Um mergulho nas dinâmicas da exposição, da performance e da cultura do entretenimento contemporâneo
por
GUILHERME PERIOTTO KATINSKAS
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11/06/2025 - 12h

O BBB vai ao ar e todo mundo vira comentarista, psicólogo e analista social da madrugada. Mas por que a gente se importa tanto com um monte de gente trancada numa casa? Neste podcast, conversamos sobre o reality como espelho da sociedade: a exposição constante, a busca por validação, a transformação da intimidade em conteúdo e o quanto tudo isso diz mais sobre quem assiste do que sobre quem participa. Pra nos ajudar nessa jornada entre tretas e teoria, convidamos ninguém menos que Vitor Faglioni Rossi, o eterno Príncipe Vidane, para um papo leve, divertido e cheio de reflexão sobre esse fenômeno pop que é o Big Brother Brasil. Escute aqui: https://soundcloud.com/guilherme-katinskas/bbbentrevista-mp3?si=ea2e249149584a3fadc46a21f45f2750&utm_source=clipboard&utm_medium=text&utm_campaign=social_sharing

Filme quebra paradigmas sobre originalidade e ancestralidade no cinema
por
Isabelle Rodrigues
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07/05/2025 - 12h

“Pecadores”, a nova aposta do diretor, roteirista e co-produtor Ryan Coogler - a mente por trás dos sucessos “Creed” e “Pantera Negra” - estreou em abril de 2025. O longa acompanha uma história de liberdade e conflitos raciais com muito Blues e dança, sem perder o terror e o suspense de sua atmosfera surrealista.

Os gêmeos Stack e Smoke utilizam cores distintas durante o longa, como forma de demonstrar suas posições ao longo da narrativa. Foto / Reprodução IMDB
Os gêmeos Stack e Smoke utilizam cores distintas durante o longa, como forma de demonstrar suas posições ao longo da narrativa. Foto / Reprodução IMDB

O filme, situado em 1932, acompanha em seu elenco principal os gêmeos Fumaça e Fuligem, ambos interpretados por Michael B. Jordan. Tudo se centraliza no clube de Blues criado pelos gêmeos, o terreno que foi comprado de um senhor envolvido na Ku Klux Klan, com dinheiro roubado em Chicago com a ajuda do gangster norte americano, Al Capone, além do vinho e a cerveja importados que serviram como atrativo para a comunidade cansada da região. Mas claro, nada disso não importa para os gêmeos, até o fim da noite todos os envolvidos no clube serão pecadores. Como dito pelo pastor e pai do personagem Sammie, “Se você continuar a dançar com o diabo, um dia ele vai te seguir até em casa".

Durante o desenrolar do longa, surgem outros personagens relacionados ao passado da dupla e o conflito central, como Sammie (Miles Caton), primo e filho do pastor local, Mary (Hailee Steinfeld), irmã de criação e Annie (Wunmi Mosaku), curandeira local. Todos têm seu lugar naquela sociedade, que situa de forma aguçada seu papel historicamente bem pensado. 

Destaque especial para Sammie, que demonstra a dualidade entre a religião e o conformismo, na qual, para ele, a música representa liberdade e salvação, o que fica ainda mais evidente após a chegada do personagem Remmick (Jack O'Connell). O roteiro utiliza diversos contextos históricos, que o torna um prato culturalmente cheio.

Por exemplo, o passado de Remmick demonstra ter relação com a opressão irlandesa, durante colonização dos ingleses no século XII, além das implicações a um proselitismo forçado, por conta das citações do personagem sobre ter sido obrigado a aprender hinos e cânticos religiosos no passado pelo homem que roubou as terras de sua família.

A ideia do vampiro, em uma narrativa banhada de elementos religiosos é uma escolha pensada e calculada aos mínimos detalhes, seja no batismo feito em Sammie ou na visão tida por Fumaça no ato final. O movimento do afro-surrealismo tem muita influência nessa decisão, em que os elementos do sobrenatural servem como analogia direta ao período de apagamento histórico e cultural que aconteceu com a população negra, o que torna ainda mais simbólica a representação do Blues na trama.

Outro elemento que vale a pena destacar é a posição da trilha sonora na narrativa.  O mérito vem da parceria entre Ludwig Göransson e Coogler que entraram em sintonia em todos os seus projetos. Mesmo não sendo um musical, a trilha sonora e seus números musicais fazem parte do âmago da história, principalmente nas músicas tocadas durante a sequência do clube, como “Lie to You” e “Rocky Road to Dublin”, performadas pelos atores.

Pecadores se torna uma das maiores apostas para o oscar de 2025, segundo a critica especializada Foto / Reprodução IMDB
Pecadores se torna uma das maiores apostas para o Oscar de 2025, segundo a critica especializada Foto / Reprodução IMDB

A recepção da crítica e público foi representativa, fazendo história além da tela, estando com 84% de aclamação no Metacritic. Além de ter conquistado uma das maiores bilheterias do ano, totalizando 230 milhões arrecadados por todo o mundo. 

O diretor Ryan Coogler conseguiu deixar um legado na indústria cinematográfica, com o contrato histórico feito para a produção do filme, no qual em vinte e cinco anos, todos os direitos relacionados a sua obra serão retornados para o diretor. 

Veja abaixo o trailer da produção: 

Título original: Sinners
Direção: Ryan Coogler
Roteiro: Ryan Coogler
Trilha sonora original: Ludwig Göransson
Produção: Ryan Coogler, Zinzi Coogler, Kevin Feige

Elenco principal: Michael B. Jordan, Miles Caton, Hailee Steinfeld, Wunmi Mosaku e Jack O’Connell.

A crescente polarização entre democratas e republicanos não apenas fragmenta os Estados Unidos, mas também ameaça os pilares da democracia
por
Ana Beatriz Villela
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12/11/2024 - 12h

As eleições presidenciais dos Estados Unidos revelaram, mais uma vez, uma das maiores fragilidades das democracias contemporâneas: a polarização doentia. Democratas e republicanos não apenas discordam em pautas políticas, como representam visões de mundo opostas e, muitas vezes, irreconciliáveis. Essa divisão não é apenas política; permeia famílias, comunidades e instituições, ameaça a coesão social do país e, em última instância, a legitimidade do próprio processo democrático.

kamala trump
Reprodução: Reuters

Eventos como a eleição de Donald Trump, em 2016, o ataque ao Capitólio após a eleição de Joe Biden, em 2021, e o retrocesso de legislações estaduais em questões como aborto, direitos LGBTQIA+ e controle de armas são exemplos de um país dividido. A retórica dos principais candidatos, em 2024, reflete esse cenário: enquanto um lado clama por reconstrução e unidade, o outro reforça narrativas conspiratórias e discursos inflamados. 

Nos Estados Unidos, debates sobre diversidade, direitos das minorias e imigração tornaram-se campos de batalha para discursos polarizados válidos apenas para fomentar o ódio. Em vez de buscar soluções para problemas como a desigualdade econômica ou a crise climática, a política se transforma em um jogo de soma zero, onde a vitória de um lado é vista como a aniquilação do outro.

Conviver com as diferenças torna-se inviável quando o lado mais forte busca impor regras sobre o corpo das mulheres, ameaça deportações em massa de imigrantes – até mesmo os legalizados – e planeja cortes drásticos nos gastos públicos com o apoio de figuras como do bilionário Elon Musk.

O ataque ao Capitólio foi um marco da radicalização de parte do eleitorado republicano, mas eventos menores, como ameaças a funcionários eleitorais e protestos armados em assembleias estaduais, mostram que o problema é maior e de proporções ainda desconhecidas. A retórica do atraso de líderes da extrema-direita, muitas vezes ambígua ou até mesmo permissiva em relação a esses atos, cria o ambiente de impunidade e incentiva atos antidemocráticos.

O saldo deste processo eleitoral não é apenas a eleição de um presidente, mas a própria sobrevivência de valores democráticos nos Estados Unidos - país tido como um exemplo de democracia no ocidente. Se a polarização e o ódio continuarem a ser explorados como ferramenta política, sem qualquer tipo de punição para os que atentam ou mesmo desejam o fim do estado democrático, caminhamos a passos largos para o abismo.
 

O ensaio trata de aspectos da vida e da obra de Mauricio Tragtenberg (1929-1998)
por
Antônio José Romero Valverde
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06/11/2024 - 12h

“A finalidade de qualquer educação é modelar a sociedade: mais do que ser ensinado, o homem deve fazer sua educação de homem e cidadão, aprender a se informar, a se comunicar com o “outro”, a participar, a tornar-se capaz de devir numa sociedade em pleno devir, essa é a finalidade primeira da educação. Na escola do futuro trata-se de aprender a devir.”  

(Mauricio TRAGTENBERG, 2005, p. 55)   

“No interior do sistema social as instituições educacionais e seus sacerdotes, os professores, desenvolvem um trabalho contínuo e sutil para a conservação da estrutura de poder e, em geral, da desigualdade social existente. Duas são as principais funções conservadoras atribuídas à escola e aos professores: a exclusão do sistema de ensino dos alunos das classes sociais inferiores e a que definimos como socialização à subordinação, isso é, a transmissão ao jovem de valores compatíveis com seu futuro papel de subordinado.”  

 (Mauricio TRAGTENBERG, 1976, p. 29)   

 

Vida e Obra  

O filme Madadayo (Ainda não), direção de Akira Kurosawa, de 1993, retrata a vida de Hyakken Uchida, professor de alemão que, aposentado após 30 anos de trabalho, pretende tornar-se escritor. O enredo move-se com os ex-alunos criando o rito de comemoração de aniversário do professor, perpassado pela trágica pergunta: “Madadai?” (“Está pronto?”). Ao que ele responde: “Madadayo” (“Ainda não”). Confirmação peremptória de mais um ano de vida, um de cada vez. Não está pronto para a morte. A comemoração repete-se ano após ano, com libações exemplares, muita cerveja, cantos, piadas. Sempre solícitos, os ex-alunos empenham-se por minorar cada dificuldade oferecida pela vida ao professor, como a destruição de sua casa, ocorrida no início da Segunda Guerra Mundial, ressalvado o servilismo oriental de par com os ditames da polidez formal japonesa, que, sem a devida interposição, pode comprometer a compreensão do lirismo ético em cena entre o professor e os ex-alunos, no passo de dar a ver o conhecimento vivenciado para além da exigência escolar, em prontidão de máxima atenção para todos. Afinal, cinema tem sido, antes de nada, uma forma de educação, por favorecer o olhar a mediar o mundo. Nesse caso, espelha-se a verdadeira admiração encarnada pelos ex-alunos ao professor, seguindo-o em quase todos os seus gestos e as atitudes de franca sinceridade, sobremaneira a conduta ética exemplar mantida com os estudantes e todos os circundantes, diante da adoração às margens de um transe extático ante a personagem do professor.   

A acidental comparação do professor de Madadayo com o professor Mauricio Tragtenberg estanca nesse ponto, porque ambas as figuras, públicas e intelectuais, tiveram florescimentos muito distintos. Tragtenberg, substancialmente, era um desbravador teórico e prático de muitos aspectos da dinâmica educacional e pedagógica, autodidata, sob o arco do socialismo libertário, mesmo que nunca tenha se declarado anarquista, ao rejeitar, como Liev Tolstói, por motivação cristã, a violência embutida em tal concepção filosófico-política, pela derivação, em algumas oportunidades, à prática da pedagogia dos fatos, utilizada para acordar as classes dominantes da tradicional letargia, como ocorrida em alguns quadrantes da Europa, a meados do século XIX e começo do século passado. Distinção necessária, porque a altura intelectual de Mauricio não permitia ascender a qualquer torre de marfim nem se aproximar dela, muito menos ser tomado como guru de ninguém, ou ser lisonjeado por quem quer que fosse do meio acadêmico e arredor. Ao contrário, escolheu observar e analisar o movimento real do mundo do trabalho, da barra da vida em amplos aspectos, da ação política, das lutas sociais, do fascismo, do fisiologismo político, pela lógica irredutível do capital, articulada por gestores e sindicatos, além de sua necessidade máxima de compreender as insurgências contemporâneas filosóficas, sociológicas, econômicas, literárias, antropológicas – estas reconhecidas como invenção colonial inglesa destinada à dominação dos asiáticos –, todas como partes do teto ideológico dominante.   

O foro de realização e dissipação de suas ideias educacionais e pedagógicas é a escola, organização complexa, cujo aparelho escolar tem seu papel na reprodução das relações sociais de produção quando: a) contribui para formar a força de trabalho; b) contribui para inculcar a ideologia hegemônica, tudo isso pelo mecanismo das práticas escolares; c) contribui para reprodução material da divisão em classes (sociais) e d) contribui para manter as condições ideológicas das relações de dominação (Trtagtenberg, 1976, p. 22)2.  

Ao que arremata: “O aparelho escolar impõe a inculcação ideológica primária e é seguido pelos diversos aparelhos – televisão, publicidade, seitas etc. A escola inclui, a forma de rudimentos, técnicas indispensáveis à adaptação ao maquinismo, em geral na forma preparatória” (Tragtenberg, 1976, p. 22), uma vez que os aparelhos ideológicos não produzem ideologia, mas cuidam de inculcar a ideologia da classe social dominante, com sucesso.   

Não fazia concessões de nenhuma ordem, como se lê nos seus escritos, especialmente no “Memorial”3, apresentado à Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), como exigência ao concurso para professor titular de Teoria da Organização, e na entrevista concedida na sede da Oposição Sindical Metalúrgica de São Paulo5, além de suas atitudes e decisões plenamente éticas em momentos decisivos. Sem mestres, mesmo ao apropriar-se com toda a liberdade imaginável do pensamento de Karl Marx, para compreensão da exploração; de Max Weber, para a dominação; dos teóricos anarquistas, para a antipolítica, o contrapoder e a autogestão social e pedagógica; de Herbert Marcuse, para os nexos entre tecnologia e política em nova chave, a da civilização libidinal; de Hannah Arendt, para os aspectos da condição humana; de Michel Foucault, para a loucura, a biopolítica e os confinamentos sociais, entre outros, mas tão somente como ferramentas teóricas disponíveis à construção do próprio pensar, de modo a suportarem a produção crítica de sobeja acuidade intelectual da ordem político-social, do movimento real. A vocação crítica e a altura intelectual de Tragtenberg foram, precocemente, reconhecidas pelos colegas e professores, em razão da frequência à Biblioteca Municipal e à sede do Partido Socialista Brasileiro (PSB) da cidade de São Paulo (SP).   

Há um projeto de filme da vida e da obra de Mauricio Tragtenberg em andamento, que algum momento se materializará, dadas as forças conjugadas e empenhadas para tanto. Assim, trazer à cena Madadayo cede lugar à lembrança de um artigo publicado originalmente em A Folha Socialista, de 5 de outubro de 1953, à página 4, intitulado “O encouraçado Potemkin: a ‘autocrítica’” (Tragtenberg, 2011b, pp. 25-29). No artigo, primeiramente, Mauricio reanima a carta do diretor Sergei Eisenstein direcionada aos diretores da revista Vida e Cultura, que principia com os dizeres: “É difícil imaginar-se uma sentinela que se perde na contemplação das estrelas a ponto de esquecer o seu dever. É difícil imaginar-se um condutor de tanque a ler com avidez um romance de aventuras no momento de entrar em combate...” (Tragtenberg, 2011b, p. 25). Em seguida, analisa a “autocrítica de Eisenstein, obrigado pelo Partido, ‘reconsiderando à luz da verdade histórica’ o papel de Ivan, o Terrível4, (que) insere-se dentro do mecanismo político do poder estatal totalitário russo. O que quer dizer isso?” (Tragtenberg, 2011b, p. 28).   

 

Ao que adita:  

Explicamos. Sabemos que em toda forma estatal onde há (ou havia) um líder, chefe ou profeta, este, para dominar, necessita de seu poder. Pois bem, a legitimidade do poder de Stálin estava baseada em nome da herança de Lênin (lembrem-se do discurso pronunciado por Stálin, quando da morte de Lênin, que inicia e prossegue em tom de homilia de seminarista...) (...). Aí vemos a legitimidade do poder de Stálin e da burocracia totalitária sem bases bolchevistas e revolucionárias. Mas, na medida em que o capitalismo de Estado russo e seu Estado totalitário assentam-se na legitimidade pessoal do “chefe”, vão procurar bases tradicionais e conservadoras para fundamentar seu poder perante o povo, e isso dá-se na Segunda Guerra (Mundial), quando na Rússia se opera uma revivescência nacionalista e pan-eslavista com a consideração de Alexandre Nevsky, Suvorov, Kutuzov, generais reacionários apresentados como heróis nacionais progressitas. É nessa linha que se dá a reconsideração de Ivan, o Terrível, totalitário e reacionário, como um czar “nacional progressista”. (...) É mais um dos dramas humanos que se inserem na longa lista das vítimas da “arte dirigida”. O suicídio artístico de Eisenstein é um símbolo, o símbolo da arte esmagada pelo totalitarismo, a pretexto de “direção”. E o gênio Eisenstein, amargurado, retirou-se pouco depois do cinema. Não há campo para protagonistas na arte russa, só há para o coro, para os dóceis ao dirigismo artístico. É assim que o espírito revolucionário criador que transparece no Encouraçado Potemkin aparece como imagem viva de uma realidade morta, a Rússia atual, a negação do espírito criador e revolucionário (Tragtenberg, 2011b, pp. 2829).  

 

Mauricio encerra a explicação referindo-se ao comentário do historiador Victor Serge, para quem “os ideais da Revolução morreram e a foice e o martelo tornaram-se a bandeira do despotismo e do assassinato” (Tragtenberg, 2011b, p. 29)5. Nota-se pela leitura, mesmo fragmentada, o perfil do futuro educador brilhante ao assinar o ensaio em questão.   

Se não fez carreira profissional atuando no gênero crítica cinematográfica, contudo, em 1979, Mauricio escreveu uma análise do filme Eles não usam black-tie, direção de Leon Hirszman, de 1981, homônimo da peça teatral de Gianfrancesco Guarnieri, dramaturgo e ator, levada aos palcos em 1958. O artigo “Guarnieri para quem usa black-tie” foi publicado originalmente em um número do boletim Oboré, editado pelo jornalista Sérgio Gomes (Tragtenberg, 2011b, pp. 35-36)6.  

Autodidata por necessidade e instinto intelectual, desde um episódio prosaico na escola primária, quando fora reprovado em canto orfeônico por desafinar, no segundo ano do curso primário, situação que findou transformada em mote para a vida intelectual: aprender por si, pesquisando. Progrediu bastante, orientado para o processo, em princípio pelos professores Antonio Candido e Azis Simão, em conversas na Biblioteca Municipal e na sede do PSB, ao final da década de 1940 e início da de 1950. Por ser o autodidata mais livre para pesquisar, apropriar-se do conhecimento e pensar por si, porém com método, no mesmo passo, o mote inicial forneceu a Mauricio munição teórica para desafinar o coro dos contentes – políticos, ideólogos, intelectuais, religiosos ortodoxos, em síntese, os falsos profetas da miséria nacional.  

De sua biografia, registrou: “Nasci na cidade de Erexim, no Rio Grande do Sul, na zona da colonização de camponeses de origem judaica, que se dirigiram para lá, vindos das perseguições da Rússia czarista e dos progoms da década de 1910” (Tragtenberg, 1999, p. 11)7. Nascido aos 4 de novembro de 1929, tempo da crise econômico-social provocada pelo crash da Bolsa de Valores de Nova York, que não consta do referido “Memorial”, entanto registra os fatos de ter ficado órfão de pai com um ano de idade, o novo casamento da mãe e a mudança da família para Porto Alegre (RS) e, posteriormente, para São Paulo (SP), onde fixou residência10.  

Mauricio nomeava de as “minhas universidades”, arremedando o título do romance homônimo de Máximo Gorki, o Centro de Cultura Social, as aulas de filosofia proferidas por Mário Ferreira dos Santos, a frequência à casa da família Abramo e à Biblioteca Municipal de São Paulo – lugares de efervescência intelectual crítica sem o balizamento formal acadêmico, porém rigoroso –, além de frequentar os sapateiros anarquistas do Brás e da conversa com um politizado condutor do bonde, a meados dos anos de 1940.   

Declarava-se ateu, sem alarde, farisaísmo ou falso moralismo, mantida a condição religiosa de judeu até o fim da vida. “Ateu, graças a Deus!”, como dizia sob fina ironia, vez que o humor era uma das marcas de seu caráter, mas mostrava restrições ao pensamento político de Mikhail Bakunin, dado o viés autoritário contido na sua obra8. Ocorre que o ativista russo talvez tenha sido aquele que de modo mais expressivo ao universo anarquista tenha descartado a hipótese Deus (Tragtenberg, 2011b, pp. 125-143), no barco iluminista de Denis Diderot e de Pierre-Simon Laplace, em parte fruto de sua vivência na Rússia czarista e na Santa Moscou, sob vapores bizantinos e inspirado pela filosofia hegeliana.   

Tragtenberg não comungava integralmente com Bakunin, mesmo reconhecendo sua importância no processo de solidificação do ideário e da prática federalistas9, sobremaneira, aos meios operários de Espanha, a meados do século XIX, ao tempo que esteve em cena a operação da sua reentrada no concerto das nações europeias, com praticamente 300 anos de atraso, de caráter religioso confidencial, sob um processo de secularização lenta, embalada pelos krausistas espanhóis, basicamente professores universitários, para a criação política da República. Mesmo assim, Tragtenberg sempre tomou partido teórico-prático do viés bakuninista ao explicitar o racha ocorrido no seio da Primeira Internacional. Para o campo teórico do anarquismo, Mauricio Tragtenberg parecia alinhar-se mais pontualmente com o horizonte político criado por Pierre-Joseph Proudhon, por “ser o mais generoso dos teóricos do anarquismo” e pela defesa da proposta autogestionária.  

 

Crítica à educação e ao sistema educacional  

Mauricio Tragtenberg ingressou na Faculdade de Educação da Unicamp, em 1976, como professor não concursado, por indicação direta do reitor Zeferino Vaz, após ter sido aprovado três vezes em concursos públicos prestados na Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (Unesp). Porém, sem contratação efetivada, logo, reprovado por motivos injustificáveis, academicamente.   

Na faculdade produziu a crítica da instituição “organização escolar”, com todas as possíveis implicações sociopolíticas. Os cursos ministrados na pós-graduação da faculdade, após o primeiro curso tratar de metodologia histórica, em que ensinou a ler O capital, de Karl Marx, seguido de estudos sobre Max Weber, passaram a criticar o papel do controle burocrático escolar na inculcação ideológica, na reprodução da ordem econômica e na divisão social do trabalho, momento em que Pierre Bourdieu e Jean Claude Passeron foram introduzidos ao debate educacional nacional por A reprodução, ainda sem a devida leitura nem as inferências de todos os conflitos embutidos. Mauricio cumpriu esse papel e trouxe também Michel Lobrot, Bernard Charlot, Mario Manacorda e os teóricos da educação anarquista, Tolstói, Paul Robin, Francisco Ferrer, preocupados com o processo educacional em liberdade e a autonomia dos envolvidos para o cumprimento da premissa da emancipação humana, extrapolado o pedágio da invenção iluminista.   

Mauricio Tragtenberg fundou, com Casemiro dos Reis Filhos e Joel Martins, a revista Educação & Sociedade, na Faculdade de Educação da Unicamp, em 1978. O primeiro número trouxe o artigo de fundo “Francisco Ferrer e a pedagogia libertária”, lastrado na história moderna da Espanha pela análise dos nexos entre reconquista e Igreja, a relevância da geração de 98, a vida e a obra de Ferrer, a pautar os princípios da coeducação de ambos os sexos, da coeducação das classes sociais, da higiene escolar, a importância dos jogos (pedagógicos) sob a guarda da cooperação não competitiva, a formação racionalista dos professores (escola de professores), sem prêmios nem castigos, abolidos os exames etc. Destaque para as notas de rodapé weberianas, extensas e densas, com indicações bibliográficas relevantes para a sustentação dos argumentos movidos no corpo do texto. Oportunidade de lançar à cena acadêmica as leituras de adolescente de textos anarquistas e da convivência com os sapateiros anarquistas do bairro do Brás, em São Paulo, por volta de 1945, completado com o fato de o Arquivo Edgard Leuenroth ter sido adquirido pela Unicamp, contendo todos os jornais anarquistas do começo do século XX.   

Simultaneamente, Mauricio pesquisava e escrevia a livre-docência, intitulada Administração, poder, ideologia, que defenderia entre os dias 12 e 13 de março de 1979.  Para a aula correspondente, ministrada pela manhã, teve o ponto sorteado “Educação e Fascismo”, e a defesa da livre-docência à tarde10. A livre-docência teve como nexo inicial o artigo seminal “A teoria geral da administração é uma ideologia?”, publicado na Revista de Administração de Empresas RAE, da Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP), em 1971. Ao tempo em que se discutia se administração era ciência ou técnica, para Mauricio, ideologia. 

Em determinado momento, entre os anos 1970 e 1980, Mauricio figurou como a consciência possível do Brasil, pois soubera como ninguém compreender todas as contradições em curso e sintetizá-las de modo a conceituar o “espírito do tempo” manifesto, desde a herança política colonial, o fisiologismo político, os labirintos burocráticos estatal e acadêmico, a perda dos direitos trabalhistas, o lento processo de degradação das relações entre capital e trabalho, a falta de virtù do Partido dos Trabalhadores (PT), em ação, – talvez tenha sido o primeiro a denunciá-la –, às margens de certo fascismo interno de ordens e contraordens, a par de pouca reflexão crítica, na linha dos nexos necessários entre teoria e práxis para o avanço da causa social. Eram os seus dilemas11, sobremaneira, por desmontar criticamente o papel da educação no contexto nacional – de mantenedora da desigualdade social em ritmo acelerado –, que se perspectivado se chega à situação, aparentemente, irreversível da atualidade. Críticas confirmadas nos escritos recolhidos em Educação e burocracia (Tragtenberg, 2012). Mauricio estava sempre atento ao lugar dos desfavorecidos pela injusta ordem socioeconômica, contudo, alinhado pela proposta de uma organização popular como saída lúcida12.  

Entrado os anos 1980, Mauricio leu Foucault e Hannah Arendt e, salvo melhor juízo, foi o primeiro professor a introduzi-los na universidade, ao menos na Unicamp e na FGV. Ministrou cursos, em que lia e comentava a História da loucura e A condição humana, porém nunca se transformou em foucaultiano, arendtiano nem se filiou a qualquer outra novidade filosófica, sem esquecer a monumental empreitada intelectual de dissecar o livro póstumo de Max Weber, Economia e sociedade, o que fez em ao menos quatro semestres na Faculdade de Educação da Unicamp. Ao final da vida, estudava os maquiavelistas Han Fei-Tzu e Kautilia, chinês e hindu.   

Há que se destacar sua militância no Centro de Cultura Social, fundado em 1933, na Oposição Sindical Metalúrgica de São Paulo e nas Comissões de Fábrica da Ford de São Bernardo do Campo (SP)16, assim como esteve próximo das Comunidade Eclesiais de Base (CEBs) do Butantã, e ainda da Associação dos Docentes da Unicamp (Adunicamp), onde não foi bem compreendido ao propor que o professor universitário fosse caraterizado como “trabalhador intelectual”. Os colegas da Unicamp acharam um rebaixamento do status quo.   

A militância esteve combinada com a coluna “No Batente”13, do jornal Notícias Populares, o mais popular dos jornais paulistanos. Na coluna, Mauricio escrevia sobre a luta dos trabalhadores, fazia denúncia, respondia a cartas de trabalhadores, levantava e mantinha bandeiras do antirracismo, feminismo, sobremaneira da autogestão social. Antes, havia trabalhado por três anos como diretor de política internacional da Folha de S. Paulo, a convite de Cláudio Abramo, a partir de 1964.   

Mauricio atuou também como tradutor e organizador de textos de magnitude política, voltados para a noção de autonomia, com destaque para a tradução de Ben Gurion, o profeta armado, de M. Michel Bar-Zohar, editado pela editora Senzala, em 1968, com sua “Apresentação do tradutor brasileiro”. Organizou edições de textos de pensadores heterodoxos do marxismo, como Herman Gorter, Jan Waclav Makhaïski e Amadeo Bordiga18, e do anarquismo, Bakunin, Piotr Kropotkin, Errico Malatesta, Nestor Makhno, além de prefaciar o livro Organismo econômico da revolução: a autogestão na Revolução Espanhola, de Diego Abad de Santillán, fundamental para a compreensão da Guerra Civil espanhola do ponto de vista da luta anarquista. Ainda, foi tradutor de textos de Weber e de Jürgen Habermas para a coleção “Os Pensadores”.  

Mauricio deixou uma obra intelectual de peso, extensa, quase totalmente publicada pela Editora Unesp, organizada pelo professor Evaldo Amaro Vieira, exímio conhecedor de seu pensamento, além de cursos exemplares, atualizados e dinâmicos, oferecidos aos alunos da graduação e da pós-graduação da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), da Unicamp e da Escola de Administração de Empresas da FGV-SP. É referência a, praticamente, toda pesquisa que intente levar adiante o legado de João Cruz Costa, o primeiro doutor em filosofia do Brasil, um dos que convenceram Mauricio a entrar na Universidade de São Paulo (USP). Cruz Costa defendia que todo estudo acerca da filosofia, em solo pátrio, deveria reverter-se para a compreensão do Brasil. Mauricio praticou esse enunciado no detalhe, mesmo não tendo formação em filosofia. A propósito, há uma pesquisa concluída acerca das fontes filosóficas do pensamento tragtenberguiano.  

  

Com efeito, em “Memorial”, Tragtenberg (1991, p. 84) informa:  

Antonio Candido, no saguão da Biblioteca Municipal, mencionara uma lei federal que permitiria eu apresentar uma monografia à (Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH da USP, para prestar vestibular e cursar a universidade. Em 150 dias de trabalho, estruturei a monografia Panificação: o desafio do século XX15, que, mediante parecer do Prof. João Cruz Costa, permitiu-me prestar vestibular e ingressar na USP.   

Inicialmente aprovado para o curso de Ciências Socias, que frequentou por um ano, prestou novo vestibular para ingresso em História da Civilização, porque “pensava ser esta mais condizente com os princípios do materialismo histórico” (Tragtenberg, 1991, p. 84).  

Algumas teses doutorais explicitam o pensamento de Tragtenberg, como A obratrajeto de Mauricio Tragtenberg sob o prisma das afinidades eletivas, de Doris Accioly e Silva, defendida na Unesp de Araraquara, na área de sociologia, em 200416. Outra é a de Antônio Ozaí da Silva, Mauricio Tragtenberg e a pedagogia libertária, defendida na Faculdade de Educação da USP, em 200417. Em 2010, Elcemir Paço Cunha defendeu a tese intitulada Gênese, razoabilidade e formas mistificadas da relação social de produção em Marx: a organização burocrática como abstração arbitrária, em administração, na Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade Federal de Minas Gerais23. Há ainda a tese A trajetória intelectual e política de Mauricio Tragtenberg, de Erisvaldo Pereira de Souza, doutorado em Sociologia, defendida na Universidade Federal de Goiás, em 2017, e a dissertação de mestrado de Ilzo Rafael Fonseca, Relações sociais de produção e educação: uma análise da obra de Mauricio Tragtenberg, defendida em 2018, no Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Santa Catarina, a par de um número considerável de artigos acerca da concepção tragtenberguiana de educação, publicados em revistas científicas qualificadas, com alto grau de compreensão de seu pensamento crítico24 Outros pesquisadores deram prosseguimento à crítica tragtenberguiana em artigos de análise da burocracia, da administração, da educação e da filosofia política.  

Todavia, um estudo sintético e elucidativo do pensamento crítico da educação se encontra no texto “Tragtenberg e a educação”, de Agueda Bernardete Bittencourt Uhle. Por ter sido orientanda e colega do Pensador na Faculdade de Educação da Unicamp, no texto a autora conseguiu desvelar ainda mais o que se encontra explicitado nos escritos de Mauricio, mas não só, a começar por sistematizar o período de produção crítica acerca da educação, entre os anos 1978 e 1981, a par de apontar para a desconfiança do Autor em relação à própria escola como agente de transformação social, se não for organizada com base em demandas sociopolíticas, em vista das contradições de classes sociais do país, que se eternizam. Caso contrário, a escola presta-se a reproduzir tão somente a ordem social fixada e, ao mesmo passo, a disciplinar os estudantes para a docilidade futura na atuação profissional. Ainda segundo Uhle, Tragtenberg considera que, no plano social, a classe dominante representada pelo Estado define os objetivos da escola – “formar indivíduos cada vez mais adaptados ao seu local de trabalho, porém capacitados a modificar seu comportamento em função das mutações sociais” – e a forma como esses objetivos serão alcançados – em organizações burocráticas (Silva; Marrach, 2001, p. 160).  

Por isso, registrou: “A luta é a grande escola do trabalhador, é através dela que forma sua consciência social, educa-se para a autonomia de organização e direção de seus projetos” (Tragtenberg, 2011a, p. 297). A que aditava: “A vida desmente a aula; a vida também educa. Não confundamos educação com escolaridade” (Tragtenberg, 2009, p. 178).   

Hule explica que a crítica à escola desenvolvida no conjunto de sua obra sobre educação é uma crítica radical. Vai às raízes do problema. Não propõe reformas ou ajustes de rota. Não aponta culpados nem desconsidera responsabilidades. O que põe em xeque é a própria instituição em seu conjunto, não como um organismo abstrato, mas como expressão de interesses (Silva; Marrach, 2001, p. 160). Conclui que a posição tragtenberguiana consiste em “alertar para o lugar social da escola, mostrar seu peso político e as implicações da escolarização da população para a construção de uma dada organização social” (Silva; Marrach, 2001, p. 160). No mesmo passo, “tinha um compromisso permanente com a produção do conhecimento e, para isso, apostava na liberdade do pesquisador para buscar problemas socialmente relevantes para seus estudos” (Silva; Marrach, 2001, p. 164), fundados na necessidade de autonomia do pesquisador.   

Contudo, para complementação do percebimento da crítica tragtenberguiana à educação, os artigos “O papel social do professor”, “Quando o operário faz a educação” e “As condições de produção da educação” (Tragtenberg, 2012) fornecem a dimensão basilar para tal. Como a pesquisa acadêmica, grosso modo, ocorre com professores alocados nos programas de pós-graduação das universidades, Tragtenberg exerceu a crítica contundente do sistema de pós-graduação nacional. Os textos mais circunstanciados em vista dos fins da pesquisa acadêmica são “A delinquência acadêmica” e “O saber e o poder”. O primeiro, funcionou como uma bomba de efeito nada retardado, porque na semana seguinte do lançamento de A delinquência acadêmica: o poder sem saber e o saber sem poder (Tragtenberg, 1979) estudantes da USP picharam os muros do campus Butantã com frases retiradas do livro. Tragtenberg colocava sob suspeita toda pesquisa científica acadêmica para fins de manipulação política e de guerra. Para a apresentação do livro, intitulada “Verás que...”, registrou:   

A Delinquência Acadêmica aborda não só a universidade como instituição dominante, mas também os mecanismos pelos quais ela se liga à dominação. Procura mostrar que sua crise reflete a crise da sociedade global, produzindo contraditoriamente dois tipos de intelectual. O intelectual orgânico da burguesia, organizador da hegemonia burguesa, a qual por mediação da universidade inculcará as formas de sentir, pensar e agir da classe dominante como sendo “naturais” e “normais”; e o intelectual crítico que, em épocas de ascensão do movimento de massas, pode legitimamente representá-las (Tragtenberg, 1979, p. 9)18.   

O legado de Tragtenberg é imenso ao campo das ciências humanas. Contribuiu para a crítica da administração empresarial, compreendida como ideologia, sendo pioneiro em registrar a introdução do tema toyotismo na gestão das empresas no Brasil, e para a crítica da escola como lócus de conflito social e de possibilidades de explicitação, para além da submissão à ideologia dominante. Ainda, introduziu a filosofia política do socialismo libertário, marcada pela ideia de autogestão em todos os níveis da sociedade, além de ter formado dezenas de professores e pesquisadores universitários, exorientandos ou não, que assimilaram o núcleo do pensamento crítico tragtenberguiano.   

Em justo reconhecimento ao esforço intelectual de compreensão do Brasil, Tragtenberg figura, de modo nada acidental, entre os intérpretes do Brasil, na obra coletiva Intérpretes do Brasil: clássicos, rebeldes e renegados (Barsotti, 2014, pp. 357376).  

Em reconhecimento ao professor excelente e ao jornalista combativo, em 29 de outubro de 2010, o curso de jornalismo da PUC-SP teve aprovada a criação da Agência de Jornalismo Online Mauricio Tragtenberg (AGEMT), cujos princípios se encontram em nota de rodapé19.  

Se o filme documentário biográfico do Filósofo da luta social segue embrionário, em 2017 o líder sindical dos Correios Pedro Porcino, os familiares do Pensador, amigos e ex-alunos fundaram o bloco carnavalesco Filhos de Mauricio Tragtenberg, durante o evento acadêmico “Mauricio Tragtenberg, a Pessoa, a Obra e a Revolução Russa”, realizado na PUC-SP, em setembro daquele ano. O bloco desfilou no carnaval de 2018 e de 2019. Em 2020, os integrantes avaliaram a pandemia da Covid-19 à espreita nas esquinas paulistanas, findando por adiar o desfile para um futuro carnaval. Para o primeiro desfile, o músico Val Medeiros compôs Samba em homenagem a Mauricio Tragtenberg, samba-enredo interpretado por Helber Medeiros, em gravação de circulação restrita, por enquanto. Encerra-se o capítulo com a letra da música, uma excelente síntese da vida do professor Mauricio Tragtenberg e de seu reconhecimento popular:  

Uma voz ecoou... / bateu saudade. / Menino pobre que nasceu em Erechim (bis) / Povoado pequeno, / começava assim. / Essa história que jamais terá um fim. / Nessa trajetória esse menino alcançou: / sucesso e prestígio, / muita luta ele travou. / Foi professor, / se tornou jornalista. / Uma figura importante no Brasil. / E foi assim que ele surgiu. / “No Batente” escreveu suas ideias / de liberdade. / Com seu espírito de luz, / Só queria igualdade. / Homem de cultura exemplar, / na escola da vida (bis). / Foi perseguido injustamente, / pela ditadura militar. / Mas o tempo passou, / então retornou. / Deu a volta por cima. / Formando uma grande legião de mestres, / da cultura popular. / Hoje o céu está em festa, / pra cantar. / Sua história, vai se eternizar. / Os anjos as trombetas vão tocar. / Mauricio Tragtenberg / sua voz vai ecoar (Medeiros, 2019].  

- Que se leia a obra de Mauricio Tragtenberg! “O judeu sem templo. O militante sem partido. O intelectual sem cátedra!”20.  

 

Referências 

BARSOTTI, P. D. Maurício Tragtenberg. In: Pericás, L. B.; Secco, L. (org.). Intérpretes do Brasil: clássicos, rebeldes e renegados. São Paulo: Boitempo, 2014. p. 357-376. 

CUNHA, E. P. Gênese, razoabilidade e formas mistificadas da relação social de produção em Marx: a organização burocrática como abstração arbitrária. Tese (Doutorado em Administração) – Faculdade de Ciências Econômicas, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2010. 

FONSECA, I. R., Relações sociais de produção e educação: uma análise da obra de Mauricio Tragtenberg, Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2018.   

MÁRSICO, G. O., Cágada (ou a história de uma cidade a passo de), Porto Alegre, Movimento, 1974.   

SHIMAMOTO, S. V. M., “A concepção de trabalho escolar e a (des)politização dos sujeitos sociais a partir de Mauricio Tragtenberg”,  Educação e Políticas em Debate, v.  

6, n. 2, pp. 255-274, maio/ago. 2017. Disponível em:  

http://www.seer.ufu.br/index.php/revistaeducaopoliticas/article/view/46776/25480  Acessado aos 14 de outubro de 2022.   

SILVA, A. O. da, Mauricio Tragtenberg e a pedagogia libertária, Tese (Doutorado em Educação) – Faculdade de Educação, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2004. Disponível em: https://repositorio.usp.br/item/001385234  Acessado aos 14 de outubro de 2022.   

SILVA, A. O. da, Mauricio Tragtenberg: militância e pedagogia libertária, Ijuí, Editora Unijuí, 2008.   

SILVA, D. A., A obra-trajeto de Mauricio Tragtenberg sob o prisma das afinidades eletivas, Tese (Doutorado em Sociologia) – Universidade Estadual Paulista “Júlio de  

Mesquita Filho”, Araraquara, 2004.  

SILVA, D. A.; MARRACH, S. A. (orgs.), Mauricio Tragtenberg: uma vida para as ciências humanas, São Paulo, Editora Unesp / Fapesp, 2001.   

SOUZA, E. P., A trajetória intelectual e política de Mauricio Tragtenberg. Tese (Doutorado em Sociologia) – Universidade Federal de Goiás, Goiânia, 2017.   

TRAGTENBERG, M., “A escola como organização complexa”, In GARCIA, W. E. (org.), Educação brasileira contemporânea: organização e funcionamento, São Paulo, McGraw-Hill do Brasil, 1976, pp. 15-30.   

___________, “Francisco Ferrer e a pedagogia libertária”, Educação & sociedade, n. 1, v. 1, São Paulo, Cortez & Moraes, 1978, pp. 17-49.   

Tragtenberg, M. A delinquência acadêmica: o poder sem saber e o saber sem poder. São Paulo: Rumo, 1979.   

___________ (org.), Marxismo heterodoxo, São Paulo, Brasiliense, 1981.   

___________, M. Sobre educação, política e sindicalismo. São Paulo: Cortez / Autores Associados, 1982. v. 1. (coleção Teoria e Prática Sociais).   

___________, “Memorial”, Pro-Posições, Campinas, v. 2, n. 1, 1991. Disponível em:  

https://www.fe.unicamp.br/pf-fe/publicacao/1704/4-divulgacao-tragtenberg.pdf  Acessado aos 14 de outubro de 2022.   

___________, Memórias de um autodidata no Brasil, São Paulo, Editora Unesp / Escuta / Fapesp, 1999.   

___________, Sobre educação, política e sindicalismo, São Paulo, Editora Unesp, 2004.  

(Coleção Mauricio Tragtenberg).   

___________, Administração, poder e ideologia São Paulo, Editora Unesp, 2005. (Coleção Mauricio Tragtenberg).   

___________, A revolução russa, São Paulo, Editora Unesp, 2007. (Coleção Mauricio Tragtenberg).   

___________, A falência da política, São Paulo, Editora Unesp, 2009. (Coleção Mauricio Tragtenberg).   

___________, O capitalismo no século XX, 2ª edição, São Paulo, Editora Unesp, 2010. (Coleção Mauricio Tragtenberg).  

___________, Autonomia operária, São Paulo, Editora Unesp, 2011a. (Coleção Mauricio Tragtenberg).   

___________, Teoria e ação libertárias, São Paulo, Editora Unesp, 2011b. (Coleção Mauricio Tragtenberg).   

___________, Educação e burocracia, São Paulo, Editora Unesp, 2012. (Coleção Mauricio Tragtenberg).  

VALVERDE, A. J. R. (org.), Mauricio Tragtenberg: 10 anos de encantamento, São Paulo, Educ / Fapesp, 2011.   

VALVERDE, A. J. R.; MACHADO, R., Mauricio Tragtenberg: autogestão social e pedagógica, São Paulo, Educ, 2016. (Coleção Sapientia – Grandes Mestres da PUC-SP).   

Filmografia   

Madadayo. Direção: Akira Kurosawa. 1993.  

Samba-enredo  

MEDEIROS, V., Samba em homenagem a Mauricio Tragtenberg, 2019. Disponível em: https://m.facebook.com/FilhosDeMauricioTragtenberg/videos/2185954824758258/?refs rc=deprecated&_rdr  Acessado aos 27 de agosto de 2021. 

A execução precisa dos códigos de cada etiqueta trouxe um frescor revigorante para as grifes renomadas
por
Giovanna Montanhan
|
30/10/2024 - 12h

A São Paulo Fashion Week (SPFW) ocorreu entre os dias 14 e 21 de outubro, com quase o dobro  do número de desfiles, em comparação à edição anterior, passando de 27 para 42. O evento trouxe de volta às passarelas marcas como a homônima Alexandre Herchcovitch, À La Garçonne e Salinas, além de  grifes vanguardistas, presentes em todas as edições, como Lino Villaventura.

Lino Villaventura

Quem acredita que a alta-costura no Brasil se encerrou com o estilista paraense Dener Pamplona - pioneiro na moda brasileira,  introduzindo esse conceito no país - certamente nunca assistiu a um desfile de Lino Villaventura. 

Conhecido por suas peças com nervuras elaboradas, Lino trouxe nesta edição vestidos e blusas assimétricas, bordados minuciosos, saias em formato de pétalas, além de modelos com volumes, drapeados e tecidos que simulavam plástico, em cores vibrantes como azul piscina e verde claro. Desta vez, além dos neutros — o branco que abriu o desfile, seguido pelo bege e preto —, a paleta se expandiu para tons multicoloridos, como roxo e vermelho, alternando entre peças fluidas e modelos mais estruturados. A modelo Silvia Pfeifer encerrou  o espetáculo visual concebido pela mente fértil  de Lino, desfilando um modelo transparente azul-marinho com brilhos, acompanhado de um robe preto de cetim e luvas arroxeadas que deixavam os dedos à mostra.

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Reprodução: @agfotosite

 

 

 

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O estilista Lino Villaventura na passarela após o final do desfile - Reprodução: @agfotosite

À La Garçonne

À La Garçonne comemorou 15 anos de marca e 20 anos de carreira de seu diretor criativo Fábio Souza  Após sua separação profissional de Alexandre Herchcovitch, Souza decidiu redefinir os códigos da marca, que anteriormente destacava o conceito de upcycling e trazia cordas trançadas como logotipo. Agora, com controle total sobre as direções, códigos costumeiros da etiqueta  aparecem de forma pontual em algumas peças, enquanto o principal destaque neste primeiro desfile foi a cartela de cores em preto e branco, combinada com variações de design, ternos de alfaiataria e lurex, que abrilhantaram a passarela ao lado de estampas quadriculadas. Vale destacar as saias de tule com poás, uma tendência atemporal, a presença do personagem Snoopy, que apareceu em moletons e casacos, e os laços.

 

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O estilista Fábio Souza na passarela após seu desfile - Reprodução: @agfotosite

 

 

Salinas

Salinas, uma marca tradicional de beachwear, retornou ao maior evento de moda da América Latina após seis anos longe das passarelas, apresentando a coleção "Sol, Sal e Sonhos". Com uma paleta predominantemente neutra e atemporal, a coleção trouxe peças que se adequam tanto ao momento praia quanto ao pós-praia. Entre os destaques estão minissaias, chapéus compridos de palha desfiada, bolsas de crochê, camisas de linho e biquínis assimétricos. Uma seção da coleção, com peças em tons de cinza claro, com calças soltinhas, maiôs e casaquinhos leves com brilhinhos prateados sutis. Os acessórios incluíam braceletes dourados e belly chains (cordões para adornar a barriga) com o nome da marca, além de chinelos de dedo com plataforma e tamancos prateados.

 

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Reprodução: @agfotosite

 

 

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Alexandre Herchcovitch

E por fim, Alexandre Herchcovitch com sua etiqueta homônima e conhecida por trazer designs inovadores, dessa vez em parceria com a marca alimentícia de queijos Catupiry, apresentou  bolsas e moletons com seu logo, uma produção com a estilista Fábia Bercsek, que o ajudou a criar estampas feitas à mão.

Os recortes assimétricos moldaram-se abaixo dos seios, deixando a barriga à mostra e chegando ao ponto final: a virilha, trazendo à tona uma estética fetichista. Para aqueles que preferem não arriscar e se manter dentro de estilos mais convencionais, também há opções que beiram o óbvio e comercial, como moletons felpudos listrados, regatas, calças de alfaiataria e jeans. Mas, como era de se esperar de Alexandre Herchcovitch, foi possível observar um mergulho profundo nos códigos dos anos 70, trazendo consigo toda a purpurina que remete à Era Disco, além de tecidos como jacquard, lurex, paetê em padronagem xadrez e lamê.



 

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Reprodução: @agfotosite

 

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O estilista Alexandre Herchcovitch na passarela após o seu desfile - Reprodução: @agfotosite

 

O quarto dia de desfiles trouxe temáticas voltadas à literatura modernista, ao artesanato e à homenagem familiar.
por
Giovanna Montanhan
|
15/04/2024 - 12h

Weider Silveiro, estilista piauiense, que fundou sua marca homônima em 2002, apresentou nesta edição da SPFW, uma coleção que exaltava a beleza africana sem deixar de lado as técnicas artesanais,que contavam com a presença de bordados e crochês.  O estilista que participou durante quinze anos da ‘Casa de Criadores’, e é um dos idealizadores da Célula Preta - um coletivo organizado por estilistas negros da Casa de Criadores, com o propósito de fornecer equidade de oportunidades a esse grupo em relação aos branco - embalou seu desfile ao som de batuques. 

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Foto: Divulgação Agência Fotosite

 

 As modelos desfilaram na passarela vestindo tons terrosos, com toques de  amarelo e verde-água. Apostando em cinturas bem marcadas, a coleção também carregava tecidos fluidos, sem deixar  o streetwear de lado (sua marca registrada!). Vestidos com franjas, conjuntos de alfaiataria com bolas penduradas, estampas da Vênus Grega em algumas peças, e até chegou a resgatar uma técnica chamada ‘panejamento’, que significa dar volume a partir de novas sobreposições e amarrações nas roupas.

 

Rafael Caetano 

 Homenageou o escritor modernista Mário de Andrade em uma coleção chamada ‘Intransitivo’, que a partir do instrumental da canção de Tom Jobim, ‘Carinhoso’, tocado para embalar o desfile, os modelos transitaram na passarela usando lurex, peças em cetim que continham estampa de pássaros, calças e camisas listradas. Essa é uma das primeiras vezes que o estilista paulista, especializado em moda masculina, se debruça sobre uma personalidade concreta para inspiração de suas criações. Sem deixar de lado sua marca registrada de pele à mostra, essa coleção de Caetano abaixou um pouco o tom de suas anteriores. As referências a obra de Mário de Andrade se dava através da transposição com símbolos marcantes da capital paulista. 

 

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Foto: Divulgação Agência Fotosite

 

 

Catarina Mina, marca cearense criada por Celina Hissa há catorze anos, tem como  foco desde o começo de sua história a produção handmade de crochês. E a coleção ‘ Guardiãs da Memória’, apresentada na noite desta sexta-feira não poderia ser diferente, reverenciando as artesãs do Ceará, que estavam presentes no evento e, ao final, receberam aplausos da plateia.

 

 

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Foto: Divulgação - Agência Fotosite

A protagonista do dia, foi a renda labirinto - uma técnica que se encontra quase que em extinção, e só é praticada pelas costureiras mais antigas, pois é algo considerado muito difícil de executar.  Além disso, usou palha de uma árvore chamada carnaúba e do croá - extraída de palmeiras. Usou e abusou do crochê, do bordado, da marchetaria, da alfaiataria feita de seda e de linho. 

 

Thear, marca inaugurada pelo goiano Theo Alexandre especializada em fibras naturais, como algodão e linho, impactou com a coleção denominada  Elementos". Nela foi exaltado a beleza natural do cerrado. A silhueta marcada em forma de corset ou simplesmente pela modelagem e os os diferentes tipos de corpos foram destaque, assim como as peças que visavam o conforto. As cores transitavam do neutro para simbolizar as paisagens da região do Centro-Oeste, e o vermelho que ilustrava as flamas do calor exacerbado que vêm dilacerando o segundo maior bioma do país. 

 

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Foto: Divulgação Ze Takahashi/ @agfotosite

 

Walério Araújo, etiqueta vanguardista que habita o cenário da moda nacional há 30 anos.

Consagrou-se pelos acessórios de cabeça, e era o queridinho da cantora Rita Lee. Trabalha com frequência criando adereços para a compositora Gaby Amarantos, Marisa Monte, Cléo, Pabllo Vittar, entre outras. E, já desenhou roupas para a apresentadora Sabrina Sato, a cantora Ivete Sangalo, a jornalista Glória Maria, etc. 

É famoso pelo seu estilo excêntrico e pela sua mente brilhantemente criativa. Suas últimas coleções tiveram como inspiração a personalidade famosa, Ehlke Maravilha, e a Astrologia, onde cada modelo representava um signo do zodíaco.

Nesta edição, transformou a passarela do shopping em um tributo às suas raízes nordestinas e a matriarca da família, sua mãe. O compasso do desfile foi marcado pela canção ‘As Andorinhas’ da banda sertaneja Trio Parada Dura, ritmo musical que sua mãe aprecia. 

Coincidência ou não, a data do desfile calhou de ser no mesmo dia em que completou 54 anos de vida. As modelos vestiam trajes de gala no melhor estilo que Walério sabe oferecer, com balões estampados nos vestidos pretos de gala, estampas de porcos que remetiam a um período de sua infância, peças verdes que faziam alusão a samambaias e espadas-de-são-jorge, ambas plantas que sua mãe vendia e ele ajudava. 

O cuscuz e o ovo frito, comidas que com forte apelo nostálgico para o estilista, foram retratadas de uma maneira ousada, usando tule e vinil. Uma parcela das peças continham retratos de família com porta-retratos acoplados nas roupas. Os cabelos de algumas modelos eram estilizados igual ao que sua mãe costuma usar, com muito laquê adornado com lenço que seguia a mesma estampa do vestido. 

 

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Foto: Divulgação - Ze Takahashi/ @agfotosite

 

 

 

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Foto: Divulgação Ze Takahashi/ @agfotosite

 

 

 

 

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Foto: Divulgação Ze Takahashi/ @agfotosite

 

 

 

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Foto: Divulgação Ze Takahashi/ @agfotosite

 

Para finalizar a noite, Walério apagou as velinhas em uma festa privada para amigos e clientes em um dos endereços mais badalados do centro histórico de São Paulo. 

 

Martins, criada por Tom Martins, com foco em peças oversized, trouxe uma  coleção dividida em dois momentos. A atriz Agatha Moreira abriu o desfile e fez seu retorno à passarela após dez anos fora. Em contrapartida, o ator Rodrigo Simas fazia sua estreia. 

O primeiro ato, se baseou no estilo marinheiro, com listras azul e branco, lenço amarrado na cabeça dos modelos como se fossem piratas, os colares eram conchas em formatos diversos, e os brincos continham pérolas. 

 

 

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Foto: Divulgação Ze Takahashi/ @agfotosite

 

 

No segundo, o punk rock dominou.  A maquiagem  das modelos era marcada  por  olhos pretos com aplicações de piercings fake. Os acessórios iam de meias arrastão com tênis all star preto e coturnos a cintos de oncinha e colares prateados de correntes. As roupas mesclavam camisetas de banda do estilo como Sex Pistols, Misfits, The Runaways com saias de tule com babados na ponta, cintos coloridos e grandes de ilhós e uma padronagem que visava totalmente o maximalismo. Uma das novidades da marca neste ano, foi que algumas estampas foram feitas por meio de uma IA (Inteligência Artificial). 

 

 

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Foto: Divulgação Ze Takahashi/ @agfotosite

 

 

 

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Foto: Divulgação Ze Takahashi/ @agfotosite

 

 

 

 

 

Confira os destaques da maior feira de arte da América Latina, incluindo a nova exposição de Gabriel Wickbold.
por
Helena Maluf
Gabriela Jacometto
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08/04/2024 - 12h

Durante a primeira semana de abril (3 a 7), o SP-Arte, uma das mais renomadas feiras de arte da América Latina, abriu suas portas para colecionadores, entusiastas e curiosos do mundo da arte.

Realizada anualmente na cidade de São Paulo, Brasil, a feira comemorou nesta edição 20 anos de trajetória no Pavilhão da Bienal e reuniu, mais de 190 expositores, como galeristas, colecionadores, entusiastas da arte e artistas consagrados e emergentes, proporcionando um panorama abrangente e diversificado do cenário artístico contemporâneo.

Com uma curadoria extensa e variada de obras que exploravam diferentes técnicas, estilos e temáticas, incluindo pinturas, esculturas, mobiliários, fotografias e instalações, a SP-Arte contribui significativamente para o fortalecimento do cenário artístico nacional e internacional.

A feira conta com exposições de doze países: Argentina, Brasil, Bolívia, Colômbia, Estados Unidos, Espanha, França, Inglaterra, Itália, México, Noruega e Uruguai.

O artista carioca Gabriel Wickbold — que participa da SP-Arte pela sétima vez este ano — revelou para a AGEMT o processo de criação de sua exposição: "Esse ano eu estou apresentando uma série inédita, chamada Maze, que é o labirinto. São fotografias antigas, distorcidas e impressas sob mangueiras de incêndio. Depois eu desmancho e tranço elas pra esconder certas partes e mostrar certas partes".

"Essa série fala sobre a nossa hereditariedade, o que a gente carrega de carga genética, e como a gente traz luz para esses espaços, para poder quebrar os ciclos de repetição da nossa vida", disse ele, sobre sua conexão com o tema.

Gabriel explicou que a série é inédita, e completou: "Está sendo muito legal, porque é bem diferente de tudo que eu já fiz. Um outro suporte, um outro tipo de imagem. E as pessoas estão, assim, impressionadas por eu ter me re-colocado de uma forma tão diferente"

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Obras do artista Gabriel Wickbold feitas com mangueiras de incêndio em exposição na SP-Arte. Foto: @gabrielwickbold via Instagram

Além das obras exibidas, o evento ofereceu uma programação diversa de palestras, debates e programas educacionais, promovendo o diálogo e a troca de ideias no campo da arte. Esse ambiente de troca de conhecimento enriquece ainda mais a experiência dos visitantes e contribui para a construção de um diálogo crítico e enriquecedor.

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Intervenção artística ao vivo.
Foto: Helena Maluf.                                                                                                                                                                                                                                              
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Obra de Rikrit Travanija, feita com jornais em exposição na SP-Arte.  Foto: Gabriela Jacometto                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                               
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Obra do artista Alê Jordão exposta na SP-Arte. Foto: Helena Maluf                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                               

Este ano, o foco recaiu sob a expressão artística como forma de reflexão e diálogo com questões sociais, políticas e ambientais, refletindo a diversidade e a complexidade do mundo atual.

Na vigésima edição da SP- Arte, fica evidente que a arte contemporânea continua a desafiar fronteiras e inspirar novas formas de expressão, consolidando São Paulo como um centro vital para o diálogo artístico global.

 

A vitória de Oppenheimer como Melhor Filme e a confirmação de que o cinema "mainstream" ainda é próspero
por
Maria Eduarda Camargo
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20/03/2024 - 12h

No primeiro domingo de março (10), ocorreu a 96ª edição do Oscar. A premiação é o reduto dos maiores filmes do ano de 2023, e encerra a disputa anual na corrida do cinema. Oppenheimer, filme de Nolan, emplacou como Melhor Filme, levando o diretor junto em Melhor direção. Mas nem tudo que brilha é ouro.

O filme Oppenheimer, de Christopher Nolan, levou sete estatuetas do Oscar
O filme Oppenheimer, de Christopher Nolan, levou sete estatuetas do Oscar. Foto: Getty Images

Tendo em vista que a premiação é muito mais do que apenas um “reconhecimento” da indústria para as melhores obras, é importante lembrar como a ela é, na verdade, um aviso para o mercado publicitário. E se a estatueta de Melhor Filme é um aviso coletivo, a de Melhor Direção é um aviso individual.

A verdade é que a vitória de Oppenheimer pouco fala sobre a obra em si. Ela é um aviso para a indústria: guerra, Estados Unidos e masculinidade dão certo. E Nolan, por mais que se destaque em obras anteriores, como Interestelar e A Origem, não deveria ser um exemplo de “prêmio DiCaprio”: ainda há tempo de ganhar com outros longas.

Ao analisar obras um pouco mais antigas, como Túmulo dos Vagalumes e Gen Pés Descalços, exibidos há 30 anos, e que tratam da perspectiva civil japonesa sobre a Segunda Guerra, é possível notar a tendência mercadológica da premiação com o filme. Oppenheimer é uma tentativa de retomada do brilho americano que Rambo entregou ao mainstream de presente, e que vende muito bem.

Um bom exemplo da situação é o fatídico Oscar de 2010, que concedeu a estatueta de Melhor Filme a Guerra ao Terror, deixando para trás dois filmes que valem uma análise mais detalhada: Avatar e Bastardos Inglórios.

O primeiro, sucesso de bilheteria, não emplacou por motivos óbvios: não adianta funcionar com o público, o prêmio vai ao filme que deveria ser um “modelo” para os próximos. É possível comparar a derrota de Avatar, na época, com a não-indicação de Barbie: a Academia não se importa muito com o que o público quer, mas com o que ele deveria querer.

A derrota do segundo, Bastardos Inglórios, dirigido por Quentin Tarantino, é de um estudo um pouco mais detalhado, no entanto. Vale lembrar que em 2008, os Estados Unidos passavam por uma crise econômica. O país do “orgulho capitalista” afundava. O público precisava de um filme “cereja do bolo”: algo que levantasse a moral estadunidense.

E é nesse tipo de momento que as dores do público americano devem ser acalentadas: o 11 de setembro ainda era ferida aberta no imaginário popular. Logo, nada melhor do que um filme sobre a invasão ao Iraque. Guerra ao Terror levantou a bandeira americana de “superação” que o público deveria querer. O resultado? 2011 foi o ano de lançamento do pupilo americano da Marvel: Capitão América. A guerra voltou ao mainstream.

É certo, no entanto, que a temática do americano “dono do mundo” vem sumindo aos poucos, e é aí que mora a cartada final da premiação: quer ganhar? Copie o que dá certo e venda.

Retomando uma última vez o tópico mercadológico do Oscar, é interessante a análise sobre O Menino e a Garça, de Miyazaki. É a segunda vez que o diretor ganha a premiação e se recusa receber o prêmio. A primeira ocorreu em 2003, ano da invasão ao Iraque. Miyazaki condenou a invasão, se recusou a ir ao evento, e deixou Cameron Diaz de braços vazios.

Vale analisar então por que a premiação escolheu este, ao invés de Homem Aranha: Através do Aranhaverso. O primeiro tópico é que a Academia normalmente decide não premiar filmes sem final: se Homem Aranha tivesse sido o último da trilogia das animações, o debate seria outro. Mas existe outro ponto nisso, que é o aviso da Academia com relação ao amor pela animação tradicional. O aviso, dessa vez, vai ao mainstream, que anda escondendo a Inteligência Artificial na porta dos fundos. Quantidade não é qualidade, e a produção fordista dos desenhos atuais não agrada.

Colocando uma lupa sob as outras categorias também, é um pouco contraditório ver o Oscar de Melhor Atriz indo à Emma Stone e o de Melhor Atriz Coadjuvante à Da’Vine. A verdade é que Yorgos, que emplacou Pobres Criaturas em outras categorias mais irrisórias, como maquiagem, logo sofrerá a sina de Scorsese, DiCaprio, e tantos outros: não ganhou quando deveria, e corre contra o tempo.

O espírito jovem de Pobres Criaturas e de Os Rejeitados não passa de uma brisa na tempestade que é o Oscar, isso é fato. Mas, muito além da vitória de Oppenheimer, a derrota de Pobres Criaturas tem a dizer também.

Pobres Criaturas não ter ganhado é, na verdade, um pouco óbvio: a obra não tem aquele formato quadrado que se espera de uma comédia, e decai nos olhos de Hollywood com a duração das cenas de sexo. É fato que entre as prováveis 20 ou 30 cenas sexuais que rolam no longa, a monotonia da sexualização que vemos em filmes como Blonde e o recente Ferrari não acontece: o que incomoda a crítica não é o sexo, mas a falta de sensualidade em Emma Stone.

A derrota de Lily Gladstone, portanto, é o aviso da vez na categoria de Melhor Atriz. A Academia não está preparada para “coroar” uma mulher indígena. Emma, apesar da brilhante atuação, foi o tapa-buraco perfeito. 

A conclusão a que se chega é que, independente do gosto do público, a escolha do Oscar é uma montagem muito bem pensada sobre como a indústria cinematográfica deve andar: o que vende, quem vende, como vender e de qual forma. Oppenheimer é, portanto, apenas mais um dos acasos da Academia. 

 

Em cartaz no Tucarena, Kiko Mascarenhas fala sobre temas sensíveis em peça aclamada de McMillan e Donahue, com tradução de Diego Teza
por
Giovanna Montanhan
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13/03/2024 - 12h

Na última sexta-feira (08), o intérprete carioca desembarcou em São Paulo, mais especificamente, no Tucarena, após uma temporada de sucesso no Rio de Janeiro, no Teatro Poeira, para apresentar o espetáculo “Todas as Coisas Maravilhosas”, sob direção de Fernando Philbert. 

A trama se concentra em um garoto de sete anos que, ao notar que sua mãe está lutando contra a depressão, cria uma lista e enumera tudo o que, aos seus olhos, é maravilhoso. Seu objetivo é ajudá-la a reencontrar a alegria de viver. Conforme ele cresce, acaba sendo confrontado com os impactos que o estado mental de sua mãe teve sobre ele, refletindo sobre como isso o afetou. 

A interação entre ator e espectador se mostra bastante evidente, e é justamente através dessa conexão que a performance evolui. Embora possa parecer um monólogo, a presença de Kiko somada à disposição da plateia em engajar-se na experiência, compõem e complementam as cenas, fazendo com que o ator improvise em diversos momentos. 

O espetáculo aborda temáticas desafiadoras e complexas, com muita delicadeza e de forma sutil, ao mesmo tempo que incorpora nuances de humor, às vezes em um sentido até autodepreciativo, e que enriquecem a narrativa ao longo de seus setenta minutos.

É necessário enaltecer o trabalho magistral de Kiko, que, apesar de sua estatura não muito alta, expande sua presença quando pisa no teatro de arena. Sua habilidade extraordinária em retratar todos os gestos e maneirismos de uma criança é impressionante, mesmo estando encapsulado num corpo de homem adulto. 

Por um lado, entrega uma performance que emociona, e por outro, arranca gargalhadas do público, e isso acontece quase que simultaneamente. 

“Todas as Coisas Maravilhosas” merece ser vista e revista. Dificilmente você entra na sessão e sai do mesmo jeito. A sensação é quase como estar em uma sessão de terapia - daquelas que te balançam e te arrebatam.  

Como a divulgação ‘’boca a boca’’ é sempre a mais eficaz, prestigiem este espetáculo e o divulguem. Mais pessoas merecem vivenciar essa experiência transformadora. 

Para se programar: de quinta a sábado, às 21h, aos domingos, às 18h. Os ingressos estão disponíveis para vendas online e presenciais, tanto no aplicativo do Sympla como na bilheteria do teatro. Alunos da PUC-SP, inclusive, têm direito a um preço exclusivo, basta se identificar com os dados solicitados.

 

A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas premiou os destaques do ano nas vinte e três categorias
por
Giovanna Montanhan
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12/03/2024 - 12h

A 96ª edição do Oscar aconteceu no domingo (10), em Los Angeles, no Dolby Theatre. O evento contou com a apresentação de Jimmy Kimmel, Jessica Lange, Sally Field, Danny DeVito, Arnold Schwarzenegger e Nicolas Cage. No Brasil, a transmissão aconteceu pelo canal de TV fechada, TNT, e pelo streaming MAX (antiga HBO), com tradução simultânea feita por Robert Greathouse e comentários de Ana Furtado, Aline Diniz e Andréia Horta.

Os filmes com mais indicações durante a noite foram: Oppenheimer, liderando com 13 nomeações, Pobres Criaturas e  Assassinos da Lua das Flores com 11 e Barbie com 8. 

A começar pela categoria de Melhor Filme, os indicados foram: Ficção Americana, Anatomia de Uma Queda, Barbie, Os Rejeitados, Assassinos da Lua das Flores, Maestro, Oppenheimer, Vidas Passadas, Pobres Criaturas e Zona de Interesse. 

O vencedor da categoria foi Oppenheimer, que já vinha carimbando como vencedora em quase todas as premiações anteriores, SAG (sigla para Screen Actors Guild), BAFTA (British Academy Film Awards), Critics Choice e Globo de Ouro. 

O ator Al Pacino chamou atenção nas redes sociais, pois enquanto apresentava os indicados da categoria de Melhor Filme, o ator foi direto ao ponto, dando a vitória para o longa de  Nolan, sem firulas. A quebra da tradição deixou os espectadores surpresos.

Os concorrentes à estatueta de Melhor Ator eram: Bradley Cooper por ‘’Maestro’’, Colman Domingo por ‘’Rustin’’, Paul Giamatti por ‘’Os Rejeitados’’, Cillian Murphy por ‘’Oppenheimer’’ e Jeffrey Wright por ‘’Ficção Americana’’. 

O vencedor foi Cillian Murphy, que interpretou Robert Oppenheimer, coroando mais uma vitória para o ator na temporada de premiações.

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Foto: Reprodução X

Em Melhor Atriz, as indicadas foram: Annette Bening por ‘’NYAD’’, Lily Gladstone por ‘’Assassinos da Lua das Flores’’, Sandra Hüller por ‘’Anatomia de Uma Queda’’, Carey Mulligan por ‘’Maestro’’ e Emma Stone por ‘’Pobres Criaturas’’.

A vencedora foi Emma Stone. A atriz recebeu o seu segundo Oscar pelo papel de ‘’Bella Baxter’’ em Pobres Criaturas.

 

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Foto: Reprodução X

 

Lily Gladstone era uma forte candidata à estatueta por ter levado previamente o SAG (Screen Actors Guild) e o Globo de Ouro por sua atuação como ‘’Mollie Burkhart’’.

Em entrevista para a revista The New Yorker, ela disse: "é circunstancial que eu seja a primeira, mas certamente não serei a última. Se eu ‘chutei a porta’, eu vou apenas tentar continuar aqui e deixá-la aberta para todos os outros". 

Se por um lado a categoria de Melhor Ator Coadjuvante ficou com Robert Downey Jr, por sua atuação em Oppenheimer, contra os indicados Sterling K. Brown (Ficção Americana), Robert de Niro (Assassinos da Lua das Flores), Robert Downey Jr. (Oppenheimer), Ryan Gosling (Barbie) e Mark Ruffalo (Pobres Criaturas), por outro, a de Melhor Atriz Coadjuvante foi para Da'Vine Joy Randolph, por Os Rejeitados. A estatueta não fugiu muito do roteiro já previsto em premiações anteriores na temporada. Da’Vine concorreu contra Emily Blunt (Oppenheimer), Danielle Brooks (A Cor Púrpura), America Ferrera (Barbie), Jodie Foster (NYAD), Da'Vine Joy Randolph (Os Rejeitados).

 

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Foto: Reprodução X

 

 

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Foto: Getty Images

 

Em Melhor Direção, a competição parecia já ter sido decidida em premiações anteriores: Christopher Nolan (Oppenheimer) foi o vencedor da noite nesta categoria, contra Justine Triet (Anatomia de Uma Queda), Martin Scorsese (Assassinos da Lua das Flores), Yorgos Lanthimos (Pobres Criaturas) e Jonathan Glazer (Zona de Interesse). 

 

 

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Foto: Getty Images

 

Apesar da filmografia do diretor não ser pequena, este é seu primeiro Oscar. Nolan conseguiu construir uma narrativa em Oppenheimer que crie pequenos momentos de tensão, fazendo com que o espectador tenha toda a atenção voltada para a linha do tempo, e não só mergulhe no enredo principal da criação da bomba atômica, mas também na trajetória política de Robert Oppenheimer. 

Na categoria de Melhor Filme Internacional, tivemos os longas: Io Capitano (Itália), Dias Perfeitos (Japão), A Sociedade da Neve (Espanha), The Teacher’s Lounge (Alemanha) e Zona de Interesse (Reino Unido), sendo Zona de Interesse o vencedor. 

Em seu discurso, o diretor, Jonathan Glazer, defendeu o povo palestino e pediu pelo cessar-fogo em Gaza. 

Em Melhor Roteiro Original, o filme Anatomia de Uma Queda ganhou de Os Rejeitados, Maestro, Segredos de um Escândalo e Vidas Passadas. E em Melhor Roteiro Adaptado, foi a vez de Ficção Americana levar o prêmio para casa.

Para Melhor Fotografia, os votantes da Academia escolheram Oppenheimer, mais uma vez. Os outros filmes indicados eram: El Conde, Assassinos da Lua das Flores, Maestro e Pobres Criaturas. 

Na categoria de Melhor Montagem, entre Anatomia de Uma Queda, Os Rejeitados, Assassinos da Lua das Flores, Oppenheimer e Pobres Criaturas, o vencedor foi Oppenheimer.

Zona de Interesse levou a estatueta de Melhor Som, após muitas críticas positivas. O que Jonathan Glazer fez com nossos ouvidos durante o longa-metragem foi impressionante, a qualidade do instrumental que escutamos o tempo todo era capaz de nos teletransportar para a atmosfera do horror da Segunda Guerra Mundial. 

Os indicados eram: Resistência, Maestro, Missão Impossível - Acerto de Contas Parte 1 e Oppenheimer. 

Em Melhores Efeitos Visuais, Resistência, Godzilla Minus One, Guardiões da Galáxia Vol.3, Missão Impossível - Acerto de Contas Parte 1 e Napoleão disputavam pelo prêmio, mas o Godzilla Minus One foi o ganhador, provando que é possível fazer um bom filme com apenas 15 milhões de dólares de orçamento, valor bem inferior se comparado à outras produções indicadas. Essa foi a primeira vez, em 70 anos de franquia, que o filme japonês foi premiado.

Na categoria de Melhor Design de Produção estavam: Barbie, Assassinos da Lua das Flores, Napoleão e Oppenheimer, mas quem subiu no palco foi Pobres Criaturas.

Pobres Criaturas também ganhou em Melhor Cabelo e Maquiagem. O ator Willem Dafoe comentou em entrevistas que o processo da maquiagem para entrar no personagem demorava cerca de seis horas. Emma, por sua vez, revelou que usava um mix de extensões no cabelo, e sua maquiagem ou era “nada” ou tinha cores arroxeadas (para simular hematomas), verdes (para as veias que saltavam, de forma sutil) e rosas (para uma cor de saúde na pele). Pobres Criaturas levou também Melhor Figurino

A figurinista Holly Waddington se inspirou na era vitoriana para criar os visuais de Bella Baxter, mas deixou de lado os espartilhos. Segundo ela, “se a intenção era fazer um filme feminista, colocá-la vestindo a peça só reforçaria ainda mais o estereótipo que todos conhecem do corpo da mulher visto de um jeito totalmente idealizado”. Com silhuetas bem ajustadas, roupas disruptivas, coloridas e exageradas, Holly fez com que o prêmio não pudesse pertencer a mais ninguém, se não a Pobres Criaturas. 

Nas categorias de Melhor Trilha Sonora Original, a música instrumental de Ludwig Göransson fez Oppenheimer ganhar de Ficção Americana, Indiana Jones e a Relíquia do Destino, Assassinos da Lua das Flores e Pobres Criaturas; e em Melhor Canção Original, foi a vez de ‘’What Was I Made For’’ de Billie Eilish (que se tornou a pessoa mais jovem a ter duas estatuetas) para Barbie, que disputava com ‘’I’m Just  Ken’’ do mesmo filme, ‘’The Fire Inside’’ de Flamin’ Hot: O Sabor que Mudou a História, ‘’It Never Went Away’’ de American Symphony e ‘’Wahzhazhe’’ (A Song For My People) de Assassinos da Lua das Flores. 

O Menino e a Garça, Elementos, Nimona, Meu Amigo Robô, Homem Aranha: Além do Aranhaverso, estavam em Melhor Animação em Longa-Metragem. O Menino e a Garça, de Hayao Miyasaki, foi o vencedor nesta categoria.

O último Oscar do diretor foi há 21 anos, com ‘’A Viagem de Chihiro’’ (2001). No ano de 2003, ele também se recusou a ir presencialmente receber o prêmio, pois no passado, chegou a ir na contramão com atitudes dos Estados Unidos relacionadas à invasão do país no território do Iraque.

E War Is Over! Inspired by the Music of John & Yoko ganhou em Melhor Animação em Curta-Metragem, em que  concorria com: Letter to a Pig, Ninety-Five Senses, Our Uniform, Pachyderme. 

Em Melhor Curta-Metragem em Live Action, A Incrível História de Henry Sugar  levou a estatueta. Os outros indicados foram The After, Invincible, Knight of Fortune, Red, White and Blue.

Esse foi o primeiro Oscar do diretor Wes Anderson em sua carreira.

A categoria Documentário contemplava duas categorias:

- Longa-Metragem, com 20 Dias em Mariupol sendo o vencedor, contra Bobi Wine: The People's President, The Eternal Memory, Four Daughters, To Kill a Tiger

- Curta-Metragem, com A Última Loja de Reparações recebendo o prêmio contra: O ABC da Proibição de Livros, The Barber of Little Rock, Island in Between,Ni Nai & Wài Pó (Grandma & Grandma).

 

Houveram performances de canções de filmes indicados, com a de Ryan Gosling em destaque. Ele cantou a música-tema de seu personagem,  ‘’I’m Just Ken’’, com a participação de Slash na guitarra. 

 

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Reprodução: Getty Images

 

Messi, o cachorro ator de Anatomia de Uma Queda, também marcou presença na cerimônia, mesmo após boatos nas redes sociais de que não compareceria. Tudo começou depois que o portal The Hollywood Reporter relatou que alguns estúdios de filmes indicados alegavam que a presença de Messi poderia ter aberto algum tipo de vantagem sobre o longa, ofuscando os outros atores humanos, durante o almoço dos indicados. Porém sua participação foi permitida, além de ter “roubado a cena”, ao aparecer “aplaudindo” Robert Downey Jr., por meio de uma edição gravada antecipadamente.

 

messi
Reprodução: X (antigo Twitter)

 

 

messi
Foto: Reprodução: Instagram