Influenciadora é chamada de "homem" por espectadora; confusão gerou vaias, atraso no espetáculo e intervenção policial
por
Carolina Zaterka
Manoella Marinho
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15/04/2025 - 12h

 

Malévola Alves, influenciadora digital e mulher trans, denunciou ter sido vítima de transfobia no Teatro Renault, em São Paulo, no dia 26 de março de 2025, ao ser tratada pelo pronome masculino e chamada de “homem” por uma espectadora. O incidente ocorreu antes do início do musical “Wicked”. Malévola, com mais de 840 mil seguidores, publicou trechos do episódio em suas redes, que rapidamente viralizaram.

Segundo relatos de testemunhas e da própria vítima, a confusão começou quando Malévola esperava uma nota fiscal e a mulher atrás dela mostrou impaciência. As duas trocaram palavras e, ao se afastar, a mulher teria gritado "isso é homem ou mulher?" em sua direção. A vítima então se sentiu ofendida e levou a denúncia à plateia, apontando a espectadora como autora do ataque transfóbico, causando um tumulto que paralisou a plateia.

A reação do público foi de imediato apoio a Malévola, com vaias à agressora e pedidos para que ela fosse retirada do teatro. “A gente não vai começar a assistir a um espetáculo que é extremamente representativo para a diversidade com uma mulher dessa aqui. Não faz o menor sentido”, afirmou um dos espectadores durante o protesto.

Diante da pressão da plateia, a apresentação atrasou cerca de 30 minutos. A mulher acusada acabou saindo do teatro sob escolta policial, levada à  delegacia para realizar um boletim de ocorrência, recebendo aplausos e vaias dos demais presentes. Miguel Filpi, presente no evento, celebrou nas redes sociais: “Justiça foi feita!! Obrigado a todo mundo nessa plateia que fez a união para que isso acontecesse.”

Carlos Cavalcanti, presidente do Instituto Artium (Produtor do musical), pediu desculpas pelo ocorrido antes de dar início ao espetáculo: “Peço desculpas por esse acontecimento e por esse atraso. Tudo o que a gente pode admitir, é bom que a gente admita na vida, mas transfobia em Wicked, não dá”. A atriz Fabi Bang, também se manifestou durante e após o espetáculo: “Transfobia jamais” - uma improvisação durante a música “Popular”.

 

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Fabi Bang, atriz que interpreta Glinda, em apresentação do musical. Foto: Blog Arcanjo/Reprodução

Viviane Milano, identificada como a espectadora acusada, negou as acusações em um pronunciamento, alegando que a confusão na fila da bombonière não foi sobre identidade de gênero, mas sobre uma tentativa de furar fila. Ela afirmou: “Perguntei em voz alta: ‘Era o homem ou a mulher que estava na fila?’”, dizendo que sua pergunta foi mal interpretada.

A produção de Wicked e membros do elenco reiteraram seu compromisso com a diversidade e repudiaram o incidente. A nota oficial da produção destacou: “Nosso espetáculo é e continuará sendo um espaço seguro para todas as pessoas, independentemente de identidade de gênero ou orientação sexual.”

As últimas apresentações do cantor baiano reunem seus maiores sucessos e participações de grandes artistas brasileiros
por
Davi Rezende
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14/04/2025 - 12h

Tiveram início na última sexta-feira (11) os shows em São Paulo da turnê “Tempo Rei”, de Gilberto Gil, a última da carreira do lendário artista. O evento, que teve início em março, na cidade de Salvador (BA), chegou neste mês à capital paulista com quatro datas, duas neste final de semana e mais duas ao fim do mês.

Gilberto Gil em show no Allianz Parque cantando Aquele Abraço
Gilberto Gil em show da turnê "Tempo Rei" no Allianz Parque, em São Paulo/ Foto: Davi Rezende
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Reunindo participações especiais, cenários característicos e grandes sucessos da carreira do cantor, a turnê é uma grande celebração da história de Gil, enquanto seus últimos shows ao vivo. Desde os visuais até a performance do artista, tudo é composto de forma detalhada para transmitir a energia da obra de Gilberto, que se renova em apresentações vívidas e convidados de diversos gêneros musicais brasileiros.

Ao longo de mais de 60 anos de carreira, Gil conquistou uma das trajetórias mais consolidadas e respeitadas da música brasileira. Com mais de 50 álbuns gravados, sendo 30 de estúdio, ele se tornou uma lenda da bossa nova e do samba, com produções que se provam atemporais, além de participações em movimentos políticos e artísticos que marcaram o Brasil.

Gilberto Gil agasalhado em exílio nas ruas de Londres
Gilberto Gil no exílio em Londres/ Foto: Reprodução/FFLCH - USP

 

Na década de 60, após se popularizar em meio a festivais, Gil fez grande parte da luta contra as opressões da Ditadura Militar no Brasil, tornando-se peça importante no movimento da Tropicália. Ao lado de artistas como Caetano Veloso e Gal Costa, Gilberto foi protagonista na revolução da arte brasileira, além de compor grandes canções de resistência.

Em 1969, após o lançamento de um de seus maiores clássicos, “Aquele Abraço”, Gil se exilou fora do Brasil para fugir da Ditadura, em Londres. Na Inglaterra, ele seguiu produzindo e performando, ao lado de outros grandes gênios tropicalistas, até retornar em 1971, lançando no ano seguinte o álbum “Expresso 2222” (1972). Três anos após o grande sucesso, Gil lança o álbum “Refazenda” (1975), primeiro disco de uma trilogia composta por “Refavela” (1977) e “Realce” (1979).

Todos os grandes momentos da vida do cantor são representados na turnê, tanto com sua performance, dirigida por Rafael Dragaud, quanto na cenografia, montada pela cineasta Daniela Thomas. Na setlist, Gil ainda presta homenagens a grandes figuras da música, como Chico Buarque (que faz participação em vídeo tocado ao fundo de Gilberto, durante a apresentação) quando interpreta “Cálice”, canção de sua autoria ao lado do compositor carioca, e até Bob Marley, no momento que toca “Não Chore Mais” (versão da música “No Woman, No Cry” do cantor jamaicano) com imagens da bandeira da Jamaica ao fundo.

Gilberto Gil em show no Allianz Parque cantando Não Chore Mais
Gilberto Gil em show da turnê "Tempo Rei" no Allianz Parque, em São Paulo/ Foto: Davi Rezende

 

Nas apresentações no Rio de Janeiro, o artista convidou Caetano e Anitta para comporem a performance, enquanto em São Paulo, na sexta-feira (11) MC Hariel e Flor Gil, a neta do cantor, deram as caras, além de Arnaldo Antunes e Sandy terem participado do show de sábado (12).

A turnê “Tempo Rei” aproxima Gilberto Gil do fim de sua carreira, celebrando sua história nos shows que rodam o Brasil inteiro. A reunião de artistas já consolidados na indústria para condecorar o cantor em suas apresentações prova a grandeza de Gil e como sua obra é imortal, movimentando a música de todo o país ao seu redor. Sua performance é energética e vívida, como toda a carreira do compositor, fazendo dos brasileiros os súditos do Tempo Rei.

Gilberto Gil em show no Allianz Parque cantando Expresso 2222
Gilberto Gil em show da turnê "Tempo Rei" no Allianz Parque, em São Paulo/ Foto: Davi Rezende

As apresentações de Gil seguem ao longo do ano, encerrando em novembro, na cidade de Recife (PE). Em São Paulo, o cantor ainda se apresenta em mais duas datas, nos dias 25 e 26 de abril, no Allianz Parque.

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Filme brasileiro conta a história de uma senhora que através de uma câmera expôs uma rede de tráfico no Rio de Janeiro
por
Kaleo Ferreira
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14/04/2025 - 12h

O filme “Vitória” lançado no dia 13 de março de 2025, dirigido por Andrucha Waddington e roteirizado por Paula Fiuza, tem como tema a história de Dona Nina (Fernanda Montenegro), uma senhora de 80 anos que sozinha, desmantelou um esquema de tráfico de drogas em Copacabana, filmando com uma câmera a rotina do mercado criminoso da janela de seu apartamento.

 

Cena do filme ”Vitória” (Foto: CNN Brasil)
Cena do filme ”Vitória”. Foto: CNN Brasil

 

O longa é inspirado no livro “Dona Vitória Joana da Paz”, escrito pelo jornalista Fábio Gusmão e baseado na história verídica de Joana Zeferino da Paz. Grande força do filme vem da atuação de Fernanda, que consegue transmitir a solidão, indignação, determinação e a garra que a personagem teve para confrontar o crime na Ladeira dos Tabajaras.

O filme começa construindo uma atmosfera de grande tensão, claustrofobia e solidão dentro do pequeno apartamento com o reflexo da violência diante dos olhos, assim mergulhando na realidade crua do cotidiano carioca, expondo a fragilidade da segurança pública e o poder que o crime organizado possui. 

Em certos momentos, o ritmo da narrativa se torna um pouco lento e cansativo e a ação do longa começa com a introdução do jornalista Fábio, interpretado por Alan Rocha, que desenvolve uma relação de parceria com Dona Nina. Ele assiste às fitas gravadas por ela, provas de criminosos desfilando com armas à luz do dia, vendendo e utilizando drogas entre crianças e adolescentes, além de ter ajuda dos policiais para o tráfico. E diante de tudo, decide ajudar a senhora, assim escrevendo uma grande reportagem que colocaria os holofotes sobre todo o esquema de tráfico. 

 

Cartaz do filme (Foto: IMDb)
Cartaz do filme. Foto: IMDb

 

O filme tem a participação de outras atrizes, como Linn da Quebrada e Laila Garin, que mesmo em papeis secundários, também merecem destaque por agregar camadas à narrativa e mostrar diferentes facetas de como a comunidade é afetada pela violência.

Em resumo, “Vitória” é um filme emocionante e que faz refletir. Apesar dos problemas no ritmo do filme, a força de uma história real e a grande atuação de Fernanda Montenegro, com seus 95 anos, o consolidam como um filme digno de ser assistido e relevante para o cinema brasileiro. 

É um retrato da realidade brasileira que ao dar voz a uma história de resistência contra o crime, levanta questões importantes sobre segurança, justiça e o papel dos cidadãos contra a violência, dando esperança em resistir a toda criminalidade que a sociedade enfrenta com tanta frequência, além de dar voz a uma mulher que decide não se calar.

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O grupo sul-coreano encerra sua passagem pelo Brasil com o título de maior show de K-pop no país
por
Beatriz Lima
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09/04/2025 - 12h

 

Na primeira semana de abril, São Paulo e Rio de Janeiro foram palco dos shows da DominATE Tour, do grupo de K-pop Stray Kids. Em novembro de 2024, o grupo anunciou sua primeira passagem pela América Latina após sete anos de carreira, com shows no Chile, Brasil, Peru e México, causando êxtase aos fãs do continente.

Stray Kids é um grupo de K-pop composto por oito integrantes, Bang Chan, Lee Know, Changbin, Hyunjin, Han, Felix, Seungmin e I.N. O grupo estreou em 2018, após um programa eliminatório com diversos trainees da JYP Entertainment - empresa que gere o grupo. No dia 8 de julho de 2024, o grupo anunciou sua terceira turnê mundial chamada ‘DominATE Tour’, com shows iniciais pelo Leste e Sudeste Asiático e Austrália. 

A DominATE Tour foi anunciada para a divulgação de seu mais recente álbum, ATE, lançado dia 19 de julho de 2024. Com o sucesso mundial do grupo e da música “Chk chk boom”, com a participação dos atores Ryan Reynolds e Hugh Jackman no clipe, o grupo divulgou datas para a turnê na América Latina, América do Norte e Europa no início de 2025.

Foto de divulgação da turnê DominATE
Imagem de divulgação da turnê DominATE. Foto: Divulgação/JYP Entertainment

No Brasil, o octeto iniciou sua passagem pela cidade do Rio de Janeiro com seu show de estreia dia 1 de abril no Estádio Nilton Santos, com mais de 55 mil pessoas presentes no local. Em sua primeira data na cidade de São Paulo, sábado (5), o grupo sul-coreano teve os ingressos esgotados e, mesmo com chuva e baixas temperaturas, bateu o recorde de maior show de K-pop no Brasil, com um total de 65 mil pessoas no Estádio MorumBIS. No dia seguinte, o grupo teve seu último dia de passagem pelo país e somou no total - nos dois dias de show na capital paulista - 120 mil pessoas.

Show do Stray Kids no Estádio MorumBIS
Primeiro dia de show do Stray Kids em São Paulo. Foto: JYP Entertainment / Iris Alves

 

Os shows contaram com estruturas complexas e atraentes - com direito a fogos de artifícios e explosões de luz a cada performance -, tradução simultânea nos momentos de interação com o público, banda e equipe de dança do próprio grupo, além de estações de água e paramédicos à disposição do evento. Foram três noites marcantes tanto para os fãs brasileiros quanto para os próprios membros do grupo. “Eu sinto que tudo que nós passamos durante esses sete anos foi para encontrar vocês.” diz Hyunjin em seu primeiro dia de show no Brasil. 

Com o recorde de público nos shows e reações positivas na mídia e público brasileiro, o grupo promete voltar ao país em uma nova oportunidade, deixando claro seu amor pelo país e pelos fãs brasileiros. “Bom, é a sensação de que ganhamos uma segunda casa… todos nós [os oito membros]” declara o líder Bang Chan no primeiro show de São Paulo.

Membros do grupo após o show do Rio de Janeiro.
Foto divulgada após o show do Stray Kids no Rio de Janeiro. Foto: Reprodução/JYP Entertainment

 

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Último dia do festival em São Paulo também reuniu shows de Justin Timberlake, Foster The People e bandas nacionais
por
Maria Eduarda Cepeda
Jessica Castro
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09/04/2025 - 12h

 

Neste domingo (30), o Autódromo de Interlagos, na zona sul de São Paulo, recebeu o último dia da edição 2025 do Lollapalooza Brasil. O festival, que reuniu uma diversidade de estilos, contou com apresentações de bandas indies nacionais, como Terno Rei, e gigantes do pop, como Justin Timberlake. Como destaque, tivemos a histórica estreia da banda Tool em solo brasileiro, a volta de Foster The People ao festival e o show emocionante de encerramento do Sepultura, que consagrou sua importância como uma das maiores referências do metal, tanto no Brasil quanto no mundo.

Diferente do primeiro dia, o domingo foi marcado por tempo firme e céu aberto, sem a interferência da chuva. Com condições climáticas favoráveis, o público pôde aproveitar muito seus artistas favoritos ao longo do dia.

As primeiras atrações do dia já davam o tom da despedida do festival: uma mistura de muito indie, rock n’ roll e nostalgia no ar. No palco Budweiser, a cantora pernambucana Sofia Freire abriu os trabalhos com uma estreia marcante, conquistando o público com talento e carisma. E no palco Mike´s Ice, a banda "Charlotte Matou um Cara" chamou atenção por ter a vocalista, Andrea Dip, vestida em uma camisa de força. 

Além de cantora, Andrea é jornalista e faz parte da Agência Pública de Jornalismo Investigativo. Em 2013, recebeu o Prêmio Tim Lopes de Jornalismo Investigativo pelo seu trabalho na história em quadrinhos “Meninas em Jogo” e foi premiada pelo Troféu Mulher Imprensa na categoria site de notícias em 2016.

Vocalista da banda "Charlotte Matou um Cara", Andrea Dip, usando uma camisa de força rosa
A banda já dividiu palco com a cantora e atriz Linn da Quebrada. Foto: Adriana Vieira / Rock On Board

Com músicas que tratam temas como machismo, ditadura militar e a luta contra a violação do corpo feminino, o grupo trouxe para o festival a agressividade e a energia para o "dia do rock". 

Na sequência, o grupo Terno Rei assumiu o palco e transformou a plateia ainda tímida em um coro envolvido por seu setlist, que mesclou sucessos da carreira e novas apostas sonoras. A banda ainda aproveitou o momento para anunciar seu próximo álbum, “Nenhuma Estrela”, com lançamento marcado para 15 de abril.

Depois de 8 anos longe do Brasil, Mark Foster e Isom Innis voltaram pela terceira vez ao Lollapalooza Brasil. As músicas foram de seus sucessos mais recentes às músicas mais queridas pelos fãs, como "Houdini" e "Call It What You Want". Com um público morno, mesmo com a presença dos fãs fiéis, eles não desanimaram e se mostraram contentes por estarem de volta. A música mais famosa, "Pumped Up Kicks", finalizou a apresentação do grupo.

A banda Tool se apresentou pela primeira vez no Brasil após 35 anos de carreira, mas quem compareceu esperando ver o grupo e uma apresentação tradicional teve uma surpresa. Tool fez um show cru, sem pausas e sem momentos emocionados. O visual sombrio e imersão feita pelos visuais espirituais do telão comandaram os espectadores a uma experiência única no festival, sendo o show mais enigmático da noite. A setlist foi variada, com alguns de seus sucessos e músicas de seu álbum mais recente "Fear Inoculum". Apesar da proposta diferenciada, o público pareceu embarcar na viagem sensorial proposta pelo grupo. 

Vocalisa da banda Tool na frente do telão, mas não somos capazes de ver seu rosto, apenas sua silhueta
A presença enigmática do vocalista causou muita curiosidade entre os espectadores. Foto: Sidnei Lopes/ @observadordaimagem

Sepultura está dando adeus aos palcos ao mesmo tempo que celebra seus 40 anos de carreira, assim como o nome de sua turnê, "Celebrating Life Through Death". Fechando a edição de 2025 do festival, a banda teve convidados curiosos para a setlist. Para acompanhar a música "Kaiowas", o cantor Júnior e o criador do Lollapalooza, Perry Farrell, subiram no palco para integrar o ritmo agressivo dessa despedida. Com uma setlist semelhante a do show feito em setembro do ano passado, também dessa turnê de adeus, o grupo não deixou o clima cair mesmo com os problemas técnicos que enfrentaram. O som estava abafado e baixo comparado ao de outros palcos, a banda Bush enfrentou o mesmo problema em sua apresentação. 

A banda encerrou seu legado no festival com um de seus maiores sucessos internacionais, "Roots Bloody Roots", eternizando seu legado e deixando saudades em seus fãs que se mantiveram devotos até o fim.

No palco ao lado, o grande headliner da noite, Justin Timberlake, mostrou que seu status de popstar segue intacto. A apresentação, que não foi transmitida ao vivo pelos canais oficiais do evento, teve performances energéticas, muita dança e vocais entregues sem base pré-gravada.

Justin Timberlake se apresentando no palco principal do festival
Justin Timberlake encerra a terceira noite do festival Lollapalooza 2025. — Foto: Divulgação/Lollapalooza

Com um show marcado por coros emocionados em “Mirrors” e uma enxurrada de hits como, “Cry Me a River”, “SexyBack” e “What Goes Around... Comes Around”, ele reforçou sua presença como um dos grandes nomes da música pop.

Apesar de definitivamente não estar em sua melhor fase — após polêmicas envolvendo sua ex-namorada Britney Spears, que o acusou de um relacionamento abusivo, e uma prisão em 2024 por dirigir embriagado — Timberlake demonstrou um forte engajamento com o público, que saiu eletrizado do show. 

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Profissionais consultados pela Agemt apontam suas preferências; opções se multiplicam e ganham destaque no streaming
por
Helena Cardoso
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20/06/2023 - 12h

As séries fictícias ou documentais – de conteúdo esportivo – são muito presentes nos catálogos das plataformas de streaming. Com um grande público, algumas até têm relação com a popularização e diversificação do esporte, como “Drive to Survive” fez com a Fórmula 1, por exemplo. Para todos os gostos, e dos mais diferentes esportes, elas vêm fazendo sucesso com o público.  

Em busca de sugestões, a AGEMT perguntou a cinco jornalistas quais são as suas séries esportivas prediletas. Veja abaixo as indicações. 

MARIANA SPINELLI 

A apresentadora e repórter mineira da ESPN indicou a série “Bem-vindos ao Wrexham”, disponível no Star+. “O Ryan Reynolds compra um time de verdade, da quinta divisão do campeonato inglês que está tentando subir para as divisões seguintes”, conta Spinelli.   

bemvindoaowrexham

O Wrexham AFC, do norte do País de Gales, é o terceiro clube de futebol profissional mais antigo do mundo, e em 2020 passou a ser comandado pelos atores Ryan Reynolds e Rob McElhenney – que atuaram nos filmes Deadpool e It's Always Sunny in Philadelphia, respectivamente.   

Os Red Dragons passaram por sérios problemas financeiros, o que os levou para a 5ª divisão do campeonato inglês. E os torcedores, fanáticos pelo clube, arrecadaram dinheiro e lutaram contra obstáculos para manter a história viva. Até que Rob e Ryan, que nunca tinham trabalhado juntos e não tinham experiência prévia com futebol, se juntaram para liderar o time, e é esse processo que é mostrado pela produção.    

Para a jornalista, a série documental “conta a realidade por trás do futebol”, além de ser uma fonte de entretenimento.  

A série fez sucesso e foi renovada para a segunda temporada, após o time subir para a EFL League Two, quarta divisão do futebol inglês. O acesso veio pelo título, conquistado após uma virada sobre o Boreham Wood, em casa, por 3 a 1, com uma rodada para o final do campeonato.  

CELSO UNZELTE 

O jornalista da ESPN e professor da Faculdade Cásper Líbero falou sobre “The English Game”, disponível na Netflix. “A série mostra todo o contexto da época fora de campo, tornando-se interessante mesmo pra quem não gosta de futebol, como a minha mulher – o que possibilitou que assistíssemos juntos”, diz o comentarista. 

the english game

“The English Game” trata dos primeiros tempos do futebol, especificamente da disputa das primeiras Copas da Inglaterra – a competição mais antiga do mundo, disputada desde 1871 – mas não fala só do esporte, uma vez que também mostra os conflitos entre a elite e a classe operária da época.   

Em seis episódios, além de mostrar o futebol, a série retrata a luta de classes na Inglaterra durante o século 19, com os dramas cotidianos das personagens, mesclando a ficção com a realidade da época. O criador da produção também é responsável por “Downtown Abbey”, série de drama inglesa que se passa no século XX.   

RAFAELLE SERAPHIM

A comentarista de futebol nas transmissões de jogos do Sportv e do Premiere indica a série “The Playbook: Estratégias para vencer”, disponível na Netflix. Com cinco episódios, cada um sobre um treinador diferente – em diferentes esportes – Doc Rivers, Jill Ellis, José Mourinho, Patrick Mouratoglou e Dawn Staley contam um pouco das suas estratégias pessoais para ter sucesso nos esportes e na vida.  

the playbook

“É uma série muito interessante porque traz algumas modalidades e como grandes campeões são no dia a dia. Fala da rotina, dos treinamentos e das competições.”, afirma Seraphim. Doc Rivers, técnico da NBA, campeão com o Boston Celtics, é o personagem do primeiro episódio; Jill Ellis é a técnica responsável por dois títulos de Copa do Mundo da Seleção de Futebol Feminino dos Estados Unidos; José Mourinho é um treinador de futebol multicampeão, que atualmente comanda a Roma; Patrick Mouratoglou foi o treinador da tenista Serena Williams durante dez anos e Dawn Staley é técnica de basquete e fala sobre a presença feminina em um ambiente dominado por homens. 

Com campeões no futebol, tênis e basquete, a série lançada em 2020 tem produção de LeBron James e Maverick Carter, e mostra reflexões dos treinadores dentro e fora da prática esportiva. Seraphim, que entrou no grupo fixo de comentaristas do Grupo Globo recentemente, continua: “The Playbook coloca a gente um pouco por dentro da mente de quem pensa na estratégia de um atleta multicampeão”. 

UBIRATAN LEAL

O comentarista de baseball e futebol da ESPN recomenda a série ‘Lucky!’, disponível no Star+. Nos oito episódios, é contada a história de Bernie Ecclestone, que, além de piloto, foi presidente e CEO da Formula One Management (FOM) e da Formula One Administration (FOA), que gerenciam a Fórmula 1. O produtor da série, Manish Pandey, também é o responsável por “Senna”, filme que conta a história do ídolo brasileiro de F1.  

LUCKY

 

“É espetacular para quem está começando a acompanhar a Fórmula 1 nos últimos anos conhecer a história da modalidade. Conta como o esporte se transformou de uma competição de carros feita por mecânicos e engenheiros apaixonados por isso, mas bem pouco profissional, em um monstro econômico e de popularidade.”, afirma o jornalista.  

A história de um dos chefões da Fórmula 1 é contada em primeira pessoa, a partir de depoimentos do próprio empresário e tem imagens de arquivo de corridas antigas. “Ele narra a trajetória dele no esporte, que é basicamente toda a história da categoria, porque ele esteve presente no primeiro Grande Prêmio da história da Fórmula 1, que aconteceu na Inglaterra em 1950”, contina Ubiratan. Além disso, a série também mostra as brigas políticas internas da Fórmula 1 e o passado de alguns pilotos.  

RAFAEL LOPES

“Sou fã de ‘O.J.: Made in America’. Gosto como o documentário é construído, como a carreira dele é mostrada, como o caso é abordado, mas, sobretudo, como ele serviu como gatilho para as questões raciais americanas dos anos 1980. É uma obra definitiva sobre o personagem, contada com muito cuidado e sem sensacionalismo.”, afirma o comentarista de automobilismo do Grupo Globo, Rafael Lopes. 

OJ

O documentário, – que tem a duração de uma série, com 7 horas e 47 minutos – está disponível no Star+ e é dividido em cinco partes. A produção, que ganhou um Oscar por melhor documentário em longa-metragem, narra a história do ex-jogador de futebol americano O.J. Simpson, acusado de assassinar sua ex-esposa, Nicole Brown Simpson, e um amigo dela, Ron Goldman.  

A trama, além de contar a ascensão e queda de um ídolo dos esportes americanos e um caso muito polêmico e importante, também fala sobre a justiça e o sistema criminal, racismo, poder, a mídia e outras questões sociais.  

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Três jovens falam das dificuldades e alegrias de quem ganha a vida com o canto
por
Giovanna Oliveira da Silva
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20/06/2023 - 12h

Todo início de carreira tem seus obstáculos, e ser cantor não é diferente. Sem muito investimento ou visibilidade, os cantores muitas vezes não têm o apoio dos pais, não sabem se estão na carreira certa ou se têm o dom de cantar. 

Gabriel Cascardo tem 24 anos, seu nome artístico é Bean, e está produzindo e cantando há quase dez anos. Seu estilo musical está em processo, mas neste momento é trap. “No começo era por diversão, um trampo bem amador, até que fui me encontrando cada vez mais e, de uns cinco anos pra cá, a história vem se tornando cada vez mais profissional.” 

Renan Aranha, conhecido como Renife pelos fãs, tem 20 anos e está na carreira musical há quatro anos. Suas inspirações estão nos estilos musicais de R&B, pop e love song. Segundo ele, as horas de criação começam sempre com um gole de café. “Pego meu violão e crio uma melodia doce, depois planejo qual vai ser o tipo do som, e mando bala. Depois faço todo o instrumental no computador, canto por cima, faço todas as vozes e faço as edições finais”.  

Sidónia Pacule canta desde os 15 anos, mas profissionalmente há três. Seu estilo de música tem como foco a religiosidade. "Achei meu estilo musical ouvindo o coração de Deus, ele me curou da orfandade que eu carregava e Ele me deu autoridade para curar outras pessoas. O que começou em mim não vai terminar em mim." 

Os objetivos dos cantores iniciantes são vários, mas o principal é viver da sua música e que ela seja ouvida por todos. “Objetivo que minha música seja ouvida por todos, e que meus sentimentos cheguem para aqueles que querem ouvir”, relata Aranha. “Alcançar mais almas e para alcançar tenho gravado novas canções e trabalhado na divulgação”, diz Pacule. "O meu maior objetivo é que eu consiga ganhar a vida fazendo com que a minha música cause nos outros o que a música dos outros causou em mim”, conta Cascardo. 

O início de carreira tem suas dificuldades. “Minhas dificuldades são alguns bloqueios criativos que acabo tendo de vez em quando e quando entro nesse buraco é difícil sair”, diz Gabriel. Para Renan: “ter pouca visibilidade, pouca grana para investir”. Já para Sidónia: "a dificuldade é entrar no estúdio e gravar". 

Para a divulgação de suas músicas, os cantores usam métodos diferentes para conseguir aumentar os números de seus fãs. Renife tenta "chamar a atenção com a capa da música ou jogando um jogo de suspense por trás de alguma prévia” e depois fazendo “uma corrente de divulgação". Com Sidónia Pacule, as divulgações acontecem "através das redes sociais e das plataformas digitais como YouTube, Deezer e Spotify".  

Neste departamento, Bean tem um processo diferente, dividido em algumas partes. A prévia alimenta a curiosidade do público com uma nova música, depois o lançamento e no final o pós-lançamento são os resultados realizados pelas partes anteriores. "É um processo um tanto quanto complexo que não tem uma fórmula exata e é aí que entra grande parte da criatividade para inovar e trazer algo que surpreenda o público", diz o cantor. 

Bruno Zanardi tem 30 anos e é produtor musical há 15. Os estilos de músicas que mais produz são pop, sertanejo, funk pop, entre outros. Ele costuma trabalhar com cantores com faixa etária de 18 a 30 anos. Em sua maioria, "os cantores me procuram com o projeto em mente", conta Zanardi. 

O processo de produzir uma música acontece por cinco fases: composição (letra e melodia), arranjo, gravação dos instrumentos, gravação vocal e finalização (mixagem e masterização). 

"Normalmente um cantor iniciante tem diversos vícios musicais até por não ter experiência em estúdio. Meu trabalho é lapidá-lo para que performe da melhor maneira possível", relata o produtor.  

É importante ressaltar que muitos artistas não têm um produtor ou agente. "Não tenho nenhum agente ou produtor, meu trampo é e sempre foi 100% independente! Acho legal reforçar esse ponto porque hoje em dia, com o aumento das agregadoras digitais, qualquer um consegue ser independente e eu acho isso f***!", afirma Cascardo. 

Os cantores são abordados de diferentes maneiras para se fazer shows. "Geralmente com um convite normal, até agora só fiz um de qualquer forma", diz Renife. Sidónia Pacule, por sua vez, recebe os convites "através das minhas redes sociais e WhatsApp". Para Bean, tem duas possibilidades: "uma delas é ter uma pessoa encarregada de vender nossos shows para casas, festas, eventos etc", a outra "é que às vezes nós mesmos nos interessamos por algum lugar e buscamos contato com o dono do espaço ou organizador do evento para vender nosso show". 

Quando são reconhecidos, o sentimento é satisfatório, pois suas músicas estão sendo ouvidas e apreciadas. "Eu fico muito feliz, acontece raramente, mas aconteceu já umas dez vezes, é sempre algo muito bom e me deixa muito feliz", diz Renan. "É incrível ser reconhecido, pois cada reconhecimento é um poder de Deus alcançando vidas. Então, ao me reconhecer, está reconhecendo a obra de Deus", afirma Sidónia. "A sensação de ser reconhecido em algum lugar é algo muito gratificante. É ali que vejo que todo o trabalho teve a sua recompensa. Só tenho de agradecer a todos que ouvem minhas músicas e gostam do meu trabalho. Esse é o maior incentivo que eu tenho para continuar", relata Gabriel. 

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A vida, o livro e a morte da maior roqueira do Brasil
por
Fabiana Caminha
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20/06/2023 - 12h

 

Às 11 da manhã do dia 10 de maio o planetário do parque Ibirapuera estava lotado. Mesmo com a ameaça da chuva, cercade 6 mil pessoas compareceram para prestigiar a rainha do rock em seu velório.  A Santa Rita de Sampa foi a primeira pessoa a ser velada no local. Sobre o caixão fechado,  uma imagem estática das estrelas no dia em que ela nasceu.

Espera-se que qualquer tipo de ritual fúnebre seja triste e doloroso. Mas assim como quase tudo na vida de Rita, sua despedida não foi nada tradicional. Ali estavam presentes pessoas de todos os tipos. Jovens e idosos, homens e mulheres, brancos e pretos. Além do cosplay do Elvis Presley. E todos cantavam. Seus fãs transformaram a sua despedida em uma verdadeira festa em homenagem à cantora. 

Fãs da cantora no velório
Na fila, fãs exibem discos da cantora. Foto autoral

 

Rita não queria um funeral com flores. No entanto, o carinho das pessoas não permitiu que seu desejo se concretizasse. O corredor de entrada do Planetário estava abarrotado de coroas exibindo mensagens convencionais. Em frente ao caixão, rosas avulsas e buquês foram deixados.

Na saída, um grupo de fãs que cantava incansavelmente foi parado por um repórter para que fizessem uma entrada ao vivo.  Eles se reúnem em frente ao Planetário para cantar mais uma música de Rita, desta vez em TV aberta. Sem nenhum ensaio prévio, cerca de 20 pessoas entoaram “Saúde” em frente às câmeras. A canção ficou ainda mais impactante com a junção de diferentes timbres. Alguns afinados e maioria lindamente fora do tom.

 

Fãs da cantora no velório
Coral de fãs em frente ao planetário. Foto autoral.

Na transmissão, é possível ver as lágrimas surgindo na medida em que se aproximam do final do refrão. Na letra,  Rita diz que enquanto estiver  “viva e cheia de graça, talvez ainda faça um monte de gente feliz.” Imediatamente após o final da gravação o grupo se dissipa. A maioria está chorando.

Seu legado atravessou gerações e fez parte da história de muita gente. Sônia, de 61 anos, acompanha a trajetória da cantora desde o começo e se orgulha por ter ido em diversos shows da artista. No velório, ela usa uma camiseta estampada com o rosto de Rita Lee e canta mais alto do que qualquer um. “É lindo ver que ela consegue unir as pessoas mesmo depois de morta. É difícil alguém conseguir fazer isso, acho que ela mudou a vida de muita gente” 

 

Fãs da cantora no velório
Coral de fãs em frente ao planetário. Foto autoral.

 

 

Essa proximidade que Rita criou com seus fãs não se dá somente pela personalidade marcante da cantora ou por suas músicas freneticamente reproduzidas. Rita Lee compartilhou grande parte da vida através de sua biografia. Desde a infância na Vila Mariana aos becks divididos com Tim Maia, do começo de sua carreira à aposentadoria. Esse livro, “Rita Lee: uma autobiografia", foi o mais vendido da categoria em 2016. 

 

Em 2021, ainda durante a pandemia, Rita decide relatar uma nova fase da vida, a descoberta do câncer de pulmão. Reclusa em seu sítio no interior de São Paulo, a cantora descreve a nova rotina sob os cuidados intensivos da família e das enfermeiras no combate à doença. 

O jornalista Guilherme Samora, editor das duas autobiografias e amigo pessoal de Rita Lee, explica o processo de criação do novo livro. “Ela não gostava de escrever sob a pressão do livro ser publicado, com a primeira autobiografia foi a mesma coisa. Então ela me falou que estava escrevendo mas que seria só pra mim. Eu ia ser o único que poderia ler. Mas quando eu li, eu achei tão lindo, tão forte, que convenci ela a publicar essa outra autobiografia.”

Samora também é voz ativa nos dois livros da cantora, Ele aparece como o personagem Phantom, criado por Rita, para adicionar informações e observações importantes que a autora deixa escapar. Segundo ela, Guilherme sabe mais sobre sua vida do que ela própria. “Da minha vida eu esqueço tudo, mas eu não esqueço nada sobre ela” ele explica em entrevista.

Guilherme conheceu Rita como fã ainda criança, por influência de seus pais. Ao longo da vida, manteve proximidade com a cantora e passou a trabalhar com ela em seu primeiro livro. Para o jornalista, esse livro se diferencia do segundo por mostrar diferentes versões da artista. “No primeiro, ela conta história das maluquices dela, da fama, da carreira. É uma Rita incomparável e inatingível, empoderada. Nesse último livro ela mostra suas fragilidades, suas incertezas e dores. Ela se mostra mais humana.”

Fãs da cantora no velório
Coral de fãs em frente ao planetário. Foto autoral.

O livro ficou pronto no começo de 2023, mas de acordo com a vontade da cantora, seria lançado no dia 22 de maio, dia de Santa Rita de Cássia, e dia do novo aniversário de Rita Lee. Novo porque a cantora nasceu no dia 31 de dezembro, mas odiava ter que dividir essa data com o “cara mais famoso do mundo", Jesus Cristo, como conta em suas duas biografias.  Por isso, Rita decidiu que 22 de maio tinha mais a cara dela e passou a comemorar seu aniversário todos os anos nessa nova data. Nesse ano de 2023, Rita partiu 15 dias antes de poder comemorar seus 75 anos da maneira que queria, e antes de poder presenciar o lançamento de seu último ato.

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Os caminhos da produção literária e seus principais aspectos, segundo as professoras Ieda Magri e Luciene Azevedo
por
Beatriz C. Porto
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20/06/2023 - 12h

Contemporâneo significa “que ou quem é do mesmo tempo ou da mesma época”, de acordo com o Dicionário Priberam de língua portuguesa. Quando falamos em literatura, o período contemporâneo conta com produções datadas do final do século 20 até metade do século 21. Do Trovadorismo ao Modernismo, as peculiaridades de cada momento da história literária já podem ser definidas, mas o que hoje chamamos de literatura contemporânea, bem como suas principais formas, ainda está sendo desvendado pelos estudiosos.

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Reprodução site: Jornal Rascunho

Ieda Magri, além de autora no cenário contemporâneo, é doutora em Literatura Brasileira pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e professora de Teoria da Literatura na Universidade Estadual do Rio de Janeiro. Sua pesquisa atual diz respeito à inserção da literatura brasileira e latino-americana no cenário contemporâneo.

A professora Luciene Almeida de Azevedo leciona teoria literária na Universidade Federal da Bahia e sua pesquisa aborda as “formas contemporâneas do romance, autoficção e o campo literário”. Acerca desse contexto literário, Ieda e Luciene compartilham suas percepções sobre o assunto em entrevistas individuais.

Para Ieda, hoje a produção literária pode ser classificada em diferentes linhas de força. “A literatura que está interessada no modo de fazer e na discussão das possibilidades da literatura em conversa com os escritores que vieram antes”, aponta como uma das características. O rompimento entre gêneros também seria outra particularidade de nossa época. Segundo Luciene: “Há uma tolerância e uma exploração maior do hibridismo na forma de composição das obras. Muitas narrativas assumem uma dicção ensaística, flertam com a anotação diarística, incorporam documentos dentro das próprias obras”. Em concordância, Ieda cita como exemplo livros de Paloma Vidal que, segundo ela, “ficam entre o ensaio e o poema, entre o ensaio e o romance”.

Em sua fala, Ieda aponta para a crescente representação de identidades pouco retratadas até então, com narrativas que “trazem à tona um mundo pouco glamouroso, interiorano, roceiro” e cita como exemplo o livro Torto Arado, de Itamar Vieira Junior, que ganhou destaque no meio literário justamente por sua narrativa que trata de questões sociais.

“Há também uma poesia que beira a oralidade e a denúncia da violência contra mulher. Há escritores com projetos literários bem delineados e investindo forte numa linguagem nada simplificada, quase barroca. Tem uma literatura que investe no humor escrachado. Há vários escritores tentando entender o Brasil atual e há também um coro que parece vir de todas as partes do país, descentrando um pouco a produção”, indicou Ieda como outros atributos da literatura do século 21.

Já para Luciene, há uma tendência mais forte para a não ficção. Para ela, existe “um flerte de muitas obras com a tensão entre a imaginação e o relato em si”. “Essa exploração do não ficcional está relacionada à emergência de outras vozes”, ela afirma. 

Ainda que cada momento da literatura tenha suas características, ambas as entrevistadas concordaram que o realismo é uma particularidade de nossa literatura que atravessa o tempo e se mantém presente ainda hoje. “Nosso sistema literário se reconhece em um tipo de literatura-verdade. Isso continua hoje com o investimento de muitas obras em discussões das pautas políticas e sociais”, comenta Luciene.

Assim como o Romantismo tem José de Alencar e o Realismo, Machado de Assis, cada período da literatura conta com seus representantes. Por mais arriscado que seja identificar representantes de um tempo que ainda está em curso, Ieda Magri e Luciene de Azevedo elencam uma série de autores cujas obras podem ser consideradas as principais das últimas três décadas. Entre os escritores citados por cada uma, nomes como Bernardo Carvalho, Carlito Azevedo, Luiz Ruffato, Marília Garcia e Verônica Stigger aparecem em comum em suas listas.  

Ieda compartilhou trechos de seu artigo ainda inédito sobre a relação da literatura brasileira com o exterior. No artigo ela reflete sobre os motivos da baixa divulgação internacional da produção editorial do país. Ela aponta a linguagem como um dos motivos. “Acho que o pouco interesse na literatura brasileira em termos de mercado passa pelo pouco prestígio da língua portuguesa… o Brasil busca ainda uma linguagem própria para a inserção em outros mercados”, comenta. Em sequência, completa: “Essa linguagem-Brasil não passa mais por uma questão identitária, os escritores não precisam mais pensar sobre a natureza do país ou de sua língua, o que é libertador e talvez seja possível hoje por causa de nossa história pregressa”. Para Ieda não é possível pensar em apenas uma única linguagem de literatura nacional e fica claro que na circulação da literatura brasileira na Europa esse não é o caso. “Circula tanto uma literatura mais cosmopolita, ou mesmo com a literatura moderna europeia, quanto a mais localizada territorialmente, a que joga com o Brasil-fetiche (o do carnaval, da beleza natural, da bossa-nova ou do futebol) ou com o Brasil-problema (o da miséria, das favelas, da violência urbana). Nesse sentido há muitos brasis e há várias linguagens Brasil, uma literatura muito diversa em temas e em formas.”

A respeito das perspectivas para o futuro da literatura brasileira, Ieda diz que tudo é possível, mas que falta “investimento institucional na internacionalização de nossa literatura”. Em seu artigo, ela também aborda essa questão e escreve: “A circulação de Clarice Lispector ou de livros mais pontuais como Torto arado, de Itamar Vieira Junior ou, antes, Barba ensopada de sangue, de Daniel Galera, vão sedimentando essas linguagens Brasil: dizendo o que é a literatura brasileira hoje”.

 

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Virada Cultural realizada na Congregação Israelita Paulista traz a importância de valorizar o viver
por
Felipe Abel Horowicz Pjevac
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16/06/2023 - 12h

No dia 27 de maio, a CIP (Congregação Israelita Paulista), uma das maiores e mais tradicionais sinagogas do Brasil, recebeu mais de 300 membros da comunidade judaica de São Paulo para a décima sexta edição do Ticun de Shavuot, uma virada cultural que se estendeu pela madrugada comemorando as belezas da vida e o próprio viver em si. Palestras, danças e jogos reforçaram a todos os presentes a importância de agradecer todos os dias pela vida e de homenagear aqueles que dedicaram suas vidas a nós.

 

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A árvore emanando luz também é um símbolo que representa a vida na tradição judaico-cristã

 

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A bandeira de Israel já na entrada da sinagoga é bem iluminada, uma metáfora para a vida do país independente

 

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As lembrancinhas distribuídas aos convidados mantém viva na memória dos judeus a noite de Shavuot

 

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A plateia era composta por pessoas mais religiosas e fiéis mais liberais, refletindo as diferentes vidas dentro da comunidade judaica

 

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O salão escuro e os braços erguidos das dançarinas das lehakot (grupos de dança) homenageiam a memória daqueles que já perderam a vida

 

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Já as harkadot (danças em roda) bailaram ao som de músicas israelenses exaltando a vida

 

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As velas acesas no momento da oração representam a chama da vida em nossos corpos

 

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A alimentação é uma parte muito valorizada da vida na cultura judaica, e opções não faltaram durante a noite

 

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