Evento continua sua evolução com mais atrações e marcas patrocinadoras, mesmo com menos montadoras
por
Vítor Nhoatto
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18/06/2025 - 12h

 

Em sua quarta edição, ocorrida entre os dias 12 e 15 de junho, o Festival Interlagos Edição Carros se consolidou no setor. Realizada no autódromo de mesmo nome, na zona sul de São Paulo, contou com lançamentos de Ford, Honda e GWM. Além disso, nomes como IZA e Ferrugem animaram os amantes das quatro rodas.

Ao todo, estiveram presentes 18 marcas de automóveis, contando Omoda e Jaecoo como marcas separadas. A quantia diminuiu em relação à edição de 2024, que teve 19. Este ano, marcas como Chevrolet e Renault não compareceram. Mas ao andar pelos boxes da pista e no gramado que recebe os festivais Lollapalooza e The Town, a diferença é imperceptível. 

Se por um lado havia uma fabricante a menos, o número de stands de marcas patrocinadoras aumentou e chamava bastante a atenção. Desde casas de apostas até plataformas de venda de produtos online, com direito a uma estátua de leão que atraia as câmeras dos celulares. Completava o cenário a roda gigante popular nos eventos musicais que ali ocorrem, mas que não estava disponível para passeio.

No quesito alimentação, havia um número grande de opções, com uma dezena de food trucks e quiosques para petiscos e um restaurante com buffet também. Ponto importante é a falta de bebedouros pelo complexo, obrigando a todos a comprarem água, mesmo com os shows musicais que pedem por estações de hidratação.

Já em relação à organização do evento, mesmo com as obras aparentemente incessantes em Interlagos, com tapumes e entulhos em alguns locais, estavam menos intrusivas no campo de visão do espectador que as edições passadas. A sinalização continuou precária, com muitas pessoas perguntando para seguranças como descer para a área dos boxes e para o meio da pista, onde as grandes marcas ficavam.

Baseado no conceito de experiência automotor, o formato das edições anteriores foi mantido. Diferente de um Salão do Automóvel tradicional, os interessados poderiam andar na pista por R$593 com o ingresso Drive Pass, e também negociar com representantes de concessionárias a compra dos carros expostos e testados.

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Era possível ainda se sujar na lama, e nem precisava pagar mais pelo Drive Pass, com o Street Pass de R$107 já era suficiente. Foto: Vítor Nhoatto

Tudo isso faz do festival um exemplo atraente financeiramente para as marcas e emocionalmente para o público. Em Portugal, isso acontece de forma parecida com o ECAR Show e, na Espanha, com o Automobile Barcelona, por exemplo. Mas é só no Brasil que uma pista de corridas todo pode ser explorada. Além disso, para diminuir os custos, a edição Carros aconteceu apenas duas semanas depois da edição Motos, reaproveitando a estrutura e agilizando o processo para as montadoras, segundo a organização do evento. 

Palco de lançamentos 

Mesmo sem Volkswagen e o novo Tera, e a Chevrolet tendo optado por lançar os facelift de Onix e Tracker em julho em evento fechado, grandes revelações tomaram Interlagos. No quesito modelo inédito não houve nenhum caso por parte das montadoras tradicionais, limitadas a reestilizações e apresentações ao público de carros já mostrados em solo brasileiro.

Dessa vez presente somente com a Abarth, o conglomerado Stellantis aproveitou o ambiente de corrida que a marca do escorpião evoca e mostrou o renovado Pulse. Seguindo as atualizações da versão não envenenada da Fiat, ganhou nova grade frontal e teto panorâmico, além de banco do motorista com ajuste elétrico para o esportivo. Ficaram de fora, no entanto, novos assistentes de condução como leitor de placas de trânsito e piloto automático adaptativo, disponíveis em veículos mais baratos que os R$157.990 anunciados.

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Por trás do Pulse de hoje, o Abarth 600 dos anos 1960, exposto também pela marca em Interlagos. Foto: Vítor Nhoatto

Ainda em relação às europeias, a Volvo esteve presente novamente, inclusive reaproveitando muitos dos EX30 amarelos da edição passada. Falando nele, que não oferece mais a cor citada, ganhou uma nova versão em território brasileiro, a Cross Country. Apresentada em fevereiro na Europa, chega aqui como topo da gama por R$314.950. Se diferencia das demais pelas caixas de roda e proteções na frente e atrás em plástico preto, além de estrear um novo sistema de propulsão, com  tração integral e 428 cavalos, e indo de 0 a 100km/h em apenas 3,7 segundos.

Também foram mostrados ao público o XC90 atualizado, lançado em 2015, que ganhou sobrevida após a decisão da sueca de prolongar o ciclo dos seus modelos a combustão até uma maior maturação do mercado de elétricos. E ao lado dele estava também o recém lançado no Brasil, o novo EX90, antes tido como sucessor do irmão e agora como complemento e modelo topo de gama da marca. 

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De alguma forma a eletrificação chega para o cliente Volvo, seja com o elétrico EX30 ao fundo ou com o híbrido plug-in XC90 dourado à direita. Foto: Vítor Nhoatto

Mudando de continente, a Honda aproveitou a ocasião para apresentar o facelift do Civic e do HR-V. Ambos receberam mudanças sutis na grade dianteira e parachoques, além de novas lanternas traseiras e desenho de rodas para o segundo. No interior, o sistema multimídia do sedã ganhou novas funcionalidades e o console central do SUV foi alterado levemente para facilitar o acesso ao carregador por indução. Os preços não foram divulgados, no entanto. 

A conterrânea Mitsubishi estava presente novamente, mas diferente da edição 2024 trouxe modelos realmente novos em sua linha, apesar de nenhuma revelação no evento. Lançado no país há poucos meses, a nova geração da picape Triton estava presente e o destaque do stand foi o novo Outlander, anunciado no mês passado. Agora híbrido plug-in, se coloca como modelo mais tecnológico da marca no Brasil, mas custa quase R$400 mil. 

Novidade este ano no festival, a Hyundai também não trouxe novidades, mas aproveitou para mostrar para os consumidores o recém-lançado Kona, o SUV de oito lugares Palisade e o eletrônico Ioniq 5. Os modelos marcam uma nova fase da divisão de importados da coreana no país, administrada pela CAOA e separada da HMB que fabrica os modelos HB20 e Creta. 

Por fim, a estadunidense Ford levou a Interlagos a linha Tremor de suas picapes Maverick, Ranger e F-150, reforçando o apelo off-road da marca com direito a um segundo stand só para elas próxima à pista off-road. Já dentro dos boxes, a reestilização do seu segundo modelo mais importante no país hoje, o Territory, foi revelada.

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Além da mudança estética que tenta alinhar o Territory a linguagem visual da marca, também conta com novo design para as rodas.Foto: Vítor Nhoatto

Atrás apenas da Ranger em vendas e popularidade, é rival de modelos best-sellers como os Jeep Compass e Toyota Corolla Cross, SUVs médios. Com uma frente toda remodelada, mais arredondada e passível de julgamentos, mudou a cor dos estofados internos mas manteve o seu preço de R$215 mil. Importado da China, pretende crescer na categoria com a estratégia, custando menos que os dois concorrentes citados em versões equivalentes.

Ascensão chinesa continua 

Falando mais sobre a potência asiática, se nenhuma surpresa veio por parte das montadoras já estabelecidas, mais uma vez as chinesas ocuparam em todos os sentidos Interlagos, e tiveram destaque. Com revelações importantes e presentes na pista e no barro, elas focaram em mostrar qualidade e potencial tecnológico irreverente.  

Veteranas do Festival, BYD e GWM foram desta vez por caminhos distintos, com a primeira sem lançamentos no mercado de fato, mas trabalhando fortemente o imaginário da marca no Brasil. No stand o ato principal foi o supercarro elétrico YangWang U9, chamando todas as atenções com o seu vermelho vivo e asa traseira enorme. Além disso, era impossível não reparar o carro “dançando”, demonstrando a suspensão independente sofisticada do modelo que consegue saltar e andar somente com três rodas.

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Ao lado de Dolphin Mini e King, U9 roubava os olhares com seus 1.300 cavalos elétricos. Foto: Vítor Nhoatto

Do lado de fora quem brilhava era o também elétrico YangWang U8, agora sob o formato SUV. Capaz de girar no próprio eixo e flutuar, corria pela pista e chamava atenção pelo porte de cerca de cinco metros de comprimento e design singular. Nada foi falado sobre a possível comercialização de ambos no Brasil, o que não era esperado, mas sim as onomatopeias e expressões de surpresa que eles provocam.

Já em relação ao rival GWM, a estratégia foi repetir o que fez em 2024: apresentar novos modelos. A picape híbrida Poer e o SUV Tank 9 foram as estrelas da vez, com a primeira já tendo aparecido em evento com o vice-presidente Geraldo Alckmin na futura fábrica da empresa no Brasil. No caso do segundo, promete complementar a linha Tank após a chegada do Tank 300, na edição passada revelado, e agora ocupando a pista off-road e as ruas também. 

Cenário similar ocorreu no stand da Omoda & Jaecoo, marcas do grupo Chery que em 2024 debutaram em Interlagos e agora já contam com cerca de 50 lojas pelo país. Foram apresentados a versão híbrida do Omoda 5, vendido aqui até então somente como elétrico sob o nome E5, e o inédito Omoda 7, um híbrido plug-in para rivalizar com BYD Song Plus e o GWM Haval H6. Ambos tem previsão de lançamento até final do ano.

Porém, o destaque da mostra foi a novata GAC, que chegou ao mercado brasileiro oficialmente no mês passado já com 33 lojas e cinco modelos. Estilizada sob o slogan Go and Change, vá e mude em português, é o acrônimo para Guangzhou Automobile Group, e se pronuncia “gê á cê”. 

Com um dos maiores estandes da edição, o mesmo que a também estreante chinesa Neta usou no ano passado, era um dos mais movimentados também. O centro das atenções era o elétrico Hyptec  HT com suas portas traseiras “asa de gaivota”, ao estilo do rival Tesla Model X. Custando a partir de R$299.990, é o modelo topo de gama da marca à venda aqui, e promete agitar o mercado dos SUVs elétricos grandes, com uma cabine extremamente luxuosa.

Mais ao fundo estava o também elétrico e SUV, Aion V, com uma pegada mais quadrada e prática. Com porte de GWM Haval H6, tela para o ajuste do ar condicionado no banco de trás, massagem nos dianteiros e até 602 km de autonomia segundo o ciclo chinês NDEC, custa a partir de R$214.990, mesmo preço que o rival híbrido. A MPV (Multi Purpose Vehicle) Aion Y e o sedã Aion ES completavam a linha elétrica.

E apostando também nos híbridos, o SUV GS4 marcou presença, rival direto do supracitado H6 e do recém atualizado BYD Song Plus. A partir de R$189.990 é tido pela marca como o modelo com maior potencial de vendas, e aposta em um design ousado cheio de vincos e quinas, além de qualidade, conforto e tecnologia por um preço mais acessível que modelos menores como o Toyota Corolla Cross inclusive.

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Espaço da GAC remetia a conforto, natureza e um estilo de vida novo, como proposto pela marca. Foto: Vítor Nhoatto

Vale notar, no entanto, que apesar de todo o apelo high tech, nenhum dos modelos conta com leitor de placas de trânsito e detector de fadiga, presentes nos rivais da GWM e BYD. Além disso, o sedã Aion ES, com a mira para o BYD King, não possui nenhum assistente de condução e acabamento digno de Fiat Mobi por R$170 mil. Só o tempo dirá se a estratégia será efetiva ou desaparecerá em um ano como a Neta.

Museu a céu aberto

Ao lado da imersão chinesa a nostalgia tomava conta no segundo espaço da Honda no evento. Entrando era possível admirar o Civic Type-R, o mais potente já feito e vendido por quase meio milhão no Brasil. De frente a ele estava o primeiro Civic fabricado no Brasil, parecendo que havia saído da loja em 1997.  

E como um espaço de memória da japonesa pedia, um tributo a parceria de Ayrton Senna e a marca levou ao festival itens exclusivos do ídolo brasileiro. Acompanhado do capacete usado por ele estava exposto um exemplar 1992 do Honda NSX, esportivo que contou com a participação do piloto no desenvolvimento e que é lembrado pelos fãs por isso. Os entusiastas das pistas ainda puderam ver de perto o primeiro Honda que ganhou na Fórmula Indy.

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História não se compra e contra isso as chinesas não podem lutar. Foto: Vítor Nhoatto

Não necessariamente só de antiguidades que se faz um museu, mas também obras de arte, como abrigava um pavilhão mais adiante. Nele os interessados podiam fazer tatuagens no estúdio presente enquanto admiravam os dois carros mais caros do Brasil. 

No seu tom azul vibrante de lançamento, o superesportivo Bugatti Chiron estava sempre rodeado de câmeras, queixos caídos e pessoas de todas as idades. Com 1.500 cavalos, estima-se que custe cerca de R$40 milhões e é o único exemplar em solo brasileiro. E acompanhando o francês estava o Pagani Utopia, feito artesanalmente e em apenas 99 unidades. O único exemplar no país é branco e possui faixas azuis e vermelhas, importado por cerca de R$60 milhões.  

Estavam mais ao fundo ainda uma Porsche Taycan e uma Mercedes G-Class, que torcem pelos pescoços pelas ruas, mas se contentavam em ser apenas os figurantes do espaço desta vez. Falando na alemã, pela primeira vez esteve no evento, com um stand discreto no gramado e apenas quatro modelos, mas que estavam quase sempre rodeados de interessados. Ao lado também estavam as novatas no evento, BMW e Mini, com seus últimos modelos, mas sem novidades.

De volta ao prédio, Lexus e Toyota repetiam a estratégia das alemãs, sem alardes, e para completar o mundo das exclusividades, um cercado contava com um Rolls Royce Ghost, um McLaren GT, alguns Mitsubishi Lancer Evolution e até mesmo uma Tesla Cybertruck. Se não fosse o suficiente, no andar de cima empresas de acessórios e produtos automotivos em geral trouxeram Nissan GT-R, Ford Mustang e mesmo Ferrari. Lembrando que se fosse de desejo, por  R$1.970 à R$3.950 era possível pilotar máquinas como essas com o ingresso Sport Pass.

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Seja criança ou não, entusiasta ou leigo, muitos modelos chamavam atenção de todo mundo que passava por Interlagos. Foto: Vítor Nhoatto

Para completar a experiência no fim da noite, ainda aconteceram shows de cantores a lá Lollapalooza em pleno mês de junho. No dia 13 se apresentaram Seu Jorge e IZA, seguidos da dupla Maiara e Maraisa no dia seguinte, e Diogo Nogueira e Ferrugem no domingo (15). 

A Prefeitura de São Paulo anunciou em abril deste ano que renovou o contrato com a organização do evento para edições anuais até 2028, comprovando o sucesso do formato. Mesmo que o Salão do Automóvel de São Paulo volte depois de sete anos em novembro, como foi anunciado, o espaço do Festival Interlagos é só dele, e parece mais que nunca robusto e consolidado pelas marcas, governo e também pelo público. 

Caso de racismo gerou revolta no Interior da Bahia.
por
Victória Ignez
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29/05/2025 - 12h

No vilarejo paradisíaco de Caraíva, no sul da Bahia, a alegria e a tranquilidade foram rompidas por uma tragédia que abalou moradores e visitantes: a morte de Victor Cerqueira, o Vitinho, de 22 anos, durante uma operação da Polícia Militar no dia 10 de maio de 2025. 

Luiza Bonfim, entrevistada

Caraíva, conhecida por suas paisagens naturais, ruas de areia e forte presença de cultura tradicional, também abriga uma população local que enfrenta desafios históricos como a falta de infraestrutura, serviços públicos básicos e segurança. Nesse cenário, a morte de um jovem querido pela comunidade acendeu um debate mais amplo sobre violência policial e desigualdade social. Descrito por amigos e conhecidos como um “menino de luz”, Vitinho era figura presente no cotidiano da vila. Sempre sorridente, prestativo e trabalhador, atuava em pousadas da região e também prestava serviços à vila, como a coleta de lixo. No momento da operação, ele exercia sua função: aguardava hóspedes de uma pousada à beira do rio, ponto tradicional de travessia no povoado. 

Segundo testemunhas, a Polícia Militar realizava uma operação na área quando rendeu Vitinho, algemou-o e o levou sob custódia. No dia seguinte, seu corpo foi encontrado no Instituto Médico Legal (IML). A informação de sua morte causou choque e revolta entre moradores, empresários locais e turistas frequentes. “A gente sempre via o Vitinho por aqui. Eu não o conhecia pessoalmente, mas meus amigos eram muito próximos dele. Todos dizem a mesma coisa: ele era um menino trabalhador, responsável, que espalhava alegria por onde passava”, relata Luiza Bomfim, jovem que frequenta a vila e acompanhou de perto os desdobramentos do caso. 

A versão oficial da polícia afirma que Vitinho teria envolvimento com o tráfico de drogas, mas moradores contestam essa narrativa. Há indícios de que ele tenha sido confundido com outro homem chamado Vitor, ligado a um grupo criminoso da região e também morto na mesma operação. Esse possível erro de identificação levanta questionamentos sobre a condução da ação policial e o uso excessivo da força por parte dos agentes envolvidos. 

Até o momento, o caso está em investigação, e não há informações sobre a responsabilização dos policiais. A ausência de transparência gera temor e frustração. Familiares, amigos e moradores pedem justiça e exigem esclarecimentos. Em protestos silenciosos e publicações nas redes sociais, o nome de Vitinho passou a representar mais do que um jovem injustiçado: tornou-se símbolo de uma comunidade que clama por respeito, verdade e responsabilidade. 

 

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Moradores e trabalhadores reclamam da falta de sossego quando chove
por
Maria Mielli
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15/05/2025 - 12h

 

Em dias de chuva, seja ela intensa ou não, os moradores da grande São Paulo já se preparam para o pior: alagamentos e/ou falta de luz. Na Rua Arnaldo Cintra, no bairro Vila Moreira — próximo ao Parque São Jorge— as coisas não são diferentes. Não se sabe exatamente quando isso começou, mas faz muitos anos que os moradores dos condomínios Vivace Park e Vivace Club, são vítimas de alagamentos constantes que impedem a entrada e saída dos moradores da região. Na área em que hoje estão estes condomínios, antigamente passava o córrego popularmente conhecido como do Maranhão.

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Rua Arnaldo Cintra alagada após um dia de chuva em São Paulo. Foto: Arquivo pessoal de moradores do condomínio.
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“Quem chega não entra e quem tá aqui dentro não sai” exclama dona Valderes, moradora do Park há 7 anos. Quando questionada sobre o início dessa dor de cabeça, ela responde que sempre foi assim e que todos os moradores reclamam desse empecilho. Ela também diz que os próprios moradores, juntamente com a síndica do prédio, reuniram-se para tentar resolver esse problema. O projeto idealizado visaria fazer a manutenção correta do córrego e diminuir, por meio da macrodrenagem, os riscos de alagamento. A Secretaria de Infraestrutura Urbana e Obras de São Paulo, SIURB, informou que não consta nos seus arquivos a retificação do córrego. Segundo eles, por conta da falta de propostas apresentadas pelas empresas, a licitação foi considerada “deserta”. 

O problema da região não afeta somente os moradores, mas toda a área próxima à Marginal Tietê. Alan Richard, frentista no posto em frente aos condomínios, conta que durante um ano e 5 meses de trabalho, já enfrentou as enchentes mais de 20 vezes. Destaca também que essa situação prejudica toda a logística do dia-a-dia. “Atrapalha porque as pessoas que moram nos apartamentos não conseguem entrar, aí eles ficam tudo (sic) aqui, ocupando espaço…aí para de abastecer e para tudo aqui”. E finaliza: “Algo não tá certo”.

 

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Acidentes em 2024 e 2025 com carros de luxo levantam alerta sobre imprudência nas pistas e ineficiência de autoridades
por
Daniella Ramos
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26/04/2025 - 12h

O atropelamento das jovens Isabelli Helena de Lima Costa e Isabela Priel Regis, ambas de 18 anos, em São Caetano do Sul, no ABC Paulista, é o caso mais recente de acidente de trânsito envolvendo carros de luxo, em 10 de abril. As duas mulheres foram arremessadas a 50 metros de distância com o impacto da batida causada pelo estudante de direito Brendo dos Santos Sampaio, de 26 anos. Testemunhas apontaram que a rapidez do Honda Civic era devido um possível “racha”. 

O infrator tem sete multas de trânsito por excesso de velocidade, o que dificulta sua defesa, que tenta se utilizar do fato de que o farol estava aberto para ele para diminuir a culpa do acusado. 

 

“É importante que o culpado indenize a família, as autoridades apreendam a carteira e preste serviço social para suavizar e reparar o dano, conforme o código penal. Não se sabe quanto vale uma vida, mas é importante indenizar como uma forma de desculpa e se recuperar dessa violação e evidentemente não repetir mais isso”, afirma o advogado e doutor em Processo Civil Coletivo, Francisco da Silva Caseiro Neto, sobre casos de atropelamentos fatais. 

 

Em Julho de 2024 houve o caso de Igor Sauceda, que responde por homicídio triplamente qualificado ao agir com a intenção de matar, por motivo fútil, utilizando meio cruel e sem dar chance de defesa à vítima. Sauceda perseguiu e atropelou, com seu carro da marca Porsche, avaliado em R$483 mil, o motociclista Pedro Kaique Ventura Figueiredo após uma discussão no trânsito, na qual o atingiu por trás a 102 km/h, quando o permitido na via era de 50 km/h. O motorista permanece preso desde o dia do acidente, aguardando a audiência para saber se irá a júri popular. O Ministério Público pede indenização a ser paga aos familiares da vítima, principalmente porque sua esposa estava grávida na data do crime. 


 

Porsche de Igor Sauceda após acidente. Foto: Reprodução/TV Globo.
Porsche de Igor Sauceda após acidente. Foto: Reprodução/TV Globo.

 

“É inadmissível que casos como esses aconteçam, além do desrespeito no trânsito cometido por pessoas que têm um capital financeiro e se acham melhores que os outros, violando o direito de ir e vir das pessoas no espaço público ao agredir e matar”, comenta a doutora em Sociologia Urbana, Dulce Maria Tourinho Baptista. 


 

Em março do mesmo ano, um dos acidentes de maior proporção midiática foi o caso de Fernando Sastre, que bateu com seu automóvel, também da marca Porsche, a 156 km/h na traseira de um carro de aplicativo, que era dirigido por Ornaldo da Silva Viana, quando o máximo permitido na via era 50 km/h. Ele morreu no hospital por traumatismos múltiplos. 

 

Carros de Sastre e Ornaldo após colisão. Foto: Reprodução/CBN.
Carros de Sastre e Ornaldo após colisão. Foto: Reprodução/CBN.


 

O empresário saiu do local acompanhado de sua mãe dizendo que iria ao hospital, mas os policiais não o encontraram lá, deixando de fazer o teste de bafômetro, que seria essencial para a investigação. Após 40 horas do ocorrido, o condutor do carro de luxo se apresentou no 30º Distrito Policial do Tatuapé, sendo preso preventivamente. Até o momento, o Supremo Tribunal Federal e o Tribunal de Justiça de São Paulo já negaram, ao total, sete vezes seu pedido de responder em liberdade a indiciação por homicídio por dolo eventual, lesão corporal e fuga do local. A data do júri popular ainda não foi marcada, pois a defesa ainda pode recorrer às instâncias superiores contra esta decisão, visto que seus advogados tentam mudar o crime para culposo (sem intenção de matar), para que seja julgado por um juiz. 


 

“É dever das autoridades se aprimorarem para não deixar a pessoa ir embora, agindo com eficiência”, diz Francisco Caseiro. 

 

Outro caso é o de Vitor Belarmino, que tinha cinco pessoas dentro de seu carro da marca BMW e atropelou Fabio Toshiro Kikuta. O fisioterapeuta de 42 anos estava saindo de um hotel após guardar no local objetos de seu casamento, que acabara de acontecer. Vitor está foragido até hoje e se tornou réu por homicídio, já as pessoas no carro respondem por omissão de socorro. 

 

Vitor Belarmino com seu carro antes do acidente. Foto: Reprodução/Rede social de Vitor Belarmino.
Vitor Belarmino com seu carro antes do acidente. Foto: Reprodução/Rede social de Vitor Belarmino.

 

A última atualização do caso ocorreu no dia 11 de abril, em que o réu, ainda foragido, participou da audiência por vídeo sendo negado o pedido de defesa e mantida a prisão pela juíza Alessandra da Rocha Lima Roidis, que argumentou que nada enfraquece a informação dos autos de que possivelmente o acusado estaria conduzindo o veículo acima da velocidade permitida. Mesmo Vitor dizendo em entrevista à Record, no dia 06 de Abril ao programa Domingo Espetacular, que está “preso em casa”, a corporação informou ao veículo que agentes seguem em diligências para localizá-lo e capturá-lo, indicando que as buscas para prendê-lo não são eficazes. 

 

 

“É uma pena que os representantes da ordem [policiais, juízes, guardas de trânsito] pagos por nós, pelo público, resolvam privilegiar determinados grupos, como é o caso dos proprietários de carros potentes”, afirma Dulce Maria.


 

Todos esses casos têm em comum a imprudência dos motoristas, a falta de educação de trânsito e a falha das autoridades em não autuar de maneira eficiente aqueles que cometem infrações colocando a vida da população em risco. 

A ineficiência das autoridades fica nítida nos casos de Vitor Belarmino, já que era possível rastrear o endereço de IP (Internet Protocol) do computador que Belarmino fez a videoconferência para definir sua localização, mediante ordem judicial, e de Fernando Sastre, que os policiais o trataram com menos rigidez, permitindo que ele não fizesse o teste de bafômetro e que fosse ao hospital sem o acompanhamento de oficiais.

Já os casos de Brendo dos Santos Sampaio e Igor Sauceda ficam evidenciados pela demora da Justiça em julgá-los mesmo com provas contundentes e mortes brutais, além de uma defesa fraca que se utiliza de argumentos facilmente contestáveis pela legislação de trânsito. 

Segundo o InfoSiga, site que registra fatalidades no trânsito do estado de São Paulo, ao menos 900 óbitos por acidentes ocorreram em 2025, sendo 186 deles de pedestres como Isabelli, Isabela e Fabio, 386 de motociclistas como Pedro e 186 por automóveis como Ornaldo. Segundo um levantamento do UOL de agosto de 2024, ao menos 50 pessoas foram mortas por acidentes envolvendo carros de luxo no ano, tendo em média um óbito a cada quatro dias.

 

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Comércio de rua gera renda aos colaboradores e mantém viva uma tradição paulistana
por
Nathalia de Moura
Victória da Silva
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27/03/2025 - 12h

As feiras livres paulistanas já ocupam seus espaços pela cidade há anos. Gerando rendimento para muitos feirantes e possuindo uma variedade de produtos para a população, elas são essenciais para a geração de empregos. Com um público diverso, elas também são tradicionais no estado de São Paulo e dão a oportunidade de conhecer diferentes culturas e pessoas. Segundo a Prefeitura de São Paulo, por meio das secretarias de Direitos Humanos e Cidadania (SMDHC), a primeira feira livre oficial aconteceu em 1914, através de um ato do então prefeito Washington Luiz Pereira de Souza. A ação surgiu para legitimar uma prática que já acontecia na cidade, mas de forma informal. Na ocasião, cerca de 26 feirantes estiveram no Largo General Osório, na região da Santa Ifigênia. Mais tarde, em 1915, outra feira se instalou, dessa vez no Largo do Arouche, e teve a presença de 116 feirantes.

As feiras não possuem um público-alvo e esse é seu diferencial. É possível ver crianças, jovens, idosos, famílias, moradores locais e até turistas usufruindo a multiplicidade de mercadorias que existem. Em sua grande maioria, pessoas da classe média e da classe trabalhadora são as que mais frequentam as feiras. Muitos também aproveitam para comprar legumes, verduras e frutas frescas, além de conhecer a cultura local.

São Paulo tem registrado cerca de 968 feiras livres e com a expansão desse comércio tão tradicional, a movimentação financeira gira em torno de R$ 2 bilhões por ano, incluindo a venda de até mesmo peças artesanais. Além disso, mais de 70 mil empregos, diretos e indiretos, são gerados.

Em Guarulhos, por exemplo, Quitéria Maria Luize, de 62 anos, vende condimentos e temperos em quatro feiras de bairros diferentes (Jardim Cumbica, Jardim Maria Dirce, Parque Alvorada e Parque Jurema), sendo essa sua única fonte de renda. “Ela é toda a minha renda, de onde eu tiro o sustento. Criei toda a minha família trabalhando com esses temperos. E começando lá de baixo, não comecei lá em cima”, diz Quitéria em entrevista à AGEMT. 

A feirante afirma que antes de estabelecer seu comércio nas feiras, ela iniciou vendendo temperos pelas ruas com um carrinho de pedreiro: “peguei esses temperinhos emprestados que a minha tia já vendia, saí nas portas, batendo palma e contando minha história”.

 

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Diversos condimentos são comercializados na barraca de Dona Quitéria. Foto: Victória da Silva

Vendedor das mais diversas frutas, Queiroz - como é conhecido e gosta de ser chamado - é feirante por tradição. Seu pai e seu avô participaram de feiras livres e passaram o negócio para ele, que vive disso até hoje, aos seus 60 anos. “O meu avô começou na feira em 1945, ele tinha uma chácara, colhia e vendia. Aqui em Guarulhos não tinha nada, mas já tinha a feira”, informa.

“A feira é patrimônio do Estado de São Paulo” afirma o vendedor, defendendo a existência dela como crucial para a vida dos paulistas e paulistanos. Queiroz diz que as feiras são tão importantes quanto os mercados, já que foi por meio desse comércio que eles passaram a existir: “Até o leite era vendido na feira. A feira era uma festa!", relembra QQueiroz. 

 

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Barraca de frutas do seu Queiroz. Foto: Victória da Silva.

Quem trabalha ou frequenta as feiras falam delas com muito carinho e cuidado. Além disso, os feirantes e moradores também podem ajudar na fiscalização das feiras. Caso identifiquem alguma irregularidade, eles podem acionar as subprefeituras para checarem, pois elas são responsáveis pelo monitoramento. Já a organização e a supervisão são feitas pela Prefeitura por meio da SMDHC e da Executiva de Segurança Alimentar e Nutricional e de Abastecimento (SESANA).

Marcos Antonio da Silva é vendedor de ovos na feira do Jardim Cumbica há 10 anos, mas, diferente de Quitéria, durante os dias úteis trabalha em outra profissão: motorista de caminhão. O caminhoneiro de 52 anos diz que o comércio feirante é uma ótima forma de conseguir renda extra aos finais de semana. Contudo, as mudanças econômicas do país em 2025 fizeram as vendas caírem. “A feira me distrai muito. Aqui tem muita gente boa, atendo bem os clientes, tenho muitos, eles gostam do meu trabalho, eu gosto deles, mas a venda deu uma caída, subiu o preço do ovo, subiu o café, subiu o alho, subiram muitas coisas”, finaliza.

Ir à feira é um evento. Vemos diversas cores e sentimos vários cheiros e sabores. Mas as feiras livres possuem mais do que frutas, temperos e artesanatos. Elas apresentam histórias de vida e ali, amizades e novas experiências podem ser compartilhadas. 

Para profissionais da saúde, contudo, aglomerações devem ser evitadas durante a pandemia
por
Daniel Seiti Kushioyada
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30/06/2020 - 12h

            Em meio a pandemia de coronavírus e a insatisfação com o governo federal, manifestações presenciais ocorreram em diversas regiões do Brasil. De acordo com Alessandra Lopes Camargo, mestra em Ciência Política, “As manifestações fortalecem nossa democracia”. No entanto, profissionais da saúde afirmam que aglomerações devem ser evitadas durante a pandemia.

            A atual gestão do governo de Jair Bolsonaro, principalmente sobre as declarações relacionadas ao combate do coronavírus e o descaso com o crescente número de vítimas da doença, gerou insatisfação popular e resultou em protestos por todo o país. Grupos de manifestantes organizaram atos presenciais antifascismo e contra o Presidente da República no domingo, 7 de junho. Entretanto, grande parte da população acostumada a frequentar manifestações optou por permanecer em suas residências, seguir a quarentena e protestar remotamente.

Alessandra Lopes Camargo. Foto: acervo pessoal
Alessandra Lopes Camargo. Foto: acervo pessoal

Mestra em Ciência Política pela UNICAMP (Universidade Estadual de Campinas), a professora Alessandra Lopes Camargo compreende a importância histórica das lutas antifascismo como essenciais na consolidação da democracia.  

“Do ponto de vista histórico, há um fortalecimento da democracia, resultado de resistência ao fascismo de anos anteriores, na metade do século XX. Foi o momento da história em que mais se construíram tratados internacionais de defesa de elementos democráticos”, afirmou a professora. 

Camargo também explica a necessidade de atos antifascismo, remotamente ou presencialmente, nos dias atuais para garantir a preservação do Estado Democrático de Direito. 

“Atualmente, não temos um governo fascista. Para ter um governo fascista seria necessário ter um partido único, a censura completa da imprensa e uma legislação autoritária. Porém, o atual governo brasileiro, muitas vezes, possui várias atitudes autoritárias e antirrepublicanas”, disse a mestra.

“As manifestações são uma forma de prevenir o desenvolvimento do fascismo que, assim como mostra a história, não acontece da noite para o dia”, completou.

           Atos presenciais foram marcados dentro do período pandêmico, em que a quarentena ainda é recomendada pelas Secretarias de Estado de Saúde e pela OMS (Organização Mundial da Saúde). Muitos brasileiros encontram-se dentro de um dilema, pois, ao mesmo tempo em que querem protestar, temem por contrair o vírus e desenvolverem uma complicação de saúde ou contribuir para a sua disseminação.

O otorrinolaringologista, Dr. Paulo Sérgio Dal Secco, formado em medicina pela PUC-Campinas (Pontifícia Universidade Católica de Campinas), alerta sobre os riscos de exposição ao COVID-19 em protestos e locais de aglomeração.

Paulo Sérgio Dal Secco. Foto: acervo pessoal
Paulo Sérgio Dal Secco. Foto: acervo pessoal

“Por ser uma doença de caráter viral, ela se dissemina muito rápido, porque os meios de disseminação são ações que realizamos a todo o momento, como respirar, falar, tocar, tossir e espirrar. E o que dizer de uma aglomeração de tal vulto? Por mais que as pessoas usem proteções, como a máscara, a virulência naquele ambiente é muito elevada”, disse o médico

“Apesar da validade de uma manifestação, independente do lado político, acho que, por ora, deve-se tentar evitar esse tipo de evento”, recomendou. 

Dal Secco explica que indivíduos que não compõem o grupo de risco também estão vulneráveis a um desenvolvimento de uma complicação da doença e reforça a importância de evitar locais aglomerados durante a pandemia.

           “Pessoas entre 20 e 40 anos não fazem parte deste grupo em primeira mão. Há várias condições clínicas, como doenças respiratórias, que podem levar a uma complicação. Inclusive, houve muitos óbitos de uma faixa de idade não esperada. Por isso, acho que é necessário se atentar a esses detalhes e evitar a exposição ao máximo que puder, dentro de um bom senso”, concluiu.

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Inara C. F. Novaes
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30/03/2020 - 12h
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Imagem: Inara Novaes

O Parasita

“Como todos os parasitas, [o capitalismo] pode prosperar durante certo período, desde que encontre um organismo ainda não explorado que lhe forneça alimento. Mas não pode fazer isso sem prejudicar o hospedeiro”, essas são palavras retiradas do livro Capitalismo Parasitárioescrito pelo filósofo e sociólogo polonês Zygmunt Bauman.

Com a ascensão da Cultura Ostentação em 2008, as comunidades periféricas mostraram-se organismos bem receptivos ao capitalismo parasitário e, na esperança de sentirem-se incluídas na sociedade, cometeram o deslize de, sem saber, tornarem-se involuntariamente mercadorias.

Quando se vive às margens das cidades e parece que ninguém te vê ou escuta, há o desejo eminente de romper com a paralisia e fazer-se notável.  “O pobre é forçado a uma situação na qual tem de gastar o pouco dinheiro ou os poucos recursos de que dispõe com objetos de consumo sem sentido, e não com suas necessidades básicas, para evitar uma possível exclusão social e evitar a perspectiva de ser provocado e ridicularizado”, trecho retirado do livro Vida para o Consumo, também de autoria de Bauman.

Mas não basta consumir: para não sumirem novamente em meio ao mar de gente, há a necessidade de criar uma identidade e um estilo de vida que os diferenciem das demais mercadorias expostas nas vitrines.

 

Desencontros

Na corrida pela sensação de pertencimento, aquele que foi humilhado vai usar o consumo para sentir-se acolhido e aceito, mas corre-se o risco de idealizar um mundo fictício incompatível com o modelo de vida e as limitações da periferia, principalmente num país em que a metade da população mais pobre, cerca de 104 milhões de brasileiros, vive apenas com 413 reais mensais, de acordo com dados do IBGE.

Nessa corrida que nunca tem fim, nem linha de chegada, porque a economia consumista lucra com as diferentes mercadorias produzidas e posteriormente descartadas, o que prevalece é o desejo de substituir o que se tem por bens novos e atualizados. Em consequência, os indivíduos acabam carregando não apenas o peso de dívidas exorbitantes – 63,2 milhões de brasileiros possuem dívidas atrasadas, de acordo com o Serasa – mas também de frustrações e desencontros.

A realidade nos mostra indivíduos cada vez mais descontentes e infelizes, à procura de algo que lhes traga satisfação, consumindo num ciclo sem fim: comprar, descartar e substituir, sem priorizar as necessidades.

É nesse impasse que muitas vezes ocorre a inversão de prioridades, pois devemos decidir entre quais necessidades atender: a de aderir à um plano de saúde, consertar a goteira no teto da sala, a infiltração na parede do quarto ou o sentimento de pertencimento que muitas vezes vem mascarado na imagem de um celular ou televisão do ano, por exemplo. O capitalismo nos induz a consumir e gozar sem cessar por itens que não podemos pagar, derivando parcelamentos, empréstimos e endividamentos absurdos.

 

Horizontes NoFront

NoFront é uma empresa focada no empoderamento financeiro voltada para negros e negras subrepresentados no mundo das finanças. A ideia surgiu para traduzir as fórmulas difíceis e complicadas dos investimentos às vidas periféricas usando o RAP como instrumento.

A NoFront surgiu a partir da análise do legado das mulheres negras do Brasil do século XIX. “Lavadeiras, costureiras, quituteiras e domésticas. A história das mulheres negras no contexto anterior a abolição nos traz muitas narrativas de trabalho e superação. Organização coletiva que conquistava não só a liberdade individual, mas também coletiva. Nosso objetivo é resgatar essa disciplina, essas práticas em relação ao dinheiro, através da educação financeira e do Hip-hop”, observa a economista Gabriela Mendes Chaves, em trecho retirado do site da empresa.

Atravessando horizontes sobre o que é ser negro numa sociedade excludente e racista à táticas para não usar o consumo como uma escapatória e sim de forma responsável e consciente. 

 

 

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Catarine Figueiredo, Diana Ribeiro, Emily Moura, Kauan Miquelino e Sarah Melchior
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28/02/2020 - 12h

Desde o nascimento, somos condicionados a seguir padrões pré estabelecidos pela sociedade referentes ao nosso sexo biológico: masculino ou feminino.

Na infância, a regra geral é se comportar de acordo com ele. No entanto, quando não há identificação com o sexo de nascimento, isso pode ser insuportável - o que leva a uma jornada em busca de uma forma de se sentir bem dentro do seu próprio corpo.

O documentário a seguir relatou a história de três homens transexuais e suas dificuldades ao enfretar o papel de pai dentro da cidade.

 

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Giovanna Morais, Leonardo Pratt e Raul Vitor
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21/11/2019 - 12h

As hamburguerias cada vez mais ganham espaço no gosto paulistano. Nos últimos anos, houve um crescimento muito grande  no número de restaurantes especializados em hambúrgueres, sejam eles gourmets, artesanais ou smashs. Mesmo com esse boom, as hamburguerias tradicionais não perderam espaço. Muito pelo contrário, elas souberam se reinventar para concorrer de igual para igual.

O Contraponto Digital visitou quatro hamburguerias mais tradicionais e outras quatro mais modernas e experimentou alguns dos melhores hambúrgueres de cada restaurante. Nesta review, você encontrará informações sobre os ambientes, opções do cardápio e preços das oito hamburguerias analisadas.

 

TRADICIONAIS

 

Joakins

Se é tradição que você procura, o Joakins está no topo do ranking. Inaugurada em 1965, seu cardápio é o mais democrático. O restaurante tem de tudo. Hambúrgueres, beirutes, omeletes, panquecas, saladas e outras variedades que preenchem o cardápio. Nos reservaremos aos hambúrgueres aqui.

O preço, comparado a outras hamburguerias do mesmo estilo, como The Fifties e Milk & Mellow, é razoável. O clássico Cheese Salada (hambúrguer de 120g, queijo, alface, tomate verde e maionese da casa) custa R$ 27,30. A disposição dos ingredientes que compõem o lanche nem sempre é realizada da melhor maneira. A carne quente murchou a salada trazendo um toque de amargor ao lanche.

A casa também conta com um hambúrguer vegano, o Veggie Kin's. Composto por hambúrguer de cogumelos, queijo branco, tomate, rúcula, molho de mostarda e pão de hambúrguer integral, o lanche pode até surpreender, mas a surpresa fica no cardápio. Falta suculência ao lanche.

A opção mais barata é o hambúrguer no pão (R$16). O ambiente te faz voltar aos anos 60 e é super agradável. O Joakin's Hamburger fica localizado na Rua Joaquim Floriano 163, no Itaim Bibi.

Lanchonete da Cidade

Desde o momento em que a Lanchonete da Cidade decidiu focar em hambúrgueres, o restaurante se transformou. Eram muitos pratos diferentes, sanduíches e os hambúrgueres não eram os protagonistas. Com cinco endereços em São Paulo, todos com uma pegada vintage e muito iluminados, a Lanchonete da Cidade rapidamente se transformou em um ponto tradicional. Mas o restaurante não perdeu sua essência. Outros pratos como cachorros quentes e saladas ainda estão no cardápio, com menos opções.

Com hambúrgueres fininhos, os modernos smash burguers, ou mais altos, o Bombom, são feitos todos os dias nos restaurantes e o que acaba fazendo deles muito suculentos. O restaurante oferece 10 opções de lanches com carne, variando entre R$ 26 e R$ 37. Opções de hambúrguer de grão de bico, frango, burger veggie, falafel e salmão também estão presentes. Mas a grande inovação da Lanchonete da Cidade é o LC Futuro, um hambúrguer feito com produtos naturais e vegetais mas com sabor e textura de carne. Há também a opção de pão sem glúten para quem preferir.

O Cooper é uma opção com relish de pepino, um cheddar diferenciado e mostarda dijon. Quando adicionado bacon, a combinação fica melhor ainda. A Lanchonete da Cidade é uma ótima opção para ir com a família ou em um encontro mais tranquilo entre amigos.

Milk & Mellow

Inaugurada em 1976, o Milk & Mellow é uma das hamburguerias mais tradicionais da cidade de São Paulo. Seu cardápio, que contempla hambúrgueres e beirutes, não é barato. Por mais que existam opções justas, como o clássico Cheese Salada (R$28), os pratos mais atrativos excedem o valor de 30 reais.

O preço do Cheese Salada pode até não ser dos mais amigáveis, mas cada mordida vale a quantia desembolsada. O pão, envolto em um saquinho, ainda unido na extremidade traseira, é macio e se abre em formato de pac-man. A carne, o queijo, a alface e a maionese – e que maionese! - da casa são bem-dispostos e harmonizam de forma exemplar da primeira, até a última mordida.

A casa, ainda oferece uma opção em que o cliente pode montar seu próprio hambúrguer. Spoiler alert: É cilada bino! A carne mais barata é a de 100g e custa 17 reais. Suponhamos que um tradicional Bacon Burger (inexistente no cardápio) fosse montado. Carne (R$17,50), queijo prato (R$5), bacon (R$7), picles e molho (R$7). Total, R$36,50.

Esse mesmo hambúrguer seria o Lumberjack no Bullguer, que custa 22 reais. Ok, deve-se levar em consideração que são conceitos diferentes de hamburguerias, mas nunca é demais destacar a disparidade entre os preços.

O Milk & Mellow se encontra em dois estabelecimentos. O tradicional, na Av. Cidade Jardim 1085 e no Shopping Granja Viana. Vale ressaltar que o ambiente das franquias é diferente. O localizado na Cidade Jardim é bem charmoso, enquanto o da Granja Viana deixa a desejar”.

 

MODERNAS

 

Capital Burguer

A hamburgueria inaugurada em 2017 tem um ambiente moderno e muito agradável. Além disso, o espaço em Osasco é muito iluminado e conta com uma decoração descolada. O cardápio da Capital Burguer foi recentemente renovado. No dia 15 de setembro, mais combinações foram adicionadas ao menu, que já contava com dez opções - incluindo uma veggie.

Os hambúrgueres são todos artesanais e além do tradicional de carne, o Capital Burguer oferece opções de frango, calabresa e costela suína. O hambúrguer vegetariano é à base de batata. Falando em batatas, as porções de fritas são generosas, e podem servir até três pessoas. Elas são vendidas à parte.

O "Double Burguer Smash" é um dos novos lanches da casa e vem com dois hambúrgueres de 100 gramas cada, uma mistura de queijos e bacon. A carne é muito suculenta, o bacon muito crocante e a apresentação foge do tradicional: todos os lanches são servidos em tábuas de madeira.

A hamburgueria da cidade da grande São Paulo não é das mais baratas. Os lanches custam em média R$ 32, fora fritas e bebidas. Não há opções de combo - somente em pedidos por aplicativos de delivery. Uma pessoa gasta entre R$ 50 e R$ 60 reais em uma refeição no Capital Burguer. O restaurante também tem uma unidade na Vila Olímpia.

 

Madero

A rede de restaurantes do chef Junior Durski é uma das mais conhecidas e bem-conceituadas do Brasil. Presente em 17 estados e com 13 lojas somente na cidade de São Paulo, o Madero se autointitula[AQ1]  o "melhor hambúrguer do mundo". Em um vídeo publicado pelo próprio restaurante, o chef afirma ter comido em 70 diferentes hamburguerias americanas para saber exatamente como queria o seu hambúrguer. Segundo divulgação no mesmo vídeo, os hambúrgueres do Madero têm um blend (mistura) de 85% de carne e 15% de gordura.

A ambientação de todos os restaurantes do Madero segue um padrão: muita madeira, tijolos a mostra e uma releitura da fachada do primeiro restaurante, fundado em Curitiba e que em 2019 completou 13 anos. Mudanças mais significativas são vistas no "Madero Container", que são unidades menores (em espaço físico) e com o cardápio reduzido.

Com 27 opções de hambúrgueres e sanduíches, além de massas, peixes e outros pratos, o Madero é mais que uma hamburgueria. O "Madero Bacon" é uma dessas opções. Com um pão assado na hora que lembra muito um pão francês, salada fresca, bacon crocante e carne de 100g, esse é um dos pratos mais vendidos do restaurante. As deliciosas batatas fritas já acompanham o lanche, sem necessidade de pedir uma porção a parte. Vale lembrar que de segunda a sexta-feira há o "happy hour", com descontos em diversos pratos e chopp em dobro. Um dos detalhes mais saborosos do Madero é ketchup próprio, elaborado pelo próprio chef Durski. Uma refeição no Madero fica por volta dos R$ 55 reais, mas cada mordida compensa cada real gasto.

Meats

Se hambúrguer diferente é o que você procura, o Meats não irá te desapontar. Inaugurada em 2012, a hamburgueria faz sucesso na região de Pinheiros com seus hamburgueres inovadores. O cardápio é abrangente e se renova a todo momento, mas se você não gosta de bagunça entre a carne e o pão, a casa tem três opções clássicas que não saem de lá.

Dentre os fixos estão: o clássico dos clássicos, o Cheese Burger (R$27,50), pão, carne e queijo (cheddar brasileiro), que vem acompanhado de maionese e picles. O cheese salada, que no Meats é chamado de BLT (R$31), é composto por pão de mandioquinha, carne, cheddar brasileiro, alface, tomate e bacon. E por fim, para os mais conservadores, a casa tem uma opção sem queijo, o curto e grosso Hamburguer (R$22), que contém, pão de forma, carne, cebola roxa e picles.

Para os amantes do cheese salada, o BLT é imperdível. Por mais que o preço não seja amigável e ficará claro que não é, a suculência e maciez da carne, junto dos acompanhamentos básicos cria um sabor que compensa cada centavo.

Na parte “Chef’s Choice”, onde se encontram as misturas que despertam o interesse pelo local, é possível encontrar o Fancy touch. Notem os ingredientes: brioche de mandioquinha, carne, muçarela, honey-wasabi sauce e maçã verde laminada. Você já se imaginou comendo um hambúrguer com honey-wasabi sauce e maçã verde laminada? Melhor, você já se imaginou comendo um hambúrguer com honey-wasabi sauce e maçã verde laminada, dizendo que adorou? É isso que torna o Meats especial.

Vale lembrar que a carne de todos os hambúrgueres pode ser substituída por falafel e que a casa possui uma opção de ketchup de maracujá imperdível. A hamburgueria está localizada na Rua dos Pinheiros 320 e funciona do meio-dia à meia-noite.

 

 

 

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Eva Vila Pacheco
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05/11/2019 - 12h

Desde o século XIX, a imigração tornou-se um processo chave para a construção do território e da identidade nacionais. Em um primeiro momento incentivada pelo governo e, a partir de meados do século XX, realizada de forma espontânea, a entrada de estrangeiros no Brasil moldou a composição das grandes capitais, transformando cidades como São Paulo em verdadeiros centros cosmopolitas.

Hoje, fala-se em “fluxos migratórios”, numa tentativa de organizar os deslocamentos que se dão ao redor do globo terrestre. No caso do Brasil, estes movimentos vêm, especialmente, de continentes como África e Ásia (Oriente Médio). As razões são diversas: conflitos armados, escassez de recursos e até perseguição política.

Marcelo Haydu, diretor executivo do ADUS — Instituto para Reintegração de Refugiados, explica: “A lógica da migração forçada é buscar os países mais próximos. No entanto, com as fronteiras europeias e norte-americanas cada vez mais restritas, os emigrados passaram a enxergar no Brasil uma alternativa”.

CONGOLINÁRIA

Em uma colorida placa, lê-se: “Vegan Food — Descobrindo os Sabores do Congo”. Mais adiante, uma seta aponta a escada que leva ao segundo piso da Fatiado Discos, sebo de música e bar ao ar livre, localizado na Av. Alfonso Bovero (próximo às estações Sumaré e Vila Madalena do Metrô).

A escada dá num pequeno salão, igualmente alegre. Na parede, grafites de animais do continente africano. Contam-se nove mesas. Nelas, casais e grupos de amigos saboreiam — a maioria, pela primeira vez — a comida Congolesa. E suas expressões não disfarçam: ela é deliciosa.

Inaugurado em 2016, o Congolinária foi idealizado pelo Chef Pitchou Luambo. Advogado de formação, Pitchou emigrou para o Brasil em 2009, em função da guerra civil que tomou conta de seu país na década de 1990. Desde então, tem se tornado referência em ações afirmativas para refugiados, combatendo o preconceito e a discriminação.

O cardápio

No almoço, por R$ 30, o cliente opta por um prato principal, um suco e uma sobremesa, preparados pelo sous-chef. Para cada dia da semana, há um especial: refeições que buscam trazer o sabor do Congo para a mesa do brasileiro, com releituras e ingredientes encontrados aqui.

Mbuzi (fofu [polenta africana] de farinha de milho, couve na mwamba [pasta de amendoim] e banana da terra frita) 
​​​​​​Foto: Divulgação

O restaurante não utiliza nenhum produto de origem animal. Os pratos, inclusive, os homenageiam. Bata (servido apenas aos domingos), Kuku (às quintas-feiras) e Simba (todos os dias), querem dizer, respectivamente, pato, galinha e leão, em Suaíli, língua da família Banto.

Além disso, o local preza pelos ingredientes orgânicos, em vez dos industrializados. No sábado, a “Feijoada do Chef” (feijão preto refogado no azeite de dendê com legumes, mix de cogumelos, arroz branco cozido no suco de gengibre, farofa de banana da terra e couve na mwamba) é a mais pedida pelos clientes.

Recepção

Foto: Eva Pacheco

Os universitários Pedro, Pedro Bairrão, Gabriel e Guilherme são moradores do bairro e nunca haviam ido ao Congolinária. A ideia partiu de Guilherme, estudante de engenharia elétrica da USP, que conheceu o restaurante pelo Facebook, por meio do check in de seus amigos.

Eles confessam que não tinham muitas expectativas com relação a culinária do local, mas que foram surpreendidos positivamente pelos pratos degustados: a “Feijoada do Chef” e o Okapi (massa de mandioca fermentada, servida com feijão branco refogado no alho e azeite de dendê e funghi). “Achei a mandioca interessante, pois é preparada de um jeito com o qual não estamos acostumados. Geralmente, comemos frita, ou como um purê”, comenta Guilherme.

Gabriel, que estuda Publicidade & Propaganda, acrescenta: “A comida é um jeito bacana de entrar em contato com a cultura de um país. É legal ver que há oportunidades para pessoas que vêm de fora, e eu me sinto muito feliz em fazer parte disso”.

Já Gabriela e José, estagiários de moda e de planejamento, respectivamente, escolheram o Congolinária para comemorar o seu aniversário de quatro anos de namoro. Buscando por algo “diferente”, o casal provou e aprovou o Ngombe (nhoque de banana da terra com molho de tomates frescos e shimeji). “Eu gostei da mistura do doce com o salgado. Com certeza recomendaria para outros casais”, diz José.

Jantar dos Refugiados

Todas as terças-feiras, a partir das 19h, a área externa da Fatiado Discos recebe Gladis Villalobos, boliviana especialista na preparação de quitutes árabes, como o Saj (massa típica fininha, com diversas opções de recheio) e o Falafel (bolinhos de grão de bico fritos, servidos no pão folha com tomate, alface e tahine).

Saj de carne, R$ 20. Também nas versões queijo e zaatar
Foto: Divulgação

Após emigrar para o Brasil, no ano passado, Gladis foi acolhida por uma república de africanos, no bairro da Liberdade. Por meio de um conhecido, foi apresentada ao palestino Wessam Othman, com quem trabalha hoje.

“Eu fazia doces, e não conhecia nada de comida árabe. Perto do Ramadan, Wessam passou a me ensinar a cozinhar. A primeira coisa que aprendi foi o charutinho de uva. Depois veio a kafta, o frango…”, ela se recorda.

Emigrado da Síria em 2015, Wessam atuava como designer de moda e estudava Direito na capital do país, Damasco. Dois anos após o início da guerra civil, veio para São Paulo com seu primo. “Comecei fazendo esfiha em casa, para vender no Brás”, ele conta. Hoje, administra o próprio restaurante, o Falafel SP, com a ajuda da esposa Doha Qodsieh.

Burger Falafel, do Falafel SP (pão de hambúrguer, bolinhas de falafel, tomate, picles, salada de maionese, molho de romã e pasta de alho), R$ 35
Foto: Divulgação

Refúgio & empreendedorismo

Ainda de acordo com Haydu, grande parte dos emigrados possuem um viés empreendedor. “São pessoas que, na primeira oportunidade que tiveram de abrir o seu próprio negócio, o fizeram. Enxergo isso como uma forma de sentir-se valorizado”, aponta.

É o caso, também, de Muna Darweesh, refugiada síria que hoje trabalha com catering (serviço de buffet a domicílio). Em sua casa, no Cambuci, ela prepara grandes banquetes árabes, que serão servidos em festas e confraternizações. “Na Síria, esse não era o meu trabalho. Mas lá temos muitas festas e, como toda mulher, eu aprendi a cozinhar” diz Muna, que antes dava aulas de inglês no ensino básico.

A chef Muna Darweesh, ao lado de uma de suas mesas, cuidadosamente montadas
Foto: Divulgação

É por meio das redes sociais — mas também do “boca a boca” — que Darweesh divulga o seu negócio. Em grupos de Facebook e em sua fanpage, é possível conhecer os pratos que prepara e fazer a sua encomenda. “O meu trabalho é o meu cartão de visita”, orgulha-se, enquanto mostra as embalagens de kibes, esfihas e charutos de folha de uva que saem para a entrega.

Em bazares e encontros de empreendedoras, Muna expõe iguarias típicas de países como Síria e Líbano, a exemplo da Makdous (mini berinjela em conserva, recheada com nozes e pimentão), do chancliche de ricota (no azeite, com páprica doce) e dos doces “ninho” e de massa folhada.

Quando tiveram de emigrar, Muna e seu marido não puderam eleger o destino de sua preferência. Hoje, são felizes no Brasil. E ela faz questão de dizer: “A cozinha não é apenas uma forma de mostrar a minha cultura; é um espelho do meu amor pelo país que me acolheu”.

 

Serviço:

Congolinária

Av. Prof. Alfonso Bovero, 382

Telefone: (11) 2615–8184

Facebook: /congolinaria

 

Fatiado Discos e Cervejas Especiais

Av. Prof. Alfonso Bovero, 382

Telefone: (11) 2769–0083

Facebook: /fatiadodiscos

 

Falafel SP

R. Safira, 293

Telefone: (11) 97795–4915

Facebook: /FalafelSp

 

Chef Muna Darweesh

Sob encomenda

Telefone: (11) 95437–0682

Facebook: /munacozinhaarabe

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