por
Rafael Pessoa
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29/10/2025 - 12h
Charge dO presidente Donald Trump desejando feliz aniversario a Lula enquanto dois balões, representando Eduardo Bolsonaro e Jair Bolsonaro reagem a cena

 

Coletivos estudantis, sindicatos e civis se organizam para impedir que o projeto de lei avance
por
Iasmim Silva
Maria Luiza Reining
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23/10/2025 - 12h

No dia 21 de setembro, as principais capitais do país amanheceram tomadas por cartazes, faixas e gritos de protesto. Em São Paulo, Brasília, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e outras cidades, milhares de pessoas se reúnem contra a chamada PEC da Blindagem, proposta de emenda constitucional que restringe investigações e punições a parlamentares, exigindo autorização prévia das Casas Legislativas para o avanço de ações penais. A medida, vista como um retrocesso por juristas e movimentos civis, é o estopim de uma mobilização que, embora diversa, encontra na defesa da transparência um ponto em comum.

Na Avenida Paulista, o asfalto volta a se transformar em um grande espaço de convergência política. Bastam alguns minutos observando a saída da estação Trianon-Masp para visualizar que ali estavam diversos grupos reunidos, como estudantes, professores, aposentados, artistas, advogados, sindicalistas e civis misturados entre bandeiras coloridas e faixas com dizeres diretos: “Quem é inocente pede justiça, não anistia” e “A justiça é igual para todos, PEC da Blindagem não”. Entre os rostos pintados e cartazes improvisados, a foto do presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta, estampa o rótulo de “inimigo do povo”.

O clima é de cansaço e indignação, não apenas com o texto da PEC, mas com a percepção de que a proposta amplia privilégios e dificulta a responsabilização de agentes públicos. Luiz Biella Jr., advogado de 63 anos, e Andrea Amaral Biella, educadora museal de 53, participam do ato e afirmam que vieram por indignação com o projeto. “Outras pautas horrorosas até vinham passando, mas essa é o limite. É preciso dar um grito para ver se sensibiliza os deputados. Na próxima eleição, é fundamental lembrar disso. Esse retrocesso é horroroso”, dizem.

Homem de vermelho
Manifestante em frente ao MASP. Foto: Iasmim Silva/AGEMT.

Grupos de jovens ligados a coletivos estudantis distribuem panfletos que explicam os impactos da proposta. Se aprovada, a PEC impediria que investigações contra deputados e senadores avançarem sem autorização das próprias Casas Legislativas, o que, segundo especialistas, criaria uma barreira de proteção política e dificulta o combate à corrupção.

O protesto começou de forma pacífica por volta das 14 horas e ganhou corpo ao longo da tarde. Ao som de tambores e palavras de ordem, a manifestação ocupava a Avenida Paulista em direção ao MASP. Organizações civis estimam cerca de 80 mil participantes, número contestado pela Secretaria de Segurança Pública, que aponta 35 mil. Em Brasília, a concentração foi na Esplanada dos Ministérios, com presença de sindicatos e entidades de classe.

Entre os manifestantes, o designer gráfico Érico Prado Martins, de 49 anos, diz que o protesto representa uma resposta da população. “É uma forma de se revoltar contra um sistema que engana o povo. Colocam PECs e projetos de anistia enquanto ignoram o que realmente importa. Se a gente não protesta, eles passam tudo por cima da gente”, afirmou.

Nas redes sociais, hashtags como #PECdaVergonha e #TransparênciaJá alcançaram o topo dos assuntos mais comentados no X (antigo Twitter). O Monitor de Debate Político, grupo de pesquisa da USP, registrou picos de interação durante a manhã e o início da tarde, indicando grande engajamento digital em torno da pauta. A pesquisadora do Monitor, Roberta Lima, avalia que o movimento demonstra um interesse crescente de jovens em temas ligados à ética e à responsabilidade política. Segundo ela, “o engajamento aconteceu tanto de forma presencial quanto digital, refletindo uma disposição em participar do debate público e acompanhar de perto as decisões que afetam o funcionamento das instituições”.

A manifestação ocorre em um contexto de instabilidade política, impulsionado por disputas internas no Congresso e pelo debate sobre o projeto de anistia aos condenados pelos ataques de 8 de janeiro. A repórter Ana Clara Costa, apresentadora do podcast Foro de Teresina da revista piauí, especializada em cobertura política de esquerda, aponta que a PEC da Blindagem surgiu como parte de uma negociação entre o PL e o Centrão para garantir proteção parlamentar e apoio à proposta de anistia de Jair Bolsonaro. Segundo Ana, a PEC não é apenas uma tentativa de autoproteção política, mas parte de um jogo de chantagens e barganhas que expõe a fragilidade ética do Congresso.

Grupo de alunos da USP com cartazes de protesto
Alunos do curso de Gestão de Políticas Públicas da USP. Foto: Maria Luiz Reining/AGEMT.

Cartazes e discursos também faziam referência à anistia, com críticas à tentativa de flexibilizar punições e proteger figuras públicas. Em várias capitais, manifestantes exibiam faixas com os dizeres “Blindagem é impunidade disfarçada” e “Anistia é o nome novo do perdão seletivo”.

Embora não tenha alcançado o tamanho de protestos anteriores, como os de 2013, o ato do dia 21 é considerado expressivo por entidades civis. A mobilização nacional pressiona o Congresso a rever o texto da proposta e reforça o debate sobre a necessidade de garantir mecanismos de fiscalização e responsabilização no exercício de mandatos parlamentares.

Projeto transforma pugilismo em ferramenta anti-opressão e oportunidade de profissionalização para jovens de periferias
por
Sophia Coccetrone
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23/10/2025 - 12h

Boxe Autônomo é um coletivo fundado na capital paulistas em 2015 por Breno Macedo, treinador do projeto e Mestre em História pela USP juntamente com Raphael Piva, instrutor do projeto e Mestre em Antropologia Social pela USP, que também esteve presente no time de futebol amador Autônomos F.C., clube de viés libertário fundado por jovens punks em 2006. É um projeto social e esportivo que busca a utilidade do boxe para autodefesa de grupos oprimidos (mulheres, LGBTs, negros, imigrantes...) ao mesmo tempo que constrói carreiras promissoras para jovens atletas que buscam uma vida melhor de suas famílias através do esporte. O projeto conta com a coordenação e treinamento por Michel de Paula Soares, conhecido como "Micha". O treinador possui doutorado em Antropologia Social pela USP e busca relacionar o boxe como um fenômeno social no Brasil, marginalizado e muitas vezes considerado "luta de cadeia".

Inicialmente, o projeto utilizou a Ocupação Leila Khaled – onde vivem diversos refugiados de guerras originários da Síria e Palestina – para seus treinos, posteriormente, passou pela Favela do Moinho e outros espaços para a divulgação e sustentação do coletivo. Dessa forma, Boxe Autônomo conseguiu criar sua comunidade em São Paulo, atingindo camadas sociais mais necessitadas. Um exemplo é o jovem baiano Kelvy Alecrim, de 19 anos, que conheceu o boxe através das atuações na Favela do Moinho, onde o atleta reside. Kelvy atingiu o tricampeonato brasileiro (2019, 2021, 2023), atuou em Jogos Escolares na França (2022) e conquistou a medalha de bronze na Copa Mundial Juvenil em Montenegro (2023). Segundo ele, nunca havia pensado em praticar a arte marcial antes do contato com o projeto, e a democratização do esporte através dos treinos em comunidades e ocupações o fortaleceu para seguir sua carreira. 

Atualmente, os treinos do Boxe Autônomo acontecem na Casa do Povo, localizada no Bom Retiro, região central de São Paulo, contando com eventos de treinos abertos, almoços coletivos, palestras e atividades artísticas, sempre reforçando seu caráter político-cultural, um dos pilares do coletivo. É importante lembrar que estamos falando de uma área esportiva dominada pelo pensamento conservador e reacionário, principalmente popularizado por grandes estrelas como José Aldo, Rodrigo Minotauro, Wanderlei Silva, Fabrício Werdum e outros nomes do MMA apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro e seus aliados.

Caio César, aluno do Boxe Autônomo e ativista político, diz: “As lutas não podem ficar somente nas mãos daqueles que desejam oprimir (...) Não é inteligente pensar em uma esquerda pacífica e reativa, enquanto nós estamos sem nos proteger, há sempre um extremista de direita que está usando a violência livremente. (...) É claro, não podemos utilizar as artes marciais ou qualquer meio de defesa para causar o mal, mas não podemos ficar parados. É essencial manter as armas e as lutas nas mãos de pessoas inteligentes e preparadas, pois já há gente ignorante e conservadora demais com esses poderes nas mãos.” 

Caio, aluno do Boxe Autônomo, utilizando seu colar com pingente em formato do território Palestino: "A gente se posiciona até nos mínimos detalhes."
Caio César, aluno do Boxe Autônomo, utilizando seu colar com pingente em formato do território Palestino: "A gente se posiciona até nos mínimos detalhes." Foto: Sophia Coccetrone/AGEMT 

Entre as principais bandeiras do Boxe Autônomo estão: o antifascismo, como o principal pilar e estrutura do pensamento dos atletas e ativistas, anti-imperialismo, com forte solidariedade à pauta palestina e a denúncia ao genocídio na Faixa de Gaza, antirracismo, antimisoginia, com ênfase ao combate ao preconceito sobre os esportes de combate femininos e a exaltação da autodefesa da mulher contra potenciais agressores e apoio aos movimentos dos Sem Terra e Sem Teto. Inclusive, o coletivo é parceiro do Boxe Sem Teto e Centro Social e Desportivo Estrela Vermelha, movimentos que também abraçam a pauta do anti-reacionarismo e a luta combativa em meio às artes marciais.

O grupo de alunos é diverso, contando com todas as faixas etárias e origens ou nacionalidades. Durante o treinamento aberto, um aluno holandês se comunicava com os brasileiros a partir de seu amor pelo boxe e seu esforçado português. Ele conta que começou a prática das artes marciais pelo Kickboxing na Holanda, e que sua namorada brasileira o apresentou ao Boxe Autônomo. Durante o treino, ostentava seu apoio solidário à população palestina, através de sua camisa de treino. 

Aluno holandês utilizando camisa do Palestino, clube de futebol chileno fundado por imigrantes palestinos. Foto: Sophia Coccetrone/AGEMT
Aluno holandês utilizando camisa do Palestino, clube de futebol chileno fundado por imigrantes palestinos. Foto: Sophia Coccetrone/AGEMT

 

Os treinos do Boxe Autônomo estão disponíveis de segunda à quinta-feira das 18h30 às 19h e aos sábados às 10h30. Os atletas colaboram com um valor fixo mensal, mas para os mais necessitados é ofertado bolsas. 

A manifestação em solidariedade ao povo palestino pedia o fim imediato dos ataques em Gaza
por
Maria Julia Malagutti
Isabelle Muniz
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23/10/2025 - 12h

A Avenida Paulista foi ocupada por uma manifestação em apoio à Palestina no dia 5 de outubro, reunindo milhares de pessoas ao longo da tarde. A concentração começou em frente ao Masp, com a chegada de grupos de diferentes idades e origens, levando bandeiras, faixas e cartazes. Estudantes, representantes de coletivos, movimentos sociais, sindicatos e pessoas sem vínculo com organizações específicas se espalharam pela avenida, que teve uma de suas faixas ocupada durante boa parte do ato. O tom predominante era de indignação diante da situação em Gaza e da escalada da violência no território palestino. Muitos cartazes traziam mensagens de solidariedade e pedidos de cessar-fogo, enquanto outros faziam referência ao histórico do conflito e defendiam o fim de acordos militares com Israel.

As falas feitas em carros de som destacaram a necessidade de pressionar governos e instituições internacionais por uma resposta mais consistente. Também houve espaço para manifestações culturais, como apresentações musicais e leitura de nomes e relatos de vítimas palestinas. A presença de integrantes da comunidade árabe-brasileira foi expressiva, com famílias inteiras participando e levando símbolos, lenços e bandeiras. “Acho que chegou um ponto em que ficar em silêncio já não é opção, estamos aqui pra pedir um cessar-fogo imediato! Por trás dos números, existem vidas, famílias, crianças, pessoas comuns tentando sobreviver.” afirma manifestante, não quis ser identificado.

A manifestação ocorreu em um contexto internacional marcado por denúncias de violações de direitos humanos e preocupação com a crise humanitária na Faixa de Gaza. Relatórios de agências internacionais vêm indicando aumento no número de mortos civis, incluindo crianças, além da destruição de casas e de infraestrutura básica. Esses dados foram citados pelos organizadores nos discursos ao longo do trajeto, reforçando a ideia de que mobilizações em outros países podem contribuir para dar visibilidade ao tema e pressionar diplomaticamente. Entre os participantes, também houve críticas ao posicionamento de países ocidentais e ao que consideram uma cobertura desequilibrada da mídia internacional.

Durante o percurso, diversos cartazes foram erguidos em frente a prédios simbólicos da Avenida Paulista, incluindo a região próxima à Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). Algumas faixas abordavam a relação entre interesses econômicos e políticas internacionais, com pedidos para que instituições brasileiras revisem contratos e parcerias ligados a setores que atuam na produção e comércio de armas. As mensagens variavam em tom e conteúdo, já que o ato não tinha um documento unificado de reivindicações.

Bandeira Ato Pro Palestina
Manifestante segurando bandeira da Palestina. Foto: Sophia Coccetrone/ AGEMT

A manifestação ocorreu de forma pacífica. A presença policial foi discreta, e não houve registros de confrontos ou tumultos. Coletivos jurídicos e equipes de saúde voluntárias acompanharam o trajeto. O deslocamento aconteceu de maneira gradual, e alguns grupos se retiraram antes do encerramento oficial. Em determinados momentos, o trânsito precisou ser parcialmente desviado, mas sem bloqueio total da avenida.

Em entrevista para a Agemt, Eduardo Viveiros, cientista político, pesquisador do Mediatel (Mediações Telemáticas) e egresso do Neamp (Núcleo de Estudos em Arte, Mídia e Política), relatou que as manifestações em apoio à palestina acontecem em diferentes lugares do mundo e são marcadas por grupos progressistas de esquerda, ele afirma que o impacto desses protestos varia de acordo com o alinhamento político e grau de democracia de cada país. “O impacto pode ser maior em estados democráticos, governados por forças progressistas ou de esquerda”.

O especialista também classificou a mobilização como humanitária e política. “Posicionar-se contra um genocídio, limpeza étnica ou uma invasão de um país mais forte contra um mais fraco já implica um alinhamento político”, afirma. Para ele, o papel da sociedade é atuar politicamente, pressionando governos e instituições.

A discussão sobre a cobertura midiática do conflito também esteve presente. Participantes criticaram o que entendem como uma abordagem limitada por parte de grandes veículos de comunicação, com pouca ênfase no impacto humanitário dos ataques. Alguns defenderam o fortalecimento de mídias alternativas, coletivos de comunicação e jornalistas independentes como forma de ampliar o acesso a informações e versões pouco exploradas pelos meios tradicionais. Também houve quem ressaltasse o papel das redes sociais na organização do ato e na circulação de dados, imagens e relatos.

Representantes de movimentos sociais brasileiros aproveitaram o ato para relacionar a pauta palestina a outras lutas locais, como a defesa dos povos indígenas, a denúncia da violência policial e o combate ao racismo estrutural. Essas conexões foram usadas para reforçar o caráter internacionalista das mobilizações e para afirmar que denúncias de violações de direitos humanos não se limitam a fronteiras específicas.

No fim da tarde, os últimos grupos começaram a se dispersar sem registros de incidentes. Mesmo sem um documento final ou manifesto único, os participantes apontaram a possibilidade de novos atos caso a situação no Oriente Médio continue a se agravar.

 

 

Especialistas e organizações de direitos humanos alertam para o aumento de mortes de crianças e adolescentes após mudanças na política de monitoramento da PM
por
Khadijah Calil
Larissa Pereira
Thomas Fernandez
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23/10/2025 - 12h

A reversão na política de uso das câmeras operacionais portáteis (COPs) nos uniformes da Polícia Militar de São Paulo e o aumento da violência letal contra crianças e adolescentes foram pauta nesta segunda-feira (6), na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp). Organizada pela deputada estadual Marina Helou (Rede), a mesa de debate reuniu representantes do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), da Defensoria Pública e do Instituto Sou da Paz, em um momento em que o estado registra um crescimento alarmante das mortes provocadas por agentes de segurança pública.

De acordo com relatório elaborado pelo Unicef e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, as mortes por intervenção policial em São Paulo aumentaram 120% em 2024. O levantamento mostra que, entre 2020 e 2022, as câmeras corporais haviam contribuído para uma redução de cerca de 60% na letalidade policial. Sendo considerada referência internacional na prevenção de abusos, a política de monitoramento, implementada em gestões anteriores, sofreu mudanças nas diretrizes e a suspensão parcial do uso dos equipamentos durante o atual governo, entretanto, acenderam um alerta entre especialistas e organizações da sociedade civil.

Durante a roda de conversa, a deputada Marina Helou, defendeu que o cenário representa um retrocesso institucional em um momento em que o país deveria avançar na proteção à vida. “Vivemos em um estado em que todos têm uma maior sensação de insegurança, com aumento nos índices de criminalidade e de mortes, inclusive mortes provocadas pela nossa própria polícia e pelo Estado. São mortes institucionais e, entre elas, o aumento de mortes de crianças e adolescentes”, afirmou. A parlamentar cobrou ainda do governo estadual a regulamentação da Lei nº 17.652 de 2023, que cria a Política Estadual de Prevenção à Violência Letal contra Crianças e Adolescentes. Segundo ela, a norma segue sem regulamentação, sem implementação, sem orçamento e sem garantia de que se torne uma política efetiva de proteção à vida. “É fundamental que, como sociedade e como Assembleia, cobremos o governador Tarcísio, porque ele mesmo disse, em eventos públicos, que estava convencido da importância das câmeras corporais. Rever uma política pública tão importante quanto essa é escolher entre a omissão e a prática dos direitos humanos”, completou.

A chefe do escritório do Unicef em São Paulo, Adriana Alvarenga, chamou a atenção para a desigualdade racial nas estatísticas e para o impacto do racismo estrutural na letalidade policial. “A maior parte das vítimas são meninos negros, moradores das periferias. É para eles que precisamos olhar com atenção, reconhecendo que essa situação é também resultado do racismo estrutural presente na nossa sociedade”, afirmou. Segundo os dados do relatório, crianças e adolescentes negros, de 0 a 19 anos, têm 3,7 vezes mais chances de morrer em intervenções policiais do que jovens brancos. Para Adriana, a solução passa também pela formação e pelo acompanhamento dos profissionais de segurança. “É muito importante que o Estatuto da Criança e do Adolescente faça parte não apenas da formação inicial, mas da formação continuada dos policiais, porque à medida que eles se relacionam com diferentes comunidades, precisam se adaptar e aprender constantemente. Outro ponto essencial é o cuidado com a saúde mental dos policiais, que influencia diretamente o tipo de abordagem feita a crianças e adolescentes”, acrescentou.

Em entrevista a AGEMT, a diretora executiva do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Samira Bueno, reforçou a importância da sociedade civil no processo de formulação e acompanhamento das políticas de segurança. Segundo ela, o enfraquecimento do programa de câmeras corporais representa o resultado de uma política que vinha apresentando resultados positivos. “Estamos aqui debatendo o resultado de um retrocesso — de uma política que vinha dando certo. O desafio é fazer com que o que o policial aprende na sala de aula seja colocado em prática nas ruas. Muitas vezes, quando ele chega ao campo, ouve: ‘Agora sim, você é um policial de verdade’, como se o que aprendeu antes não valesse”, afirmou. Para Bueno, a dificuldade em conciliar a formação técnica com a prática cotidiana reflete um problema que ultrapassa o caso paulista. “Isso não diz respeito apenas ao ECA, mas também às questões raciais e à defesa dos direitos humanos de forma mais ampla. O problema das polícias não é só o da polícia de São Paulo — é um problema nacional”, completou.

Como um dos obstáculos para a mudança, a defensora pública Fernanda Balera destacou a falta de responsabilização de agentes de segurança em casos de violência letal e apontou a tolerância social com esse tipo de prática. “É muito raro que haja denúncias. Quando há, os processos terminam, em sua maioria, com absolvição, sempre tratando o argumento de legítima defesa do policial como verdade absoluta”, declarou. Além do acesso às imagens, Fernanda diz que é necessária uma mudança estrutural na cultura institucional do sistema de justiça e das forças policiais. “As imagens são fundamentais e devem estar à disposição de todas as instituições, mas é preciso também transformar a cultura que naturaliza a violência”, completou.

 

RODA DE CONVERSA PROMOVIDA PELA ALESP SOBRE AS CÂMERAS CORPORAIS USADAS PELA POLICIA DE SÃO PAULO
Roda de conversa na ALESP reuniu especialistas para debater o uso de câmeras corporais pela polícia de São Paulo.
Foto/Reprodução: Barbara Novaes/Alesp

Os dados apresentados pelas instituições reforçam a gravidade do cenário na segurança pública. Entre 2022 e 2024, o número de pessoas mortas por policiais militares em serviço cresceu de 256 para 716, um aumento expressivo após a revisão do programa de câmeras corporais. Em 2025, 496 pessoas foram mortas pelas forças de segurança do estado, sendo 61,3% delas negras. Na capital, foram registradas 156 mortes, 73,4% de vítimas negras. As mortes cometidas por policiais em folga aumentaram 10% em relação a 2024, e as mortes de pessoas negras cresceram 32,3% durante a gestão do governador Tarcísio de Freitas.

O relatório também indica que as interações policiais ficaram mais violentas: em 2022, a cada mil prisões e apreensões em flagrante, 2,3 pessoas morreram em ações de policiais em serviço; em 2024, esse número subiu para 5,3. Além disso, o levantamento aponta que os policiais militares também estão morrendo mais — o que evidencia um cenário de aumento da letalidade em ambos os lados da relação entre Estado e sociedade.

Para a AGEMT, a socióloga e diretora do Instituto Sou da Paz, Carolina Ricardo destacou que as câmeras corporais não devem ser vistas apenas como um instrumento de controle, mas também como uma ferramenta de aprimoramento da atuação policial, já que amplia as motivações de implementação da política de monitoramento. “Não é sobre escolher um lado, as câmeras também protegem a vida e o trabalho dos policiais”, afirmou.

As instituições responsáveis pelo estudo concluíram que os programas de uso de câmeras corporais devem ser acompanhados por avaliações independentes e políticas efetivas de controle do uso da força. “Não basta adquirir a tecnologia. É preciso compromisso político, transparência e fortalecimento das estruturas de controle interno e externo das polícias”, destaca o documento. O debate na Alesp reforçou que, diante do aumento da letalidade policial e da ausência de políticas consolidadas de prevenção, a retomada e o aprimoramento do programa de câmeras corporais se tornam não apenas uma medida de transparência, mas uma necessidade urgente para a proteção da vida de crianças, adolescentes e de toda a população paulista.

 

Alunos da PUC-SP discutem como discursos remodelados da extrema-direita conquistam parte da juventude e ressuscitam preconceitos históricos sob nova roupagem.
por
Maria Julia Malagutti
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10/04/2025 - 12h

 

O crescimento da extrema-direita em diversos países, incluindo o Brasil, tem sido acompanhado por uma estratégia de mobilização focada também em um público específico: os jovens. A extrema-direita contemporânea não se baseia apenas em partidos e lideranças políticas tradicionais, utilizando plataformas como X, TikTok e Instagram para espalhar sua ideologia, além de se adaptar a novas tecnologias e criar uma estética que ressoa com o público jovem: memes, vídeos curtos e discursos polarizados que prometem soluções simples para problemas complexos. Utilizando redes sociais, influenciadores digitais e um discurso voltado para a insatisfação com a política tradicional, o movimento tem conseguido atrair uma nova geração de apoiadores.

Na última quinta-feira (27/03), a jornalista e pesquisadora Andrea Dip ministrou uma aula magna sobre a cobertura da extrema-direita no Brasil, abordando suas estratégias de comunicação e sua experiência em congressos de direita. A jornalista destacou como a extrema-direita tem se adaptado rapidamente às novas plataformas, explorando o engajamento emocional. Segundo Andrea Dip, que estuda a ascensão da extrema-direita no mundo, o movimento se fortaleceu ao dominar o ecossistema digital. “A extrema-direita compreendeu o funcionamento dos algoritmos e explorou o engajamento emocional dos jovens, criando narrativas que geram indignação e senso de comunidade”, explicou a jornalista.

Durante a aula, foram discutidos casos emblemáticos do Brasil e do exterior, nos quais partidos e líderes políticos utilizaram essas táticas para mobilizar a juventude. O evento também abriu espaço para um debate entre os alunos, que refletiram sobre o papel do jornalismo na cobertura desse fenômeno e os desafios para combater a desinformação sem reforçar discursos extremistas. Andrea Dip ressaltou a importância de compreender os métodos da extrema-direita para desenvolver estratégias eficazes de enfrentamento. “O jornalismo precisa estar atento às novas formas de comunicação política. Se não entendermos como essas narrativas são construídas e disseminadas, ficamos um passo atrás na disputa pela informação”, concluiu.

A pesquisadora também apontou que a extrema-direita construiu uma identidade visual e discursiva capaz de dialogar diretamente com a juventude, apropriando-se de memes, jargões e símbolos populares na internet. Além disso, o uso de narrativas de conflito, como a suposta “ameaça comunista” ou a “censura da mídia tradicional”, fortalece a lealdade desses jovens ao movimento, gerando discursos eugenistas, misóginos, homofóbicos e xenofóbicos. O discurso da “guerra cultural” — que denuncia supostas ameaças da esquerda à liberdade de expressão, à família e aos valores tradicionais — é também um dos principais atrativos. Portanto, a disseminação de notícias falsas decorrentes da manipulação em massa entre jovens e jovens adultos atrai figuras influentes desse espectro político, que se apresentam como alternativas aos veículos de mídia tradicionais, criticando o jornalismo convencional e incentivando um consumo seletivo de informações. Isso ficou evidente em uma postagem na rede social X, onde Nikolas Ferreira disse: "O golpe 'armado' que não teve arma", referindo-se ao Golpe de Estado de 2022, que resultou na inelegibilidade do ex-presidente Jair Bolsonaro.

 

Greve Brasília.
Divulgação/Agência Brasil.
Manifestantes invadindo o Congresso nacional no dia 8 de janeiro de 2023. 

Andrea Dip revela não apenas os bastidores da extrema direita, mas também as estratégias usadas para capturar as emoções dos mais jovens, especialmente diante de um cenário em que discursos ultraconservadores ganham espaço sob disfarce de liberdade e tradição. 

 

Jornalista Andrea Dip encontra alunos da PUC-SP para uma reflexão sobre a extrema direita e a geração de adolescentes e jovens adultos que passaram a simpatizar com a onda conservadora
por
Isabelle Muniz
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10/04/2025 - 12h

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      O fato de a extrema direita estar em constante crescimento entre a geração mais jovem não é novidade para quem minimamente se interessa por política. Andrea Dip, repórter investigativa independente, conta suas experiências infiltrada em congressos da direita, compostos pela bancada evangélica, fundamentalistas cristãos e conservadores. A repórter menciona que essas figuras de poder se reúnem, em média, mensalmente, para debater sobre discursos nacionalistas, eugenistas, xenófobos e homofóbicos. O questionamento a se fazer é: o que atrai o público jovem e de que maneira esse discurso se infiltra nas raízes da nova geração?

      A jornalista informa, sobre a aproximação dos jovens com o discurso radical, que “a extrema direita está sabendo capitalizar e instrumentalizar, sabe usar muito melhor as redes sociais, sabe dar respostas fáceis e utiliza uma visão idealizada do passado para propor o futuro”. Tendo em vista tal afirmação, faz-se necessário realizar uma reflexão sobre a atual situação social. Figuras como o deputado federal Nikolas Ferreira e o ex-presidente da República, atualmente inelegível, Jair Messias Bolsonaro, utilizam suas redes sociais como ferramentas para conquistar cidadãos jovens que são amplamente engajados nas comunidades virtuais. No último domingo (30/04), Nikolas ridicularizou o deputado federal André Janones, apoiador da presidência de Luiz Inácio Lula da Silva, por meio de uma comparação física entre André e um personagem de desenho animado, gerando grande repercussão e viralizando entre adolescentes e jovens adultos.

Nikolas Ferreira tirando sarro de deputado em sua rede social X
Nikolas Ferreira ridicularizando deputado em rede social. Fonte: X.

       As piadas aparentemente inocentes são intencionais para fisgar jovens pouco informados politicamente, que veem figuras políticas que, através de um estereótipo, tendem a apresentar alto nível de seriedade, transformando pautas sérias em diversão. Tal metodologia de abordagem ideológica tem dado resultados, visto o crescimento de discursos conservadores e repetitivos entre adolescentes, raramente embasados. Associar a extrema direita com a ideia de rebeldia vem se tornando uma realidade entre estudantes. Na década de 80/90, ser rebelde era sinônimo de oposição ao sistema, à direita e ao conservadorismo. Discursos neonazistas e neofascistas, também resultado da idealização de um passado distorcido e da ausência de manutenção da memória coletiva da sociedade, têm se tornado cada vez mais comuns. Jovens frustrados, com receio de rejeição e com vontade de se “oporem” a um sistema que é, na visão apresentada para eles em redes sociais como visto acima, de esquerda, têm uma tendência maior a adotar discursos semelhantes aos de regimes totalitários e nacionalistas. A repórter afirma que ser jovem deixou de ser um ato revolucionário; com a era moderna, a esquerda deixou de ler a direita, e a direita segue interpretando e se inserindo na sociedade mundialmente.

      Nos Estados Unidos, o atual presidente, Donald Trump, apresenta respostas simples para problemas complexos, e seus discursos transfóbicos e eugenistas atraem a nova geração. Desde seu primeiro mandato, a higienização social resultante do descaso de povos marginalizados no país norte-americano é o pilar de seu discurso. Agora, com a renovação de seu cargo, a expulsão de brasileiros e o decreto que decide o banimento de mulheres transgênero de práticas esportivas foram amplamente apoiados pelo público estadunidense e majoritariamente pelos jovens.

A jornalista contou como é cobrir a extrema-direita.
por
Antonio Gomes de Amorim Neto
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10/04/2025 - 12h

A jornalista Andrea Dip veio até a PUC-SP no dia 27 de março para ministrar uma aula magna aos alunos, com o objetivo de falar de suas coberturas no âmbito da extrema direita. Ela apresentou suas experiencias e dicas de como é estar nesse meio sendo uma jornalista. No Brasil, o movimento de extrema direita vem ganhando força e suas narrativas são cada vez mais aceitas pelos jovens no Brasil e no mundo. Andrea tem se infiltrado em congressos da extrema direita desde 2022 e desfruta de diversos meio para isso, como alterar sua aparência e cobrir suas tatuagens. Ela conta como foi estar em um destes eventos, em Bruxelas, chamado NatCon, para o qual conseguiu acesso depois de passar a noite procurando e entrando em contato com palestrantes. Andrea conseguiu seu acesso como pesquisadora. 

Andrea Dip exclamou “a gente tem que saber jogar”, referindo-se ao ego de pessoas que fazem parte destes congressos, ela considera crucial ter acesso a esse meio da extrema direita. A jornalista também pontuou práticas usadas na narrativa desse movimento político como a destruição da família tradicional e supostos perigos que são causados por imigrantes. No congresso citado por ela. O foco do assunto eram políticas nacionalistas, anti árabe e imigrantes e pró Israel. Ela sita a frase dita por um padre na palestra: "imigrantes enfeiam a Europa".  

Ideias como estas que a jornalista denuncia, ganham mais força a cada ano entre os jovens brasileiros. Isso reflete os perigos dessas atitudes que narrativas como essas apresentam. Ela diz que a nova rebeldia da sociedade, que agora é marcada por movimentos como esse usam o medo de rejeições, o passado idealizado e a promessa individualista para vencer o sentido coletivo na sociedade. 

Outro atrativo para os jovens é ainda a religião que é muito forte e molda a cabeça de boa parte da sociedade. Quando ainda trabalhava na revista Caros Amigos, onde fazia o chamado por ela “jornalismo de direitos humanos”, ela fez trabalhos sobre a bancada evangélica que, segundo ela, é quem está à frente de violências de gênero no congresso. Andrea diz abertamente que é parcial, mas que é importante ouvir os dois lados para se valer da honestidade e fatos para comprovar suas ideias, esta é a forma que ela mante a sua ética jornalística, e valida suas ideias. Ao final de sua aula magna a jornalista respondeu perguntas de alunos e professores.

Jornalista independente discorre sobre os desafios da cobertura da extrema direita
por
Maria Mielli
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10/04/2025 - 12h

A extrema direita, nos últimos anos, vem se consolidando mais e mais, de maneira que seus apoiadores estão se tornando cada vez mais presentes no mundo todo. Segundo o site de notícias da rede Globo, G1, houve um aumento de 20% de votos a favor da extrema direita na Alemanha, em comparação com o ano de 2021. Este aumento, é o responsável por causar preocupação naqueles que não concordam com os ideais conservadores ultra protegidos pela mídia burguesa. Deste modo, o trabalho de jornalistas independentes, como o da Andrea Dip, se tornam de extrema importância no combate contra a proliferação de ideais totalitários. Sabendo disso, a PUC-SP, se propôs a promover uma aula magna, nesta última quinta-feira (27), com a própria Andrea, a fim de elaborar e transparecer os desafios, e os meios de realizar a cobertura dessa ascensão.  

Andrea Dip trabalha na Agência Pública cobrindo temas relacionados aos direitos humanos e em oposição a extrema-direita. Seu trabalho ganha destaque, pois ela se coloca pessoalmente em reuniões conservadoras ao redor do mundo e consequentemente, se torna uma fonte rica de informações sobre como agem e o que idealizam esses direitistas.

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Andrea Dip e Professor Aldo Quiroga durante palestra. Foto: Reprodução / Maria Clara Palmeira

Atualmente, mora na Alemanha e mantém seu trabalho a fim de expor para o mundo todo os perigos desta evolução. Ao ser questionada sobre quais as maiores dificuldades que encontra como mulher queer, ativista e jornalista neste meio, a própria respondeu que se enxerga como a encarnação de tudo aquilo que eles odeiam e querem destruir, justificando o uso de disfarces e da sua maneira discreta de se portar nessas reuniões. Ainda enquanto respondia a este questionamento, Dip afirmou que a extrema direita tem uma certa desconfiança com a imprensa, de modo que seus trabalhos se tornam meios de driblar esta descrença e conseguir maior proximidade com os valores e planos dos apoiadores. 

Já no final da aula, Dip pontuou: “Não acredito na imparcialidade do jornalismo”, e afirmou que o mais honesto a se fazer com o público é buscar fontes e investigar a fundo, sempre buscando a objetividade e veracidade das informações levantadas. Disse também, que não tem como se manter imparcial quando a extrema-direita fere, constantemente, os direitos humanos. 

Andrea finalizou sua aula motivando os futuros jornalistas a não desistirem de se impor e de lutarem pelo que acreditam, “o ódio é deles, a gente está só numa defesa absurda.” Afinal, o direito à informação é de todos.  

 

A jornalista deu detalhes sobre extrema-direita, experiências e jornalismo
por
Bruno Caliman
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10/04/2025 - 12h

A jornalista investigativa, Andrea Dip, foi a convidada de uma aula magna da PUC-SP realizada na última quinta-feira (27), na qual o assunto abordado foi o crescimento da extrema-direita. Ela relatou, principalmente, experiências vividas quando infiltrada em congressos desse espectro político, além de dar dicas de comportamento nessas ocasiões e para o jornalismo em geral.

Andrea Dip é formada e trabalha como jornalista há mais de 20 anos, e durante esse tempo ganhou 13 prêmios na área do jornalismo. Publicou seu primeiro livro em 2018, com o título “Em nome de quem? A bancada evangélica e seu projeto de poder”. Atualmente, Andrea tem uma coluna semanal no UOL e reside em Berlim, na Alemanha.

No início da palestra, a jornalista trouxe alguns detalhes para introduzir os ouvintes no assunto. Classificou os fundamentalistas cristãos conservadores, principalmente os evangélicos, como uma bancada preconceituosa. Também citou os encontros de políticos de direita e os discursos de ódio que ocorrem nessas reuniões, tais como xenofobia e homofobia.

O disfarce é sua principal carta na manga para entrar em eventos de extrema-direita, e não foi diferente na Conferência Nacional do Conservadorismo, também conhecida por NatCon, realizada em Bruxelas, na Bélgica. Andrea contou que é fundamental esconder sua franja curta e tatuagens para se encaixar nos padrões estabelecidos nesses congressos e passar despercebida ao manter esse personagem. Além disso, ela usa seu outro sobrenome para conseguir as credenciais e não entra como jornalista, visto que há desconfiança da extrema-direita em relação à imprensa.

Na própria NatCon, a jornalista presenciou discursos absolutamente nacionalistas e xenófobos, mesmo após revelar à plateia que o dono do local onde estava acontecendo o evento tinha descendência árabe, ou seja, uma situação bem contraditória.

Durante esses anos de cobertura do assunto, Andrea Dip adquiriu uma vasta experiência e compartilhou seu pensamento sobre o crescimento global da extrema-direita. Quando perguntada sobre a relação entre a extrema-direita e os jovens, opinou que esse espectro político cria uma ideia do passado que nunca existiu para propor um futuro utópico, e com isso, traz as pessoas dessa faixa etária junto a ele a partir do uso da imagem própria, sucesso e rebeldia.

Ao ser questionada sobre a direita ao redor do mundo, a jornalista refletiu sobre as diferenças de cada região, como a forte conexão da América Latina com a religião, diferente de outros lugares. Relacionou a Alemanha - onde mora - com o ultranacionalismo e movimentos contra imigrações, além de citar outros países que são contra LGBTs e outras minorias. “Se entendem no geral”, completou.

No decorrer do tempo, Andrea passou algumas dicas sobre jornalismo aos participantes. Disse ficar sempre atenta para não violar os direitos e não acredita na imparcialidade no jornalismo, embora ache a parcialidade inicial perigosa em uma entrevista. Destacou a importância do jornalista guardar consigo o material da reportagem feita, seja gravado ou anotado, pois muito provavelmente será utilizado em outros fins para benefício próprio.

A aula magna teve duração de aproximadamente 2 horas e contou com diversas perguntas, além de um amplo ganho de conhecimento. Ao final, Andrea Dip foi aplaudida, e sem hesitação agradeceu a todos.