As séries fictícias ou documentais – de conteúdo esportivo – são muito presentes nos catálogos das plataformas de streaming. Com um grande público, algumas até têm relação com a popularização e diversificação do esporte, como “Drive to Survive” fez com a Fórmula 1, por exemplo. Para todos os gostos, e dos mais diferentes esportes, elas vêm fazendo sucesso com o público.
Em busca de sugestões, a AGEMT perguntou a cinco jornalistas quais são as suas séries esportivas prediletas. Veja abaixo as indicações.
MARIANA SPINELLI
A apresentadora e repórter mineira da ESPN indicou a série “Bem-vindos ao Wrexham”, disponível no Star+. “O Ryan Reynolds compra um time de verdade, da quinta divisão do campeonato inglês que está tentando subir para as divisões seguintes”, conta Spinelli.

O Wrexham AFC, do norte do País de Gales, é o terceiro clube de futebol profissional mais antigo do mundo, e em 2020 passou a ser comandado pelos atores Ryan Reynolds e Rob McElhenney – que atuaram nos filmes Deadpool e It's Always Sunny in Philadelphia, respectivamente.
Os Red Dragons passaram por sérios problemas financeiros, o que os levou para a 5ª divisão do campeonato inglês. E os torcedores, fanáticos pelo clube, arrecadaram dinheiro e lutaram contra obstáculos para manter a história viva. Até que Rob e Ryan, que nunca tinham trabalhado juntos e não tinham experiência prévia com futebol, se juntaram para liderar o time, e é esse processo que é mostrado pela produção.
Para a jornalista, a série documental “conta a realidade por trás do futebol”, além de ser uma fonte de entretenimento.
A série fez sucesso e foi renovada para a segunda temporada, após o time subir para a EFL League Two, quarta divisão do futebol inglês. O acesso veio pelo título, conquistado após uma virada sobre o Boreham Wood, em casa, por 3 a 1, com uma rodada para o final do campeonato.
CELSO UNZELTE
O jornalista da ESPN e professor da Faculdade Cásper Líbero falou sobre “The English Game”, disponível na Netflix. “A série mostra todo o contexto da época fora de campo, tornando-se interessante mesmo pra quem não gosta de futebol, como a minha mulher – o que possibilitou que assistíssemos juntos”, diz o comentarista.

“The English Game” trata dos primeiros tempos do futebol, especificamente da disputa das primeiras Copas da Inglaterra – a competição mais antiga do mundo, disputada desde 1871 – mas não fala só do esporte, uma vez que também mostra os conflitos entre a elite e a classe operária da época.
Em seis episódios, além de mostrar o futebol, a série retrata a luta de classes na Inglaterra durante o século 19, com os dramas cotidianos das personagens, mesclando a ficção com a realidade da época. O criador da produção também é responsável por “Downtown Abbey”, série de drama inglesa que se passa no século XX.
RAFAELLE SERAPHIM
A comentarista de futebol nas transmissões de jogos do Sportv e do Premiere indica a série “The Playbook: Estratégias para vencer”, disponível na Netflix. Com cinco episódios, cada um sobre um treinador diferente – em diferentes esportes – Doc Rivers, Jill Ellis, José Mourinho, Patrick Mouratoglou e Dawn Staley contam um pouco das suas estratégias pessoais para ter sucesso nos esportes e na vida.

“É uma série muito interessante porque traz algumas modalidades e como grandes campeões são no dia a dia. Fala da rotina, dos treinamentos e das competições.”, afirma Seraphim. Doc Rivers, técnico da NBA, campeão com o Boston Celtics, é o personagem do primeiro episódio; Jill Ellis é a técnica responsável por dois títulos de Copa do Mundo da Seleção de Futebol Feminino dos Estados Unidos; José Mourinho é um treinador de futebol multicampeão, que atualmente comanda a Roma; Patrick Mouratoglou foi o treinador da tenista Serena Williams durante dez anos e Dawn Staley é técnica de basquete e fala sobre a presença feminina em um ambiente dominado por homens.
Com campeões no futebol, tênis e basquete, a série lançada em 2020 tem produção de LeBron James e Maverick Carter, e mostra reflexões dos treinadores dentro e fora da prática esportiva. Seraphim, que entrou no grupo fixo de comentaristas do Grupo Globo recentemente, continua: “The Playbook coloca a gente um pouco por dentro da mente de quem pensa na estratégia de um atleta multicampeão”.
UBIRATAN LEAL
O comentarista de baseball e futebol da ESPN recomenda a série ‘Lucky!’, disponível no Star+. Nos oito episódios, é contada a história de Bernie Ecclestone, que, além de piloto, foi presidente e CEO da Formula One Management (FOM) e da Formula One Administration (FOA), que gerenciam a Fórmula 1. O produtor da série, Manish Pandey, também é o responsável por “Senna”, filme que conta a história do ídolo brasileiro de F1.

“É espetacular para quem está começando a acompanhar a Fórmula 1 nos últimos anos conhecer a história da modalidade. Conta como o esporte se transformou de uma competição de carros feita por mecânicos e engenheiros apaixonados por isso, mas bem pouco profissional, em um monstro econômico e de popularidade.”, afirma o jornalista.
A história de um dos chefões da Fórmula 1 é contada em primeira pessoa, a partir de depoimentos do próprio empresário e tem imagens de arquivo de corridas antigas. “Ele narra a trajetória dele no esporte, que é basicamente toda a história da categoria, porque ele esteve presente no primeiro Grande Prêmio da história da Fórmula 1, que aconteceu na Inglaterra em 1950”, contina Ubiratan. Além disso, a série também mostra as brigas políticas internas da Fórmula 1 e o passado de alguns pilotos.
RAFAEL LOPES
“Sou fã de ‘O.J.: Made in America’. Gosto como o documentário é construído, como a carreira dele é mostrada, como o caso é abordado, mas, sobretudo, como ele serviu como gatilho para as questões raciais americanas dos anos 1980. É uma obra definitiva sobre o personagem, contada com muito cuidado e sem sensacionalismo.”, afirma o comentarista de automobilismo do Grupo Globo, Rafael Lopes.

O documentário, – que tem a duração de uma série, com 7 horas e 47 minutos – está disponível no Star+ e é dividido em cinco partes. A produção, que ganhou um Oscar por melhor documentário em longa-metragem, narra a história do ex-jogador de futebol americano O.J. Simpson, acusado de assassinar sua ex-esposa, Nicole Brown Simpson, e um amigo dela, Ron Goldman.
A trama, além de contar a ascensão e queda de um ídolo dos esportes americanos e um caso muito polêmico e importante, também fala sobre a justiça e o sistema criminal, racismo, poder, a mídia e outras questões sociais.
Todo início de carreira tem seus obstáculos, e ser cantor não é diferente. Sem muito investimento ou visibilidade, os cantores muitas vezes não têm o apoio dos pais, não sabem se estão na carreira certa ou se têm o dom de cantar.
Gabriel Cascardo tem 24 anos, seu nome artístico é Bean, e está produzindo e cantando há quase dez anos. Seu estilo musical está em processo, mas neste momento é trap. “No começo era por diversão, um trampo bem amador, até que fui me encontrando cada vez mais e, de uns cinco anos pra cá, a história vem se tornando cada vez mais profissional.”
Renan Aranha, conhecido como Renife pelos fãs, tem 20 anos e está na carreira musical há quatro anos. Suas inspirações estão nos estilos musicais de R&B, pop e love song. Segundo ele, as horas de criação começam sempre com um gole de café. “Pego meu violão e crio uma melodia doce, depois planejo qual vai ser o tipo do som, e mando bala. Depois faço todo o instrumental no computador, canto por cima, faço todas as vozes e faço as edições finais”.
Sidónia Pacule canta desde os 15 anos, mas profissionalmente há três. Seu estilo de música tem como foco a religiosidade. "Achei meu estilo musical ouvindo o coração de Deus, ele me curou da orfandade que eu carregava e Ele me deu autoridade para curar outras pessoas. O que começou em mim não vai terminar em mim."
Os objetivos dos cantores iniciantes são vários, mas o principal é viver da sua música e que ela seja ouvida por todos. “Objetivo que minha música seja ouvida por todos, e que meus sentimentos cheguem para aqueles que querem ouvir”, relata Aranha. “Alcançar mais almas e para alcançar tenho gravado novas canções e trabalhado na divulgação”, diz Pacule. "O meu maior objetivo é que eu consiga ganhar a vida fazendo com que a minha música cause nos outros o que a música dos outros causou em mim”, conta Cascardo.
O início de carreira tem suas dificuldades. “Minhas dificuldades são alguns bloqueios criativos que acabo tendo de vez em quando e quando entro nesse buraco é difícil sair”, diz Gabriel. Para Renan: “ter pouca visibilidade, pouca grana para investir”. Já para Sidónia: "a dificuldade é entrar no estúdio e gravar".
Para a divulgação de suas músicas, os cantores usam métodos diferentes para conseguir aumentar os números de seus fãs. Renife tenta "chamar a atenção com a capa da música ou jogando um jogo de suspense por trás de alguma prévia” e depois fazendo “uma corrente de divulgação". Com Sidónia Pacule, as divulgações acontecem "através das redes sociais e das plataformas digitais como YouTube, Deezer e Spotify".
Neste departamento, Bean tem um processo diferente, dividido em algumas partes. A prévia alimenta a curiosidade do público com uma nova música, depois o lançamento e no final o pós-lançamento são os resultados realizados pelas partes anteriores. "É um processo um tanto quanto complexo que não tem uma fórmula exata e é aí que entra grande parte da criatividade para inovar e trazer algo que surpreenda o público", diz o cantor.
Bruno Zanardi tem 30 anos e é produtor musical há 15. Os estilos de músicas que mais produz são pop, sertanejo, funk pop, entre outros. Ele costuma trabalhar com cantores com faixa etária de 18 a 30 anos. Em sua maioria, "os cantores me procuram com o projeto em mente", conta Zanardi.
O processo de produzir uma música acontece por cinco fases: composição (letra e melodia), arranjo, gravação dos instrumentos, gravação vocal e finalização (mixagem e masterização).
"Normalmente um cantor iniciante tem diversos vícios musicais até por não ter experiência em estúdio. Meu trabalho é lapidá-lo para que performe da melhor maneira possível", relata o produtor.
É importante ressaltar que muitos artistas não têm um produtor ou agente. "Não tenho nenhum agente ou produtor, meu trampo é e sempre foi 100% independente! Acho legal reforçar esse ponto porque hoje em dia, com o aumento das agregadoras digitais, qualquer um consegue ser independente e eu acho isso f***!", afirma Cascardo.
Os cantores são abordados de diferentes maneiras para se fazer shows. "Geralmente com um convite normal, até agora só fiz um de qualquer forma", diz Renife. Sidónia Pacule, por sua vez, recebe os convites "através das minhas redes sociais e WhatsApp". Para Bean, tem duas possibilidades: "uma delas é ter uma pessoa encarregada de vender nossos shows para casas, festas, eventos etc", a outra "é que às vezes nós mesmos nos interessamos por algum lugar e buscamos contato com o dono do espaço ou organizador do evento para vender nosso show".
Quando são reconhecidos, o sentimento é satisfatório, pois suas músicas estão sendo ouvidas e apreciadas. "Eu fico muito feliz, acontece raramente, mas aconteceu já umas dez vezes, é sempre algo muito bom e me deixa muito feliz", diz Renan. "É incrível ser reconhecido, pois cada reconhecimento é um poder de Deus alcançando vidas. Então, ao me reconhecer, está reconhecendo a obra de Deus", afirma Sidónia. "A sensação de ser reconhecido em algum lugar é algo muito gratificante. É ali que vejo que todo o trabalho teve a sua recompensa. Só tenho de agradecer a todos que ouvem minhas músicas e gostam do meu trabalho. Esse é o maior incentivo que eu tenho para continuar", relata Gabriel.
Às 11 da manhã do dia 10 de maio o planetário do parque Ibirapuera estava lotado. Mesmo com a ameaça da chuva, cercade 6 mil pessoas compareceram para prestigiar a rainha do rock em seu velório. A Santa Rita de Sampa foi a primeira pessoa a ser velada no local. Sobre o caixão fechado, uma imagem estática das estrelas no dia em que ela nasceu.
Espera-se que qualquer tipo de ritual fúnebre seja triste e doloroso. Mas assim como quase tudo na vida de Rita, sua despedida não foi nada tradicional. Ali estavam presentes pessoas de todos os tipos. Jovens e idosos, homens e mulheres, brancos e pretos. Além do cosplay do Elvis Presley. E todos cantavam. Seus fãs transformaram a sua despedida em uma verdadeira festa em homenagem à cantora.

Rita não queria um funeral com flores. No entanto, o carinho das pessoas não permitiu que seu desejo se concretizasse. O corredor de entrada do Planetário estava abarrotado de coroas exibindo mensagens convencionais. Em frente ao caixão, rosas avulsas e buquês foram deixados.
Na saída, um grupo de fãs que cantava incansavelmente foi parado por um repórter para que fizessem uma entrada ao vivo. Eles se reúnem em frente ao Planetário para cantar mais uma música de Rita, desta vez em TV aberta. Sem nenhum ensaio prévio, cerca de 20 pessoas entoaram “Saúde” em frente às câmeras. A canção ficou ainda mais impactante com a junção de diferentes timbres. Alguns afinados e maioria lindamente fora do tom.

Na transmissão, é possível ver as lágrimas surgindo na medida em que se aproximam do final do refrão. Na letra, Rita diz que enquanto estiver “viva e cheia de graça, talvez ainda faça um monte de gente feliz.” Imediatamente após o final da gravação o grupo se dissipa. A maioria está chorando.
Seu legado atravessou gerações e fez parte da história de muita gente. Sônia, de 61 anos, acompanha a trajetória da cantora desde o começo e se orgulha por ter ido em diversos shows da artista. No velório, ela usa uma camiseta estampada com o rosto de Rita Lee e canta mais alto do que qualquer um. “É lindo ver que ela consegue unir as pessoas mesmo depois de morta. É difícil alguém conseguir fazer isso, acho que ela mudou a vida de muita gente”

Essa proximidade que Rita criou com seus fãs não se dá somente pela personalidade marcante da cantora ou por suas músicas freneticamente reproduzidas. Rita Lee compartilhou grande parte da vida através de sua biografia. Desde a infância na Vila Mariana aos becks divididos com Tim Maia, do começo de sua carreira à aposentadoria. Esse livro, “Rita Lee: uma autobiografia", foi o mais vendido da categoria em 2016.
Em 2021, ainda durante a pandemia, Rita decide relatar uma nova fase da vida, a descoberta do câncer de pulmão. Reclusa em seu sítio no interior de São Paulo, a cantora descreve a nova rotina sob os cuidados intensivos da família e das enfermeiras no combate à doença.
O jornalista Guilherme Samora, editor das duas autobiografias e amigo pessoal de Rita Lee, explica o processo de criação do novo livro. “Ela não gostava de escrever sob a pressão do livro ser publicado, com a primeira autobiografia foi a mesma coisa. Então ela me falou que estava escrevendo mas que seria só pra mim. Eu ia ser o único que poderia ler. Mas quando eu li, eu achei tão lindo, tão forte, que convenci ela a publicar essa outra autobiografia.”
Samora também é voz ativa nos dois livros da cantora, Ele aparece como o personagem Phantom, criado por Rita, para adicionar informações e observações importantes que a autora deixa escapar. Segundo ela, Guilherme sabe mais sobre sua vida do que ela própria. “Da minha vida eu esqueço tudo, mas eu não esqueço nada sobre ela” ele explica em entrevista.
Guilherme conheceu Rita como fã ainda criança, por influência de seus pais. Ao longo da vida, manteve proximidade com a cantora e passou a trabalhar com ela em seu primeiro livro. Para o jornalista, esse livro se diferencia do segundo por mostrar diferentes versões da artista. “No primeiro, ela conta história das maluquices dela, da fama, da carreira. É uma Rita incomparável e inatingível, empoderada. Nesse último livro ela mostra suas fragilidades, suas incertezas e dores. Ela se mostra mais humana.”

O livro ficou pronto no começo de 2023, mas de acordo com a vontade da cantora, seria lançado no dia 22 de maio, dia de Santa Rita de Cássia, e dia do novo aniversário de Rita Lee. Novo porque a cantora nasceu no dia 31 de dezembro, mas odiava ter que dividir essa data com o “cara mais famoso do mundo", Jesus Cristo, como conta em suas duas biografias. Por isso, Rita decidiu que 22 de maio tinha mais a cara dela e passou a comemorar seu aniversário todos os anos nessa nova data. Nesse ano de 2023, Rita partiu 15 dias antes de poder comemorar seus 75 anos da maneira que queria, e antes de poder presenciar o lançamento de seu último ato.
Contemporâneo significa “que ou quem é do mesmo tempo ou da mesma época”, de acordo com o Dicionário Priberam de língua portuguesa. Quando falamos em literatura, o período contemporâneo conta com produções datadas do final do século 20 até metade do século 21. Do Trovadorismo ao Modernismo, as peculiaridades de cada momento da história literária já podem ser definidas, mas o que hoje chamamos de literatura contemporânea, bem como suas principais formas, ainda está sendo desvendado pelos estudiosos.

Ieda Magri, além de autora no cenário contemporâneo, é doutora em Literatura Brasileira pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e professora de Teoria da Literatura na Universidade Estadual do Rio de Janeiro. Sua pesquisa atual diz respeito à inserção da literatura brasileira e latino-americana no cenário contemporâneo.
A professora Luciene Almeida de Azevedo leciona teoria literária na Universidade Federal da Bahia e sua pesquisa aborda as “formas contemporâneas do romance, autoficção e o campo literário”. Acerca desse contexto literário, Ieda e Luciene compartilham suas percepções sobre o assunto em entrevistas individuais.
Para Ieda, hoje a produção literária pode ser classificada em diferentes linhas de força. “A literatura que está interessada no modo de fazer e na discussão das possibilidades da literatura em conversa com os escritores que vieram antes”, aponta como uma das características. O rompimento entre gêneros também seria outra particularidade de nossa época. Segundo Luciene: “Há uma tolerância e uma exploração maior do hibridismo na forma de composição das obras. Muitas narrativas assumem uma dicção ensaística, flertam com a anotação diarística, incorporam documentos dentro das próprias obras”. Em concordância, Ieda cita como exemplo livros de Paloma Vidal que, segundo ela, “ficam entre o ensaio e o poema, entre o ensaio e o romance”.
Em sua fala, Ieda aponta para a crescente representação de identidades pouco retratadas até então, com narrativas que “trazem à tona um mundo pouco glamouroso, interiorano, roceiro” e cita como exemplo o livro Torto Arado, de Itamar Vieira Junior, que ganhou destaque no meio literário justamente por sua narrativa que trata de questões sociais.
“Há também uma poesia que beira a oralidade e a denúncia da violência contra mulher. Há escritores com projetos literários bem delineados e investindo forte numa linguagem nada simplificada, quase barroca. Tem uma literatura que investe no humor escrachado. Há vários escritores tentando entender o Brasil atual e há também um coro que parece vir de todas as partes do país, descentrando um pouco a produção”, indicou Ieda como outros atributos da literatura do século 21.
Já para Luciene, há uma tendência mais forte para a não ficção. Para ela, existe “um flerte de muitas obras com a tensão entre a imaginação e o relato em si”. “Essa exploração do não ficcional está relacionada à emergência de outras vozes”, ela afirma.
Ainda que cada momento da literatura tenha suas características, ambas as entrevistadas concordaram que o realismo é uma particularidade de nossa literatura que atravessa o tempo e se mantém presente ainda hoje. “Nosso sistema literário se reconhece em um tipo de literatura-verdade. Isso continua hoje com o investimento de muitas obras em discussões das pautas políticas e sociais”, comenta Luciene.
Assim como o Romantismo tem José de Alencar e o Realismo, Machado de Assis, cada período da literatura conta com seus representantes. Por mais arriscado que seja identificar representantes de um tempo que ainda está em curso, Ieda Magri e Luciene de Azevedo elencam uma série de autores cujas obras podem ser consideradas as principais das últimas três décadas. Entre os escritores citados por cada uma, nomes como Bernardo Carvalho, Carlito Azevedo, Luiz Ruffato, Marília Garcia e Verônica Stigger aparecem em comum em suas listas.
Ieda compartilhou trechos de seu artigo ainda inédito sobre a relação da literatura brasileira com o exterior. No artigo ela reflete sobre os motivos da baixa divulgação internacional da produção editorial do país. Ela aponta a linguagem como um dos motivos. “Acho que o pouco interesse na literatura brasileira em termos de mercado passa pelo pouco prestígio da língua portuguesa… o Brasil busca ainda uma linguagem própria para a inserção em outros mercados”, comenta. Em sequência, completa: “Essa linguagem-Brasil não passa mais por uma questão identitária, os escritores não precisam mais pensar sobre a natureza do país ou de sua língua, o que é libertador e talvez seja possível hoje por causa de nossa história pregressa”. Para Ieda não é possível pensar em apenas uma única linguagem de literatura nacional e fica claro que na circulação da literatura brasileira na Europa esse não é o caso. “Circula tanto uma literatura mais cosmopolita, ou mesmo com a literatura moderna europeia, quanto a mais localizada territorialmente, a que joga com o Brasil-fetiche (o do carnaval, da beleza natural, da bossa-nova ou do futebol) ou com o Brasil-problema (o da miséria, das favelas, da violência urbana). Nesse sentido há muitos brasis e há várias linguagens Brasil, uma literatura muito diversa em temas e em formas.”
A respeito das perspectivas para o futuro da literatura brasileira, Ieda diz que tudo é possível, mas que falta “investimento institucional na internacionalização de nossa literatura”. Em seu artigo, ela também aborda essa questão e escreve: “A circulação de Clarice Lispector ou de livros mais pontuais como Torto arado, de Itamar Vieira Junior ou, antes, Barba ensopada de sangue, de Daniel Galera, vão sedimentando essas linguagens Brasil: dizendo o que é a literatura brasileira hoje”.
No dia 27 de maio, a CIP (Congregação Israelita Paulista), uma das maiores e mais tradicionais sinagogas do Brasil, recebeu mais de 300 membros da comunidade judaica de São Paulo para a décima sexta edição do Ticun de Shavuot, uma virada cultural que se estendeu pela madrugada comemorando as belezas da vida e o próprio viver em si. Palestras, danças e jogos reforçaram a todos os presentes a importância de agradecer todos os dias pela vida e de homenagear aqueles que dedicaram suas vidas a nós.