Como Antônio Fonseca de Deus enxerga a utilização do tempo na atual sociedade brasileira
por
Júlio Antônio Poças Pinto
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29/04/2025 - 12h

O Professor de Sociologia, Antônio Fonseca de Deus, conversou com à AGEMT sobre como as pessoasm “consomem” o tempo no seu dia-a-dia acelerado. Antônio começa a entrevista lembrando que o tempo é uma criação humana e com o advento da Revolução Industrial esse tempo passou a ter conotação econômica e financeira. Observa também que o “relógio” neste período e ainda hoje, virou cronometro e toda nossa rotina de vida, passou a ter minutos contados, com começo, meio e fim. Trazendo para nossa atual realidade, aponta para uma triste constatação: como gerir o nosso tempo entre trabalho, família e lazer?

Se antes (no período áureo da Revolução Industrial) o gerenciamento do tempo tinha como base única e exclusivamente o “trabalho nas fábricas”, hoje, este gerenciamento é muito mais complexo: gerenciar a vida num todo, buscando equilíbrio entre trabalho, lazer e descanso. Consequentemente, esta “falta” de gerenciamento culmina em questões de saúde, levando ao esgotamento físico e em grande parte psicológico.

Ele chama à atenção para outra triste constatação: as novas gerações (Z e Alpha), apesar da genialidade das novas tecnologias, utilizam muito de seu tempo de forma improdutiva, criando um “descontrole” do tempo. Lembrou do ocorrido com uma amiga no seu horário de almoço na empresa, confessando ter utilizado todo tempo destinado à alimentação, vendo postagens nas redes TikToK e Instagram, esquecendo seu prato com comida no micro-ondas. 

Ao ser questionado sobre as formas de “utilizar” o tempo pode vir a gerar um conflito social, ele respondeu: "dificultando acesso à cultura, ao lazer, ao descanso, com certeza pode gerar conflitos sim; já vemos alguns setores econômicos pelo mundo que enxergam que um dia a mais de descanso na semana, possa melhorar a qualidade de vida das e consequentemente um melhor rendimento de seus colaboradores", afirma Antônio.

Ele também acrescenta que não enxerga um conflito social sem ter relação com qualidade de vida, e dentro dos conflitos de classe ele faz uma relação da “Mais-Valia – Karl Marx), cujo o tempo é dinheiro para quem o controla. Com relação às propostas do Estado para melhorar a maneira de como as pessoas gastam o tempo, ele diz que, se for pensar em leis trabalhistas uma restruturação do tempo de trabalho (remuneração e carga horária) seria providencial, afinal o mundo muda a todo momento e é imperativo que o mercado de trabalho acompanhe tais mudanças; desde que as pessoas consigam conciliar qualidade de vida, como ter mais tempo para a família, lazer e descanso. O IDH dos países desenvolvidos (e em desenvolvimento) aponta para isto.

No campo, o foco parece ser a bola. Nos bastidores, o jogo é outro
por
Amanda Campos
Lorena Basilia
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28/04/2025 - 12h

Uma sucessão de episódios controversos tomou conta do noticiário esportivo brasileiro, da chamada “Lei Memphis Depay” às críticas generalizadas contra a arbitragem, o cenário do futebol nacional virou alvo de polêmicas. Mas, nos bastidores das discussões que inflamam torcedores e dirigentes nas redes sociais, um movimento silencioso desenha o verdadeiro placar na Confederação Brasileira de Futebol: a reeleição unânime de Ednaldo Rodrigues à presidência da CBF, como um capítulo de um sistema em que a transparência cede espaço a alianças políticas. Em entrevista para a AGEMT, o especialista em análise de futebol, Tiago Herani explica o cenário do futebol brasileiro atual.

Na prática, não existe uma lei oficial com esse nome. O que houve foi uma mudança no regulamento de competições nacionais, aprovada no início de abril pela CBF, que proíbe comemorações consideradas “provocativas” contra os adversários. A nova regra prevê que um jogador que imite uma pose de deboche, faça gestos de provocação ou se refira ao adversário de forma pejorativa pode ser advertido com cartão amarelo – ou até expulso se reincidir.

O episódio, que nomeou a nova regra, surgiu na final do Campeonato Paulista. Durante a partida entre Corinthians e Palmeiras, o  atacante holandês do time alvinegro subiu em cima da bola, afim de provocar e confundir o adversário.  A ação causou revolta entre os jogadores e torcedores palmeirenses.

Para Tiago Herani, a medida tomada é um ataque direto à individualidade do jogador e à essência artística do futebol brasileiro. “É uma cortina de fumaça muito bem executada. Quem lê sobre isso vai se indignar, mas ignora os verdadeiros problemas do futebol brasileiro”, afirma. Ele vê na proposta um retrocesso: “Vai contra o que o futebol brasileiro representa: arte, liberdade, improviso". O país do futebol não tem esse nome à toa, os jogadores têm uma habilidade única de misturar técnica improviso e criatividade em campo. A fluidez e “ginga” é o símbolo mais forte da identidade nacional em campo. Além de um esporte, o futebol é arte.

Em paralelo à polêmica das provocações, a arbitragem brasileira vive um período conturbado, desde falhas em campo até decisões de gestão contestadas compõem um quadro preocupante. Herani conta que a CBF não demonstra nenhum interesse real em investimentos para mudar esse cenário: “Com investimento em tecnologia e preparação, a arbitragem poderia evoluir. Mas parece que isso não é prioridade”.

A cortina de fumaça

A atual gestão da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), liderada por Ednaldo Rodrigues, representa uma ruptura importante com os mandatos anteriores — especialmente no que diz respeito à transparência e à percepção pública. Após anos marcados por escândalos e desconfiança, muitos viam em Ednaldo uma tentativa de estabilização. Ainda assim, a calmaria relativa parece ter durado pouco. “A gestão do Ednaldo foi a menos polêmica em muito tempo - até agora”, avalia Tiago Herani. Ele destaca que, internamente, o presidente conta com forte apoio, o que torna improvável qualquer mudança drástica no comando, como a entrada de Ronaldo Nazário, frequentemente citado como uma figura de renovação. “É muito difícil que isso aconteça, mesmo ele sendo a melhor opção, tanto por ser empresário quanto pelas boas relações que mantém com FIFA e Conmebol”, comenta.

Ednaldo Rodrigues
Presidente da Confederação Brasileira de Futebol, Ednaldo Rodrigues.
Foto: R
eprodução/Rafael Ribeiro.

 O artigo da Revista Piauí, assinada por Alan de Abreu, foi um divisor de águas na forma como o público passou a enxergar a atual gestão da CBF. Por meio de áudios e bastidores, até então desconhecidos, expôs com clareza as engrenagens de um sistema que opera sem concorrência para o cargo. Em um dos trechos, um presidente de clube — mantido no anonimato — admite que “não há o que fazer” para mudar a situação, o que ilustra a sensação generalizada de impotência dentro da estrutura do futebol brasileiro.

A pensata, segundo Tiago, escancara como a permanência de Ednaldo Rodrigues no comando da CBF foi garantida mais pela conveniência dos bastidores do que por mérito ou vontade de renovação. “Os presidentes poderiam, ao menos, ter votado nulo, feito um gesto simbólico. Mas não. Todos aplaudiram a candidatura do Ednaldo”, critica. Herani também acredita que a repercussão gerada pela reportagem é fruto de um novo momento da cobertura esportiva, impulsionado pela internet. “A Piauí teve coragem de fazer o que muitas grandes emissoras não fazem. Essa foi a primeira gestão com seus problemas tão detalhadamente expostos, e isso só aconteceu porque a internet deu espaço para esse debate crescer”.

A repercussão gerada pela reportagem é fruto de um novo momento da cobertura esportiva, impulsionado pela internet. “A Piauí teve coragem de fazer o que muitas grandes emissoras não fazem. Essa foi a primeira gestão com seus problemas tão detalhadamente expostos, e isso só aconteceu porque a internet deu espaço para esse debate crescer”, afirma.

O contraste com a grande mídia ficou evidente recentemente, quando seis jornalistas da ESPN foram afastados em abril após críticas à gestão de Ednaldo Rodrigues no programa Linha de Passe. Baseados na própria reportagem da Piauí, os comentaristas questionaram a atuação da CBF, o que teria provocado uma reação direta da entidade e um desconforto interno na emissora. A ESPN tratou o episódio como um "erro de processo" e suspendeu os profissionais por um dia, sem demissões formais. A emissora não se manifestou publicamente sobre o caso, e os jornalistas afastados retornaram às suas funções normalmente após o período de suspensão. Para Tiago, casos como esse reforçam a importância das mídias independentes e das redes sociais como espaços onde o debate pode, de fato, acontecer.

 

Com um resgate das próprias raízes, a artista prova que é impossível se esconder, mesmo coberta de referências musicais no novo álbum
por
Pedro da Silva Menezes
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14/03/2025 - 12h

Depois de muito apelo dos Little Monsters (fandom da cantora) e de Michael Polansky, seu noivo, Lady Gaga lançou na sexta-feira (7) seu sétimo álbum de estúdio, “Mayhem”. Com um nome que significa “caos”, o disco é uma mistura de gêneros com a originalidade da ‘Mother Monster’.

O primeiro single, “Disease”, criou no público uma impressão de como seria a era. Com versos como “Eu posso sentir o cheiro da sua doença, posso te curar” e uma sonoridade pop pesada que lembra trabalhos anteriores, como “The Fame Monster”, a esperança era de que o som a ser seguido fosse o do dark pop, estilo que a cantora domina, caracterizado por elementos densos na produção e na composição. 

A segunda música de trabalho, “Abracadabra”, e as fotos de divulgação reforçaram a expectativa de que uma Gaga que não ouvíamos desde 2012 estaria de volta.

Apesar de as duas músicas serem pops completos, com refrãos marcantes, pontes poderosas e videoclipes completamente esquisitos, no melhor estilo Gaga, elas são apenas uma das muitas experimentações que o público encontrará no álbum.

Processo de edição manual com cacos de vidro e sobreposição de fotos no ensaio fotográfico do álbum.
Processo de edição manual com cacos de vidro e sobreposição de fotos no ensaio fotográfico do álbum. Fonte: Reprodução/MTLA Studio.

A faixa “Garden of Eden” evoca uma atmosfera dos anos 2000, com sintetizadores semelhantes aos de “Do Somethin’”, de Britney Spears. A repetição silábica no refrão se tornou uma marca da cantora, e ela usa esse recurso com maestria desde “Poker Face”, repetindo a estratégia aqui e em “Abracadabra”. 

Trechos como “Abracadabra, amor, ooh-na-na / Abracadabra, morta, ooh-ga-ga / Abracadabra, abra, ooh-na-na” e “I'll t-t-take you to the Garden of Eden” mostram como a combinação entre letra e interpretação resulta em uma teatralidade musical característica da nova-iorquina.

Ao contar sobre as inspirações para as canções, Lady disse à revista Elle: “Alternativo dos anos 90, electro-grunge, melodias de Prince e Bowie, guitarra e atitude, linhas de baixo funky, dance eletrônico francês e sintetizadores analógicos”. Isso pode ser ouvido com clareza em “Killah”, que conta com um sample de “Fame”, de David Bowie. A parceria com Gesaffelstein é extremamente divertida e brinca com os instrumentos e a voz da cantora.

Tudo isso foi levado à máxima potência na apresentação que fez no sábado (8) no programa SNL. Entre gritos, trocas de looks e coreografia no chão, a música ganhou vida.

O rock também aparece em “Perfect Celebrity”, na qual fala sobre um tema recorrente em sua carreira: a fama. Contudo, diferente de “Killah”, nessa faixa tudo é mais sombrio. Em “Engasgue com a fama e torça para ficar chapado / Sente na primeira fila, veja a princesa morrer”, ela menciona a não lançada “Princess Die”, uma música muito querida pelos fãs da era “Born This Way”. A Mother Monster confirmou a referência em entrevista para a Billboard.

A primeira música escrita para o álbum foi “Vanish Into You”, candidata ao próximo single. A faixa aparece com destaque nos materiais de divulgação e aborda o amor de uma perspectiva menos esperançosa  que “Die with a Smile”. Nessa e em várias outras canções, o vocal da artista surpreende pela potência e versatilidade. No podcast Las Culturistas, ela revelou que chegava a gravar mais de 50 takes cantando de diferentes formas até encontrar a versão perfeita.

Foto do encarte do álbum com Lady Gaga deitada no chão.
Foto do encarte do álbum. Fonte: Divulgação/Frank Lebon

“Zombieboy” já viralizou no TikTok com uma dança. A música, que havia sido apresentada no clipe de “Disease”, cativa pelo som oitentista, mas com o toque inconfundível da cantora. Afinal, quem mais poderia falar sobre flerte usando uma metáfora com zumbis?

“LoveDrug” e “Don’t Call Tonight” são mais tímidas em relação às outras faixas do disco, sem traços marcantes. Elas lembram o estilo explorado em “Summerboy” e “Disco Heaven”, do “The Fame”, seu primeiro álbum. 

Gaga revelou, na coletiva de imprensa realizada com fãs e o Spotify, que revisitou muitas demos antigas durante o desenvolvimento do projeto. Talvez por isso o álbum soe como um resgate às suas raízes nova-iorquinas, explorando sons do alternativo do começo do século — uma cena da qual a artista fazia parte. “How Bad Do You Want Me” segue a mesma linha, mas com um pouco menos de identidade, chegando até a ser comparada com músicas de Taylor Swift nas redes sociais.

No filme “Gaga Chromatica Ball”, sobre sua última turnê, a compositora divulgou uma prévia de “Shadow of a Man”. O que parecia ser um pop convencional revelou-se, na verdade, uma viagem ao universo de Michael Jackson. Em uma homenagem, ela se entrega à performance ao cantar frases como: “(Eu não quero desaparecer na escuridão esta noite) mostre-me a luz / (Eu não quero ser aquela que se sacrifica) para ganhar vida / (Estou chegando lá, estou chegando lá) me veja, eu juro que vou / Dançar na sombra de um homem” no estilo do Rei do Pop. 

Tudo isso, envolto em uma mensagem sobre mulheres na indústria que estão à sombra de uma figura masculina tomando seu lugar de respeito, torna a música apoteótica.

A lenta “The Beast”, na reta final do álbum, serve como um respiro antes da balada que vem a seguir: “Blade of Grass”. A faixa é uma carta de amor da artista ao noivo, Michael Polansky, e faz referência ao anel de compromisso do casal. 

Ao ser perguntada sobre como gostaria de ser pedida em casamento, Lady Gaga disse a Polansky que ele poderia simplesmente pegar um pedaço de grama e enrolá-lo em torno de seu dedo — e assim ele fez. No entanto, além desse gesto simbólico, a estrela também recebeu um anel de diamante avaliado em mais de 6 milhões de reais.

O noivo participou ativamente da construção do álbum e tem sido citado por Gaga em várias decisões. Ele está creditado em sete das letras do disco e, em “Blade of Grass”, ajudou a escrever o verso: “Eu vou te dar algo/ É, não é um anel de diamante/ O ar que eu respiro”. Além de ser um dos maiores incentivadores da popstar nesse lançamento, Michael vem ganhando popularidade entre os fãs, que o agradecem por apoiar a cantora. 

O encerramento acontece com “Die With a Smile”, definida pela V Magazine como um “clássico instantâneo”. O hit se tornou um dos maiores sucessos da década. Inicialmente, parecia não se encaixar muito nesta fase, por ser bastante diferente dos outros singles. No entanto, dentro da tracklist, é provado o contrário, sendo um desfecho digno para um trabalho coeso da diva. 

Caçadas Arriscadas e o passado Secreto de JJ, marcam a primeira parte da temporada
por
Annanda Deusdará
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06/11/2024 - 12h

A primeira parte da quarta temporada de Outer Banks chegou à Netflix no dia 10 de outubro de 2024, com cinco episódios. A série trata sobre um grupo de adolescentes que vivem em uma ilha e se tornam caçadores de tesouros perdidos, como El Dorado e Barba Negra. Além da ação, a trama também valoriza a amizade entre os personagens e os conflitos naturais da idade, como se apaixonar e relações conturbadas com os pais.

A última temporada acaba com os pogues voltando para Outer Banks, depois dos acontecimentos com o ouro encontrado na cidade de El Dorado, sendo celebrados pelo prefeito. Após isso, aparece um novo personagem que pede ajuda dos personagens para fazer uma investigação a partir do diário de bordo do Barba Negra, a música fica um pouco mais alta e os créditos sobem.

 

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A uma semana do lançamento da segunda parte da 4 temporada, Outer Banks segue no top 10 - Foto: Reprodução/Netflix 

Na 4° temporada, a história volta 18 meses antes do encontro com Wes Genrette. O grupo volta à cidade após encontrar um pacote de ouro, que equivale aproximadamente a 1 milhão e 770 mil dólares e fazem aquisições para levarem uma vida normal enquanto administram uma loja de pesca, surfe e passeios de barco, que apelidaram de Poguelândia 2.0, mas acabam sendo envolvidos em novos problemas e mais aventuras: uma tempestade queima os fusíveis, o que põe em risco a principal fonte de renda. 

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Poguelândia 2.0, grupo posando em frente à loja de surfe - Foto: Reprodução/Netflix

 

Em uma tentativa desesperada, JJ decide apostar o pouco ouro que sobrou nele mesmo em uma corrida de motos, Rafe faz de tudo para atrapalhar e eles perdem o dinheiro (US$ 20 mil). Sem reserva, eles precisam pagar US$ 13 mil de impostos em sete dias. Nesse meio tempo o jornal local escreve sobre o grupo, o que os leva a ser premiados pela prefeitura e a história retorna ao mesmo lugar em que termina a temporada anterior.

No segundo episódio, o objetivo da nova busca se esclarece, um amuleto que seria capaz de quebrar a maldição que assombra a família Genrette há 300 anos, causando mortes violentas aos descendentes que assinaram o Barba Negra, incluindo a filha de Wes (Larissa), este que está disposto a pagar 50 mil mais as despesas e 5 mil adiantado pelo trabalho. 

Sem ter para onde correr eles aceitam, apesar do desafio de ir até um navio a 30 m de profundidade, sem coordenadas precisas e localizado na área da guarda costeira. Em meio a tudo isso a situação deles piora, o zoneamento da Poguelândia 2.0 irá mudar, o que vai exigir mais dinheiro para manterem o lugar.

A busca pelo amuleto se torna cada vez mais urgente e eles se organizam para realizar de noite. Kiara e JJ mergulham no navio do Barba Negra, no entanto eles não eram os únicos atrás do artefato, outro mergulhador os encontra e tenta matá-los. Embora eles tenham recuperado o amuleto, ambos sofrem de mal de descompressão e precisam ir para o hospital. 

Enquanto isso, os outros vão até a Ilha Golf (casa do Wes) e ao chegarem lá encontram o Xerife Shoup,descobrindo que o Sr. Genrette foi morto na noite da busca e agora eles se tornam suspeitos do assassinato.

No hospital, JJ e Kiara encontram o homem que tentou matá-los na noite anterior, desesperados eles fogem do local e roubam a ficha médica para tentar encontrá-lo. Enquanto isso, Sarah e John B se esforçam para descobrir o que está escrito no amuleto e que pistas ele contém. Cleo é sequestrada pelo corsário que estava atrás do tesouro, ação bem criticada pelos fãs que alegam um enfraquecimento da personagem.Pela primeira vez é retratado o passado de Sofia, personagem que ingressou na terceira temporada e agora recebeu um foco maior.

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Sofia (Fiona Palomo),ouvindo o Rafe dizer para os amigos que não assumiria ela - Foto: Reprodução/Netflix

No quarto episódio vemos o retorno do Terrance, que está trabalhando para o grupo adversário dos pogues, entretanto o personagem faz todo o possível para manter Cleo viva, a qual ele considera como filha. Alheios a tudo, o grupo vai surfar na praia e entra em conflito com os Kooks, enquanto Pope tenta decifrar o enigma presente no artefato achado no navio. Feita de refém e ameaçada de morte, Cleo é obrigada a entregar o amuleto para os bandidos, mas a tensão aumenta quando ela percebe que o objeto não está na casa, para tentar salvá-la,Terrence luta com o bandido e acaba morto.

Seguindo a tradição, o último episódio (até dia 7) apresenta 1h de duração, vinte minutos a mais que os anteriores. De forma inconveniente, Shoupe chega na residência dos personagens atrás de JJ, devido a um vídeo em que ele aparece ameaçando os Kooks. O problema é que eles têm um corpo no meio da sala, o que os leva a tomar uma decisão urgente: ou contar a verdade ou se livrar das provas.

Devido ao histórico deles com o Xerife, os personagens optam pela segunda opção. Com o problema financeiro ainda em pauta, o grupo decide ir para Charleston para achar o tesouro escondido por Barba Negra e quitar suas dívidas. Após receber uma carta escrita por Wes antes de morrer, JJ fica para trás para procurar seu pai e esclarecer algumas questões, o que acaba entregando um dos maiores plot twists da série: JJ não é um Maybank e sua mãe biológica é a Larissa Genrette, o que o transforma em um Kook (elite de Outer Banks), grupo de pessoas que ele sempre criticou.

Em Charleston, Sara e Pope passam por apuros na procura do tesouro, ao ficarem presos em uma tumba, Cleo reencontra o responsável pela morte de Terrance e tenta matá-lo, porém ela quase é morta e John B o segue para terminar o trabalho da amiga. Quando o personagem mira no assassino de Terrance, a lembrança de seu pai vem à tona, e o público observa John B lutando para não se tornar o próprio pai. 

O uso de filtros na série e a construção dos personagens são fatores de destaque. Apesar de acontecer nas outras temporadas, nessa todas as cenas noturnas externas são extremamente azuis e as internas não sofrem alterações. Outro ponto importante, foi o início do arco de redenção de Rafe Cameron, com mais de uma cena dele afirmando que pretende fazer as pazes com sua irmã (Sarah Cameron) e discordando de atitudes de alguns Kooks, além de que, no trailer da segunda parte - que será lançada em breve -, o personagem aparece junto com os Pogues

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JJ Maybank (Rudy Pankow), em uma cena externa a noite - Foto: Reprodução/Netflix

Alguns personagens ainda não retornaram nessa temporada e isso foi notado pelos fãs, entre eles estão a Wise Cameron, Rose Cameron (só aparece a sua voz mas não a atriz) e o Barry (que é citado por JJ).

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Tweets sobre a ausência do personagem Barry - Foto: Reprodução/Twitter

Agora, os fãs aguardam a segunda parte da temporada, que será lançada no dia 7 de novembro, às 4h da manhã no Brasil. Com mais cinco episódios, a temporada será concluída com um total de 10 capítulos.

Gigantes do pop surpreendem público com parceria inédita
por
Khauan Wood
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06/09/2024 - 12h

Lançado em 16 de agosto, o single ‘Die With A Smile’ - ‘Morra Com um Sorriso’, em tradução livre - trouxe pela primeira vez a parceria da dupla no cenário musical. Os indícios  do dueto vieram desde o início da semana do lançamento, quando ambos fizeram postagens em suas redes sociais usando camisetas com o nome e rosto do outro.

Com uma sonoridade envolvente e emocionante, a música romântica traz uma mistura de pop, soul e folk. Nenhum dos dois economizou nas exibições vocais e na interpretação cênica da letra, que retrata a importância de pequenos momentos e como não estamos preparados para despedidas, principalmente quando se tem amor envolvido. A letra ainda relata que, no fim do mundo, o casal tem a intenção de estar junto para morrer com um sorriso, daí o trecho que dá nome à canção.

O casal retratado no eu-lírico da canção mostra uma paixão mútua intensa, algo que Gaga e Bruno demonstram de forma ímpar em sua exibição e trazem ao público uma apoteótica química, o que nos mostra o motivo de serem um dos maiores sucessos atuais na música internacional.

O clipe da música traz os dois ao centro de um palco do que seria um programa de televisão americano dos anos 1970. Bruno com uma guitarra e Gaga com um teclado, ambos com roupas combinando em tons de azul e vermelho, ela ao melhor estilo Dolly Parton e ele com um figurino que se assemelha a um cowboy forasteiro.

Essa parceria não poderia render números baixos. O clipe tem mais de 50 milhões de visualizações no YouTube, já no Spotify são cerca de 65 milhões de streams, estando no top global da plataforma por duas semanas consecutivas. A música também figura no ranking Hot 100 da revista Billboard desde o seu lançamento, ocupando atualmente a sexta colocação.

Em resumo, os artistas dão ao público uma experiência única ao ouvir o single, uma interpretação diferente do que costumam lançar. Cada trecho dos quatro minutos e doze segundos vale a pena, tanto para quem está apaixonado, quanto para quem vivenciou uma desilusão amorosa, ou só para quem  apenas deseja ouvir uma boa música.

Clique aqui para ouvir a música completa:

Livro septuagenário explora o interno do homem contemporâneo
por
Maria Eduarda Camargo
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20/09/2023 - 12h

 

"Existe a expressão ‘pária’, que no mundo dos homens é utilizada para se referir a pessoas derrotadas, miseráveis ou perversas. Mas sinto como se eu fosse um pária desde o momento em que nasci."

 

É assim que Dazai, ou seu alter ego Yozo, descreve a si próprio. Nascido em 1909, no interior do Japão, Shūji Tsushima – mais conhecido por seu pseudônimo Osamu Dazai – é reconhecido por ser um dos maiores escritores da literatura japonesa no século XX. Tendo uma vida curta, o escritor acabou não finalizando sua última obra, “Guddo bai”, ou “Adeus” em português. Sua obra mais conhecida, escrita nos últimos anos de vida, “Declínio de um homem”, aborda sua obsessão com o suicídio, além de suas complicadas relações com mulheres – em virtude dos abusos que sofreu quando criança.

Retrato fotográfico do autor Osamu Dazai
Retrato tirado do autor Osamu Dazai em 1948. Foto: Shigeru Tamura.

 

Durante as 148 páginas, Dazai sangra suas tripas entre as linhas de um estudante de artes em Tóquio, Yozo. Ele relata, por meio do alter ego, os problemas que enfrenta com a bebida e, mais tarde, morfina, além do que ele chama de "uma tristeza doente". E na efemeridade da tristeza é onde mora o bucólico brutal e descritivo de Dazai – seu poder de descrever algo que, naquela época, não se entendia: a depressão. Ele vê seu mundo cair por diversas vezes, fruto dos próprios atos (ou o que julga que sejam) e revolve-se em um redemoinho de solidão sem fim e sem escapatória. 

O personagem se envolve com diversas mulheres, que parecem intensificar seu modo de vida moribundo cada vez mais. Dentre prostitutas e bebidas, o que degringola o livro – e que pode ser considerado um clímax dentro de si mesmo – é a tentativa de suicídio duplo do personagem com uma garçonete de restaurante que ele conhece ao longo da trama, da qual apenas ele acaba sobrevivendo. Após ser indiciado pela cumplicidade ao suicídio, Yozo se vê preso mais uma vez na própria vida, vítima de um sentimento de inutilidade e de atrapalho que o circunda de todas as maneiras.

Existe, na literatura do autor, um certo aconchego na tristeza, que nos motiva como leitores a entrar na mente do personagem e compreendê-lo. Dazai vê na tristeza algo como um conforto sórdido; talvez até mesmo uma maneira de lidar com as adversidades que enfrenta e com os traumas pelos quais passa. É meio como a picada da anestesia, um amortecedor para a única certeza inevitável: a morte.

 

“A ideia de morrer não me incomodava, mas tinha horror da possibilidade de me ferir, perder sangue, tornar-me aleijado ou coisas do gênero”.

 

A leveza com que o autor declara seu desprezo pela vida – na linha tênue da aceitação da própria morte e do desgosto – nos leva a questionar, por muito, as relações sociais que cultivamos e a individualidade no modo de se enxergar a vida. É como um sapo que ferve lentamente em uma panela d’água e que só repara que vai morrer quando já é tarde demais. E nessa tristeza doentia e congênita que o autor se conforta, a alergia pela felicidade – como uma língua estrangeira, uma incapacidade de absorver qualquer emoção positiva. 

 

“É que os covardes temem até mesmo a felicidade”.

 

O que faz a literatura de Dazai atemporal – mesmo 75 anos após a publicação do livro – é justamente o exercício de descrever o mais profundo e primitivo dos sentimentos. Mudam-se as palavras; trocam-se os olhos, a língua, as mãos; remodelam-se os trens, ônibus, carros; as vestes, os sapatos; transmuta-se tudo: ainda nos sobra a inerente e inata tristeza de carregar o fardo de ser humano.

Pioneiro do ‘True Crime’, programa da Globo está de volta em meio à ascensão do gênero no país
por
Lais Romagnoli
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28/06/2023 - 12h


Tendo tido seu auge no fim dos anos 90 e início dos anos 2000, quando foi líder de audiência, o programa “Linha Direta” voltou a ser exibido no dia 4 de maio pela TV Globo. Apresentado originalmente pelo jornalista Domingos Meirelles, o programa abordava casos criminais e sobrenaturais com um tom sombrio que permanece até hoje no imaginário dos telespectadores.


Inspirado em atrações americanas, como “Yesterday” e “The Unsolved Mysteries”, Linha Direta se tornou um sucesso ao misturar a realidade com a encenação de fatos. Por mais de uma década, prendeu a atenção do público com uma linguagem clara e elementos de suspense.

Comandada pelo jornalista Pedro Bial, a nova versão propõe exibir ocorrências policiais que repercutiram nacionalmente, retratando os acontecimentos com simulações e entrevistas. Além de abordar o desfecho judicial dos casos, no fim de cada episódio, imagens de foragidos pela justiça serão divulgadas.

No dia em que Eloá completaria 30 anos, o programa de estreia exibiu a tragédia que resultou na morte da jovem. O sequestro, que durou aproximadamente 100 horas, é um dos exemplos mais conhecidos de sensacionalismo midiático, um dos principais pontos abordados por Bial.

Além da reconstituição, reportagens da época e entrevistas com especialistas são fundamentais para o entendimento do impacto da imprensa sobre o caso. Ligações de apresentadores para o sequestrador, atuando como negociadores sem o mínimo preparo, e a transmissão do cárcere em tempo real são apresentados como fatores contribuintes para o trágico desfecho de um dos casos de feminicídio mais famosos do país.

Em entrevista à revista CartaCapital, a cineasta e pesquisadora Lívia Perez, diretora do documentário “Quem matou Eloá” (2015), opinou sobre a cobertura jornalística do caso: “Houve uma postura muito machista por parte da imprensa, que enalteceu a personalidade do criminoso e romantizou o tipo de crime”. A diretora afirmou que esse comportamento midiático colabora nos altos índices de casos de violência contra a mulher.

O segundo episódio de “Linha Direta” exibiu um caso que chocou a Paraíba, a invasão a uma festa de aniversário que resultou no estupro coletivo de cinco mulheres e no assassinato de duas delas. Após as investigações, concluiu-se que tudo havia sido planejado pelo aniversariante e seu irmão, com o intuito de abusar sexualmente das convidadas da festa.

Buscando por culpados, familiares das duas vítimas fatais seguiram a crença popular e colocaram uma moeda debaixo da língua dos cadáveres para que os corpos sangrassem se o assassino estivesse por perto. assim feito, com a presença dos próprios no velório, os corpos de Izabella e Michele sangraram. O momento, retratado no “Linha Direta”, repercutiu nas redes sociais.

Uma das entrevistadas foi a irmã de Izabella, Ismênia Monteiro, que mesmo receosa decidiu se manifestar. "Eu não queria estar aqui, fazendo isso. Eu sei que de alguma forma expõe demais. Expõe a minha imagem. Me deixa de certa forma insegura. Mas neste momento eu não posso silenciar pelo meu sangue que foi derramado.”

O terceiro episódio contou a história de luta de um pai por justiça: o caso Henry, que impactou o país pela frieza da mãe e do padrasto do menino de apenas 4 anos. Ao ser entrevistado por Bial, o pai de Henry, Leniel, narrou detalhadamente o fim de semana fatídico e contou como tem sido sua vida após a tragédia. Lenielfundou a Associação Henry Borel, instituição com foco na proteção de crianças e adolescentes no Rio de Janeiro.

Simulando situações de violência à criança, o programa expôs a omissão da mãe, Monique, e a violência do padrasto, Jairinho. Além da troca de mensagens entre Monique e a babá de Henry, vídeos antigos mostraram lesões supostamente causadas pelo padrasto, em episódios anteriores à tragédia.

Com o processo ainda em curso, a Justiça do Rio censurou o episódio, preocupada com a exibição em canal aberto e a reação do júri popular. Entretanto, o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), derrubou a medida e o “Linha Direta” exibiu a reconstituição daquela noite. Ainda enfatizou a luta do pai do menino, responsável pela aprovação da Lei Henry Borel, que tornou o homicídio de menores de 14 anos um crime hediondo.

 

O 2° disco de estúdio da artista constrói um novo repertório com sonoridade tipicamente brasileira, refletindo sua busca por religiosidade, amores e raízes ancestrais
por
Romulo Silva Santana
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17/05/2023 - 12h

"Maré de Cheiro" o segundo disco de estúdio da carioca Amanda Magalhães, conta com 8 faixas e foi lançado na última quarta (10), nas plataformas digitais. O disco transborda as expectativas criadas pelos visuais de divulgação. É escrito e produzido por Amanda e o engenheiro de som Tuto Ferraz. Conta com colaborações de Vico, Assucena, Lurdez da Luz, As Filhas de Baracho e da Banda Black Rio, fundada pelo avô da artista. O projeto é lançado com o selo "Boia Fria Produções" e conta com apoio da 5ª edição do programa de fomento à música do município de São Paulo.

Amanda representando Oxum
Amanda representando Oxum, deusa das águas. Imagem: Renato Stockler/Livia Mariah/Lydio Alexander. Reprodução Instagram

Amanda, 31 anos, ganhou destaque como atriz na série "3%", produção brasileira da Netflix. Formada pela Escola de Arte Dramática da Universidade de São Paulo (EAD-USP), começou sua carreira musical em 2018 com o single “Fazer Valer” com Rincon Sapiência e mais tarde em 2020, lançou “Fragma” seu primeiro disco autoral.

O projeto “Brasil em Brasa” do qual a gravação faz parte, foi contemplado pela 5ª edição do programa de fomento à música do município de São Paulo. Esse programa fomenta a criação de obras musicais, que serão apresentadas em centros culturais, por essa razão, a musicista fez apresentações gratuitas na Casa de Cultura do Campo Limpo e no Teatro Sérgio Cardoso.

Imagem: Renato Stockler/Livia Mariah/LydioAlexander - Reprodução Instagram
Amanda deitada na praia com um varal de roupas ao fundo. Imagem: Renato Stockler/Livia Mariah/Lydio Alexander. Reprodução Instagram

 

Composto por 8 faixas, o álbum é construído por uma produção intimista, com a proposta de apresentar o amadurecimento musical da artista. A gravação busca referências brasileiras de norte a sul, mescladas por elementos de música eletrônica. O repertório tropical tem instrumentação potente e vocais bem trabalhados, cheios de camadas e texturas, descrito por Amanda como "minha mais doce pira de verão" em publicação no seu Instagram.   

A faixa “Doce Encanto”, na qual Amanda evoca afetividade, amor e a guia Oxum, rainha das águas doces, inicia o álbum. O lead-single é a faixa principal do projeto e já conta com videoclipe.

Amanda  constrói um repertório novo, que fala sobre amor, ancestralidade e religiosidade de forma expressiva, bem construída e fiel a seus próprios sentimentos. A versatilidade encontrada nas canções é surpreendente, a diversidade identitária é construída faixa a faixa, como em “Queria te Ter”, onde os vocais da artista são mais inerentes, ou em “Com Ela Eu Vou”, colaboração com a Banda Black Rio, que encerra o disco em alto-astral.  


 

 

Mesmo depois de muitas décadas, o machismo continua presente em todos os âmbitos da vida humana
por
Bruna Galati e Letícia Galatro
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22/06/2021 - 12h

Por Bruna Galati e Letícia Galatro

A sociedade brasileira foi criada sob um viés machista, que acredita na superioridade masculina. Um dos primeiros traços da desigualdade aparece na educação, quando apenas na reforma educacional pombalina (1759) ocorreu a primeira tentativa de introduzir o ensino para as mulheres. Devido a esse tipo de pensamento preconceituoso, pessoas do gênero feminino vêm sofrendo há décadas.

 

As discriminações ocorrem de diversas formas, desde serem rebaixadas e diminuídas para servir e depender dos homens até serem agredidas fisicamente e virarem vítimas de feminicídio. O machismo enraizado se estende a todas as áreas da vida. Seja nas relações interpessoais, no acesso aos direitos fundamentais dos cidadãos ou nas ofertas de cultura e trabalho. 

 

Durante muitos anos a figura feminina foi proibida de trabalhar e estudar, sendo responsável pelo cuidado da casa e criação dos filhos. Embora a Lei de 15 de outubro de 1827, conhecida como Lei Geral, tratou de diversos assuntos, como a remuneração dos mestres, o currículo mínimo, a admissão de professores e as escolas para meninas. No entanto, as mulheres seguiram sendo discriminadas. Nem todas matérias eram ensinadas para elas, sobretudo as consideradas mais racionais, como geometria, e no lugar deveriam aprender as "artes do lar". 

 

Apenas durante a Primeira Guerra Mundial, por necessidade, as mulheres entraram no mercado de trabalho para exercerem o cargo de enfermeiras. O pós conflito, obrigou muitas delas a buscarem um emprego formal, como condutoras de bondes, garçonetes em cafés, funcionários de correio, etc, já que quem sustentava a casa havia morrido em combate. As condições de tratamento nesses ambientes eram péssimas e mesmo trabalhando muito, os salários eram escassos. Até hoje, em pleno 2021, mulheres ainda encontram dificuldades para alcançar posições de destaque e ganhos mensais iguais aos homens. 

 

Por mais que muitos avanços venham ocorrendo, algumas profissões como a de policial, ainda reforçam ações retrógradas. Patrícia Sales conta que quando entrou na polícia a 26 anos atrás, mulheres ficavam restritas às áreas administrativas. Isso só mudou em 1999. Mesmo assim, algumas situações machistas continuam acontecendo. 

 

https://soundcloud.com/leticia-galatro/rua-da-patria-2

 

Pior do que a falta de conhecimento, é ser tratada como idiota e se sentir impotente. Situação que Morgana Weber, estudante e profissional da área de TI, vivenciou diversas vezes no ambiente de trabalho.  Ela escolheu trocar de roupa para não ser assediada, sem contestar que isso não tinha a ver com o que usava. Weber se sentiu frustrada quando seu chefe desenhou caminhões para explicar que a função deles era levar objetos de um lugar para o outro, sendo que ela havia perguntado algo sobre softwares.

 

https://soundcloud.com/leticia-galatro/whatsapp-audio-2021-04-22-at-150423-1

 

A falta de imposição de Weber pode ter acontecido por diversos motivos, mas o que ocorre com muitas mulheres é que elas não acreditam na força das suas vozes. Existem mulheres que tiveram oportunidade de crescer profissionalmente, mas a dificuldade de se expressar, de usar uma voz fraca e soar insegura na hora de resolver questões, foram grandes desafios em suas trajetórias. 

 

Um dos maiores ataques a voz da mulher aconteceu no nascimento da Inglaterra moderna, onde o termo "gossip", atualmente traduzido como "fofocar", que antes indicava amizade entre as mulheres, virou o posto e resultou na destruição da sociabilidade feminina.

 

No século XVI, a posição social das mulheres começou a se deteriorar e veio no lugar a guerra contra mulheres, especialmente das classes baixas, que costumavam ser acusadas de bruxaria e agressões contra esposas tidas como "rabugentas" e dominadoras. Nesse mesmo período, o significado bom de "gossip" começou a mudar, cada vez mais designando a mulher envolvida em conversas fúteis. 

 

Na Idade Média tardia, uma esposa ainda poderia confrontar seu marido, mas no fim do século XVI, ela poderia ser punida por apenas levantar a voz ou fazer críticas em relação a ele. A punição era usar a rédea ou freios das rabugentas, uma engenhosa sádica de metal e couro que rasgaria a língua da mulher se ela tentasse falar. 

 

Tratava-se de uma estrutura de ferro que circulava a cabeça, um bridão (utilizado em cavalos) de cinco centímetros de comprimento e dois centímetros e meio de largura projetado para dentro da boca e voltado para baixo sobre a língua, sendo impossível de falar. Muitas vezes, o instrumento era chamado de "gossip bridle", mostrando a mudança no sentido da palavra.

 

Esse foi apenas um exemplo resumido de alguns acontecimentos que impediam a mulher de ter sua própria voz, suas amizades e não depender de ninguém. É claro que nos dias atuais, a "gossip bridle" foi aposentada, mas as formas psicológicas de calar as mulheres ainda existem. 

 

Se a mulher cresce em uma família que a trata como um ser frágil, que precisa ser superprotegido do mundo perigoso, ela terá uma voz infantilizada ou existem criações que não reconhecem a liderança feminina e a mulher é adjetivada durante a vida como teimosa, briguenta, bocuda, mandona, etc, neste caso a voz perde sua potência e brilho. 

 

O Instituto Converse citou um exemplo desse acontecimento, uma mulher, com 38 anos, chegou com queixas de que seus funcionários não aceitaram suas ordens. Ela ocupava a chefia de um departamento na secretaria e a sua voz era "presa na garganta", quase sem projeção no ambiente. Ela não permitia a sua imposição, mesmo com a sua formação acadêmica, sendo a melhor entre todos os funcionários, o que por si só já facilitava uma postura de se impor. A pesquisa mostrou que no seu histórico familiar havia uma figura de um pai autoritário que não deixava as meninas da casa falarem. Através de exercícios vocais, em pouco tempo a insegurança foi colocada de lado e ela perdeu o medo de se posicionar com uma voz firme, argumentar suas necessidades, desejos, ideias e paixões.  

 

Trabalhando a autoconfiança, as mulheres conseguem se posicionar na sua vida profissional e é claro pessoal, mas o que acontece quando dentro do mercado de trabalho existe uma desigualdade de oportunidades e reconhecimento constante? Exercendo a mesma função de um homem, a mulher ainda ganha cerca de 70% do salário do homem. 

 

 

Infelizmente, cenários como esse no qual a profissão é predominada pela presença masculina e os tratamentos são feitos de formas diferenciadas são mais comuns do que deveriam. Um exemplo claro disso é o ramo da aviação civil. Segundo dados da Anac, dos mais de 70 mil profissionais de aviação com licenças ativas em 2018, contando comissários, pilotos e mecânicos, apenas 13% eram mulheres. Ao analisar apenas as mulheres presentes no setor de manutenção, o número cai para 3%.

 

Gregory Fabbri, piloto formado em 2020, conta que essa diferença discrepante pode ser notada desde a faculdade, onde a sala era majoritariamente formada por homens, assim como o grupo de docentes. O ambiente intimidador era reforçado por comentários machistas, que os próprios professores encaravam como piadas. 

https://soundcloud.com/leticia-galatro/gregory-reportagem

Nessa mesma área, podemos analisar o machismo por um outro lado. Iara Calegari, comissária a mais de 10 anos, conta que a sua profissão ainda é vista como o lugar ideal apenas para mulheres, que são maioria no setor. Essa ideia parte do pressuposto de que a figura feminina é a que deve servir e cuidar. Tal cargo surgiu da enfermagem, uma vez que devido a falta de tecnologia, os aviões vibravam muito e causavam náuseas nos passageiros. Porém, além de cuidar daqueles que estivessem passando mal, as profissionais ainda tinham e seguem tendo que se preocupar com os padrões estéticos impostos por cada companhia aérea. 

https://soundcloud.com/leticia-galatro/audio-iara

A verdade é que mesmo com as evoluções promissoras das últimas décadas, mulheres continuam sendo discriminadas das mais diversas formas em todos os espaços. Isso acontece porque como as sociedades vêm sendo criadas sob um viés machista a milênios, alguns pensamentos e ações estão tão naturalizados e enraizados na educação que fica difícil perceber a problemática em volta da questão.

Uma solução prática para resolver a começar a resolver o problema e alcançar a equidade é dar oportunidades para as mulheres alcançarem espaços de poder, seja em cargos públicos, nos mais diversos trabalhos ou sendo uma voz ativa de grande relevância para seu meio. Essas instituições são um reflexo da organização social na qual se encontram inseridas, mas ao contrário também é verdadeiro. É possível que com essas ações mais pontuais e efetivas alcancem e alterem toda a filosofia de vida de uma sociedade. 

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