Sob o foco de um olhar revolucionário, em sua primeira grande retrospectiva no Brasil, o IMS Paulista apresenta a obra multifacetada de Gordon Parks, artista que usou a imagem para expor injustiças e humanizar histórias silenciadas.
por
Anna Cândida Xavier
Manuela Amaral
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27/10/2025 - 12h

Imagem retirada do arquivo de fotografia - Fundação Gordon Parks

Quando Gordon Parks escolheu a fotografia como linguagem, não foi por acaso, foi por urgência. Afro-americano em um país que institucionalizava a exclusão, ele transformou a câmera em meio de combate, compreensão e memória. A partir deste mês de outubro, o público brasileiro tem a chance inédita de conhecer esse legado de perto.

A exposição "Gordon Parks: A América sou eu", em cartaz no Instituto Moreira Salles, na Avenida Paulista, entre os dias 4 de outubro de 2025 e 1º de março de 2026, reúne cerca de 200 obras que atravessam décadas da história dos Estados Unidos, e revelam como a arte pode ser um testemunho radical do seu tempo.

Entre fotografias, vídeos, publicações e documentos raros, a mostra percorre os anos de 1940 a 1970 com um foco preciso: revelar as marcas da desigualdade racial, os bastidores da luta por direitos civis e os pequenos gestos cotidianos que resistem à opressão. Através de sua lente, Parks não só documentou uma era, ele nos desafia a revê-la sob outra perspectiva.

Imagem retirada do arquivo de fotografia - Fundação Gordon Parks

Quem foi Gordon Parks

Nascido em 1912, no Kansas, Gordon Parks enfrentou a pobreza e o racismo desde muito jovem. Sem formação formal em fotografia, aprendeu por conta própria e, com uma mistura de talento, persistência e urgência política, se tornou o primeiro fotógrafo negro a trabalhar para revistas como Life e Vogue.

Seu trabalho ultrapassou as páginas editoriais e assumiu contornos de manifesto. Parks não registrava apenas o que via, ele buscava o que precisava ser visto. Sua lente alcançou desde os bastidores da luta pelos direitos civis até os lares da população marginalizada, revelando a vida com rara empatia e senso de justiça.

Mas Gordon Parks não era apenas fotógrafo. Dirigiu filmes (como o cultuado Shaft, de 1971), compôs trilhas sonoras, escreveu romances e memórias. Essa multiplicidade criativa se reflete na exposição, que apresenta não só sua obra visual, mas o pensamento e o ativismo que moldaram sua trajetória.

 

A exposição: 

 

· Escopo e curadoria

 A curadoria, assinada por Janaina Damaceno (curadora‑chefe) e Iliriana Fontoura Rodrigues (assistente) do IMS, foi organizada em parceria com a The Gordon Parks Foundation, que detém e preserva o acervo do fotógrafo.

 A mostra ocupa os 7º e 8º andares da sede paulista do IMS, com entrada gratuita, de terça-feira a domingo (10h às 20h), exceto às segundas-feiras.

 · Conteúdo e destaques

Cerca de 200 obras entre fotografias, filmes, matérias de revistas e livros;

Imagens de grandes personalidades do movimento pelos direitos civis dos EUA, como Martin Luther King Jr., Malcolm X e Muhammad Ali.

Séries que documentam a segregação racial e o cotidiano das comunidades negras, sobretudo no sul dos EUA.

Surpresa brasileira: imagens de Parks no Brasil, em 1961, onde ele fotografou em favelas cariocas a convite da revista Life. 

  · Por que visitar

 Porque a mostra combina excelência estética com peso histórico e político. É uma oportunidade não apenas de ver belas fotografias, mas de se inserir em narrativas cruciais da modernidade, racismo, dignidade, arte e memória.

A exposição assume uma relevância atual enorme: registrando o olhar de um fotógrafo negro sobre o próprio povo negro, em tempos de segregação e resistência, Gordon Parks coloca‑se na linha de frente da arte comprometida. 

 A presença de imagens no Brasil, que muitas vezes não são tão conhecidas, amplia o alcance da narrativa: mostra que o fotógrafo não se limitou aos EUA, mas teve também diálogo com o Brasil e sua própria complexidade social.

 Para o público contemporâneo, a mostra questiona: como lidamos hoje com as desigualdades raciais, que formas de visibilidade permitimos e quais vozes continuamos a silenciar? A arte de Parks nos convida a olhar de frente.

Imagem retirada do arquivo de fotografia - Fundação Gordon Parks

Como aproveitar sua visita

Verifique o horário de funcionamento: terças a domingos e feriados, 10h às 20h. Última admissão 30 minutos antes do fechamento. 

Local: IMS Paulista, Av. Paulista 2424, São Paulo (SP).

A entrada é gratuita.

Dica: dedique tempo para observar não só o “clique” famoso, mas as legendas, contexto histórico, objetos de revista ou filme que complementam as imagens.

Leve algum espaço para reflexão pessoal, ao ver uma fotografia de segregação, de infância, de cotidiano, vale pensar: “O que essa imagem me provoca? Qual história ela conta ou esconde?”

“A América sou eu” é muito mais do que uma exposição de fotografias: é um convite ao encontro com uma das vozes visuais mais poderosas do século XX, que articulou arte, denúncia, beleza e humanidade. Ver Gordon Parks é ver, e reconhecer a complexidade da vida negra, e a força de quem escolheu empunhar a câmera como arma de luz e de memória.

 

Após sua visita à exposição, teste seu conhecimento nesse quiz!

https://pt.quizur.com/trivia/a-vida-e-obra-de-gordon-parks-1r6mV

Protagonizado por IU e Park Bo-gum, o K-drama mostra como é possível florescer em meio às limitações e às inevitáveis dificuldades de cada momento
por
Ana Julia Bertolaccini
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11/09/2025 - 12h

Dirigida por Kim Won-seok e escrita por Lim Sang-choon, a produção sul-coreana “Se a vida te der tangerinas” não traz muita novidade em relação aos dramas sobre a inconstância da vida, mas é exatamente isso que a faz tão comovente. No tempo em que a racionalidade suprime as emoções, a obra é construída a partir de cenas que nos estimulam a sentir, antes de pensar. Estrelada por IU e Park Bo-gum, a série explora as experiências e os sentimentos que são frequentemente sufocados pelas circunstâncias de um contexto social menos favorecido. 

A protagonista, “Ae-sun” (IU), é filha de Jeon Gwang-rye (Yeom Hye-ran), que trabalha como haenyeo, uma mergulhadora tradicional da Ilha de Jeju. Um trabalho árduo, cansativo e mal remunerado. De início, cria-se uma expectativa de que o drama venha a se desenvolver a partir de uma história de superação, mas não é em cima disso que a obra é estruturada. O amor chega à porta de Ae-sun ainda criança e, na adolescência, ela é obrigada a escolher entre se casar com um homem mais velho, rico e sem empatia, ou permanecer na ilha com seu companheiro de vida por quem é apaixonada, Gwan-sik, interpretado por Bo-gum. 

Bo-gum tem carisma e uma grande facilidade de expressar sentimentos através do olhar e das expressões faciais, o que contribui para as cenas românticas do casal. IU, por sua vez, expressa bem a astúcia e a ambição de uma personagem que é sufocada pelas limitações impostas pela sua condição social. A amante de livros que sonha em ser poetisa, mas que precisa vender repolhos para sobreviver, funciona como denúncia de uma sociedade que privilegia poucos e exclui os desfavorecidos. 

O clichê acaba quando uma grande tragédia atravessa a vida da família. É neste momento que um dos assuntos mais importantes da trama entra em cena: o luto. Em grande parte dos filmes e séries, essa experiência tão complexa e particular é tratada como um período único de tristeza e falta de propósito quando, na verdade, precisa ser vivida ao mesmo tempo em que todas as outras coisas da vida continuam a acontecer. 

No drama, é possível perceber como cada parte do casal protagonista vive o luto. A dificuldade em olhar para outras famílias nas ruas, a culpa e o vazio deixado pela falta de um integrante da família; todos esses detalhes são experimentados por ambos os personagens durante anos. O silêncio, no entanto, fica no centro dessa experiência tão difícil. E essa angústia reprimida é muito bem retratada na sucessão de episódios. 

Um salto cronológico coloca Geum-myeong, a filha mais velha de Ae-sun, e seu irmão Eun-myeong, no foco da narrativa. Essa transição acontece quase que naturalmente no enredo e apresenta uma reflexão sobre o peso que traz a hierarquia familiar. Ver a filha alcançar objetivos que pareciam tão distantes da sua realidade é tão gratificante que os contratempos parecem ser mais leves para Ae-sun. A jovem, por sua vez, sente uma profunda culpa por saber das situações que seus pais precisam passar para mantê-la. Em meio ao caos da relação entre os pais e a filha mais velha, Eun-myeong cresce na sombra da irmã, sempre em busca da atenção dos pais.

Geum-myeong que, assim como Ae-sun na fase da adolescência, também é interpretada por IU, têm a essência da mãe, mas lida com desafios completamente diferentes. O diferencial da obra é traduzir como isso acontece na prática, deixando claro as perspectivas de ambas as personagens. “Se a Vida Te Der Tangerinas” ensina que a grande maioria dos problemas não podem ser resolvidos por meio de soluções pré-estabelecidas por experiências individuais. 

O irmão mais novo, Eun-myeong, não consegue resolver todos os problemas e assumir as responsabilidades que batem à porta. O filho que sempre foi deixado em segundo plano - não por falta de atenção, mas por uma rivalidade silenciosa, constante e internalizada - acaba tendo dificuldades em lidar com a vida adulta. A sensação de insuficiência aparece com as atitudes do personagem, que busca na ambição inconsequente uma saída para a tentativa salvar a família da pobreza. 

A linha do tempo muito bem definida é um dos principais pilares do drama. Enquanto os filhos vão crescendo, os pais vão envelhecendo. A filha, que agora é mãe, ainda precisa ser a preferida dos pais quando as coisas se tornam difíceis. O mais novo, apesar de não ser representado com a devida importância, tem parte de sua identidade pessoal construída e consolidada na narrativa. “Se a Vida te der Tangerinas” mostra que ser pai, mãe, filho, filha, companheiro e companheira são tarefas conjuntas e que podem ser destinadas aos mesmos personagens. 

A direção não poupa o enredo de grandes tragédias, o que traz uma maior veracidade e aproxima a ficção da vida real. Nenhum personagem é intocável. O recomeço é representado inúmeras vezes como uma saída para os obstáculos vividos pelos personagens durante as cenas, mais uma característica de uma narrativa ficcional que imita a realidade.

Nenhuma das ideias iniciadas fica em aberto na obra e o sonho de Ae-sun de se tornar poetisa é um exemplo disso. Se há uma lição que essa obra nos ensina, é que apesar de qualquer acontecimento, a vida continua, e para seguir, é preciso se reinventar.

 

Em seu sétimo álbum, cantora mistura ironia, sensualidade e melancolia em um pop cheio de identidade
por
João Luiz Freitas
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08/09/2025 - 12h

No dia 29 de agosto de 2025, Sabrina Carpenter lançou “Man’s Best Friend”, seu sétimo álbum de estúdio, já disponível em todas as plataformas. Com versões físicas em pré-venda, o disco tem até quatro capas alternativas, uma delas apelidada de “aprovada por Deus” após a primeira versão gerar polêmica.

Construído em parceria com Jack Antonoff, John Ryan e Amy Allen, os mesmos colaboradores de “Short n’ Sweet” (2024), o álbum explora uma pegada pop refinada, satírica e cheia de atitude. Contendo 12 faixas e cerca de 38 minutos, ele mistura elementos de disco, country-pop e grooves retrô, com influências que vão de ABBA e Fleetwood Mac a Dolly Parton e Donna Summer.

O single de abertura, “Manchild”, foi lançado em junho de 2025 e logo se tornou um fenômeno global, chegando ao topo das paradas nos Estados Unidos, Reino Unido e Irlanda, e se consagrando como o segundo número 1 de Carpenter na Billboard Hot 100.

O álbum trilha uma narrativa irreverente sobre relacionamentos modernos, Carpenter combina críticas aos homens imaturos com letras repletas de duplo sentido e frases afiadíssimas. A faixa-título “Manchild” já anuncia o tom: com country-pop animado, a faixa satiriza ex-amantes desengonçados.

Em “Tears”, a cantora se arrisca em uma faixa disco-pop sensual inspirada por Donna Summer, em que comportamentos aparentemente gentis de um homem provocam desejo. Já “House Tour” e “When Did You Get Hot?” seguem o clima provocador com letras que brincam com metáforas sexuais e chamam atenção por sua leveza e sagacidade.

Conforme a narrativa evolui, Sabrina transita entre o humor e o emocional, com “My Man On Willpower” e “Nobody’s Son” trazendo nuances mais reflexivas e vulneráveis, até chegar ao final com “Goodbye” — uma despedida que mescla melancolia com autoafirmação, acompanhada de piano honky-tonk, saxofone e camadas vocais quase lúdicas.

A recepção ao álbum tem sido majoritariamente positiva, com média de 76 no Metacritic e tom de “críticas geralmente favoráveis”. Publicações como Harpers Bazaar elogiam a versatilidade musical e a inteligência lírica da artista, que transita com naturalidade entre humor, empoderamento e sensualidade. A The Australian aplaude sua evolução e ousadia dentro do pop contemporâneo. A Financial Times destaca a mistura de satírico e emocional, notando que nem todas as experimentações funcionam, mas a produção se destaca.

Sabrina Carpenter posando para a capa principal de seu novo álbum
        Capa principal do álbum - Foto: Bryce Anderson

Outros meios, como El País e a imprensa norueguesa (Aftenposten), veem na provocação visual uma forma irônica e competente de subversão das expectativas sobre o comportamento feminino. A cantora tem defendido a imagem da capa controversa em entrevistas, afirmando que se trata de humor, poder e provocação consciente.

Já críticos mais reservados, como The Times (UK), apontam que o conteúdo musical não justifica a imagem polêmica e definem o álbum como “surpreendentemente sem complexidade”, com algumas letras que soam frouxas. De forma similar, Slant Magazine e The Independent destacam que as letras, embora espirituosas, podem pecar pela falta de profundidade.

Man’s Best Friend” reafirma Sabrina Carpenter como uma artista que domina o arsenal do pop moderno: carisma, humor sagaz, lirismo provocador e produção caprichada. É um disco confiante, pessoal e cheio de personalidade, ainda que soe como uma brincadeira que só funciona até ser repetida várias vezes.

Para quem espera canções radiofônicas semelhantes às de “Short n’ Sweet”, talvez faltem hits explosivos, mas para quem valoriza a narrativa sonora com atitude, charme e ironia, o álbum tem muito a oferecer.

Quem quiser conhecer de perto “Man’s Best Friend”, o álbum está disponível no Spotify. Ouça aqui!

Filme quebra paradigmas sobre originalidade e ancestralidade no cinema
por
Isabelle Rodrigues
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07/05/2025 - 12h

“Pecadores”, a nova aposta do diretor, roteirista e co-produtor Ryan Coogler - a mente por trás dos sucessos “Creed” e “Pantera Negra” - estreou em abril de 2025. O longa acompanha uma história de liberdade e conflitos raciais com muito Blues e dança, sem perder o terror e o suspense de sua atmosfera surrealista.

Os gêmeos Stack e Smoke utilizam cores distintas durante o longa, como forma de demonstrar suas posições ao longo da narrativa. Foto / Reprodução IMDB
Os gêmeos Stack e Smoke utilizam cores distintas durante o longa, como forma de demonstrar suas posições ao longo da narrativa. Foto / Reprodução IMDB

O filme, situado em 1932, acompanha em seu elenco principal os gêmeos Fumaça e Fuligem, ambos interpretados por Michael B. Jordan. Tudo se centraliza no clube de Blues criado pelos gêmeos, o terreno que foi comprado de um senhor envolvido na Ku Klux Klan, com dinheiro roubado em Chicago com a ajuda do gangster norte americano, Al Capone, além do vinho e a cerveja importados que serviram como atrativo para a comunidade cansada da região. Mas claro, nada disso importa para os gêmeos, até o fim da noite todos os envolvidos no clube serão pecadores. Como dito pelo pastor e pai do personagem Sammie, “Se você continuar a dançar com o diabo, um dia ele vai te seguir até em casa".

Durante o desenrolar do longa, surgem outros personagens relacionados ao passado da dupla e o conflito central, como Sammie (Miles Caton), primo e filho do pastor local, Mary (Hailee Steinfeld), irmã de criação e Annie (Wunmi Mosaku), curandeira local. Todos têm seu lugar naquela sociedade, que situa de forma aguçada seu papel historicamente bem pensado. 

Destaque especial para Sammie, que demonstra a dualidade entre a religião e o conformismo, na qual, para ele, a música representa liberdade e salvação, o que fica ainda mais evidente após a chegada do personagem Remmick (Jack O'Connell). O roteiro utiliza diversos contextos históricos, que o torna um prato culturalmente cheio.

Por exemplo, o passado de Remmick demonstra ter relação com a opressão irlandesa, durante colonização dos ingleses no século XII, além das implicações a um proselitismo forçado, por conta das citações do personagem sobre ter sido obrigado a aprender hinos e cânticos religiosos no passado pelo homem que roubou as terras de sua família.

A ideia do vampiro, em uma narrativa banhada de elementos religiosos é uma escolha pensada e calculada aos mínimos detalhes, seja no batismo feito em Sammie ou na visão tida por Fumaça no ato final. O movimento do afro-surrealismo tem muita influência nessa decisão, em que os elementos do sobrenatural servem como analogia direta ao período de apagamento histórico e cultural que aconteceu com a população negra, o que torna ainda mais simbólica a representação do Blues na trama.

Outro elemento que vale a pena destacar é a posição da trilha sonora na narrativa.  O mérito vem da parceria entre Ludwig Göransson e Coogler que entraram em sintonia em todos os seus projetos. Mesmo não sendo um musical, a trilha sonora e seus números musicais fazem parte do âmago da história, principalmente nas músicas tocadas durante a sequência do clube, como “Lie to You” e “Rocky Road to Dublin”, performadas pelos atores.

Pecadores se torna uma das maiores apostas para o oscar de 2025, segundo a critica especializada Foto / Reprodução IMDB
Pecadores se torna uma das maiores apostas para o Oscar de 2025, segundo a critica especializada Foto / Reprodução IMDB

A recepção da crítica e público foi representativa, fazendo história além da tela, estando com 84% de aclamação no Metacritic. Além de ter conquistado uma das maiores bilheterias do ano, totalizando 230 milhões arrecadados por todo o mundo. 

O diretor Ryan Coogler conseguiu deixar um legado na indústria cinematográfica, com o contrato histórico feito para a produção do filme, no qual em vinte e cinco anos, todos os direitos relacionados a sua obra serão retornados para o diretor. 

Veja abaixo o trailer da produção: 

Título original: Sinners
Direção: Ryan Coogler
Roteiro: Ryan Coogler
Trilha sonora original: Ludwig Göransson
Produção: Ryan Coogler, Zinzi Coogler, Kevin Feige

Elenco principal: Michael B. Jordan, Miles Caton, Hailee Steinfeld, Wunmi Mosaku e Jack O’Connell.

Documentário I’m Not a Robot instiga o telespectador a refletir sobre a evolução das máquinas
por
Vítor Nhoatto
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08/04/2025 - 12h

Não sou um robô, uma etapa de checagem comum ao navegar na internet e uma sentença obviamente verdadeira, ou talvez não. O curta-metragem de co-produção holandesa e belga de mesmo nome, problematiza o chamado teste Captcha, quando a protagonista Lara (Ellen Parren, produtora musical, entra em uma crise existencial ao não conseguir provar sua humanidade.

Logo de cara o enredo de Victoria Warmerdam, também diretora da obra,  pode parecer apenas cômico, e a interpretação de Parren colabora para essa atmosfera. Os diálogos curtos e a indignação diante de uma suposta certeza de Lara prendem a atenção do telespectador ao fazer com que haja identificação com a situação. Provavelmente todos nós já erramos um destes testes simples em algum momento.

A história com pouco mais de 20 minutos continua com a indicação que a personagem tem a chance de ser 87% um robô, segundo um quiz online, e a essência incômoda da ficção científica começa a reluzir. Conversas entre humano e máquina existem há cerca de 60 anos, com a criação do chatbot Eliza, e com o avançar dos anos é cada vez mais comum, de fato.

Seja aquele número para marcar consultas ou o serviço de atendimento ao cliente das operadoras, a Inteligência Artificial rodeia as esferas da vida cotidiana e vem evoluindo rapidamente. Tome como exemplo o robô humanoide que já foi capa de revista e é considerada cidadã saudita, Sophia, da Hanson Robotics desenvolvido em 2015. Ou ainda os influencers virtuais com milhões de seguidores do Instagram hoje como a carismática Lu da empresa de varejo brasileira, Magazine Luiza.

Robô Sophia
Sophia foi inclusive ao Talk Show do apresentador norte-americano Jimmy Fallon - Foto: Hanson Robotics / Divulgação

Parece que a barreira entre o físico e digital, natural e artificial vem sendo quebrada, como aborda a obra de Margareth Boarini, “Dos humanos aos humanos digitais e os não humanos”, lançada em julho do ano passado pela editora Estação das Letras e Cores. O primeiro livro da doutora em tecnologias da inteligência e mestre em comunicação se aprofunda nesses casos de coexistência entre robôs e pessoas, porém, até onde se sabe as diferenças entre máquinas e humanos são perceptíveis, ainda. 

Mas como uma boa teoria de ficção científica, o documentário explora justamente um possível futuro da humanidade, em que máquinas e humanos serão indistinguíveis, A saga de Lara por respostas acaba com a revelação de que Daniël (Henry van Loon), marido da personagem, a encomendou sob medida há alguns anos, como se faz com uma roupa hoje.

Suas memórias, sentimentos e até mesmo relações com outras pessoas, ou robôs, são todas fabricadas, como uma versão muito mais avançada do robô Sophia. A comédia permeia a narrativa um tanto quanto impensável aos olhos de hoje, mas curiosa. A seriedade da executiva da empresa que fabricou Lara, Pam (Thekla Reuten) cria uma atmosfera cômica ao assunto, completada pela tranquilidade que Daniël fala sobre sua “aquisição”.

Parren entrega uma atuação que transborda indignação, e o trabalho cinematográfico é inteligente, com cortes que acompanham a visão de Lara. Sobre o ambiente que o filme se passa, todas as gravações foram no CBR Building em Bruxelas, e a ambientação feita com cores vibrantes e apenas carros de época no estacionamento propõe um contraste entre antigo e moderno, frio e robótico, quente e humano. 

O desfecho se dá com o desejo da protagonista de ser dona do próprio destino, relegando o fato de não poder morrer antes de seu “dono”. Isso pode ser visto talvez como uma negação em aceitar a única coisa que a diferencia de um humano, ou como uma mensagem da autora da obra sobre uma rebelião das máquinas.

Fato é que Lara se joga do topo do prédio, em um take muito inteligente por parte da direção ao filmar de cima, e que apesar de pesado e grotesco consegue ser engraçado e não desagradável aos olhos. Tal qual uma morte comum, há muito sangue saindo do corpo, as necessidades fisiológicas também são como de humanos, mas após alguns instantes a robô volta à vida.

Lara e Daniel em um Volkswagen Fusca azul
Com cinematografia cativante e enredo inesperado, é um Sci-Fi cômico e dramático - Foto: Indie Shorts Mag / Reprodução

Incômodo e perspicaz são boas palavras para definir a quinta produção de Warmerdam, que a fez faturar uma série de prêmios internacionais incluindo o Oscar de Melhor Curta-metragem deste ano. Sua produção também se destaca por ser carbono neutro, com o plantio de uma agrofloresta na Holanda para compensar as emissões de gás carbônico (CO2) da obra.

I’m Not a Robot está disponível de forma gratuita no YouTube desde o dia 15 de novembro de 2025 no canal The New Yorker, com legendas apenas em inglês ou holandês. Mesmo com essa barreira linguística, o choque final é inevitável, e a reflexão provavelmente também, se o seu cérebro não estiver se perguntando se você pode ser também um robô.

Primeiro disco da banda Besouro Mulher viaja no universo sentimental e imaginário dentro do plano concreto do dia-a-dia
por
Maria Eduarda dos Anjos
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11/08/2023 - 12h

         Alguns desconfortos são postos no mundo melhor pelo humor, outros, pela música. A banda paulistana Besouro Mulher brinca e mistura essas duas formas tão cotidianas de comunicarmos sentimentos no seu álbum de estreia Volto Amanhã (RKMB), sequência do EP Depois do Carnaval. O projeto estava nos rascunhos de Arthur Merlino (baixo), Bento Pestana (guitarra), Sophia Chablau (voz) e Vitor Park (bateria) e ganhou contorno no meio da pandemia, durante intensivões de criação de um lugar para além daquele do isolamento, algo que existisse apesar do que é possível tocar, mas que ainda acena para o mundo real. “O nome [do disco] traz uma coisa um pouco indecifrável do futuro e de um passado que não aconteceu, tem cara de algo que beira o mundo da imaginação e, ao mesmo tempo, chama pelo real e pela dureza do real” conta Bento.

           Apesar de ser o debut da banda, a vocalista não é nem um pouco estranha à cena independente:girou pelas casas noturnas com sua outra banda, Sophia Chablau e Uma Incrível Perda de Tempo. O disco homônimo despontou com produção de Ana Frango Elétrico e arrastou a cena indie pela cidade. A sonoridade dos projetos se conversam na dinâmica dois-lados-da-mesma-moeda: se a Besouro Mulher é mais sentimental sobre amor, Incrível Perda de Tempo foca no ‘delícia, luxúria’ ; a primeira traz uma guitarra mais melódica, enquanto a segunda pesa em sintetizadores e distorções que formem uma parede de som que se arrasta, preenchendo os segundos; ambas carregam um tom descontraído que arranca uma risada do público, às vezes proposital, às vezes não.

         ‘Torresmo’, faixa emprestada que virou single, encapsula a essência do disco que viria pela frente: “Essa música fala muito sobre imaginação e até uma certa subversão do normal, daquilo que é a nossa sina”, comenta Sophia. A composição de Juliana Perdigão e Arnaldo Antunes íntegra sem ruído a coletânea; “eu sou um Super-Homem submisso” e “Queria estar a sós comigo mesmo/ e ter a eternidade toda em torno” são tão naturais à voz de Sophia que poderiam ser composição própria. “Foi um desafio trazer para uma sonoridade mais nossa, o Bento e eu pensamos pra ‘tirar o blues’ dela, porque tudo que a gente fazia ficava com cara de blues, por causa da harmonia e talvez alguma outra essência inominável que estava na música, mas acabamos conseguindo e ficamos muito felizes com o resultado. Além disso, acabamos ficando sabendo que a própria Juliana e o Arnaldo gostaram da versão, então a satisfação foi grande”, completa Arthur.

Imagem: Igor Miranda
Imagem: Igor Miranda 


          Volto Amanhã é um apanhado de como o cotidiano transborda de material para reflexão, uma “crônica que nunca consegue ser completamente captada pelas palavras. O som, assim como a capa e o nome trazem um pouco essa sensação de vertigem, de algo que não tem um começo e que se soma a um real imaginário e que termina voltando para o começo”, define Bento. “Carótida” é uma colagem de questionamentos sobre a essência das pessoas e como é possível o universo interior ser muito maior do que qualquer esqueleto pode ser, tudo em cima de uma guitarra que soa como um relógio, os pensamentos correndo mais rápido que o tempo. “Pão Francês” é mais calma, e salta entre o francês e o português para desenhar um relacionamento tão dessincronizado que chega a parecer que não falam a mesma língua. ‘Curto/Tempo’, um loop ambiente, é sobre “curtir passar o tempo curto com você” - simples assim. A faixa traz um pouco de Mac DeMarco, Homeshake e até Billie Eilish, segundo a banda.

          Em “Alguma Coisa”, Sophia Chablau explora o desejo de expressar algo único e original para alguém especial, mas ao mesmo tempo reconhece a dificuldade de encontrar palavras verdadeiramente inéditas. Nesse sufoco, faz graça da sua própria situação no meio da canção, falando “ela não diz nada de original, coitada!” , que arranca um risinho de surpresa de quem ouve. Quanto a esse humor casual, Sophia diz que não é intencional, acaba sendo a forma que escreve músicas, mas é principalmente como o público as lê. “ É constante as pessoas acharem minhas músicas engraçadas. Outro dia estava tocando numa edição do Tranquilo SP e durante “Hello” o pessoal deu muita risada. Eu acho curioso legal, curioso porque não escrevo música pra “ser engraçada”, mas eu acho legal, rir é uma forma das pessoas reagirem. E não é que eu seja uma pessoa séria ou sem senso de humor, eu dou risada o dia todo. Acho rir e chorar duas sensações boas, e fico feliz de despertar alguma emoção. Não me “utilizo do humor” de forma pensada, acho que é uma coisa meio natural, muitas das vezes a minha música soa engraçada porque deve ser diferente ouvir “miojo” numa música séria em português”, Chablau fala enquanto tenta tirar sentido disso.


          É fato, pouquíssimas músicas falam dos três minutinhos tão curtos mas tão rotineiros, mas a Besouro Mulher decidiu que até a mais banal das banalidades merece suas cinco notas na. E que bom.


          A Besouro Mulher fará seu show de estreia na Casa Rockambole no sábado (12) , com abertura de Uiu Lopes. Volto Amanhã pode ser ouvido todos os grandes streamers e os ingressos podem ser adquiridos pela Sympla.

 

 

Série conquista o público por ser uma adaptação fiel ao jogo
por
Bruna Alves
Luana Galeno
Maria Eduarda Camargo
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15/03/2023 - 12h

The Last Of Us, a nova série distópica da HBO Max, está quebrando números de audiência no streaming, ultrapassando inclusive House of the Dragon, e tornando-se a adaptação de jogo para série mais bem avaliada do IMDb (Internet Movie Database), com uma média de 9.4/10.

Baseada no jogo premiado da Naughty Dog com a Playstation, a produção de Neil Druckmann e Craig Mazin conta com 9 episódios que retratam a jornada de Joel (Pedro Pascal) e Ellie (Bella Ramsey) tentando sobreviver em um mundo pós-apocalíptico.

A trama se passa 20 anos após o colapso da humanidade devido à pandemia de uma variante do fungo Cordyceps. A mutação ataca o cérebro do hospedeiro humano, transformando-o em "Infectado" - um ser ainda vivo mas incapaz de controlar suas ações. Os níveis de infecção se desenvolvem ao longo do tempo após a mordida — ou no caso do jogo, a inalação de esporos.

Infectado na série The last of Us. Fonte: The Enemy
Infectado na série The last of Us. Fonte: The Enemy

Joel, o personagem masculino principal, é um contrabandista que se depara com o roubo de sua carga. Para recuperá-la, ele deveria levar Ellie, a jovem protagonista, para o quartel general dos Vagalumes (grupo paramilitar opositor ao governo). Mais tarde, ele descobre que Ellie é imune ao vírus, revelando o interesse dos Vagalumes por ela. Com esta missão, um homem sem esperanças e uma criança provocadora encaram barreiras que vinte anos de caos trouxeram.

O Jogo

In game shot. Fonte: Playstation
In game shot. Fonte: Playstation

O jogo – lançado em 2013 para o Playstation 3 e remasterizado em 2014 – começou sua produção em 2009, depois do último sucesso da empresa Naughty Dog com Uncharted 2, e desde então revolucionou a indústria de jogos. Com inovação na criação do enredo, grande desenvolvimento de trilha sonora e protagonismo feminino, o jogo ganhou 196 prêmios de mídia especializada, incluindo 3 BAFTAs (British Academy of Film and Television Arts).

A trilogia, que conta também com The Last Of Us: Parte II, lançada em 2020, segue sendo a mais premiada no universo dos games. O jogo abriu um caminho carregado de dramaturgia em um mundo antes populado somente por cenas de ação e personagens rasos. A utilização de cut scenes mais longas e a manipulação da jogabilidade dos personagens – junto de artifícios novos para a época, como finitude de recursos e exploração de histórias laterais – foi o que trouxe a beleza do cinema para o universo dos consoles. 

Outro ponto importante do jogo é a trilha sonora original – criada pelo argentino Gustavo Santaolalla e que ganhou o prêmio BAFTA – contando com composições mais naturais nas cenas de ação, que conquistou os jogadores e os críticos especializados na área. Gustavo também foi o criador da trilha sonora da série.

A Série

Fonte: The Last of Us - HBO Max
Fonte: The Last of Us - HBO Max

O aspecto de ação é mais presente no começo, com as primeiras aparições dos Infectados, e vai diminuindo gradativamente no decorrer da história. Apesar disso, a série ilustra todos os tipos de infectados presentes no primeiro jogo: Corredores, Espreitadores, Estaladores e Baiacus.

Cena do Baiacu em The Last of Us. Fonte: Rolling Stone
Cena do Baiacu em The Last of Us. Fonte: Rolling Stone

A obra segue uma linha narrativa mais dramática, focando nas frágeis relações dos personagens, tanto de Ellie e Joel, quanto deles com outros personagens. The Last of Us também explora histórias paralelas, como no episódio 3, onde é retratada a vida de Bill e Frank, meros coadjuvantes no jogo, que proporcionaram na obra da HBO uma nova perspectiva sobre o amor em um mundo apocalíptico.

Sobre os personagens principais, é possível entender as multifacetas que representam tanto Joel quanto Ellie. Ele perde sua filha, Sarah, no início do surto pandêmico — vinte anos antes da trama —, o que torna perceptível a barreira entre ele e Ellie desde o primeiro encontro dos dois. Porém, com o passar dos episódios, nota-se a aproximação entre eles e o desenvolvimento de uma relação afetuosa de “pai e filha” que Joel acreditava ter perdido. Este vínculo vai se intensificando a cada novo desafio apresentado e é assertivamente demonstrado pela atuação de Pedro Pascal e Bella Ramsey.

A adaptação também chamou uma atenção detalhista quanto à fidelidade ao jogo. Diversas cenas foram reproduzidas de forma idêntica, fazendo uso dos mesmos diálogos e até o mesmo enquadramento. Grande parte disso se deve ao fato da equipe produtora do jogo — especialmente Druckmann e Mazin — estarem envolvidos na produção da série.

Apesar disso, houveram críticas por parte dos fãs do jogo em relação a pouca exploração dos Infectados, como as frequentes "hordas de zumbis”. Porém, havia, por parte dos diretores, a preocupação em não ser repetitivo e a necessidade de adaptação para televisão.

Opinião

Comparação entre cena no jogo e na série. Fonte Imagem 1: Wikihow | Imagem 2: The Last of Us - HBO Max
Comparação entre cena no jogo e na série. Fonte Imagem 1: Wikihow | Imagem 2: The Last of Us - HBO Max

A ausência da já conhecida e cansativa “horda de zumbis” e de um Joel “à prova de balas” cria uma atmosfera muito mais crível e dramática na obra. Tudo isso é combinado ao talento de Bella Ramsey, que tira completamente a Ellie de um papel passivo e prepara o espectador para o que está por vir. A criação de uma atmosfera de suspense e um novo take no estilo zumbi são os pontos essenciais para a fórmula de sucesso da série.

Outro ponto importante de The Last of Us é o jeito como Druckmann explora as diversas facetas de um mesmo personagem. Nenhum daqueles que se opõem aos personagens principais é inerentemente mau, mas sim só um ser humano lutando por sua sobrevivência e pela vida daqueles que ama. Tanto a série como o jogo se aprofundam na característica mais humana de todas: a busca por um motivo para sobreviver. A inevitabilidade da missão é a beleza da dramaturgia de Druckmann – e da HBO.

Com composições pessoais que alternam entre melancólicas e dançantes, o quinto álbum de Sabrina Carpenter demonstra sua força após um período conturbado
por
Maria Ferreira dos Santos
|
19/10/2022 - 12h

Depois de três anos do seu último álbum, Sabrina Carpenter lançou em julho deste ano o ‘emails i can’t send’. Esse hiato da cantora não significa uma pausa em sua carreira, muito pelo contrário, neste período a estadunidense esteve envolvida em outros projetos, muitos deles como atriz. Conhecida como Maya, de ‘Garota Conhece o Mundo’(2014-2017), série da Disney, Carpenter compôs o elenco de produções como ‘Crush à Altura’ (2019), ‘Clouds’ (2020), ‘Dançarina Imperfeita’(2020) e 'Emergência' (2022).

Montagem com algumas das produções em que Sabrina Carpenter participou.
Montagem com algumas das produções em que Sabrina Carpenter participou. Montagem: Maria Ferreira dos Santos

 

Apesar do destaque advindo dessas produções, a artista ganhou repercussão na mídia e, principalmente, nas redes sociais após o seu envolvimento num possível triângulo amoroso entre Joshua Basset e Olivia Rodrigo, atores que fazem par romântico em ‘High School Musical: The Musical: The Serie’.

Capa de singles dos artistas Joshua Basset, Olivia Rodrigo e Sabrina Carpenter, respectivamente.
Capa de singles dos artistas Joshua Basset, Olivia Rodrigo e Sabrina Carpenter, respectivamente. Montagem: Maria Ferreira dos Santos

O caso ganhou mais repercussão, ao passo que tanto Olivia Rodrigo quanto Joshua Basset produziram músicas com mensagens subjetivas sobre. Na época, Sabrina sofreu diversas ofensas na internet, uma vez que foi colocada como ‘a outra'. Com exceção de sua canção ‘Skin’, a compositora pouco comentou sobre o episódio.

Trecho da canção 'Skin', de Sabrina Carpenter
Trecho da canção 'Skin', de Sabrina Carpenter

Devido a isso, muito se imaginou que ‘emails i can’t send’ fosse uma espécie de resposta de Carpenter a tudo que aconteceu. Entretanto, o álbum vai muito além disso, ele é, também, uma amostra da vulnerabilidade de Sabrina e seu processo de crescimento pessoal.

As composições dessa coletânea levam o ouvinte à uma montanha-russa emocional, não à toa a ordem das faixas está pautada em melodias ora vibrantes e dançantes, ora melancólicas e lentas.

Faixas do álbum 'emails i can't send', de Sabrina Carpenter
Faixas do álbum 'emails i can't send', de Sabrina Carpenter

Faixa por faixa

A abertura do disco é extremamente íntima e auto-reflexiva, nela há o relato de uma filha que se decepciona ao descobrir o caso extraconjugal do pai e o impacto disso em sua própria perspectiva sobre o amor. Com a voz doce acompanhada de piano, a faixa-título tem menos de dois minutos e já consegue emocionar quem escuta.

Já ‘Vicious’, a segunda faixa, expõe um sentimento e uma história completamente diferentes e o arranjo sonoro segue na mesma linha. Com vocais mais fortes e um estilo pop-rock, a composição relata um relacionamento com alguém sem responsabilidade afetiva. “Me ama e finge que não amou | Quebrou o meu coração e destruiu minha imagem | Por que você tem que ser tão cruel?”.

Apesar de um início tranquilo, ‘Read your Mind’ é agitada, dançante e engraçada. De maneira irônica e debochada, Sabrina fala sobre alguém confuso que não sabe se quer estar sozinho ou num relacionamento e ela, por sua vez, não consegue ler sua mente e entender o que está acontecendo com essa pessoa. Aqui o ouvinte já consegue acompanhar o storytelling do disco.

A quarta música retorna ao estilo mais tranquilo das demais músicas, mesmo assim não deixa de lado referências e arranjos do pop-dance. ‘Tornado Warnings’ representa uma fase de negação, em que é ignorado os alertas de que essa relação não daria certo e, na tentativa de convencer a si mesma que não sente mais nada, ela mente ao seu terapeuta sobre o ter visto e beijado esse ex (ou não) companheiro.

Em ‘because i liked a boy’ a referência ao episódio envolvendo Joshua Basset e Olivia Rodrigo é mais evidente por conta de frases como “Eu sou a fura-olho que veio logo depois | Roubando os mais novos” , "Namorar garotos com ex | Não, eu não recomendo” e “Não foi uma ilusão para internet”. Essa é uma das três músicas que receberam videoclipe, nele Sabrina está num ambiente circense como quem diz que tudo isso foi um verdadeiro “circo” só porque ela gostou de um garoto.

Reprodução do videoclipe 'because i like a boy'.
Reprodução do videoclipe ‘because i like a boy’, em que Sabrina Carpenter está inserida num ambiente circense.

‘Already over’ é leve e conta com uma pegada mais country. Ela retorna ao assunto do caos emocional, em que há incertezas e confusões, resultando em recaídas de ambos, mesmo que o relacionamento já tenha acabado. Logo em seguida o disco apresenta ‘how many things’, essa música diverge entre as apresentadas até aqui. Ela é mais longa e a mais carregada de lirismo, além de um instrumental mínimo apenas para acompanhar o suave vocal. Essa faixa representa o fim de um relacionamento, em que tudo é recente e faz com que haja recordações recorrentes, mesmo com a ideia de que o outro lado não está na mesma situação.

‘Bet u wanna, ‘nonsense’ e ‘fast times’ lembram as músicas ‘sue me’ e ‘looking at me’, lançamentos antigos de Carpenter, elas apresentam um tom sexy, provocativo, debochado e cheio de autoestima, aqui é possível dizer que é a fase de superação.

Campanha de divulgação do videoclipe de 'Fast Times'.
Campanha de divulgação do videoclipe de ‘Fast Times’

 

A décima primeira faixa é ‘skinny dipping’, que além de videoclipe recebeu uma versão acústica. Ela contém um clima leve e nostálgico ao falar de situações que poderiam acontecer ao encontrar alguém com quem conviva.

Capa do videoclipe de ‘skinny dipping’
Capa do videoclipe de ‘skinny dipping’

Bad for business’ é a penúltima faixa e traz a ideia de um amor tranquilo, mas ainda sim marcado por uma insegurança de que possa ser ruim à sua imagem, aos seus negócios. Por fim, há ‘decode’, em que novamente é mostrado um aspecto de vulnerabilidade, nela Sabrina diz pensar e repensar sobre o que aconteceu e, assim, chegar a conclusão de que não há mais o que fazer, não há mais o que decodificar.

Os 13 emails enviados por Sabrina Carpenter demonstram sua capacidade de contar uma história a partir de seu lirismo e honestidade. É fácil se conectar com as emoções expostas em ‘email i can’t send’, ora explosivas, ora tranquilas, ora confusas.

Capa do álbum 'emails i can't send', de Sabrina Carpenter, lançado em julho deste ano.
Capa do álbum 'emails i can't send', de Sabrina Carpenter, lançado em julho deste ano.

 

Depois de abrir o show do Guns And Roses no palco Mundo do Rock In Rio, Måneskin faz show histórico no espaço Unimed em São Paulo
por
José Pedro dos Santos
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11/09/2022 - 12h

 

A banda italiana  Måneskin, está em turnê internacional, a Loud Kids Get Louder Tour 22, e nesta semana eles fizeram dois shows em terras brasileiras, um no “Festival Rock In Rio” e outro no Espaço Unimed, em São Paulo.

Em Sampa, modo carinhoso que o vocalista Damiano David chamou a cidade diversas vezes, o show começou  por volta das 22:15, com a música ZITTI E BUONI, que rendeu a banda o Eurovision 21. A banda formada por Damiano David, Ethan Torcio, Victoria de Angelis e Thomas Raggi, mostrou que possuem presença de palco e habilidade técnica para fazerem shows espetaculares.

Måneskin possui diversas músicas em italiano, fato que  não impediu o público de cantar todas as músicas, o que surpreendeu David, que falou em uma parte do show “ Pu** que pariu, vocês são a multidão mais alta de todos os tempos. Não consigo me ouvir no retorno, mas isso não importa porque ouço vocês”. Além disso o vocalista em sua passagem por aqui aprendeu as palavras “vamo”, “po***”, “cara***”, “obrigado”, além de ter se manifestado contra o presidente Jair Bolsonaro, após protestos da plateia.

Foto com os quatro membros do Måneskin próximos a bateria
Måneskin em São Paulo (Foto: Ricardo Matsukawa / Mercury Concerts/ Rolling Stones)

A apresentação contou com músicas dos seus três trabalhos de estúdio, Chosen (2017), Il ballo della vita (2018) e Teatro d’ira: Vol. I (2021) além dos singles “MAMMAMIA” e “Supermodel”. Os destaques com certeza são para a abertura “ZITTI E BUONI”, “I WANNA BE YOUR SLAVE”, “CORALINE” e obviamente “Beggin”.

Os pontos altos do show foram, a interação da banda com o público, que subiu, segurou e abraçou a banda, o caos organizado necessário para um bom show de rock e por fim o grande bis no final do show, onde apenas Raggi voltou em um ótimo solo de guitarra, até David voltar e cantar “CORALINE” novamente e encerra, de verdade dessa vez com “I WANNA BE YOUR SLAVE”. Veja abaixo a tracklist do show:

 

"ZITTI E BUONI"

"IN NOME DEL PADRE"

"MAMMAMIA"

"LA PAURA DEL BUIO"

"Beggin'"

"CORALINE"

"Close to the Top"

"SUPERMODEL"

"FOR YOUR LOVE"

"Touch Me"

"I WANNA BE YOUR SLAVE"

"Gasoline"

"I Wanna Be Your Dog"

"LIVIDI SUI GOMITI"

"Le parole lontane"

"I WANNA BE YOUR SLAVE"

 Segundo a revista  Rolling Stone, o show de Måneskin em São Paulo contou com “muito rock e pouca roupa”, além de mostrarem que o rock está vivo e muito bem representado por esses jovens nomes do cenário.

Logo em seus primeiros anos de vida, José Pedro esteve entre primeiros operados de laparoscopia no Brasil
por
João Pedro Pires da Costa
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30/06/2022 - 12h

Nascido e criado na capital paulista, José Pedro Monteiro dos Santos (18), hoje estudante de jornalismo da PUC-SP, foi precoce ao ser operado por laparoscopia para a remoção de três pedras no rim, aos dois anos de idade.

A operação foi realizada no Hospital Samaritano pelo doutor Anuar Ibrahim Mitre, famoso cirurgião urologista brasileiro, que em 2014 foi baleado por um paciente dentro de seu próprio consultório. Na época, a família do garoto não tinha condições financeiras para pagar o tratamento, sabendo disso, o doutor Anuar aceitou fazer o procedimento cirúrgico por um preço mais acessível, porém exigiu que toda a operação fosse gravada para uma futura aula, já que nesse tempo ele lecionava na USP. Além de se tornar uma das primeiras crianças brasileiras a realizar a cirurgia de laparoscopia, José Pedro teve sua operação gravada e assistida por vários alunos de medicina dentro da universidade.

Após concluir duas cirurgias com sucesso, José Pedro afirma que desde então vem tomando muito cuidado com sua saúde, tanto em sua alimentação quanto no consumo de água, toda essa cautela serve para que nunca mais ele precise reviver esse drama, visto que hoje em dia algumas marcas ainda permanecem, além de algumas cicatrizes, José Pedro carrega o fato de que seu rim esquerdo é muito menor que o direito e funciona apenas 29% do que o normal.

Mesmo com essas marcas irreversíveis, o garoto exalta conseguir viver sua vida normalmente e sem preocupação alguma, entretanto ele ainda tem a obrigação de visitar o médico anualmente para realizar exames e checar como anda o funcionamento dos rins, todo esse cuidado é necessário para evitar futuros problemas de saúde.