprodução G1) 

No final do século XX, a participação das mulheres começou a se intensificar, durante a ditadura elas criaram grupos para discutir a atividade política e suas condições dentro dela. Em 1985 foi criado o Conselho Nacional do Direito das Mulheres, dois anos depois as mesmas participaram da elaboração da Constituição de 1988, tendo 80% das suas reivindicações aceitas. Um ano após a elaboração da constituinte, as mulheres surgiram pela primeira vez como candidatas a presidência, entretanto foi apenas em 2010 que uma foi eleita. Dilma Vana Roussef se torna a primeira e única presidente mulher na história da república brasileira, até o início do segundo mandato de Dilma (2015), apenas sete mulheres se candidataram ao cargo. 

Em entrevista, a professora doutora em Ciências Sociais e especialista em Política e Comunicação, Rosemary Segurado, observou que “a ação política sempre foi uma exclusividade dos homens, então nós vemos que, mesmo que no Brasil a mulher tenha o direito de votar desde 1932, esse é um processo ainda muito longo para que essa representação tenha algo próximo a paridade.”  

No Brasil, existe uma cultura machista e autoritária, muito forte, segundo a doutora em Ciências Sociais, Segurado, isso é resquício de uma história de hiatos democráticos. Como ela explica, o período mais longo de democracia do Brasil não tem nem 40 anos, isso cria uma cultura política, que é machista, misógina e autoritária, que emprega muitas vezes o ódio contra as mulheres.  

 

Casos 

“Quando a gente fala de violência de gênero, a gente deveria colocar no plural, sobre formas diferentes de violência e que elas ocorrem por um simples fato, somos mulheres.” Relata Rosemary Segurado. 

As mulheres têm grande importância dentro do mercado de trabalho, entretanto quando olhamos para cargos de liderança, essa expressividade populacional e no mercado não se reflete. Ou seja, a violência política é apenas uma parte de um problema que envolve vários aspectos da sociedade. “O processo de falta de mulheres no parlamento é parte de uma cultura política machista, que expressa o machismo e misoginia presentes na sociedade” diz Segurado

Ex- Presidenta da República, Dilma Roussef (Foto: Roberto Stuckert Filho/Presidência da República) 

Em 2016, a primeira e única mulher a alcançar a presidência no país, sofre impeachment um ano após o início de seu segundo mandato, a alegação é de crime de responsabilidade. sete anos depois do ocorrido, ela tem seu caso de improbidade administrativa arquivado, devido à falta de fundamentação das acusações. 

De acordo com a especialista em política, o fato de a Dilma ter perdido o seu mandato, mesmo que depois de 7 anos não houve provas contundentes de seu crime, era pelo fato de ela ser mulher e ainda progressista, ou seja, “Tira-la era atacar todos esses setores e segmentos, para impedir que o exemplo dela fosse seguido por outras mulheres. Apesar disso sua presença foi muito importante para que outras mulheres pudessem se ver como possíveis representantes, independente do cargo.” 

Outro caso notório foi o da vereadora do Rio, Marielle Franco (PSOL) morta em março de 2018. Após o ocorrido, várias mensagens falsas circularam a internet com o intuito de desqualificar e difamar a imagem da política e ativista, fazendo com que a família sofresse duplamente, uma vez pela morte e outra pela deturpação da reputação da Marielle. 

Entre as notícias ilegítimas estão: que ela era ex-esposa de um traficante e que foi eleita pelo comando vermelho, ambas foram endossadas por políticos. O PSOL, partido a quem a vereadora pertencia, informou na época que entraria com um processo contra a desembargadora e o deputado que compartilharam as fake News como se fossem verídicas, o G1 reuniu as principais notícias e as desmitificou. 

Apesar dos casos que são apresentados nessa reportagem, somente em 2021 foi criada uma lei que enquadra a violência política como crime para garantir maior segurança as mulheres para que elas exerçam seus cargos. 

O fato de não escutar o que uma mulher tem a dizer, por si só já é uma violência, interromper seu discurso ou repetir o que ela já havia falado também. Porque isso a coloca em uma posição de descrédito, esse bloqueio da sua presença em qualquer nível de institucionalidade, reforça uma cultura machista, de que lugar de política não é para mulher, que ela não tem inteligência suficiente para ocupar o cargo que ela se qualificou para estar. 

Um exemplo dessa cultura, é o debate que se está tendo agora para que uma mulher negra assuma a vaga da Ministra Rosa Weber para o STF. É possível ver vários comentários falando que não se deve escolher alguém pela cor da pele, dizendo de forma indireta, que mulheres negras, não tem competência para assumir o cargo, visto que entre 11 ministros, não existe um que seja negro atualmente, se a cor não é um fator de escolha, deveria haver maior representatividade no STF. 

A professora em Ciências Sociais reforça que a violência contra mulher começa em casa, é normalizada na mesma, minando a confiança dela e dificultando ainda mais sua chegada a cargos de liderança. "É, importantíssimo lembrar, que isso ocorre em todas as classes sociais e níveis de escolaridade, ou seja, é uma questão da sociedade, e não de um segmento social” relata. 

Como agir 

Ao ser vítima de violência política de gênero, a mulher deve ligar para o 180 e fazer sua denúncia, será encaminhada aos órgãos competentes e também fornece informações sobre o direito das mulheres, a ligação é gratuita e funciona 24 horas. Outra forma de buscar ajuda é entrar em contato com o fale conosco da Câmara dos Deputados, funciona todos os dias e a qualquer horário. 

A presença de mulheres na mídia ajuda a pautar debates importantes no combate à violência política, como quais são os espaços que as mulheres têm para exercer a política, principalmente quando são mães e precisam fazer duplas, ou triplas jornadas. 

A mídia tem um papel social de proporcionar discussões em cima de fatos específicos, como a revogação da lei de legítima defesa da honra, e mostrar situações de outros países, para ampliar o senso crítico da sociedade e promover mudanças. 

Em relação à política, é necessário criar ambientes paras que as crianças possam exercer alguma atividade enquanto a mãe trabalha, ampliar as ações afirmativas e aumentar as leis que criminalizam de forma clara e severa, a violência política.

 

Esta reportagem foi produzida como atividade extensionista do curso de Jornalismo da PUC-SP

Em seu primeiro mandato, a deputada estadual transforma a experiência pessoal em senso de justiça social
por
Marcela Rocha
Giuliana Zanin
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13/09/2023 - 12h
Poder por Elas - Andréa Werner
Andréa Werner participa do quadro Poder Por Elas/Foto: Agemt

Nas eleições de 2022, Andréa Werner foi eleita deputada estadual de São Paulo pelo Partido Social Brasileiro (PSB). Presidente da Comissão de Defesa dos Direitos da Pessoa com Deficiência da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp), tornou-se ativista dos direitos das pessoas com autismo após receber o diagnóstico do seu filho Théo.

Quem é Andrea Werner antes da política?

Andréa é formada em jornalismo pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG). Em meados de 2001, mudou-se para São Paulo, cidade onde conheceu o seu marido e teve o filho, em razão do estágio que conseguiu como trainee da Unilever.

Em entrevista à Agência Maurício Tragtenberg (AGEMT), a militante comenta sobre a infância ‘com o pé no chão’. “Me mudei várias vezes de cidade”. Foi para Divinópolis, Governador Valadares, e BH, onde se formou. Ela desabafa como sua adolescência foi difícil. “Não me encaixa em nenhum grupo”.

No primeiro trimestre de 2023, a mãe de Theo recebeu o diagnóstico de Transtorno do Espectro Autista (TEA) e conseguiu compreender melhor o seu passado. “ Uma pessoa completamente diferente de quem eu sou hoje”, complementa Werner.

O que a motivou a buscar ajuda psicológica foi a confirmação do diagnóstico de autismo de Théo, em 2010. Então, numa tentativa de compartilhar suas experiências como mãe de um autista, criou o blog “Lagarta Vira Pupa”, referência a um desenho que o filho amava. Sua voz ganhou apoio de outras mães e da comunidade brasileira do autismo. A jornalista discute sobre temas estigmatizados de uma forma simples, como o reconhecimento e a aceitação do autismo pelos familiares.

Entre 2016 e 2017, Andréa lançou dois livros, “Lagarta Vira Pupa: A vida e os aprendizados ao lado de um lindo garotinho autista” e "Meu amigo faz iiiii". Mas, segundo a deputada,  escrever não preenchia o senso de justiça social carregado em seu peito e tampouco resolvia a desigualdade no Brasil. “Foi essa falta de me conformar com as coisas que me trouxe para a política.”, afirma Werner.

“Nos últimos anos, procurei parlamentares diversas vezes para apoiar e acolher pessoas com deficiência e suas famílias e sequer recebi atenção. Nunca havia espaço na agenda, até mesmo para resolver os casos mais graves. Essa causa, a nossa causa, não é prioridade na Alesp. Só vira prioridade para alguns na época da eleição.”, destaca Andréa em seu site oficial.

Andréa política

Em 2018, a mineira se candidatou à deputada federal pelo Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), mas não garantiu sua entrada ao Congresso. Nas eleições de 2022, ela foi eleita como deputada estadual.

No primeiro ano de mandato, a deputada está ativa em alguns projetos de leis. Entre eles:

•    Vedou a clausura da Lei dos Planos de Saúde que aprovava a rescisão unilateral de contrato de convênios durante a internação ou tratamento de alguns pacientes. A partir de agora, os planos precisam cobrir o cuidado dos beneficiários pelo menos até o fim do tratamento;

•    Alterou a Política Estadual de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista, incluindo pessoas com TDAH ao direito de acompanhamento psicológico em escolas;

•    Foi contra a “Educação Especial”, decretada ainda no governo Bolsonaro, que apoia a separação por salas de pessoas com deficiência e neurodivergentes, que impedia a socialização e o convívio entre os jovens em escolas regulares.

Em seu 1.º projeto de lei aprovado na Alesp, Andréa se comprometeu a lutar pela voz de pessoas com deficiências e neurodivergências. No Projeto estão prevista algumas medidas, como:

•    Garantia de que os alunos terão direito a acompanhante especializado;

•    Imposição de multa a quem rejeitar matrícula de alunos com deficiência;

•    Proibição da limitação de alunos com deficiência por sala.


A vida após o diagnóstico

Andréa compartilhou publicamente o diagnóstico de autismo ainda no primeiro semestre de 2023. Foram seis meses de avaliações psicológicas e um relatório de 29 páginas. Ela conta que recebeu apoio de colegas, mas que poucas pessoas falaram sobre o assunto. “Eles precisam de tempo para se acostumar e compreender o que é ter uma colega deputada autista”, relata a parlamentar do Gabinete da Inclusão.

Para ela, muitos de seus sintomas faziam referência ao Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), mas outros não encaixavam em nada. “O diagnóstico (de autismo) foi bom para eu entender coisas que sempre foram muito difíceis para mim.”

A deputada menciona também a dificuldade da medicina tradicional em diagnosticar principalmente mulheres, e utiliza de exemplo a própria experiência e de suas seguidoras, que enviam mensagens dizendo que os médicos sequer consideram uma avaliação neurológica porque  ‘se comunicam muito bem’.

Andréa explica que a comunicação vai além da expressão verbal: “Não é só falar bem. É entender a troca, o assunto apropriado e a expressão facial do outro. É muito tenso ser uma pessoa que não consegue ler situações sociais de uma forma natural. Gera muita angústia. Mas hoje é normal: Eu sou uma mulher autista.”

No gabinete

Sobre a agenda de trabalho na Assembleia Legislativa, Andréa comenta que, desde o primeiro momento, foi muito bem recepcionada na casa pelos funcionários e outros parlamentares.

Em seu gabinete, a deputada põe em prática tudo aquilo que defende em seu ativismo social: a inclusão, a sensibilidade e a adequação do mercado de trabalho para pessoas autistas. O quadro de funcionários conta com pessoas diagnosticadas com TEA, TDAH e bipolaridade, toda a projeção e organização do espaço é pensado para tornar o dia a dia mais confortável para os  trabalhadores.

O ambiente de trabalho possui luzes baixas e lâmpadas amareladas, que o tornam mais aconchegante e menos prejudicial para a fotofobia presente na sensibilidade sensorial autista. No cartão de contato dos funcionários é possível sentir o relevo tátil da escrita em braille.

Cartão de contato do gabinete de Andréa
Cartão de contato do gabinete da deputada estadual Andréa Werner / Fonte:Marcela Rocha

 

Uma de suas pautas é repensar as formas de convenções sociais exigidas pelo mercado de trabalho, que exclui pessoas autistas por como se relacionam. “Eu já sofri muito no mercado com minha personalidade. Eu converso com todo mundo, mas é difícil para mim manter o sorriso social”, recorda. Assim, Andréa mostra respeito pelos limites dela mesma e de seus funcionários, a partir de ações que visem ajudar e deixar o âmbito profissional acolhedor.

“Metamorfose Ambulante” é como Andréa se define diante das transformações e que vive no momento. “Quando eu dei o nome do meu instituto de “Lagarta Vira Pupa”, eu achava que a lagarta era o meu filho e eu pensava que ele havia se fechado para o mundo em uma pupa e que ele podia ‘mudar’ com a terapia. Mas ele não precisa. Ele é lindo do jeito que ele é. Quem entrou na pupa, na verdade, fui eu. A lagarta nunca foi o Théo, sempre foi eu”.

Andréa Werner com camiseta escrito "Lute como uma mãe".
A luta de Andréa começou como mãe de autista e hoje ela debate no plenário como uma mulher autista.
Fonte: perfil no Instagram oficial da deputada
Estudantes do MUP (Movimento por uma Unidade Popular) realizaram assembleia aberta que denunciou a precarização das condições de trabalho e ensino na universidade
por
Ana Julia Bertolaccini
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23/09/2023 - 12h
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Aluna da PUC-SP utilizando o megafone para chamar os estudantes para participar da assembleia aberta na prainha. Foto: Ana Julia Bertolaccini

Estudantes integrantes do MUP (Movimento por uma Unidade Popular) realizaram uma assembleia aberta na prainha da PUC-SP, no dia 29/09, com o objetivo de denunciar a aprovação da deliberação 3/2023 do CONSAD, destinada aos próximos professores contratados, a qual traz mudanças que prejudicam principalmente professores negros e pardos que podem receber os primeiros salários já com uma diminuição de 20% do valor acrescido hora-aula na base de cálculo do fator de trabalho docente. Isso é, um profissional que recebe um salário de três mil reais, passará a ganhar apenas mil e quinhentos, 50% a menos. A relação com a causa racial acontece pois a Pontifícia Universidade Católica adotou recentemente uma política afirmativa de cotas, que busca chegar a porcentagem de 37% de docentes negros e pardos contratados no total de seu quadro. Sendo assim, a desigualdade racial entre professores negros e  brancos pode ser agravada pela diferença de salário no exercício de uma mesma função dentro da instituição.

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Estudantes integrantes do MUP explicando sobre as consequências da aprovação da deliberação e organizando a ordem das falas de professores, alunos e representantes de outros núcleos estudantis. Foto: Ana Julia Bertolaccini

 

Primeiro candidato tem 32% de intenções de votos, e o segundo 24%
por
Lucas de Paula Allabi
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11/09/2023 - 12h

A pesquisa Datafolha divulgou intenção de votos para prefeito de São Paulo feita com 1092 eleitores da capital paulista. Nela, o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL) lidera com 32% de intenção de votos. O atual prefeito Ricardo Nunes (MDB) ocupa o segundo lugar nas pesquisas com 24% das intenções.

Em 3° e 4° estão a deputada federal Tabata Amaral (PSB), com 11%, e o também deputado federal Kim Kataguiri (União Brasil), com 8%. A pesquisa tem margem de erro de 3 pontos para mais e para menos, colocando os dois em empate técnico.

Com quantidade inexpressiva, o pré-candidato Vinicius Poit (NOVO) tem 2% das intenções. 18% dos eleitores afirmam votar nulo ou branco, o esperado pela distância de um ano entre a pesquisa e o pleito. 5% não souberam afirmar em quem votariam.

Na pesquisa espontânea, em que os entrevistados não são apresentados às opções existentes, Boulos lidera com 8% das intenções, seguido de Nunes com 4% e Kim Kataguiri com 1%.  Apenas 2% citaram “o candidato do PT” e 72% não tem candidato em mente.

 

Guilherme Boulos 

A aparente vitória do deputado do PSOL na pesquisa se deve ao apoio de Lula conquistado por ele. Boulos fez um acordo com o PT, em 2022, no qual garantiu apoiar a candidatura de Haddad ao governo do estado, enquanto o Partido dos Trabalhadores manteria apoio a ele nas próximas eleições da prefeitura da capital.

O apoio político oferecido ao Boulos tornou-se uma vantagem a partir do momento que São Paulo votou mais em Lula, candidato do PT à presidência, que a Bolsonaro. Uma grande margem de eleitores pode migrar ao candidato do PSOL por ter apoio estreito do presidente e de seu partido. 

Boulos também recebeu 40% dos votos na última eleição que concorreu à prefeitura da cidade, quando os votos de Gilmar Tatto (PT) e Márcio França (PSB) migraram para ele no segundo turno. 

Em um cenário atual parecido com o anterior é possível prever que o deputado do PSOL ganhe votos de Tabata Amaral, se o desempenho dela não for suficiente para levá-la a um possível segundo turno. A candidata é de centro-esquerda e do PSB, que em nível nacional tem aliança com o PT, que apoia Boulos.

Por outro lado, Boulos incomoda a parcela conservadora da população paulistana. Por muito tempo ele foi líder do MTST, movimento que ocupa prédios no centro e reivindica justiça social a quem não tem onde morar. 

Isto se reflete na sua preferência por 45% da população do centro, mas também na sua rejeição pela parte da população mais próxima ao conservadorismo, correspondente aos  católicos e os evangélicos, na faixa etária entre 45 e 59 anos.

Sua ligação a Lula, enquanto pode dar frutos positivos, também pode se tornar um empecilho ao candidato. Na recente pesquisa do Datafolha divulgada no dia primeiro, 37% da população afirma não votar em candidato atrelado ao presidente, enquanto apenas 27% votariam com certeza em um candidato apoiado por ele. 37% afirmaram que talvez votariam em alguém apoiado por Lula.

Em relação ao presidente, 45% afirmam que sua gestão é ótima ou boa, enquanto apenas 25% não a aprovam. O bom desempenho de Lula, atrelado ao seu apoio ao prefeito, pode escorrer como força positiva na campanha de Boulos. 

 

Ricardo Nunes

 

O atual prefeito Ricardo Nunes vive uma situação diversa, e talvez difícil. Com o apoio da máquina estatal, sua reeleição seria a resposta mais provável. Porém, as pesquisas de intenção de voto e aprovação nos mostram uma realidade diferente.

Seu plano é abocanhar os votos de quem rejeita a esquerda. Ele é mais tradicionalmente ligado à cidade como parte do “tucanistão”, estado que sempre votou em candidatos do PSDB para o governo. Esse é o mesmo público que  recentemente votou em outro candidato de direita para o palácio dos bandeirantes, o governador Tarcísio de Freitas (Patriota).

A última eleição, entretanto, mostrou uma capital paulista mais à  esquerda do que o resto do estado, dando mais votos a Lula e Haddad em comparação com Bolsonaro e Tarcísio.  Isso dá desvantagem ao candidato do MDB, partido tradicionalmente atrelado ao centro e à direita .

Pensando nessa realidade, Valdemar da Costa Neto, líder do PL, tenta emplacar Marta Suplicy, ex-prefeita de São Paulo, como vice de Ricardo Nunes.  Ela foi historicamente alinhada ao PT, mas se distanciou do partido em 2016 por apoiar o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. Em seguida, se filiou ao MDB, atual partido de Ricardo Nunes. Sua nomeação como candidata a vice seria uma ponte para facilitar as conversas com os eleitores de esquerda.

Concomitante a esse movimento, o governador Tarcísio deu apoio ao candidato que quer se firmar como o homem da direita no pleito. Esse suporte, entretanto, pode ser mais negativo que positivo à campanha. 

46% dos eleitores ouvidos pelo Datafolha disseram que não votariam de forma alguma em alguém apoiado por Freitas, e apenas 15% disseram que iriam votar com certeza nesse candidato. A aprovação do governador em São Paulo é de 30%,  enquanto 35% da população o rejeita. Ou seja, é possível que a grande rejeição do governador seja associada a Ricardo Nunes.

O candidato a prefeito busca muitos aliados para poder ganhar votos de diversas camadas dos eleitores paulistanos. O encontro de muitas personalidades, porém, pode  ser negativo. Na onda direitista que tenta se aliar contra Boulos, Jair Bolsonaro decidiu apoiar a candidatura do prefeito do MDB. 

A pesquisa do Datafolha revelou que 68% dos eleitores nunca votariam em alguém apoiado pelo ex-presidente, mas 15% votariam com certeza em figura apoiada por ele. Esta porcentagem pode ser preciosa numa decisão acirrada. Por causa disso, Nunes deverá fazer um malabarismo político para não se associar ou distanciar de Bolsonaro.

Outro ponto que deverá ser um empecilho para a campanha de Ricardo Nunes é o fato de que, no mesmo levantamento sobre a gestão do prefeito de São Paulo, 79% dos entrevistados demonstraram desejo de mudança de rumos na administração pública.

Tabata Amaral

O terceiro lugar da candidata Tabata Amaral pode parecer ruim, mas contém bons números a serem explorados por sua equipe. Seu nome é conhecido por apenas metade dos entrevistados (dentre eles, 15% conhecem pouco e 22% só ouviram falar), o que lhe dá margem para formar sua campanha quase do zero, moldando-a com poucos estigmas acumulados em comparação com Boulos ou Nunes 

Tabata Amaral acumula também 23% de rejeição, a menor dentre os candidatos.

Por ser de centro, ela deve buscar os votos dos que não que rejeitam Boulos e a esquerda mas tampouco se identificam com Bolsonaro e a extrema-direita. Sua posição, entretanto, se mostrou pouco eficiente com os extremistas de ambos os lados do espectro político, que acumulam críticas à deputada.

 

Kim Kataguiri

O candidato do União Brasil faz parte do MBL (Movimento Brasil Livre), historicamente alinhado à direita , que foi importante nas mobilizações de rua a favor do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff em 2016.

Essa associação positiva pela parcela de direita da cidade pode também trazer dores de cabeça ao deputado federal. Kim Kataguiri era muito próximo de outro membro do movimento, Artur do Val, que recentemente foi expulso por estar envolvido em um escândalo de mensagens sexistas que ele escreveu sobre ucranianas.

O candidato demonstra  maior apoio da parcela jovem, de 16 a 24 anos, da cidade. Também tem bom desempenho online, possui um canal no Youtube e demonstra mais eficiência em sua campanha nas redes que outros candidatos. 

Com 35%, Kim Kataguiri é quem mais tem rejeição na cidade.