A crise sanitária provocada pela pandemia de Covid-19 vem se alastrando pelo Brasil desde março de 2020 - mês em que a Organização Mundial da Saúde (OMS) classificou a doença como uma pandemia. Desde então o país passa por um acúmulo de problemáticas que - ainda que já existissem - se agravaram com a doença. O desemprego, o aumento de preço de alimentos básicos, o número alarmante de óbitos - que já passam dos 500 mil -, o descaso do Estado em relação a compra de vacinas e a posição negacionista do Presidente da República levam ao alto índice de rejeição que o governo federal vem enfrentando. Segundo pesquisa do Datafolha feita em março de 2021, 54% reprovam as decisões de Bolsonaro - especialmente no que concerne à pandemia -, um recorde desde o início de sua gestão em janeiro de 2019.
Em meio a este cenário, protestos vêm sendo convocados em diversas cidades do Brasil, a fim de pontuar o descontentamento popular em relação à Bolsonaro e sua negligência em adotar medidas efetivas para impedir o agravamento da crise sanitária, além de turbinar a Comissão Parlamentar de Inquérito - a “CPI da Covid” - que tramita no Senado com o objetivo de avaliar se houve falhas do governo federal no enfrentamento da pandemia. O primeiro grande protesto convocado este ano contra Jair Bolsonaro ocorreu no dia 29 de maio (sábado), em 27 capitais brasileiras.
Em São Paulo a concentração partiu da Avenida Paulista, próximo ao MASP, e contou com 80 mil pessoas - segundo organizadores. Muitas críticas foram levantadas a respeito das manifestações, uma vez que poderiam ir contra os protocolos de distanciamento social que visam diminuir o contágio - e consequentemente o número de casos e óbitos. Por essa razão, organizações como CUT (Central Única de Trabalhadores) e MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Teto) - notoriamente de oposição a Bolsonaro - não convocaram institucionalmente seus membros, ainda que não os impeçam de ir.
No entanto, importante ressaltar que a manifestação do 29M teve ampla aderência de máscaras eficazes, como a PFF2, KN95 e a 3M, também haviam muitos manifestantes com faceshield - poucas eram as pessoas vistas sem qualquer tipo de proteção. A manifestação na capital paulista durou mais de quatro horas e atravessou toda a Paulista e a Consolação, se dispersando apenas na Praça Roosevelt - localizada na região central.
O protagonismo das manifestações são de entidades de esquerda que pretendem construir uma frente de oposição forte contra o negacionismo de Jair Bolsonaro. Partidos como PT (Partido dos Trabalhadores), PSOL (Partido Socialismo e Liberdade), PCdoB (Partido Comunista do Brasil), PCB (Partido Comunista Brasileiro), PCO (Partido da Causa Operária), entre outros, ocuparam a Avenida Paulista em peso, convocando seus militantes às ruas. Segundo Rafael Pluciennik (20), estudante de psicologia na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e membro da União da Juventude Comunista (UJC) - uma das organizações do PCB - que esteve presente na manifestação do dia 29 de maio, o atual cenário obriga a população a ir às ruas. “Ir em uma manifestação no meio de uma pandemia não é algo que queremos, não é o que a gente faz por prazer, mas é uma necessidade que se impõe” - afirma ele.
Segundo ainda Rafael, as manifestações são imprescindíveis para que a população demonstre sua insatisfação com a negligência do Estado que vem matando milhares de brasileiros. “O impacto da manifestação tem caminhado nesse sentido, de pressionar o governo Bolsonaro, de mudar a correlação de força nas ruas, a gente retomando as ruas a gente consegue demonstrar mais força, a gente consegue se impor e fazer com que de alguma forma isso seja ouvido” - explica ele. Já a estudante Isabela Claro (20), que cursa direito na PUC-SP e é participante do coletivo anticapitalista de juventude Afronte - que teve seu próprio bloco nas manifestações do 29M - preferiu não comparecer presencialmente ao protesto: “Por não ter minha família completamente vacinada, e por um receio de contaminação, optei por, pessoalmente, não comparecer às manifestações” - aponta ela.
Apesar de sua escolha pessoal, Isabela apoia veemente a causa que leva mais de 80 mil brasileiros às ruas: “Enquanto cidadã brasileira que sofre e assiste os horrores dos efeitos da política genocida imposta pelo governo de Jair Bolsonaro, (…) é necessário, mais do que nunca, a tomada das ruas pelo povo em nome do FORA BOLSONARO! É não somente legítimo, como urgente, nesse sentido, a realização de atos organizados, como os do 29M”, afirma.
Apesar da diminuição da população carcerária durante a pandemia, o Brasil se manteve no ranking de países que mais prendem no mundo. Considerando o número absoluto, nosso país ocupa a 3ª posição atrás apenas de China e Estados Unidos. Com a superlotação das prisões, as facções criminosas se apoderaram da organização dos presídios e disputam as cárceres brasileiras, que enfrentam enormes problemas de gestão.
Um dos principais problemas do sistema penitenciário brasileiro é a superlotação. Com a quarta maior população carcerária do mundo, o Brasil possui, segundo o Ministério da Justiça, 622 mil detentos, mas apenas 371 mil vagas. E a cada mês, penitenciárias de todo o país recebem 3 mil novos presos. Desde 2000, a população carcerária praticamente dobrou de tamanho. Uma possível solução para esse problema estaria na combinação de penas alternativas e julgamentos mais rápidos. Atualmente, três em cada dez presos brasileiros esperam ser julgados pelos crimes que cometeram atrás das grades. As penitenciárias acabaram se tornando lugares para estocar gente, verdadeiros armazéns humanos, e que não promovem a reinserção social.
Na Suécia, 80% dos prisioneiros são condenados com menos de um ano de prisão. Juízes também vêm dando penas menores especialmente para crimes relacionados a drogas. O mesmo ocorre na Noruega, onde a condenação máxima, com raras exceções, como genocídio ou crimes de guerra, é de 21 anos. No país, a cada cinco anos são feitas avaliações sobre o comportamento do preso e o potencial de sua reabilitação, podendo fazer com que sua pena seja suavizada. Mas se as autoridades perceberem que um preso não está se recuperando, ele pode permanecer na prisão perpetuamente.
A reincidência, ou seja, voltar a praticar o crime, é um problema global e umas das principais razões para prisões tão cheias. No Brasil, essa questão tem dimensões enormes, e segundo estatísticas, 70% dos que deixam a prisão acabam cometendo crimes novamente. Segundo especialistas, uma solução para este problema passa pelo tratamento recebido pelos detentos. Medidas socioeducativas dentro das prisões são indispensáveis para reintegrá-los à sociedade, e em nosso país isso não é feito.
Um estudo realizado pelo Departamento de Justiça dos Estados em 2007 mostrou que um encarceramento mais rígido aumenta as chances de um ex-detento voltar a cometer crimes. Enquanto isso, prisões que incorporam programas comportamentais baseados na aprendizagem social são mais efetivas para evitar que ex-detentos voltem para as grades. A Noruega, por exemplo, segue o modelo chamado de "justiça restaurativa", em oposição à concepção tradicional da justiça criminal - a justiça punitiva, que vigora no Brasil. Esse sistema propõe reparar os danos causados pelo crime em vez de apenas punir pessoas. O foco está em reabilitar os prisioneiros. A prisão de segurança máxima de Halde, na Noruega, é exemplo em todo o mundo. Ali, não há grades nas janelas, as cozinhas são equipadas com objetos pontiagudos, e guardas e prisioneiros mantêm uma relação de convivência saudável. As celas possuem TV, geladeira, e banheiro privativo. Chamada de a penitenciária mais "humanizada do mundo", Halden realiza programas educativos como marcenaria, oficinas de montagem e até um estúdio para gravação musical. Os prisioneiros também realizam aulas esportivas. Iniciativas parecidas também existem na Alemanha e na Holanda, onde em muitas prisões detentos não são tratados de forma insignificante, mas sim forçados a trabalhar e a estudar.
Outro fator que contribui bastante para a superlotação e má gestão do sistema carcerário é a saúde precária dentro das prisões. Estudos mostram que presos brasileiros têm 30 vezes mais chances de contrair tuberculose e quase dez vezes mais chances de serem infectados por HIV (vírus que causa a AIDS) do que o restante da população. Além disso, estão mais vulneráveis à dependência de álcool e drogas. Na Suécia, o país realiza programas de 12 etapas para tratar presos com algum tipo de vício, o que, segundo especialistas, está na raiz de muitos crimes. Segundo o The Guardian, desde 2004, a população prisional da Suécia vem caindo e algumas prisões tiveram de ser fechadas por falta de presos. No Brasil, tanto prisões geridas pelo poder público quanto pelo capital privado enfrentam problemas como superlotação, condições insalubres e rebeliões. Se conseguirmos reduzir a população carcerária, economizamos milhões por ano em recursos públicos, mas isso ainda parece não ser foco dos políticos brasileiros..
São necessárias políticas para solucionar esses problemas, como penas alternativas para crimes de menor gravidade ou acompanhamento obrigatório de prisioneiros em liberdade condicional. Precisamos evitar que os prisioneiros voltem a cometer crimes, então todo o sistema precisa mudar. A falta de apoio da sociedade também afeta essa mudança, já que em todo o mundo, e talvez em maior grau no Brasil, discursos políticos que apelam para um endurecimento do combate ao crime ganham votos, e não o oposto, como vimos nas eleições de 2018.
A cidade perdeu a sua praticidade, onde décadas atrás encontrávamos tudo o que precisávamos para ter qualidade de vida, agora se tornou uma estrutura sufocante, nos condenando a uma massa exausta, estressada e em busca da sobrevivência em um espaço carente de suporte social. O que realmente faz a cidade funcionar melhor? Uma coesão territorial ou uma fragmentação nivelada por classes? Uma cidade integrada ou segregada? A cidade em essência, é aglomeração. E deve ser movida por desejos coletivos.
Com o avanço das décadas, vimos surgir na região central de São Paulo quarteirões vazios, onde andar a pé se tornou algo remoto, desconfortável. Mas o que fez gerar este desconforto? Diversos fatores: ausência de investimento político, falta de espaços públicos, estruturas para receber o morador, ausência de suporte social para os moradores de rua, tráfico de drogas e uma arquitetura agressiva. O centro urbano paulistano tornou-se uma “fábrica” esquecida a céu aberto, onde antes pulsava o crescimento econômico, hoje está estagnada e atrasada no tempo. Prova que demonstra este esquecimento é quando vemos o centro de São Paulo ser classificado como “antigo centro”; Oras, se é o antigo centro, então ficou no passado, o que vale hoje é o “novo centro”, que é moderno, organizado e que atrai os olhos dos turistas e investidores.
O novo centro pode ser dividido em dois: o cultural (Consolação e Jardim Paulista) e o econômico (Faria Lima). Já os bairros que compõe o antigo centro: Sé, Luz, Bom Retiro, Anhangabaú e Campos Elíseos, são os que sofrem com este esquecimento. São bairros que nos dias úteis possuem um alto fluxo de pedestres graças aos pequenos comércios e estações de metrô, porém, aos finais de semana as calçadas tornam-se desertas. Estarem desertas aos finais de semana significa que quem sai para passear pela cidade não se interessa mais pelo antigo centro. Graças aos efeitos de uma má gestão política, o centro se tornou um símbolo da feiura. Antônio Garcia, 47, é atendente em uma padaria no Anhangabaú, e relata como é trabalhar na região. “Eu gosto do centro, sempre tem opções pra o que eu quero. Mas já faz um tempo que ele (o centro) está muito sujo, muita gente largada por aí. O que a gente vê é as vezes a Prefeitura jogando água para tirar o grosso da sujeira da rua e é isso.” É preciso lembrar que nesta região há museus e teatros, mas por ter se tornado uma região carente e violenta, faz com quem quer frequentar estes ambientes use o carro como principal meio de condução, pois é uma forma de “proteção”. Sempre estacionando o veículo dentro do espaço cultural, evitando de ter que caminhar pelas ruas do bairro. “Eu sinto falta da época que o centro era mais bem cuidado, que podia sair por aí e aproveitar até de madrugada. Hoje eu venho pra cá, trabalho e volto pra casa, não me sinto muito feliz em passear por aqui não, está largado.”, diz Antônio.
Infelizmente, não podemos mais depender unicamente do Estado como mediador para a resolução dos problemas urbanísticos, é necessário a busca por novos caminhos; dos quais um chama a atenção: o setor privado. Ao adotarmos regras nos projetos urbanos, o investidor que se interessou em construir em um espaço urbano, terá que investir uma parte do investimento em uma infraestrutura que seja usufruída por quem habita na região, fortalecendo-a.
Uma cidade manejada somente pelo poder econômico (empresas privadas, construtoras ou multinacionais), faz surgir uma cidade murada por milhares de prédios, o que resulta em uma cidade morta, cheia de sombras, hostil ao pedestre e como consequência, muito menos segura. Camila Martins, 35, é moradora e trabalha com vendas de roupas no bairro do Bom Retiro. “Para mim, a única vantagem daqui é que eu moro perto do trabalho, porque de resto. O aluguel até é razoável, , mas o apartamento não é bonito, não tem uma vista boa sabe? A janela só serve para entrar ar e um pouco de luz", declara Camila. O Parque da Luz, por exemplo, já fui algumas vezes, é bonito, mas não me sinto tranquila lá, só vou acompanhada. Prefiro passear em outros lugares”, acrescenta.
Precisamos entender que o poder econômico vê o território urbano como uma mercadoria, para ele é somente um espaço para a ação privada, do uso da terra, como meio para algo que lhe dê retorno. Outro fator que é comumente esquecido nos diálogos urbanos é sobre o estatuto da cidade. É preciso urgentemente incorporá-lo aos fins práticos. Com uma possível revitalização do centro velho, o preço do m² da região subiria consideravelmente, e com o efeito da oferta e demanda imobiliária (novamente), estes terrenos teriam uma grande valorização. Temos que entender que tais propriedades, sejam elas públicas ou privadas, precisam ser usadas; elas precisam cumprir a sua função social do uso. Por quê? Porque o terreno em uma região urbana é um bem escasso, contingente, que precisa ser usado para alguma causa ou propósito; além de ser um direito social, pela liberdade do seu uso.
É preciso compreender que as cidades não foram feitas para gerar pobreza, o seu propósito era o inverso. Em sua natureza, elas são polos de geração de riqueza, servem como uma nova oportunidade para quem vem de regiões carentes e terem uma nova oportunidade. Ou podemos reformular o seu conceito, e pensar na cidade moderna como um sistema econômico que é concentrador e cruel. Logo, pensando por essa perspectiva, a cidade se tornou uma máquina de concentração do capital, para um grupo específico. Se continuarmos deixando o poder econômico aplicar métodos como a contingência econômica, os preços imobiliários sofrerão aumentos abusivos, criando uma bolha imobiliária que poucos terão capacidade de ingressar, e que poderá explodir. Com essa imposição do mercado castigando a classe média, haverá uma tendência de inchar a pirâmide social para baixo. Por exemplo, já está começando um processo do retorno de moradores à bairros que ficam nas margens da nossa cidade, onde estes grupos ficarão isolados em fragmentos do território urbano, morando em lugares afastados ou perigosos; pois são os únicos lugares com um valor acessível para se pagar. Dificultando cada vez mais a chance de aquisição de um imóvel em regiões próximas onde há demanda de emprego; impedindo também que jovens profissionais consigam uma habitação com valores justos, tendo também que escolher por regiões mais afastadas ou irão optar em pagar aluguéis caríssimos (região oeste, por exemplo).
Não vemos surgir um novo território feito de forma planejada; o que permanece é uma repetição contínua da fragmentação das classes sociais dentro da cidade. Para que surja um novo acontecimento urbano, ele não pode se dar em um espaço preenchido pela competitividade puramente comercial, é preciso voltar os olhos para quem vive no muro ao lado, dialogar com os moradores, ouvir as suas realidades, criando um elo, um novo sujeito. Ao aprofundar os processos de escuta territorial, o sujeito que vive no espaço urbano irá sentir-se parte do meio no qual vive. Criando um dispositivo de unir a sociologia com a economia, para assim planejar uma cidade justa para todos que nela vivem; formando uma nova cidade gerada por uma ordem equilibrada.
Com a diminuição de verbas para universidades, aprovado pela Lei Orçamentária de 2021, foi anunciado no dia 11 de maio o fechamento da Universidade Federal do Rio de Janeiro para julho deste ano. A universidade foi criada em 1920 através do Decreto 14.343 pelo presidente Epitácio Pessoa e nomeada "Universidade do Rio de Janeiro". Foi reestruturada em 1937 durante o governo Vargas e passou a ser chamada de "Universidade do Brasil" para, apenas em 1965 durante o governo Castelo Branco, passar a ser chamada Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). O anúncio do fechamento da instituição leva também ao desfecho de 9 hospitais universitários e unidades de saúde, 45 bibliotecas, 13 museus e mais de 1450 laboratórios, e inúmeros alunos que não poderão concluir seu curso na Universidade que escolheu.
O estudante da UFRJ Jefferson Xavier estava cursando seu segundo ano de engenharia de bioprocessos quando se deparou com a notícia do fechamento. A faculdade foi bem clara com os alunos sobre o motivo, mas isso não diminuiu o descontentamento de Xavier com a situação “Eu senti bastante tristeza e raiva!”.
Para Xavier, sua maior indignação é com o governo, por permitir fechar as portas de uma universidade com tanto desenvolvimento na área de pesquisas como a UFRJ. Ele expressa sua vontade de lutar pela permanência da universidade: "Vou lutar até o final pela minha faculdade, e sei que tudo vai ser resolvido. Já lutamos uma vez e vamos lutar quantas vezes for preciso".
Além da UFRJ, outras federais também estão passando pelo mesmo problema. A aluna do segundo semestre de Sistemas de Informação da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Mayara Aiko Teixeira Watanabe, diz que a universidade já vem sofrendo com a falta de verba há um bom tempo. Mayara afirma que sua universidade está sendo muito importante no enfrentamento da covid-19 em Uberlândia: “Caso as Universidades federais não sejam uma prioridade para o governo, temo que muitas cidades entrem em colapso", diz Watanabe.
A estudante acredita que as universidades federais passaram por um momento muito turbulento, mas que aos poucos elas conseguirão resistir e superar isso. Na Universidade Federal do ABC (UFABC), a aluna de engenharia de gestão, Patrícia Kimiko Matsura Kondo, conta que, devido ao recesso escolar a faculdade não teve a chance de conversar sobre a situação diretamente com os alunos e que o assunto está sendo abordado apenas nas redes sociais e no site da universidade. Ela, assim como os outros alunos, também está aflita. “É muito triste e angustiante não saber o que vai acontecer e imaginar que universidades tão grandes poderiam parar”. Kondo ainda explica que houve uma reunião com reitores de algumas universidades e foi liberado uma verba para que continuem por hora, mas o futuro ainda está incerto.
Também na UFABC, a caloura de ciências econômicas, Eduarda Vitorio de Almeida Gomes, relata que foi um grande baque receber o anúncio do fechamento da UFRJ, e ficou muito triste em pensar nos alunos que terão que interromper seus sonhos e nos profissionais que perderão sua renda.
Eduarda também declara que tem medo que sua universidade sofra o mesmo final que a UFRJ: “O reitor da UFABC já lançou um comunicado sobre a possibilidade da suspensão das atividades até o final do ano caso os bloqueios orçamentários não sejam recompostos”. A estudante também diz que não se sentiria preparada psicologicamente para enfrentar o vestibular novamente caso sua universidade feche as portas.
Segundo os dados do Ministério da Educação, mais de 2.795.369 pessoas prestaram o ENEM 2020, sendo a principal maneira de ingressar em uma universidade federal. O vestibulando Pedro Soares Romualdo, que pretendia estudar na UFRJ, ficou triste com a situação e decepcionado com o Estado.
Romualdo também relata que não pretende evitar prestar vestibulares para federais, porém, dependendo do que acontecer até o final do ano com outras federais, a possibilidade de priorizar uma universidade particular irá prevalecer.
Em suas redes sociais, a universidade faz campanhas de arrecadação para a manutenção do Edifício Jorge Machado Moreira que sofreu um incêndio em 21 de abril deste ano. As instalações elétricas precisam ser reformadas para que continuem em funcionamento enquanto houver orçamento para manter as portas da melhor universidade federal aberta.

Imagem de capa: Reprodução - UFRJ
Confira também o podcast sobre a matéria acessando o link.
No cenário de pandemia do país, “55,2 % dos domicílios brasileiros convivem com a Insegurança Alimentar. Em números absolutos, são 116,8 milhões de brasileiros sem acesso pleno e permanente a alimentos. Desse total, 43,4 milhões não tinham alimentos em quantidade suficiente e 19 milhões enfrentavam a fome”.
A pesquisa "Inquérito Nacional sobre a Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil", realizada pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar (Rede PENSSAN), entre os dias 5 e 24 de dezembro de 2020, revela que o direito ao acesso e consumo pleno de alimentos, garantidos pela Constituição de 1988, não é compatível com a realidade atual.
O relatório aponta também que, a condição de Segurança Alimentar, está ligada a fatores como direitos básicos aos brasileiros, tais como o acesso à água potável, saneamento básico ou moradia. São, portanto, condições que excluem a população em situação de rua.
Após a criação de programas sociais para o combate à fome, como o Bom Prato e o Programa Fome Zero, o Brasil viu reduzir o número de pessoas que se enquadram em situação de Insegurança Alimentar. Conforme dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o percentual de domicílios que enfrentam a Insegurança Alimentar começou a crescer a partir de 2013, quando estava em 22,6%, mas 5 anos depois, em 2018, chegou a 36,7%.

A FOME NA CIDADE DE SÃO PAULO
“Comparando a situação, em março de 2020 e março de 2021, num primeiro momento parecia ter muito mais oferta em relação às doações até o mês de dezembro. De janeiro para cá, a gente tem uma redução grande das ofertas para a população em situação de rua”. A conjuntura dita por Darcy Costa, Coordenador do Movimento Nacional da População de Rua (MNPR), é o que revela a situação da distribuição de alimentos para a população em situação de rua na cidade de São Paulo.
Das 59 unidades do Bom Prato, 22 estão na capital. O serviço oferece três refeições diárias, café da manhã, almoço e jantar, pelo preço, respectivamente, de R$0,50 e R$1,00. Em maio do ano passado, após o recrudescimento das medidas de contenção à crise sanitária, o governo de João Dória (PSDB), estabeleceu a gratuidade do serviço popular para os moradores de rua cadastrados nos restaurantes do programa. Contudo, no dia 30 de setembro o benefício foi suspenso, passando a ser pago novamente.

Foto: Amanda Dafoe
Após a suspensão da gratuidade, uma ação movida pela Defensoria Pública da União (DPU), Defensoria Pública de São Paulo (DPESP) e o Ministério Público paulista (MP-SP), determinou o pagamento diário de R$10 mil até a volta dela. O governo recorreu, porém sem sucesso, e implementou novamente o serviço gratuito.
Costa diz que a gratuidade do Bom Prato foi uma das ações benéficas para a população de rua, mas que o período de cadastramento foi curto e impossibilitou uma adesão maior. “O que nós estamos buscando hoje é que haja novos cadastros, porque quem não se cadastrou não consegue comer gratuitamente”.
Na cidade de São Paulo, três endereços do programa se localizam na Zona Central, na 25 de março, no Brás e em Campos Elíseos, o que corresponde a 65,01% do total de pessoas morando nas ruas. Quando caíram o número de doações, e paralelamente, ocorreu o aumento da procura, a designer Amanda Dafoe, do Panela Coletiva, residente do bairro Santa Cecília, teve a ideia de preparar refeições prontas para doar no seu entorno.
REFEIÇÃO SOLIDÁRIA
Em um primeiro momento, Dafoe, junto a seu companheiro, cozinhavam com alimentos que tinham em mãos, produzindo cerca de 75 marmitas. “A gente foi distribuir ali no entorno da Marechal Deodoro e aquilo não durou meia hora, foi num instante que foi tudo”.
Logo após a primeira ação, compartilhou a iniciativa com amigos no WhatsApp e, rapidamente, teve um retorno muito grande de pessoas que estavam interessadas no projeto e dispostas a doar alguma quantia. Conta que, “no dia seguinte a gente já tinha 1000 reais para fazer uma próxima ação”, e pensou: “Não vamos fazer de quinze em quinze dias, vamos fazer semana que vem já”.
Com mais pessoas interessadas e, já na segunda ação, a participação de alguém do ramo alimentício, produziram cerca de 200 marmitas. “A Mara Salles fez o panelaço da mistura, a carne, e a gente fez o arroz. Depois, dois amigos vieram ajudar para fazer a embalagem, para a distribuição”. Após o sucesso entre conhecidos, criou um perfil no instagram, que aos poucos se expandiu e ganhou mais visibilidade.

Quando viu a possibilidade de realizar ações mais frequentes, se juntou com grupos de ‘marmiteiros solidários’, “para mapear onde cada um estava atuando, entender a escala disso”, criando também o evento “gente é para brilhar”. “Esse mapeamento deixou claro, o quanto esse trabalho estava sendo feito pela sociedade, e não pelo poder público”. Fala ainda das mais de 200 mil refeições diários entregues à população mais vulnerável e de como, próximo às eleições, houve a aproximação de diversos candidatos, “mas em nenhum momento de forma positiva, isso foi muito triste de ver”.
Para a designer, existe um ‘limiar’ sobre a realização desses projetos, que segundo ela, deveriam ser realizados a partir de políticas públicas. “O quanto a gente tem que fazer esse trabalho porque ninguém está fazendo, mas o quanto temos que ficar o tempo todo falando: meu não era para a gente estar fazendo isso, isso é trabalho de vocês [políticos]. Isso é a incompetência de vocês”.

"ELES E A GENTE"
A pandemia de covid-19, é mais uma das vidraças que deixa visível a desigualdade e todas as mazelas sociais Brasil afora. Nesse sentido, Dafoe aponta para uma ideia de “eles e a gente”, como se existisse um muro que separa a população vulnerável daqueles que conseguiram se adequar ao atual momento. “A pandemia só existe nessa fronteira, quando eles [população de rua] precisam de algo e precisam acessar a gente, eles sabem que tem que colocar a máscara, porque a gente acha que precisa de máscara. É um mundo paralelo deles”. Nesse sentido, ela diz já ter ouvido, dos próprios moradores de rua, frases como: ‘não, meu sangue é tão forte que esse vírus não pega’ e ‘deveria tirar o meu sangue e transformar em vacina’. E termina dizendo, “como é que você usa máscara de uma maneira minimamente apropriada?!, e eles tinham essa consciência, de que não é para gente”.














