Psicóloga explica as motivações emocionais e sociais que levam a este comportamento
por
Cecília Schwengber Leite
Helena de Paula Barra
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12/06/2025 - 12h

Nos últimos meses viralizaram na Internet diversos casos de “mães de bebê reborn”, em que mulheres adultas faziam vídeos cuidando e interagindo com as bonecas artesanais realistas como se realmente fossem suas filhas, dividindo opiniões sobre tal comportamento. A polêmica se acentuou quando começaram a surgir mulheres levando suas bonecas para supostamente serem atendidas em postos de saúde, ou até brigando pela sua guarda na justiça. Para entender melhor o assunto, ouvimos Kelly Vieira Ramos, psicóloga e especialista em análise do comportamento, em entrevista à AGENT. Para assistir ao vídeo, acesse o link:

 

Os famosos LPs batem recordes de venda e voltam a fazer sucesso, inclusive com as novas gerações
por
Helena Costa Haddad
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11/06/2025 - 12h

Revolucionando a indústria musical, os discos de vinil, criados em 1948 por Peter Carl Goldmark e Columbia Records, mudaram a forma de distribuição musical e marcaram a cultura mundialmente. No Brasil, eles chegaram em 1951 com o disco Carnaval em ‘long playing’ (tradução da sigla LP) e se mantiveram no auge até a década de 1990, quando os CDs apareceram para substituir os discos. Nos anos 2000, as mídias digitais tiveram seu boom e o streaming conquistou o público.  

Mas apesar das plataformas de streaming estarem em alta, jovens, que nem viveram a era dos LPs, começaram a procurar vinis e muitos novos artistas também estão atrás desse método de distribuição. Em 2024, um levantamento da Pró-Música Brasil mostrou que os discos de vinil representam 76,4% da venda de mídia física no país, os correspondentes a R$ 16 milhões. 

discos na galeria
Zeitgeist Music, Galeria do Rock. Imagem: Helena Haddad

Marco Antônio Cunha, vendedor desde 1984 na Galeria do Rock, no centro de São Paulo, contou que viveu a transição vinil para CDs e que agora, voltou a vender discos. “Agora, os discos pop de artistas internacionais são os mais procurados. Vamos atrás de fornecedoras e pagamos taxas altas, o que encarece muito, mas, é o que mais sai”. Discos como Brat, de Charli xcx e Mayhem, de Lady Gaga estão nas prateleiras e são sucesso de vendas garantido.  

 

O desafio da produção interna e das taxas 

Em março deste ano, o ministro da Fazenda Fernando Haddad comentou que iria tentar zerar a importação de discos de vinil.  “Eu nem sabia que disco era tributado, porque livro não é. Compro livro importado e nunca paguei tributo. Prometo ver isso, com carinho. Vou discutir com o Barreirinhas [secretário da Receita Federal]”, prometeu o ministro no Podcast Inteligência Ltda.  

Para Marco, a promessa do ministro não deve ir para a frente “no ano passado, elas [as taxas] foram cobradas fielmente. Como existe há muito tempo, duvido que vão diminuir ou zerar”. Francisco Troia, vendedor de vinil há cinco anos fala desse momento com curiosidade e concorda com a problemática das taxas: “os jovens redescobriram os vinis, eles estão se interessando mais. Procuram garimpos e discos novos, principalmente pop internacional, Taylor, Lady Gaga etc. Às vezes, alguns clientes pedem discos específicos e a gente vai atrás. A venda aumentou muito com os jovens. Mas a alfândega é um empecilho. Tudo fica caro com as taxas.”.  

O vendedor também trouxe outra questão: a falta de fábricas de vinil no Brasil, que dificulta e encarece o projeto de novos artistas. “A demanda é muito grande nas fábricas, tem uma fila extensa. Só que quando eles fazem, é em pequena quantidade o que deixa o produto muito caro, quase no preço dos discos importados.” 
 

Gen Z e os vinis 

Os jovens André Paz e Igor Pimentel, ambos com 19 anos, são colecionadores e contaram um pouco sobre essa jornada. “Foi uma forma de me manter mais próximo dos artistas que eu gosto, me sinto mais conectado com a música, além da estética que me agrada muito”, comenta André. “Acho que na vitrola você percebe sons que no spotify não são perceptíveis. O som é mais claro”, complementa Igor.   

Já sobre os impostos, a resposta é unânime, apesar de ter mais sites, lojas, facilitando a compra, as taxas são “absurdas e desanimam”, como diz Igor. André, apesar de ter muitos discos importados, tem o costume de comprar discos nacionais: “Minha coleção é balanceada, tenho a discografia solo da Marina Sena completa em vinil. E já garimpei alguns.” 

A nova onda reafirma a relevância do vinil e devolve à discussão elementos como a qualidade do som e a experiência de ouvir música em si. Para os mais jovens, a prática também ajuda a reconectar com os hábitos dos seus pais, que muitas vezes passaram essa paixão para as gerações seguintes.  

A crise anunciada pelo vício em apostas online que atinge jovens e crianças
por
Leticia Falaschi
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10/06/2025 - 12h

O cenário quase que epidêmico gerado pelos aplicativos de aposta no Brasil desestabilizou diversas esferas da vida da população. Desemprego e a desigualdade econômica viram combustível para as empresas que operam as bets. Segundo uma pesquisa publicada em abril pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), 10,9 bilhões de brasileiros com mais de 14 anos de idade apostam de forma descontrolada em jogos de azar, dados esses pertencentes a terceira edição do Lenad (Levantamento Nacional de Álcool e Drogas), realizado entre 2023 e 2024. Os números, que crescem exponencialmente, alertam profissionais da saúde, principalmente na área da psiquiatria e psicologia.

Em contrapartida, a legalização de algumas plataformas parece não estar de acordo com o estado preocupante indicado pelo sistema de saúde brasileiro. A complexidade se encontra, principalmente, no perfil do público mais afetado pela jogatina. O estudo da Unifesp mostra que 1 a cada 8 desses 10,9 bilhões apresentam dinâmica mais comprometedora com as apostas, se enquadrando em diagnósticos de transtornos comportamentais ligados ao vício.

Segundo a psicóloga clínica Elen Ribeiro da Silva, formada pela Universidade Paulista (Unip), em entrevista à AGEMT, existe uma combinação de fatores que afeta, principalmente, classes socioeconômicas mais vulneráveis.  “Qualquer pessoa tem fácil acesso às apostas, e num país com altas taxas de desemprego e subemprego e com tantos brasileiros sem educação financeira, a promessa de se ganhar a vida em apostas online é muito atrativa, principalmente para aqueles em cenários financeiros mais delicados.”, afirma a entrevistada.

A conjuntura de descrença e crise na economia acabaram cooperando para que a febre das bets tomassem conta da vida dos brasileiros, uma ilusória perspectiva de vida. Segundo o Lenad, a dependência em jogos de aposta fica atrás somente do álcool e do tabaco, superando o vício no crack e na cocaína da população. As empresas usam mecanismos que fomentam a vontade de jogar, operando de forma apelativa, bombardeando o usuário com incentivos enganosos.

“Essas plataformas funcionam estimulando sistema de recompensa do nosso cérebro e com liberação de dopamina, o que se assemelha com a dinâmica neuroquímica causada pelo uso de drogas.”, explica a psicóloga.  A falta de regulamentação dessas operações, que lucram com o desespero dos brasileiros, assim como a publicidade predatória são fatores que podem estar relacionados com o imenso número de jogadores. 

Segundo Elen Ribeiro, a ludopatia (ou o jogo patológico) é um transtorno comportamental grave já reconhecido pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e já indicado no Manual de Diagnósticos Estatísticos de Transtornos Mentais (DSE-5) e é muito ameaçador pelo padrão comportamento compulsivo em apostas, mesmo diante de todas as consequências negativas. “É um pulso muito grande que foge do controle do jogador. Inicialmente vemos as perdas financeiras e endividamento, vêm os comportamentos ilegais... aí entra um fator ainda mais perigoso, que são os pensamentos suicidas, gerados pela desesperança em sair da situação. Muitas vezes, o indivíduo tem perda total da identidade", alerta Ribeiro.  

O sistema público de saúde sofre uma grande ameaça com o aumento de viciados em apostas, principalmente por ser uma patologia enquadrada no campo da psiquiatria. A rede de atendimento psicológico na saúde pública já é extremamente sobrecarregada, e a falta de estrutura para lidar com transtornos comportamentais é maior ainda. Os Centros de Atendimentos Psicossociais, os CAPS, um dos poucos centros públicos efetivos de tratamentos, têm uma grande demanda para tratar pacientes com vícios ligados ao álcool e as drogas, o que, somado ao sucateamento, deixa os tratamentos a outros transtornos em segundo plano.

É mais uma demanda para o Sistema Único de Saúde (SUS), ainda mais quando o público mais afetado não tem acesso a serviços de saúde privatizados.  A maioria das pesquisas especificadas para analisar o fenômeno vieram depois do aumento expressivo do número de viciados, não houve uma análise prévia à inundação das bets. Os poucos dados dos efeitos desse vício, usados em estudos de possíveis tratamentos, são de pessoas que buscam ajuda em centros clínicos, ainda há uma imensa parcela de indivíduos e dados que não foram analisados. Ouça aqui a entrevista completa. 

 

Como memórias viraram tendência e movimentam bilhões no mercado cultural
por
GUILHERME PERIOTTO KATINSKAS
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09/06/2025 - 12h

Tênis antigos, brinquedos de infância, filmes que voltam com nova roupagem. A nostalgia virou um dos motores mais fortes da cultura pop e do consumo. Mas por que buscamos tanto o que já passou? Neste vídeo, investigamos como a memória virou mercadoria, para isso tive uma conversa com quem vive disso: um jovem artesão que transforma saudade em bonecos. Assista

Podcast analisa a nova legislação implantada e como ela influencia a rotina de alunos, professores e a dinâmica da aprendizagem
por
Júlia Polito
Luiza Zequim
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01/06/2025 - 12h

Com o avanço da tecnologia e a popularização dos smartphones, o uso de celulares dentro das escolas se tornou uma questão mais discutida por educadores, pais e autoridades. De um lado, o aparelho pode ser uma ferramenta de apoio ao aprendizado, de outro, representa uma grande fonte de distração. Diante desse cenário, foi sancionada em janeiro de 2025 Lei que regulamenta o uso dos celulares nas instituições de ensino, estabelecendo critérios claros para garantir que a tecnologia seja utilizada de forma responsável e educativa, sem comprometer o rendimento escolar nem a convivência dentro do ambiente acadêmico.

Para discutir sobre essa questão e como ela funciona na prática, trouxemos duas convidadas para o nosso POD Conta Aí. A professora da rede particular, especializada em orientação de alunos, Adriana de Moraes, e Lara Miyazaki, aluna da rede pública, que apresenta sua perspectiva sobre o uso dos celulares em sala de aula. Para acompanhar esse bate papo, acesse abaixo o Spotify

 

Aficionado por máquinas de escrever restaura e preserva a memória desta tradicional ferramenta
por
Giovanna Montanhan
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14/04/2023 - 12h

Influencer por seu ofício no Instagram, Sérgio escolheu utilizar como codinome, a palavra em inglês ‘’type’’ - que significa digitar. Nas redes, o nome completo Sérgio Henrique de Oliveira passa despercebido, já que por lá, ele é apenas sergiotype - nome que faz jus a sua paixão por máquinas de escrever.

Iniciou-se quando ainda era pequeno, e a partir disso, teve o primeiro contato com uma Olivetti Lexikon 80, pois seu pai, vez ou outra, o levava junto ao trabalho e lá havia este modelo. Aos 55 anos de idade, possui mais de 30 modelos em sua coleção. Apesar de manifestar-se apegado a cada uma, também faz o serviço de restaurar e vender por meio de seu perfil. Os valores variam bastante, as mais em conta começam em R$700,00 e podem atingir R$1.000,00 – R$1.500,00.

Embora tenha um vasto acervo em casa, sempre está em busca por novas unidades, desde que estejam com a parte mecânica com um bom funcionamento, pois sempre que obtém uma nova, tem como objetivo usá-la. Movido pelo fascínio do objeto, em 2015, começou a pesquisar quais máquinas seus autores prediletos utilizavam. Descobriu que Hemingway usou por muito tempo uma no modelo Royal Portable, Clarice Lispector escrevia com o auxílio de uma Underwood portátil e Paul Auster junto de sua Olympia SM9 Deluxe eram inseparáveis – tanto que ela foi sua ‘’musa’’ inspiração para um livro.  

hemingway
Reprodução: Ernest Hemingway - Royal Portable

 

 

clarice
Reprodução: Clarice Lispector – Underwood

 

 

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Reprodução: Paul Auster - Olympia SM9 Deluxe

 

Sérgio é um fenômeno em seu ramo, tanto que chamou a atenção do rapper Emicida, que se interessou em adquirir um aparelho, mas com a condição de ter letra cursiva inclusa e foi presenteado com uma Hermes Baby. O modelo recebeu uma customização personalizada na cor amarelo – nome homônimo ao seu álbum de estúdio mais recente, além disso foram utilizados desenhos feitos em grafite por uma amiga do vendedor com o intuito de adequar o produto de forma a refletir a identidade do cantor.

Destaca que a procura das pessoas mais jovens por máquinas de escrever atualmente, se dá pelo fato de que na série da Netflix ‘’Wandinha’’ – que narra a história de uma das integrantes da Família Addams, a personagem aparecer em algumas das cenas teclando em uma Triumph Gabriele 35 vintage.

wandinha
Reprodução: Netflix

Todavia, ressalta que não é todo equipamento que permite conserto. Alguns por não serem cuidados da forma correta, acabam acumulando poeira, enferrujam ou estão com peças em falta. Há 30 anos que atua como redator na cidade de São Paulo. Trabalha em uma empresa de telecomunicação (Claro), além de administrar uma rede social que conta com mais de 4.000 seguidores.

Projetos se organizam para combater a pobreza menstrual em vários pontos do Estado de São Paulo
por
Marcela Rocha
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30/03/2023 - 12h

Perder dias de trabalho, contrair doenças, sentir vergonha do funcionamento do próprio corpo e se isolar durante o período menstrual por péssimas condições de higiene são alguns dos problemas causados pela pobreza menstrual.  As características acima ocorrem com mulheres em situação de vulnerabilidade social. O tema da pobreza menstrual tem ganhado repercussão desde outubro de 2021, quando Jair Bolsonaro vetou a distribuição de absorventes íntimos e outros itens de higiene que seriam direcionados para estudantes de baixa renda matriculadas na rede pública de ensino, mulheres em situação de rua ou em vulnerabilidade social, mulheres egressas e mulheres internadas participantes de programas de medidas socioeducativas. 

O financiamento dessas ações viria do Sistema Único de Saúde (SUS) e do Fundo Penitenciário Nacional, para o caso de mulheres egressas do sistema penitenciário. O veto e a omissão do Governo atrasaram o combate à pobreza menstrual e forçaram que movimentos envolvidos com as lutas das mulheres tomassem providências para tentar amenizar os danos. Absorventes sempre foram objetos que refletem as diferenças de classe entre as mulheres. O absorvente higiênico feito de algodão e plástico como conhecemos hoje surgiu no país apenas em 1930. Até aquele momento as mulheres usavam pedaços de pano reutilizáveis. Os panos eram lavados, secos e guardados para serem usados novamente no próximo período menstrual. 

Hoje é sabido que a prática não é indicada, pois, os panos abafam a umidade do canal vaginal e potencializam a possibilidade de contrair doenças infecciosas. A inserção de tecidos não esterilizados com os devidos procedimentos assépticos pode causar a mudança do pH vaginal e a proliferação de bactérias. Mesmo quando chegaram ao Brasil, os absorventes higiênicos industrializados não eram acessíveis a todas as mulheres por conta de seu alto preço. Os preços altos permanecem até hoje. O conceito “taxa rosa” foi recentemente criado por economistas para explicar que produtos para meninas e mulheres custam até 7% mais caros. 

O preço exorbitante de produtos ditos femininos combinado com o preconceito de gênero provoca a diferença salarial entre homens em mulheres, resultando em uma sociedade extremamente desigual que condiciona mulheres, sobretudo as de baixa renda, a uma vida indigna, em que um salário pouco paga as contas essenciais, e pouco ou nada sobra para gastos com itens de higiene, como é o caso dos absorventes. 

A situação se agrava quando falamos, por exemplo, de mulheres egressas do sistema penitenciário. O coletivo Por Nós atua em várias cidades do Estado de São Paulo no combate à pobreza menstrual, e foi idealizado por um grupo de mulheres ainda em cumprimento de pena. Atualmente quem direciona as ações são Mary e Iyá Batia Jello, Helen Baum e Débora Antunes. Após o cumprimento da pena a qual foram condicionadas, algumas mulheres voltaram a conversar fora dos muros de concreto que as aprisionavam e perceberam que tinham as mesmas mágoas: a falta de apoio do Estado e das famílias. 

Em prisões masculinas, em dia de visita, a fila é enorme no entorno das penitenciárias. No caso de prisões femininas, o que se observa é o abandono. Essa dupla penalização entre meio afetivo de rede de apoio e o cumprimento da pena, tornam a estadia dessas mulheres uma verdadeira tortura. Elas têm apenas elas mesmas e as colegas que fazem no sistema prisional. As mulheres que compõe e auxiliam o projeto viram no coletivo o apoio que precisavam de si próprias e de seus familiares para conseguir dar o primeiro passo ao processo de ressocialização e retomada da vida pós sistema carcerário. 

Débora Antunes, membro do grupo e atuante na direção do Por Nós, é uma sobrevivente do cárcere. Há 9 anos em liberdade, é mãe de 5 filhos, avó de 4 netas, trabalha como diarista e é formada em educação social pela Falcons University, a universidade da ONG Gerando Falcões, que realiza a capacitação e formação profissional dos alunos em 6 meses buscando realizar o combate à pobreza nas periferias do país. Débora também participa do CUFA (Central Única das Favelas) no complexo Jd. João XXIII, na Zona Oeste da capital, além de integrar o projeto religioso GT Missões com ações principalmente na "Cracolândia". 

De acordo com Débora, o movimento surgiu através da experiência desumana que todas elas compartilharam enquanto estavam em cárcere, como a falta de acesso a produtos de higiene menstrual: “recebíamos um pacote de absorvente por mês, de péssima qualidade e insuficientes para aquelas que tinham fluxo mais intenso. O coletivo hoje busca fortalecer as mulheres egressas e suas famílias, oferecendo informações e organizando ações nas datas das ‘saidinhas’ em algumas unidades penitenciárias do Estado de SP, marcando presença em importantes pautas para a população carcerária”, conta. 

Parafraseando Iyá Batia, outra fundadora, Débora diz que “a menstruação na cadeia mostra como a mulher na prisão é desvalorizada e empobrecida” O coletivo Por Nós hoje conta com 20 participantes atuantes independentes, se mantendo através de doações de absorventes higiênicos, coletores menstruais e doações de valores para compra de itens de higiene menstrual. A principal forma de contato com o movimento para doar e se voluntariar, é através do perfil no Instagram @nos_por_nos. O simples ato de fornecer absorventes higiênicos traz às mulheres egressas o fortalecimento da autoestima e autoconfiança, devolvendo a essas mulheres excluídas a condição humana da vaidade.

Beneficiárias posam em evento de entrega de coletores menstruais em parceria com a LBV. Foram doados 200 coletores. Foto: coletivo Por Nós.
Beneficiárias do projeto posam em evento de entrega de coletores menstruais em parceria com a Legião da Boa Vontade (LBV). Foram doados 200 coletores. Foto: coletivo Por Nós. 

 

A menstruação faz parte do funcionamento saudável do corpo feminino, mas as condições econômicas, culturais e sociais fazem do período menstrual um tabu, um assunto a ser evitado e digno de vergonha. O documentário Absorvendo o Tabu retrata como o constrangimento por menstruar afeta as mulheres indianas de um pequeno povoado. Indicado ao Oscar 2019, o filme demonstra para nós mulheres brasileiras as semelhanças entre as culturas brasileira e indiana. Em ambos em países a presença da pobreza menstrual dificulta a rotina de mulheres, as fazem perder dias de aula e de trabalho, faz com que sejam vistas como sujas e impróprias por menstruar, e são excluídas de atividades durante a menstruação. 

O grande acontecimento do filme ocorre quando uma máquina de produção de absorventes acessíveis foi instalada, transformando a vida das mulheres envolvidas com o projeto. Mais de 40% mulheres indianas não tem acesso a absorventes higiênicos e assim como no Brasil a utilização de panos e outros objetos improvisados ainda é uma realidade. 

Na cidade de São Carlos no interior do Estado de São Paulo, um grupo de combate à pobreza menstrual surgiu quando um coletivo de estudantes da Universidade Federal de São Carlos percebeu a carência de projetos de distribuição de absorventes para mulheres em vulnerabilidade social na cidade. Mariela Salvini, de 25 anos, hoje linguista formada pela UFSCar conta que quando ingressou no projeto Unidas pelas Mulheres com suas colegas tinha pouco conhecimento sobre pobreza menstrual e sobre como executar as ações, mas que concordou em participar por vontade de ajudar mulheres a ter um período menstrual digno e a passar mais informações sobre a saúde da mulher. 

Recebimento de absorventes higiênicos para distribuição. Foto: Unidas pelas Mulheres SC.
Recebimento de absorventes higiênicos para distribuição. Foto: Unidas pelas Mulheres SC. 

 

O projeto é custeado a partir de doações presenciais de absorventes, por PIX, doação de dinheiro e transferência bancária, e já utilizaram também das plataformas de financiamento coletivo Vakinha e Benfeitoria. O Unidas pelas Mulheres aceita também aliados para participar das ações e de projetos de arrecadação de valores. Para entrar em contato com o projeto basta acessar a página oficial no Instagram @unidaspelasmulheres.sc e se informar que deseja doar ou se voluntariar para a causa. 

A sanção da Lei 17.525/2022 está em execução pela Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (ALESP) para implementação do programa Dignidade Íntima, que prevê a distribuição de absorventes e outros itens de higiene menstrual para meninas matriculadas nas escolas da rede estadual de ensino, inclusive Etecs e Fatecs. 

A medida merece ser comemorada, pois significa uma tentativa de política pública de proporcionar as alunas melhores condições menstruais. Apesar disso, ainda não é o suficiente para erradicar a pobreza menstrual, pois não abrange meninas que não estão matriculadas em escolas estaduais de São Paulo e exclui outras pessoas que menstruam e que se encontram em situação de vulnerabilidade social. 

É preciso continuar lutando para que todas as pessoas que menstruam tenham acesso não apenas à absorventes, mas a todos os itens de higiene menstrual como coletores, calcinhas absorventes, absorventes internos, lenços umedecidos e o que mais for necessário. É preciso lutar contra a desinformação e mistificação da menstruação para que nossas mulheres, meninas e pessoas que menstruam não sintam nojo ou vergonha em realizar o único sangramento que não vem de uma violência contra o corpo: a menstruação.

O uso de tablets e smartphones tem papel fundamental na fixação de informações
por
Lucca Andreoli
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24/11/2022 - 12h

Por Lucca Andreoli

Um menino alegre, brincalhão e esperto. Heitor é pequeno. Muito menor que a maior parte dos meninos na sua idade. Tem cinco anos agora, mas por seu tamanho, seria facilmente confundido com alguém de dois ou três anos de idade. Essa é uma característica que sua síndrome apresenta. Ele tem Cri-Du-Chat, o que explica sua dificuldade de falar e seus movimentos destoantes.

Uma das preocupações que acometeram sua família a seu respeito, em especial sua mãe, Lilian, é o aprendizado que ele deveria receber, e quais tratamentos se mostrariam eficazes e importantes para uma melhor adaptação de seu filho na sociedade. Felizmente, hoje sabe-se muito mais, e pode-se tratar muito melhor pessoas com tal síndrome. Entre seus aliados nessa luta, a tecnologia é um de seus mais valiosos. Como fora dito anteriormente, tem dificuldade na fala, mas não pense que não sabe se comunicar e que não entende as coisas a seu redor. Desde muito cedo, demonstra ter uma memória magnífica, e isso se deve em grande parte pela presença dessa tecnologia. 

O uso de tablets e smartphones tem papel fundamental na fixação de informações e na complementação da dinâmica e da mecânica. Para sua comunicação, são fundamentais, visto que as imagens e as cores têm o grande poder de mantê-lo focado enquanto aprende, algo que é difícil de realizar sem a presença das telas. 

Assistir animações infantis e vídeos na Internet, é um hábito que sempre teve. Antes, quando queria assistir algo, costumava pedir que alguém colocasse para ele. Não precisava ser alguém conhecido, qualquer um que estivesse próximo e pudesse ajudar era bem-vindo. Surpreendentemente, hoje raramente pede ajuda para isso. Descobriu a senha do celular de sua mãe e costumeiramente o pega escondido para assistir o que deseja. Não sabe ler ou escrever ainda, mas isso não o impede de chegar aonde quer.
 
Jogos também são grande estímulo para ele. Como são em sua grande maioria, jogos que exigem atividade motora, são bastante benéficos para ele, e divertidos também, visto que sempre se diverte com eles. Para quem tem essa síndrome, o tratamento é individualizado, variando de paciente para paciente. No caso do Heitor, ou “pequeno príncipe” como é chamado por sua semelhança com o personagem, foi necessário passar por fisioterapia. Esse processo contou com a presença de diversos aparelhos técnicos, que, por mais que não gostasse na época, hoje com o resultado, pode ser visto grande avanço e melhora em praticamente todos os aspectos. 

A primeira edição do festival preenche o Allianz Parque e junta público diversificado com bandas de rock de diferentes gerações.
por
Luana Barros Galeno
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15/11/2022 - 12h
Banda Fresno abre GP Week
Banda Fresno abre GP Week

Neste sábado (12), ocorreu a primeira edição do festival de música GP WEEK, na cidade de São Paulo. Com shows de Fresno, The Band Camino, Hot Chip, Twenty One Pilots e The Killers.
Em referência ao ‘Grande Prêmio’ de Fórmula 1, o evento trouxe bandas que caminham entre sub estilos do rock e atraíram públicos de todas as idades. Com performance eletrizante de Twenty One Pilots e The Killers, a GP Week conquista espaço no grande calendário de festivais da cidade.

Fresno, a única banda brasileira a participar, abriu a sequências de shows às 14 horas e trouxe aos palcos o emo, juntando clássicos com novidades para conquistar a plateia que timidamente começava a preencher o Allianz Parque. Lucas Silveira, vocalista, finalizou a participação do grupo questionando o fato de ser apenas uma banda com canções em português, mas instigou os ouvintes a valorizarem o som nacional com uma versão de Eva, originalmente da Banda Eva, que foi cantada por todos ali presente. 

The Band Camino canta pela primeira vez em solo brasileiro.
The Band Camino canta pela primeira vez em solo brasileiro.

As homenagens ao Brasil não acabaram por aí, pois The Band Camino não poupou palavras para descrever a emoção de, pela primeira vez, tocarem no Brasil - e na América Latina. Pela formação recente, a presença de um público significativo em outro território pareceu surpreender os musicistas, pois não deixavam de agradecer recorrentemente a presença de todos. Aproveitando a oportunidade, convidaram ao palco Mateus Asato, guitarrista brasileiro, famoso internacionalmente por ter tocado com Bruno Mars e Jessie J. Vestidos com a camisa do Palmeiras, a banda encerrou sua participação com uma energia contagiosa. 

A banda The Hot Chip, criou um clima ainda mais animado para as bandas mais esperadas da noite, Twenty One Pilots e The Killers. O primeiro transformou o estádio às 19:00, o uníssono dos ouvintes era eletrizante e a entrega do duo incomparável. Com momentos surpreendentes, como a escalada da torre de apoio pelo Tyler Joseph e a bateria em cima da plateia por Josh Dun, a banda cria mais um show inesquecível em solo brasileiro. A interação com o público foi fundamental para que pudessem ser considerados os protagonistas da festa, sendo ovacionados ao finalizarem com “Heathens”.

O atestado da união de gerações ficou ainda mais claro com o show de The Killers, que encerraram a noite. O Allianz, que à tarde encontrava um público mais jovem, encarava durante o show espectadores maduros, mas com a vitalidade de Brandon Flowers, vocalista da banda. Com as letras na ponta da língua, os 50 mil presentes, entregaram todos os hits da banda de forma excepcional, demonstrando que a pergunta de Brandon “vocês esqueceram da gente?” era apenas ironia. Porém, um destes fãs foi convidado ao palco para tocar “For Reasons Unknown” e o fez perfeitamente em meio a aplausos e gritos. A GP Week conquista através das atrações e do público, o espaço necessário para se consagrar como mais um festival paulista no calendário nacional. 

Twenty One Pilots ganha protagonismo no festival
Twenty One Pilots ganha protagonismo no festival

 

Mais do que moda, o movimento gera discussões sobre identidade, apropriação cultural e politica.
por
Beatriz Tiemy
Giulia Aguillera
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19/10/2022 - 12h

Seja em bonés, camisetas de time ou chinelos Havaianas, o verde, amarelo e azul estão presentes nos novos produtos da moda nacional e internacional. Nos últimos meses, a bandeira brasileira se espalhou rapidamente pelas redes sociais de influencers fashionistas do mundo todo, principalmente pelo TikTok e Instagram. Às vésperas das eleições e da Copa do Mundo do Qatar, a popularização do símbolo do Brasil restaura um sentimento de identidade que vai muito além da moda.

Mais que uma tendência, o BrasilCore tem uma importância política no ano de 2022. Desde 2014, a bandeira brasileira e o próprio brasão da Confederação Brasileira de Futebol são associadas à direita política no país. O verde, amarelo e azul estamparam campanhas eleitorais e manifestações a favor desse lado, representado principalmente pelo presidente em exercício, Jair Bolsonaro (PL). Um exemplo expressivo do uso das cores com um cunho partidário foi a onda de atos pedindo pelo impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), em 2016.

Esse processo de apropriação do símbolo nacional fez com que o grupo que não se identifica com os ideais da direita deixasse de usar roupas com o tema e, mais do que isso, perdesse o sentimento de nacionalismo. Em contrapartida, a estética BrasilCore surge na direção contrária à apropriação, já que propõe o resgate da bandeira como forma de representação do povo brasileiro. Assim, o movimento une moda, política e, ainda, futebol.

Não é possível falar de estética brasileira sem mencionar o futebol, já que, no país, é o esporte mais popular. Por isso, o lançamento das camisas da seleção da Copa do Mundo de 2022 pela Nike é uma forma de consolidar o BrasilCore como tendência nacional e internacional. Em entrevista para a AGEMT, Julia Andreata (20), Analista Júnior que integra a equipe criativa da empresa, conta que a maior dificuldade no processo de criação do novo uniforme foi manter as cores clássicas da camisa brasileira tendo em vista o longo e complexo processo político pelo qual o país está passando.

A moda sempre foi um instrumento de manifestação e, com a chegada da Copa do Mundo e das eleições, a tendência do verde e amarelo se torna mais presente e comentada do que nunca, o que gera grandes reflexões e embates internos por parte da população. É uma perspectiva que estimula, por um lado, o patriotismo de volta, mas, por outro, o medo e a repulsa de usar a camisa verde e amarela com receio de ser associado a partidos e ideologias políticas. Durante anos, o povo brasileiro assistiu essa atitude, fazendo com que muitos abrissem mão de sua bandeira, de suas camisas, das cores que representam a sua nação.

Na tentativa de desmistificar, a Nike, junto a sua equipe criativa, exploraram maneiras de desvincular a política das blusas da seleção e restaurar aquele sentimento de orgulho ao vestir o verde e amarelo.

O caminho que a Nike escolheu seguir foi exaltar aspectos da cultura brasileira. Para isso, escolheu um visual baseado no uniforme usado pelo time na conquista de seu último título, em 2002. Surge então o slogan “Veste a Garra”, estampado por toda a campanha das novas camisetas da próxima Copa, que sugere ao povo brasileiro agora, mais que nunca, é o momento de vestir a camisa e lutar pelo país, assim como os atletas em campo lutam por uma vitória.

Julia ainda retoma que o objetivo principal dos novos designs foi “trazer orgulho de volta para os brasileiros, e fazer eles vestirem a camiseta. Tudo foi pensado nisso, envolver a textura de onça pintada nas mangas e a bandeirinha na gola, símbolos brasileiros. Por isso, todo o marketing teve o bordão ‘Veste a Garra’”.

 

As camisetas de time e a periferia

O esporte sempre foi um dos fatores que influenciam a moda. Dos tênis All Star até a camisa Polo, muitas tendências surgiram por conta das práticas esportivas. No entanto, com o futebol no Brasil, alguns fatores fizeram com que essa influência fosse vista como algo negativo. Apesar de eleito o esporte favorito dos brasileiros, a elite enxergava, até pouco tempo atrás, o futebol como pertencente a uma cultura de massa e tinha uma visão negativa sobre ele.

Desde muito antes da repercussão atual do Brazilian aesthetic nas redes, que trouxe consigo uma nova visão das camisetas como itens fashionistas, elas já eram muito antes reverenciadas e reconhecidas como itens essenciais da moda periférica. O “país do futebol”, assim chamado e reconhecido por sua nação, fez com que as camisetas se tornassem um grande símbolo, que teve um imenso consumo e ênfase nas periferias pelo entorno do cotidiano periférico em que o futebol é um elemento muito forte e presente. Como um exemplo disso, a existência dos campos de futebol nas comunidades em que crianças e adultos de todas as idades frequentam e jogam.

Diante dessa situação, pelas roupas da seleção terem como modelos principais os corpos negros e periféricos, esse movimento foi envolto pelo preconceito e o “mal olhado” sendo associado como estilo de “favelado” ou símbolo de algo desleixado. A problemática da tendência surge neste momento em que passa a ser valorizada apenas quando vestida por um grupo específico, branco e elitista no Brasil e "gringos". Algo que muito antes já fazia parte da moda nacional, identidade cultural e realidade de muitos brasileiros, somente a partir do momento que foi usada por pessoas de outros países e grandes figuras brancas e influentes passa a ser visto como um elemento grandioso de moda.

Com a replicação das tendências do exterior observadas no Brasil e a questão da desvalorização de moda nacional e periférica, Laura Ferrazza, historiadora da moda, diz: “As referências da moda estão globalizadas, porém, é um erro pensar que o Brasil não crie suas próprias tendências internas e mesmo seja capaz de exportar tendências”.

“Acho que a identidade de um povo, como uma nação jovem como a brasileira, está sempre em construção. O brasileiro sempre coloca sua marca, seu jeito próprio ao usar algo externo e é muito criativo e inovador”, completa Laura.

Sobre a repercussão da tendência BrazilCore, diz:  “A moda é um catalisador do espírito do tempo, um espaço para expressar gostos e opiniões.” “Certamente as preferências eleitorais e esportivas acabam aparecendo como tendência em momentos importantes como uma eleição presidencial e uma Copa do Mundo”, diz Laura Ferrazza.