Por volta das 15h30, Bolsonaro foi recepcionado com fogos de artifício e gritos de “o capitão chegou”. Ele fez ataques ao Tribunal Superior Eleitora e Luís Roberto Barroso, presidente do TSE, colocando em cheque a credibilidade das urnas eletrônicas. “A alma da democracia é o voto. Não podemos admitir um sistema eleitoral que não oferece qualquer segurança por ocasião das eleições”, gritou. E acrescentou: “não é uma pessoa do Tribunal Superior Eleitoral que vai nos dizer que esse processo é seguro e confiável”.
O presidente também fez ataques diretos ao ministro Alexandre de Moraes, alegando que não irá mais obedecer ou respeitar ordens vindas dele, dizendo que “qualquer decisão do senhor Alexandre de Moraes, esse presidente não mais cumprirá”. Além disso, Bolsonaro repetiu o discurso adotado no sábado, 28 de agosto, reforçando que há apenas três opçoes de futuro: prisão, morte ou vitória. No entanto, ele descarta a possibilidade de ser preso. “Quero dizer aos canalhas que nunca serei preso’, afirmou.
Com cartazes em inglês, bolsonaristas pediam que os ministros do STF sejam destituídos de seus cargos. De acordo com os manifestantes, as frases estão em inglês para que o mundo veja que o presidente do Brasil é popularmente apoiado.
Com início marcado para as 14h00, o ato no Vale do Anhangabaú contra o Governo Bolsonaro teve a participação de lideranças sindicais, movimentos sociais e partidos da esquerda em defesa da democracia, da Constituição e das instituições brasileiras. Lideranças que participaram da organização do evento fizeram discurso, entre elas Guilherme Boulos(PSOL) e Fernando Haddad(PT), além de líderes de movimentos sociais e centrais sindicais. Os discursos pediam o impeachment de Jair Bolsonaro, a defesa da democracia, vacina, moradia, comida e emprego.
Tradicionalmente, desde 1995, o Grito dos Excluídos e Excluídas ocorre no dia 7 de setembro e cobra medidas que diminuam as desigualdades sociais. Neste ano, a 27ª edição do movimento começou na Praça da Sé e se juntou ao protesto em favor da democracia e contra o presidente Bolsonaro no Anhangabau.
Manifestantes estenderam uma bandeira verde e amarela de 100 metros de comprimento e 9 de largura no pavimento. Annebelle Rene, membro da Juventude Pátria Livre e produtora da faixa, o objetivo era retomar as cores da bandeira do Brasil, das quais os bolsonaristas se apropriaram. Na faixa, com tinta preta, estava escrito “Fora Bolsonaro Impeachment JÁ”. Apesar de uma maior aderência das cores da bandeira do Brasil, o vermelho ainda predominou.
Tanto na manifestação presente na Avenida Paulista quanto no Vale do Anhangabaú, não houver incidentes graves. Duas pessoas foram presas por furto e algumas foram detidas por portarem objetos considerados perigosos. Segundo estimativa da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, a manifestação a favor do presidente Jair Bolsonaro reuniu cerca de 125 mil pessoa, já no ato da oposição, a estimativa é que 15 mil pessoas compareceram.
Por cerca de 20 minutos o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) discursou na Avenida Paulista em São Paulo, naquele que seria o discurso “mais robusto", nas palavras do presidente. Durante a fala, Bolsonaro fez ataques diretos ao Ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, e chegou a afirmar que não respeitará “qualquer decisão” vinda do magistrado.
“Dizer a vocês que qualquer decisão do senhor Alexandre de Moraes esse presidente não mais cumprirá. A paciência do nosso povo já se esgotou”- Jair Bolsonaro
Discursando para cerca de 125 mil pessoas, segundo a polícia, o presidente xingou o ministro de “canalha” e pediu sua saída.
“Ou esse ministro se enquadra, ou ele pede para sair. Alexandre de Moraes, deixa de ser canalha!”- Jair Bolsonaro
Além de Moraes, Bolsonaro também criticou o processo eleitoral, afirmando que “não é confiável”, e voltou a pedir o “voto auditável” com “contagem pública de votos”. Quando falou de eleições, Bolsonaro mentiu sobre a decisão do corregedor-eleitoral do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Luis Felipe Salomão, que ordenou a suspensão da monetização de canais que disseminam informações falsas sobre as eleições no Brasil. A decisão mirou perfis que produzem conteúdo falso, e Bolsonaro tratou os alvos da medida apenas como críticos do sistema de votação.
O presidente voltou a afirmar que só sai da presidência “preso, morto ou com a vitória”, e foi enfático ao dizer que “só Deus” o tira de lá.
A fala terminou por volta das 16h. Em seguida, ele desceu do carro de som e foi cumprimentar apoiadores, cercado pelo aparato de segurança e sem o uso de máscaras. Só depois, seguiu para o hotel de onde seguiria para Brasília. Após o presidente deixar o local, os manifestantes se dispersaram.
A expectativa é que o presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Luiz Fux, se reúna com os demais membros para preparar uma resposta aos ataques feitos à Côrte e a seus ministros. Vale lembrar que mais cedo, ainda em Brasília, em seu primeiro discurso, Bolsonaro atacou o STF e alfinetou o ministro Luiz Fux.
“Ou o chefe desse poder enquadra o seu [ministro], ou esse poder pode sofrer aquilo que nós não queremos.”- Jair Bolsonaro
As falas do presidente ao longo do dia foram recebidas com alertas por políticos. O presidente do PSDB, Bruno Araújo, afirmou à CNN Brasil que o país chegou ao “limite da dignidade política”, e o partido convocou para amanhã (8) uma reunião extraordinária para debater o impeachment do presidente Jair Bolsonaro.
No dia 7 de setembro, aniversário de 199 anos da independência do Brasil, manifestações incitadas pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) a fim de mostrar que ainda consegue mobilizar as ruas, tomam o país. Caravanas de várias regiões tem seu destino em Brasília e São Paulo, palco das manifestações com maior relevância.
Pela manhã, Bolsonaro participou da cerimônia de hasteamento da bandeira, no Distrito Federal, acompanhado do ex-presidente Fernando Collor de Mello e alguns ministros, entre eles Onyx Lorenzoni (ministro do Trabalho), Paulo Guedes (ministro da Economia) e Braga Netto (ministro da Defesa). Em seguida, ele fez um discurso para os apoiadores na Esplanada dos Ministérios e depois segue para São Paulo, onde é esperado às 15:30.
O presidente do Senado Federal, Rodrigo Pacheco, no entanto, não compareceu à cerimônia com Bolsonaro. Arthur Lira, presidente da Câmara e Luiz Fux, presidente do STF, também não compareceram.
Em sua conta no Twitter, Pacheco, que mantém um discurso ambíguo em relação ao presidente da república” escreveu, “Ao tempo em que se celebra o Dia da Independência, expressão forte da liberdade na cional, não deixemos de compreender nossa mais evidente dependência de algo que deve unir o Brasil: a absoluta defesa do Estado Democrático de Direito”.
Já discursando na Esplanada, o Presidente da República alfinetou o STF e Fux: “Nós não mais aceitaremos que qualquer autoridade, usando a força do poder, passe por cima da nossa Consituição. Não mais aceitaremos qualquer medida, qualquer ação ou qualquer certeza que venha de fora das quatro linhas da Constituição. Também não podemos continuar aceitando que uma pessoa específica da região dos Três Poderes, continue barbarizando a nossa nação. Não podemos mais aceitar prisões políticas no nosso Brasil. Ou o chefe desse poder enquadra o seu [ministro], ou esse poder pode sofrer aquilo que nós não queremos. Porque nós valorizamos, reconhecemos o valor de cada poder da republica. Aqui na praça dos três poderes, juramos respeitar a Constituição. Quem age for a dela, se enquadra ou pede pra sair.”
Em outro momento, Bolsonaro diz: “Indo para o encerramento, peço que me ouçam hoje por volta das das dezesseis horas lá na Paulista. Como chefe do executivo, seria mais fácil ficar em casa, mas como sempre disse ao longo de toda a minha vida de político, sempre estarei onde o povo estiver”, sendo intensamente ovacionado, e continua, “vou à São Paulo e retorno. Amanhã estarei com o Conselho da República, juntamente com os ministros. Para nós, juntamente com o presidente da Câmara, do Senado e do Supremo Tribunal Federal. Com essa fotografia de vocês, mostrar pra onde nós todos devemos ir.”
Segundo apuração de Vinícius Sassine, repórter da Folha de São Paulo, Bolsonaristas agrediram jovens que consideraram “infiltrados” e foram chamados de “petistas”.
Manifestantes bolsonaristas reunidos em Brasília pedem golpe, fazendo ataques ao Congresso e Supremo Tribunal Federal. No local, comerciantes também aproveitam para vender camisetas, bonés, bandeiras e copos com fotos de Bolsonaro.
O ato no Distrito Federal começou a se esvaziar gradualmente por volta de 12h20.
Pensamentos de direita, pessoas intolerantes, milhares de vidas perdidas por conta de um governo negligente e radical, tudo isso soa muito comum aos nossos ouvidos. Vivemos isso todos os dias, e vivemos isso por um bom tempo. Nada é uma novidade, milhares de pessoas já tinham passado por isso décadas atrás, no que ficou conhecido como Ditadura Militar de 1964.
Em diversos lugares do Brasil, muitas pessoas lutaram pelo país, dentre eles os irmãos Hildete e Sinval Galeão. Residentes de Feira de Santana, na Bahia, os dois sofreram com o governo militar, mas, mesmo assim continuaram fiéis aos seus pensamentos e ideais. Os dois sempre viveram juntos, Hildete sendo a mais velha, sempre cuidou do irmão e sempre foi muito presente em sua vida, tanto que ele a chamava de mãe.
No dia 31 de marco de 1964, o Brasil sofreu um golpe militar, que fez com que diversos pensamentos de direita fossem espalhados pelo país. No período entre 1964 e 1969, um total de dezessete atos institucionais foram emitidos, sendo essa uma das principais formas de dar mais poder para o Executivo, de justificar as ações dos militares e de dar um aparato judicial para legitimar à ditadura. Esses atos deram diversos poderes ao Estado, como por exemplo fazer diversas alterações na constituição e em diversas leis que existiam antes do golpe já não serviam de nada (AI-1), partidos políticos foram extintos (AI-2), e diversas outras coisas.
Podemos dizer que o ato institucional que mais afetou a vida dos irmãos Galeão e de milhares de pessoas, foi o mais conhecido e autoritário de todos, o AI-5, no qual os meios de perseguição e repressão foram ampliados. O militante Sinval sofreu de maneira absurda, foi torturado e os militares conseguiram sumir com ele, como relata sua irmã Hildete “Com os colegas, conseguimos localizar no CPOR o meu irmão, que se encontrava sumido. Foi terrível!!! Ele queimava de febre. Corpo todo de hematomas e feridas expostas. Sua mão direita com alguns dedos sem movimentos e de nada adiantou as cirurgias ao longo do tempo”.
O militante teve que ir para a Europa, uma vez que mesmo depois de solto, continuou a ser perseguido por esse governo assassino. Foi para a antiga União Soviética, onde seu pensamento continuou se alinhar com pensamentos comunistas, e voltando para o Brasil, ajudou a fundar o Partido Comunista Brasileiro (PSB) de Feira de Santana. Sua irmã, afirma que sua volta foi muito difícil “Sinval foi para a Europa pois sabíamos que era um dos que estava destinado a ‘sumir’, como muitos descobertos agora através da Comissão da Verdade. Sua volta foi triste, mas jogou-se com o passar dos anos a estudar e dias e noites mergulhado em livros de história, política e economia, passou a morar comigo em 1974, foi e sempre será meu irmão-filho!”.
O mesmo, após sua volta, também presidiu o PSDB, que cresceu com sua dedicação e competência, após a extinção do PCB na Bahia, candidatou-se a vereador, se formou em economia, sendo orador da turma, na Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), dentre outras conquistas, e uma das principais, pode-se dizer que foi ser o coordenador da Comissão da Verdade, de Feira de Santana, no ano de 2013. Sendo seu último trabalho político.
Esse foi, com certeza, um momento de desespero para toda a família, principalmente por ele não ter sido o único a sofrer da mão dos militares, Hildete Galeão também foi uma vítima, tanto de torturas quanto no seu ambiente de trabalho, que foi fechado pelo governo “[...] Além de pertencer ao grupo de Rádio Amadores prefixada como PY-6-ID, com essa bagagem além de eles sumirem com meu irmão, fecharam nossa estação de rádio e me botaram grávida de 2 meses, da minha segunda filha num camburão e me levaram para o Quartel General”.
O ano já é 2021, e muita coisa mudou, mas o que é notável, é que diversos ideais de extrema direita estão cada vez mais presentes em discursões. Muitas pessoas, principalmente, as que se encontram em posições de privilégio, continuam apoiando movimentos que só trouxeram preocupação e angústia nos outros, essas pessoas disseminam pensamentos que fortalecem ações negativas, como por exemplo apoiar uma nova ditadura militar aqui no Brasil, ou apoiar ideais extremistas, como o neonazismo e neofascismo.
Podemos dizer que essas mesmas pessoas encontram outras em posição de poder, que só reforçam esses posicionamentos. Como por exemplo no nosso país, que no ano de 2018, uma grande parcela da sociedade viu no Presidente Bolsonaro, um reflexo de suas próprias convicções e princípios, assim botando para fora tudo o que sempre acreditaram.
Desde que foi eleito, o presidente da república disseminou palavras de ódio, teve diversas atitudes racistas e homofóbicas, e ainda tem o descaso e desrespeito de não esconder seu saudosismo ao golpe de 1964 e às atitudes absurdas dos militares. Como em 2016, que durante a votação pelo impeachment da ex-presidenta Dilma Rousseff (PT), prestou homenagem ao Coronel Ustra, dizendo "Pela memória do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, o pavor de Dilma Rousseff”. Após esse terrível episódio, Bolsonaro ironizou torturas e ainda duvidou do que realmente aconteceu, e nos trouxe ao terror que o povo brasileiro está vivendo atualmente com a pandemia do COVID-19, fazendo com que o país atingisse a marca de 500.000 mortos no dia 19 de junho, por uma doença que já tem vacina. Um genocida no poder e milhões de apoiadores, nunca traria um resultado diferente do que vemos.
Sinval Galeão, faleceu em 2017, mas com tudo que construiu em sua vida ainda é referência para diversas pessoas que o conheceram, sendo uma pessoa admirada por todos, ele não deixou seus ideais de lado, não esquecendo de quem ele era e tudo que passou. Seu querido amigo Riva Costa, que é professor de história, se inspira muito no militante.
“Falar sobre Sinval, é fácil e apesar de ele ter sido sempre uma pessoa muito reservada, ele sempre conversava comigo, e o que sempre me admirou em nele foi essa simplicidade dele de fazer política, de ver no outro uma pessoa que precisa, ver no outro uma demanda, e esse legado que ele deixa, pelo menos para mim. Lembrando que ele foi perseguido, foi para a União Soviética, ele foi imprensado, literalmente falando, numa prensa de fumo e não deixou de lado os sues ideais e manteve a defesa do que ele achava que era certo”, diz ele.
O militante recebeu diversas homenagens ainda em vida, no entanto a que mais o marcou ocorreu no dia 8 de maio de 2008, quando foi homenageado pela Câmara Municipal de Feira de Santana, com a comenda Cidadão Benemérito da Liberdade e da Justiça Social Deputado Francisco Pinto. Em seu discurso, continuou mostrando tudo que acreditava e toda sua trajetória política, desde criança. “Agradeço a essa casa e a todos que aqui estão pela prova de apoio e reconhecimento de meu trabalho. Mas, gostaria de registrar aqui e agora, que essa homenagem não foi só a mim, e sim a um ideal, a uma ideologia. Por isso quero estendê-la a todos companheiros com quem convivi e que não estão mais entre nós”, disse ele.
Nesse dia, ainda disse que sabe que não envergou a si mesmo, e que não envergonhou sua família. Tio, gostaria que soubesse o quanto nos dá orgulho, e digo isso no presente, porque o senhor pode não estar aqui fisicamente, mas seu legado e seus ensinamentos estarão eternamente conosco, o senhor é nossa maior inspiração em diversas pautas, então obrigada por ter sido esse ser iluminado que fez tudo que podia pelo povo brasileiro. Como seu querido amigo, Domingos Leonelli, publicou “Ele [Sinval] vai encontrar Hozannah e Chico Pinto e se transformar em mais uma estrela vermelha a iluminar o caminho da revolução na escuridão da noite”.
Obrigada por tudo.
Nas últimas semanas o Brasil foi tomado por manifestações contra o governo federal em tom de indignação com diversas situações provocadas pelo governo Bolsonaro como a falta de vacinas, demarcação de terras indígenas, aumento do desemprego, aumento da fome entre outras pautas todas com o mesmo teor pedindo um basta a isso e pedindo o impeachment do atual presidente. Mas um fato marcou mais as manifestações, a cobertura da mídia.
Às manifestações do dia 29 de maio de 2020 foram praticamente apagadas da grande mídia com medo de um teor partidário e até de endossar repuldio ao atual governo, foram poucos os jornais e veículos que deram o destaque devido as manifestações, alguns nem capa deram e outros como o Jornal Nacional só foram dar destaque dois dias depois na segunda-feira dia 1 de junho.
Após essas decisões tomadas pelos telejornais brasileiros e pelos jornais de grande porte do país, que criaram essa insatisfação no povo, decidimos fazer uma pequena entrevista com o professor de Fundamentos Éticos do Jornalismo na PUC-SP, Marcos Luiz Cripa, trazendo perguntas sobre o papel da grande imprensa diante dessas manifestações:
Qual o principal motivo do apagão das mídias no dia 29 de maio?
Se você se refere especificamente à chamada “Grande Imprensa”, não vejo que tenha havido apagão. Historicamente a mídia oferece pouca ou nenhuma cobertura quando se trata de manifestações populares; aquelas que nascem diretamente dos movimentos sociais, como aconteceu em 29 de maio deste ano. Na década de 1980, parte dessa mesma imprensa ignorou por um período a existência do movimento conhecido como “Diretas Já”, que mobilizava milhares de pessoas em comícios nas principais capitais brasileiras. Em São Paulo, em 25 de janeiro de 1982, a TV Globo informou que 300 mil pessoas estiveram na Praça da Sé para “comemorar o aniversário de São Paulo”. Ou seja, negou o fato de existir manifestação em defesa de eleições diretas para presidente. Ocultar o fato ou informação é manipular a cobertura. O que aconteceu em 29 de maio, foi a tentativa de esconder um fato amplamente divulgado nas redes sociais.
Você acredita que existe diferença entre coberturas pró governo e contra governo?
O que tenho observado, principalmente nos telejornais das TVs Record, SBT e RedeTV, é a tentativa de negar ou dar pouca repercussão a fatos que prejudiquem a imagem do presidente Jair Bolsonaro. Ora reduzindo o espaço da notícia ora sequer dando a notícia. São comportamentos de emissoras alinhadas com o governo federal.
Qual o perigo de não se dar o devido destaque as manifestações?
O perigo mais aparente é o de atentar contra a democracia. Negar informação a leitores, telespectadores e radiouvintes não é o papel de uma mídia responsável e ética. Barbosa Lima Sobrinho, jornalista e ex-presidente da ABI (Associação Brasileira de Imprensa), afirmou certa vez que, o papel da imprensa é o de estar ao lado do povo.
Contudo, é possível perceber que essa tentativa de negar as notícias ou dar pouca repercussão, como disse Cripa, tem circunstâncias que podem ajudar a imagem de Jair Bolsonaro, tudo por conta dos alinhamentos das emissoras com o governo federal. Isso acaba afetando na luta contra o atual governo e repercutindo na quantidade de mortes por conta do vírus, e isso pode ser confirmado com a péssima notícia que o país recebeu neste domingo (20) de que chegamos aos 500 mil mortos e não temos ideia de onde isso pode acabar.
Após toda a situação que aconteceu e de muitas críticas voltadas para os jornais e telejornais, foi possível perceber a mudança de postura de alguns. Como exemplo separamos a capa do jornal O Estado de São Paulo, em que a esquerda seria no dia 30 de maio de 2021 e a da direita no dia 20 de junho:
Outro exemplo de mudança de comportamento pôde ser notado no Jornal O Globo, com as capas feitas nos dias 30 de maio (esquerda) e outra no em 30 de junho (direita):
Mudanças notórias na forma de noticiar tais atos, mudanças benignas, porém que não deveriam ter sido necessárias. O papel fundamental da grande mídia é informar o seu povo e isso é um contrato ético social, vai além de qualquer convicção política ou incentivo monetário. No momento em que o povo não tem noção da gravidade de sua situação ou muito menos tem conhecimento dos processos antropológicos e sociológicos que ocorrem na sociedade, a mídia se transforma não mais em um intermédio, mas sim em um órgão manipulador de verdades e vidas. A mudança só vem quando precisamos melhorar, e não noticiar as manifestações do dia 29 foi um erro mais que grave, não deveria ter ocorrido e que não se repita; que a ética reine sob a imprensa brasileira e que seu povo fique bem informado.