Em meio a pandemia de coronavírus e a insatisfação com o governo federal, manifestações presenciais ocorreram em diversas regiões do Brasil. De acordo com Alessandra Lopes Camargo, mestra em Ciência Política, “As manifestações fortalecem nossa democracia”. No entanto, profissionais da saúde afirmam que aglomerações devem ser evitadas durante a pandemia.
A atual gestão do governo de Jair Bolsonaro, principalmente sobre as declarações relacionadas ao combate do coronavírus e o descaso com o crescente número de vítimas da doença, gerou insatisfação popular e resultou em protestos por todo o país. Grupos de manifestantes organizaram atos presenciais antifascismo e contra o Presidente da República no domingo, 7 de junho. Entretanto, grande parte da população acostumada a frequentar manifestações optou por permanecer em suas residências, seguir a quarentena e protestar remotamente.

Mestra em Ciência Política pela UNICAMP (Universidade Estadual de Campinas), a professora Alessandra Lopes Camargo compreende a importância histórica das lutas antifascismo como essenciais na consolidação da democracia.
“Do ponto de vista histórico, há um fortalecimento da democracia, resultado de resistência ao fascismo de anos anteriores, na metade do século XX. Foi o momento da história em que mais se construíram tratados internacionais de defesa de elementos democráticos”, afirmou a professora.
Camargo também explica a necessidade de atos antifascismo, remotamente ou presencialmente, nos dias atuais para garantir a preservação do Estado Democrático de Direito.
“Atualmente, não temos um governo fascista. Para ter um governo fascista seria necessário ter um partido único, a censura completa da imprensa e uma legislação autoritária. Porém, o atual governo brasileiro, muitas vezes, possui várias atitudes autoritárias e antirrepublicanas”, disse a mestra.
“As manifestações são uma forma de prevenir o desenvolvimento do fascismo que, assim como mostra a história, não acontece da noite para o dia”, completou.
Atos presenciais foram marcados dentro do período pandêmico, em que a quarentena ainda é recomendada pelas Secretarias de Estado de Saúde e pela OMS (Organização Mundial da Saúde). Muitos brasileiros encontram-se dentro de um dilema, pois, ao mesmo tempo em que querem protestar, temem por contrair o vírus e desenvolverem uma complicação de saúde ou contribuir para a sua disseminação.
O otorrinolaringologista, Dr. Paulo Sérgio Dal Secco, formado em medicina pela PUC-Campinas (Pontifícia Universidade Católica de Campinas), alerta sobre os riscos de exposição ao COVID-19 em protestos e locais de aglomeração.

“Por ser uma doença de caráter viral, ela se dissemina muito rápido, porque os meios de disseminação são ações que realizamos a todo o momento, como respirar, falar, tocar, tossir e espirrar. E o que dizer de uma aglomeração de tal vulto? Por mais que as pessoas usem proteções, como a máscara, a virulência naquele ambiente é muito elevada”, disse o médico
“Apesar da validade de uma manifestação, independente do lado político, acho que, por ora, deve-se tentar evitar esse tipo de evento”, recomendou.
Dal Secco explica que indivíduos que não compõem o grupo de risco também estão vulneráveis a um desenvolvimento de uma complicação da doença e reforça a importância de evitar locais aglomerados durante a pandemia.
“Pessoas entre 20 e 40 anos não fazem parte deste grupo em primeira mão. Há várias condições clínicas, como doenças respiratórias, que podem levar a uma complicação. Inclusive, houve muitos óbitos de uma faixa de idade não esperada. Por isso, acho que é necessário se atentar a esses detalhes e evitar a exposição ao máximo que puder, dentro de um bom senso”, concluiu.

O Parasita
“Como todos os parasitas, [o capitalismo] pode prosperar durante certo período, desde que encontre um organismo ainda não explorado que lhe forneça alimento. Mas não pode fazer isso sem prejudicar o hospedeiro”, essas são palavras retiradas do livro Capitalismo Parasitário, escrito pelo filósofo e sociólogo polonês Zygmunt Bauman.
Com a ascensão da Cultura Ostentação em 2008, as comunidades periféricas mostraram-se organismos bem receptivos ao capitalismo parasitário e, na esperança de sentirem-se incluídas na sociedade, cometeram o deslize de, sem saber, tornarem-se involuntariamente mercadorias.
Quando se vive às margens das cidades e parece que ninguém te vê ou escuta, há o desejo eminente de romper com a paralisia e fazer-se notável. “O pobre é forçado a uma situação na qual tem de gastar o pouco dinheiro ou os poucos recursos de que dispõe com objetos de consumo sem sentido, e não com suas necessidades básicas, para evitar uma possível exclusão social e evitar a perspectiva de ser provocado e ridicularizado”, trecho retirado do livro Vida para o Consumo, também de autoria de Bauman.
Mas não basta consumir: para não sumirem novamente em meio ao mar de gente, há a necessidade de criar uma identidade e um estilo de vida que os diferenciem das demais mercadorias expostas nas vitrines.
Desencontros
Na corrida pela sensação de pertencimento, aquele que foi humilhado vai usar o consumo para sentir-se acolhido e aceito, mas corre-se o risco de idealizar um mundo fictício incompatível com o modelo de vida e as limitações da periferia, principalmente num país em que a metade da população mais pobre, cerca de 104 milhões de brasileiros, vive apenas com 413 reais mensais, de acordo com dados do IBGE.
Nessa corrida que nunca tem fim, nem linha de chegada, porque a economia consumista lucra com as diferentes mercadorias produzidas e posteriormente descartadas, o que prevalece é o desejo de substituir o que se tem por bens novos e atualizados. Em consequência, os indivíduos acabam carregando não apenas o peso de dívidas exorbitantes – 63,2 milhões de brasileiros possuem dívidas atrasadas, de acordo com o Serasa – mas também de frustrações e desencontros.
A realidade nos mostra indivíduos cada vez mais descontentes e infelizes, à procura de algo que lhes traga satisfação, consumindo num ciclo sem fim: comprar, descartar e substituir, sem priorizar as necessidades.
É nesse impasse que muitas vezes ocorre a inversão de prioridades, pois devemos decidir entre quais necessidades atender: a de aderir à um plano de saúde, consertar a goteira no teto da sala, a infiltração na parede do quarto ou o sentimento de pertencimento que muitas vezes vem mascarado na imagem de um celular ou televisão do ano, por exemplo. O capitalismo nos induz a consumir e gozar sem cessar por itens que não podemos pagar, derivando parcelamentos, empréstimos e endividamentos absurdos.
Horizontes NoFront
NoFront é uma empresa focada no empoderamento financeiro voltada para negros e negras subrepresentados no mundo das finanças. A ideia surgiu para traduzir as fórmulas difíceis e complicadas dos investimentos às vidas periféricas usando o RAP como instrumento.
A NoFront surgiu a partir da análise do legado das mulheres negras do Brasil do século XIX. “Lavadeiras, costureiras, quituteiras e domésticas. A história das mulheres negras no contexto anterior a abolição nos traz muitas narrativas de trabalho e superação. Organização coletiva que conquistava não só a liberdade individual, mas também coletiva. Nosso objetivo é resgatar essa disciplina, essas práticas em relação ao dinheiro, através da educação financeira e do Hip-hop”, observa a economista Gabriela Mendes Chaves, em trecho retirado do site da empresa.
Atravessando horizontes sobre o que é ser negro numa sociedade excludente e racista à táticas para não usar o consumo como uma escapatória e sim de forma responsável e consciente.
Desde o nascimento, somos condicionados a seguir padrões pré estabelecidos pela sociedade referentes ao nosso sexo biológico: masculino ou feminino.
Na infância, a regra geral é se comportar de acordo com ele. No entanto, quando não há identificação com o sexo de nascimento, isso pode ser insuportável - o que leva a uma jornada em busca de uma forma de se sentir bem dentro do seu próprio corpo.
O documentário a seguir relatou a história de três homens transexuais e suas dificuldades ao enfretar o papel de pai dentro da cidade.
As hamburguerias cada vez mais ganham espaço no gosto paulistano. Nos últimos anos, houve um crescimento muito grande no número de restaurantes especializados em hambúrgueres, sejam eles gourmets, artesanais ou smashs. Mesmo com esse boom, as hamburguerias tradicionais não perderam espaço. Muito pelo contrário, elas souberam se reinventar para concorrer de igual para igual.
O Contraponto Digital visitou quatro hamburguerias mais tradicionais e outras quatro mais modernas e experimentou alguns dos melhores hambúrgueres de cada restaurante. Nesta review, você encontrará informações sobre os ambientes, opções do cardápio e preços das oito hamburguerias analisadas.
TRADICIONAIS
Joakins
Se é tradição que você procura, o Joakins está no topo do ranking. Inaugurada em 1965, seu cardápio é o mais democrático. O restaurante tem de tudo. Hambúrgueres, beirutes, omeletes, panquecas, saladas e outras variedades que preenchem o cardápio. Nos reservaremos aos hambúrgueres aqui.
O preço, comparado a outras hamburguerias do mesmo estilo, como The Fifties e Milk & Mellow, é razoável. O clássico Cheese Salada (hambúrguer de 120g, queijo, alface, tomate verde e maionese da casa) custa R$ 27,30. A disposição dos ingredientes que compõem o lanche nem sempre é realizada da melhor maneira. A carne quente murchou a salada trazendo um toque de amargor ao lanche.
A casa também conta com um hambúrguer vegano, o Veggie Kin's. Composto por hambúrguer de cogumelos, queijo branco, tomate, rúcula, molho de mostarda e pão de hambúrguer integral, o lanche pode até surpreender, mas a surpresa fica no cardápio. Falta suculência ao lanche.
A opção mais barata é o hambúrguer no pão (R$16). O ambiente te faz voltar aos anos 60 e é super agradável. O Joakin's Hamburger fica localizado na Rua Joaquim Floriano 163, no Itaim Bibi.
Lanchonete da Cidade
Desde o momento em que a Lanchonete da Cidade decidiu focar em hambúrgueres, o restaurante se transformou. Eram muitos pratos diferentes, sanduíches e os hambúrgueres não eram os protagonistas. Com cinco endereços em São Paulo, todos com uma pegada vintage e muito iluminados, a Lanchonete da Cidade rapidamente se transformou em um ponto tradicional. Mas o restaurante não perdeu sua essência. Outros pratos como cachorros quentes e saladas ainda estão no cardápio, com menos opções.
Com hambúrgueres fininhos, os modernos smash burguers, ou mais altos, o Bombom, são feitos todos os dias nos restaurantes e o que acaba fazendo deles muito suculentos. O restaurante oferece 10 opções de lanches com carne, variando entre R$ 26 e R$ 37. Opções de hambúrguer de grão de bico, frango, burger veggie, falafel e salmão também estão presentes. Mas a grande inovação da Lanchonete da Cidade é o LC Futuro, um hambúrguer feito com produtos naturais e vegetais mas com sabor e textura de carne. Há também a opção de pão sem glúten para quem preferir.
O Cooper é uma opção com relish de pepino, um cheddar diferenciado e mostarda dijon. Quando adicionado bacon, a combinação fica melhor ainda. A Lanchonete da Cidade é uma ótima opção para ir com a família ou em um encontro mais tranquilo entre amigos.
Milk & Mellow
Inaugurada em 1976, o Milk & Mellow é uma das hamburguerias mais tradicionais da cidade de São Paulo. Seu cardápio, que contempla hambúrgueres e beirutes, não é barato. Por mais que existam opções justas, como o clássico Cheese Salada (R$28), os pratos mais atrativos excedem o valor de 30 reais.
O preço do Cheese Salada pode até não ser dos mais amigáveis, mas cada mordida vale a quantia desembolsada. O pão, envolto em um saquinho, ainda unido na extremidade traseira, é macio e se abre em formato de pac-man. A carne, o queijo, a alface e a maionese – e que maionese! - da casa são bem-dispostos e harmonizam de forma exemplar da primeira, até a última mordida.
A casa, ainda oferece uma opção em que o cliente pode montar seu próprio hambúrguer. Spoiler alert: É cilada bino! A carne mais barata é a de 100g e custa 17 reais. Suponhamos que um tradicional Bacon Burger (inexistente no cardápio) fosse montado. Carne (R$17,50), queijo prato (R$5), bacon (R$7), picles e molho (R$7). Total, R$36,50.
Esse mesmo hambúrguer seria o Lumberjack no Bullguer, que custa 22 reais. Ok, deve-se levar em consideração que são conceitos diferentes de hamburguerias, mas nunca é demais destacar a disparidade entre os preços.
O Milk & Mellow se encontra em dois estabelecimentos. O tradicional, na Av. Cidade Jardim 1085 e no Shopping Granja Viana. Vale ressaltar que o ambiente das franquias é diferente. O localizado na Cidade Jardim é bem charmoso, enquanto o da Granja Viana “deixa a desejar”.
MODERNAS
Capital Burguer
A hamburgueria inaugurada em 2017 tem um ambiente moderno e muito agradável. Além disso, o espaço em Osasco é muito iluminado e conta com uma decoração descolada. O cardápio da Capital Burguer foi recentemente renovado. No dia 15 de setembro, mais combinações foram adicionadas ao menu, que já contava com dez opções - incluindo uma veggie.
Os hambúrgueres são todos artesanais e além do tradicional de carne, o Capital Burguer oferece opções de frango, calabresa e costela suína. O hambúrguer vegetariano é à base de batata. Falando em batatas, as porções de fritas são generosas, e podem servir até três pessoas. Elas são vendidas à parte.
O "Double Burguer Smash" é um dos novos lanches da casa e vem com dois hambúrgueres de 100 gramas cada, uma mistura de queijos e bacon. A carne é muito suculenta, o bacon muito crocante e a apresentação foge do tradicional: todos os lanches são servidos em tábuas de madeira.
A hamburgueria da cidade da grande São Paulo não é das mais baratas. Os lanches custam em média R$ 32, fora fritas e bebidas. Não há opções de combo - somente em pedidos por aplicativos de delivery. Uma pessoa gasta entre R$ 50 e R$ 60 reais em uma refeição no Capital Burguer. O restaurante também tem uma unidade na Vila Olímpia.
Madero
A rede de restaurantes do chef Junior Durski é uma das mais conhecidas e bem-conceituadas do Brasil. Presente em 17 estados e com 13 lojas somente na cidade de São Paulo, o Madero se autointitula[AQ1] o "melhor hambúrguer do mundo". Em um vídeo publicado pelo próprio restaurante, o chef afirma ter comido em 70 diferentes hamburguerias americanas para saber exatamente como queria o seu hambúrguer. Segundo divulgação no mesmo vídeo, os hambúrgueres do Madero têm um blend (mistura) de 85% de carne e 15% de gordura.
A ambientação de todos os restaurantes do Madero segue um padrão: muita madeira, tijolos a mostra e uma releitura da fachada do primeiro restaurante, fundado em Curitiba e que em 2019 completou 13 anos. Mudanças mais significativas são vistas no "Madero Container", que são unidades menores (em espaço físico) e com o cardápio reduzido.
Com 27 opções de hambúrgueres e sanduíches, além de massas, peixes e outros pratos, o Madero é mais que uma hamburgueria. O "Madero Bacon" é uma dessas opções. Com um pão assado na hora que lembra muito um pão francês, salada fresca, bacon crocante e carne de 100g, esse é um dos pratos mais vendidos do restaurante. As deliciosas batatas fritas já acompanham o lanche, sem necessidade de pedir uma porção a parte. Vale lembrar que de segunda a sexta-feira há o "happy hour", com descontos em diversos pratos e chopp em dobro. Um dos detalhes mais saborosos do Madero é ketchup próprio, elaborado pelo próprio chef Durski. Uma refeição no Madero fica por volta dos R$ 55 reais, mas cada mordida compensa cada real gasto.
Meats
Se hambúrguer diferente é o que você procura, o Meats não irá te desapontar. Inaugurada em 2012, a hamburgueria faz sucesso na região de Pinheiros com seus hamburgueres inovadores. O cardápio é abrangente e se renova a todo momento, mas se você não gosta de bagunça entre a carne e o pão, a casa tem três opções clássicas que não saem de lá.
Dentre os fixos estão: o clássico dos clássicos, o Cheese Burger (R$27,50), pão, carne e queijo (cheddar brasileiro), que vem acompanhado de maionese e picles. O cheese salada, que no Meats é chamado de BLT (R$31), é composto por pão de mandioquinha, carne, cheddar brasileiro, alface, tomate e bacon. E por fim, para os mais conservadores, a casa tem uma opção sem queijo, o curto e grosso Hamburguer (R$22), que contém, pão de forma, carne, cebola roxa e picles.
Para os amantes do cheese salada, o BLT é imperdível. Por mais que o preço não seja amigável e ficará claro que não é, a suculência e maciez da carne, junto dos acompanhamentos básicos cria um sabor que compensa cada centavo.
Na parte “Chef’s Choice”, onde se encontram as misturas que despertam o interesse pelo local, é possível encontrar o Fancy touch. Notem os ingredientes: brioche de mandioquinha, carne, muçarela, honey-wasabi sauce e maçã verde laminada. Você já se imaginou comendo um hambúrguer com honey-wasabi sauce e maçã verde laminada? Melhor, você já se imaginou comendo um hambúrguer com honey-wasabi sauce e maçã verde laminada, dizendo que adorou? É isso que torna o Meats especial.
Vale lembrar que a carne de todos os hambúrgueres pode ser substituída por falafel e que a casa possui uma opção de ketchup de maracujá imperdível. A hamburgueria está localizada na Rua dos Pinheiros 320 e funciona do meio-dia à meia-noite.
Desde o século XIX, a imigração tornou-se um processo chave para a construção do território e da identidade nacionais. Em um primeiro momento incentivada pelo governo e, a partir de meados do século XX, realizada de forma espontânea, a entrada de estrangeiros no Brasil moldou a composição das grandes capitais, transformando cidades como São Paulo em verdadeiros centros cosmopolitas.
Hoje, fala-se em “fluxos migratórios”, numa tentativa de organizar os deslocamentos que se dão ao redor do globo terrestre. No caso do Brasil, estes movimentos vêm, especialmente, de continentes como África e Ásia (Oriente Médio). As razões são diversas: conflitos armados, escassez de recursos e até perseguição política.
Marcelo Haydu, diretor executivo do ADUS — Instituto para Reintegração de Refugiados, explica: “A lógica da migração forçada é buscar os países mais próximos. No entanto, com as fronteiras europeias e norte-americanas cada vez mais restritas, os emigrados passaram a enxergar no Brasil uma alternativa”.
CONGOLINÁRIA
Em uma colorida placa, lê-se: “Vegan Food — Descobrindo os Sabores do Congo”. Mais adiante, uma seta aponta a escada que leva ao segundo piso da Fatiado Discos, sebo de música e bar ao ar livre, localizado na Av. Alfonso Bovero (próximo às estações Sumaré e Vila Madalena do Metrô).
A escada dá num pequeno salão, igualmente alegre. Na parede, grafites de animais do continente africano. Contam-se nove mesas. Nelas, casais e grupos de amigos saboreiam — a maioria, pela primeira vez — a comida Congolesa. E suas expressões não disfarçam: ela é deliciosa.
Inaugurado em 2016, o Congolinária foi idealizado pelo Chef Pitchou Luambo. Advogado de formação, Pitchou emigrou para o Brasil em 2009, em função da guerra civil que tomou conta de seu país na década de 1990. Desde então, tem se tornado referência em ações afirmativas para refugiados, combatendo o preconceito e a discriminação.
O cardápio
No almoço, por R$ 30, o cliente opta por um prato principal, um suco e uma sobremesa, preparados pelo sous-chef. Para cada dia da semana, há um especial: refeições que buscam trazer o sabor do Congo para a mesa do brasileiro, com releituras e ingredientes encontrados aqui.

Foto: Divulgação
O restaurante não utiliza nenhum produto de origem animal. Os pratos, inclusive, os homenageiam. Bata (servido apenas aos domingos), Kuku (às quintas-feiras) e Simba (todos os dias), querem dizer, respectivamente, pato, galinha e leão, em Suaíli, língua da família Banto.
Além disso, o local preza pelos ingredientes orgânicos, em vez dos industrializados. No sábado, a “Feijoada do Chef” (feijão preto refogado no azeite de dendê com legumes, mix de cogumelos, arroz branco cozido no suco de gengibre, farofa de banana da terra e couve na mwamba) é a mais pedida pelos clientes.
Recepção

Os universitários Pedro, Pedro Bairrão, Gabriel e Guilherme são moradores do bairro e nunca haviam ido ao Congolinária. A ideia partiu de Guilherme, estudante de engenharia elétrica da USP, que conheceu o restaurante pelo Facebook, por meio do check in de seus amigos.
Eles confessam que não tinham muitas expectativas com relação a culinária do local, mas que foram surpreendidos positivamente pelos pratos degustados: a “Feijoada do Chef” e o Okapi (massa de mandioca fermentada, servida com feijão branco refogado no alho e azeite de dendê e funghi). “Achei a mandioca interessante, pois é preparada de um jeito com o qual não estamos acostumados. Geralmente, comemos frita, ou como um purê”, comenta Guilherme.
Gabriel, que estuda Publicidade & Propaganda, acrescenta: “A comida é um jeito bacana de entrar em contato com a cultura de um país. É legal ver que há oportunidades para pessoas que vêm de fora, e eu me sinto muito feliz em fazer parte disso”.
Já Gabriela e José, estagiários de moda e de planejamento, respectivamente, escolheram o Congolinária para comemorar o seu aniversário de quatro anos de namoro. Buscando por algo “diferente”, o casal provou e aprovou o Ngombe (nhoque de banana da terra com molho de tomates frescos e shimeji). “Eu gostei da mistura do doce com o salgado. Com certeza recomendaria para outros casais”, diz José.
Jantar dos Refugiados
Todas as terças-feiras, a partir das 19h, a área externa da Fatiado Discos recebe Gladis Villalobos, boliviana especialista na preparação de quitutes árabes, como o Saj (massa típica fininha, com diversas opções de recheio) e o Falafel (bolinhos de grão de bico fritos, servidos no pão folha com tomate, alface e tahine).

Foto: Divulgação
Após emigrar para o Brasil, no ano passado, Gladis foi acolhida por uma república de africanos, no bairro da Liberdade. Por meio de um conhecido, foi apresentada ao palestino Wessam Othman, com quem trabalha hoje.
“Eu fazia doces, e não conhecia nada de comida árabe. Perto do Ramadan, Wessam passou a me ensinar a cozinhar. A primeira coisa que aprendi foi o charutinho de uva. Depois veio a kafta, o frango…”, ela se recorda.
Emigrado da Síria em 2015, Wessam atuava como designer de moda e estudava Direito na capital do país, Damasco. Dois anos após o início da guerra civil, veio para São Paulo com seu primo. “Comecei fazendo esfiha em casa, para vender no Brás”, ele conta. Hoje, administra o próprio restaurante, o Falafel SP, com a ajuda da esposa Doha Qodsieh.

Foto: Divulgação
Refúgio & empreendedorismo
Ainda de acordo com Haydu, grande parte dos emigrados possuem um viés empreendedor. “São pessoas que, na primeira oportunidade que tiveram de abrir o seu próprio negócio, o fizeram. Enxergo isso como uma forma de sentir-se valorizado”, aponta.
É o caso, também, de Muna Darweesh, refugiada síria que hoje trabalha com catering (serviço de buffet a domicílio). Em sua casa, no Cambuci, ela prepara grandes banquetes árabes, que serão servidos em festas e confraternizações. “Na Síria, esse não era o meu trabalho. Mas lá temos muitas festas e, como toda mulher, eu aprendi a cozinhar” diz Muna, que antes dava aulas de inglês no ensino básico.

Foto: Divulgação
É por meio das redes sociais — mas também do “boca a boca” — que Darweesh divulga o seu negócio. Em grupos de Facebook e em sua fanpage, é possível conhecer os pratos que prepara e fazer a sua encomenda. “O meu trabalho é o meu cartão de visita”, orgulha-se, enquanto mostra as embalagens de kibes, esfihas e charutos de folha de uva que saem para a entrega.
Em bazares e encontros de empreendedoras, Muna expõe iguarias típicas de países como Síria e Líbano, a exemplo da Makdous (mini berinjela em conserva, recheada com nozes e pimentão), do chancliche de ricota (no azeite, com páprica doce) e dos doces “ninho” e de massa folhada.
Quando tiveram de emigrar, Muna e seu marido não puderam eleger o destino de sua preferência. Hoje, são felizes no Brasil. E ela faz questão de dizer: “A cozinha não é apenas uma forma de mostrar a minha cultura; é um espelho do meu amor pelo país que me acolheu”.
Serviço:
Congolinária
Av. Prof. Alfonso Bovero, 382
Telefone: (11) 2615–8184
Facebook: /congolinaria
Fatiado Discos e Cervejas Especiais
Av. Prof. Alfonso Bovero, 382
Telefone: (11) 2769–0083
Facebook: /fatiadodiscos
Falafel SP
R. Safira, 293
Telefone: (11) 97795–4915
Facebook: /FalafelSp
Chef Muna Darweesh
Sob encomenda
Telefone: (11) 95437–0682
Facebook: /munacozinhaarabe