Movimento apresenta mais de 1 milhão de assinaturas para a União Europeia
por
Thomas Fernandez
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22/09/2025 - 12h

 

O movimento “Stop Killing Game” criado por Ross Scott, do canal Accursed Farms, apresentou em 2025 mais de 1 milhão de assinaturas à União Europeia para exigir medidas que impeçam a remoção e desligamento de jogos digitais. A preservação é definida como um conjunto de ações voltado a manter a integridade de bens, documentos ou pessoas, tendo museus e centros históricos como instituições dedicadas a essa tarefa. 

No campo do entretenimento, os videogames se destacam como a indústria que mais cresce desde a década de 1950. Apesar do seu impacto econômico e cultural, eles recebem atenção limitada em políticas e práticas de preservação, diferente de outras formas de arte, como cinema, televisão e literatura. 

Devido a inacessibilidade de jogos comprados por consumidores, a proposta do movimento é simples, mas poderosa: proteger os consumidores e preservar os videogames, trazendo as práticas recorrentes de empresas que fecham os servidores ou retiram os jogos do mercado digital, apagando não apenas produtos, mas também capítulos de história cultural dos videogames.

Foto do criador do movimento, Stop Killing Games, Ross Scott
Ross Scott, criador do movimento Stop Killing Games.  Foto: REPRODUÇÃO/YOUTUBE Accursed Farms
 

A iniciativa se transformou em “Stop Destroying Videogames”, utilizando a Iniciativa de Cidadania Europeia, uma ferramenta disponível para cidadãos da União Europeia para levarem questões diretamente ao parlamento europeu. A petição foi registrada em junho do ano passado e começou a coletar assinaturas no dia 31 de julho de 2024. No mesmo dia, Scott, soltou um vídeo com o título "Europeans can save gaming!", que compartilha sobre como o movimento pode levar a criação de lei com um número alto de assinaturas e apoiadores. 

Ele destaca que a criação da lei não era uma certeza, entretanto, apontava que existem fatores, como: o alinhamento com outras políticas para consumidores e indefinições jurídicas nas práticas no meio dos games. Esses pontos reforçam que o sucesso está no futuro do movimento. Depois de alcançar 1 milhão de assinantes e realizar uma vistoria -  para desconsiderar menores de idade, duplicidades e pessoas fora da UE - a petição apresentou 97% de validação das assinaturas.

A preocupação é  quando um jogo é removido das lojas digitais ou tem os serviços online desligados, pois deixa de ser acessível para futuras gerações de gamers. Um dos casos mais conhecidos foi do “Project CARS 3”, lançado em 2020. O produto foi retirado de circulação para venda e fecharam os servidores, tornando-se praticamente inacessível. 

O mesmo ocorre com títulos de grandes estúdios como Ubisoft e EA, sendo uma tendência que preocupa colecionadores, consumidores e fãs. Diferente de filmes, livros e músicas, que possuem mais facilidade para sua preservação, os games dependem de vários fatores: chaves digitais, servidores e licenciamento contínuo para existir. Para isso, a preservação não exige somente de vontade cultural, mas também mudanças legais e regulatórias.

No Brasil, esse debate começou a ganhar relevância em 2024, com a aprovação do Marco Legal da Indústria de Jogos Eletrônicos (Lei nº 14.852/2024). Embora a lei tenha o intuito de incentivar o crescimento do setor no país e atrair investidores, ela também abre espaço para a reflexão sobre o ciclo de vida dos jogos e sua preservação como patrimônio cultural. A luta pela proteção e cuidados dos videogames não é apenas dos jogadores nostálgicos, mas também uma questão cultural e de direito de acesso.

O “Stop Killing Games” mostra que, diante da lógica do mercado, há fãs dispostos a lutar para que os jogos não desapareçam.Se no passado os museus se dedicaram a guardar fósseis, manuscritos e obras de arte, o futuro terá que olhar também para os consoles, cartuchos e CDs. Porque, como lembra o movimento, “ao desligar um jogo, não se mata apenas um software, se apaga uma parte da história”.

 

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Minimalismo, funcionalidade e inovação refletem mudanças econômicas e sociais
por
Luana Marinho
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18/09/2025 - 12h

A moda, frequentemente apontada como um espelho dos tempos, volta seus olhos para tempos de escassez. Em meio à instabilidade econômica global, marcada por inflação persistente e crises políticas ao redor do mundo, ganha força o chamado “Recessioncore” (estética da recessão), que traduz, de forma visual, a precariedade e o desânimo de uma geração.

“Quando falamos de recessões, de crises econômicas, dá para ver esse reflexo diretamente na moda. Hoje, vivemos uma grande incerteza econômica, e muitas marcas de luxo começaram a lançar campanhas desperdiçando comida, baguetes sendo amassadas, frutas jogadas no chão da feira, alimentos destruídos”, afirma Audry Mary, especialista em marketing de moda e influenciadora digital. “É uma forma de comunicação: enquanto a base está sofrendo com a falta, quem consome a marca pode esbanjar. E isso é extremamente político”, acrescenta Audry.

Se nos anos de crescimento econômico os desfiles explodem em cores vibrantes, brilhos e ostentação, em momentos de incerteza o figurino muda: tons neutros, silhuetas sóbrias e peças utilitárias assumem o protagonismo. É o que se vê agora com a ascensão da estética “clean girl”, termo popularizado no TikTok e em outras redes sociais que descreve um estilo minimalista, com peças básicas, cores neutras e cortes discretos 

"Elas são mais acessíveis, carregam pouca informação de moda e seguem um estilo mais recatado, mais doméstico”, diz Audry sobre as roupas identificadas com o estilo. “É conservador, e as marcas estão apostando muito nisso”, explica.

Segundo a especialista, a estética “clean girl” não surge isoladamente: é resultado direto de um contexto econômico instável, no qual o crescimento do "quiet luxury" (luxo silencioso) e de coleções minimalistas indica que as marcas buscam transmitir segurança e sobriedade. Historicamente, períodos de recessão geraram mudanças semelhantes. Durante a Grande Depressão, cortes retos e tecidos duráveis se tornaram padrão, enquanto a crise de 2008 reforçou o consumo de fast fashion e peças de baixo custo, ainda que de qualidade inferior.

O impacto econômico também se reflete no crescimento do mercado de roupas de segunda mão, que se tornou um indicativo claro das mudanças no comportamento de consumo. Nos Estados Unidos, o mercado de moda de segunda mão alcançou US$ 50 bilhões em 2024, com projeção de crescimento para US$ 73 bilhões até 2028, impulsionado principalmente por millennials e pela geração Z, nascidos entre 1981 e 2010, que buscam alternativas mais acessíveis e responsáveis. Esse movimento transforma o mercado de segunda mão em uma tendência não apenas econômica, mas também cultural, refletindo valores de sustentabilidade e consumo consciente.

No Brasil, a ascensão dos brechós segue a mesma lógica: adaptação à crise econômica, respeito às prioridades financeiras e resposta às incertezas sociais. Segundo dados do Sebrae, o país contava com mais de 118 mil brechós ativos em 2023, representando um aumento de 30,97% em relação aos cinco anos anteriores. Além disso, o mercado de brechós no Brasil deve movimentar cerca de R$ 24 bilhões até 2025, superando o mercado de “fast fashion” até 2030, conforme projeções da Folha de São Paulo.

O crescimento do mercado de brechós também é impulsionado por plataformas digitais. O Enjoei, com mais de 1 milhão de compradores e 2 milhões de vendedores ativos, abriu recentemente sua primeira loja física no Rio de Janeiro e adquiriu a Gringa, plataforma de revenda de artigos de luxo de segunda mão, por R$ 14 milhões, evidenciando a demanda crescente por itens de alto valor.

Esse movimento também pressiona a indústria tradicional, que já responde com novas estratégias. O aumento dos custos de produção deve acelerar o uso de matérias-primas alternativas, como tecidos reciclados e fibras de origem vegetal, além de experimentos com couro vegetal e biotêxteis. Ao mesmo tempo, cresce a exigência por transparência nas cadeias de produção: passaportes digitais de produtos, rastreabilidade de origem e relatórios de impacto ambiental podem deixar de ser tendência para se tornar padrão da indústria.

Olhando para o futuro, a moda deve consolidar caminhos cada vez mais funcionais, atendendo à demanda de consumidores impactados pela instabilidade econômica, que priorizam praticidade e durabilidade. Segundo Audry, essa tendência deve se intensificar. “Acredito que vamos ver cada vez mais peças utilitárias, roupas multiuso e tecidos resistentes ganhando protagonismo, porque o consumidor está buscando longevidade e funcionalidade em tudo o que veste”, afirma.

O minimalismo, já consolidado, deve permanecer central, mas com variações sutis. “Minha aposta é que tons terrosos, cortes amplos e peças que permitam personalização vão se tornar ainda mais comuns, enquanto pequenos revivals dos anos 2000 e 2010 reinterpretam itens básicos para novas gerações”, diz a influenciadora, que também projeta expansão de modelos híbridos, que combinam venda de peças novas, revenda, aluguel e customização, fortalecendo a economia circular como resposta prática às restrições financeiras. 

A tecnologia surge ainda como aliada estratégica, com inteligência artificial e provadores digitais ajudando marcas a reduzir desperdícios e aproximar consumidor e produto. “A inovação permite que a indústria transforme limitações econômicas em oportunidades criativas”, conclui Audry, reforçando que, para o futuro, a moda funcionará como um laboratório de soluções, mais do que apenas reflexo de crise.

 

 

 

Profissionais da área relatam dificuldade de valorização, ausência de políticas públicas e dependência do mercado internacional para manter a carreira
por
Fernanda Dias
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18/09/2025 - 12h

A escultura no Brasil ainda é um campo pouco explorado e com inúmeros desafios, como a falta de políticas públicas, a ausência de incentivo cultural e um universo ainda limitado de pessoas dispostas a investir em arte no país. Para manter a profissão viva, muitos artistas recorrem ao mercado internacional e às redes sociais como alternativa de divulgação.

No cenário brasileiro, a escultura não ocupa o mesmo espaço que outras linguagens artísticas, como a música ou as artes visuais mais populares. O escultor Rick Fernandes, que atua na área desde a década de 1990, observa que a profissão ainda carece de reconhecimento cultural. “O brasileiro não tem a mesma tradição que americanos e europeus em colecionar arte. Muitas vezes, as prioridades econômicas acabam afastando o público”, afirma.

Esse distanciamento é agravado pela falta de políticas voltadas à categoria. Projetos de incentivo que poderiam estimular a prática da escultura em escolas ou em comunidades raramente são aprovados. Fernandes relembra tentativas frustradas em 2015 e 2023 de levar oficinas para jovens da periferia e para pessoas com deficiência. “Os incentivos, em sua maioria, estão voltados para música e grandes eventos. Nichos como a escultura ficam esquecidos”, critica.

   Rick Fernandes produzindo sua peça - foto: https://www.rfstudiofx.com/


                    Rick Fernandes produzindo sua peça - foto: https://www.rfstudiofx.com/

No mercado, outro obstáculo é a dificuldade de concorrer com produtos industrializados ou importados. Segundo Fernandes isso faz que muitos escultores direcionem suas obras ao exterior, onde encontram colecionadores e compradores mais fiéis. O artista calcula que cerca de 80% de suas encomendas vêm de fora do Brasil. Mesmo com a popularização de novas tecnologias, como impressoras 3D, ele destaca que há demanda para trabalhos exclusivos, o que mantém a escultura tradicional relevante.

As redes sociais têm sido fundamentais para reduzir a distância entre artistas e público. Plataformas como o Instagram permitem que escultores apresentem seus portfólios, encontrem clientes e troquem experiências em comunidades digitais. “Muitos dos meus contatos surgiram através da rede. É uma vitrine essencial para quem vive da arte”, ressalta o escultor.

Além do mercado e do incentivo, a valorização da escultura ainda depende de uma mudança de percepção social sobre o trabalho manual e artístico. Para Fernandes, investir na formação desde cedo é o caminho. “Campanhas nas escolas de ensino fundamental poderiam fazer a diferença. As crianças têm fome de aprender coisas novas e a escultura poderia ser mais explorada nesse ambiente”, defende.

Apesar das dificuldades, Fernandes garante que nunca pensou em desistir, movido por “amor e diversão”. Além de manter o estúdio, ele atua como professor. Nem todos tiveram a mesma sorte. A artista Júlia Dias, por exemplo, faz esculturas desde 2006, mas até hoje não tem uma base fixa de clientes, vivendo em meio à instabilidade de demandas que atinge grande parte dos escultores.

O campo da escultura se divide em diferentes níveis de atuação. Enquanto alguns artistas trabalham com peças decorativas ou personalizadas para ocasiões como aniversários e eventos, outros produzem obras direcionadas a colecionadores e galerias. Essa variedade mostra como a atividade é ampla, mas também deixa claro que nem tudo recebe o mesmo valor: trabalhos voltados ao mercado de luxo encontram maior reconhecimento e retorno financeiro, enquanto produções mais populares ainda lutam por espaço e estabilidade.

Outro desafio está ligado ao custo e ao acesso a materiais de qualidade. Fernandes explica que utiliza plastilina para modelagem, moldes de silicone para a finalização e resina de poliestone para as peças finais, com acabamento em aerógrafo e pincel. Segundo ele, os materiais nacionais apresentam bom custo-benefício e já não ficam atrás dos importados. Ainda assim, os gastos para manter a produção podem ser elevados, principalmente para quem não conta com retorno constante do mercado.

Apesar de não existirem editais exclusivos para escultores no Brasil, a categoria pode concorrer em programas de incentivo mais amplos voltados às artes visuais e à cultura. Iniciativas como os editais da Funarte (Fundação Nacional de Artes, do governo federal), o ProAC (Programa de Ação Cultural, mantido pelo governo de São Paulo)  e leis de incentivo fiscal possibilitam que projetos de escultura recebam apoio. No entanto, a concorrência é acirrada e a escultura segue como um nicho pouco contemplado, o que reforça a sensação de invisibilidade entre os artistas da área.

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Último final de semana do evento ficou marcado por performances que misturaram passado, presente e futuro
por
Jessica Castro
Vítor Nhoatto
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16/09/2025 - 12h

A segunda edição do festival The Town se despediu de São Paulo com um resultado positivo e bastante barulho. Durante os dias 12, 13 e 14 de setembro, pisaram nos palcos do Autódromo de Interlagos nomes como Backstreet Boys, Mariah Carey, Ivete Sangalo e Katy Perry.

Realizado a cada dois anos em alternância ao irmão consolidado Rock In Rio, é organizado também pela Rock World, da família do empresário Gabriel Medina. Sua primeira realização foi em 2023, em uma aposta de tornar a cidade da música paulista, e preencher o intervalo de um ano do concorrente Lollapalooza.

Mais uma vez em setembro, grandes nomes do cenário nacional e internacional atraíram 420 mil pessoas durante cinco dias divididos em dois finais de semana. O número é menor que o da estreia, com 500 mil espectadores, mas ainda de acordo com a organizadora do evento, o impacto na cidade aumentou. Foram movimentados R$2,2 bilhões, aumento de 21% segundo estudo da Fundação Getulio Vargas (FGV).

Após um primeiro final de semana marcado por uma apresentação imponente do rapper Travis Scott no sábado (6), único dia com ingressos esgotados, e um domingo (7) energético com o rock do Green Day, foi a vez do pop invadir a zona sul da capital. 

Os portões seguiram abrindo ao meio dia, tal qual o serviço de transporte expresso do festival. Além disso, as opções variadas de alimentação, com opções vegetarianas e veganas, banheiros bem sinalizados e muitas ativações dos patrocinadores foram pontos positivos. No entanto, a distância entre o palco secundário (The One) e o principal (Skyline), além da inclinação do terreno no último, continuaram provocando críticas.

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Segundo estudo da FGV, 177 mil litros de chope e 106 mil hambúrgueres foram consumidos nos 5 dias de evento - Foto: Live Marketing News / Reprodução

Sexta-feira (12)

Jason Derulo animou o público na noite de sexta com um espetáculo cheio de energia e coreografias impactantes. Em meio a hits como “Talk Dirty”, “Wiggle” e “Want to Want Me”, o cantor mesclou pop e R&B destacando sua potência vocal, além de entregar muito carisma e sensualidade durante a apresentação.

A noite, aquecida por Derulo, ganhou clima nostálgico com os Backstreet Boys, que transformaram o palco em uma viagem ao auge dos anos 90. Ao som de clássicos como “I Want It That Way” e “As Long As You Love Me”, a plateia virou um grande coral emocionado, enquanto as coreografias reforçavam a identidade da boyband. Três décadas depois, o grupo mostrou que ainda sabe comandar multidões com carisma e sintonia.

Com novo visual, Luísa Sonza enfrentou o frio paulista com um figurino ousado e um show cheio de atitude no Palco The One. Além dos próprios sucessos que a consagraram no pop, a cantora surpreendeu ao incluir releituras de clássicos da música brasileira, indo de “Louras Geladas”, do RPM, a uma homenagem emocionante a Rita Lee com “Amor e Sexo”. A mistura de hits atuais, performances coreografadas e referências à MPB agitou a platéia.

E completando a presença de potências nacionais, Pedro Sampaio fez uma apresentação histórica para o público e para si, alegando que gastou milhões para tudo acontecer. A banda Jota Quest acalentou corações nostálgicos, e nomes em ascensão no cenário do funk e rap como Duquesa e Keyblack agitaram a platéia. 

Sábado (13)

No sábado (13), o festival reuniu diferentes gerações da música, com encontros que alternaram festa, emoção e mais nostalgia. Ivete Sangalo levou a energia de um carnaval baiano para o The Town. Colorida, divertida e sempre próxima da multidão, fez do show uma festa ao ar livre, com direito a roda de samba e participação surpresa de ritmistas que incendiaram ainda mais a apresentação. O repertório, que atravessa gerações, transformou a noite em um daqueles encontros em que ninguém consegue ficar parado.

Mais íntimo e afetivo, Lionel Richie trouxe outro clima para a noite fria da cidade da música. Quando sentou ao piano para entoar “Hello”, parecia que o festival inteiro tinha parado para ouvi-lo. A emoção foi tanta que, dois dias depois, o cantor usou as redes sociais para agradecer pelo carinho recebido em São Paulo, declarando que ainda sentia o amor do público brasileiro.

A diva Mariah Carey apostou no glamour e em seu repertório de baladas imortais. A performance, embora marcada por certa distância, encontrou momentos de brilho quando dedicou uma música ao público brasileiro, gesto que foi recebido com emoção. Hits como “Hero” e “We Belong Together” reafirmaram o status da cantora como uma das maiores vozes do pop mundial.

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Vestindo as cores do Brasil, Mariah manteve seu estilo pleno, o que não foi positivo dessa vez - Foto: Ellen Artie

O festival também abriu espaço para outras vozes marcantes. Jessie J emocionou em um show acústico intimista, feito apesar de estar em tratamento contra um câncer de mama — e que acabou sendo o único da cantora na América do Sul após o cancelamento das demais datas na América do Norte e Europa. 

Glória Groove incendiou o público com sua potência performática e visual, enquanto Criolo trouxe poesia afiada e versos de impacto, lembrando a força política do rap. MC Livinho levou o funk a outro patamar e anunciou seu novo projeto de carreira em R&B. Péricles encerrou sua participação em clima caloroso de roda de samba, onde cada espectador parecia parte de um grande encontro entre amigos.

Domingo (14)

Com Joelma, o The Town se transformou em um baile popular de cores, brilhos e danças frenéticas. A cantora revisitou sucessos da época da banda Calypso e apresentou a força de sua carreira solo, mas também abriu espaço para artistas nortistas como Dona Onete, Gaby Amarantos e Zaynara. 

O gesto deu visibilidade a uma cena muitas vezes esquecida nos grandes festivais e reforçou sua identidade como representante da cultura amazônica. Com plateia recheada, a artista mostrou que a demanda é alta.

No início da noite, em um horário um pouco melhor que sua última apresentação no Rock In Rio, Ludmilla mobilizou milhares de pessoas no palco secundário. Atravessando hits de sua carreira como “Favela Chegou”, “É Hoje” e sucessos do Numanice, entregou presença de palco e coreografias sensuais. A carioca também surpreendeu a todos com a aparição da cantora estadunidense Victória Monet para a parceria “Cam Girl”.

Sem atrasos, às 20:30, foi a vez então de Camila Cabello levar ao palco o último show da C,XOXO tour. A performance da cubana foi marcada pelo seu carisma e declarações em português como “eu te amo Brasil” e “tenho uma relação muito especial com o Brasil [...] me sinto meio brasileira”. Hits do início de sua carreira solo animaram, como “Bad Kind Of Butterflies” e “Never Be The Same”, além de quase todas as faixas do seu último álbum de 2024, que dá nome à turnê, como “HE KNOWS” e “I LUV IT”. 

A performance potente e animada, que mesclou reggaeton e eletrônica, ainda contou com o funk “Tubarão Te Amo” e uma versão acapella de “Ai Se Eu Te Pego” de Michel Teló. Seguindo, logo após “Señorita”, parceria com o seu ex-namorado, Shawn Mendes, ela cantou “Bam Bam”, brincando com a plateia que aquela canção era para se livrar das pessoas negativas. Vestindo uma camiseta do Brasil e com uma bandeira, encerrou o show de uma hora e meia com “Havana”.

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Com coreografia, grande estrutura metálica e vocais potentes, Camila entregou um show de diva pop - Foto: Taba Querino / Estadão

Para encerrar o festival, Katy Perry trouxe espetáculo em grande escala, mas não deixou faltar momentos de intimidade. A apresentação iniciada pontualmente às 23h15 teve direito a pirotecnias, muitos efeitos especiais e um discurso emocionante da cantora sobre a importância de trazer sua turnê para a América do Sul. 

Em meio a cenários lúdicos, trocas de figurino e um repertório recheado de hits, Katy Perry chamou o fã André Bitencourt ao palco para cantarem juntos “The One That Got Away”, o que levou o público ao delírio. O show integrou a turnê The Lifetimes World Tour, e deixou a impressão de que a artista fez questão de entregar em São Paulo um dos capítulos mais completos dessa jornada.

No último dia, outros públicos foram contemplados também, com o colombiano J Balvin, dono de hits como “Mi Gente”, e uma atmosfera poderosa com IZA de cleópatra ocupando o palco principal no início da tarde. Dennis DJ agitou com funk no palco The One e, completando a proposta do festival de dar espaço a todos os ritmos e artistas, Belo e a Orquestra Sinfônica Heliópolis marcaram presença no palco Quebrada. 

A cidade da música em solo paulista entregou o que prometia, grandes estruturas e um line up potente, mas ainda segue construindo sua identidade e se aperfeiçoando. A terceira edição já foi inclusive confirmada para 2027 pelo prefeito Ricardo Nunes e a vice-presidente da Rock World, Roberta Medina em coletiva na segunda-feira (15).

Festival reúne multidões, entrega shows históricos e consagra marco na cena musical brasileira
por
Khadijah Calil
Lais Romagnoli
Yasmin Solon
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10/09/2025 - 12h

Com mais de 100 mil pessoas por dia, o The Town estreou no último fim de semana, 6 e 7 de setembro, no Autódromo de Interlagos, em São Paulo.

Travis Scott encerrou o sábado (6) no palco Skyline com um show eletrizante, enquanto Lauryn Hill emocionava fãs no palco The One ao lado dos filhos YG e Zion Marley. No domingo (7), os destaques ficaram por conta de Green Day e Iggy Pop, além de apresentações de Bad Religion, Capital Inicial e CPM 22.

O festival retoma a programação nos dias 12, 13 e 14 de setembro, com shows de Backstreet Boys, Mariah Carey, Lionel Richie e Katy Perry.

“The Flight”: o balé aéreo que surpreendeu no The Town. Foto: Khadijah Calil
“The Flight”: o balé aéreo que surpreendeu no The Town. Foto: Khadijah Calil 
Fãs aguardam o início dos shows no gramado do Autódromo de Interlagos. Foto: Khadijah Calil
Fãs aguardam o início dos shows no gramado do Autódromo de Interlagos. Foto: Khadijah Calil 
Espalhados pelo Autódromo de Interlagos, brinquedos e atrações visuais oferecem ao público momentos de lazer entre os shows. Foto: Khadijah Calil
Espalhados pelo Autódromo de Interlagos, brinquedos e atrações visuais oferecem ao público momentos de lazer entre os shows. Foto: Khadijah Calil 
Capital Inicial leva o rock nacional ao palco Factory, na abertura do segundo dia. Foto: Khadijah Calil
Palco Factory, que recebeu o Capital Inicial na abertura do segundo dia. Foto: Khadijah Calil 
Palco Skyline iluminado durante o show de encerramento do sábado (6). Foto: Lais Romagnoli
Palco Skyline iluminado durante o show de encerramento do sábado (6). Foto: Lais Romagnoli
Iluminação e cenografia transformam Interlagos durante a primeira edição do festival. Foto: Lais Romagnoli
Iluminação e cenografia transformam Interlagos durante a primeira edição do festival. Foto: Lais Romagnoli
Matuê leva o trap nacional ao palco The One no primeiro dia de festival. Foto: Yasmin Solon
Matuê leva o trap nacional ao palco The One no primeiro dia de festival. Foto: Yasmin Solon
Público lota a Cidade da Música durante o primeiro fim de semana do The Town. Foto: Yasmin Solon
Público lota a Cidade da Música durante o primeiro fim de semana do The Town. Foto: Yasmin Solon

 

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Especialista analisa como raízes históricas reverberam até hoje e quais desafios precisam ser enfrentados
por
Maria Claudia Sampaio
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10/06/2025 - 12h

A democratização da cultura no território brasileiro, enfrenta desafios devido barreiras econômicas e à falta de incentivo. Muitos não têm a oportunidade de frequentar eventos culturais em virtude dos preços elevados. Para mudar essa realidade, iniciativas buscam ampliar as oportunidades, garantindo que a arte e o entretenimento sejam viáveis a todos, pois a cultura deve ser um direito, não um privilégio.  

Para abordar esse tema, é fundamental considerar o contexto histórico. A África do Sul, dos anos 1948 e 1994, foi marcada por um período muito triste da história do país: o apartheid — um sistema de segregação racial com o objetivo de garantir privilégios aos brancos, excluindo a população negra dos direitos civis, políticos e sociais — criado durante o governo de Daniel François.  

Conforme matéria intitulada “Entenda o que foi o regime racista do apartheid e como ele foi derrubado”, publicada em 26/12/2021 por France Presse no site G1. “Quase todo território (87%) era reservado aos brancos. Cerca de 3,5 milhões de pessoas foram expulsas à força, e os negros, relegados às 'townships', cidades-dormitório, e 'bantustões', reservas étnicas.”  

Nelson Mandela se tornou um dos principais símbolos de resistência e ficou 27 anos preso. Em 1990, o governo de Frederik Willem de Klerk, iniciou o processo de encerramento dessa política, e em 1994, Mandela foi eleito o primeiro presidente negro da África do Sul, marcando o fim do regime, e de acordo com a matéria citada acima Mandela disse: “Finalmente livres.”  

A advogada, professora e Doutora em Direitos Humanos pela PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo), Lucineia Rosa dos Santos explana a respeito: “Quando estive na África do Sul para a Oitava Conferência de Mulheres Negras Ativistas do Mundo, na época de Mandela em 1998, considerando o final do apartheid em 1994, ainda era muito recente a questão da segregação. Nos encontros, discutíamos a questão de um apartheid institucional, por um critério racial, dentro de um país do próprio sul-africano negro.”  

Essa reunião fez Santos refletir sobre o Brasil. “Imediatamente, voltei minha mente para o Brasil, em 1998, havia um apartheid social com um viés racial. Me questionei quais eram as condições da população pobre, que mora nas regiões mais afastadas, periféricas, quais as opções de acesso à cultura e uma educação igualitária?”.  

Embora a separação entre brancos e negros não seja oficial no Brasil, essa desigualdade dificulta o acesso à educação, ao emprego e à cultura, afetando a vida de muitas pessoas até hoje. “Atualmente há uma grande exclusão. Quando se fala em cultura falamos sobre Direitos Humanos. Seguindo a máxima de Paulo Freire: ‘a educação nos liberta, mas a cultura nos salva’ e onde não há cultura, teremos a violência”, diz a Doutora.  

O Apartheid Social ou Cultural, refere-se a exclusão sistemática de determinados grupos sociais à movimentos artísticos. Essa divisão acontece por diversos motivos como: a falta de políticas públicas para que a população de baixa renda tenha acesso à shows e eventos culturais, a desigualdade econômica e a localidade dos eventos que em sua maioria acontecem em bairros considerados elitizados.  

Ao pensarmos em eventos culturais no Brasil, associamos a uma precificação superfaturada e inacessibilidade aos ingressos.  

Além disso, existe a problemática acerca dos cambistas, que compram uma grande quantidade de ingressos revendendo a preços exorbitantes. “Já é caríssimo um show! Você pega um grupo de seis pessoas que compram todos os ingressos, revendem num valor mais alto aos olhos de quem deveria coibir”. Ela comenta que uma forma de minimizar essa questão é a compra controlada por número de CPF (Cadastro de Pessoa Física).  

Frente à exclusão cultural, é essencial a criação e manutenção de políticas públicas que promovam o acesso democrático à arte e ao entretenimento. Diversos programas buscam atender essa demanda, como o CEU (Centro Educacional Unificado), com 58 unidades ativas em São Paulo, e oferece atividades culturais e esportivas, beneficiando cerca de 2 milhões de pessoas por ano em regiões periféricas; o Vale Cultura, criado pela Lei nº 12.761/2012, chegou a atender mais de 400 mil trabalhadores com R$ 50 mensais por benefício, permitindo o consumo de produtos e eventos culturais; o Bolsa Família, que apoia mais de 21 milhões de famílias e contribui para a superação da pobreza; e o Bolsa Esporte, com mais de 6 mil beneficiários em 2024, um dos programas de maior patrocínio individual do mundo, com bolsas entre R$ 370 e R$ 15 mil, voltado para atletas de alto rendimento. Essas iniciativas, precisam ser ampliadas e articuladas entre sociedade civil, universidades e entidades como a CUFA (Central Única das Favelas), presente em mais de 17 estados, para garantir que os Direitos Humanos sejam efetivamente promovidos por meio da cultura.   

A professora Santos encerra sua análise com preocupação de futuro com as próximas gerações. "A sociedade civil precisa atuar dentro do papel universitário, indo além dos muros acadêmicos. É necessário um trabalho contínuo com a população, já que estamos falando de cultura. Devemos pensar em como a sociedade pode manter políticas de gestão cultural e de que forma as Instituições Acadêmicas podem se unir em torno desse tema. Temos a CUFA e diversas outras entidades, que poderiam formar uma rede para tornar a cultura acessível a todos.”  

 

Mesa com livros em cima

O conteúdo gerado por IA pode estar incorreto., Imagem

Lucineia Rosa dos Santos, em sua sala na PUC-SP  

Imagem: Arquivo pessoal.  

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Desde o romance de 1995 até os palcos da Broadway, aclamadas versões brasileiras e um filme bilionário, a história da “Bruxa Má do Oeste” desafia convenções e encanta gerações
por
Luiza Zaccano
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10/06/2025 - 12h

 

Desde seu lançamento em 1995, o romance “Wicked: A História Não Contada Das Bruxas De Oz”, de Gregory Maguire, conquistou inúmeros fãs ao redor do mundo ao se basear no clássico universo de “O Maravilhoso Mágico de Oz”. A narrativa mostra a amizade improvável da Bruxa Má do Oeste, Elphaba, e a Glinda, a Bruxa Boa do Sul, que possuem histórias de vida diferentes, cujas trajetórias se entrelaçam em uma rivalidade amorosa e reações diferentes sob um governo corrupto do Mágico de Oz. A obra se aprofunda em temas como preconceito, opressão social e racismo, evidenciados na exclusão que Elphaba sofre por sua aparência e postura crítica diante da autoridade. O romance propõe uma inversão de papéis ao recontar a história do ponto de vista da "vilã", desafiando a visão tradicional do bem e do mal e revelando como a marginalização pode ser uma construção política e social. 

Em 2003, o livro ganhou uma adaptação para a Broadway e estreou com Idina Menzel, interpretando Elphaba e Kristin Chenoweth como Glinda. Wicked foi um fenômeno de bilheteria quase imediato, e passou a bater recordes de arrecadação semanal, tornando-se um dos musicais mais lucrativos da história da Broadway, com $3,3 milhões de dólares arrecadados em uma semana. Em 2016, o musical ultrapassou $1 bilhão de dólares em receita total, e um ano depois, se tornou o segundo musical de maior bilheteria da Broadway.  O sucesso foi tanto que o musical extrapolou as ruas de Nova Iorque e ganhou adaptações internacionais. 


Wicked estreou no Brasil em 2016, em São Paulo, no Teatro Renault com Myra Ruiz e Fabi Bang, interpretando respectivamente Elphaba e Glinda. A peça foi uma das montagens internacionais mais elogiadas, pela excelência em nível técnico com figurinos, cenários e efeitos especiais. A adaptação foi considerada um marco na história do teatro musical brasileiro, pois demonstrou que o Brasil conseguia reproduzir o padrão internacional. A popularidade, como Glinda pontuaria, foi tanta que a peça retornou aos teatros brasileiros novamente em 2023 e 2025.  Na nova temporada, já foram vendidos mais de 80 mil ingressos

 

Fabi Bang e Myra Ruiz, intérpretes de Glinda e Elphaba na versão brasileira do musical Reprodução: Forbes 

 

A adaptação cinematográfica, dividida em duas partes, teve sua primeira estreia no fim de 2024, sob direção de Jon M. Chu. Com um elenco de peso, incluindo Cynthia Erivo e Ariana Grande, o filme atraiu grande atenção do público e da mídia. E o resultado foi um grande sucesso de bilheteria, com a arrecadação de 700 milhões de dólares mundialmente.  

A transição do palco para o cinema não representa apenas uma adaptação, mas uma asserção definitiva de uma narrativa que, desde sua origem literária, encantou gerações e se consolidou como um clássico. Segundo Manuella Vendramini, atriz e estudante de psicologia, a essência e história da obra se mantém estática, porém, cada vez que ela é adaptada para diferentes lugares ou épocas, ela é incorporada em elementos culturais locais e modernos. Por isso, o público continua se identificando com a história, mesmo depois de tantos anos. 

A força da obra também se expressa por meio de sua trilha sonora, que ultrapassou os limites dos teatros e se firmou como parte da cultura pop contemporânea. A canção "Defying Gravity", é extremamente poderosa e representa a decisão de Elphaba de desafiar as expectativas da sociedade e abraçar seus próprios princípios, mesmo diante de consequências dificeis. A música possui um impacto gigante na cultura pop, especialmente por abordar a autoaceitação e a liberdade, voando longe das amarras de sua vida antiga.  

 

 

 

Idina Menzel, Cynthia Erivo, Ariana Grande e Kristin Chenoweth no lançamento do filme Wicked Reprodução: Amy Sussman\Getty Images  

 

Com mais de duas décadas de relevância, Wicked demonstra que histórias bem contadas são capazes de atravessar barreiras do tempo, se reinventar e continuar ressoando em novas gerações. Seja por meio dos palcos, páginas ou telas de cinema, a jornada de Elphie e Glinda continuam a encantar, provocar reflexões e, acima de tudo, desafiar o que conhecemos sobre a dualidade do bem e do mal.   

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Submundo 808 é a festa de funk que vem ganhando espaço no Brasil e no Mundo, apesar das recorrentes tentativas de criminalização do gênero musical
por
Wanessa Celina
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09/06/2025 - 12h

Já na sua quarta edição em São Paulo, o Submundo 808 abriu espaço nas redes sociais, na capital paulista e no exterior. Fundada pelo coletivo 808 Produções, a festa iniciou em Campinas, interior de São Paulo, com o intuito de valorizar o funk periférico paulista. Com os palcos de 360°, o evento movimentou mais de 10 mil pessoas só em São Paulo. 

A Submundo 808 é uma das vertentes da 808 Produções, que faz outras festas como a Bounce 808, focada em rap, trap e hip-hop; a Essence 808, festa black com afrobeat e dancehall e, por fim, a Submundo, que traz o funk eletrônico. “A 808 começou na Bouce 808 com o DJ Clei, com o Pet, Petterson Willian, e com o Jorge – três homens pretos moradores da CDHU São Martine em Campinas, que faziam festas na casa dos avôs deles”, conta Beatriz Niro, que está no projeto desde o início e hoje trabalha como porta-voz da empresa e cuida das redes sociais para os eventos. 

Os três organizadores, quando viram a possibilidade de crescer, saíram da casa dos avós, alugaram um espaço e começaram a cobrar ingresso. A partir daí, chegaram as outras vertentes, como a Essence e a Submundo e surgiu a necessidade de formalizar o grupo de criadores que conta com os DJs Kenan, Kell e Tresk,  Vinicius Mariano e André Tresk.  

Mais do que uma necessidade organizacional, o projeto,  majoritariamente negro, também responde a uma necessidade histórica, já que nasceu no último município brasileiro a abolir a escravidão. “A gente vê muito a elite consumindo o que é nosso e fazendo o que é nosso. Antes da 808 Produções, os eventos de rap, hip-hop eram feitos por pessoas brancas. Pessoas brancas que vieram de um espaço elitizado. Por que não criar um selo feito por pessoas pretas para fazer eventos, que é sobre a nossa cultura, que é a cultura preta, que é o hip-hop, rap, funk, black?” explica Beatriz, falando sobre a motivação do grupo. 

O fortalecimento do funk e da cultura preta e periférica é um dos princípios do Submundo. Em todos os palcos existem bandeiras com os slogans ‘música preta’ ou ‘música periférica’. “A gente gosta muito das bandeiras, porque querendo ou não, é o que traz a nossa identidade. É a cultura periférica”, defende Beatriz. “A gente vê as bandeiras dos nossos times estampadas na nossa casa, bandeiras políticas, bandeiras dos artistas que gostamos, bandeiras dos times de várzea. A importância das bandeiras é que a pessoa que está lá, seja ela branca, preta ou parda, veja de onde veio o funk e o que é.” 

“A Submundo bombou primeiro no TikTok”, conta a porta-voz, “Eu ficava lançando os vídeos lá e ficava fazendo corte dos DJs tocando, fazendo as famosas viradas – momento da de uma música para outra – o pessoal foi curtindo e o que mais chamou a atenção era que o DJ estava no meio do público.”. O palco 360° iniciou por causa das primeiras festas que os DJs tocaram, antes de irem para o Brasuca Campinas. Foi no GOMA, em Barão Geraldo que eles tiveram a primeira experiência de tocar no meio do público. “Um dos organizadores queria que continuasse assim, como no GOMA não era um palco, o DJ ficava na altura do público. Quando fomos para o Brazuca, que era um palco, um dos organizadores observou que o DJ ficaria muito longe e decidimos colocar o DJ no meio, igual no GOMA. E acabou que essa ideia deu certo.” 

 

Palco com o DJ Blackes no Submundo 808 em Campinas// Reprodução do instagram. Créditos: Gabriel Cavassam,  @blackcalle_
Palco com o DJ Blackes no Submundo 808 em Campinas// Reprodução do instagram. Créditos: Gabriel Cavassam,  @blackcalle_  

 

 

A Submundo na era da criminalização do funk: da rua para os bailes privados 

 

Por ser uma festa focada em funk, a Submundo traz à tona a questão da criminalização desse gênero musical, que voltou a ser debatida neste ano após o projeto da Lei Anti-Oruam, proposto pela vereadora Amanda Vettorazzo (União Brasil). Beatriz Niro aponta que esse tipo de perseguição é um dos motivos da 808 correr para lugares privados em Campinas: “o funk é criminalizado porque não existem oportunidades, nem patrocinadores, por exemplo. A prefeitura [de Campinas], o prefeito e demais governantes, em sua maioria brancos e de uma classe social alta, não tem uma ação para descriminalizar o funk e dar espaço digno para as nossas festas.”.  

Para o antropólogo e artista, Meno Del Picchia, autor da tese “A Neblina e o Fluxo - O Funk nos Corpos Elétricos da Quebrada”, a criminalização do funk é, na verdade, a criminalização da vida jovem periférica: “o Brasil é um país extremamente desigual, racista, homofóbico, machista, conservador, com todas essas forças conservadoras e antiprogressistas”, denuncia Meno. "Elas [o Estado, a mídia e a classe média] vão confrontar tudo o que é um pouco mais transgressor. E isso, ao mesmo tempo em que perpetuam uma estrutura social que produz essas desigualdades, mas quando as mesmas são ditas em forma de música, eles se incomodam.”, complementa.  

Os bailes de funk, geralmente conhecidos em São Paulo como “fluxos”, acontecem as ruas das comunidades. Com caixas de som potentes instaladas nos carros parados ao lado de vendedores de bebidas, a festa vai até altas horas. Os eventos nas comunidades são os principais alvos de operações policiais. Os agentes costumam chegar com brutalidade nesses ambientes. A violência constante e a insegurança provocada pelos agentes do Estado levaram ao surgimento dos bailes privados. “Os bailes fechados e de rua vão, inevitavelmente, estar sempre lidando com todas essas vozes repressivas.”, explica Meno del Picchia, “Mas alguns deles são tão fortes e tão gigantes que eles vão se mantendo ao longo do tempo.”.  

Em 2019, a polícia provocou um massacre em uma das festas mais famosas das comunidades da cidade, o Baile da D17, em Paraisópolis, na zona sul de São Paulo. A ação, batizada de “Mega operação Pancadão”, matou nove jovens. “O que torna o baile na rua menos seguro, na verdade, é quando tem a repressão policial.” explica Meno. “Eu acho que esse elemento da possibilidade do confronto com a polícia é o que torna o baile da rua um pouco mais imprevisível.” A volta da discussão sobre os bailes de rua e sobre tentar censurar artistas de funk que alegadamente fazem apologia ao crime e às drogas é, como diz o pesquisador, a “criminalização da poesia e a criminalização da festa”. 

O pesquisador relatou sua experiência na festa Nitro Point em 2018, em Mauá, que reunia uma multidão de pessoas, em diversos lugares com preço de entrada acessível. Após pesquisar os bailes de rua em São Paulo e ter participado de alguns bailes fechados, Meno confirma que a existência das festas fechadas não tira o lugar dos bailes de rua: “o fato do Nitro Point existir não fazia com que os bailes de rua deixassem de existir. Falar que bailes fechados vão fragilizar a cultura funk é uma afirmação que eu acho perigosa. A Nitro Point, por exemplo, é uma festa fechada, que só fortaleceu a cena.” 

Submundo para o mundo 

Hoje, a Submundo já tem edições previstas em Brasília e até em Portugal. A bilheteria saiu de 1000 ingressos nos primeiros eventos há dois anos, para mais de 12 mil por evento. O alcance, porém, é ignorado pelas mídias tradicionais, como aponta Beatriz: “A gente não tem grandes jornais vindo conversar com a gente, porque hoje o Submundo, só em São Paulo, movimenta 11 mil pessoas. Um evento muito novo que está girando muito dinheiro, muita visibilidade nas redes sociais.”

A festa conta com lista trans que, na última edição em São Paulo, fechou com mais de 100 nomes. Em breve, pessoas indígenas e beneficiários do programa Bolsa Família também terão acesso à gratuidade.

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Cantora compra as próprias masters após seis anos disputando e não precisará regravar discos antigos
por
Luis Henrique Oliveira
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03/06/2025 - 12h

Na última sexta-feira (30), Taylor Swift anunciou em carta aberta para os fãs que readquiriu o direito de suas músicas, expressando a felicidade de ter a posse de suas gravações após seis anos de disputa. 

"Tenho chorado de alegria em intervalos aleatórios desde que descobri que isso está realmente acontecendo. [...] Toda música que eu já fiz… agora pertence… a mim ", escreveu a artista. 

Cantora Taylor Swift com os discos "Taylor Swift" (2006), "Fearless" (2008), "Speak Now" (2010), "Red" (2012), "1989" (2014) e "Reputation" (2017)
Taylor Swift junto dos seus seis primeiros álbuns para anúncio da recuperação. Foto: Reprodução/X/@taylorswift13

 

Swift havia perdido os direitos autorais dos primeiros seis discos (o autointitulado “Taylor Swift”, “Fearless”, “Speak Now”, “Red”, “1989” e “Reputation”, em ordem de lançamento) em 2019, quando a gravadora Big Machine Records, que detinha suas masters, foi vendida para o empresário Scooter Braun. 

Na época, Taylor disse que não teve a chance de comprar o próprio catálogo e descreveu a situação como “o pior cenário possível”. Um ano depois, em 2020, Braun revendeu os direitos para a Shamrock Holdings por cerca de US$300 milhões. A cantora alegou que, novamente, não houve a possibilidade de compra e declarou em comunicado oficial que essa foi a segunda vez em que sua arte foi vendida sem o seu conhecimento.

A lide pela recuperação de suas masters influenciou outros cantores a exigirem contratos que deixem o controle de seus catálogos para si mesmos, como por exemplo Olivia Rodrigo. “É tão libertador poder dizer o que você quer, se expressar e poder controlar sua vida e sua arte”, disse em entrevista para o Today Show.

A luta de artistas pelo direito de suas canções não é um caso isolado. Nos anos 1990, Prince travou uma batalha  pelo controle de suas masters contra a Warner Bros. Records, chegando a escrever a palavra “escravo” em seu rosto como forma de protesto e a mudar seu nome artístico por um símbolo inominável, que misturava os sinais dos gêneros feminino e masculino,  sendo chamado de “O Artista Anteriormente Conhecido Como Prince” durante sete anos. 

No Brasil, Gilberto Gil ganhou um processo contra a mesma gravadora, reivindicando para si o direito de assumir a gestão de seu catálogo musical.

 

A volta por cima

Taylor Swift aproveitou uma brecha contratual que permitia a regravação de seus primeiros álbuns e começou a relança-los como meio de dominar sua discografia. Intitulados Taylor’s Version – ou “versão da Taylor”, em tradução livre, o projeto se iniciou em 2021 com o disco “Fearless”, que garantiu o álbum do ano para a cantora em 2008. 

Além das faixas já conhecidas pelo público, a regravação ainda contou com seis músicas inéditas, originalmente descartadas na primeira versão, apelidadas de “From The Vault” (“Direto do Cofre”, em tradução livre) pela artista.

Em novembro do mesmo ano, Swift lançou o “Red (Taylor’s Version)” e alavancou a qualidade das regravações, dirigindo um curta-metragem para a versão de 10 minutos da canção All Too Well, um clipe para a faixa From The Vault “I Bet You Think About Me” e fechando uma parceria com a rede de cafés Starbucks. A possibilidade de reviver as eras antigas da cantora animou os fãs, que ficaram ávidos pelas regravações posteriores, criando teorias sobre quando sairiam as próximas. 

Cantora Taylor Swift usando um body rosa durante o ato "Lover", na turnê The Eras Tour
Taylor Swift possui a turnê mais lucrativa da história. Foto: Reprodução/X/@taylorswoft13

 

O relançamento dos álbuns “Speak Now” e “1989” só vieram depois, em 2023. Nesse intervalo de tempo, Taylor lançou os CDs inéditos “Midnights” e “The Tortured Poets Department” sob a gravadora Republic Records, além de entrar em turnê com a bilionária The Eras Tour, que celebrava cada fase da carreira. 

“Reputation” e o debut “Taylor Swift” não chegaram a ver a luz do dia, uma vez que a cantora conseguiu comprar o catálogo novamente com a Shamrock. Na carta divulgada, ela explica que já regravou todo o álbum de estreia e gosta de como ele soa agora. Em contrapartida, não chegou a trabalhar em um quarto do Reputation. 

“O álbum foi tão específico para aquele momento da minha vida, e eu continuava esperando reencontrar aquele apoio emocional para recriá-lo. Toda aquela postura desafiadora, aquele espírito inquebrável – eu precisava reencontrar isso para fazer o Rep TV.”, escreveu. Ela não desanima sobre a possibilidade de relançar eles e diz que “esses dois álbuns ainda poderão ter seus momentos de renascimento, quando a hora certa chegar, se isso for algo que vocês [fãs] ficariam animados em ver. Mas se acontecer, não será mais a partir de um lugar de tristeza e saudade do que eu gostaria de ter”. 

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13 canções solo e três faixas conjuntas celebram o 10º aniversário de um dos grupos mais influentes do K-pop
por
Ana Julia Bertolaccini
Natália Perez
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29/05/2025 - 12h

Os 13 membros do grupo de K-pop, Seventeen, comemoraram  dez anos de sucesso com um álbum que combina as palavras em inglês 'birthday' (aniversário) e 'burst' (estouro) para expressar a energia única do grupo. Lançado na última segunda-feira (26), “Happy Burstday”, expõe o desejo contínuo do grupo de se reinventar e se aventurar em novos estilos, sem perder a essência. 

Dez anos atrás, em 26 de maio de 2015, o recém formado “Seventeen”, até então administrado pela pequena empresa Pledis Entertainment, fez seu debut com o hit "Adore U” (아낀다). Apesar de serem muito novos - o membro mais velho, S.Coups, tinha apenas 19 anos na época - o grupo sempre fez questão de produzir suas próprias músicas. 

Woozi, principal produtor do grupo, carrega até hoje o recorde de artista mais novo a se tornar parte da Associação de Copyright Musical Coreana (KOMCA) com créditos em composição, arranjo e produção em quase 200 canções. 

 Burst Stage, um show sem igual 

Para comemorar uma década da formação do grupo, o Seventeen preparou um show especial gratuito nomeado como “B-Day: Party Burst Stage” que aconteceu no domingo (25). De forma inédita para um grupo de K-pop, toda a estrutura para o show foi montada na ponte Jamsu sobre o rio Han, ponto central da metrópole de Seul, na Coreia do Sul. 

A performance de quase 2 horas contou com músicas marcantes do grupo, fogos de artifício e a primeira apresentação ao vivo das novas músicas do álbum, que só seria lançado no dia seguinte. As autoridades sul-coreanas estimam que o evento reuniu cerca de 60 mil Carats, nome dado aos fãs do grupo. O show também foi transmitido online de maneira simultânea pelos canais oficiais do grupo. 

“Performar aqui é realmente impressionante”, comentou o integrante DK durante a apresentação. “É tudo graças às nossas Carats. Nada disso seria possível sem vocês”, completou.

Mesmo após uma década de carreira juntos, os membros reafirmam o compromisso de manter o grupo unido. "Seventeen desafiará a eternidade", declarou o membro Hoshi durante o fanmeeting do grupo em Osaka, ocorrido em março. A frase foi tão marcante que se tornou adorno do exterior do prédio da sede da HYBE, atual empresa do grupo no centro de Seul. 

Além do palco, outras áreas no entorno da ponte foram preparadas para receber os fãs, como o parque Banpo Hangang que transmitiu o show por grandes telões. Alguns fãs foram além, assistindo a apresentação em barcos alugados no rio.

Durante o fim de semana, um espaço chamado “Seventeen History Zone” funcionou como uma espécie de museu da trajetória do Seventeen, colocando em exibição os aneis de grupo de cada um dos membros, que se reúnem em uma cerimônia de troca de aneis a cada novo álbum completo lançado.

Mensagem para o Brasil

A jornalista Isabela Gadelha, da CNN Brasil, conseguiu uma entrevista exclusiva com o Seventeen para o quadro “K-tudo CNN” e um vídeo especial para os fãs brasileiros. Em live na última terça-feira (27), foi ao ar uma matéria completa sobre os dez anos de carreira e o lançamento do novo álbum, com perguntas e respostas que explicam como é a convivência entre os membros do grupo e mostram um pouco da singularidade de cada um deles.  De acordo com DINO, o integrante mais novo da formação, todos convivem como irmãos, sem formalidade. 

Isabela, que já é jornalista de Kpop há 3 anos, contou à Agemt que conseguiu unir sua paixão ao profissionalismo nas perguntas da entrevista e aproveitou para tirar dúvidas pessoais sobre o grupo, que é um dos seus favoritos da indústria. 

“Eu sinto que ainda não caiu a ficha porque foi tudo muito rápido. Imagina quantos veículos no mundo todo estão tentando? Tive a oportunidade de tirar dúvidas minhas como fã, como a questão da linguagem informal deles e as reuniões mensais que eles fazem. É meio surreal porque ser fã de um grupo que é muito famoso torna tudo mais difícil de conseguir”, relatou. 

“Isa” conta que sempre fica um pouco nervosa antes de ouvir um álbum de um artista que ama e sempre se questiona: “e se, dessa vez, eu não gostar?”. Apesar disso, ela afirma que o Seventeen sempre a surpreende positivamente. Para ela, o “Happy Burstday” chamou a atenção especialmente pelos solos, que foram uma maneira dos fãs conhecerem melhor cada integrante. “Alguns até me surpreenderam com o gênero que escolheram cantar. Wonwoo, por exemplo, eu não esperava uma música tão doce”, disse. 

De acordo com a jornalista, ser um grupo autoproduzido e com liberdade criativa é o grande diferencial. “Eles se inspiram na vida pessoal, na amizade, nas interações com os fãs e nas fases de vida que vivem. Canções como 'Kidult', 'Circles' e 'I don't understand but I love you' nasceram assim e se tornam ainda mais especiais para nós fãs.”

Responsável pela entrevista e por trazer a mensagem em vídeo de 4 membros do grupo aos fãs brasileiros, Isabela disse que ficou muito feliz ao ter a possibilidade de aproximá-los do Brasil. “Em 10 anos de carreira eles nunca vieram ao Brasil e uma mensagem como essa dá uma esperança de que ‘vem aí’, sabe? Espero que mais interações venham no futuro! Queria eles no Brasil, dançando Super versão Forró, tomando uma caipirinha”, finaliza. 

Faixa a faixa: uma análise de Happy Burstday

Com um conceito ousado e inspirações artísticas visuais e musicais que remetem a um estilo mais alternativo, o single promocional “THUNDER” tem um refrão chiclete e um instrumental um pouco mais barulhento do que o estilo de música que o Seventeen costuma apresentar. 
Embora ainda não chegue a ser considerado um “panelaço”-  maneira como os fãs se referem a canções mais energéticas do Kpop - nota-se um fundo mais marcante e eletrônico em sua composição, que é viciante e cativante. 

A ideia de comemoração está presente em todo o disco. Um conceito que não é assim tão novo, uma vez que o grupo já trouxe a ideia de celebrar os maiores hits e composições mais importantes de toda a sua carreira no álbum “Seventeen is Right Here”, lançado em 29 de abril de 2024. Apesar disso, é visível que eles não vivem apenas de passado e sempre incorporam novidade e criatividade às suas obras. 

O “Happy Burstday” é composto por 16 faixas, sendo três delas gravadas em conjunto (com exceção de Jeonghan que já cumpria serviço militar quando as gravações se iniciaram). As outras 13músicas são solos de cada um dos integrantes, incluindo as canções de Wonwoo e Jeonghan, que terminaram de gravá-las antes do alistamento. 

“HBD” parece uma canção de aniversário pensada exatamente para o Seventeen. Seu instrumental, no entanto, lembra um pouco o Pop-Rock de Avril Lavigne e 5 Seconds of Summer, mas sem deixar de lado as características exclusivas do pop coreano. A terceira música do álbum, com todos os integrantes e produzida por Pharrell Williams, “Bad Influence”, é menos alegre e divertida e brinca com um ritmo mais sedutor. A faixa foi trilha sonora do desfile da Louis Vuitton na Paris Fashion Week na França, em janeiro deste ano. 

As produções solo são bem autênticas e distintas umas das outras, provando mais uma vez que eles são um grupo versátil e que sabe trabalhar com diferentes gêneros musicais e manifestações artísticas. “Shake if off”, primeira música solo de Mingyu, um dos rappers do grupo, se inspira no estilo tech house, uma evolução da música eletrônica. A canção foi classificada como inapropriada para transmissão na KBS (Korean Broadcasting System), um dos principais canais do país. O motivo é a letra, que segundo a emissora, possui “expressões sexualmente sugestivas”. 

“Skyfall (THE 8 solo)”  também traz influências eletrônicas, mas com uma forte identidade pessoal que já é conhecida de outras composições, como “Orbit”, faixa de seu projeto solo “Stardust” lançado em dezembro de 2024.

As batidas aceleradas e divertidas de “Gemini” de Jun e “Trigger” de Dino reforçam a estética de comemoração. Já Hoshi, apesar de ser visto sempre como a presença mais elétrica do grupo nos shows e apresentações, retomou um pouco da estética teatral e sensual na nova canção “Damage”, que foi co-produzida por Timbaland, um ícone dos anos 2000. 

“Happy Virus” traz a voz inconfundível de DK como centro da composição, que como de costume, transmite a sensação de conforto. “Jungle”, de S.Coups, é o que era esperado do líder da unit de Hip Hop do Seventeen, com uma batida mais forte, que acompanha sua autenticidade ao cantar. Vernon trouxe mais um pouco do “Pop rock” em “Shining Star” com um instrumental mais pesado e a forte presença da guitarra em uma faceta mais romântica do gênero. 

“Destiny”, do principal compositor do grupo e líder da vocal line, Woozi, é uma das músicas mais emocionantes do álbum. De acordo com Bumzu, um dos principais nomes por trás de diversas canções do Seventeen ao longo da carreira, “foi uma música feita através de muito pensamento”. 

No mesma linha musical estão “Raindrops” de Seungkwan, “Fortunate Change” de Joshua e “Coincidence” de Jeonghan, esta que emociona os fãs com um instrumental mais clássico, somado a maneira sensível de cantar, a qual já não é executada ao vivo desde que o integrante iniciou o serviço militar em 26 de setembro do ano passado. 

Por fim, 99,9% do membro Wonwoo segue com a inspiração tradicional e clássica, com o piano e instrumentos de sopro em evidência, colocando a emoção como ponto central da composição, diferentemente do que costuma ser apresentado por ele, que também é parte da unit de Hip Hop do grupo. 

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Seventeen em imagem promocional para o álbum “Happy Burstday”. (Foto: Instagram/@saythename_17)
 


Recordes nos Charts

A expectativa pelo mais novo comeback do Seventeen foi visível já na liberação do pré-salvamento de “Happy Burstday”. O Spotify, por exemplo, divulgou no dia 21 de maio que o álbum estava entre os dez mais aguardados do mês na plataforma, ao lado de nomes como Lorde, Ed Sheeran e Green Day.

Segundo a SVT Billboard, logo nas primeiras horas de lançamento, a faixa principal do álbum, “THUNDER”, alcançou o primeiro lugar em 22 países - inclusive no Brasil no ITunes. A música também se tornou a primeira no TOP 100 da MelOn, principal plataforma de streaming musical coreana. Ao longo do primeiro dia, as 16 faixas do álbum atingiram o topo do ranking da plataforma. Poucas horas depois, o Seventeen estabeleceu um recorde como o primeiro grupo idol no país a ocupar simultaneamente as 16 primeiras posições do ranking com todas as músicas de um mesmo álbum. 

Além disso, a plataforma Hanteo registrou mais de 2.260.000 cópias vendidas nas primeiras 24 horas. O número não só é o maior de 2025 até o momento, como também coloca “Happy Burstday” entre os dez mais vendidos no dia de estreia em toda a história da plataforma, ranking que já contava com a presença de outros cinco álbuns do Seventeen: FML (2023); Seventeen Heaven (2023); Spill The Feels (2024) e 17 is Right Here (2024). Os dois primeiros citados, respectivamente, ocupam o primeiro e segundo lugar com mais de 3.200.000 cópias vendidas nas primeiras 24 horas de lançamento.   
 

 

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