Entenda como funciona a manipulação da extrema-direita que reacende sinal de alerta para 2026
por
Oliver de Souza Santiago
Rafael Pessoa
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15/04/2025 - 12h

O cenário político brasileiro tem apresentado um rumo preocupante nestes últimos anos. O aumento dos lobbies de outsiders como Elon Musk e Luciano Hang, somados com a polarização e diversas linhas ideológicas dos partidos nas redes sociais, tem alertado o Legislativo, Judiciário e o Executivo. O discurso de mudanças e urgências, baseado em instigar emoções como ódio, medo e esperança, tem fortalecido o crescimento de políticas extremistas.

No dia 6 de março, o ex-presidente Jair Bolsonaro e outros políticos de sua base, como Tarcísio de Freitas (Republicanos/SP), Eduardo Bolsonaro (PL/SP) e entre outros,  reuniram-se em Copacabana,  para manifestar o apoio à anistia para os crimes cometidos no atentado do dia 8 de janeiro de 2023. O evento teve a participação de 18,3 mil apoiadores, e apesar da derrota de Bolsonaro nas eleições de 2022, a presença do poder de controle e manipulação do bolsonarismo se mantém presente. Afirmações sobre uma suposta manipulação do pleito eleitoral de 2022 e apoio à anistia para Bolsonaro, que está sendo investigado por envolvimento na trama golpista, foi um dos temas mais comentados.

A imagem acima retrata uma charge do ex-presidente Jair Bolsonaro no ato pró-Anistia, realizado em Copacabana
Charge sobre o protesto sobre o ato pró-Anistia para presos do 8 de janeiro em Copacabana. Foto/Reprodução: Rafael Pessoa (Agemt)

O que começou com o Movimento Passe Livre em 2013, para o atentado de 08 de janeiro de 2023, evidencia o uso de mecanismos de manipulação das massas na mídia ocidental. Veículos de comunicação como Jovem Pan, Brasil Paralelo e Revista Oeste, destacam-se por sua linguagem fácil para todos os públicos, alcance midiático e por propagação de fake news. Além do surgimento de figuras como o ex-presidente, Jair Bolsonaro, a ex-primeira dama, Michelle Bolsonaro, o deputado federal, Nikolas Ferreira, o vereador Lucas Pavanato e a vereadora Zoe Martinez, com todos sendo do mesmo partido: o Partido Liberal (PL). Os parlamentares são conhecidos nas redes sociais por sua comunicação intensiva com seus apoiadores e grande parte do eleitorado brasileiro.

Da esquerda para a direita: a vereadora, Zoe Martinez, o ex-presidente, Jair Bolsonaro, a ex-primeira dama, Michelle Bolsonaro e o vereador, Lucas Pavanato (Foto/Reprodução: instagram @zoebmartinez, instagram @lucaspavanato)
Da esquerda para a direita: a vereadora, Zoe Martinez, o ex-presidente, Jair Bolsonaro, a ex-primeira dama, Michelle Bolsonaro e o vereador, Lucas Pavanato (Foto/Reprodução: instagram @zoebmartinez, instagram @lucaspavanato)

Em entrevista exclusiva para a AGEMT, o influencer político Henrique Lopes, 25 anos, mestrando em Ciências Sociais na USP, explicou quais são os métodos utilizados em maioria pela extrema-direita. “[..] Dentro do universo das redes sociais hoje, principalmente quando você trabalha com política, é praticamente impossível fugir da questão emocional. Toda influência que você tem, e faz conteúdo, para poder influenciar alguma pessoa, tratando-se aqui no Brasil, somos um povo em que a emoção é mais aflorada. Há uma necessidade muito grande de comover alguém a ter algum sentimento. A extrema-direita consegue convencer facilmente com sentimentos negativos.”

“Gerando ódio nas pessoas, deixando elas assustadas, e trabalhando narrativas que se montam em cima desses sentimentos, é fácil conseguir que aquele que está te assistindo tenha a reação que o criador de conteúdo queira passar para o consumidor.”

 

Henrique relembrou sobre o caso da suposta taxação do pix, divulgada amplamente pelo deputado federal Nikolas Ferreira (PL), e apresentou quais argumentos são mais utilizados na propagação destes conteúdos: “Não é sobre defender a família, é colocar um temor na população de caso o outro lado ganhe, ele é inimigo. você precisa ter medo dele, porque senão a sua família vai ser destruída. Que a sua família vai acabar, não ter mais dinheiro para se manter, que todos vão passar fome e o Brasil virar uma Venezuela.”

“A questão do Pix, era o medo de ser vigiado e o governo pegar as suas informações e forçar o povo a pagar mais imposto. De onde ele (Nikolas) tirou essas informações? Ele inventou. O vídeo foi convincente o suficiente para ter 300 milhões de visualizações e muita gente acreditou. Então, são pautas delicadas. As pessoas têm um certo amor por aquilo. Amam a família delas, querem ter condições de comprar o que quiserem, morar no Brasil, e ter a liberdade de expressão. E aí, se eu ataco tudo isso de que o ‘outro lado’ irá destruir tudo o que você gosta, é bem substancial!”

Henrique também respondeu sobre os principais objetivos dos outsiders brasileiros e internacionais: priorizar o lucro próprio ou apoiar a ideologia que estão investindo. Seja por interesse próprio, ou às vezes, de alguém que está financiando aquilo.

Um desses que está super em alta agora, não é brasileiro, mas é um nome forte, é o Elon Musk. Ele faz toda aquela articulação em cima das políticas que acredita, porque ele tem interesses secundários. Um dos ataques ao Brasil que o bilionário fez, por exemplo, é porque uma mina de lítio, que ele tinha interesse, foi leiloada para a China.

Gesto de Elon Musk para apoiadores de Trump durante o desfile inaugural dentro da Capitol One Arena, em Washington, DC - ANGELA WEISS / AFP
Gesto de Elon Musk para apoiadores de Trump durante o desfile inaugural dentro da Capitol One Arena, em Washington, DC - ANGELA WEISS / AFP

Henrique também citou sobre o lobby político do agro, onde o representante desta indústria recebe o dinheiro, e beneficia este mercado no Legislativo, além de manter uma relação mútua onde ambos podem “sair felizes”.

Sobre os possíveis resultados desta manipulação, Henrique ressalta: “Hoje em dia, de um jeito bem grosso, parece que a esquerda eram ‘os caras legais’. Os anti-sistemas. O discurso foi tomado pela direita e extrema-direita, que hoje domina majoritariamente a internet.”

Relatório mostra a fatalidade das intervenções beirando o cotidiano dos jovens
por
Leticia Falaschi
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11/04/2025 - 12h

Na última quinta-feira (3) foi publicada a segunda edição do relatório As câmeras corporais na Polícia Militar no estado de São Paulo: Mudanças na política e impacto nas mortes de adolescentes, realizado pela Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP). O que se destacou no documento foi o aumento no número de vítimas fatais das intervenções policiais entre crianças e adolescentes: de 2022 para 2024 houve um salto de 120%. O estudo buscou explorar a origem desse salto e analisar sua relação com atual gestão do estado.  

O que mudou nos últimos dois anos, nos órgãos de segurança, foi o aumento de ataques aos programas de contenção de risco. Essas ofensivas tiveram força e apoio pois foram oriundas de representantes de altos cargos, como o atual governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) e Guilherme Derrite, secretário de Segurança Pública. A primeira edição do relatório, realizada em 2022, conseguiu acompanhar os números antes e depois da implementação das câmeras corporais nos policiais militares do estado. Os resultados foram esclarecedores: comparando dados de 2017 e 2022, houve uma queda de 66,3% nas mortes na faixa etária de 10 a 19 anos por autoria da polícia militar. Na publicação, a queda foi atribuída ao Programa Olho Vivo adotado pela PMESP e pela Secretaria de Segurança Pública no segundo semestre de 2020. 

gráfico de mortes causadas por intervenção policial em São Paulo de 2001 a 2024
Fonte: Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo; Fórum Brasileiro de Segurança Pública. 

As crianças e adolescentes vítimas da ação truculenta da PM, registradas no ano passado, superaram o dobro do que foi contabilizado em 2022: saindo de 35 mortes para 77, entre elas, as negras são 3,7 vezes mais atingidas em intervenções letais. Segundo o relatório, a maioria das alterações no modo operante da PM diz respeito ao controle de força e punição dos responsáveis. Apesar do número de câmeras a disposição não ter diminuído, o uso não está sendo cumprido, e a quantidade de arquivos a serem consultados estão mais escassos. Além disso, a acessibilidade desses arquivos foi burocratizada: “Um levantamento da Defensoria Pública do Estado de São Paulo, baseado em 457 solicitações de ocorrências entre julho e novembro de 2024, mostrou que a PMESP não forneceu resposta para 48,3% dos casos. No caso das ocorrências respondidas, em apenas 100 casos foi possível realizar a análise.” diz um trecho do estudo. 

O afrouxamento da Corregedoria da PMESP também foi fortemente sinalizado no relatório. Isso, somado às declarações de representantes do governo questionando a efetividade das câmeras parece ter encorajado os oficiais a abandonarem o uso. A Corregedoria também teve sua autonomia reduzida: agora, para realizar o afastamento de um oficial, a decisão será submetida à solicitação do um subcomandante geral. 

O governo assinou, em setembro de 2024, um contrato com a empresa Motorola para a compra de 12 mil novas câmeras, que substituirão as atuais. Porém, esse novo modelo apresenta alterações sensíveis: além das gravações não serem ininterruptas, o seu acionamento depende da decisão do policial que a usa. As inflexões do programa Olho Vivo são protagonistas nos resultados que assombram a juventude paulista. Apesar de representar apenas 0,6% do orçamento da Secretaria de Segurança, ao longo de 2023 o programa sofreu 37% de cortes do valor inicial de investimento. 

Tabela de princiais mudanças na gestão da Polícia Militar de SP - 2024 para 2025
Fonte: Unicef

No panorama geral, o relatório é alarmante para as crianças paulistas. As reformas questionáveis que insistem em ser realizadas pelos gestores, mesmo diante a eficiência das câmeras se traduzem em letalidade para os jovens do estado. “É importante destacar que 30,1% das mortes de crianças e adolescentes nos últimos oito anos foram provocadas por policiais militares durante a folga desses agentes, o que soma mais 316 vítimas. Em 2024, 1 em cada 4 mortes de adolescentes pela PMESP foi causada pela ação de policiais militares de folga, em ocorrências que não foram classificadas como homicídio doloso.”, expõe a investigação. 

Motoboys articularam-se em cidades por todo o Brasil exigindo melhores condições de trabalho
por
Leticia Falaschi
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07/04/2025 - 12h

Na última segunda-feira (31) motociclistas articulados pela Anea (Aliança Nacional dos Entregadores por Aplicativo) e outras associações, realizaram uma paralisação dos serviços como forma de protesto. O objetivo era reivindicar ajustes nas taxas e na remuneração, limites de distância para entregas feitas com bicicletas, conciliação do tempo diário de operação, entre outras demandas de trabalho. Com destaque para o ato na cidade de São Paulo, os manifestantes expuseram seu descontentamento com a desvalorização da categoria, que, principalmente na pandemia, foi vital para o funcionamento da vida nas cidades. A paralisação começou em frente ao estádio do Pacaembu, durante a manhã, seguiu para a Avenida Paulista e, ao final, se concentrou em frente à sede do IFood na cidade de Osasco, na zona oeste da região metropolitana. 

Entregadores no movimento na Av. Dos Autonomistas na cidade de Osasco, São Paulo.
Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil 

Uma das principais exigências levantadas pelos motoboys foi o aumento da taxa das corridas, que hoje é de R$ 6,50. O que revolta muitos dos trabalhadores são os valores baixos oferecidos para um serviço de imensa demanda. Quando se trata do trabalho autônomo, a segurança e a saúde para exercer os serviços estão intrinsecamente ligados a remuneração. No Brasil, só no ano de 2024, foram 483 mortes no trânsito envolvendo motociclistas, segundo dados do DETRAN (Departamento Estadual de Trânsito). A realidade de boa parte dos motoqueiros, infelizmente, é escolher entre pagar as contas ou fazer a ajustes em suas motocicletas, o que acaba precarizando os trajetos do trabalhador e colocando sua segurança em risco.  

Em 2023, o Ministério do Trabalho criou um GT (grupo de trabalho) para discutir a regulamentação do trabalho por aplicativo, mas os termos propostos foram muito desvantajosos, segundo os motociclistas. Os motoristas de aplicativo (que levam passageiros, como os serviços oferecidos pela Uber), porém, aderiram às medidas, o que, segundo os motoboys, enfraqueceu o movimento. Desde então, o órgão prometeu um relatório com uma resposta aos motociclistas da categoria, o que nunca aconteceu: a discussão segue estagnada. Os breques acontecem desde 2020, e os resultados oferecidos até então pelo IFood (empresa que controla, hoje, cerca de 80% do mercado brasileiro de delivery) foi a alteração da taxa de R$ 6,00 para R$ 6,50 em 2022, depois disso não houve mais reajustes. Apesar de necessárias para impor as reivindicações de trabalho, as paralisações são difíceis de serem realizadas pois significam um dia a menos de captação para os motoboys. 

Manifestantes em frente à sede do IFood em Osasco, São Paulo
Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil 

Entre os outros pedidos, estavam o aumento de R$ 1,50 para R$ 2,50 no pagamento por quilômetro percorrido nas corridas, limite de 3 quilômetros para entregas feitas por bicicletas e o pagamento de taxas separados por número de entregas, e não pelo número de corridas.  

Quando os manifestantes se concentraram em frente à sede do IFood, exigiram que o João Sabino, diretor de Políticas Públicas da empresa, saísse do estabelecimento para negociar com os líderes do movimento publicamente. O pedido foi negado, e diante a pressão, a empresa convocou nove representantes para entrarem e discutirem as demandas, mas nenhuma delas foi atendida. Como resultado, os motociclistas se dispersaram em clima de descontentamento. A paralisação seguiu por 48h. 

Supremo Tribunal Federal julga altos oficiais e políticos, incluindo o ex-presidente Jair Bolsonaro
por
Manoella Marinho
Carolina Zaterka
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05/04/2025 - 12h

Nas eleições de 2022, o cenário político brasileiro foi marcado pela vitória de Luiz Inácio Lula da Silva sobre o ex-presidente Jair Bolsonaro. Em meio a esse contexto, a Procuradoria-Geral da República apresentou uma denúncia fundamentada em uma ampla gama de evidências, que vão desde manuscritos e arquivos digitais até planilhas e trocas de mensagens, acusando um esquema destinado a manter Bolsonaro no poder. De acordo com a acusação, tal grupo teria se empenhado em adotar medidas que minassem os pilares do Estado Democrático de Direito, configurando uma possível trama golpista.

No cerne do processo, o STF analisa a participação de um núcleo de altos oficiais militares e políticos, conhecido informalmente como “Núcleo 1’’. Entre os denunciados estão: Jair Bolsonaro, Almir Garnier Santos, Alexandre Ramagem, Anderson Torres, Mauro Cid, Paulo Sérgio Nogueira, Augusto Heleno e Walter Braga Netto.

O ex-comandante da Marinha na gestão Bolsonaro, Almir Garnier, responde a seríssimas acusações devido a uma suposta conspiração de golpe de Estado. Ele foi denunciado pela Procuradoria-Geral da República e está incluído no “inquérito do golpe”, instaurado após a pressão pública das eleições de 2022. A acusação afirmou que o então comandante da Marinha vinha discutindo com outros generais da reserva a elaboração de um plano de golpe, cujo cotidiano previa a execução de um atentado contra altas autoridades. Nesse plano, nos seus próprios termos, Garnier enfrentava a missão de assassinato do presidente eleito, do vice-presidente e de um ministro do Supremo Tribunal Federal.

Ex-comandante da Marinha, almirante da reserva Almir Garnier Santos, durante programa A Voz do Brasil
Ex-comandante da Marinha, almirante da reserva Almir Garnier Santos, durante programa A Voz do Brasil/ Foto: Marcello Casal Jr / Agência Brasil 

Em uma reunião realizada com Jair Bolsonaro, pouco após a derrota eleitoral, Garnier teria supostamente afirmado que suas tropas estavam prontas para agir, enquanto outros comandos militares haviam se recusado a aderir ao plano. Conversas interceptadas pela Polícia Federal mostram que Garnier estava disposto a mobilizar recursos militares e, assim, foi o único chefe das Forças Armadas a se opor, pela força, à posse do presidente eleito.

Em 26 de março de 2025, a Primeira Turma do STF admitiu a denúncia contra Garnier e seus corréus, tornando-o réu em um processo no qual, se condenado, cumprirá mais de 30 anos de prisão. Antes disso, sua carreira no Exército não foi marcada por escândalos especiais; no entanto, seu nome foi associado a investigações de organizações golpistas, e o relatório da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos atos de 8 de janeiro definiu motivos para acreditar que Garnier cometeu três crimes relacionados à intenção golpista. Outra notícia em torno do ex-comandante foi a contínua ocupação de um apartamento da Marinha após sua aposentadoria, o que levou a especulações e suspeitas sobre sua ação durante a transição.

No entanto, no mérito, a defesa de Garnier, encampada pelo advogado Demóstenes Torres, anteviu “nulidade absoluta” do processo, por ausência de justa causa, e “frágil prova” – classificando a denúncia como uma “grande mentira”. O que foi voto vencido na Corte no julgamento deste caso. Contudo, com base na manifestação do relator, ministro Alexandre de Moraes, os ministros da Suprema Corte entenderam que todos os elementos, relatos, mensagens e depoimentos autorizavam o prosseguimento, sobretudo mantendo a validade dos depoimentos da delação premiada de Mauro Cid.

Portanto, o processo vai agora para a fase de instrução, com as oitivas das testemunhas e a produção de novas provas. Nota-se, dessa forma, um julgamento de impacto político e institucional, o primeiro contra um ex-comandante militar desde a reabertura da redemocratização, por tentativa de ruptura democrática.

Posteriormente, Mauro Cid, ajudante de ordens de Bolsonaro no início do mandato (2019–2022) e atualmente delator dos criminosos nas maiores acusações, atua como réu nas denúncias. Na medida em que a acusação o incluiu no “núcleo decisório” da conspiração, ele foi envolvido nas mesmas narrativas de crime organizado por armamento e atentado contra a ordem democrática, dentre outros. Em 2 de março de 2025, o STF também aceitou denúncia contra o acusado, consolidando-o como réu no processo do golpe.

Após defesa de Bolsonaro pedir a nulidade da delação, o advogado de Cid reforçou a integridade    do acordo.    Foto: Antônio Cruz/Agência Brasil
Após defesa de Bolsonaro pedir a nulidade da delação, o advogado de Cid reforçou a integridade do acordo/ Foto: Antônio Cruz/Agência Brasil 

Além da acusação de participar da tentativa de golpe, Mauro Cid está sob investigação por outros crimes graves. Uma das principais acusações diz respeito à fraude em cartões de vacinação da Covid-19. Ele foi preso pela Polícia Federal em maio de 2023 na Operação Venire, que investigava a fraude nos dados inseridos no sistema de vacinação do Ministério da Saúde. Cid está sendo acusado de liderar um grupo que falsificou os certificados de vacinação do próprio Bolsonaro, de sua filha e de outros assessores que, em seguida, foram utilizados para driblar as exigências sanitárias impostas a viajantes internacionais.

Outro crime investigado foi a comercialização de joias e presentes de alto valor roubados em feiras clandestinas de Cid, apreendidos de sua posse, que ele alega ter ganhado do ex-presidente da República, subtraídos do acervo presidencial de bens, com valor total em torno de 86 mil dólares.

Historicamente, Mauro Cid era visto como um fiel executor das ordens do ex-presidente. Ele havia ganhado a confiança do círculo bolsonarista e era chamado de “faz-tudo”. Apesar disso, assim que o governo caiu, seu nome passou a ser envolvido em uma série de esquemas controversos, que vão desde a participação em reuniões para discutir a invasão das urnas eletrônicas até os ilícitos envolvendo vacinação e patrimônio.

Em setembro de 2023, após alguns meses de investigação, ele fechou um acordo de delação premiada. Em seus depoimentos, Cid levou provas documentais e fez de sua fala um relato de base factual que traçou, procedimento a procedimento, cada passo que garantia a conexão de Bolsonaro com os crimes, incluindo a ordem para fazer cartões de vacina com mais doses do que a real e o envolvimento em tratativas para vender presentes oficiais dados ao presidente brasileiro.

Em seu primeiro dia de julgamento, Bolsonaro  acompanha julgamento no STF na primeira fila   Reprodução - TV Justiça
Em seu primeiro dia de julgamento, Bolsonaro  acompanha julgamento no STF na primeira fila./ Reprodução: TV Justiça

Seu papel como colaborador, apesar de resultar em benefícios da perspectiva do processo, foi cercado por dificuldades, exemplificadas pela referida prisão em março de 2024, após vazamento de áudios que implicavam sua coação para incriminar Bolsonaro. Enquanto isso, sua colaboração foi retida, mantendo-o uma peça vital do conjunto maior das investigações, que abrangem não apenas o golpe, mas também o falso processo de vacinação e a corrupção patrimonial.

Essa interposição peculiar, réu e testemunha ao mesmo tempo, intensifica os efeitos explosivos de suas apresentações, que quebraram o véu de segredo e jogaram luz nos detalhes das atividades ilícitas por trás do governo, além de acentuar a pressão legal abrangente sobre o ex-presidente e seus associados.

Além disso, o Supremo Tribunal Federal (STF) avança nos julgamentos de Anderson Torres, ex-ministro da Justiça e ex-secretário de Segurança Pública do Distrito Federal, também acusado de envolvimento no caso de golpe de Estado.

Anderson Torres responde a três crimes principais: Omissão nos atos de 8 de janeiro de 2023, posse de Minuta de Decreto para Estado de Defesa e disseminação de Conteúdo Golpista.

O advogado Eumar Roberto Novacki, defensor do réu, apresentou argumentos afirmando que não poderiam julgar Torres pelo atentado do dia 8 de janeiro pelo fato de ele não estar em território nacional no período do ocorrido. Além disso, afirmou que as provas encontradas em sua residência não comprovaram sua participação ativa no plano golpista, além de reiterar a desconsideração de mensagens que deveriam ser privadas e não necessariamente demonstrariam uma intenção criminosa.

A Procuradoria-Geral da República sustenta que a soma de elementos, aliada à postura passiva diante do golpe, à presença de um documento com teor anticonstitucional em sua casa e o incentivo a discursos antidemocráticos, revela uma justificativa de sua responsabilização penal.

Já o outro acusado, Paulo Sérgio Nogueira, também envolvido nos recentes atos, é acusado dos seguintes crimes: Participação em reuniões para planejar um golpe e pressão sobre comandantes militares.

Poder 360 Gustavo Moreno Sustentação oral do advogado de Paulo Sérgio Nogueira, Andrew Fernandes Farias (esq.), em julgamento da denúncia.
Sustentação oral do advogado de Paulo Sérgio Nogueira, Andrew Fernandes Farias (esq.), em julgamento da denúncia./ Foto: Gustavo Moreno/Poder 360

Porém, seu advogado de defesa, no momento do julgamento, afirmou que o réu teria sido um dos que se opuseram a um golpe de Estado e que apenas participou de reuniões onde se debatiam diferentes cenários políticos, baseando-se na delação do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, que citou Paulo Sérgio como um dos militares contrários à tentativa de golpe. Andréa Fernandes Farias afirmou:

A aceitação das denúncias contra Anderson Torres, Paulo Sérgio Nogueira, Almir Garnier e Mauro Cid pelo STF representa um avanço na responsabilização de agentes que, direta ou indiretamente, contribuíram para o agravamento da crise democrática no Brasil, principalmente no governo do ex-presidente Jair Bolsonaro.

O caso reflete a tensão entre setores militares e a política institucional. Enquanto parte da cúpula das Forças Armadas tentou se distanciar dos acontecimentos, há registros de que militares de diferentes patentes se envolveram nos atos antidemocráticos. O STF está avaliando cada caso e os julgados aguardam resultado.

 

 

 

 

135 anos após o fim dos reis no Brasil, articuladores trazem pauta
por
Marcelo Barbosa Prado Filho
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26/03/2025 - 12h

A Comissão de Direitos Humanos (CDH) do Congresso Nacional colocou em pauta uma proposta inusitada: a realização de um plebiscito para substituir o atual sistema presidencialista por uma monarquia parlamentarista.

A monarquia foi abolida no Brasil em 1889, quando Dom Pedro II foi deposto por um golpe militar liderado pelo Marechal Deodoro da Fonseca. Sob intensa pressão política, Deodoro comandou a transição para a República, encerrando o período imperial.

Atualmente, os descendentes da antiga família real brasileira formam a chamada Casa Imperial do Brasil, que reúne os herdeiros de Dom Pedro II e tem raízes nas Casas de Bragança e Órleans. O atual chefe da Casa Imperial é o príncipe Bertrand de Órleans e Bragança.

Curiosamente, um dos entusiastas do tema dentro do Congresso é Luiz Philippe de Órleans e Bragança, tetraneto de Dom Pedro II e integrante do partido de Jair Bolsonaro, um ex-militar. A proposta, porém, não especifica quem assumiria o trono caso a monarquia fosse restaurada, nem detalha como funcionaria a estrutura desse governo.

Iniciativas semelhantes já ocorreram no Brasil. Em abril de 1993, um plebiscito decidiu entre presidencialismo, parlamentarismo e monarquia, resultando na manutenção do atual sistema presidencialista.

Apesar de estar em discussão no Senado, a proposta não partiu de parlamentares, mas sim da sociedade civil. Uma petição reuniu 29 mil assinaturas e foi encaminhada à CDH em 2024 por um cidadão identificado como "Ilgner A.", segundo apuração do jornal O Estado de S. Paulo.

A senadora Damares Alves (Republicanos-DF), ex-ministra de Jair Bolsonaro e atual presidente da CDH, foi a responsável por dar andamento ao tema. Segundo ela, a proposta estava paralisada até sua chegada à comissão. Em entrevista ao Estadão, Damares defendeu o debate:

"Uma iniciativa vinda da sociedade não pode ficar na gaveta. Nem que seja um 'não' bonito, tem que ser apreciado. Não é o presidente de uma comissão que decide o que deve ser discutido, é o plenário. Vamos colocar o assunto em debate. Por que não?"

Enquanto isso, pesquisas indicam que a principal preocupação dos brasileiros está voltada para temas como economia, saúde e segurança pública. Sob a óptica da professora de história da PUC-SP Yvone Dias Avelino, "não é possível a volta de uma monarquia. Os parlamentares da câmara preferem uma democracia e Damares não é um exemplo de uma política forte para conduzir essa ideia. A Europa, por exemplo, demonstra que as monarquias estão desaparecendo. No Brasil, não se ouviram os cidadãos brasileiros, não se ouviu o STF, não se ouviram os jornais, não se ouviram a câmara e o Senado. Ou seja, as instâncias políticas, jurídicas e sociais não foram consultadas. Os gastos ainda poderiam ser enormes.” Então, essa é uma pauta que eu acredito que não vai pra frente.” Segundo um levantamento da Quaest, a volta de uma monarquia poderia significar custos elevados para o país, a exemplo do Reino Unido, onde a manutenção da família real custou mais de 102 milhões de libras (aproximadamente R$ 650 milhões) aos cofres públicos apenas em 2021.

Caso a CDH aprove a proposta, ela seguirá para votação no Senado e, posteriormente, na Câmara dos Deputados. Se aprovada em ambas as casas, ainda dependerá da sanção do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.


 

A história de irmãos baianos que abriram mão de sua liberdade por algo maior, a verdadeira democracia
por
Maria Luiza Costa
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07/07/2021 - 12h

Pensamentos de direita, pessoas intolerantes, milhares de vidas perdidas por conta de um governo negligente e radical, tudo isso soa muito comum aos nossos ouvidos. Vivemos isso todos os dias, e vivemos isso por um bom tempo. Nada é uma novidade, milhares de pessoas já tinham passado por isso décadas atrás, no que ficou conhecido como Ditadura Militar de 1964. 

Em diversos lugares do Brasil, muitas pessoas lutaram pelo país, dentre eles os irmãos Hildete e Sinval Galeão. Residentes de Feira de Santana, na Bahia, os dois sofreram com o governo militar, mas, mesmo assim continuaram fiéis aos seus pensamentos e ideais. Os dois sempre viveram juntos, Hildete sendo a mais velha, sempre cuidou do irmão e sempre foi muito presente em sua vida, tanto que ele a chamava de mãe.

No dia 31 de marco de 1964, o Brasil sofreu um golpe militar, que fez com que diversos pensamentos de direita fossem espalhados pelo país. No período entre 1964 e 1969, um total de dezessete atos institucionais foram emitidos, sendo essa uma das principais formas de dar mais poder para o Executivo, de justificar as ações dos militares e de dar um aparato judicial para legitimar à ditadura. Esses atos deram diversos poderes ao Estado, como por exemplo fazer diversas alterações na constituição e em diversas leis que existiam antes do golpe já não serviam de nada (AI-1), partidos políticos foram extintos (AI-2), e diversas outras coisas. 

Podemos dizer que o ato institucional que mais afetou a vida dos irmãos Galeão e de milhares de pessoas, foi o mais conhecido e autoritário de todos, o AI-5, no qual os meios de perseguição e repressão foram ampliados.  O militante Sinval sofreu de maneira absurda, foi torturado e os militares conseguiram sumir com ele, como relata sua irmã Hildete “Com os colegas, conseguimos localizar no CPOR o meu irmão, que se encontrava sumido. Foi terrível!!! Ele queimava de febre. Corpo todo de hematomas e feridas expostas. Sua mão direita com alguns dedos sem movimentos e de nada adiantou as cirurgias ao longo do tempo”. 

O militante teve que ir para a Europa, uma vez que mesmo depois de solto, continuou a ser perseguido por esse governo assassino. Foi para a antiga União Soviética, onde seu pensamento continuou se alinhar com pensamentos comunistas, e voltando para o Brasil, ajudou a fundar o Partido Comunista Brasileiro (PSB) de Feira de Santana. Sua irmã, afirma que sua volta foi muito difícil “Sinval foi para a Europa pois sabíamos que era um dos que estava destinado a ‘sumir’, como muitos descobertos agora através da Comissão da Verdade. Sua volta foi triste, mas jogou-se com o passar dos anos a estudar e dias e noites mergulhado em livros de história, política e economia, passou a morar comigo em 1974, foi e sempre será meu irmão-filho!”. 

O mesmo, após sua volta, também presidiu o PSDB, que cresceu com sua dedicação e competência, após a extinção do PCB na Bahia, candidatou-se a vereador, se formou em economia, sendo orador da turma, na Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), dentre outras conquistas, e uma das principais, pode-se dizer que foi ser o coordenador da Comissão da Verdade, de Feira de Santana, no ano de 2013. Sendo seu último trabalho político. 

Esse foi, com certeza, um momento de desespero para toda a família, principalmente por ele não ter sido o único a sofrer da mão dos militares, Hildete Galeão também foi uma vítima, tanto de torturas quanto no seu ambiente de trabalho, que foi fechado pelo governo “[...] Além de pertencer ao grupo de Rádio Amadores prefixada como PY-6-ID, com essa bagagem além de eles sumirem com meu irmão, fecharam nossa estação de rádio e me botaram grávida de 2 meses, da minha segunda filha num camburão e me levaram para o Quartel General”.

Hildete Galeão (22), 1961, na sua formatura de Mecanografia.
Hildete Galeão (22), 1961, na sua formatura de Mecanografia.

O ano já é 2021, e muita coisa mudou, mas o que é notável, é que diversos ideais de extrema direita estão cada vez mais presentes em discursões. Muitas pessoas, principalmente, as que se encontram em posições de privilégio, continuam apoiando movimentos que só trouxeram preocupação e angústia nos outros, essas pessoas disseminam pensamentos que fortalecem ações negativas, como por exemplo apoiar uma nova ditadura militar aqui no Brasil, ou apoiar ideais extremistas, como o neonazismo e neofascismo. 

Podemos dizer que essas mesmas pessoas encontram outras em posição de poder, que só reforçam esses posicionamentos. Como por exemplo no nosso país, que no ano de 2018, uma grande parcela da sociedade viu no Presidente Bolsonaro, um reflexo de suas próprias convicções e princípios, assim botando para fora tudo o que sempre acreditaram.

Desde que foi eleito, o presidente da república disseminou palavras de ódio, teve diversas atitudes racistas e homofóbicas, e ainda tem o descaso e desrespeito de não esconder seu saudosismo ao golpe de 1964 e às atitudes absurdas dos militares. Como em 2016, que durante a votação pelo impeachment da ex-presidenta Dilma Rousseff (PT), prestou homenagem ao Coronel Ustra, dizendo "Pela memória do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, o pavor de Dilma Rousseff”. Após esse terrível episódio, Bolsonaro ironizou torturas e ainda duvidou do que realmente aconteceu, e nos trouxe ao terror que o povo brasileiro está vivendo atualmente com a pandemia do COVID-19, fazendo com que o país atingisse a marca de 500.000 mortos no dia 19 de junho, por uma doença que já tem vacina. Um genocida no poder e milhões de apoiadores, nunca traria um resultado diferente do que vemos. 

Sinval Galeão, faleceu em 2017, mas com tudo que construiu em sua vida ainda é referência para diversas pessoas que o conheceram, sendo uma pessoa admirada por todos, ele não deixou seus ideais de lado, não esquecendo de quem ele era e tudo que passou. Seu querido amigo Riva Costa, que é professor de história, se inspira muito no militante. 

“Falar sobre Sinval, é fácil e apesar de ele ter sido sempre uma pessoa muito reservada, ele sempre conversava comigo, e o que sempre me admirou em nele foi essa simplicidade dele de fazer política, de ver no outro uma pessoa que precisa, ver no outro uma demanda, e esse legado que ele deixa, pelo menos para mim. Lembrando que ele foi perseguido, foi para a União Soviética, ele foi imprensado, literalmente falando, numa prensa de fumo e não deixou de lado os sues ideais e manteve a defesa do que ele achava que era certo”, diz ele. 

Carteira da União Nacional dos Estudantes de Sinval Galeão (40), logo após sua legalização.
Carteira da União Nacional dos Estudantes de Sinval Galeão (40), logo após sua legalização.

O militante recebeu diversas homenagens ainda em vida, no entanto a que mais o marcou ocorreu no dia 8 de maio de 2008, quando foi homenageado pela Câmara Municipal de Feira de Santana, com a comenda Cidadão Benemérito da Liberdade e da Justiça Social Deputado Francisco Pinto. Em seu discurso, continuou mostrando tudo que acreditava e toda sua trajetória política, desde criança. “Agradeço a essa casa e a todos que aqui estão pela prova de apoio e reconhecimento de meu trabalho. Mas, gostaria de registrar aqui e agora, que essa homenagem não foi só a mim, e sim a um ideal, a uma ideologia. Por isso quero estendê-la a todos companheiros com quem convivi e que não estão mais entre nós”, disse ele.

Nesse dia, ainda disse que sabe que não envergou a si mesmo, e que não envergonhou sua família. Tio, gostaria que soubesse o quanto nos dá orgulho, e digo isso no presente, porque o senhor pode não estar aqui fisicamente, mas seu legado e seus ensinamentos estarão eternamente conosco, o senhor é nossa maior inspiração em diversas pautas, então obrigada por ter sido esse ser iluminado que fez tudo que podia pelo povo brasileiro. Como seu querido amigo, Domingos Leonelli, publicou “Ele [Sinval] vai encontrar Hozannah e Chico Pinto e se transformar em mais uma estrela vermelha a iluminar o caminho da revolução na escuridão da noite”. 

Obrigada por tudo. 

 

 

 

por
Eduardo Lopes Machado - Fábio Henrique Martineli Pinheiro - Lucca Cavalheiro Ranzani - Lucas Malagone - Robson Lucas Rodrigues
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22/06/2021 - 12h

 

Nas últimas semanas o Brasil foi tomado por manifestações contra o governo federal em tom de indignação com diversas situações provocadas pelo governo Bolsonaro como a falta de vacinas, demarcação de terras indígenas, aumento do desemprego, aumento da fome entre outras pautas todas com o mesmo teor pedindo um basta a isso e pedindo o impeachment do atual presidente. Mas um fato marcou mais as manifestações, a cobertura da mídia.

Às manifestações do dia 29 de maio de 2020 foram praticamente apagadas da grande mídia com medo de um teor partidário e até de endossar repuldio ao atual governo, foram poucos os jornais e veículos que deram o destaque devido as manifestações, alguns nem capa deram e outros como o Jornal Nacional só foram dar destaque dois dias depois na segunda-feira dia 1 de junho.

Após essas decisões tomadas pelos telejornais brasileiros e pelos jornais de grande porte do país, que criaram essa insatisfação no povo, decidimos fazer uma pequena entrevista com o professor de Fundamentos Éticos do Jornalismo na PUC-SP, Marcos Luiz Cripa, trazendo perguntas sobre o papel da grande imprensa diante dessas manifestações:

           

Qual o principal motivo do apagão das mídias no dia 29 de maio?

Se você se refere especificamente à chamada “Grande Imprensa”, não vejo que tenha havido apagão. Historicamente a mídia oferece pouca ou nenhuma cobertura quando se trata de manifestações populares; aquelas que nascem diretamente dos movimentos sociais, como aconteceu em 29 de maio deste ano. Na década de 1980, parte dessa mesma imprensa ignorou por um período a existência do movimento conhecido como “Diretas Já”, que mobilizava milhares de pessoas em comícios nas principais capitais brasileiras. Em São Paulo, em 25 de janeiro de 1982, a TV Globo informou que 300 mil pessoas estiveram na Praça da Sé para “comemorar o aniversário de São Paulo”. Ou seja, negou o fato de existir manifestação em defesa de eleições diretas para presidente. Ocultar o fato ou informação é manipular a cobertura. O que aconteceu em 29 de maio, foi a tentativa de esconder um fato amplamente divulgado nas redes sociais. 

 

            Você acredita que existe diferença entre coberturas pró governo e contra governo?

O que tenho observado, principalmente nos telejornais das TVs Record, SBT e RedeTV, é a tentativa de negar ou dar pouca repercussão a fatos que prejudiquem a imagem do presidente Jair Bolsonaro. Ora reduzindo o espaço da notícia ora sequer dando a notícia. São comportamentos de emissoras alinhadas com o governo federal.

 

            Qual o perigo de não se dar o devido destaque as manifestações?

O perigo mais aparente é o de atentar contra a democracia. Negar informação a leitores, telespectadores e radiouvintes não é o papel de uma mídia responsável e ética. Barbosa Lima Sobrinho, jornalista e ex-presidente da ABI (Associação Brasileira de Imprensa), afirmou certa vez que, o papel da imprensa é o de estar ao lado do povo.

 

Contudo, é possível perceber que essa tentativa de negar as notícias ou dar pouca repercussão, como disse Cripa, tem circunstâncias que podem ajudar a imagem de Jair Bolsonaro, tudo por conta dos alinhamentos das emissoras com o governo federal. Isso acaba afetando na luta contra o atual governo e repercutindo na quantidade de mortes por conta do vírus, e isso pode ser confirmado com a péssima notícia que o país recebeu neste domingo (20) de que chegamos aos 500 mil mortos e não temos ideia de onde isso pode acabar.

Após toda a situação que aconteceu e de muitas críticas voltadas para os jornais e telejornais, foi possível perceber a mudança de postura de alguns. Como exemplo separamos a capa do jornal O Estado de São Paulo, em que a esquerda seria no dia 30 de maio de 2021 e a da direita no dia 20 de junho:

               

Imagem: Reprodução/Internet

Outro exemplo de mudança de comportamento pôde ser notado no Jornal O Globo, com as capas feitas nos dias 30 de maio (esquerda) e outra no em 30 de junho (direita):

 

       

Imagem: Reprodução/Internet

         

Mudanças notórias na forma de noticiar tais atos, mudanças benignas, porém que não deveriam ter sido necessárias. O papel fundamental da grande mídia é informar o seu povo e isso é um contrato ético social, vai além de qualquer convicção política ou incentivo monetário. No momento em que o povo não tem noção da gravidade de sua situação ou muito menos tem conhecimento dos processos antropológicos e sociológicos que ocorrem na sociedade, a mídia se transforma não mais em um intermédio, mas sim em um órgão manipulador de verdades e vidas. A mudança só vem quando precisamos melhorar, e não noticiar as manifestações do dia 29 foi um erro mais que grave, não deveria ter ocorrido e que não se repita; que a ética reine sob a imprensa brasileira e que seu povo fique bem informado.