Evento continua sua evolução com mais atrações e marcas patrocinadoras, mesmo com menos montadoras
por
Vítor Nhoatto
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18/06/2025 - 12h

 

Em sua quarta edição, ocorrida entre os dias 12 e 15 de junho, o Festival Interlagos Edição Carros se consolidou no setor. Realizada no autódromo de mesmo nome, na zona sul de São Paulo, contou com lançamentos de Ford, Honda e GWM. Além disso, nomes como IZA e Ferrugem animaram os amantes das quatro rodas.

Ao todo, estiveram presentes 18 marcas de automóveis, contando Omoda e Jaecoo como marcas separadas. A quantia diminuiu em relação à edição de 2024, que teve 19. Este ano, marcas como Chevrolet e Renault não compareceram. Mas ao andar pelos boxes da pista e no gramado que recebe os festivais Lollapalooza e The Town, a diferença é imperceptível. 

Se por um lado havia uma fabricante a menos, o número de stands de marcas patrocinadoras aumentou e chamava bastante a atenção. Desde casas de apostas até plataformas de venda de produtos online, com direito a uma estátua de leão que atraia as câmeras dos celulares. Completava o cenário a roda gigante popular nos eventos musicais que ali ocorrem, mas que não estava disponível para passeio.

No quesito alimentação, havia um número grande de opções, com uma dezena de food trucks e quiosques para petiscos e um restaurante com buffet também. Ponto importante é a falta de bebedouros pelo complexo, obrigando a todos a comprarem água, mesmo com os shows musicais que pedem por estações de hidratação.

Já em relação à organização do evento, mesmo com as obras aparentemente incessantes em Interlagos, com tapumes e entulhos em alguns locais, estavam menos intrusivas no campo de visão do espectador que as edições passadas. A sinalização continuou precária, com muitas pessoas perguntando para seguranças como descer para a área dos boxes e para o meio da pista, onde as grandes marcas ficavam.

Baseado no conceito de experiência automotor, o formato das edições anteriores foi mantido. Diferente de um Salão do Automóvel tradicional, os interessados poderiam andar na pista por R$593 com o ingresso Drive Pass, e também negociar com representantes de concessionárias a compra dos carros expostos e testados.

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Era possível ainda se sujar na lama, e nem precisava pagar mais pelo Drive Pass, com o Street Pass de R$107 já era suficiente. Foto: Vítor Nhoatto

Tudo isso faz do festival um exemplo atraente financeiramente para as marcas e emocionalmente para o público. Em Portugal, isso acontece de forma parecida com o ECAR Show e, na Espanha, com o Automobile Barcelona, por exemplo. Mas é só no Brasil que uma pista de corridas todo pode ser explorada. Além disso, para diminuir os custos, a edição Carros aconteceu apenas duas semanas depois da edição Motos, reaproveitando a estrutura e agilizando o processo para as montadoras, segundo a organização do evento. 

Palco de lançamentos 

Mesmo sem Volkswagen e o novo Tera, e a Chevrolet tendo optado por lançar os facelift de Onix e Tracker em julho em evento fechado, grandes revelações tomaram Interlagos. No quesito modelo inédito não houve nenhum caso por parte das montadoras tradicionais, limitadas a reestilizações e apresentações ao público de carros já mostrados em solo brasileiro.

Dessa vez presente somente com a Abarth, o conglomerado Stellantis aproveitou o ambiente de corrida que a marca do escorpião evoca e mostrou o renovado Pulse. Seguindo as atualizações da versão não envenenada da Fiat, ganhou nova grade frontal e teto panorâmico, além de banco do motorista com ajuste elétrico para o esportivo. Ficaram de fora, no entanto, novos assistentes de condução como leitor de placas de trânsito e piloto automático adaptativo, disponíveis em veículos mais baratos que os R$157.990 anunciados.

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Por trás do Pulse de hoje, o Abarth 600 dos anos 1960, exposto também pela marca em Interlagos. Foto: Vítor Nhoatto

Ainda em relação às europeias, a Volvo esteve presente novamente, inclusive reaproveitando muitos dos EX30 amarelos da edição passada. Falando nele, que não oferece mais a cor citada, ganhou uma nova versão em território brasileiro, a Cross Country. Apresentada em fevereiro na Europa, chega aqui como topo da gama por R$314.950. Se diferencia das demais pelas caixas de roda e proteções na frente e atrás em plástico preto, além de estrear um novo sistema de propulsão, com  tração integral e 428 cavalos, e indo de 0 a 100km/h em apenas 3,7 segundos.

Também foram mostrados ao público o XC90 atualizado, lançado em 2015, que ganhou sobrevida após a decisão da sueca de prolongar o ciclo dos seus modelos a combustão até uma maior maturação do mercado de elétricos. E ao lado dele estava também o recém lançado no Brasil, o novo EX90, antes tido como sucessor do irmão e agora como complemento e modelo topo de gama da marca. 

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De alguma forma a eletrificação chega para o cliente Volvo, seja com o elétrico EX30 ao fundo ou com o híbrido plug-in XC90 dourado à direita. Foto: Vítor Nhoatto

Mudando de continente, a Honda aproveitou a ocasião para apresentar o facelift do Civic e do HR-V. Ambos receberam mudanças sutis na grade dianteira e parachoques, além de novas lanternas traseiras e desenho de rodas para o segundo. No interior, o sistema multimídia do sedã ganhou novas funcionalidades e o console central do SUV foi alterado levemente para facilitar o acesso ao carregador por indução. Os preços não foram divulgados, no entanto. 

A conterrânea Mitsubishi estava presente novamente, mas diferente da edição 2024 trouxe modelos realmente novos em sua linha, apesar de nenhuma revelação no evento. Lançado no país há poucos meses, a nova geração da picape Triton estava presente e o destaque do stand foi o novo Outlander, anunciado no mês passado. Agora híbrido plug-in, se coloca como modelo mais tecnológico da marca no Brasil, mas custa quase R$400 mil. 

Novidade este ano no festival, a Hyundai também não trouxe novidades, mas aproveitou para mostrar para os consumidores o recém-lançado Kona, o SUV de oito lugares Palisade e o eletrônico Ioniq 5. Os modelos marcam uma nova fase da divisão de importados da coreana no país, administrada pela CAOA e separada da HMB que fabrica os modelos HB20 e Creta. 

Por fim, a estadunidense Ford levou a Interlagos a linha Tremor de suas picapes Maverick, Ranger e F-150, reforçando o apelo off-road da marca com direito a um segundo stand só para elas próxima à pista off-road. Já dentro dos boxes, a reestilização do seu segundo modelo mais importante no país hoje, o Territory, foi revelada.

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Além da mudança estética que tenta alinhar o Territory a linguagem visual da marca, também conta com novo design para as rodas.Foto: Vítor Nhoatto

Atrás apenas da Ranger em vendas e popularidade, é rival de modelos best-sellers como os Jeep Compass e Toyota Corolla Cross, SUVs médios. Com uma frente toda remodelada, mais arredondada e passível de julgamentos, mudou a cor dos estofados internos mas manteve o seu preço de R$215 mil. Importado da China, pretende crescer na categoria com a estratégia, custando menos que os dois concorrentes citados em versões equivalentes.

Ascensão chinesa continua 

Falando mais sobre a potência asiática, se nenhuma surpresa veio por parte das montadoras já estabelecidas, mais uma vez as chinesas ocuparam em todos os sentidos Interlagos, e tiveram destaque. Com revelações importantes e presentes na pista e no barro, elas focaram em mostrar qualidade e potencial tecnológico irreverente.  

Veteranas do Festival, BYD e GWM foram desta vez por caminhos distintos, com a primeira sem lançamentos no mercado de fato, mas trabalhando fortemente o imaginário da marca no Brasil. No stand o ato principal foi o supercarro elétrico YangWang U9, chamando todas as atenções com o seu vermelho vivo e asa traseira enorme. Além disso, era impossível não reparar o carro “dançando”, demonstrando a suspensão independente sofisticada do modelo que consegue saltar e andar somente com três rodas.

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Ao lado de Dolphin Mini e King, U9 roubava os olhares com seus 1.300 cavalos elétricos. Foto: Vítor Nhoatto

Do lado de fora quem brilhava era o também elétrico YangWang U8, agora sob o formato SUV. Capaz de girar no próprio eixo e flutuar, corria pela pista e chamava atenção pelo porte de cerca de cinco metros de comprimento e design singular. Nada foi falado sobre a possível comercialização de ambos no Brasil, o que não era esperado, mas sim as onomatopeias e expressões de surpresa que eles provocam.

Já em relação ao rival GWM, a estratégia foi repetir o que fez em 2024: apresentar novos modelos. A picape híbrida Poer e o SUV Tank 9 foram as estrelas da vez, com a primeira já tendo aparecido em evento com o vice-presidente Geraldo Alckmin na futura fábrica da empresa no Brasil. No caso do segundo, promete complementar a linha Tank após a chegada do Tank 300, na edição passada revelado, e agora ocupando a pista off-road e as ruas também. 

Cenário similar ocorreu no stand da Omoda & Jaecoo, marcas do grupo Chery que em 2024 debutaram em Interlagos e agora já contam com cerca de 50 lojas pelo país. Foram apresentados a versão híbrida do Omoda 5, vendido aqui até então somente como elétrico sob o nome E5, e o inédito Omoda 7, um híbrido plug-in para rivalizar com BYD Song Plus e o GWM Haval H6. Ambos tem previsão de lançamento até final do ano.

Porém, o destaque da mostra foi a novata GAC, que chegou ao mercado brasileiro oficialmente no mês passado já com 33 lojas e cinco modelos. Estilizada sob o slogan Go and Change, vá e mude em português, é o acrônimo para Guangzhou Automobile Group, e se pronuncia “gê á cê”. 

Com um dos maiores estandes da edição, o mesmo que a também estreante chinesa Neta usou no ano passado, era um dos mais movimentados também. O centro das atenções era o elétrico Hyptec  HT com suas portas traseiras “asa de gaivota”, ao estilo do rival Tesla Model X. Custando a partir de R$299.990, é o modelo topo de gama da marca à venda aqui, e promete agitar o mercado dos SUVs elétricos grandes, com uma cabine extremamente luxuosa.

Mais ao fundo estava o também elétrico e SUV, Aion V, com uma pegada mais quadrada e prática. Com porte de GWM Haval H6, tela para o ajuste do ar condicionado no banco de trás, massagem nos dianteiros e até 602 km de autonomia segundo o ciclo chinês NDEC, custa a partir de R$214.990, mesmo preço que o rival híbrido. A MPV (Multi Purpose Vehicle) Aion Y e o sedã Aion ES completavam a linha elétrica.

E apostando também nos híbridos, o SUV GS4 marcou presença, rival direto do supracitado H6 e do recém atualizado BYD Song Plus. A partir de R$189.990 é tido pela marca como o modelo com maior potencial de vendas, e aposta em um design ousado cheio de vincos e quinas, além de qualidade, conforto e tecnologia por um preço mais acessível que modelos menores como o Toyota Corolla Cross inclusive.

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Espaço da GAC remetia a conforto, natureza e um estilo de vida novo, como proposto pela marca. Foto: Vítor Nhoatto

Vale notar, no entanto, que apesar de todo o apelo high tech, nenhum dos modelos conta com leitor de placas de trânsito e detector de fadiga, presentes nos rivais da GWM e BYD. Além disso, o sedã Aion ES, com a mira para o BYD King, não possui nenhum assistente de condução e acabamento digno de Fiat Mobi por R$170 mil. Só o tempo dirá se a estratégia será efetiva ou desaparecerá em um ano como a Neta.

Museu a céu aberto

Ao lado da imersão chinesa a nostalgia tomava conta no segundo espaço da Honda no evento. Entrando era possível admirar o Civic Type-R, o mais potente já feito e vendido por quase meio milhão no Brasil. De frente a ele estava o primeiro Civic fabricado no Brasil, parecendo que havia saído da loja em 1997.  

E como um espaço de memória da japonesa pedia, um tributo a parceria de Ayrton Senna e a marca levou ao festival itens exclusivos do ídolo brasileiro. Acompanhado do capacete usado por ele estava exposto um exemplar 1992 do Honda NSX, esportivo que contou com a participação do piloto no desenvolvimento e que é lembrado pelos fãs por isso. Os entusiastas das pistas ainda puderam ver de perto o primeiro Honda que ganhou na Fórmula Indy.

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História não se compra e contra isso as chinesas não podem lutar. Foto: Vítor Nhoatto

Não necessariamente só de antiguidades que se faz um museu, mas também obras de arte, como abrigava um pavilhão mais adiante. Nele os interessados podiam fazer tatuagens no estúdio presente enquanto admiravam os dois carros mais caros do Brasil. 

No seu tom azul vibrante de lançamento, o superesportivo Bugatti Chiron estava sempre rodeado de câmeras, queixos caídos e pessoas de todas as idades. Com 1.500 cavalos, estima-se que custe cerca de R$40 milhões e é o único exemplar em solo brasileiro. E acompanhando o francês estava o Pagani Utopia, feito artesanalmente e em apenas 99 unidades. O único exemplar no país é branco e possui faixas azuis e vermelhas, importado por cerca de R$60 milhões.  

Estavam mais ao fundo ainda uma Porsche Taycan e uma Mercedes G-Class, que torcem pelos pescoços pelas ruas, mas se contentavam em ser apenas os figurantes do espaço desta vez. Falando na alemã, pela primeira vez esteve no evento, com um stand discreto no gramado e apenas quatro modelos, mas que estavam quase sempre rodeados de interessados. Ao lado também estavam as novatas no evento, BMW e Mini, com seus últimos modelos, mas sem novidades.

De volta ao prédio, Lexus e Toyota repetiam a estratégia das alemãs, sem alardes, e para completar o mundo das exclusividades, um cercado contava com um Rolls Royce Ghost, um McLaren GT, alguns Mitsubishi Lancer Evolution e até mesmo uma Tesla Cybertruck. Se não fosse o suficiente, no andar de cima empresas de acessórios e produtos automotivos em geral trouxeram Nissan GT-R, Ford Mustang e mesmo Ferrari. Lembrando que se fosse de desejo, por  R$1.970 à R$3.950 era possível pilotar máquinas como essas com o ingresso Sport Pass.

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Seja criança ou não, entusiasta ou leigo, muitos modelos chamavam atenção de todo mundo que passava por Interlagos. Foto: Vítor Nhoatto

Para completar a experiência no fim da noite, ainda aconteceram shows de cantores a lá Lollapalooza em pleno mês de junho. No dia 13 se apresentaram Seu Jorge e IZA, seguidos da dupla Maiara e Maraisa no dia seguinte, e Diogo Nogueira e Ferrugem no domingo (15). 

A Prefeitura de São Paulo anunciou em abril deste ano que renovou o contrato com a organização do evento para edições anuais até 2028, comprovando o sucesso do formato. Mesmo que o Salão do Automóvel de São Paulo volte depois de sete anos em novembro, como foi anunciado, o espaço do Festival Interlagos é só dele, e parece mais que nunca robusto e consolidado pelas marcas, governo e também pelo público. 

Caso de racismo gerou revolta no Interior da Bahia.
por
Victória Ignez
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29/05/2025 - 12h

No vilarejo paradisíaco de Caraíva, no sul da Bahia, a alegria e a tranquilidade foram rompidas por uma tragédia que abalou moradores e visitantes: a morte de Victor Cerqueira, o Vitinho, de 22 anos, durante uma operação da Polícia Militar no dia 10 de maio de 2025. 

Luiza Bonfim, entrevistada

Caraíva, conhecida por suas paisagens naturais, ruas de areia e forte presença de cultura tradicional, também abriga uma população local que enfrenta desafios históricos como a falta de infraestrutura, serviços públicos básicos e segurança. Nesse cenário, a morte de um jovem querido pela comunidade acendeu um debate mais amplo sobre violência policial e desigualdade social. Descrito por amigos e conhecidos como um “menino de luz”, Vitinho era figura presente no cotidiano da vila. Sempre sorridente, prestativo e trabalhador, atuava em pousadas da região e também prestava serviços à vila, como a coleta de lixo. No momento da operação, ele exercia sua função: aguardava hóspedes de uma pousada à beira do rio, ponto tradicional de travessia no povoado. 

Segundo testemunhas, a Polícia Militar realizava uma operação na área quando rendeu Vitinho, algemou-o e o levou sob custódia. No dia seguinte, seu corpo foi encontrado no Instituto Médico Legal (IML). A informação de sua morte causou choque e revolta entre moradores, empresários locais e turistas frequentes. “A gente sempre via o Vitinho por aqui. Eu não o conhecia pessoalmente, mas meus amigos eram muito próximos dele. Todos dizem a mesma coisa: ele era um menino trabalhador, responsável, que espalhava alegria por onde passava”, relata Luiza Bomfim, jovem que frequenta a vila e acompanhou de perto os desdobramentos do caso. 

A versão oficial da polícia afirma que Vitinho teria envolvimento com o tráfico de drogas, mas moradores contestam essa narrativa. Há indícios de que ele tenha sido confundido com outro homem chamado Vitor, ligado a um grupo criminoso da região e também morto na mesma operação. Esse possível erro de identificação levanta questionamentos sobre a condução da ação policial e o uso excessivo da força por parte dos agentes envolvidos. 

Até o momento, o caso está em investigação, e não há informações sobre a responsabilização dos policiais. A ausência de transparência gera temor e frustração. Familiares, amigos e moradores pedem justiça e exigem esclarecimentos. Em protestos silenciosos e publicações nas redes sociais, o nome de Vitinho passou a representar mais do que um jovem injustiçado: tornou-se símbolo de uma comunidade que clama por respeito, verdade e responsabilidade. 

 

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Moradores e trabalhadores reclamam da falta de sossego quando chove
por
Maria Mielli
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15/05/2025 - 12h

 

Em dias de chuva, seja ela intensa ou não, os moradores da grande São Paulo já se preparam para o pior: alagamentos e/ou falta de luz. Na Rua Arnaldo Cintra, no bairro Vila Moreira — próximo ao Parque São Jorge— as coisas não são diferentes. Não se sabe exatamente quando isso começou, mas faz muitos anos que os moradores dos condomínios Vivace Park e Vivace Club, são vítimas de alagamentos constantes que impedem a entrada e saída dos moradores da região. Na área em que hoje estão estes condomínios, antigamente passava o córrego popularmente conhecido como do Maranhão.

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Rua Arnaldo Cintra alagada após um dia de chuva em São Paulo. Foto: Arquivo pessoal de moradores do condomínio.
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“Quem chega não entra e quem tá aqui dentro não sai” exclama dona Valderes, moradora do Park há 7 anos. Quando questionada sobre o início dessa dor de cabeça, ela responde que sempre foi assim e que todos os moradores reclamam desse empecilho. Ela também diz que os próprios moradores, juntamente com a síndica do prédio, reuniram-se para tentar resolver esse problema. O projeto idealizado visaria fazer a manutenção correta do córrego e diminuir, por meio da macrodrenagem, os riscos de alagamento. A Secretaria de Infraestrutura Urbana e Obras de São Paulo, SIURB, informou que não consta nos seus arquivos a retificação do córrego. Segundo eles, por conta da falta de propostas apresentadas pelas empresas, a licitação foi considerada “deserta”. 

O problema da região não afeta somente os moradores, mas toda a área próxima à Marginal Tietê. Alan Richard, frentista no posto em frente aos condomínios, conta que durante um ano e 5 meses de trabalho, já enfrentou as enchentes mais de 20 vezes. Destaca também que essa situação prejudica toda a logística do dia-a-dia. “Atrapalha porque as pessoas que moram nos apartamentos não conseguem entrar, aí eles ficam tudo (sic) aqui, ocupando espaço…aí para de abastecer e para tudo aqui”. E finaliza: “Algo não tá certo”.

 

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Acidentes em 2024 e 2025 com carros de luxo levantam alerta sobre imprudência nas pistas e ineficiência de autoridades
por
Daniella Ramos
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26/04/2025 - 12h

O atropelamento das jovens Isabelli Helena de Lima Costa e Isabela Priel Regis, ambas de 18 anos, em São Caetano do Sul, no ABC Paulista, é o caso mais recente de acidente de trânsito envolvendo carros de luxo, em 10 de abril. As duas mulheres foram arremessadas a 50 metros de distância com o impacto da batida causada pelo estudante de direito Brendo dos Santos Sampaio, de 26 anos. Testemunhas apontaram que a rapidez do Honda Civic era devido um possível “racha”. 

O infrator tem sete multas de trânsito por excesso de velocidade, o que dificulta sua defesa, que tenta se utilizar do fato de que o farol estava aberto para ele para diminuir a culpa do acusado. 

 

“É importante que o culpado indenize a família, as autoridades apreendam a carteira e preste serviço social para suavizar e reparar o dano, conforme o código penal. Não se sabe quanto vale uma vida, mas é importante indenizar como uma forma de desculpa e se recuperar dessa violação e evidentemente não repetir mais isso”, afirma o advogado e doutor em Processo Civil Coletivo, Francisco da Silva Caseiro Neto, sobre casos de atropelamentos fatais. 

 

Em Julho de 2024 houve o caso de Igor Sauceda, que responde por homicídio triplamente qualificado ao agir com a intenção de matar, por motivo fútil, utilizando meio cruel e sem dar chance de defesa à vítima. Sauceda perseguiu e atropelou, com seu carro da marca Porsche, avaliado em R$483 mil, o motociclista Pedro Kaique Ventura Figueiredo após uma discussão no trânsito, na qual o atingiu por trás a 102 km/h, quando o permitido na via era de 50 km/h. O motorista permanece preso desde o dia do acidente, aguardando a audiência para saber se irá a júri popular. O Ministério Público pede indenização a ser paga aos familiares da vítima, principalmente porque sua esposa estava grávida na data do crime. 


 

Porsche de Igor Sauceda após acidente. Foto: Reprodução/TV Globo.
Porsche de Igor Sauceda após acidente. Foto: Reprodução/TV Globo.

 

“É inadmissível que casos como esses aconteçam, além do desrespeito no trânsito cometido por pessoas que têm um capital financeiro e se acham melhores que os outros, violando o direito de ir e vir das pessoas no espaço público ao agredir e matar”, comenta a doutora em Sociologia Urbana, Dulce Maria Tourinho Baptista. 


 

Em março do mesmo ano, um dos acidentes de maior proporção midiática foi o caso de Fernando Sastre, que bateu com seu automóvel, também da marca Porsche, a 156 km/h na traseira de um carro de aplicativo, que era dirigido por Ornaldo da Silva Viana, quando o máximo permitido na via era 50 km/h. Ele morreu no hospital por traumatismos múltiplos. 

 

Carros de Sastre e Ornaldo após colisão. Foto: Reprodução/CBN.
Carros de Sastre e Ornaldo após colisão. Foto: Reprodução/CBN.


 

O empresário saiu do local acompanhado de sua mãe dizendo que iria ao hospital, mas os policiais não o encontraram lá, deixando de fazer o teste de bafômetro, que seria essencial para a investigação. Após 40 horas do ocorrido, o condutor do carro de luxo se apresentou no 30º Distrito Policial do Tatuapé, sendo preso preventivamente. Até o momento, o Supremo Tribunal Federal e o Tribunal de Justiça de São Paulo já negaram, ao total, sete vezes seu pedido de responder em liberdade a indiciação por homicídio por dolo eventual, lesão corporal e fuga do local. A data do júri popular ainda não foi marcada, pois a defesa ainda pode recorrer às instâncias superiores contra esta decisão, visto que seus advogados tentam mudar o crime para culposo (sem intenção de matar), para que seja julgado por um juiz. 


 

“É dever das autoridades se aprimorarem para não deixar a pessoa ir embora, agindo com eficiência”, diz Francisco Caseiro. 

 

Outro caso é o de Vitor Belarmino, que tinha cinco pessoas dentro de seu carro da marca BMW e atropelou Fabio Toshiro Kikuta. O fisioterapeuta de 42 anos estava saindo de um hotel após guardar no local objetos de seu casamento, que acabara de acontecer. Vitor está foragido até hoje e se tornou réu por homicídio, já as pessoas no carro respondem por omissão de socorro. 

 

Vitor Belarmino com seu carro antes do acidente. Foto: Reprodução/Rede social de Vitor Belarmino.
Vitor Belarmino com seu carro antes do acidente. Foto: Reprodução/Rede social de Vitor Belarmino.

 

A última atualização do caso ocorreu no dia 11 de abril, em que o réu, ainda foragido, participou da audiência por vídeo sendo negado o pedido de defesa e mantida a prisão pela juíza Alessandra da Rocha Lima Roidis, que argumentou que nada enfraquece a informação dos autos de que possivelmente o acusado estaria conduzindo o veículo acima da velocidade permitida. Mesmo Vitor dizendo em entrevista à Record, no dia 06 de Abril ao programa Domingo Espetacular, que está “preso em casa”, a corporação informou ao veículo que agentes seguem em diligências para localizá-lo e capturá-lo, indicando que as buscas para prendê-lo não são eficazes. 

 

 

“É uma pena que os representantes da ordem [policiais, juízes, guardas de trânsito] pagos por nós, pelo público, resolvam privilegiar determinados grupos, como é o caso dos proprietários de carros potentes”, afirma Dulce Maria.


 

Todos esses casos têm em comum a imprudência dos motoristas, a falta de educação de trânsito e a falha das autoridades em não autuar de maneira eficiente aqueles que cometem infrações colocando a vida da população em risco. 

A ineficiência das autoridades fica nítida nos casos de Vitor Belarmino, já que era possível rastrear o endereço de IP (Internet Protocol) do computador que Belarmino fez a videoconferência para definir sua localização, mediante ordem judicial, e de Fernando Sastre, que os policiais o trataram com menos rigidez, permitindo que ele não fizesse o teste de bafômetro e que fosse ao hospital sem o acompanhamento de oficiais.

Já os casos de Brendo dos Santos Sampaio e Igor Sauceda ficam evidenciados pela demora da Justiça em julgá-los mesmo com provas contundentes e mortes brutais, além de uma defesa fraca que se utiliza de argumentos facilmente contestáveis pela legislação de trânsito. 

Segundo o InfoSiga, site que registra fatalidades no trânsito do estado de São Paulo, ao menos 900 óbitos por acidentes ocorreram em 2025, sendo 186 deles de pedestres como Isabelli, Isabela e Fabio, 386 de motociclistas como Pedro e 186 por automóveis como Ornaldo. Segundo um levantamento do UOL de agosto de 2024, ao menos 50 pessoas foram mortas por acidentes envolvendo carros de luxo no ano, tendo em média um óbito a cada quatro dias.

 

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Comércio de rua gera renda aos colaboradores e mantém viva uma tradição paulistana
por
Nathalia de Moura
Victória da Silva
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27/03/2025 - 12h

As feiras livres paulistanas já ocupam seus espaços pela cidade há anos. Gerando rendimento para muitos feirantes e possuindo uma variedade de produtos para a população, elas são essenciais para a geração de empregos. Com um público diverso, elas também são tradicionais no estado de São Paulo e dão a oportunidade de conhecer diferentes culturas e pessoas. Segundo a Prefeitura de São Paulo, por meio das secretarias de Direitos Humanos e Cidadania (SMDHC), a primeira feira livre oficial aconteceu em 1914, através de um ato do então prefeito Washington Luiz Pereira de Souza. A ação surgiu para legitimar uma prática que já acontecia na cidade, mas de forma informal. Na ocasião, cerca de 26 feirantes estiveram no Largo General Osório, na região da Santa Ifigênia. Mais tarde, em 1915, outra feira se instalou, dessa vez no Largo do Arouche, e teve a presença de 116 feirantes.

As feiras não possuem um público-alvo e esse é seu diferencial. É possível ver crianças, jovens, idosos, famílias, moradores locais e até turistas usufruindo a multiplicidade de mercadorias que existem. Em sua grande maioria, pessoas da classe média e da classe trabalhadora são as que mais frequentam as feiras. Muitos também aproveitam para comprar legumes, verduras e frutas frescas, além de conhecer a cultura local.

São Paulo tem registrado cerca de 968 feiras livres e com a expansão desse comércio tão tradicional, a movimentação financeira gira em torno de R$ 2 bilhões por ano, incluindo a venda de até mesmo peças artesanais. Além disso, mais de 70 mil empregos, diretos e indiretos, são gerados.

Em Guarulhos, por exemplo, Quitéria Maria Luize, de 62 anos, vende condimentos e temperos em quatro feiras de bairros diferentes (Jardim Cumbica, Jardim Maria Dirce, Parque Alvorada e Parque Jurema), sendo essa sua única fonte de renda. “Ela é toda a minha renda, de onde eu tiro o sustento. Criei toda a minha família trabalhando com esses temperos. E começando lá de baixo, não comecei lá em cima”, diz Quitéria em entrevista à AGEMT. 

A feirante afirma que antes de estabelecer seu comércio nas feiras, ela iniciou vendendo temperos pelas ruas com um carrinho de pedreiro: “peguei esses temperinhos emprestados que a minha tia já vendia, saí nas portas, batendo palma e contando minha história”.

 

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Diversos condimentos são comercializados na barraca de Dona Quitéria. Foto: Victória da Silva

Vendedor das mais diversas frutas, Queiroz - como é conhecido e gosta de ser chamado - é feirante por tradição. Seu pai e seu avô participaram de feiras livres e passaram o negócio para ele, que vive disso até hoje, aos seus 60 anos. “O meu avô começou na feira em 1945, ele tinha uma chácara, colhia e vendia. Aqui em Guarulhos não tinha nada, mas já tinha a feira”, informa.

“A feira é patrimônio do Estado de São Paulo” afirma o vendedor, defendendo a existência dela como crucial para a vida dos paulistas e paulistanos. Queiroz diz que as feiras são tão importantes quanto os mercados, já que foi por meio desse comércio que eles passaram a existir: “Até o leite era vendido na feira. A feira era uma festa!", relembra QQueiroz. 

 

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Barraca de frutas do seu Queiroz. Foto: Victória da Silva.

Quem trabalha ou frequenta as feiras falam delas com muito carinho e cuidado. Além disso, os feirantes e moradores também podem ajudar na fiscalização das feiras. Caso identifiquem alguma irregularidade, eles podem acionar as subprefeituras para checarem, pois elas são responsáveis pelo monitoramento. Já a organização e a supervisão são feitas pela Prefeitura por meio da SMDHC e da Executiva de Segurança Alimentar e Nutricional e de Abastecimento (SESANA).

Marcos Antonio da Silva é vendedor de ovos na feira do Jardim Cumbica há 10 anos, mas, diferente de Quitéria, durante os dias úteis trabalha em outra profissão: motorista de caminhão. O caminhoneiro de 52 anos diz que o comércio feirante é uma ótima forma de conseguir renda extra aos finais de semana. Contudo, as mudanças econômicas do país em 2025 fizeram as vendas caírem. “A feira me distrai muito. Aqui tem muita gente boa, atendo bem os clientes, tenho muitos, eles gostam do meu trabalho, eu gosto deles, mas a venda deu uma caída, subiu o preço do ovo, subiu o café, subiu o alho, subiram muitas coisas”, finaliza.

Ir à feira é um evento. Vemos diversas cores e sentimos vários cheiros e sabores. Mas as feiras livres possuem mais do que frutas, temperos e artesanatos. Elas apresentam histórias de vida e ali, amizades e novas experiências podem ser compartilhadas. 

Campanha usa de forma divertida suas redes sociais para apresentar propostas e alavancar a candidatura
por
Lucas Malagone e Giovanna Crescitelli
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06/11/2020 - 12h

Desde 2018 Guilherme Boulos( 38) esta em evidencia no lado esquerdo da politico brasileira, filiado ao PSOL desde 18 lançou a candidatura a presidência pelo partido e obteve aproximadamente 617 mil votos, apesar das inúmeras fake News ligadas a ele por conta do passado na militância pelo MTST( Movimento dos Trabalhadores sem Terra), o resultado foi considerado bom pelo partido. Agora se lança num novo desafio ao lado da histórica prefeita da cidade de São Paulo; Luiza Erundina (86) em busca do cargo mais alto do executivo da cidade.

Boulos e Erundina fazem assembleias virtuais para conversar com 40 mil na  periferia - 30/07/2020 - Mônica Bergamo - Folha

Guilherme Boulos e Luiza Erundina( Foto: Folha de São Paulo)

Para a surpresa de muitos, a chapa já começou muito bem nas intenções de voto em são Paulo antes mesmo de começar a campanha, cerca de 8 pontos percentuais. De acordo com a ultima pesquisa Datafolha(5\11) Boulos se encontra consolidado com 14 pontos e com a margem de erro está tecnicamente empatado com Celso Russomano e Márcio França na briga por uma vaga no segundo turno.

Desde o começo a campanha sempre teve pouca verba e tempo de tv para trabalhar, nesse aspecto decidiu focar em ações que se comunicassem com diversos públicos e camadas sociais da cidade, uma constante na campanha é a produção de vídeos que desmentem as diversas fake News atribuídas a chapa; existe uma aba só para isso no site da campanha.

Aba de espaço ao combate das Fake News que a campanha de Boulos faz em seu site

Ações como o se vira no 50 e o na lata; viralizaram nas redes sociais o objetivo foi traçado para suprir a falta de tempo e ausências de debates que acabaram acontecendo por conta da questão da pandemia que assola a cidade de São Paulo; outro destaque da campanha é o envolvimento de diversos movimentos de rua e estudantis além que qualquer um pode contribuir para a campanha a partir de dez reais.

Para entender um pouco mais como a campanha se reinventou e as estratégias usadas para combater as desinformações e como fazer uma campanha tão ativa numa situação pandêmica conversei com Thales Migilari, 25 anos que é coordenador da campanha pela juventude e faz parte da campanha de Guilherme Boulos e Luiza Erundina

 

 

 

 

Desde o começo vocês tiveram muita pouca verba, o como vocês decidiram onde iam focar? E como foi montada essa estratégia principalmente nas redes sociais?

As redes sociais do Guilherme Boulos já estavam entre as maiores dos representantes da esquerda em todo o Brasil. Com muita criatividade e uma linguagem acessível, direcionada a diferentes públicos de interesse, conseguimos crescer ainda mais. Tendo em vista a pouca verba, a comunicação foi um dos principais focos, tanto pela vigência da pandemia, quanto pela centralidade que ela adquiriu nas últimas eleições.

 

            Vocês estão produzindo diversos vídeos para suas redes sociais, qual foi o critério usado para as escolhas dos temas dos vídeos? desmentir as diversas fake News atribuídas ao Boulos é uma das prioridades da campanha?

A produção de conteúdo para as redes sociais é definida de acordo com as estratégias da campanha e atualizada semanalmente, para responder aos novos fatos políticos. O eixo norteador da campanha é a inversão de prioridades na cidade de São Paulo para colocar a periferia no centro e defender os interesses do povo. Com certeza a resposta às fake news são parte das prioridades por dois motivos: porque foi amplamente difundida pela extrema-direita, principalmente desde a eleição de 2018, e porque somos uma campanha anti-sistêmica, que enfrenta os privilégios da elite paulistana.

 

            Como surgiram algumas ideias da campanha como a música sobre o celta do Boulos? Alguma personalidade que está contribuindo para a campanha deu alguma sugestão para a campanha?

O carro celta do Boulos viralizou na campanha por ser o único patrimônio em seu nome declarado na campanha. Boulos tem origem na classe média, mas vive há muitos anos uma vida modesta na periferia da capital paulista, atuando ao lado do movimento de moradia. Nunca foi de seu interesse entrar na política para fazer carreira ou enriquecer, mas sim para transformar a vida das pessoas. A ideia da música vem daí. Existem muitas personalidades apoiando e contribuindo com a campanha. Caetano Veloso, inclusive, fará uma live em breve para arrecadar recursos nessa reta final.

 

Como se deu a estratégia para chegar em pessoas fora da bolha que vocês estão acostumados?

Nossa campanha é conhecida e tem a simpatia de todos aqueles identificados com a esquerda. É uma necessidade furar a bolha para chegar ao segundo turno. Começamos a campanha como uma das candidaturas menos conhecidas pelo eleitorado paulistano. A saída, além das redes sociais, foi intensificar a campanha nas ruas.

 

A falta de debates intensificou as ações de rua como o se vira no 50 e o na lata?

Com certeza. A falta de debates favorece os candidatos mais conhecidos, os que tem maior tempo de televisão e que controlam a máquina do estado. As ações de rua e o "na lata" foram saída para furar esse isolamento.

 

Nos últimos dias, uma foto viralizou mostrando um comício do Boulos cheio e muitas pessoas sem máscara. Como vocês estão lidando para controlar essas situações durante a pandemia? E o que acha que pode melhorar?

A pandemia atingiu em cheio o país e a capital paulista. Bolsonaro não queria sequer implementar uma política de renda solidária suficiente para aliviar os impactos na maioria da população. Covas priorizou a construção de hospitais de campanha na região central da cidade e não abriu qualquer debate sobre políticas de transferência de renda para os mais pobres. A capital paulista é uma das cidades com o maior número de vítimas em todo o mundo. A responsabilidade pela retomada da "normalidade" em meio à uma pandemia sem controle é principalmente daqueles que hoje estão nos governos. As pessoas que foram à atividade no Largo da Batata são aquelas que já retomaram seus trabalhos presenciais ou estão nas ruas fazendo campanha. Toda atividade de rua que realizamos busca respeitar as orientações sanitárias. Todas as pessoas usam máscara, estão com álcool gel e buscamos organizar o espaço para evitar problemas.

 

            A pandemia dificultou alguma ação de vocês como o panfletaço?

Somos a campanha com o maior volume de panfletagens. E isso acontece porque somos uma campanha-movimento, construída por pessoas que acreditam no projeto que estamos construindo. É completamente diferente das campanhas tradicionais que utilizam cabos eleitorais pagos sem qualquer afinidade ideológica ou política com as campanhas que os contratam. Infelizmente a pandemia ainda impede que muitas pessoas saiam de suas casas. Não temos dúvidas que em uma situação normal teríamos uma multiplicação das nossas iniciativas.

 

            Qual a maior dificuldade da campanha com a pouca verba que vocês têm?

A maior dificuldade é a ofensiva por parte das candidaturas tradicionais de direita, que se valem de muitas fake news contra uma campanha popular como a nossa. Não tivemos debates, temos apenas 17 segundos na televisão e pouquíssimos recursos.

 

            Além de desmentir as fake News sobre o Guilherme Boulos vocês estão usando para desmentir sobre o MTST, vocês sentem que conseguiram mudar a opinião de alguém?

A nossa campanha é construída principalmente nas ruas, "olho no olho". Temos mudado muitas opiniões e preconceitos que são amplamente difundidos pelos nossos adversários. A iniciativa do "na lata" é um exemplo, mas isso tem acontecido em inúmeras panfletagens, visitas aos bairros, entre outras iniciativas. O MTST é também um dos principais alvos das fake news. A direita e a elite utilizam aqueles que legitimamente lutam por um teto e condições dignas de existência para espalhar mentiras e medo. Fato é que o MTST nunca tomou a casa de ninguém O movimento atua em cima de propriedades que devem mais imposto do que o seu valor real e servem exclusivamente aos interesses da especulação imobiliária. A função social da propriedade está garantida pela Constituição Federal e deve ser utilizada para garantir melhores condições de vida a todos os paulistanos e brasileiros

 

O candidato do PSOL foi ao segundo turno contra Bruno Covas, do PSDB, que saiu vencedor e reassume no dia 1o. de janeiro de 2021.

 

 

 

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O prefeito Bruno Covas (PSDB) autorizou a volta as aulas presenciais no estado de São Paulo com redução no tempo de aulas e algumas especificações a serem atendidas. Os alunos que decidiram acatar retornaram na última terça-feira (3).
por
Beatriz Comoli Marques
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06/11/2020 - 12h

Crédito: instituto alfa e beto 

Em outubro o prefeito de São Paulo, Bruno Covas, autorizou o retorno das aulas presencias para os alunos do ensino infantil, fundamental e médio. As aulas começaram nessa última terça-feira (3) com algumas restrições a serem seguidas, nas salas de aulas é preciso ter um distanciamento de 1,5 metro entre os estudantes. A decisão de liberar ou não as aulas nas cidades do estado ficam ao critério das prefeituras.  

"Seguindo a recomendação da área da Saúde, a Prefeitura de São Paulo vai manter apenas as atividades extracurriculares para o ensino infantil e para o ensino fundamental e vai autorizar o retorno às aulas para o Ensino Médio a partir do dia 3 de novembro aqui na cidade. Lembrando que essa autorização para o retorno é para as três redes: a rede municipal, a rede estadual e a rede privada. Ela é voluntária para os pais, de acordo com a decisão já do Conselho Nacional de Educação, e ela deve seguir os protocolos sanitários já estabelecidos", afirmou o prefeito Bruno Covas (PSDB). 

Não é obrigatório os alunos retornarem as aulas presenciais nesse momento, fica ao critério dos responsáveis o retorno. Guilherme Galdino de Souza, aluno do ensino médio, conta que “Inicialmente tive muito medo, por mais que as medidas de segurança necessárias foram adotas (diminuição do número de alunos por sala, uso de máscara e álcool em gel, etc.), ainda continuei a depender do transporte público, onde era praticamente impossível manter o distanciamento social ideal para estar seguro para o não contágio. Atualmente o medo persiste, talvez ainda mais, pois as pessoas passaram a voltar ao seu ritmo normal e com isso os transportes se mostram cada vez mais lotados, significando uma maior exposição ao vírus.” 

Os ensinos infantil e fundamental retornam apenas com as atividades extracurriculares, o ensino regular ainda contínua de modo remoto. Os alunos do ensino médio retornaram no dia 3 desse mês com as suas aulas presenciais, uma prova será aplicada para avaliar o que esses alunos realmente aprenderam no período da pandemia. A partir disso serão definidas estratégias de reforço pedagógico. 

Em um balanço feito Apeosp, o Sindicato dos Professores das Escolas Públicas Estaduais, menos de 5% dos alunos compareceram nesse primeiro dia de aula. A insegurança ainda é grande entre a população, ainda mais agora que alguns lugares da Europa estão enfrentando a segunda onda do vírus. No Brasil em alguns estados os números de casos estão começando a diminuir, encontra partir em algumas partes o vírus ainda não diminui sua contaminação. 

Os professores autorizados a conceder as aulas são aquelas que já foram infectados pela covid-19, a partir de exames sorológicos será possível identificar quem já entrou em contado com o vírus, o que não significa que a pessoa esteja imune. 

"Queria anunciar também que no dia 19 de novembro, com base na segunda fase do censo sorológico e com a evolução da pandemia na cidade de São Paulo, nós teremos uma nova coletiva para anunciar o que acontece e o que fica autorizado na cidade de São Paulo em relação a área da educação a partir do dia 1º de dezembro", relatou o prefeito Bruno Covas. 

Em 9 meses de pandemia no país, o Brasil registra até o momento mais de 5,5 milhões de casos, 161 mil óbitos e 5 milhões de caos recuperados da covid-19.

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Obras em local simbólico para a cidade de São Paulo estão perto de serem finalizadas, concessão é o próximo passo
por
Gabriel Porphirio Brito e Rafaela Reis Serra
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11/09/2020 - 12h
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Vale do Anhangabaú em reforma; futuros quiosques à direita. Foto: Gabriel Porphirio Brito



Projeto elaborado em 2007, e que só seria recuperado na gestão do ex-prefeito Fernando Haddad, a reforma do Vale do Anhangabaú chega perto de ser finalizada no segundo semestre de 2020. Com investimento inicial de R$80 milhões, e sendo a maior obra do atual prefeito de São Paulo Bruno Covas, o plano é de entregar um terreno totalmente remodelado para a iniciativa privada, a fim de atrair novo público ao local.

Pedido há 13 anos pelo ITDP, o rascunho inicial da obra teve o arquiteto dinamarquês Jan Gehl como responsável. Mas, logo ficaria de lado, sendo doado a prefeitura em 2013, fazendo parte do Plano de Metas do então prefeito Fernando Haddad (PT).

As obras iniciadas por Bruno Covas (PSDB) em junho de 2019, orçadas atualmente em R$ 94 mi, tinham previsão para serem entregues um ano após seu início, custando R$14 milhões a menos. Já sem muito apreço popular, a obra atualmente está atrasada em três meses. Dentro dos planos da gestão atual a concessão para sua privatização já era pra ter ocorrido: tal feito já foi adiado duas vezes.

 

Tapumes vale do anhangabau
Parte da obra em finalização. Edifícios Martinelli e Altino Arantes aos fundos. Foto: Rafaela Reis Serra



Segundo Guido Otero, arquiteto e representante da IABsp (Instituto de Arquitetos do Brasil) na Comissão Executiva da Operação urbana centro, o poder público busca historicamente uma “reativação” do centro da cidade, sempre fazendo projetos culturais para área. “Existe uma vontade declarada da prefeitura de trazer um novo público para a região. O centro tem esse caráter popular que é interessante. Existe essa vontade por trás desses projetos de ter uma transformação no perfil social das pessoas que moram lá.”

Para uma parcela daqueles que acompanham o desenrolar das obras, o olhar é receoso, uma vez que parece ser inexplicável o alto valor gasto na reestruturação completa do vale. Pode-se perceber que todos param para contemplar o Vale. Fernando Júnior, o qual transitava todo dia pelo Viaduto do Chá, conta que para ele é uma obra inútil e a cidade precisa de outras prioridades.

O vereador Gilberto Natalini (sem partido), afirma que era possível ter usado pelo menos um terço do custo total: “Se fosse feito um projeto de revitalização efetiva - não de fazer um Anhangabaú novo, como foi feito - você poderia ter gasto um terço do dinheiro.”

A revitalização de Natalini consiste em, basicamente, uma reforma na estrutura já existente do local, preservando o antigo projeto de 1981 dos renomados urbanistas Jorge Wilheim, Jamil Kfouri e Rosa Grena Kliass. Sendo assim, não apagaria o anterior com uma reformulação complexa. “[...]Sou contra o esbanjamento de dinheiro que foi feito ali, o desrespeito aos arquitetos que fizeram a obra anterior, e a falta de transparência e participação popular no processo [de reforma]”.

Símbolo histórico

Localizado no coração da cidade de São Paulo como um ponto turístico e de manifestações das mais diversas vertentes, o Vale do Anhangabaú passa pela sua terceira grande reforma, mais uma vez com a justificativa de revitalização da área.

Após um período de descaso no século XIX, o rio Anhangabaú foi canalizado em 1910, transformando a região em uma avenida que liga Zona Norte à Zona Sul, o centro novo ao centro velho, à época. Porém, após concurso público em 1981, o Vale voltou às suas funções de origem: uma grande praça na qual pessoas poderiam caminhar livremente. Foi construída uma espécie de laje abaixo do Viaduto do Chá, que hoje está totalmente asfaltada, dando um aspecto árido para a região.

Local de cunho social, que sempre apelou pelo caráter coletivo, fora palco de uma das maiores manifestações já registradas em São Paulo, a das Diretas Já. Ademais, além de ser conhecido pelos protestos, costuma ser também área utilizada para grandes eventos culturais nos últimos anos, como a Virada Cultural e os aniversários da cidade de São Paulo.

Comoção popular

Parte das maiores críticas ao processo todo é devido a falta de verde no local, a pouca transparência e a quantidade de dinheiro investido em um projeto que não possuía tanta urgência. Luis Guerretta, Coordenador do Setor de Arquitetura e Urbanismo do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), afirma que existem dois problemas: “O primeiro se refere à falta de prioridade nos gastos públicos e o segundo se refere a política higienista adotada pela gestão Doria/Covas”.

Guerretta afirma que a região central da cidade tem inúmeros problemas sociais historicamente ignorados pelo poder público. “Revitalização significa dar nova vida a algo. Ao se referir a obra como um processo de revitalização, as gestões deixam implícito que a população que ali vive não tem valor algum e deve ser substituída por algo ‘novo’.[...] É uma intervenção a serviço da especulação imobiliária.”, completa.

Em nota oficial, a prefeitura explica que: As obras do Vale do Anhangabaú vão fortalecer o local como cartão-postal da cidade, qualificando suas conexões com o transporte público, espaços culturais e edifícios próximos, e transformando-o em um espaço mais convidativo e de permanência à população, com segurança, acessibilidade, lazer e zeladoria.”

A prefeitura também declara que foram plantadas mais árvores comparado ao projeto anterior: “Em sua forma final, o Anhangabaú contará com 532 árvores [...] E para qualificar ainda mais o microclima da região, a água tem papel fundamental no projeto, uma vez que 850 jatos d’água umidificam o ambiente.”, como uma maneira de homenagear o rio Anhangabaú, no qual foi canalizado.

Sobre a gestão do espaço, ele será concedido a título oneroso à iniciativa privada por dez anos com obrigações em contrato para a sua manutenção, preservação e ativação sociocultural. Em certos dias, porém, poderá usar o local para eventos privados, gerando controvérsias.

A concessão aconteceria logo após o término das obras, previsto para setembro. Foi adiada, porém, pelo menos duas vezes, sendo 13 de outubro a última data marcada para a abertura dos envelopes.

 

Quiosques vale do anhangabau
Futuros quiosques voltadas para o comércio. Foto: Gabriel Porphirio Brito

 

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Adaptações tecnológicas, para suprir demandas de sala de aula, evidenciam disparidades graves no sistema educacional do país
por
Maria Luiza de Oliveira e Marina Daquanno
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18/09/2020 - 12h

 

O Ensino a Distância (EAD) se tornou um meio para os estudantes continuarem tendo aula durante a pandemia do covid-19, que começou em março no Brasil. Muitos acreditam que essa tenha sido a solução mais viável, porém, com muitos problemas, ainda mais se for comparar entre as escolas públicas e privadas brasileiras, onde há tantas discrepâncias entre esses dois sistemas educacionais, como ressalta a professora Sandra Cantinelli, que ministra as aulas de artes e “projeto de vida” na Escola Estadual Paul Hugon, “Se antes (da pandemia) já não se tinha uma limpeza correta e uma boa infraestrutura, como vamos voltar às atividades, agora que precisamos aderir a tantas medidas de precaução, em uma escola que, se chove, temos que botar balde debaixo das goteiras? Não temos nem lixeiras suficientes.”

 

As aulas remotas evidenciaram as diferenças entre os ensinos. De um lado se tem toda uma estrutura de plataformas online e de professores preparados, do outro, existem alunos que não estão tendo aulas de matemática desde o início da quarentena. É o que conta a estudante do ensino médio Isabella Cantinelli de Castro Correia (16, E.E Paul Hugon): “Não tive aula de verdade, os professores mandam algumas atividades, às vezes eles fazem um plantão de dúvidas. Mas têm matérias que não estou tendo nada, como matemática.” Diferente do ensino particular, que houve uma organização da maioria das escolas para essa nova forma de ensino virtual, é o que afirma o professor de história do colégio e cursinho Objetivo, Artur Favaro Lucchesi (32). 

Fonte: E.E. Prof. Paul Hugon, Secretaria da Educação do Estado de São Paulo
E. E. Prof. Paul Hugon, Secretaria da Educação do Estado de São Paulo

 

Com aulas gravadas previamente pelos professores e depositadas numa plataforma virtual para os alunos, ou então com a grade horária mantida e aulas realizadas por meio de plataformas como o Microsoft Teams, as escolas particulares tiveram uma resposta pronta para a demanda de seus consumidores. Para uma demográfica que, em geral, possui acesso a computadores, celulares e internet em casa, o modelo virtual de ensino tem se mostrado eficaz diante dessa nova realidade. Contudo, tem exigido uma “autodisciplina e tem sido um novo método muito difícil para a maioria das pessoas. Requer um foco e uma concentração muito grande, tanto para alunos quanto professores, que tiveram que se reinventar", como relata o estudante Thiago Furtado Bravo (16, Colégio Objetivo).

 

Muito se tem discutido a respeito do impacto das aulas em EAD na vida dos jovens: prejuízos na convivência social, na aprendizagem, danos graves à saúde mental e nutricional dos alunos. Para Claudia Bernasconi, mãe de Caio (15) e André (13), tem sido uma constante luta mantê-los na rotina de estudos no conforto de casa, “Para que eles tenham disciplina para estudar eles tem que ir pra escola, estudar de casa não é a mesma coisa. Eles ficam muito dispersivos, precisam de alguém por perto para prender a atenção deles”. Atitudes como assistir às aulas de pijamas ou deitados na cama tem sido a realidade de muitos jovens do ensino fundamental e médio, seja por conforto ou por falta de um local apropriado para estudar.

 

Apesar das falhas que existem na nova forma de aprender, a adesão a volta às aulas presenciais são baixas, e com diversas críticas de alunos e professores. O Governo de São Paulo autorizou o retorno das atividades para um reforço presencial no dia 08 de setembro, porém somente 3,53% das escolas estaduais paulistas aderiram a essa medida. Para Favaro “não é seguro, não é correto (...), é um imediatismo da educação brasileira.  Você estará expondo a criança e o professor a uma doença.” Correia diz que a escola onde estuda não está preparada para qualquer retorno: “(...) não me sentiria segura. A escola nem tem papel higiênico direito, não tinha sabonete, eles não conseguiriam lidar.”

 

Contudo, a adesão dos alunos, à essas aulas de reforço, também foi baixa. De acordo com Bebel Noronha, presidente do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp), isso é apenas o reflexo da  “insegurança da população no que diz respeito à volta às aulas”. Tanto com os alunos e seus pais, quanto com os professores, o sentimento é o mesmo, “medo” descreve não só o que sentem por si e pela saúde dos que amam, mas também pelo que sentem por seus colegas e mestres. Na escola dos filhos de Claudia, foi feito uma enquete para saber se os pais voltariam com seus filhos para a escola, antes de uma vacina ser aprovada, “Apesar deles (a escola) terem feito um trabalho bacana para receber os alunos, contratando infectologista do Einstein e se preparando com todas as medidas de precaução, nossos filhos não voltarão. Não que eu não confie nas medidas tomadas, é só que eu não acho justo os funcionários terem que se submeter aos riscos de irem à escola só para concluir o ano letivo.”

 

Mesmo assim, o governo de São Paulo anunciou, dia 18 de setembro, o retorno das aulas presenciais do ensino fundamental da rede estadual a partir de 3 de novembro, ensino médio e EJA seguem liberadas a partir do dia 7 de outubro. As escolas que quiserem aderir tanto em outubro quanto em novembro — e tiverem autorização das respectivas prefeituras — devem apresentar um plano de adaptação à Secretaria da Educação e às Diretorias Regionais de Ensino, com limite máximo de alunos e respeito a protocolos sanitários.

 

Fonte foto de capa: <a href='https://br.freepik.com/fotos/escola'>Escola foto criado por freepik - br.freepik.com</a>

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A pandemia tem se mostrado eficaz em expor a fragilidade das pessoas, mas pouco é explanado sobre a cenário de pessoas em situação de rua
por
Eduardo Rocha
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06/09/2020 - 12h

Em um clima de descontração, com música, pessoas alegres e vontade de fazer o bem, é realizada a entrega de mantimentos na tenda franciscana, no largo São Francisco, no centro de São Paulo.

Segundo o frei João Paulo Gabriel, coordenador da Tenda Franciscana, é visível que o perfil dessas pessoas mudou e muito, desde 27 de maio, quando se fez necessário montar a tenda. Acompanhando a entrega de marmitas, pães e garrafas de água mineral, é possível ver a extensão da fila formada e é nítido e até chocante ver as pessoas que a enfrentaram embaixo do sol escaldante. Muitas são visivelmente dependentes de drogas e álcool e outras tantas enfrentam essa fila, simplesmente por não terem como se alimentar. Famílias inteiras, entregadores de comida por aplicativo com suas bicicletas, que sentem o cheiro do que iram entregar, mas não tem o que comer. Uma verdadeira pluralidade de pessoas em diversas condições, mas que tem a fome como mal comum.

 “O SEFRAS (Serviço Franciscano de Solidariedade) a 20 anos atende pessoas em situação de rua, mas isso sempre foi realizado com o que ficou popularmente conhecido como ‘Chá do Padre’, que é um centro de acolhida, escuta e partilha na cidade de São Paulo. Nesse centro, além da entrega de mantimentos, são realizados atendimentos psicológicos, auxílio a encaminhamento a trabalho entre outros, mas com o aumento da procura pelos serviços e por atendermos em um espaço pequeno, fez-se necessário a criação emergencial da tenda” – nos relata Frei João Paulo.

A tenda que foi idealizada, montada e é mantida pelos freis e voluntários e que se encontra disposta na calçada, em frente ao prédio histórico da faculdade de direito da USP, não teve qualquer financiamento da prefeitura ou do governo do estado. “Entramos com uma solicitação, junto a prefeitura, para que nos cedessem um espaço para a montagem da tenda e apenas nos foi liberado o uso da calçada. Já houve caso de um rapaz sofrer um ataque epilético enquanto aguardava sua vez na fila e nos o acolhemos e chamamos o SAMU (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência), mas não foi nos dado atenção quando foi dito que se tratava de uma pessoas em situação de rua. Apenas depois de duas horas, após uma viatura da polícia militar, que estava passando, e foi cercada pelas pessoas que estavam na fila, ter chamado o serviço de urgência” – diz.

Outro dado importante citado pelo frei João Paulo é a falta de transparecia quanto ao número de vítimas entre essas pessoas, seja por frio, fome, suicídio, assassinato, ou agora, causadas pela COVID. Estando na linha de frente do atendimento e na acolhida que também é feita conversando, ouvindo, costumam saber, pelos próprios ajudados, sobre casos ocorridos.

São distribuídas, de domingo a domingo, uma média de 1200 refeições, no almoço e no jantar. Para atender essa demanda, 600 refeições são feitas em cozinhas da própria igreja, sendo elas instaladas na sede do SEFRAS no bairro do Pari e a outra na região do Bixiga. Todo o mantimento vem de doação. As demais refeições são feitas e montadas por voluntários.

“A tenda foi criada com intuito de atender mais e melhor, mas acabou nos dando mais visibilidade. Dessa forma, muitos que tem o coração generoso, que já realizavam a partilha, mas tiveram que para, por medo do vírus, passou a nos procurar, através do site (http://doesefras.org.br/) para fazer usas doações.  E como tivemos um aumento expressivo da população em situação de rua no entorno, foi instalado, pela prefeitura, do outro lado da rua, um sistema de higienização, onde estes podem tomar banho e lavar suas roupas. Não sabemos dizer se isso já estava nos planos da prefeitura, ou se causamos essa iniciativa indiretamente, mas somos gratos por mais essa ação”.

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