O Software da Poda quer monitorar as condições das árvores pelos bairros de São Paulo
por
Julia Sena
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03/11/2025 - 12h

Por Julia Sena

 

No bairro da Vila dos Remédios, na zona oeste de São Paulo, seu Francisco, de 68 anos, já se acostumou com o barulho de galhos batendo contra os fios de energia nos dias de vento forte. Diz que na rua, quando chove, já sabe que vai faltar luz. Ele já fez inúmeros pedidos de poda à prefeitura, mas as respostas, quando vêm, demoram meses. A cena se repete em muitos bairros da cidade, árvores plantadas há décadas, sem planejamento e monitoramento. Além de crescidas demais, raízes que invadem calçadas, rompem fios e danificam tubulações. A falta de gestão eficiente da arborização urbana torna-se ao mesmo tempo um problema de segurança e um desafio ambiental. Foi diante desse cenário que um grupo de pesquisadores da Universidade de São Paulo desenvolveu o projeto Poda, uma iniciativa que usa inteligência artificial e softwares de modelagem ecológica para apoiar o poder público na tomada de decisões sobre o manejo de árvores nas cidades.

A iniciativa nasceu dentro do Instituto de Biociências da USP, sob coordenação do professor Marcos Buckeridge, especialista em fisiologia vegetal e diretor do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia do Bioetanol (INCT Bioetanol). A ideia surgiu de uma pergunta simples sobre se seria possível usar dados científicos para prever quais árvores precisam de poda antes que se tornem um risco. Para ele, o manejo das árvores urbanas ainda é muito reativo, a poda acontece depois que o problema aparece. O que se pretende é criar um sistema preventivo, capaz de indicar quando e onde agir, usando informações sobre o crescimento das espécies, o clima e as condições do solo.

O sistema desenvolvido pela equipe combina imagens de satélite, modelos de crescimento vegetal e dados climáticos locais. A partir disso, os pesquisadores conseguem estimar o ritmo de desenvolvimento das árvores e identificar áreas de risco, como regiões onde há alta densidade de copas próximas à rede elétrica.

Um dos diferenciais do projeto é a criação de modelos preditivos que consideram o impacto das mudanças climáticas no comportamento das árvores. Com o aumento das temperaturas e das chuvas intensas, algumas espécies têm crescido mais rápido e de forma desordenada, o que aumenta a chance de quedas e rompimentos. O software já permite prever o comportamento das árvores ao longo do tempo. Isso ajuda o poder público a planejar melhor as podas e reduzir custos com emergências.

A proposta da Poda é tornar a arborização urbana mais sustentável e integrada à rotina das prefeituras. O sistema já foi testado em áreas piloto de São Paulo e pode, futuramente, ser adaptado a outras cidades brasileiras. E o objetivo não é apenas tecnológico, mas também social,. pois o que está em jogo quando se pensa em árvores é preciso considerar sombras, em conforto térmico, em qualidade do ar. Mas se não houver manejo, esses benefícios se perdem.

De volta à Vila dos Remédios, seu Francisco ouve falar do projeto com esperança. Ele considera que se tiver um jeito de a Prefeitura saber antes que a árvore vai cair, já ajuda muito, porque esperar cair em cima do carro ninguém quer.

A equipe da USP também trabalha em uma interface pública, que permitirá aos cidadãos acompanhar o mapeamento das árvores de suas regiões e reportar problemas diretamente pelo sistema. Assim, o ciclo se completa: da denúncia à prevenção, com base em dados e participação popular. “Cuidar das árvores é cuidar das pessoas”, resume Buckeridge. E agora, com a ajuda da ciência é possível fazer isso de maneira mais inteligente.



 

Lugares que focavam em atividades de lazer e contemplação da natureza estão sendo transformados em shoppings a céu aberto
por
Victória da Silva
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31/10/2025 - 12h

Por Victória da Silva

 

Na Zona Sul da capital paulista, o Parque Ibirapuera é bastante frequentado por pessoas que não se restringem a residentes da cidade. Miriam Santos, sorridente e carismática, frequenta regularmente o local em períodos de descanso e, acompanhada por Andre Bressa, sente as mudanças causadas pela iniciativa privada que invade o espaço público e o torna um tanto quanto diferente do habitual. Miriam trabalhou durante 48 anos na mesma empresa e agora, aposentada, encontra no parque um refúgio no meio da selva de pedra, diz que o lugar já não é mais para todos os tipos de pessoas. Atualmente, com a grande quantidade de carrinhos de sorvetes sofisticados e o aumento do preço de lanches, ela mostra a mochila que Andre carrega com bolsas térmicas cheias de garrafas de água e alimentos para quando necessário. Bressa, que é pintor e trabalha em feiras livres, demonstra certa curiosidade sobre a quantidade de propagandas e publicidades que estão sendo distribuídas por todo o parque após a concessão. Ele atenta para um anúncio da tinta Suvinil, algo nunca visto antes em anos de visita ao local.

O Parque Ibirapuera não foi privatizado, já que sua propriedade continua sendo do município, mas foi concedido à iniciativa privada em 2020 para a concessionária Urbia, que vai comandá-lo durante os próximos 30 anos. Não só o Ibirapuera, mas os parques Villa-Lobos e Cândido Portinari também estão sob concessão, lidando com as mudanças. Há também projetos de concessão para outras regiões, principalmente na Zona Leste, no Parque Ecológico do Tietê, Parque Vila Jacuí e Parque Maria Cristina Hellmeister de Abreu.

No Parque da Água Branca, localizado em Perdizes, Andre relembra o episódio em que a concessionária, Reserva Novos Parques Urbanos S.A, instalou um showroom de carros da Peugeot que foi desmontado após ser considerado ilegal e gerar vários protestos. O pintor destaca como os espaços estão sendo utilizados para promover eventos de nichos mais elitizados e o quão evidente isso se tornou após o controle da e empresas. Além disso, ele observa que as lojas e restaurantes distribuídos, além dos eventos, shows e festivais realizados são majoritariamente frequentados por pessoas brancas, repercutindo uma desigualdade racial dentro dos parques que anteriormente não eram exclusivos de determinada raça ou classe.

Outros visitantes como Beatriz e sua mãe Alessandra, que costumam andar de bicicleta pela pista do local, se depararam com o alto preço de produtos simples, como a água. A garota relata que o preço da garrafa é o que mais a incomoda e sua mãe complementa contando que todos os produtos ficaram caros, incluindo os alugueis das bicicletas em que 1 hora com o veículo custa 18 reais.

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Concedido à iniciativa privada em outubro de 2020, Ibirapuera enfrenta alta no preço de produtos e instalação de unidades comerciais. Foto: Victória da Silva

Em maio deste ano, o Ministério Público de São Paulo abriu um inquérito para investigar a Prefeitura e a concessionária Urbia por uso e segregação de espaços públicos para fins particulares. Na época, o promotor Silvio Marques manifestou sua indignação contando que a empresa estava transformando o Ibirapuera em um “verdadeiro shopping center”. Também segundo o inquérito do MP, a Urbia promove um "loteamento" com a instalação de lojas, construção de grandes edifícios, comércio de bens e serviços e o uso remunerado de diversos espaços, com redução do espaço livre para uso gratuito da população. A investigação revela a crescente tensão entre o discurso de modernização via parcerias público-privadas.

Os radialistas, Viviane e Everton, que semanalmente vão ao parque para praticar exercícios e corrida, relembram a instalação da Casa Centauro que foi retirada após as muitas denúncias. Diferentemente, o casal não vê problemas nas mudanças que a concessionária promove e afirma que não sentiu tantas diferenças. No entanto, o mau planejamento dos serviços é um fator levantado pelos dois. Ele afirma que os espaços livres estão sempre lotados, dividindo-se entre pessoas que vão para passear e outras que praticam algum esporte. Apesar de admirada com a quantidade de novos serviços e possibilidades dentro do parque, a mulher faz uma dura crítica à falta de segurança, já que, para ela, a concessionária deveria investir em questões como essa.

Para além dos fatores levantados, taxas para corredores e para assessorias esportivas também são alvos de revolta. O Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP) autorizou, em julho deste ano, a aplicação de tarifas pensando no uso do espaço do parque para atividades esportivas. Mais do que discutir contratos e taxas, está em jogo o compromisso de preservar os espaços públicos como lugares de encontro, lazer e diversidade, e não como territórios delimitados pelo poder de consumo. A garantia que espaços públicos não se convertam em mercados restritos permanece aos órgãos municipais e a população que frequenta os ambientes precisa lidar com a frequente disputa que acontece desde 2024.

Gratuidade do transporte público no Brasil é possível, e joga luz nos gastos das famílias com a locomoção e exclusão social
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Vítor Nhoatto
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24/10/2025 - 12h

Por Vítor Nhoatto

 

É de manhã, por volta das sete, e o começo do dia para milhões de brasileiros em um ponto lotado. As dezenas de pessoas tentando se colocar fora do sol escaldante da cidade, com rostos franzidos e olhos apertados toda vez que um ônibus passa, torcendo para que seja o seu. E decepcionadamente dispostos, pagam por algo que deveria ser universal, e poderia, mas é na verdade um peso desproporcional e impede o acesso a outros direitos.

Mas nos últimos meses uma luz no fim do túnel, ou melhor, um letreiro iluminado no ônibus com o destino desejado voltou a ser discutido. A chamada Tarifa Zero do transporte público no País está em análise pelo Governo Federal, e o presidente Lula solicitou estudos para a viabilidade do projeto, que envolve questões políticas e relativa falta de esperança pelo povo.

O público no meio da avenida é desse jeito, já apático diante do barulho do motor diesel e dos corpos todos em contato na condução do dia a dia. Para Josefa Sueli, só Sueli pede ela, e cerca de 10 milhões de pessoas só na capital paulista segundo a SPTrans, é exatamente nesse cenário que o ir e vir acontece. Trabalhadora doméstica há mais de 30 anos e pernambucana arretada, conta que pelo menos quatro vezes por semana desembolsa R$5,80 no ônibus da EMTU azul e vermelho até a estação em Osasco ou a Lapa aqui na capital, e mais R$5,20 no trem ou R$5,00 no ônibus agora da SPTrans. Fato é que como milhões de outros brasileiros, o gasto só na ida passa dos dez reais, e o tempo nessa brincadeira urbana não é menor que duas horas. 

Pessoas com mochila nas costas que atrapalham a passagem, condução que não chega no intervalo que era para chegar. Olhos nervosos mirando o relógio na tela do celular que seguram com uma mão, enquanto a outra suada se segura nas próprias pessoas ao redor… não há espaço para encontrar as barras de suporte. E lá se foram as duas horas. Sueli chega então na casa do dia perto das nove da manhã, e com R$11 a menos na conta. Entre vassouradas e esfregadas, continua comentando sobre episódios que só o transporte coletivo pode proporcionar. Mas depois de uma janela que não pôde abrir, uma encarada de lá e um empurrão de cá, a constatação que mesmo assim ainda gasta um absurdo só para chegar até os lugares, em vida e dinheiro.

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), o gasto com transporte das famílias só não é maior que habitação e alimentação, sugando até 20% do salário por mês. No caso da Sueli, que perde a mesma quantia na volta, lá se foram pelo menos R$350 no mês, só indo e vindo do trabalho quatro dias na semana.

Recentemente tendo passado por uma suspeita de câncer de intestino, ela conta feliz que não tem a doença, e todo final de semana sai para comemorar a vida. Às vezes com o filho, que mora na zona leste de São Paulo, há mais de duas horas de distância, outras com a irmã e com as amigas em algum bar, se ela não conseguiu um ingresso para um show de algum cantor sertanejo que tanto gosta.  E tudo isso ela faz de ônibus e metrô na maioria das vezes, salva as pouquíssimas vezes que sobra algo para o Uber, mas enfim, também meio de locomoção. Fazendo então seus “passeios” obrigatórios no transporte ultrapassarem o gasto de 400 reais. 

Não precisava nem ser totalmente de graça aos olhos dela, que já viveram muitas histórias, e suas mãos calejadas que agarram as barras no ônibus e metrô tanto quanto o esfregão. Ela suspira enquanto levanta o seu óculos e indaga que algumas patroas ajudam com a condução, mas é um dinheiro que podia gastar com tantas outras coisas. 

Comprar um saco de arroz e feijão a mais, uma guloseima para a companheira de quatro patas, Bela, uma ida na Villa Country ou no Centro de Tradições Nordestinas (CTN). Uma quantia que faria a economia girar. Segundo estudo da Fundação Getulio Vargas (FGV), nas cidades com gratuidade universal, o número de empregos aumentou 3,2% e o de empresas 7,5%, sem falar da redução em 4,2% das emissões de poluentes pela diminuição de carros. 

Mas ela ainda se lembra da parte da sua família que vive em Pernambuco e dos conhecidos de lá. Cada real a mais faz a diferença para quem não tem o que ela tem. Um litro de leite, uma ida no posto que não pode fazer por causa da passagem, destaca.

Uma realidade para milhões de brasileiros que têm os seus direitos básicos negados também pelo transporte, um outro direito que consta na Constituição de 1988. O artigo 5º prevê direito à livre locomoção, e o artigo 6º o direito ao transporte, mas que são segregados e traduzidos como ferramenta de desigualdade social na prática.

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Transporte público é o meio de acessar os outros direitos além de simples meio de locomoção  - Foto: Vítor Nhoatto

De olhos na cidade

De volta ao ônibus, agora à tarde, mesmo que de pé ou sentado, é engraçado ver a vida passando pela janela. Os olhos dos CLTs, dos estudantes, dos trabalhadores informais como a Sueli olham para a cidade lotada de trânsito… quando não estão cochilando de cansaço com a cabeça encostada tremendo no vidro. Sobre essa questão, o mestre em economia pela universidade de São Paulo (USP), e mais que isso, militante da área, Antônio Carlos de Moraes destaca como isso é enorme e importante. Não se trata apenas de algo eleitoreiro e de apelo popular, destaca ele, mas algo que realmente muda a vida das pessoas. 

O modelo atual do transporte se baseia no ganho por passageiro, então quanto mais cheia for a linha, quanto mais empurrões e reclamações a Sueli tiver para contar na ida e vinda do trabalho, dentista, mercado, médico, bar, mais rentável ela se torna. Nisso tudo o número de carros aumenta para quem pode, tal qual o de acidentes, congestionamento e poluição, além das pessoas que deixam de acessar lugares pelo preço cada vez mais alto das tarifas. 

Com um sistema público nacional de transporte coletivo a história seria muito diferente, como enfatiza Antonio, lembrando de suas vivências e não de números que só interessam a economistas. Ele destaca que todos arcam com os prejuízos da troca do ônibus pelo carro, mas são os mais pobres que pagam o preço na pele, com cada vez menos para gastos básicos como alimentação, e abrindo mão de ir e vir compulsoriamente pelo orçamento que não fecha. 

Falando em sistema, tramita na Câmara o Marco Legal do Transporte Público, que visa estabelecer diretrizes nacionais sobre a contratação de empresas, regras, fiscalização e fontes de financiamento. Isso pode aumentar ainda mais a quantidade de cidades que adotam a Tarifa Zero de algum jeito, hoje o Brasil é o país com o maior número do mundo, com 170 municípios. E mais que isso, ele pressiona e possibilita a reparação histórica que seria um Sistema Único de Saúde (SUS) do transporte público. Poder ir e vir seria garantido, mais pessoas iriam à escola, ao médico, ao museu, ao mercado… e prefeririam o coletivo ao individual. 

Porém, quem iria então pagar a conta? Essa é a principal pergunta de Roseli Rodrigues, passageira de ônibus não por opção. Com um semblante preocupado, atrasada para o trabalho na Avenida Doutor Arnaldo enquanto espera no ponto da Rua Guaicurus, reclama do preço da gratuidade lembrando que de domingo, quando é de graça, o ônibus nunca chega.  Passando a mão pelo rosto em sinal de aflição e cinco reais no bolso ardendo para sair dali quando o número certo aparecer no letreiro no horizonte, destaca que é contra a gratuidade se a qualidade piorar. 

Mas em seguida, lembra que seria ótimo poder ir ao mercado com 200 reais a mais, valor que gasta em média por mês, já que prefere não ter 6% descontado do seu salário com Vale-Transporte (VT). Nos domingos, Roseli destaca ainda, que sempre que pode opta pelo carro de aplicativo devido a demora do ônibus e a lotação do metrô. 

Em exclusividade à CNN Brasil, segundo o presidente da Confederação Nacional do Transporte (CNT), Vander Costa, o custo anual da gratuidade universal de ônibus, trem e metrô custaria R$90 bilhões. Quantia, no entanto, que como destaca Antonio, pode se tornar realidade sem colocar as contas públicas em risco. Ele destaca que a solução não é tirar de outras áreas essenciais nem criar impostos novos para o povo, mas sim, por exemplo, tributar super ricos. Uma decisão política que precisa ser bancada além de calculada para dar certo. 

No caso das empresas, ele lembra como elas se beneficiam diretamente das obras de infraestrutura voltadas ao transporte, apontando para os prédios em construção ao redor com destaque para o outdoor que grita “more perto da futura linha-6 laranja do metrô”. É mais que justo que elas contribuam para o transporte, portanto, sem falar da diminuição do trânsito e melhora no rendimento dos funcionários, defende.  Além disso, o ônibus que não chega aos domingos para levar Roseli, ou a lotação de todo dia que pega na Guaicurus, e que faz jus a esse apelido, deixaria de ser o modelo de negócios praticado. Com a criação de regras e diretrizes tal qual o Marco Legal propõe, e a Frente Parlamentar - Tarifa Zero, as empresas em acordo iriam receber verba independente da quantidade de passageiros pagantes. Assim, não sendo benéficas economicamente a superlotação e qualidade ruim.

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Os públicos no ônibus são diversos, mas a necessidade de se locomover é universal - Foto: Vítor Nhoatto

E agora já está quase escuro lá no céu, e o fluxo de volta para casa começou. A fila no ponto de Roseli está dando a volta no quarteirão, tão longa quanto essa discussão. Segundo o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, a pasta quer apresentar os estudos de viabilidade ainda em 2025, mas os embates políticos e ideológicos são tão intensos quanto os pisões e esbarradas no corredor cansado do transporte coletivo. 

Avisos dizem, “cuidado degrau” no ônibus, e “atenção com o vão” nos trilhos, mas o verdadeiro foco deve ser nas ações políticas das próximas estações dessa história. Inegável programa de redistribuição de renda, esses 90 bilhões são um investimento e devolução de direitos a milhões de brasileiros, desde que passem a ser vistos assim. Mas enfim, até lá a vida não para, e agora tenho que ir que esse é o meu ônibus. 

Voluntários se reúnem quinzenalmente para apoiar pessoas em situação de vulnerabilidade na capital paulista
por
FABIANA CAMINHA
JOÃO VICTOR ESPOSO GUIMARÃES
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25/09/2025 - 12h

Domingo, 7h da manhã. Enquanto a cidade ainda desperta, a fila já contorna os fundos do Shopping da Lapa, zona oeste de São Paulo. Essa cena se repete a cada 15 dias. Antes mesmo da chegada dos voluntários do Ondas de Amor, quem deseja receber os kits já sabe onde se posicionar. Pessoas com mobilidade reduzida são prioridade. Todos aguardam organizados quando chega o primeiro carro carregado com os itens que serão distribuídos. 

 

Pessoas em situação de vulnerabilidade formam fila para receber kits entregues por voluntários na Lapa
Pessoas em situação de vulnerabilidade formam fila para receber kits entregues por voluntários na Lapa. ​​​​Foto: João Victor Esposo Guimarães/Agemt

Criado em 2019, o grupo distribui, a cada ação, cerca de 180 kits de café da manhã, além de água e itens de higiene, como sabonetes, absorventes e papel higiênico. Ocasionalmente, também são oferecidos produtos adicionais, como escovas e pasta de dente, aparelhos de barbear e desodorantes.

Em dias frios, a entrega inclui cobertores e toucas de lã. Além de suprir necessidades básicas, a iniciativa oferece também mensagens de acolhimento inspiradas na doutrina espírita a quem quiser ouvir.

A ideia nasceu de uma dinâmica com adolescentes em um centro espírita da Vila Romana, bairro da zona oeste. Desafiados a elaborar um projeto de caridade, os jovens sugeriram o nome Ondas de Amor e propuseram oferecer não apenas alimentos básicos, mas itens que consideravam “gostosos”, como sanduíches, bolachas recheadas, doces e achocolatado. O projeto não foi adiante com os adolescentes, mas duas das educadoras, Marildes Esposo e Valéria Vareta, decidiram colocá-lo em prática.

No início, as limitações eram grandes. Somente cerca de 20 kits eram distribuídos, por falta de recursos e voluntários. Com o tempo, a ação ganhou força. Nem mesmo a pandemia interrompeu o trabalho. Com adaptações, máscaras, luvas e distanciamento, o Ondas manteve as distribuições em um período em que a vulnerabilidade de quem vive nas ruas se agravou.

 

Voluntários incluem mensagens de fé junto com os kits distribuídos.
Voluntários incluem mensagens de fé junto com os kits distribuídos. Foto: João Victor Esposo Guimarães/Agemt

Hoje, aproximadamente 130 kits são entregues na Lapa e o restante é oferecido nos arredores da Avenida General Olímpio da Silveira, sob o Minhocão. Nessa segunda etapa, os voluntários percorrem as barracas, chamando as pessoas pelo nome e demonstrando os vínculos construídos ao longo dos últimos anos.

O senhor José, em situação de rua, é um exemplo dessa relação. Há anos recebe os kits do grupo sob o viaduto e, a pedido dele, o projeto passou a incluir livros, dispostos de forma acessível a qualquer interessado. Sempre que possível, são distribuídos sacos de rações para animais e quando há doações de roupas e calçados, esses itens também são entregues a quem precisar.

Livros doados são organizados para distribuição durante a ação voluntária.
Livros doados são organizados para distribuição durante a ação voluntária. Foto: João Victor Esposo Guimarães/Agemt

Mas a atuação do grupo vai além da entrega de alimentos, livros e vestimentas. Em alguns casos, é possível fazer uma diferença ainda maior, como no de Ana, que vivia em uma barraca sob o Minhocão quando os voluntários perceberam que estava grávida.

Com sua permissão, Marildes, Eloisa Cestari e Márcia Aoki, outras colaboradoras do projeto, se mobilizaram para garantir o acompanhamento médico de Ana. Desde então, ela passou a viver na Associação Amparo Maternal, centro de acolhida para gestantes, mães e bebês apoiado pela Prefeitura de São Paulo.

O caso evidencia como a iniciativa pode transformar vidas, especialmente quando atua em parceria com outras instituições. Segundo Marildes, o projeto busca ir ainda mais longe. “Nosso sonho é criar uma rede de apoio que nos permita ampliar e qualificar o acolhimento dos que precisem desse tipo de ajuda”, afirma.

Uma operação com um impacto tão grande exige um esforço quase proporcional. A preparação para o domingo começa cerca de uma semana antes. Alguns voluntários cuidam das compras, outros montam os lanches e organizam as sacolas. Atualmente, cerca de 20 pessoas atuam diretamente na logística para que tudo esteja pronto no dia da ação, além daqueles que contribuem indiretamente com doações e apoio financeiro. 

Alimentos e produtos de higiene compõem os kits distribuídos por voluntários.
Alimentos e produtos de higiene compõem os kits distribuídos por voluntários. Foto: João Victor Esposo Guimarães/Agemt

“O trabalho voluntário é isso, é dar e fazer o que é possível, mesmo que sejam 10 minutos na ação ou 10 reais doados.”  afirma Marildes, que reforça a importância do esforço coletivo. É possível encontrar mais detalhes sobre o trabalho do grupo e outras formas de contribuir com o projeto no site https://ondasdeamor.com.br/social 

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Maior evento europeu do setor continua na rota por novidades eletricas e mais concorrência a cada ano
por
Vítor Nhoatto
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22/09/2025 - 12h

Ocorrido entre os dias 9 e 14 de setembro, o IAA Mobility recebeu mais de 500 mil visitantes, superando a sua última edição em 2023. Estiveram presentes as germânicas Audi, BMW, Mercedes, Opel, Porsche e Volkswagen, mas Fiat, Peugeot e nenhuma japonesa compareceu. Com isso, mais uma vez uma grande parte de Munique foi palco para as chinesas se consolidarem e expandirem.

Com o lema “It’s all About Mobility”, em tradução livre, “É Tudo Sobre Mobilidade”, o foco da mostra se manteve em soluções inteligentes e inovadoras. Startups como a Linktour com  seus micro carros elétricos, e marcas de bicicletas e motocicletas elétricas estavam por todos os lados do München Expo Center. E repetindo o formato aplicado desde 2021, com o chamado “Open Space”, uma área de experiências interativas gratuitas ao ar livre, os visitantes podiam experimentar tudo isso.

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

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 Além disso, a inovação tecnológica foi tema de muitos debates e coletivas de imprensa com representantes da indústria. Fornecedoras como a Bosch, Aisin e Revolt, além de empresas de carregadores como a Charge X e E-Mobilio e a gigante de baterias CATL foram só alguns dos mais de 750 expositores presentes. 

Setor premium atento

Falando em eletricidade, ela estava no centro das atenções de todas as marcas, apesar das vendas de carros elétricos (BEV) terem sido prejudicada na Europa no ano passado. O fim ou diminuição de subsídios governamentais e metas de descarbonização estagnadas na União Europeia foram os principais motivos segundo o Global EV Outlook 2025 da International Energy Agency (IEA). No entanto, as projeções para esse ano e os próximos são de crescimento.

De olho nisso a BMW lançou o novo iX3, modelo mais importante em anos ao inaugurar uma nova era para a alemã. A segunda geração do modelo estreia uma plataforma sob medida e exclusiva para elétricos de nova geração, chamada de Neue Klasse. O destaque fica com a nova bateria de 108.7kWh de capacidade integrada ao chassi, compatível com carregamento ultrarrápido de até 800V - ganha 372km em apenas dez minutos - e autonomia de 805km em uma carga segundo o ciclo WLTP. 

No quesito design a ruptura com o passado é ainda mais evidente, com uma nova linguagem visual, inspirado nos modelos da BMW dos anos 80. No interior foi inaugurado o Panoramic iDrive, com o painel de instrumentos correndo ao longo de todo o para-brisa, um novo volante de quatro raios e um multimídia com inteligência artificial de 17,5 polegadas. “A Neue Klasse é o nosso maior projeto futuro e marca um grande salto em termos de tecnologias, experiência de condução e design”, frisou o presidente do conselho de administração da marca, Oliver Zipse.

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Alemã aproveitou o evento para apresentar o futuro Sedan i3, que seguirá o capítulo iniciado pelo SUV iX3,  irmão de plataforma. Foto: BMW Group / Divulgação 

Do outro lado do pavilhão, a Mercedes-Benz fez um movimento parecido, lançando a segunda geração do GLC elétrico. O modelo foi o primeiro elétrico da marca, ainda em 2018 como EQC. Mas pelas vendas baixas havia sido descontinuado no ano passado, e agora retorna com o nome “GLC With EQ Technology”, para evidenciar as mudanças. Rival direto do iX3, segue a linguagem de design inaugurada no novo CLA no ano passado, aqui com uma grade iluminada e enormemente proeminente.

Construído sob a inédita plataforma elétrica MB.EA Medium, independente do GLC, a combustão portanto, possui carregamento de até 800V e uma bateria de 94kWh, traduzidos em 713 km de autonomia. No interior, o SUV inaugura o “Hyperscreen”, transformando o painel inteiro em uma tela de 39.1 polegadas. O interior pode ser todo vegano e certificado, e a comunicação Car-to-X - que coleta e envia dados para comunicar outros veículos - se destaca no quesito segurança. O preço inicial deve girar em €60 mil quando chegar às lojas ainda esse ano, tal qual o rival.

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Faróis possuem tecnologia Matrix, e sob o capô há um espaço de 128 litros para bagagens. Foto: Mercedes-Benz / Reprodução

Mas nem só de SUVs o mercado premium é formado, e a Polestar compareceu a Munique para o lançamento mundial do seu novo modelo de topo, o sedã 5. A marca do grupo Geely, divisão de performance da Volvo até 2017, aposta em sustentabilidade e alta performance, estreando a nova plataforma PPA do grupo. São 872 cavalos, tração integral, aceleração de 0 a 100 em 3,2 segundos e ausência de janela traseira, tal qual no crossover 4.

Um presente e futuro elétrico

Nas duas últimas edições do Salão de Munique, ambientalistas protestaram em frente ao evento em defesa de uma mudança sistêmica da indústria, o que se repetiu. As ONGs Extinction Rebellion e Attac levaram placas pedindo por mais investimento em transporte público e justiça social, jogando atenção para uma mentalidade individualista e o preço dos elétricos. 

Em relação a essa questão, um estudo da empresa de consultoria, Gartner, mostra que até 2027 os BEVs serão mais baratos de produzir que os carros a combustão (ICEVs), e o Grupo Volkswagen promete preços competitivos para sua nova geração de elétricos. 

Foram revelados no evento quatro modelos para o segmento B baseados na plataforma MEB Entry do conglomerado. O principal deles foi o ID.Polo da Volkswagen, com previsão de início de vendas em maio na casa dos € 25 mil. Como o seu nome sugere, é a versão elétrica do hatch Polo, e contará com baterias de 38 e 56 kWh, com uma autonomia de 350 e 450 km respectivamente. Uma versão GTI do modelo será também comercializada, com 223 cavalos.

Continuando o apelo esportivo que a versão encurtada da plataforma em que os modelos do segmento C, ID.3 e ID.4, são construídos, a espanhola Cupra mostrou a versão de produção do Raval. Com dimensões e motorizações basicamente iguais às do ID.Polo, promete continuar a expansão da nova marca do grupo, antigamente uma divisão de performance da Seat.

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Cupra Raval, ID.Polo e ID.Polo GTI  (direita) serão lançados em março do ano que vem, enquanto os SUVs Epiq e ID.Cross (esquerda) chegarão no segundo semestre. Foto: Volkswagen AG / Divulgação

Como era de se esperar pela relação do Polo com o T-Cross, sua versão SUV, o conceito ID.Cross foi mostrado. Com o mesmo tamanho do modelo que substituirá em 2026, integra o segmento disputado dos B-SUV elétricos, formado por nomes como Peugeot e-2008, Renault 4 e Volvo EX30. Focando em espaço e ergonomia, marca a volta de botões físicos no volante e do ar condicionado, além de um maior uso de materiais reciclados. 

Por fim, a Skoda apresentou a sua versão do SUV, denominada Epiq. Tal qual os irmãos de plataforma, será construído em Pamplona, na Espanha, e contará com a capacidade de carregar dispositivos externos como eletrodomésticos (V2L). A velocidade de carregamento é de até 125 kW, indo de 10% a 80% em 20 minutos, e o modelo estreará uma nova identidade visual para a tcheca no ano que vem.

Ascensão chinesa continua 

Aprofundando essa questão dos preços, são as marcas chinesas que se destacam globalmente, como destaca a IEA. Com grandes reservas dos minérios utilizados nas baterias, as fábricas para construí-las e anos de investimento estatal na tecnologia, seguiram com sua expansão em solo alemão. 

A BYD, maior marca chinesa em números, marcou presença com o recém lançado Dolphin Surf - a versão europeia do Dolphin Mini. Avaliado com cinco estrelas pelo Euro NCAP, é um dos BEVs mais baratos hoje à venda na Europa, custando cerca de € 20 mil. No campo dos híbridos plug-in (PHEV) a Station Wagon do segmento D, Sealion 06, foi lançada, focada em conforto e tecnologia com até 1.092 km de autonomia combinada.

Outra marca com novidades foi a Leapmotor, que já vende o hatch subcompacto T03 e o D-SUV C10 no continente, de lançamento marcado para o Brasil ainda em 2025. Pertencendo 20% à Stellantis, que controla a sua operação internacional, apresentou o inédito hatch B05, rival de Volkswagen ID.3 e BYD Dolphin. Sob a mesma plataforma do C-SUV B10, terá cerca de 400 km de autonomia e início de vendas para o ano que vem por cerca de € 30 mil.

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"O B05 (direita) reflete nosso compromisso com a inovação, acessibilidade e a capacitação da próxima geração de motoristas em toda a Europa e além", declarou o CEO global da marca, Zhu Jiangming. Foto: Leapmotor / Divulgação

Munique foi para além de um lugar de novos modelos, mais uma vez o palco de marcas inteiras debutando em solo europeu. A marca AITO, do grupo Seres, que usa a tecnologia da Huawei, se lançou no mercado internacional com os SUVs 9, 7 e 5. Mirando as marcas premium alemãs nos segmentos E e D, podem ser tanto BEVs ou elétricos com extensor de autonomia (REEV), repetindo a abordagem da Leapmotor com o C10.

O grupo Changan Auto iniciou as operações da sua marca Deepal com os SUVs de apelo jovem e esportivo S05 e S07, ambos com opções de serem elétricos ou PHEVs. No campo de luxo, a marca Avatr da gigante chinesa mostrou seu primeiro concept car, o Xpectra, além dos modelos 06, 07 e 12, já comercializados em alguns países europeus e com planos de chegarem a 50 mercados em breve.

A premium Hongqi esteve presente e revelou o C-SUV elétrico EHS5, além de anunciar planos de expansão com 15 modelos e 200 pontos de venda pela Europa nos próximos anos. E aumentando a sua aposta no evento, a Xpeng teve um stand dentro do pavilhão e apresentou a nova geração do P7, sedã que começou a ser comercializado na Europa no IAA Mobility 2023.

Além disso, a recém chegada ao Brasil, GAC, estreou no velho continente levando cinco modelos para a mostra. Seguindo com o “European Plan Market” anunciado no ano passado, lançou como modelos de topo o novo GS7, um SUV grande híbrido plug-in, e a MPV híbrida (HEV) E9. Mas os destaques da marca foram o hatch AION UT, rival de BYD Dolphin, e o D-SUV rival de Tesla Model Y, o AION V.

O primeiro possui bateria de 60 kW/h com 430 km de autonomia e previsão de início da comercialização em 2026 na casa dos € 30 mil. Já para o segundo, comercializado no Brasil por R$214.990, o preço de € 35.990 foi anunciado, muito competitivo para o segmento. Com 510km de autonomia e cinco estrelas no teste do Euro NCAP - com mais ADAS que o brasileiro - será o primeiro a chegar às lojas, já em setembro em mercados como Portugal, Finlândia e Polônia. O plano é que a marca venda em todos os países europeus até 2028.

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Estava ainda em Munique o carro elétrico voador GOVI AirCab (ao fundo) buscando mostrar os avanços da indústria chinesa, segundo a empresa. Foto: GAC Group / Divulgação

Eletrificação em todos os níveis 

Para além das novatas, ícones do mercado aproveitaram os holofotes da feira para se renovarem completamente. Esse foi o caso da única francesa presente, a Renault, que lançou a sexta geração do hatch Clio, o segundo carro mais vendido no continente em 2024.

Construído sob a mesma plataforma que o seu predecessor, mantém o motor 1.2 TCe e uma opção movida a GPL, mas as semelhanças acabam por aqui. No powertrain, estreia um novo sistema full-hybrid (HEV) formado por um motor 1.8 e dois elétricos, resultando em 160 cavalos e modo de condução elétrico na cidade. Conforme a estratégia da marca, o Clio não terá versão elétrica, papel delegado ao hatch de estilo retrô, o 5.

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Hatch cresceu 6 centímetros em comprimento, evocando uma silhueta mais esportiva e afilada. Foto: Renault Group / Divulgação

No quesito design, o carro rompe por inteiro com a geração anterior, o oposto do que havia acontecido com a quinta geração em relação à quarta. A frente ostenta uma nova assinatura em DRL, que forma o símbolo da Renault, e a traseira possui lanternas duplas, nunca vistas em um Clio. O interior é todo novo também em relação ao antecessor, mas com o mesmo layout e sistema operacional do Google do irmão elétrico 5.

A Volkswagen foi outra que debutou no IAA uma nova geração de um best-seller, o T-Roc. Em sua segunda encarnação, também não terá versões elétricas, sendo o último novo carro a combustão desenvolvido pela marca. Haverão pela primeira vez no SUV opções micro-híbridas (MHEV), já conhecidas dos irmãos de plataforma como o Golf e A3, além de um novo sistema HEV, com 134 e 168 cavalos. Não haverá, pelo menos por ora, versões PHEV, sendo o único modelo sob a MEB Evo sem essa possibilidade, no entanto.

Seu exterior é uma evolução da primeira geração, mantendo linhas semelhantes e o seu apelo descolado, descrito pela marca. As dimensões aumentaram, 12 centímetros em comprimento, chegando a 4.37 metros, o colocando alinhado a rivais como o Toyota CH-R e Mazda CX-30. Por dentro a abordagem continua, com telas maiores e mais itens de conectividade e segurança assistida, mas com uma disposição de elementos clássica, vista nos últimos Golf e Tiguan.

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Modelo construído em Portugal foi o quinto carro mais vendido na Europa no ano passado. Foto: Volkswagen Group / Divulgação

Concorrência de todos os lados

Além das chinesas em franca expansão nos últimos anos no continente, outras concorrentes vêm se destacando na corrida pelos elétricos principalmente. A coreana Kia compareceu ao evento e mostrou ao público os novos integrantes da família EV, o EV4 e o EV5. 

O primeiro é um hatch do segmento C, acompanhado de uma variante sedã. Já o último se trata de um modelo lançado em 2023 - inclusive a venda no Brasil desde o ano passado - mas que chega só agora à União Europeia como a versão elétrica do Sportage. Sua conterrânea e marca irmã também esteve em Munique com o Concept 3, prevendo o futuro Hyundai Ioniq 3, equivalente do EV4.

Mas nem só da Ásia as novidades chegam, com a primeira marca turca de automóveis elétricos, a Togg, debutando em solo alemão a sua ofensiva no continente europeu. Fundada em 2018 e com a primeira fábrica inaugurada em 2022, apresentou o C-SUV T10X e o sedã T10F ao público. A pré-venda dos modelos começará em 29 de setembro na Alemanha, e no ano que vem a empresa pretende iniciar seus trabalhos na França e Itália, com meta de ter até 2030 um milhão de veículos em toda a Europa.

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Preços ainda não foram divulgados, mas devem ficar em torno de € 40 mil tomando como base as cifras no mercado turco. Foto: Togg / Divulgação

Construídos sob uma plataforma elétrica, ambos receberam nota máxima no Euro NCAP recentemente, com mais de 9% de proteção para adultos e 80% nos ADAS. A respeito do desempenho, a bateria possui 88.5 kWh de capacidade, e autonomias de até 500 e 600 km para o SUV e o sedã respectivamente. 

“Nossos modelos proporcionam uma experiência de mobilidade voltada para o usuário e voltada para o futuro”, comentou Gürcan Karakaş, CEO da marca durante o evento. A marca anunciou ainda que trabalha no terceiro de cinco modelos que irá lançar até o fim da década, o B-SUV T8X. Karakaş finalizou destacando que prepara para introduzir baterias de pirofosfato de lítio (LFP), e que a indústria deve estar preparada para as mudanças e maior concorrência.

Decisão que vai contra o pedido da associação de moradores Viva Pacaembu foi tomada pela juíza Maria Gabriella Pavlópoulos em 25 de janeiro, ainda cabe recurso.
por
Eduardo Moura
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16/04/2021 - 12h

Em 2019 o complexo esportivo do Pacaembu, que pertence a prefeitura de São Paulo, foi concedido para a iniciativa privada através de uma concessão de 35 anos para a concessionária Allegra, no valor de R $752.409.974,07 a serem pagos durante esse período. A primeira parcela no valor de R $79,2 milhões, já foi paga pela concessionária.

A concessão do complexo esportivo do Pacaembu, inclui os seguintes itens:

  • estádio de futebol;

  • piscina olímpica aquecida, com arquibancada para 2,5 mil pessoas;

  • ginásio poliesportivo coberto com capacidade 2.500 espectadores;

  • ginásio de tênis com piso de saibro e capacidade para 800 pessoas;

  • quadra externa de tênis com arquibancada para 1,5 mil pessoas;

  • quadra poliesportiva externa com iluminação;

  • três pistas de cooper, com 500, 600 e 860 metros;

  • duas salas de ginástica;

A Praça Charles Miller e o Museu do Futebol não fazem parte da concessão e permanecem sob comando da administração pública.

O embate entre a prefeitura de São Paulo e a associação de moradores do bairro, Viva Pacaembu, acontece desde o início da gestão Dória na prefeitura de São Paulo em 2016, quando o então Prefeito colocou o projeto de concessão do complexo esportivo do Pacaembu como prioridade na agenda da secretaria de desestatização do município. O motivo alegado pela secretaria de desestatização para a concessão do complexo esportivo é a queda de rendimentos devido à significativa diminuição de eventos esportivos no complexo, principalmente os jogos de futebol. Com as arenas de Palmeiras e Corinthians em plena atividade, o estádio deixou de ter uma média anual de 75 jogos para uma média de 30 jogos por mês em 2017. Isso porque Palmeiras e Corinthians, principalmente, eram os clubes que mais utilizavam o estádio para as suas partidas.

A associação Viva Pacaembu é muito engajada e ativa em toda e qualquer decisão tomada em relação ao bairro e durante todo esse período vem contestando diversas ações no projeto de concessão.

Uma das questões apontadas pela associação dos moradores é a utilização do complexo esportivo do Pacaembu pela população. A Viva Pacaembu cobra para que o uso do complexo continue gratuito e com acesso livre a todos. Em contato com o Secretário Executivo de Projetos Estratégicos, Alexis Galias de Souza Vargas, ele assegura que a utilização do complexo esportivo para toda a população paulistana, está prevista no contrato da concessão e deverá ser cumprida rigorosamente.

Outra questão apontada pela a associação é a demolição do Tobogã para a construção de um prédio que contará com lojas, restaurantes e até um hotel. No lugar onde fica hoje o tobogã, entre 1940 e 1970, ficava a concha acústica, utilizada para eventos musicais. Somente no final da década de 1960, com o aumento significativo do público nos jogos de futebol, é que o tobogã foi construído, aumentando a capacidade do estádio em 10 mil lugares. O estádio então passaria a ter a capacidade de público de 37 mil pessoas. A associação dos moradores na época, também foi contra a demolição da concha acústica e a construção do tobogã.

Em janeiro deste ano o juiz Alberto Alonso Muñoz da 13 Vara de Fazenda Pública, concedeu uma liminar que proibia a demolição do tobogã. Porém tanto a demolição do tobogã quanto o pedido de anulação da concessão do complexo esportivo do Pacaembu, foram negados Pela juíza Maria Gabriella Pavlópoulos, também da 13 Vara, alegando que o tobogã não faz parte do patrimônio tombado do estádio e que na época da construção do tobogã em 1970, também tiveram críticas em relação a descaracterização da arquitetura do estádio com a construção do tobogã. 

Confira a entrevista feita com o Secretário Executivo de Projetos Estratégicos, Alexis Galias de Souza Vargas, contando um pouco mais sobre o projeto de concessão do complexo do Pacaembu no link abaixo:

 

 

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Em novo livro o pesquisador traz detalhes sobre a milícia brasileira e a relação desses grupos com a morte da vereadora Marielle Franco
por
Artur Ferreira, Gabriela Neves e Natasha Meneguelli
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09/12/2020 - 12h

O jornalista e pesquisador do Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo (USP), Bruno Paes Manso, acaba de lançar seu novo livro “A república das milícias: Dos esquadrões da morte à era Bolsonaro”.

Na obra ele explica diversos aspectos das pessoas que entram para a milícia, a construção desses grupos e seus embates no estado do Rio de Janeiro. Além isso, conta detalhes das investigações do assassinato da vereadora Marielle Franco.

Em entrevista, o pesquisador afirmou que a política brasileira foi o nosso Martin Luther King ao lutar e mostrar para a população das comunidades cariocas que o futuro poderia ser diferente e menos violento. Principalmente, para os jovens que não deveriam se render ao sistema do crime organizado.

Bruno também fala do envolvimento da família do atual Presidente da República com  milicianos e da guerra aos excluídos da sociedade: “O Bolsonaro disse isso na televisão, a solução pro Brasil é uma guerra civil […] Essa guerra ao crime, essa guerra aos bandidos, é guerra aos negros, aos pobres, às pessoas que são vistas como perigosas”, afirma o pesquisador.

Além deste livro, o jornalista também escreveu “A guerra: A ascensão do PCC e o mundo do crime no Brasil” (Todavia, 2018), em parceria com a pesquisadora Camila Nunes Dias.

 

Confira a entrevista na íntegra:

Artur, Gabriela e Natasha: Bruno, acho importante pontuar para o leitor sobre quem é o miliciano, qual o perfil de alguém que entra para a milícia e o que difere do tráfico? E necessariamente todo miliciano é um policial?

Bruno Paes Manso: Quando começaram as milícias, esse modelo miliciano, por volta dos anos 2000, eram policiais, ex-policiais, e pessoas ligadas à segurança privada, os chamados penteados, que eram pessoas que circulavam nesse mercado de proteção, de segurança, tanto público como privado. Na polícia militar, civil, exército, corpo de bombeiros, como na segurança privada, que também é imensa. Um dos que eu entrevisto no primeiro capítulo, inclusive, tentou ser policial, não conseguiu, ele entrou no setor de segurança privada e foi para as milícias. Com o tempo isso vai mudando um pouco, principalmente quando tem uma série de prisões. Os grupos começam a brigar, a matar entre si, o que começa a mudar mais esse perfil, e pessoas ligadas aos territórios que as milícias dominam passam a entrar, sendo policial ou não. Mas sempre a conivência dos batalhões e das delegacias é importante. Mesmo não sendo policial, existe um modelo de negócio que inclui a participação da sociedade, a parceria, de membros da segurança pública nos territórios.

AGN: Outro ponto que é crucial para entender esse cenário que nasceu no Rio de Janeiro é o modelo de negócio da milícia. Se existem registros de milicianos que também traficam drogas, então qual é a diferença entre o tráfico e a milícia?

B: A polícia começa a ganhar muito dinheiro com tráfico. Primeiro nos anos 80, porque o tráfico de drogas é um negócio muito rentável, que gera muito lucro. A partir do momento que o cartel de Cali passa a exportar cocaína na América do Sul pelo Rio de Janeiro, São Paulo, num mercado interno importante aqui no Brasil, mas também no corredor de exportação, essa commodity passa a fazer parte da cultura urbana nessas cidades. Os grupos de tráfico começam a ganhar muito dinheiro, principalmente por conta da venda do varejo, da droga, e tudo o mais. Com o passar do tempo a polícia descobre formas de também lucrar com isso, tanto com a venda de armas, no Rio isso é bem importante, como no desvio de munições para esses armamentos. E com as operações de guerra, eles passam também para o modelo de policiamento no Rio, ao contrário dos demais estados, em São Paulo também não é assim, de invasões a morros, para supostamente fragilizar o tráfico. Mas muitas vezes eles pegam droga e arma para vender no mercado paralelo, e para chantagear e extorquir os traficantes, no pedido de arrego, que é justamente pra evitar que certos grupos sejam mais ou menos visados. Uma espécie de leilão. No caso da polícia civil, também muito próxima dos jogos de azar, das máquinas de caça níquel, que é um tipo de parceria que rende muito dinheiro para eles. Isso começa a mudar a partir dos anos 2000 quando ao invés de chantagear os criminosos eles começam a protagonizar o crime e dominar os territórios, para extorquir os moradores com taxa de proteção, de segurança, os comerciantes vendendo terrenos em áreas protegidas, imóveis em áreas irregulares, mercado de gás, de internet e tudo isso que a gente vai conhecer. Desde o kit churrasco até o cigarro do Paraguai. Tudo vira receita nesses territórios dominados pelos grupos milicianos, e aí o tráfico de drogas entra nessa também. Eles passam a organizar mais essa fonte de receita, nesses territórios que eles dominam. E é o tráfico de drogas principalmente, com uma parceria do TCP, Terceiro Comando Puro.

AGN: As características da milícia, ela vai se assemelhar com outros grupos criminosos ao redor do mundo? No contexto da América Latina. Você citou o próprio cartel de Cali, o cartel de Medellín. Também surgem grupos paramilitares na Colômbia nessa mesma época. Esses grupos têm comparações com outros ou eles são muito únicos do contexto carioca.

B: Eles são muito próprios do contexto carioca, mas é possível fazer alguns paralelos, porque eles ganham legitimidade e apoio da população por se venderem como o inimigo atual do tráfico de drogas. No caso da Colômbia e do México os grupos paramilitares passaram a ter influência nos governos como oposição e como exército inimigo dos cartéis.  Como uma forma de você enfrentar os cartéis. No caso do Rio também, as milícias têm esse discurso. Essa autodefesa comunitária feita pela polícia, os policiais moradores dos bairros que eles passaram a controlar. Sempre com essa justificativa de que o tráfico de drogas é um problema que eles vão ajudar a livrar a população. E assim também que eles vão se infiltrando no governo, no Ministério Público, na justiça, tem uma aceitação maior das instituições do estado que tem uma dificuldade maior em lidar com o tráfico. Então esse paralelo é possível.

AGN: É importante também citar que no livro, no início, você fala da relação do tráfico com a consolidação da milícia. Em um momento do livro, você usa um conceito criado por traficantes que era o de apelidar a milícia de o “Comando Azul”. Essa simbologia de nomes mostra o que dá visão que o tráfico possui da milícia? A relação entre ambos é sempre de conflito?

B: No caso do Terceiro Comando Puro com as milícias não, eles são próximos. Mas tem, não fui eu que chamei, circulou, os policiais, os jornalistas de lá, que apelidaram de “Comando Azul” em determinado momento. Por causa da cor das fardas da Polícia, já o Comando Vermelho, o nome surgiu também em 1979 quando a Falange Vermelha surge também pela imprensa com uma conotação meio ligada aos grupos guerrilheiros, porque eles tinham trocado informação, conversas em Ilha Grande com outros grupos, então os delegados apelidaram de Comando Vermelho, Falange Vermelha. No caso do Terceiro Comando a cor é verde. Mas é interessante – o ADA [Amigos dos Amigos] é amarelo, porque tem alguns aspectos simbólicos que são interessantes porque no fundo eles, apesar dessa rivalidade muito profunda e violenta que existe, eles são muito parecidos na essência. A principal diferença são os paramilitares, que usam farda. Basicamente a diferença é essa, são igualmente violentos e criminosos. Uma tirania violenta que quer ficar rica por meio da venda de drogas, impondo o terror para tentar estabelecer o seu poder territorial.

AGN: E Bruno, entrando principalmente na linha narrativa do livro, você primeiro começa com a entrevista com o Lobo que você dá o apelido pra esse esse miliciano, esse ex-miliciano, [Bruno confirma a informação]. E você vai explicando que existe um conceito de justiça nessas comunidades, e que não é só no Rio de Janeiro, aqui em São Paulo também, a gente muito por conta do contexto do PCC. E lá você vai explicando esse contexto, citando episódios da vida do Lobo. E você poderia explicar o que leva o jovem a crer que entrando no grupo que gera violência, ele vai ter paz, vai ter ordem na comunidade dele.

B: O que levou 60 milhões de pessoas a votarem em um candidato que durante 27 anos defendeu a morte e a violência paramilitar contra bandidos? A gente não está mais falando de justiceiros localizados territorialmente nas periferias, como eram nos anos 80, como aconteceu na Baixada Fluminense. A gente tá falando agora de um país, que apesar de ao longo da história, e se imaginou que com o passar e o fortalecimento das instituições democráticas iria mudar, que iria ter um processo civilizatório que diminuísse a violência, os homicídios e a violência policial, a gente chega em 2018 elegendo o grande apologista dos justiceiros. O cara que falava que os grupos de extermínio da Bahia tinham que ser importados pro rio, o filho tentava legalizar as milícias, ele falava que no Carandiru tinha morrido pouca gente, tinha que morrer mais de mil presos, ele sempre foi um apologista dessa violência paramilitar. Por quê? Por que as pessoas engolem isso e por que isso persiste há tanto tempo? Eu venho entrevistando homicidas, né, e depois eu pesquisei o PCC, é uma coisa que é muito presente em territórios ou em sociedades com instituições políticas e demonstrativas frágeis, é uma constante sensação de vulnerabilidade e a crença de que o resgate da autoridade só pode ser feito por meio da violência. Então o homicídio e a violência nesses casos eles não são um problema em si, nesses casos é uma solução para o problema da ameaça de desordem, da ameaça de caos. Isso é muito forte. Eu lembro uma vez que eu fui fazer uma palestra nos Céus, Centros de Educação Unificados, tinham várias professoras, era um ambiente que eu imaginava muito amigável. Estava o Suplicy nessa conversa, tinha um rapper do Hip hop, e eu falando dos direitos humanos, uma audiência muito grande. E de repente uma senhora levantou, quando acabou a palestra, levantou a mão e perguntou: “olha, é o seguinte, meu filho foi assassinado em um roubo aqui na periferia e você tá falando de direito humanos. Eu queria saber o que você fala pra uma mãe como eu que perdeu o filho dela assassinado por um ladrão”? E a audiência inteira começou a bater palma, e eu fiquei com cara de otário no palco, é muito difícil eu falar e responder nessa situação. Mas é como se ela estivesse falando, “falar é fácil, mas se a gente não matar o ladrão, se você ficar defendendo o ladrão, a situação não se resolve”. Você desconstruir essa crença pra pessoa que vive uma imprevisibilidade cotidiana, uma violência, assaltado no ponto de ônibus. Esse tipo de ação covarde dos ladrões, e essa sensação de vulnerabilidade, ela acaba demandando algum tipo de solução, e o homicídio passou ao longo do tempo a seduzir as pessoas que acreditavam equivocadamente que isso podia ser uma solução para o problema. E a gente não conseguiu desconstruir isso, até achava que estava conseguindo, a Nova República vinha avançando e a democracia se fortalecendo. E a gente chega em 2018, com o grande defensor dessa forma de enxergar as coisas, sendo eleito presidente do Brasil com 60 milhões de votos.

AGN: E Bruno, ainda dentro esse imaginário popular de justiça e de “o bandido bom é o bandido morto”, essa mensagem acaba aparecendo também. Você vai falar de uma das milícias mais importantes nesse contexto, que é a Liga da Justiça. E eu como uma pessoa que cresceu vendo desenhos animados de Batman, Superman, Mulher Maravilha, lendo quadrinhos e queria saber isso de você, como foi analisar alguém que usa o símbolo do Batman e é um executor dependendo da situação...

B: É engraçado! Não, super legal essa sua pergunta! Primeira vez que me fazem, e eu tô dando muita entrevista, ela é boa! Não deixa de ser interessante que o Batman é um justiceiro, é um vigilante, ele tem toda uma moralidade própria, ele não deixa de ser um representante dessa ideia de vigilante, porque é numa cidade, Gotham, em que você não acredita em ninguém, não acredita no governo, na polícia, nas instituições, então o Batman que tem uma moralidade, o herói, super da elite tradicional de Gotham City, um cara muito bem educado, que tem esse lado sombrio e essa busca por justiça. E ao mesmo tempo ele não ultrapassa certos limites, ele evita matar, tem uma nobreza também. E, você sabe que um dos primeiros matadores e a Liga da Justiça ela surgiu porque tinha um policial matador que chamava “Batman”, e tinha um outro policial que as pessoas apelidaram de “Robin” e ele era um cara muito famoso na Liga da Justiça, e muito violento, inclusive, e por causa disso se ganhou o apelido. O Jerônimo e o Natalino, que eram dois dos chefes, me contaram e disseram que não era nada disso a história, e que na verdade eles ganharam esse nome porque quando eles eram candidatos a vereador eles saíam com esses trios elétricos para fazer campanha nas comunidades, nas favelas, tipo essas charangas com super herói, para atrair as crianças, pra fazer festa, e eles me disseram que era por causa disso. Mas, tem essa outra versão, que era por causa do Batman, que era super violento e tinha um parceiro que chamava Robin. O primeiro livro que eu escrevi, quando eu comecei a entrevistar os homicidas, quando eu comecei essa pesquisa 20 anos atrás, esse livro foi lançado em 2005, se chama o “Homem X”. E ele partia de uma entrevista que eu fiz com vários matadores, mas um deles, eu perguntei, “não vou poder usar o seu nome, você tá me contando sobre vários homicídios que você cometeu, então como é que eu posso te chamar”? E ele sugeriu “Wolverine”, “me chama de Wolverine”. E eu o entrevistei em 99, o X-Men não era muito conhecido ainda, tava começando, tinha o desenho na Record, e era por isso que ele sugeriu, não tinha o filme, não tinha toda essa franquia, tinha os quadrinhos, óbvio, mas não toda a franquia ainda que se tornaria popular. E eu achei uma metáfora super legal, por isso inclusive que eu usei o Homem X eu fiz referência a esse apelido, que ele se enxergava. E ele já tinha matado mais de 40 pessoas, já tinha perdido a conta, entrevistei ele porque eles praticavam chacinas, numa época que tinham 100 chacinas por ano em São Paulo, e chacinas é quando tem mais de três pessoas mortas, então era uma cena caótica. E eles ficavam matando entre si, porque tinham vinganças que começavam a acontecer a partir do momento em que um amigo deles era morto, eles iam lá e matavam o que matou o amigo, e o amigo do que morreu matava, então eles ficavam 10 anos se matando. Às vezes entrava uma terceira quebrada, e o “Zé povinho”, que era a galera que morava no bairro mas que não fazia parte em absoluto desse cenário, a não ser como mãe, prima e tal, mas estavam completamente de fora, eles eram o Zé povinho pra quem eles estavam pouco se lixando. Então um deles chegou a me descrever um tiroteio num parquinho de diversão num domingo a noite e ele me contou: “e tal pessoa correu pra lá e eu atirei”, mas eu falei, “esse parque tava vazio?” “Não, tinha gente”, e eu falei “p*rra, você só tá me contando dos caras, mas alguém morreu, alguém foi vítima de bala perdida”?! E aí, esse X-Men ou esse Wolverine, de alguma forma a disposição para matar, fazia com que ele se enxergasse como um super herói mesmo, porque de fato é um super poder, é quase uma evolução da espécie você ter a disposição pra atirar em alguém, pra matar alguém, você passa a ser um ex-humano, praticamente, e você ganha um super poder que quem não tá disposto a matar não tem. E ele só se importava com os outros ex-humanos, e eles ficavam nesse universo. E o Zé povinho, que eram os frágeis, os pouco poderosos, não tinham muita importância nessa lógica, nessa dinâmica, nesse universo masculino, da guerra e da segurança pública, e do medo, e no fundo é a tônica do que vai ser esses conflitos em diferentes níveis, em diferentes tipos de organização, mas sempre com pessoas se enxergando nessa guerra, nesse conflito, e eles tão pouco se lixando pro resto.

AGN: Outro ponto importante é o cinema, o que ele já retratou essa relação, você cita no livro o lançamento do “Cidade de Deus”, e você acabou de descrever um pouco da história do filme, que é esse ciclo de vingança, pode falar o que mudou nesse período? Você cita também a morte de Tim Lopes, que converge na mesma situação.

B: Cidade de Deus é um filme muito importante, tanto o filme quanto o livro do Paulo Lins, que inclusive escreveu na quarta capa do livro, sou “fanzaço” do livro, do Lins que é uma grande figura, do filme e do Meirelles também. O filme foi um divisor de água no cinema brasileiro, mas eles falam de um período do final dos anos 70, que no livro eu também descrevo, a partir da testemunha do Ailton Batata, que deu o testemunho pra Alba Zaluar em 2017. Alba Zaluar era uma orientadora, professora, uma antropóloga, que morreu no ano passado e que era orientadora do Paulo Lins quando ele começou a fazer o trabalho de campo na cidade de Deus, e era final dos anos 70, começo dos 80, quando a cocaína ainda estava começando a chegar, a venda de drogas ainda era pouco importante. Os ladrões de Caxangá, de casa, eram os principais criminosos do bairro, muito poucos, mas que já eram muito temidos. Mas, ao mesmo tempo o imaginário das pessoas, do medo e do fato de aquele bairro ter negros, pobres e pessoas perigosas, isso sempre foi a tônica da cidade e da violência da cidade. Esse medo, resultado do racismo estrutural histórico, um dos problemas raciais que a gente vive, os estigmas e tudo mais, justificava contra esses bairros uma ação violenta pela polícia nesses bairros, um abuso em todos os sentidos, de invasão de casa, de moradores, de esculachos constantes. As polícias passam, diante desse medo grande e muito profundo, enraizado, histórico e estrutural, a lidar com esses bairros como lugares onde vivem os inimigos, e passam a mandar, constantemente, tropas do exército para matá-los, prendê-los, e é quem vive nesses lugares passa a se enxergar como inimigo da cidade, é um drama grande, ainda mais que a maioria ainda tem que trabalhar. É muito disso que as facções vão usar pra seduzir a molecada que vivem nesses bairros, de “olha, o estado e o sistema te odeiam, eles querem te matar ou te trancafiar, te jogar numa jaula, vamos bater de frente contra esse sistema, você morre antes dos 25 ou você é preso, mas não vamos abaixar a cabeça”. Então, a gente começa a construir esses jihadistas típicos das periferias e dos grandes centros brasileiros. Pessoas que preferem morrer antes dos 25 anos mas que não querem baixar a cabeça pra esse sistema que os quer humilhar. Tudo isso é muito triste, é muito cruel, a gente produz isso, a gente acha que tá solucionando as coisas e tá criando problemas piores.

AGN: E, Bruno, acho importante pontuar isso também, que você fala no livro algumas vezes que o jovem vê a escolha na milícia, vê a escolha no tráfico e pouco lembra de viver de acordo com a lei, e achar outra maneira. E vão ter personagens na história do Rio que vão querer ver de outra maneira, achar outra solução e você cita a Marielle, uma pessoa que vai fazer uma carreira acadêmica, uma pessoa que vai militar contra isso, tem uma origem humilde e vai ser vítima disso [a violência]. Você pode contar como foi investigar o caso e contar isso, falar dos assassinos e dessa relação política.

B: Eu só acho o seguinte, eu não acho que poucos jovens vão pra esse lado. Respeitam as leis e muitos vão pro crime, mas, o que acontece, quando a gente é adolescente, principalmente homem porque isso tá muito ligado a masculinidade, você tem identidades a serem escolhidas e traçadas para virar adulto. E, o que o crime passou a usar para seduzir a molecada foi justamente esse discurso antissistema de: “olha, o seu pai decidiu abaixar a cabeça pro sistema, decidiu pegar ônibus e foi humilhado pela polícia e morreu como um tiozinho, zé ninguém e você pode ser o cara! Bater de frente! Você morre atirando porque esse sistema só quer te ferrar, só quer te fuder. Então vamos bater de frente com esse sistema, fazer uma carreira no crime porque pelo menos a gente mantém a honra”. E quando o garoto tá formando sua identidade, a gente tá disputando com esse discurso, e a gente tá tentando falar que isso é uma grande ilusão, pode ser sedutor, mas, as pessoas que foram seduzidas por ele e hoje estão com 40 anos, 45 anos, e estão presos. Porque tem um monte de gente querendo matá-lo, ele não tem nenhum amigo, não tem mulher, não tem filho, ou se tem ele precisou pisar na bola e ser egoísta. Porque é uma vida egoísta. Então é uma escolha de alguém que precisa abrir mão de alguém de vários laços sociais pra seguir um caminho material e egoísta, na essência. Então, quando o cara entrou na onda assim, quando ele estava no embalo e ele vive aqueles 4, 5 anos se achando o X-Men ele tá se achando, ele tá curtindo ainda, mas, ele começa a perceber que é uma puta de uma roubada. E todos que eu converso e que conseguiram sobreviver falam isso “se eu pudesse eu saia, se eu pudesse falar pra alguém não entra, é uma puta de uma roubada”! Só que a gente não consegue mostrar e não consegue ganhar muitas vezes essa molecada, e como é que a gente ganha? É abrindo portas, abrindo janelas, pela cultura, pela arte, pela construção de um estado que garanta uma certa sensação de segurança, que permita falar de amor, de solidariedade, com muito mais participação das mulheres. E a Marielle, acima de tudo, era essa voz feminina das periferias, ela era essa voz que vinha com esse discurso “olha, gente vocês estão errados, isso é um discurso masculino equivocado, a guerra não leva a nada, a violência não leva a nada”. E esse era um dos motes dela “quantas pessoas vão ter que morrer até que essa guerra acabe”? Ela tinha inclusive o lema da campanha “Ubuntu”, que vem da África do Sul, do Mandela, do 15º, quando o Mandela é eleito presidente no pós-apartheid e propõe uma solução política e revê a história do Apartheid e fazer uma espécie de “Comissão da Verdade” e falar dos problemas do que aconteceu, mas, não pra haver um grande racha da sociedade, mas, pra propor pra partir pela política e caminhar pra frente. Então, ela tinha muita essa visão conciliatória, essa visão ao mesmo tempo muito corajosa de uma mulher e de chega da guerra, a solução é a política. E ela era a representante desse discurso antiguerra, né, e por isso que eu acho que ela é tão significativa, ela representa tanto. E ela foi o “nosso Martin Luther King” simbolicamente de tudo que ela representava, num momento muito especial, pouco antes da eleição do Bolsonaro, ela era anti-mensagem do Bolsonaro, era outro tipo de visão.

AGN: E Bruno, ainda nessa estrutura política, nessa estrutura de incentivo a jogar milhares de jovens nesse cenário, você disse que teve um espanto ao analisar profundamente. Você citou que viu a estrutura da milícia e do tráfico se compararem por fuzis, pela quantidade de fuzis que eles tinham. E você como alguém que veio do contexto paulista, e tinha mais essa análise do PCC e desse contexto que a gente tinha em São Paulo, e como você vê essa estrutura, as diferenças entre cada uma, e você poderia citar outros espantos que te gerou essa investigação no Rio?

B: Lá no Rio tem muitos fuzis, e foi muito recorrente eu ouvir isso dos traficantes, e das pessoas que estão envolvidos nessa cena, essa comparação: “no meu morro tem 400 fuzis” ou “quando eu era chefe tinha 100 fuzis”, “as milícias tem 800 fuzis”, e todo poder criminal sendo medido por fuzis. Então, a compra, essa guerra fria, essa corrida quente e fria, mas, essa corrida armamentista faz parte da cena do Rio. O mercado de fuzis é estrutural pro problema da cidade. E, também como a polícia está completamente envolvida nessa cena e como acaba sendo protagonista dessa cena e tal. Aqui em São Paulo ainda existe essa divisão de “crime e polícia”, por mais que a polícia também tenha seus esquemas e também mate, e tenha vários problemas e muitas vezes, principalmente pós-Bolsonaro, você vê que tem uma série de notícias de negócios de policiais em algumas quebradas vendendo terreno, vendendo gás, será que é um princípio de milícia? Sempre na iminência de perder o controle da polícia. E, isso de fato acontece pela violência da polícia de São Paulo você corre esse risco, mas, ainda não, os próprios oficiais da polícia conseguiram por enquanto zelar, mas, estão sempre aí na iminência “será que perde o controle, será que não perde”? Mas, no Rio não, no Rio já foi, já foi embora, e precisa reinventar a polícia, porque a situação é muito complicada.

AGN: Bruno, aproveitando que a gente já falou da Marielle, eu queria falar mais desse contexto político. No livro, você relata a questão do Bolsonaro, a família Bolsonaro, com as milícias e queria que você comentasse um pouquinho se essa relação deles, política – temos aí um presidente eleito, é uma forma de institucionalizar a milícia e de levar ela para outros lugares do Brasil, você também citou um pouco agora de São Paulo.

B: Eu acho que apesar da milícia estar infiltrada na instituição, ela se caracteriza por ser paramilitar, e você ter um presidente que seja um defensor das milícias ou políticos que defendam essa violência paramilitar é o melhor dos mundos para eles, porque eles ganham dinheiro no mercado informal. Então, se eles virarem “Estado” eles entram pra formalidade e até perdem a característica que permite que eles fiquem ricos, que é justamente organizar e negociar no mercado ilegal, tanto armas, munições e tudo isso. Mas, você ter amigos “costas quentes”, e parceiros costas quentes, quando você consegue ter políticos simpatizantes é o melhor dos mundos, você consegue eleger pessoas, e manter essas pessoas no poder eles vão ficar fortes. E é algo que a gente tem visto com a eleição do Bolsonaro e o crescimento da violência policial no Brasil inteiro, foram 3 anos de recordes seguidos. O modelo de negócios do Rio já é uma fonte de inspiração pra outras ideias, para serem reinventados em outros estados, de acordo com as histórias e com as oportunidades criminais do estado. Agora, quem sabe, isso é um pesadelo de 4 anos que nós estamos vivendo e nas próximas eleições isso acabe? Eu acho que, enfim, a gente teve aí 33 anos de Nova República relativamente civilizada, uma democracia que com todos os problemas se manteve, um país que progrediu no ponto de vista civilizacional e cidadão e tal. Mas, que a gente entrou nessa imensa depressão coletiva em 2018 por uma série de problemas políticos, econômicos, fiscais e tal e que elegeu Voldemort, falando em personagens, né. E achou que o Voldemort era a solução, ou o Capitão Feio da minha época de Mônica e Cebolinha. Então, “vamos escolher o vilão para governar já que os heróis não conseguiram”.

AGN: E Bruno, e essa questão da pandemia e a família Bolsonaro estar envolvida com a milícia, você acha que eles continuam [juntos] ali ideologicamente ou mudou alguma coisa nesse contexto atual?

B: Não, eu acho que o Bolsonaro se tem assim uma grande qualidade, me parece assim quanto a isso não se pode negar, é a honestidade de falar tudo que ele pensa, inclusive coisas que os próprios militares sempre tiveram vergonha de assumir nos porões, como a tortura e o assassinato. O Bolsonaro defendia o pau de arara numa bancada do Congresso, em uma CPI do Banco Central ele falou que tinha que colocar no pau de arara o ex-presidente do Banco Central porque aí ele ia começar a falar, e defendia a tortura em plena sessão oficial de CPI. Defende assassinatos, defende guerra civil, ele sempre defendeu e foi um apologista da violência paramilitar e sempre desacreditou a constituição de 1988, tanto ele como uma série de pessoas no Exército inspiradas e norteadas pelo Carlos Brilhante Ustra, além de ser um dos principais combatentes e torturadores dos portões da Ditadura Militar, foi um dos ideólogos importantes desse grupo que dizia que a Nova República era a grande derrota do Regime Militar e dos militares, porque tinha colocado guerrilheiros nos postos de comando. E o grande desafio do Exército era vencer a batalha ideológica que eles estavam perdendo pros comunistas e esquerdistas que estavam nas universidades, nas escolas, nas artes, em todos os campos culturais, eles perderam a batalha da cultura, depois vai dialogar com Olavo de Carvalho e com esse loucões que a gente vai conhecer agora nos tempos de hoje, que antes pareciam figuras que a gente dava risada e viviam sozinhas no mundo, e que não ameaçavam e por algum motivo isso a criar uma força quase, voltando a falar do Voldemort, uma Sonserina se articulando e o “mundo das sombras” vindo à tona. Esqueci o que você tinha perguntado, e você vê, vou divagando e vou fugindo da sua pergunta.

AGN: Da questão da pandemia e se mudou alguma coisa.

B: Então, ou seja, eu tô dizendo tudo isso pra dizer que eles são muito convictos dessas bobagens todas e dessas teorias conspiratórias. Eles acham que eles são os vilões e eles são os mocinhos! E a gente votou neles. Votou nos caras que queriam destruir o Brasil, diziam que tinham que matar 30 mil pessoas, o Bolsonaro disse isso na televisão, a solução pro Brasil é uma guerra civil, “enquanto não morrerem 30 mil pessoas ou menos isso aqui não tem jeito”, é uma pessoa que despreza as pessoas que vivem no Brasil! Essa guerra ao crime, essa guerra aos bandidos, é guerra aos negros, aos pobres, as pessoas que são vistas como perigosas! Isso é uma coisa evidentemente racista! Isso é autodestrutivo, é uma pessoa que odeia os brasileiros. Isso é muito triste, a gente fazer essa escolha suicida, escolher o vilão, pra mandar na gente, né, e inverter as coisas, e ele justifica essa guerra dizendo que os vilões são os “outros” que não concordam com ele. E por alguma forma ou maneira, um motivo, que espero que passageiro e talvez muito veiculado a tristeza, muito veiculada ao desespero, a crise que houve em 2018 a tudo isso.

AGN: E, Bruno, indo para a reta final da nossa conversa que foi um prazer e nós gostamos muito de tirar essas dúvidas e bater esse papo, eu preciso fazer uma das perguntas que eu mais queria fazer para você que é ainda no imaginário popular e de “a gente eleger o vilão”, uma coisa que eu também cresci vendo foram os filmes de Máfia, como Scarface, Poderoso Chefão, entre outros clássicos do cinema. E você narra de uma forma muito cinematográfica, o que me lembra Tropa de Elite e Cidade de Deus, e você narra a prisão do Queiroz e fala que na sala em que ele estava quando foi preso havia um cartaz do AI-5 [Ato Institucional Número 5], e um boneco do Tony Montana do filme Scarface. O que o imaginário de um miliciano que tinha tanta influência tanto no governo quanto fora, mostra sobre o Brasil e sobre nós, e sobre o que este país está virando?

B: Precisa dizer alguma coisa?! Não precisa! O cara tinha um boneco do Tony Montana na lareira, assim o que mais?! Ele está dizendo o escárnio! Qualquer coisa que eu disser não vai chegar aos pés da imagem! As pessoas muito claramente podem tirar suas próprias conclusões, não há o que eu diga. O que eu disser vai atrapalhar, porque é muito forte a cena.

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Em meio a pandemia da Covid-19 e conflitos incessantes ao redor do mundo, entenda esse grupo e conheça a uma das instituições que lhes presta apoio no Brasil
por
Marina Daquanno Testi e Thayná Alves
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08/12/2020 - 12h

 

 

     

        O número de refugiados no Brasil vem crescendo a cada ano. Só no ano de 2018, segundo a Agência da ONU Para Refugiados (ACNUR) foram relatadas 80 mil solicitações de reconhecimento de condição de refugiado no Brasil. Os grupos de maior número entre as solicitações são os venezuelanos (61.681), que saíram do país devido à crise humanitária, e os haitianos (7.030), cujo fluxo de migração se intensificou após o terremoto que atingiu o país em 2010.  

        A lei brasileira considera refugiado todo indivíduo que está fora de seu país de origem devido a guerras, terremotos, miséria e questões relacionadas a conflitos de raça, religião, perseguição política, entre outros motivos que violam seus direitos humanos. Isso pode acontecer, por exemplo, quando a vida, liberdade ou integridade física da pessoa corria sério risco no seu país.

        Para que o imigrante seja reconhecido como refugiado, é necessário enviar uma solicitação para o Comitê Nacional para os Refugiados (CONARE). O processo de reconhecimento, que antes era mais burocrático e mais demorado, atualmente é feito no site do Ministério da Justiça, a partir do preenchimento do formulário que pode ser feito ainda no país de origem. Todas as etapas podem ser acompanhadas pela internet, mas para o processo começar a tramitar, o solicitante deverá comparecer pessoalmente a uma unidade da polícia federal. 

        Dentre a população refugiada reconhecida no Brasil, segundo o censo da ACNUR de 2018, a maioria se concentra nas faixas etárias de 30 a 59 anos (41,80%), seguido de pessoas com idade entre 18 a 29 anos (38,58%). Do total, 34% são mulheres e 66% são homens, ressaltando os sírios, os congoleses como nacionalidades em maior quantidade (respectivamente 55% e 21%). 

         Em janeiro de 2020, o Brasil tornou-se o país com maior número de refugiados venezuelanos reconhecidos na América Latina, cerca de 17 mil pessoas se beneficiaram da aplicação facilitada no processo de reconhecimento, segundo a  Agência da ONU para Refugiados. As autoridades brasileiras estimam que cerca de 264 mil venezuelanos vivem atualmente no país. Uma média de 500 venezuelanos continua a atravessar a fronteira com o Brasil todos os dias, principalmente para o estado de Roraima.

         Apesar de em grande quantidade, apenas 215 municípios têm algum tipo de serviço especializado de atenção a essa população. As maiores dificuldades encontradas por pessoas refugiadas são a adaptação com o mercado de trabalho, com o aprendizado do idioma, o preconceito e a xenofobia, educação (muitos possuem diplomas em seus países de origem que não são aceitos aqui no Brasil), moradia e saúde. 

 

Covid-19 e o amparo aos refugiados

 

        Diante de um quadro de crise em escala global, como o que acontece este ano com a pandemia da Covid-19, essa população de migrantes e refugiados, que já se encontram em extrema vulnerabilidade, conta com o apoio de poucas instituições voltadas especialmente para suas necessidades. Este é o caso da Missão Paz, uma instituição filantrópica de apoio e acolhimento a imigrantes e refugiados, com uma das sedes na cidade de São Paulo, como conta o padre Paolo Parise.

        Nascido e criado na Itália, Parise atua desde 2010 na Missão Paz, atualmente como um dos diretores, e explica que esta instituição está ligada a uma congregação da Igreja Católica chamada Scalabrinianos, que atua com imigrantes e refugiados em 34 países do mundo. “Na região do Glicério - município do estado de São Paulo-, a obra se iniciou nos anos 30 e atualmente está presente em Manaus, Rio de Janeiro, Cuiabá, Brasília, Curitiba, Florianópolis, Porto Alegre, Foz do Iguaçu, Corumbá e outros lugares.”

        Sua estrutura atual conta com a Casa do Migrante, um abrigo com capacidade de 110 indivíduos que são acolhidos com alimentação, material de higiene pessoal, roupas, aulas de português, acompanhamento de assistentes sociais e apoio psicológico; e o Centro Pastoral e de Mediação dos Migrantes (CPMM) que oferece atendimento e serviços voltados aos imigrantes, quanto aos seguintes temas: documentação e jurídico; trabalho, capacitação e cidadania; saúde; serviço social; família e comunidade. “Além disso, temos a área de pesquisa em parceria com a revista Travessia, que é o Centro de Estudos Migratórios (CEM), uma biblioteca especializada em migração e a WebRadio Migrantes”, completa Pe. Paolo.

Fonte: Site da instituição Missão Paz - Casa do Migrante
Fonte: Site da instituição Missão Paz - Crianças brincam na Casa do Migrante

        De acordo com o diretor, o maior desafio enfrentado pela instituição, durante a pandemia, foi com a saúde dos refugiados, principalmente pela impossibilidade de viver a quarentena isoladamente, já que muitos vivem em ocupações ou em lugares com muitas pessoas concentradas. Ele ainda denunciou que, dentre tantas vítimas da Covid-19 em São Paulo, um dos grupos mais afetados foi o de imigrantes bolivianos, “muitos foram contaminados e muitos morreram”.

        Diante de instabilidades políticas e econômicas, atualmente, sírios e venezuelanos são as principais nacionalidades afetadas que solicitam entrada no país. O que ratifica o Pe. Parise, “Falando pela Missão Paz, se você utiliza o termo ‘refugiados’, o maior grupo neste momento é de venezuelanos, sejam os que foram acolhidos pela missão paz, sejam os que estão entrando no Brasil. E depois encontramos outros grupos como da República Democrática do Congo. Mas se falamos de imigrantes, temos Colombianos, Bolivianos, Paraguaios, Peruanos, Angolanos e de outros países que estão recorrendo ao Brasil.”

        Mesmo com mudanças críticas, no cenário jurídico e político brasileiro, para que esta população seja recebida no país e tenha seus direitos respeitados, ainda não se pode falar em auxílio do governo ou medidas diretas de apoio a refugiados e imigrantes. 

        Paolo relembra a criação de leis que têm beneficiado a população no Brasil. Uma delas é a lei municipal Nº 16.478 de 2016, onde o Prefeito do Município de São Paulo, Fernando Haddad, instituiu a Política Municipal para a População Imigrante que garantia a esses o acesso a direitos sociais e aos serviços públicos, o respeito à diversidade e à interculturalidade, impedia a violação de direitos e fomentava a participação social; e a outra é a lei federal Nº13.445 de 2017, ou a nova Lei de Migração, que substitui o Estatuto do Estrangeiro e define os direitos e deveres do migrante e do visitante, regula a sua entrada e estada no País e estabelece princípios e diretrizes para as políticas públicas para o emigrante.

        A Missão Paz se mantém através de projetos e dinheiro injetado pela congregação da Igreja Católica. “Neste momento, a Missão Paz não recebe apoio financeiro nem do município, nem do estado e nem do Governo Federal”, relata Parise. Durante a pandemia receberam ajuda da sociedade civil, “[A Instituição] Conseguiu muitas doações de pessoas físicas, de instituições, de campanhas, fosse em dinheiro, em cestas básicas ou kits de higiene pessoal”, e com 200 cestas básicas, por mês, da Prefeitura de São Paulo. Também receberam ajuda com testes de COVID em nível municipal. 

         A instituição filantrópica ainda conta com a ajuda de vários parceiros, como explica seu diretor “na área de incidências políticas, por exemplo, nós atuamos com a ONG Conectas Direitos Humanos, temos na área de refugiados um projeto com a ACNUR, estamos preparando outro com a OIM (Organização Internacional para as Migrações) e temos algumas ações com a Cruz Vermelha”. 

        Desde o começo do ano, já atenderam por volta de 7 mil imigrantes e refugiados, e, hoje em dia, tem por volta de 40 pessoas na Casa, o que representa ⅓ da capacidade total. Além disso, entregam de 50 a 60 cestas básicas a refugiados, diariamente, e ao redor de 60 a 70 que vão, por dia, procurar os serviços do CPMM. “Outras ações incluíram a disponibilização de atendimentos online, de aulas de português a atendimentos jurídicos, psicológicos ou serviços sociais, além de ajudar a completar aluguel, água ou luz daqueles que precisam da ajuda da instituiçã”, fala Padre Paolo. 

        Todo esse esforço e dedicação da instituição foi feito, sempre, visando seguir as normas de segurança e as indicações da OMS (Organização Mundial da Saúde). Foram fornecidos a seus funcionários e a população migrante e de refugiados álcool para higienizar as mãos, máscaras e demais equipamentos e serviços de proteção e higiene.

Campanha usa de forma divertida suas redes sociais para apresentar propostas e alavancar a candidatura
por
Lucas Malagone e Giovanna Crescitelli
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06/11/2020 - 12h

Desde 2018 Guilherme Boulos( 38) esta em evidencia no lado esquerdo da politico brasileira, filiado ao PSOL desde 18 lançou a candidatura a presidência pelo partido e obteve aproximadamente 617 mil votos, apesar das inúmeras fake News ligadas a ele por conta do passado na militância pelo MTST( Movimento dos Trabalhadores sem Terra), o resultado foi considerado bom pelo partido. Agora se lança num novo desafio ao lado da histórica prefeita da cidade de São Paulo; Luiza Erundina (86) em busca do cargo mais alto do executivo da cidade.

Boulos e Erundina fazem assembleias virtuais para conversar com 40 mil na  periferia - 30/07/2020 - Mônica Bergamo - Folha

Guilherme Boulos e Luiza Erundina( Foto: Folha de São Paulo)

Para a surpresa de muitos, a chapa já começou muito bem nas intenções de voto em são Paulo antes mesmo de começar a campanha, cerca de 8 pontos percentuais. De acordo com a ultima pesquisa Datafolha(5\11) Boulos se encontra consolidado com 14 pontos e com a margem de erro está tecnicamente empatado com Celso Russomano e Márcio França na briga por uma vaga no segundo turno.

Desde o começo a campanha sempre teve pouca verba e tempo de tv para trabalhar, nesse aspecto decidiu focar em ações que se comunicassem com diversos públicos e camadas sociais da cidade, uma constante na campanha é a produção de vídeos que desmentem as diversas fake News atribuídas a chapa; existe uma aba só para isso no site da campanha.

Aba de espaço ao combate das Fake News que a campanha de Boulos faz em seu site

Ações como o se vira no 50 e o na lata; viralizaram nas redes sociais o objetivo foi traçado para suprir a falta de tempo e ausências de debates que acabaram acontecendo por conta da questão da pandemia que assola a cidade de São Paulo; outro destaque da campanha é o envolvimento de diversos movimentos de rua e estudantis além que qualquer um pode contribuir para a campanha a partir de dez reais.

Para entender um pouco mais como a campanha se reinventou e as estratégias usadas para combater as desinformações e como fazer uma campanha tão ativa numa situação pandêmica conversei com Thales Migilari, 25 anos que é coordenador da campanha pela juventude e faz parte da campanha de Guilherme Boulos e Luiza Erundina

 

 

 

 

Desde o começo vocês tiveram muita pouca verba, o como vocês decidiram onde iam focar? E como foi montada essa estratégia principalmente nas redes sociais?

As redes sociais do Guilherme Boulos já estavam entre as maiores dos representantes da esquerda em todo o Brasil. Com muita criatividade e uma linguagem acessível, direcionada a diferentes públicos de interesse, conseguimos crescer ainda mais. Tendo em vista a pouca verba, a comunicação foi um dos principais focos, tanto pela vigência da pandemia, quanto pela centralidade que ela adquiriu nas últimas eleições.

 

            Vocês estão produzindo diversos vídeos para suas redes sociais, qual foi o critério usado para as escolhas dos temas dos vídeos? desmentir as diversas fake News atribuídas ao Boulos é uma das prioridades da campanha?

A produção de conteúdo para as redes sociais é definida de acordo com as estratégias da campanha e atualizada semanalmente, para responder aos novos fatos políticos. O eixo norteador da campanha é a inversão de prioridades na cidade de São Paulo para colocar a periferia no centro e defender os interesses do povo. Com certeza a resposta às fake news são parte das prioridades por dois motivos: porque foi amplamente difundida pela extrema-direita, principalmente desde a eleição de 2018, e porque somos uma campanha anti-sistêmica, que enfrenta os privilégios da elite paulistana.

 

            Como surgiram algumas ideias da campanha como a música sobre o celta do Boulos? Alguma personalidade que está contribuindo para a campanha deu alguma sugestão para a campanha?

O carro celta do Boulos viralizou na campanha por ser o único patrimônio em seu nome declarado na campanha. Boulos tem origem na classe média, mas vive há muitos anos uma vida modesta na periferia da capital paulista, atuando ao lado do movimento de moradia. Nunca foi de seu interesse entrar na política para fazer carreira ou enriquecer, mas sim para transformar a vida das pessoas. A ideia da música vem daí. Existem muitas personalidades apoiando e contribuindo com a campanha. Caetano Veloso, inclusive, fará uma live em breve para arrecadar recursos nessa reta final.

 

Como se deu a estratégia para chegar em pessoas fora da bolha que vocês estão acostumados?

Nossa campanha é conhecida e tem a simpatia de todos aqueles identificados com a esquerda. É uma necessidade furar a bolha para chegar ao segundo turno. Começamos a campanha como uma das candidaturas menos conhecidas pelo eleitorado paulistano. A saída, além das redes sociais, foi intensificar a campanha nas ruas.

 

A falta de debates intensificou as ações de rua como o se vira no 50 e o na lata?

Com certeza. A falta de debates favorece os candidatos mais conhecidos, os que tem maior tempo de televisão e que controlam a máquina do estado. As ações de rua e o "na lata" foram saída para furar esse isolamento.

 

Nos últimos dias, uma foto viralizou mostrando um comício do Boulos cheio e muitas pessoas sem máscara. Como vocês estão lidando para controlar essas situações durante a pandemia? E o que acha que pode melhorar?

A pandemia atingiu em cheio o país e a capital paulista. Bolsonaro não queria sequer implementar uma política de renda solidária suficiente para aliviar os impactos na maioria da população. Covas priorizou a construção de hospitais de campanha na região central da cidade e não abriu qualquer debate sobre políticas de transferência de renda para os mais pobres. A capital paulista é uma das cidades com o maior número de vítimas em todo o mundo. A responsabilidade pela retomada da "normalidade" em meio à uma pandemia sem controle é principalmente daqueles que hoje estão nos governos. As pessoas que foram à atividade no Largo da Batata são aquelas que já retomaram seus trabalhos presenciais ou estão nas ruas fazendo campanha. Toda atividade de rua que realizamos busca respeitar as orientações sanitárias. Todas as pessoas usam máscara, estão com álcool gel e buscamos organizar o espaço para evitar problemas.

 

            A pandemia dificultou alguma ação de vocês como o panfletaço?

Somos a campanha com o maior volume de panfletagens. E isso acontece porque somos uma campanha-movimento, construída por pessoas que acreditam no projeto que estamos construindo. É completamente diferente das campanhas tradicionais que utilizam cabos eleitorais pagos sem qualquer afinidade ideológica ou política com as campanhas que os contratam. Infelizmente a pandemia ainda impede que muitas pessoas saiam de suas casas. Não temos dúvidas que em uma situação normal teríamos uma multiplicação das nossas iniciativas.

 

            Qual a maior dificuldade da campanha com a pouca verba que vocês têm?

A maior dificuldade é a ofensiva por parte das candidaturas tradicionais de direita, que se valem de muitas fake news contra uma campanha popular como a nossa. Não tivemos debates, temos apenas 17 segundos na televisão e pouquíssimos recursos.

 

            Além de desmentir as fake News sobre o Guilherme Boulos vocês estão usando para desmentir sobre o MTST, vocês sentem que conseguiram mudar a opinião de alguém?

A nossa campanha é construída principalmente nas ruas, "olho no olho". Temos mudado muitas opiniões e preconceitos que são amplamente difundidos pelos nossos adversários. A iniciativa do "na lata" é um exemplo, mas isso tem acontecido em inúmeras panfletagens, visitas aos bairros, entre outras iniciativas. O MTST é também um dos principais alvos das fake news. A direita e a elite utilizam aqueles que legitimamente lutam por um teto e condições dignas de existência para espalhar mentiras e medo. Fato é que o MTST nunca tomou a casa de ninguém O movimento atua em cima de propriedades que devem mais imposto do que o seu valor real e servem exclusivamente aos interesses da especulação imobiliária. A função social da propriedade está garantida pela Constituição Federal e deve ser utilizada para garantir melhores condições de vida a todos os paulistanos e brasileiros

 

O candidato do PSOL foi ao segundo turno contra Bruno Covas, do PSDB, que saiu vencedor e reassume no dia 1o. de janeiro de 2021.

 

 

 

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O prefeito Bruno Covas (PSDB) autorizou a volta as aulas presenciais no estado de São Paulo com redução no tempo de aulas e algumas especificações a serem atendidas. Os alunos que decidiram acatar retornaram na última terça-feira (3).
por
Beatriz Comoli Marques
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06/11/2020 - 12h

Crédito: instituto alfa e beto 

Em outubro o prefeito de São Paulo, Bruno Covas, autorizou o retorno das aulas presencias para os alunos do ensino infantil, fundamental e médio. As aulas começaram nessa última terça-feira (3) com algumas restrições a serem seguidas, nas salas de aulas é preciso ter um distanciamento de 1,5 metro entre os estudantes. A decisão de liberar ou não as aulas nas cidades do estado ficam ao critério das prefeituras.  

"Seguindo a recomendação da área da Saúde, a Prefeitura de São Paulo vai manter apenas as atividades extracurriculares para o ensino infantil e para o ensino fundamental e vai autorizar o retorno às aulas para o Ensino Médio a partir do dia 3 de novembro aqui na cidade. Lembrando que essa autorização para o retorno é para as três redes: a rede municipal, a rede estadual e a rede privada. Ela é voluntária para os pais, de acordo com a decisão já do Conselho Nacional de Educação, e ela deve seguir os protocolos sanitários já estabelecidos", afirmou o prefeito Bruno Covas (PSDB). 

Não é obrigatório os alunos retornarem as aulas presenciais nesse momento, fica ao critério dos responsáveis o retorno. Guilherme Galdino de Souza, aluno do ensino médio, conta que “Inicialmente tive muito medo, por mais que as medidas de segurança necessárias foram adotas (diminuição do número de alunos por sala, uso de máscara e álcool em gel, etc.), ainda continuei a depender do transporte público, onde era praticamente impossível manter o distanciamento social ideal para estar seguro para o não contágio. Atualmente o medo persiste, talvez ainda mais, pois as pessoas passaram a voltar ao seu ritmo normal e com isso os transportes se mostram cada vez mais lotados, significando uma maior exposição ao vírus.” 

Os ensinos infantil e fundamental retornam apenas com as atividades extracurriculares, o ensino regular ainda contínua de modo remoto. Os alunos do ensino médio retornaram no dia 3 desse mês com as suas aulas presenciais, uma prova será aplicada para avaliar o que esses alunos realmente aprenderam no período da pandemia. A partir disso serão definidas estratégias de reforço pedagógico. 

Em um balanço feito Apeosp, o Sindicato dos Professores das Escolas Públicas Estaduais, menos de 5% dos alunos compareceram nesse primeiro dia de aula. A insegurança ainda é grande entre a população, ainda mais agora que alguns lugares da Europa estão enfrentando a segunda onda do vírus. No Brasil em alguns estados os números de casos estão começando a diminuir, encontra partir em algumas partes o vírus ainda não diminui sua contaminação. 

Os professores autorizados a conceder as aulas são aquelas que já foram infectados pela covid-19, a partir de exames sorológicos será possível identificar quem já entrou em contado com o vírus, o que não significa que a pessoa esteja imune. 

"Queria anunciar também que no dia 19 de novembro, com base na segunda fase do censo sorológico e com a evolução da pandemia na cidade de São Paulo, nós teremos uma nova coletiva para anunciar o que acontece e o que fica autorizado na cidade de São Paulo em relação a área da educação a partir do dia 1º de dezembro", relatou o prefeito Bruno Covas. 

Em 9 meses de pandemia no país, o Brasil registra até o momento mais de 5,5 milhões de casos, 161 mil óbitos e 5 milhões de caos recuperados da covid-19.

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