Lançado em todas as plataformas de streaming às seis da manhã da última sexta-feira (6), o mais novo projeto do rapper Drake, ‘For All The Dogs’, tem 23 faixas e 1h24min de duração. O cantor convidou grandes artistas para colaborar, como 21 Savage, J. Cole, SZA, PARTYNEXTDOOR, Chief Keef, Bad Bunny e Lil Yatchy.

Reprodução: Instagram/@champagnepapi
Anunciado cerca de três meses atrás, o disco estava previsto para 22 de setembro. Drake resolveu adiar o projeto para o começo de outubro, por conta dos shows da turnê atual.
Alguns dias antes do lançamento, Drake usou o seu perfil no Instagram para falar um pouco sobre o projeto, mostrando a capa do álbum feita por seu filho Adonis Graham, de seis anos, e liberando a faixa Slime You Out, com participação de SZA.
‘For All The Dogs’ é um álbum que gera sentimentos mistos. Enquanto o rapper canadense continua a mostrar sua habilidade lírica e produção consistente, o projeto parece carente de inovação.
Embora haja faixas cativantes e batidas envolventes, muitas vezes há a impressão que estamos ouvindo uma versão repetitiva de seus trabalhos anteriores. Apesar de misturar diferentes estilos musicais, incluindo não apenas o rap e o trap, mas gêneros como R&B e o Drill Music, Drake não consegue sair de um looping com beats fracos e versos ruins.
As letras falam do mesmo assunto em todas as músicas: ostentação, indiretas para artistas rivais, mulheres e relacionamentos que não deram certo, dando a ideia de que o cantor faz músicas apenas para adolescentes.
Virginia Beach
Com o sample de Wiseman (2012), de Frank Ocean, Virginia Beach é a faixa que abre For All The Dogs. A música explora temas de reflexão, autoconsciência e complexidade dos relacionamentos.
O refrão fala de um sentimento de saudade e insatisfação em uma conexão romântica. No geral, a música transmite uma sensação de nostalgia, saudade de um passado idealizado e uma reflexão sobre as complexidades e limites do amor.
Drake ainda enfatiza a necessidade de uma verdadeira conexão emocional e questiona o papel dos bens materiais no relacionamento.
Fear of Heights
A quarta faixa do álbum fala sobre se sentir inseguro e vulnerável, especialmente quando se trata de ter sucesso. A letra da música aborda as batalhas internas e as incertezas que podem advir de ser famoso e ter grandes objetivos. Drake expressa o medo de perder o contato com suas raízes e uma preocupação com a possibilidade de um declínio em relação ao sucesso que alcançou.
A música aborda como pode ser complicado lidar com uma vida onde muitas pessoas sabem quem você é e esperam muito de você.
First Person Shooter (feat. J. Cole)
‘First Person Shooter’ é a sexta faixa do álbum. Nela, Drake e J. Cole atravessam vários temas intimamente associados às suas carreiras, personalidades públicas e às complexidades da indústria do hip-hop. Ambos os artistas, através de seus versos, apresentam uma análise sobre sua jornada e status atual no rap.
Cole diz que ele, Drake e Kendrick Lamar são o “Big Three” do mundo do hip-hop e relaciona sua carreira ao do lendário Mohammed Ali, simbolizando representatividade, reconhecimento, lutas e controvérsias que acompanham a fama. O rapper ainda faz referência à propensão da indústria de provocar rivalidade entre os artistas, sugerindo que palavras e ações são frequentemente distorcidas para criar narrativas de discórdia.
Já pela perspectiva de Drake, o cantor ilumina seu estilo de vida rico, mencionando suas experiências com várias mulheres e com carros de luxo. Ele justapõe seu status atual com outros do setor, enfatizando o poder que possui dentro da indústria e nos streamings de música.
8am in Charlotte
A 17a faixa foi a segunda a ser publicada por Drake dois dias antes do lançamento oficial do álbum. Postada em seu próprio Instagram junto de um videoclipe, a música é uma metáfora da jornada de vida do rapper, abordando paternidade, riqueza, sucesso, moralidade e crescimento pessoal, ao mesmo tempo que fala sobre as lutas enfrentadas por seus amigos nos versos.
Ele questiona as implicações morais do seu sucesso e remete à inconsistência entre as palavras e ações das pessoas. Drake também menciona sua influência em vários setores e à sua concorrência. Em uma última análise, a faixa mostra a reflexão e evolução de Drake como artista, proporcionando aos ouvintes uma compreensão mais profunda de sua vida e experiências.
Confira a lista com as 23 faixas de For All The Dogs:
1-Virginia Beach
2-Amen (feat. Teezo Touchdown)
3-Calling For You (feat. 21 Savage)
4-Fear Of Heights
5-Daylight
6-First Person Shooter (feat. J. Cole)
7-IDGAF (feat. Yeat)
8-7969 Santa
9-Slime You Out (feat. SZA)
10-Bahamas Promises
11-Tried Our Best
12-Screw The World – Interlude
13-Drew A Picasso
14-Members Only (feat. PARTYNEXTDOOR)
15-What Would Pluto Do
16-All The Parties (feat. Chief Keef)
17-8am in Charlotte
18-BBL Love – Interlude
19-Gently (feat. Bad Bunny)
20-Rich Baby Daddy (feat. Sexyy Red & SZA)
21-Another Late Night (feat. Lil Yatchy)
22-Away From Home
23-Polar Opposites
Desde os primórdios da sociedade as mulheres sofriam com pressões estéticas e sempre tiveram que se adaptar aos padrões impostos pela sociedade. Assim como as mulheres se adaptaram, a sociedade também se adaptou, os padrões ficaram cada vez mais inalcançáveis, afinal a cada década era apresentado um padrão diferente e com isso foram criadas novas formas de se encaixar, roupas, maquiagens, e outras formas de manipulação, como o photoshop.
Os anos 2000 foram marcados pela magreza excessiva, calças de cintura baixa, tops e croppeds eram as principais peças de roupa da época, que tinham a intenção de valorizar e expor a silhueta extremamente magra das mulheres na época. Já nos anos 2010 essa estética mudou, mulheres com grandes seios, grandes quadris e cinturas finas se tornaram o padrão, fugindo totalmente da estética de 10 anos atrás. “A dismorfia corporal na maioria das vezes é uma idealização da pessoa. Quando não se trata de algo real, a disfunção leva a pessoa a viver em função de um corpo ou uma aparência que ela idealizou”, afirma a psicologa Maria Angélica Peres Camargo. Como as mulheres que se esforçaram tanto para serem extremamente magras vão conseguir se encaixar nesse padrão que não é abraçado de maneira natural?


Em 1990, o Adobe Photoshop, mais conhecido e mais usado software de edição de imagens, foi lançado, e, desde então, outros softwares e aplicativos do tipo se tornaram cada vez mais acessíveis e populares, permitindo que qualquer pessoa consiga editar uma fotografia de maneira fácil e rápida, até mesmo pelo celular. Apesar disso, dar o poder de manipular uma foto para todo e qualquer um trouxe problemas para a sociedade contemporânea, sendo um deles a mudança de características físicas de alguém.
Essa mudança (que ficou conhecida como photoshop, devido ao nome do aplicativo da Adobe Systems citado anteriormente) é, na maior parte das vezes, feita em fotos de mulheres, ou por elas mesmas, ou por alguém responsável pela imagem delas, no caso de celebridades. A intenção do photoshop é encaixar essas mulheres o máximo possível no padrão de beleza, mexendo em fotos dos seus rostos e seus corpos para tal. Nesse contexto, as mulheres se sentem mais inseguras e vulneráveis, e se tornam mais suscetíveis a sofrerem com a pressão estética.
Pressão estética é o nome dado à pressão que geralmente uma mulher sofre em relação à sua aparência, e o quanto ela se encaixa no padrão de beleza. Desde a infância, as meninas já são pressionadas a estarem dentro desse padrão, com comentários vindos muitas vezes até mesmo de outras mulheres da família, comparando crianças entre si e fazendo com que elas também se comparem. Quando essas meninas crescem, na adolescência e no início da fase adulta, é quando elas mais sofrem com essa pressão, e, mesmo que isso se abrande com a idade, mais de 90% das mulheres se dizem insatisfeitas com seus próprios corpos. Esses dados são bem justificados quando se analisa como as mulheres se comportam nas redes sociais.
Nas redes sociais, as mulheres têm muito mais chance de se compararem com outras, principalmente com celebridades. Ao postarem fotos editadas pelo photoshop, essas celebridades ajudam a criar um padrão de beleza cada vez mais inalcançável, mas que, mesmo assim, as mulheres buscam atingir incessantemente. Isso cria um círculo vicioso, no qual essas fotos editadas são postadas, impactando outras mulheres, que também alterarão suas aparências e também serão um exemplo negativo.
Vale ressaltar que todas as mulheres sofrem com a pressão estética, mas mulheres de fato fora do padrão (não-brancas, gordas, com deficiência) são as maiores vítimas dela. Um dos maiores exemplos de celebridades e seu padrão inalcançável: Kim Kardashian remove gordura corporal através do photoshop.
A pressão estética sobre as mulheres é um fenômeno sociocultural, que acarreta em distúrbios e transtornos psicológicos e físicos, simultaneamente. Os mais comuns são a dismorfia corporal e os transtornos alimentares.
A dismorfia corporal é a visão distorcida que uma mulher tem do seu próprio corpo. O que ela enxerga quando se olha no espelho é completamente diferente de como ela de fato é. Isso a leva a buscar incessantemente mudar as características que ela vê, mas que, na verdade, não estão lá, ou não estão lá tanto quanto ela imagina. Apesar de ser comum a distorção da autopercepção em mulheres, nem todas têm dismorfia corporal, que só pode ser diagnosticada por um psicólogo especialista na área. No Brasil, mais de 150 mil casos são registrados por ano.
Os transtornos alimentares (que podem ser uma das consequências da dismorfia corporal) são hábitos alimentares poucos saudáveis e que, nesse contexto (eles podem também estar relacionados a outras questões), buscam atingir o corpo ideal de muitas mulheres. Comer pouco ou simplesmente não comer, exageradamente se ater às calorias e aos macronutrientes, purgar refeições forçando o vômito em si mesma ou tomando laxantes e se exercitar mais do que o necessário são as principais características desses transtornos alimentares. Os mais conhecidos são: anorexia, quando uma mulher já muito magra come o mínimo possível (idem à dismorfia corporal); e bulimia, quando a mulher purga o que comeu (mais de 2 milhões de casos registrados por ano no Brasil).
Em entrevista para a AGEMT, a psicóloga Angélica, ela ressalta como a mídia tem um grande papel no desenvolvimento destes transtornos, “O que percebemos é que a mídia e as funções tecnológicas contribuem significativamente para o desenvolvimento do transtorno”, muitos acreditam que essas ferramentas e interações sociais sejam inofensivas, mas quando uma mulher interage com um padrão que não é o dela, é onde começam os questionamentos.
Poucas mulheres têm a consciência de que as suas ações promovendo uma imagem irreal e perfeita afeta diretamente a saúde mental de outras que as acompanham, isso ocorre por uma necessidade de validação de si mesma, onde muitas pessoas acham que existe uma figura saudável e segura na realidade não existe ninguém seguro de sua própria imagem.
(Cenas dos 4 curtas, foto: Instagram/Netflix)
A caricatura dos filmes de Wes Anderson e a famosa ligação do diretor à referências literárias não vem à toa, grande parte de suas obras é inspirada em livros e seus autores. Contudo, nenhum escritor como o controverso Roald Dahl esteve tão presente em suas obras. Dahl é autor de famosos livros infantis como: Matilda, A fantástica fábrica de Chocolate e O Senhor Raposo — que acabou se tornando filme de animação de Wes, lançado em 2009. O autor, nascido em 1916, fez fama ainda nos anos 40 com seus livros, que recentemente viraram polêmica pelo uso de palavras antissemitas que foram retiradas de seus livros pela editora.
Os quatro contos, Poison, The Rat Catcher, The Swan e The Wonderful Story of Henry Sugar, são gravados com os mesmo atores: Ben Kingsley, Benedict Cumberbatch, Dev Patel, Ralph Fienne, Rupert Friend e Richard Ayoade. A trupe britânica atua em diversos papéis nos curtas, e durante “A incrível história de Henry Sugar” trocam de personagens em minutos. Seu palco são os locais descritos na histórias, incluindo: Um hospital em Calcutá, um cassino em Londres, um posto de gasolina infestado de ratos e uma lagoa, onde reside a gansa em The Swan.
A influência de Dahl não se mantém apenas nos roteiros, mas na forma como a narração é dirigida: a história é visual e descritiva. Acumulado com esforço para deixar claro que tudo que se vê foi construído, Wes Anderson e Roald Dahl se entrelaçam para trazer à tona uma imersão aos contos do autor. Wes defendeu o autor com relação à edição dos contos: “Compreendo as motivações por trás das críticas aos livros de Dahl, mas não vejo por que alguém deveria alterar a obra de um autor que não está mais entre nós, só para agradar a uma certa sensibilidade”, conta ele durante entrevista no Festival de Veneza.
Sobre Wes Anderson
Conhecido por filmes como Grande Hotel Budapeste — pelo qual ganhou o BAFTA de Melhor Roteiro e o Globo de Ouro como Melhor Filme — e animações stop-motion como Fantastic Mr.Fox, Wes Anderson é cineasta, produtor, roteirista e ator. Nascido em Houston, nos EUA, o artista seguiu faculdade de filosofia no Texas, local onde acabou conhecendo Owen Wilson, que mais tarde viria a participar de diversos filmes do diretor.
Conhecido pelo seu estilo de filmagem excêntrico e organizado, Wes Anderson passeia pelo arrojado estético sem perder a linha de um roteiro cativante. O diretor é conhecido pelas filmagens simétricas, uso do plano holandês (filmagem diagonal) e pela famosa “comédia inerte” — em que o diretor brinca com as emoções do público ao trocar o ritmo de cena bruscamente.
"Grand Budapest Hotel", 2014. Ritmo
As referências do diretor no mundo animado também não são diferentes, já que Wes leva, por vezes, o estilo stop-motion clássico para seus filmes mais conhecidos, como em Grande Hotel Budapeste, e, mais recente, em cenas-chave de Asteroid City. E o lúdico não para por aí: na paleta de cores também correm tons pastéis e outonais, que a princípio soam presunçosos mas se encaixam muito na excentricidade dos personagens.
Recentemente, o diretor acabou alvo da IA em trends que exploravam seu estilo visual, como a adaptação de Star Wars, que causou reações adversas em internautas: “Uma inteligência artificial nunca será capaz de captar a sinceridade das emoções, expressões e humanidade ‘pintadas’ na tela por Wes Anderson. Tudo que a IA é capaz é zombar de como uma imagem é estruturada. Não existe compreensão do Mis-Èn-Scene. (Ela) não sente.”
https://x.com/funeman_/status/1652775764557701120?s=46&t=UOTDLRf6yV_3k8xy-L640Q
Apresentado pelo Ministério da Cultura, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura (Lei Rouanet) e com patrocínio do Nubank, estreou no sábado (30) a peça De Onde Vem o Dinheiro. Em curta temporada, do dia 30 de setembro a 22 de outubro, o espetáculo aborda um assunto muitas vezes temido pelas famílias com crianças pequenas: o dinheiro.
A direção é de Pedro Garrafa, a dramaturgia de Renata Mizrahi e trilha sonora original de Carlos Careqa. O elenco é formado por Lucas Padovan, Iris Yazbek e Rebeca Oliveira. A produção é da WB Produções, de Bruna Dornellas e Wesley Telles, que é conhecida por outros espetáculos como Misery e Três Mulheres Altas - que também passaram pelo Tuca, teatro da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.
Mas, afinal, de onde vem o dinheiro?
“Você acha que dinheiro nasce em árvore?” ou “Na volta a gente compra”, são frases que fazem parte da infância de muitos brasileiros. Mas isso é o suficiente para acabar com a curiosidade insaciável das crianças sobre essa questão? O espetáculo surgiu com o intuito de inserir a educação financeira nas discussões familiares.
A peça conta a história de dois melhores amigos, Antônio (Tom Tom), que se mudou para Belém recentemente, e Tininha, que mora no Rio de Janeiro, ambos com 8 anos. Eles se falam por chamadas de vídeo todos os dias, mas a vontade de se encontrarem pessoalmente só aumenta. No entanto, ao pedir para a sua mãe que compre passagens para Belém, a menina recebe um balde de água fria. As passagens estão muito caras, e a mãe explica que vai demorar um pouco até que consiga comprá-las.
A menina não entende qual a razão de não poderem viajar, e ambas as crianças se frustram pois irão continuar sem se encontrar. Os dois pensam em uma solução que faz parte da realidade deles: nos videogames os personagens conseguem moedas rapidamente. Por isso, decidem entrar dentro de um videogame.

A mãe de Tininha, vendo a situação, tem uma ideia genial para que as crianças entendam o que é o dinheiro e como ele funciona. Ela monta em sua casa um cenário de videogame para ensinar às crianças conceitos de educação financeira. Os meninos aprendem a importância de ganhar dinheiro, economizar, focar no que querem e como atingir as suas metas.
A importância de discutir a saúde financeira
Em entrevista exclusiva para Agemt, o diretor Pedro Garrafa comenta que percebeu seu próprio receio em falar sobre dinheiro para crianças: “E eu pude perceber que atrás do meu preconceito morava uma razão óbvia, eu também não quero falar sobre dinheiro pra minha criança, né? A gente não fala sobre dinheiro. Então depois disso, quando a gente começou a montar a peça, eu comecei a pensar o quanto é necessário falar”.
O debate sobre saúde financeira nas escolas vem ganhando força. Em 2021, o Ministério da Educação, em parceria com a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), desenvolveu o Programa Educação Financeira nas Escolas que, em três anos, pretende capacitar 500.000 professores, do Ensino Fundamental e Médio, em educação financeira para que possam transmitir esse conhecimento para os estudantes.
Segundo Alceu Gonçalves, administrador de empresas, muitas vezes não existe a percepção de que a educação financeira é um dos pilares que fundamentam o desenvolvimento pleno do ser humano: “Assim como educamos as crianças em diversos aspectos que contribuem para o seu desenvolvimento, temos que ter consciência que é por meio da cultura de planejamento e educação financeira que temos a chance de realizar sonhos e objetivos, e até mesmo garantir o que consideramos o básico, saúde e qualidade de vida, sobretudo na velhice”.
Ao ser perguntado sobre o que espera transmitir ao público com a peça, o diretor reforça a importância do teatro infantil como objeto de reflexão mais do que de aprendizado: “É uma peça de teatro, não é um curso. Então, o que eu espero é que o público saia de lá modificado. Eu tenho vontade que as pessoas saiam discutindo de onde vem o dinheiro, e que dinheiro é um meio pra conseguir as coisas e não o fim das coisas. A criança não quer economizar pra ser rica, ela quer visitar um amigo. Eu acho que a coisa mais legal da peça é isso: o dinheiro não é o fim. Dinheiro serve para a gente gastar bem com coisas que vão fazer a gente feliz”, finaliza.
Com um jogo de palavras que revela a relação humana com o mundo exterior, 'Eu de você', solo estrelado por Denise Fraga, está em exibição no TUCA, em São Paulo, até 5 de novembro. A temporada tem sessões lotadas. Idealizado pela atriz em conjunto com o diretor e produtor Luiz Villaça e José Maria, respectivamente, 'Eu de Você' é alegre, triste, angustiante e libertador: um retrato fiel de diversas facetas da vida.
Senta que lá vem história
Três paredes brancas são o cenário no qual Fraga incorpora, ato após ato, a vida de diversos brasileiros e brasileiras. A peça foi composta por relatos reais, de cenas da vida de pessoas pertencentes a várias classes sociais, raças, orientações sexuais e idades, enviadas à produção em 2018. “Abrimos uma chamada para histórias”, conta a atriz à Folha de S. Paulo.
Com muita energia e entrega, Denise Fraga hipnotiza seu público pelas 2 horas de duração. São as expressões faciais, o tom de voz, a música – performada ao vivo pela atriz e banda – que revelam este tesouro das artes cênicas, em uma produção que dialoga com o público em todos os sentidos: causa identificação, empatia e a atriz entrega carinho, recepção e empatia quando conversa com sua plateia.
'Arte da vida', 'vida da arte'
Em entrevista à Teté Ribeiro, da Folha de S. Paulo, Fraga defende a arte como "mais do que um direito, é saúde mental (...) quem vive com arte vive mais amparado" e diz que "viver é um negócio rico".
A seleção de enredos, comprova. São histórias reais, coletadas em 2018, que navegam entre temas como burnout, agressões e outros, mais corriqueiros e leves, como as peculiaridades de relacionamentos e memórias de vida dos representados - encenadas com sensibilidade e seriedade, mas sem deixar de lado a leveza.

Eu de você
Mesmo diante de dilemas que podem ser iguais ou semelhantes àqueles vivenciados nos cotidianos de cada telespectador, a experiência emociona e é um exercício de diálogo. Uma peça que fura-bolhas, pois aproxima aquele que a vê um pouco mais da pele alheia, na íntima vivência de ouvir o outro falar de si. Rara oportunidade em uma sociedade marcada pela segmentação e exclusão.
“Todos os meus preconceitos em dia (risos), é muito tocante ver uma pessoa tida como ´de direita´ e outra ´de esquerda´, lado a lado e ambos emocionados”, conta Denise Fraga à Teté Ribeiro, da Folha de S. Paulo. Levando em conta as tensões históricas e recentes no espectro político, este relato é a pura potência do teatro, e da arte, como importante participante da construção de uma sociedade mais equânime, empática e democrática.
“O teatro é um pacto coletivo. Eu e você, você e eu, escolhemos estar aqui e entregues a esta experiência. E eu acredito no teatro", clama a atriz ao seu público no início da apresentação.
Muito além do que falar das artes da cena, este "combinado" revela que diante da alteridade, da divergência, o encontro é possível. Na vida e na arte. Com muita entrega e uma energia de reverência e respeito à existência humana - como só seria possível vir de alguém, também, de igual riqueza interior: um viva à Denise.