Ambos localizados em Pinheiros, Zona Oeste de São Paulo, o mural de grafite “Coexistência - Memorial da fé por todas as vítimas do COVID-19” do artista paulista Eduardo Kobra, o qual retrata desenhos de crianças com o objetivo de conscientizar a importância do uso de máscaras à proteção contra o Coronavírus e refletir a importância da fé e esperança representando as 5 maiores religiões do mundo, e o mural de grafite e pichações do “Escadão Marielle Franco”, do artista Raulzito que homenageia a socióloga e ativista brasileira Marielle Franco demonstram o significado profundo de resistência, memórias guardadas e propostas de reflexões em uma cidade com diversos problemas sociais.







Nesta última terça-feira (24), a Câmara Municipal de São Paulo aprovou, de forma unânime - 51 votos a favor, nenhum contra e nenhuma abstenção - o processo de cassação contra o vereador pelo crime de racismo cometido.
“Não lavar a calçada... É coisa de preto, né?", foi o que disse Camilo Cristófaro, Avante, em 3 de maio de 2022. Durante uma sessão híbrida da CPI dos Aplicativos que ocorria na Câmara de São Paulo, o vereador, que participava da reunião de forma on-line, teve o áudio vazado que deixou “escapar” o comentário ofensivo.

No episódio, a única a reagir a fala racista, diante de dezenas de parlamentares que também participavam da reunião, foi a vereadora Luana Alves, do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL). A então parlamentar, autodenominada negra, foi a solicitante da instauração de inquérito contra o vereador na delegacia de crimes raciais e quem acionou a Corregedoria da Câmara.
Por unanimidade, foi aprovado a abertura de processo disciplinar contra Cristófaro, mas há quase um ano do ocorrido, a apuração pelo crime de racismo estava parada na Corregedoria da Câmara de São Paulo. Somente nesta terça-feira (24), o processo foi adiante.
Para tentar se defender durante a época, Camilo Cristófaro alegou, inicialmente, que a fala se referia a um carro. Depois voltou atrás e se justificou dizendo se tratar apenas de uma brincadeira direcionada a um amigo. O parlamentar fez questão de ressaltar que não era racista.
A única punição imediatista que enfrentou, um dia após o episódio, foi sua desfiliação do seu então, o PSB.
Com a aprovação do processo de sua cassação, Camilo Cristófaro, já indiciado, deverá ser julgado pelo crime de racismo em 2 de maio, véspera de um ano da data do delito cometido.
No último domingo (16), a companhia de transportes começou o lançamento da ação nos coletivos municipais com o intuito de refletir os desconfortos que são enfrentados durante as viagens. O projeto ainda tende a ser colocado em mais de 12,9 mil ônibus até o dia 30 de abril.
A iniciativa já se disseminou por mais de 2 milhões de visualizações apenas em redes sociais. Com o acesso expandido, tanto dentro dos meios de locomoção quanto nas mídias, a ideia já foi utilizada em outros países, como em Madri e Estados Unidos, pela a união de mulheres contra o “manspreading” – prática de pessoas do sexo masculino se sentarem de pernas abertas e ocupar mais assentos.

Para Karina Sousa, 20, o incômodo no transporte acontece desde pequena. Aprendeu a se “portar” nos espaços. “São incontáveis as vezes que a gente vê isso acontecendo, eu até acostumei e realmente evito sentar do lado de homens no transporte público, e infelizmente é uma coisa que ninguém toma providência”. Um levantamento realizado neste ano pelo “Viver em São Paulo: mulheres” em conjunto da Rede Nossa São Paulo mostrou que 45% das moradoras paulistas dizem já terem sofrido assédio sexual nos canais móveis.
O trajeto de medo e agonia é perseguidor delas e negligente ao olhar dos outros. ”Nunca vi nenhum cobrador, motorista ou passageiro fazendo algo, apesar de estar estampado nos anúncios do ônibus essa campanha.”, relata Karina. O desabafo da jovem estudante de jornalismo é sincero, persistente e dialoga com a devolutiva de que pelo quinto ano seguido, os automóveis públicos são os principais locais em que pessoas do sexo feminino se sentem inseguras e percebem a importunação cometida pelos homens- informações fornecidas pela mesma pesquisa.
Ações afirmativas como a de agora já foram impostas anteriormente. Em 2022, a mesma companhia movimentou a cidade com a chamada "Ponto final ao racismo”, instituída em painéis dentro e fora dos circulares.

Ainda é muito cedo para falar sobre mudanças, mas a própria Organização das Nações Unidas (ONU) reconhece a utilização de mecanismos populares para o apoio às camadas discriminadas. Na cartilha disponiblizada pelo site oficial, eles descrevem “Nessas seis últimas décadas, a maioria dos instrumentos internacionais firmados e ratificados pelo Brasil apresentam as ações afirmativas como estratégias reconhecidas e recomendadas pela ONU para a promoção da igualdade e o combate à discriminação e delineiam as bases conceituais para que as ações positivas de Estado promovam a igualdade.” Mas será que sem a participação civil será suficiente?
Diante das estatísticas, ativistas sociais acreditam que essa escolha é um dos caminhos importantes para combater os preconceitos e as desigualdades e, por isso, o papel dos serviços que recebem milhões de pessoas todos os dias é notificá-las e chamá-las para as lutas. Para Karina, outra possibilidade mais efetiva é uma campanha interna com os próprios funcionários para atentá-los e saber orientá-los diante dos casos.
O debate acerca da segurança no ambiente escolar chegou, na penúltima segunda feira (17) na Assembleia Legislativa de São Paulo, reunindo políticos, membros de sindicatos e representantes do Movimento Estudantil para conversar sobre o problema, buscando soluções práticas. Organizada pela professora e deputada estadual Maria Izabel Azevedo Noronha (PT) –mais conhecida como Bebel–, a audiência pública relembrou o ataque a uma escola na zona leste da capital paulista e como esses crimes têm se proliferado por outros estados. Bebel, também presidente do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo, fez questão de relacionar o contexto de violência atual nas instituições de ensino com as diretrizes do governo anterior. "O comportamento hostil de um presidente que fazia a simbologia de arma o tempo todo né, e ao mesmo tempo o negacionismo da ciência, se isso não tiver um impacto na cabeça dos jovens, eu não sei então o que é lidar com ser humano", exclamou.
Pânico
A preocupação em relação aos ataques à comunidade escolar tem movimentado a mídia e preocupado a maioria dos pais e responsáveis, que sentem cada vez mais medo de deixar seus filhos nas instituições de ensino e não os ter de volta ao final do dia. Várias escolas têm reforçado a segurança, impedido a entrada de outros parentes ou conhecidos que não estejam autorizados formalmente. Também tem monitorado ameaças e boatos e eventualmente cancelado aulas em datas específicas, como aconteceu no último dia 20 deste mês, em que corria pela internet um suposto ataque organizado que seria executado em diversas creches e escolas pelo Brasil.
Também em entrevista à AGEMT, Fernanda Cunha Soares, professora da rede pública municipal, conta que até mesmo nas creches e berçários o medo dos atentados tem prejudicado a frequência de comparecimento dos alunos. “Quando teve o ataque, aquele dia [27 de março] quase não veio criança”, explica a professora, apesar de pontuar que os pais, ainda que bastante assustados, precisam trabalhar e dependem do serviço das creches. “A vida das crianças está em risco e dos profissionais da educação também. Não temos segurança nas escolas”, afirma.
A mãe de uma aluna do oitavo ano do ensino fundamental do Colégio Jardim São Paulo, localizado na zona norte da capital, contou sobre a segurança da escola e suas preocupações. “A segurança da escola é boa, sempre tem um guarda na porta e na esquina. Após as ameaças, houve uma melhoria na segurança, com viatura na porta. O diretor estava recebendo os alunos na portaria ", diz a mãe. Segundo ela, o maior receio é de que os próprios alunos estejam por trás dos ataques. Já em relação às redes sociais, o principal meio de divulgação dos ataques e boatos, a mãe garante que observa os limites de horário e tempo de uso de sua filha e acredita, em parte, que a crescente onda de ataques tem relação com a divulgação constante feita pelas mídias.
Existe solução?

Desde 2002, segundo estudo feito pela Universidade de Campinas (Unicamp), cerca de 23 ataques a escolas aconteceram no país, resultando em 30 mortes, dentre professores, alunos e profissionais da educação. No entanto, a violência no ambiente escolar não se limita a atentados e massacres externos, já que para muitas crianças e jovens, o estudo vem acompanhado do sofrimento em passar por situações de bullying, racismo e gordofobia. Segundo o Instituo Locomotiva IBGE, quase 70% dos estudantes e professores afirmaram já ter presenciado alguma cena de violência no ambiente educacional.
Ainda na audiência, Yan Evanovich, coordenador de juventude da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão/MEC e membro do Grupo de Trabalho Interministerial para Prevenção à Violência nas Escolas, opinou sobre a solução da constante violência nas instituições de ensino, afirmando que a questão não depende apenas de uma maior segurança policial, propriamente dita. Com isso, a audiência trouxe à tona questões importantes, como a necessidade de se ter psicólogos e psicólogas dentro do ambiente escolar. Marcela Milano, do Sindicato dos Psicólogos do Estado de São Paulo concorda plenamente com a necessidade de um trabalho psicológico mais presente e eficiente nas escolas. "O psicólogo é tão importante para uma escola quanto é o assistente social. Quem atuar nas escolas não estará ali somente para atendimentos individuais de saúde mental, mas também coletivos", garantiu.
Celia Beatriz, psicóloga especialista em psicopedagogia, afirma, em contato com a AGEMT, que casos de violência nas escolas“ certamente fragilizam o psicológico das pessoas que passam por essas situações, e isso por si só, já deveria ter um efeito de atenção e cuidado por parte dos profissionais através do encaminhamento para terapia ou trabalho em grupo de prevenção”, explica, ressaltando que não necessariamente as vítimas dessas violências se tornarão agressores.
De qualquer maneira, "95% dos estudantes com mais 91% dos professores e 95% das famílias concordam que as questões de saúde mental, como esgotamento, ansiedade e outros problemas se tornaram mais relatados (...)", exemplificou a professora Bebel, com base também na pesquisa do Instituto Locomotiva apresentada no dia da audiência.
Por outro lado, o cuidado com a saúde mental, também segundo Beatriz, ajudaria a minimizar essas possibilidades. “Nos Estados Unidos, alguns trabalhos mostram que em muitos casos, os agressores são alunos atuais ou já foram alunos dessa instituição e já apresentavam uma tendência agressiva, com personalidades emocionalmente frágeis e com perfis de pouca tolerância à frustração, características que poderiam ser minimizadas com uma intervenção terapêutica”, inclusive em trabalhos em grupo com os próprios alunos, professores e funcionários das escolas, que poderiam se beneficiar de intervenções sobre saúde mental e convivência como um todo, complementa.
O jornal Estadão recentemente postou uma nota em suas redes sociais explicando a importância do cuidado ao tratar e divulgar ataques e atos violentos nas escolas, já que a extrema exposição e divulgação podem acabar incentivando outros atentados. “Pesquisas mostram que essa exposição pode levar a um efeito de contágio, de valorização e de estímulo do ato de violência em indivíduos e comunidades de ódio, o que resulta em novos casos. A visibilidade dos agressores é considerada como um ‘troféu’ dentro dessas redes”, dizia a nota. Além disso, é preciso se atentar também quanto ao prejuízo à vida pessoal dos alunos, professores e pais, principais vítimas de todo esse cenário.
Na quarta-feira (19), a prefeitura de São Paulo anunciou o lançamento do AlertaSP, aplicativo móvel voltado à segurança nas escolas municipais da capital paulista.
Com uso restrito para ataques violentos, similar a um “botão de alerta", a plataforma será uma maneira de acionar forças de segurança do estado e equipes de socorro, segundo a Prefeitura. A iniciativa foi desenvolvida pela Secretaria Municipal de Inovação e Tecnologia (SMIT) e atenderá 8 mil escolas públicas e privadas.
Em nota à AGEMT, a Prefeitura explicou o funcionamento do projeto. "Por meio da ferramenta, as escolas poderão acionar a GCM, que irá contactar também PM e SAMU em qualquer situação de emergência ou risco”. De acordo com a instituição, o aplicativo estará disponível ao público a partir desta quinta-feira (20).
Somente a equipe gestora das escolas terá acesso ao cadastro - diretores, assistentes de direção, coordenadores pedagógicos e coordenadores são os únicos usuários cujas chamadas serão aceitas. É necessário que o educador faça um cadastro na rede se não estiver registrado no Portal de Atendimento da Prefeitura.
Caso o botão seja acionado, o aplicativo se conectará ao Sistema Integrado de Gestão do Relacionamento com o Cidadão (SIGRC) para que o profissional registre o motivo da denúncia e confirme o seu envio. Em seguida, a Guarda Civil Metropolitana (GCM) receberá o protocolo por e-mail e avaliará as providências a serem tomadas.
Para uma professora da rede pública que não quis ser identificada, a militarização das escolas não deve ser considerada a solução final. “Se eu acionar a GCM, isso já é um problema. Precisamos trabalhar numa perspectiva de evitar que essas interrupções aconteçam”.
A educadora explica que o recente aumento dos ataques nos colégios é o resultado de tudo que foi validado pelo poder público nos últimos anos. Desigualdade social, política de autoritarismo, violência nas redes sociais, e banalização da vida são alguns dos fatores que culminam no crescimento da violência.
ATAQUES RECENTES
No dia 5 de abril, um homem adulto invadiu uma creche em Blumenau (SC) e assassinou quatro crianças com machadadas. Um caso similar aconteceu em São Paulo na Escola Estadual Thomazia Montoro, onde um aluno de 13 anos matou a professora Elizabeth Tenreiro, de 71 anos, e deixou mais duas feridas. Em ambos os casos, os assassinos foram presos em flagrante.
Diante dos episódios, o prefeito Ricardo Nunes (MDB) assinou o decreto Proteção Escolar de Cultura e Paz na última quinta-feira (13). As ações incluem um investimento de R$35,4 milhões na educação, um aumento de 50% da Ronda Escolar da GCM, ampliação em 25% das equipes de apoio psicológico nas escolas, além do próprio botão de alerta, entre outras medidas.
Entretanto, na avaliação da professora que a reportagem ouviu, não existe uma única solução passível de ser aplicada em todas as unidades escolares. Pelo contrário, ela recomenda que cada educador analise as peculiaridades da sua unidade e desenvolva sua própria estratégia. O poder de decisão precisa estar nas mãos dos indivíduos em que atuam nas instituições em perigo.
Ela alerta, portanto, para a necessidade de uma visão educacional social e a longo prazo. “Fechar o portão, colocar câmera e ter polícia nas escolas são medidas paliativas que, em momentos extremos como esse, até precisamos adotar, mas nada disso vai resolver o problema. As escolas públicas, por exemplo, precisam de um quadro de funcionários completo para garantir às comunidades que seus filhos serão plenamente atendidos”, finaliza.