
Os amantes pela literatura sinistra podem se demonstrar mais ativos agora com a chegada de outubro, mês do halloween e das maratonas de terror. Se possui um gosto pelas obras de Stephen King, recomendações de obras dele é o que não faltam para essa estação do mês/Dia das Bruxas. Se tornando filmes e até mesmo peças de teatro, as escritas do “mestre do horror” nunca saem de moda no mundo das escritas “dark”. Classificado como um dos livros mais conceituados e clássicos do autor, “Misery - Louca Obsessão” foi, e ainda é, muito bem aclamado pela crítica.
Seguindo um de seus traços de compor sua obra com reviravoltas que podem chegar a ser um pouco “revoltantes” para seus leitores, o livro traz a história de Paul Sheldon, um escritor “reconhecido pela série de best-sellers protagonizados por Misery Chastain” (sinopse). Conseguindo escrever mais uma parte de um manuscrito, decide comemorar fora de casa. Sozinho. Numa grande nevasca. O fim do que era para ser uma comemoração, acaba sendo o início da tortura de vida de Paul. Após sofrer um acidente de carro, devida às más condições climáticas, o escritor é socorrido pela enfermeira aposentada Annie Wilkes. O que ele mal sabe, é que a moça que se diz sua fã número 1, está em tamanha indignação com o final da série bem-sucedida do autor, que é capaz de tentar de tudo para conseguir Paul só para si.
Annie leva seu ídolo para sua casa e o prende em um quarto com a condição de: em troca de seus cuidados, o escritor refaça o final do livro para um que faça sentido” e abandone a sua, então nova obra, sobre Carros Velozes. O autor está extremamente dependente: devido ao acidente, ficou sem o movimento das pernas e ainda recuperando o dos braços. Quando não a obedece, fica sem os remédios para dor, comida ou mesmo penico (tendo que urinar em si mesmo).
A forma como o cenário é construído, imerge o leitor como se estivesse participando da história, e o agoniza junto com o personagem. Apresenta diversas faces que nos prendem na história: desde a Annie solícita que quer ajudar, que admira seu autor favorito e diz que o ama em contraste com o desespero que provoca, à resistência de Paul em querer fugir, e em outros momentos querer desistir. Stephen King não deixa nenhuma ponta solta, e como na maioria de seus livros, cada personagem pode carregar um significado para além do que está escrito nas páginas.
Estar diante de uma mulher com diversas faces de personalidade por meio das palavras de King, faz com que você sinta aversão e pena na mesma medida. O sadismo da vilã se demonstra em diversas cenas e a facilidade de como ela esconde rapidamente contando lembranças boas que ela tem da vida, baqueiam.
Como uma maneira de tentar não ficar sem os tratamentos de Annie, Paul tenta convencê-la e encantá-la de diversas maneiras; a elogiando, deixando que ela conte sobre sua vida e seus gostos, e dizendo o quanto estava grato por ter sido Annie a sua salvadora. Aos poucos melhorando sua condição física, o autor explora o restante da casa da enfermeira nos momentos em que ela não está. A agonia do leitor volta novamente, sempre afobado, achando que a sádica pode chegar a qualquer momento.
A cada cena em que ocorre um diálogo com Annie, o receio sobre ela aumenta, mas de uma maneira que sempre nos surpreende com tamanha facilidade em ser tão complicada e tão assustadoramente real. Traduzindo, “misery” seria o sofrimento prolongado, física e mental sem fim que persegue Paul, e, de certa forma, piora a situação psicológica instável de Annie.

Para quem gosta de ler, imaginar essas cenas agonizantes já são suficientes, mas para aqueles que preferem obras mais cinematográficas, temos o filme “Louca Obsessão”, de 1993. Kathy Bates entendeu o que é Annie Wilkes em um nível, que sua atuação lhe rendeu um Oscar. O próprio Stephen King a elogiou. Claro, filmes tem suas adaptações e releituras, mas a mesma agonia desse suspense psicológico que você encontra nas páginas, encontra nas cenas reproduzidas.
Resumidamente, diria que é um terror claustrofóbico. Se quer dormir tranquilo (ou não), adicione “Misery – Louca Obsessão” na sua lista de leitura e assista ao filme, para ótimo sonhos.
Esta reportagem foi produzida como atividade extensionista do curso de Jornalismo da PUC-SP.
Nas entranhas do metrô de São Paulo, onde milhões de passageiros se cruzam diariamente em um frenesi urbano, há um mundo silencioso esculpido em mármore, ferro e bronze. Ao descer pelas escadas rolantes e passar pelas plataformas movimentadas, os viajantes atentos podem testemunhar uma coleção rica e diversificada de estátuas e esculturas, cada uma contando sua própria história sobre a cidade, sua gente e sua cultura.
Essas obras de arte não apenas embelezam as estações de metrô, mas também servem como lembretes silenciosos da rica herança da cidade. Enquanto os trens rugem e os anúncios ecoam pelos corredores, essas esculturas permanecem imóveis, oferecendo uma pausa na corrida frenética da vida urbana, convidando os passageiros a contemplar, mesmo que por um breve momento, a riqueza cultural que permeia cada centímetro quadrado desta cidade cosmopolita.
Nas plataformas das principais linhas de metrô de São Paulo, 1-azul, 2-verde e 3-vermelha, presenciamos uma grande variedade dessas esculturas em algumas de suas estações, todas feitas por artistas diferentes que passam uma mensagem única.

Nesta estrutura ele mostra seu trabalho figurativo, com traços leves em uma escultura bem grande, pesando meio tonelada.
Foto: João Pedro Lopes

A obra busca o equilíbrio formal das peças encaixadas e representar o equilíbrio psíquico.
Foto: João Pedro Lopes

O tema principal é a "exuberância da vida" na explosão da primavera. Embora as figuras estejam fixas, sugerem movimento.
Foto: João Pedro Lopes

Ilusão de ótica que representa o vazio olhando por trás e sua verdadeira cor olhando de frente.
Foto: João Pedro Lopes

Inspirado nas aves gigantes descritas no livro "Simbad, O Marinheiro"
Foto: João Pedro Lopes

Inspirado em uma roda em movimento dando justamente essa impressão de uma forma que se desloca no espaço.
Foto: João Pedro Lopes
Feita de mármore, aço e ferro a escultura representa a cidade de São Paulo e suas ferrovias.
Foto: João Pedro Lopes

Tem como ponto de partida o "esqueleto estrutural da arquitetura da construção do metrô"
Foto: João Pedro Lopes

Sem descrição.
Foto: João Pedro Lopes

Sem descrição.
Foto: João Pedro Lopes
“Nosso Sonho", cinebiografia nacional de Eduardo Albergaria, conta a trajetória da dupla que revolucionou o gênero funk melody. Sob o ponto de vista de Claucirlei Jovêncio de Souza, o filme mostra a história dessa grande amizade: os problemas familiares, a vida na periferia carioca dos anos 90, o sucesso e ascensão dos artistas e principalmente o porquê de não existir “Buchecha sem Claudinho.”
O longa expõe a vida, marcada por muita luta e superação, dos cantores para o além da fama, algo que poucos conhecem. Em entrevista à Folha de São Paulo, o diretor conta a importância de retratar esse passado. “O filme circunscreve a periferia num lugar diferente da violência. Ela aparece como um lugar onde os personagens têm conflitos subjetivos. É um lugar que a periferia merece. Estamos acostumados a ver a periferia e, não por acaso, o funk presos no estigma da violência,” comentou.

Narrado por Juan Paiva, ator que interpreta o Buchecha adulto, o filme transmite o sentimento de estar escutando o desabafo de um amigo sobre o passado. Dessa forma, o telespectador mergulha desde da infância até a criação dos seus principais hits, sendo eles “Fico assim sem você”, “Só love” e “Coisa de cinema”.
Um dos maiores destaques do filme, além do roteiro cativante, são as atuações de Juan Paiva e Lucas Penteado, que interpreta Claudinho. Os atores apresentam uma sagacidade ao passar para as telonas características marcantes dos homenageados, como a timidez de Buchecha e a animação, somada a língua presa de Claudinho.
Em resumo, “Nosso Sonho” é uma obra cativante e emocionante, que de forma divertida, mergulha numa história de amizade e celebra a arte que veio da periferia: o funk. O filme foi indicado para representar o Brasil no Oscar 2024 e apresenta nota 7,5 na base de dados sobre produção audiovisual IMDb.
Juca, Luanito, TheoRex, Grilo e Diluna, são os integrantes que vocês conheceram no documentário que fala sobre a história do grupo e seus processos de construção artísticos. Suas batidas e rimas nascem dos sentimentos que falam, pensam e sentem. Um documentário repleto de fotos, entrevistas e muita música, para mostrar que eles vão além de só um grupo, se consideram uma família.
Em um domingo de setembro (17), a atriz Denise Fraga estrelou em mais uma noite o espetáculo “Eu de você”, idealizado e pensado inteiramente por ela, ao lado do diretor Luiz Villaça e do produtor José Maria. Nove anos do programa “Retrato Falado” não bastaram para que a artista contasse histórias reais ao espectador e, no Teatro na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (TUCA), Denise trouxe mais narrativas genuínas para mostrar que não há melhor espelho do que o outro.
Um cenário inteiramente branco, uma cadeira de madeira e roupas acinzentadas foram os apetrechos necessários para que a obra embarcasse em várias esferas. Apesar de ser um monólogo, a quarta parede foi quebrada e a peça não se limitou ao palco. Mais a fundo, o jogo de iluminação de Wagner Antônio foi um personagem essencial para explicitar a multiplicidade de experiências, espaços e sentimentos que cada corpo experimenta, aflorando assim, o sensorial do público.

Contando com mais elementos, a peça explorou o universo da música. Denise, ao lado de três musicistas, Ana Rodrigues, Clara Bastos e Priscila Brigante, trouxe mais vida ao espetáculo com clássicas canções: passando de Dostoievski, Fernando Pessoa, Chico Buarque, Elvis Presley até Zezé di Camargo. Apesar do musical vasculhar tantas faces interativas, ao se despedir do público, a atriz proferiu ainda no palco “o silêncio é um espaço não vazio livre de palavras”, revelando assim, ainda mais, os momentos reflexivos propositais, pensados pelo espetáculo.
É preciso ser Eu de você. Se vive e se entende a vida a diante das experiências pessoais, que são diferentes a partir de cada indivíduo. Com isso, o que seria de cada pessoa se houvesse a tentativa de ver mais o outro, de enxergar mais através do olhar do outro? No espetáculo, Denise traz essa sensibilidade ao encenar diversas histórias reais, de pessoas que escolheram contá-las. Entrevistas, cartas e depoimentos de sujeitos espalhados pelo país originaram o solo, e é encantadora a forma que a atriz vive as vozes, os gestos e os jeitos de cada “personagem”.
Desde a personagem Tânia, a qual representa a vida urbana volátil, o Júlio, que frequenta karaokês e se apaixona por um assaltante, ou Clarice, que encontra um pedido de perdão no entardecer de um parque, Denise com seu dom artístico faz o público se sentir próximo ao ato, mesmo que não se identifique tanto com essa pessoa. Por um momento, todos se reúnem em um só suspiro, representados pelos problemas daqueles depoimentos, mesmo que nunca tenham passado por algo semelhante. Mas acontece que, no espaço não vazio, livre de palavras, o pensamento percorre o eco em busca de uma só coisa: a resolução das questões que a vida propõe.