Pabllo Vittar celebra suas raízes no tecnobrega e forró ao resgatar hinos que fizeram parte da sua formação musical.
por
Pedro da Silva Menezes
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11/04/2024 - 12h

Na tarde desta terça-feira (09) Pabllo Vittar realizou uma listening party para mais de 300 pessoas, em parceria com a Apple Music, para iniciar a divulgação de “Batidão Tropical Vol. 2”, novo álbum da artista. Ingressos foram distribuídos através da sua central no X para os fãs ouvirem o álbum horas antes do lançamento oficial no Cinema Marquise junto a Drag Queen.

Fãs com Pabllo Vittar no cinema após a audição do álbum.
Fãs com Pabllo Vittar após a audição do álbum. FOTO: Divulgação /Central Pabllo Vittar

O álbum é a sequência do “Batidão Tropical”, obra lançada durante a pandemia, que surpreendeu os fãs ao trazer músicas com características das sonoridades do norte e nordeste do país. Estão presentes ritmos como o tecnobrega com a energética “Triste com T” e regravações de canções de bandas locais, como a de “Zap Zum” da Companhia do Calypso. Música que viralizou durante as Olimpíadas de Tóquio em 2021 através de vídeos feitos pelo jogador Douglas Souza do time brasileiro de vôlei, chegando até a tocar durante um dos jogos da seleção.

Eleito um dos melhores álbuns de 2021 pela APCA, o disco agradou público e crítica e iniciou um movimento nas redes pedindo sua continuação. Após dois anos do lançamento do original, o volume dois chegou e os vittarlovers conferiram as 11 faixas, incluindo duas já conhecidas pelo público, “Pede Pra Eu Ficar (Listen To Your Heart)” e “Ai Ai Ai Mega Príncipe”, uma inédita, “Idiota” e a gravação ainda conta com 3 músicas bloqueadas.

Na audição Vittar se mostrou alegre com resultado dos vídeos que ilustram a atmosfera construída pela sonoridade e resgata visuais dos anos 2000, época em que as composições repaginadas no volume dois se popularizaram. A Queen afirmou, em uma rodada de perguntas dos fãs durante o evento, que as 3 canções bloqueadas são colaborações. O cantor Nattanzinho já confirmou por meio de seu Instagram que irá lançar algo com a drag gerando expectativas sobre sua participação em uma das canções. Além disso, ela disse que seu visualizer favorito de gravar foi “Me Usa”, originalmente da Banda Magníficos.

O ponto alto do álbum é a nova “Idiota”. Em entrevista ao Papel Pop, Pabllo conta que a faixa está pronta a dois anos, contudo, a produção inicialmente era um sertanejo, mas teve um trecho vazado a um ano atrás. O que foi sua motivação para mudar o ritmo e transformá-la em um melancólico e ao mesmo tempo energético forró que fez todos os ouvintes levantarem de suas poltronas durante a audição no cinema para apreciar finalmente - e oficialmente - o que os fãs chamaram de hino.

A artista demonstra sua originalidade e visão em “Não Desligue o Telefone”, originalmente de Tony Guerra. Na sua versão, ela não se limita em reproduzir o original e imprime sua identidade fundindo suas referências pop eletrônicas com o forró. Uma excelente regravação que evoca os trabalhos de Charli XCX, se esta tivesse nascido no Maranhão nos anos 90, assim como a cantora pop brasileira.

O “Batidão Tropical vol. 2” cumpre uma função cultural ao preservar ritmos populares brasileiros e composições que já foram regravadas anteriormente. Como é o caso de “Rubi”, da Banda Ravelly que ficou famosa em todo Brasil na voz da Banda Djavu e agora ressurge para uma nova geração pela voz de Pabllo Vittar. Com o álbum, Vittar mantém viva a memória sem abdicar da sua assinatura pessoal, mostrando seu poder ao reinventar clássicos, seja em suas performances vibrantes, sonoridades únicas ou clipes inovadores.

Best-seller de Carla Madeira tornou-se um dos livros de ficção mais vendidos do país
por
Bruna Quirino Alves
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14/11/2023 - 12h

“Tudo é rio” é o romance de estreia de Carla Madeira. Publicado pela editora Record, está na seleta lista dos livros brasileiros de ficção mais vendidos. Em 2021 e 2022, a obra vem dividindo com Torto Arado, de Itamar Vieira Junior (o mais vendido da categoria no Brasil), a atenção de leitores e críticos. Também pela Record, a autora lançou Véspera (2021), o terceiro e inédito romance, e relançou A Natureza da Mordida (2022), o segundo, que havia sido publicado em 2018.

Tudo é rio de Carla Madeira é um livro sobre transbordamento, como a própria autora define. O processo de leitura te leva em uma montanha-russa onde o amor, o ódio e o perdão se misturam em um rio de sentimentos, os quais não se pode controlar.

A história traz três personagens principais: Lucy, prostituta da cidade, e o casal Dalva e Venâncio. Eles, até então muito apaixonados, tiveram o casamento marcado por uma tragédia, que mudou completamente a dinâmica entre eles, a partir desse momento Lucy atravessa a história dos dois e é atravessada por eles com a mesma intensidade.

Carla Madeira constrói camadas sem uma régua moral e seus personagens apresentam complexidade e profundidade, enquanto fogem de maniqueísmos. Ao longo do livro, o leitor se vê em uma posição de confusão constante e a autora provoca essa sensação intencionalmente, e com excelência.

Inventivo na forma, o romance organiza-se por capítulos que desobedecem a ordem cronológica e vão e voltam, tal como uma série televisiva em que a câmera muda a cada cena. O tema do amor e da tragédia não tem nada de original, mas o grande trunfo de Carla Madeira é a forma pela qual sua linguagem poética, suave, nos conta essa história.

A obra é questionadora e provocante em uma essência, mas o principal questionamento gira em torno do perdão: Como perdoar o imperdoável e lidar com o amor que permanece?

Carla não se atém à superficialidade ao narrar detalhadamente o quão excruciante é a dor que Dalva, a personagem principal, vivencia em sua jornada pelo luto, até o perdão. A escolha de repetir certas cenas durante a narrativa é proposital e enfatiza como a dor pode ser paralisante, se manter em um ciclo destrutivo parece ser a única escolha.

A violência doméstica é retratada a partir de uma perspectiva diferente. A autora se afasta do julgamento e demonstra empatia com as mulheres que não conseguem sair desse tipo de situação, o que pode ser visto no seguinte trecho da obra:

“Dalva poderia tantas coisas se pudesse. Mas só pôde o que fez. Quem vê de fora faz arranjos melhores, mas é dentro, bem no lugar que a gente não vê, que o não dar conta ocupa tudo.”

Após receber críticas por “romantizar” a agressão, a autora afirma que o intuito nunca foi esse. Ela explora a sua própria curiosidade que permeia as motivações que levam uma mulher violentada à escolher ficar.

Tudo é rio é uma investigação sobre a água, ou seja, sobre tudo aquilo que é tão potente que não se pode limitar à qualquer coisa além de seguir o próprio fluxo. O amor, o ódio, a raiva, são sentimentos que, quando represados, tensionam o sujeito que sente e acabam transbordando. Aqui temos uma obra que permanece ressonando no leitor, mas não em sua mente racional, mas nesse intangível lugar onde mora aquilo que não conseguimos traduzir em palavras, só sentir.

Jão reúne 12 mil fãs em uma audição exclusiva do seu novo álbum que busca referências oitentistas e exalta sua versatilidade.
por
Romulo Santana
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15/08/2023 - 12h

Depois de “Lobos” representando a terra, “Anti-Herói” o ar e “Pirata” a água, chega a vez de “Super”: o álbum de fogo. João Vitor Romania Balbino (28), mais conhecido como Jão, começou sua carreira com o lançamento de covers na internet, enquanto era graduando de publicidade e propaganda na USP. Com 5 anos de carreira, ele se tornou um nome em ascensão no cenário do pop nacional. Sua última turnê “Pirata”, contou com 40 apresentações — sendo 6 dessas esgotadas no Espaço das Américas. Já a “Super Turnê”, seu novo projeto, começa no dia 10 de Janeiro de 2024, no Allianz Parque, com a proposta de ser uma tour de estádios e arenas. Antes disso, Jão se apresenta no festival The Town no dia 2 de Setembro. “Coisas gigantes estarão presentes”, disse ele durante a audição exclusiva do álbum “Super”.

Um homem branco de cabelos platinados veste uma regata branca e uma calça jeans azul e está sentado em cima de uma cerca de madeira
Tracklist do álbum "Super". Imagem: Gabriel Vorbon. Reprodução Instagram

 

Seu novo lançamento tem referências oitentistas aparentes em sua sonoridade, trazendo novas histórias de amor nas composições inéditas, que também exploram a vida amorosa do cantor. No “lado a”, o disco busca ser mais leve, com instrumentais mais animados, como forma de revisitar sua juventude no interior, mas também suas histórias na atualidade, finalizando com a sétima faixa “Julho” – sendo também o lado mais comercial do disco.  Os destaques deste lado do projeto ficam para “Escorpião”, que cria uma atmosfera intensa que permeia a gravação e “Gameboy”, quando o cantor exibe sua autoestima dentro de um relacionamento e como toda aquela situação parece um jogo que ele está disposto a jogar. Já o “lado b”, abraça composições mais sóbrias e sombrias – como por exemplo sua mudança do interior para a cidade de São Paulo em 2015 – além de muitas referências aos seus lançamentos anteriores. Destaca-se “Eu posso ser como você”, com outro ponto de vista da história da faixa anterior “Julho” e também uma resposta faixa “Eu quero ser como você”, do seu disco de estreia.


 

Na imagem há um banner vermelho com os dizeres "Jão Super, audição" à frente do Ginásio do Ibirapuera
Entrada da audição exclusiva no Ginásio do Ibirapuera. Imagem: Romulo Santana

 

O artista disse que já escolheu o single que iniciará a divulgação do álbum, mas que o clipe ainda não foi gravado. A audição exclusiva do “Super” ocorreu no dia 13/08, no Ginásio do Ibirapuera – com 12 mil ingressos distribuídos de forma gratuita pelo cantor. O evento foi apresentado pela jornalista Valentina Pulgarin, amiga pessoal do cantor. Ao fim da apresentação do trailer do disco, a apresentadora iniciou uma contagem regressiva para a 1ª audição do material inédito com vizualizers. Após a escuta do material, o artista agradeceu emocionado a recepção dos fãs e foi entrevistado por Pulgarin. Jão diz não ter tido férias após a última turnê e que “Super” foi sua prioridade, uma vez que o trabalho só faz sentido quando chega à seus fãs. Seu novo trabalho chegou às plataformas digitais na última Segunda (14).

Em um telão, Jão, um homem branco de cabelos platinados secando os olhos
Jão emocionado, após a audição de "Super". Imagem: Romulo Santana

 

Primeiro disco da banda Besouro Mulher viaja no universo sentimental e imaginário dentro do plano concreto do dia-a-dia
por
Maria Eduarda dos Anjos
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11/08/2023 - 12h

         Alguns desconfortos são postos no mundo melhor pelo humor, outros, pela música. A banda paulistana Besouro Mulher brinca e mistura essas duas formas tão cotidianas de comunicarmos sentimentos no seu álbum de estreia Volto Amanhã (RKMB), sequência do EP Depois do Carnaval. O projeto estava nos rascunhos de Arthur Merlino (baixo), Bento Pestana (guitarra), Sophia Chablau (voz) e Vitor Park (bateria) e ganhou contorno no meio da pandemia, durante intensivões de criação de um lugar para além daquele do isolamento, algo que existisse apesar do que é possível tocar, mas que ainda acena para o mundo real. “O nome [do disco] traz uma coisa um pouco indecifrável do futuro e de um passado que não aconteceu, tem cara de algo que beira o mundo da imaginação e, ao mesmo tempo, chama pelo real e pela dureza do real” conta Bento.

           Apesar de ser o debut da banda, a vocalista não é nem um pouco estranha à cena independente:girou pelas casas noturnas com sua outra banda, Sophia Chablau e Uma Incrível Perda de Tempo. O disco homônimo despontou com produção de Ana Frango Elétrico e arrastou a cena indie pela cidade. A sonoridade dos projetos se conversam na dinâmica dois-lados-da-mesma-moeda: se a Besouro Mulher é mais sentimental sobre amor, Incrível Perda de Tempo foca no ‘delícia, luxúria’ ; a primeira traz uma guitarra mais melódica, enquanto a segunda pesa em sintetizadores e distorções que formem uma parede de som que se arrasta, preenchendo os segundos; ambas carregam um tom descontraído que arranca uma risada do público, às vezes proposital, às vezes não.

         ‘Torresmo’, faixa emprestada que virou single, encapsula a essência do disco que viria pela frente: “Essa música fala muito sobre imaginação e até uma certa subversão do normal, daquilo que é a nossa sina”, comenta Sophia. A composição de Juliana Perdigão e Arnaldo Antunes íntegra sem ruído a coletânea; “eu sou um Super-Homem submisso” e “Queria estar a sós comigo mesmo/ e ter a eternidade toda em torno” são tão naturais à voz de Sophia que poderiam ser composição própria. “Foi um desafio trazer para uma sonoridade mais nossa, o Bento e eu pensamos pra ‘tirar o blues’ dela, porque tudo que a gente fazia ficava com cara de blues, por causa da harmonia e talvez alguma outra essência inominável que estava na música, mas acabamos conseguindo e ficamos muito felizes com o resultado. Além disso, acabamos ficando sabendo que a própria Juliana e o Arnaldo gostaram da versão, então a satisfação foi grande”, completa Arthur.

Imagem: Igor Miranda
Imagem: Igor Miranda 


          Volto Amanhã é um apanhado de como o cotidiano transborda de material para reflexão, uma “crônica que nunca consegue ser completamente captada pelas palavras. O som, assim como a capa e o nome trazem um pouco essa sensação de vertigem, de algo que não tem um começo e que se soma a um real imaginário e que termina voltando para o começo”, define Bento. “Carótida” é uma colagem de questionamentos sobre a essência das pessoas e como é possível o universo interior ser muito maior do que qualquer esqueleto pode ser, tudo em cima de uma guitarra que soa como um relógio, os pensamentos correndo mais rápido que o tempo. “Pão Francês” é mais calma, e salta entre o francês e o português para desenhar um relacionamento tão dessincronizado que chega a parecer que não falam a mesma língua. ‘Curto/Tempo’, um loop ambiente, é sobre “curtir passar o tempo curto com você” - simples assim. A faixa traz um pouco de Mac DeMarco, Homeshake e até Billie Eilish, segundo a banda.

          Em “Alguma Coisa”, Sophia Chablau explora o desejo de expressar algo único e original para alguém especial, mas ao mesmo tempo reconhece a dificuldade de encontrar palavras verdadeiramente inéditas. Nesse sufoco, faz graça da sua própria situação no meio da canção, falando “ela não diz nada de original, coitada!” , que arranca um risinho de surpresa de quem ouve. Quanto a esse humor casual, Sophia diz que não é intencional, acaba sendo a forma que escreve músicas, mas é principalmente como o público as lê. “ É constante as pessoas acharem minhas músicas engraçadas. Outro dia estava tocando numa edição do Tranquilo SP e durante “Hello” o pessoal deu muita risada. Eu acho curioso legal, curioso porque não escrevo música pra “ser engraçada”, mas eu acho legal, rir é uma forma das pessoas reagirem. E não é que eu seja uma pessoa séria ou sem senso de humor, eu dou risada o dia todo. Acho rir e chorar duas sensações boas, e fico feliz de despertar alguma emoção. Não me “utilizo do humor” de forma pensada, acho que é uma coisa meio natural, muitas das vezes a minha música soa engraçada porque deve ser diferente ouvir “miojo” numa música séria em português”, Chablau fala enquanto tenta tirar sentido disso.


          É fato, pouquíssimas músicas falam dos três minutinhos tão curtos mas tão rotineiros, mas a Besouro Mulher decidiu que até a mais banal das banalidades merece suas cinco notas na. E que bom.


          A Besouro Mulher fará seu show de estreia na Casa Rockambole no sábado (12) , com abertura de Uiu Lopes. Volto Amanhã pode ser ouvido todos os grandes streamers e os ingressos podem ser adquiridos pela Sympla.

 

 

Série conquista o público por ser uma adaptação fiel ao jogo
por
Bruna Alves
Luana Galeno
Maria Eduarda Camargo
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15/03/2023 - 12h

The Last Of Us, a nova série distópica da HBO Max, está quebrando números de audiência no streaming, ultrapassando inclusive House of the Dragon, e tornando-se a adaptação de jogo para série mais bem avaliada do IMDb (Internet Movie Database), com uma média de 9.4/10.

Baseada no jogo premiado da Naughty Dog com a Playstation, a produção de Neil Druckmann e Craig Mazin conta com 9 episódios que retratam a jornada de Joel (Pedro Pascal) e Ellie (Bella Ramsey) tentando sobreviver em um mundo pós-apocalíptico.

A trama se passa 20 anos após o colapso da humanidade devido à pandemia de uma variante do fungo Cordyceps. A mutação ataca o cérebro do hospedeiro humano, transformando-o em "Infectado" - um ser ainda vivo mas incapaz de controlar suas ações. Os níveis de infecção se desenvolvem ao longo do tempo após a mordida — ou no caso do jogo, a inalação de esporos.

Infectado na série The last of Us. Fonte: The Enemy
Infectado na série The last of Us. Fonte: The Enemy

Joel, o personagem masculino principal, é um contrabandista que se depara com o roubo de sua carga. Para recuperá-la, ele deveria levar Ellie, a jovem protagonista, para o quartel general dos Vagalumes (grupo paramilitar opositor ao governo). Mais tarde, ele descobre que Ellie é imune ao vírus, revelando o interesse dos Vagalumes por ela. Com esta missão, um homem sem esperanças e uma criança provocadora encaram barreiras que vinte anos de caos trouxeram.

O Jogo

In game shot. Fonte: Playstation
In game shot. Fonte: Playstation

O jogo – lançado em 2013 para o Playstation 3 e remasterizado em 2014 – começou sua produção em 2009, depois do último sucesso da empresa Naughty Dog com Uncharted 2, e desde então revolucionou a indústria de jogos. Com inovação na criação do enredo, grande desenvolvimento de trilha sonora e protagonismo feminino, o jogo ganhou 196 prêmios de mídia especializada, incluindo 3 BAFTAs (British Academy of Film and Television Arts).

A trilogia, que conta também com The Last Of Us: Parte II, lançada em 2020, segue sendo a mais premiada no universo dos games. O jogo abriu um caminho carregado de dramaturgia em um mundo antes populado somente por cenas de ação e personagens rasos. A utilização de cut scenes mais longas e a manipulação da jogabilidade dos personagens – junto de artifícios novos para a época, como finitude de recursos e exploração de histórias laterais – foi o que trouxe a beleza do cinema para o universo dos consoles. 

Outro ponto importante do jogo é a trilha sonora original – criada pelo argentino Gustavo Santaolalla e que ganhou o prêmio BAFTA – contando com composições mais naturais nas cenas de ação, que conquistou os jogadores e os críticos especializados na área. Gustavo também foi o criador da trilha sonora da série.

A Série

Fonte: The Last of Us - HBO Max
Fonte: The Last of Us - HBO Max

O aspecto de ação é mais presente no começo, com as primeiras aparições dos Infectados, e vai diminuindo gradativamente no decorrer da história. Apesar disso, a série ilustra todos os tipos de infectados presentes no primeiro jogo: Corredores, Espreitadores, Estaladores e Baiacus.

Cena do Baiacu em The Last of Us. Fonte: Rolling Stone
Cena do Baiacu em The Last of Us. Fonte: Rolling Stone

A obra segue uma linha narrativa mais dramática, focando nas frágeis relações dos personagens, tanto de Ellie e Joel, quanto deles com outros personagens. The Last of Us também explora histórias paralelas, como no episódio 3, onde é retratada a vida de Bill e Frank, meros coadjuvantes no jogo, que proporcionaram na obra da HBO uma nova perspectiva sobre o amor em um mundo apocalíptico.

Sobre os personagens principais, é possível entender as multifacetas que representam tanto Joel quanto Ellie. Ele perde sua filha, Sarah, no início do surto pandêmico — vinte anos antes da trama —, o que torna perceptível a barreira entre ele e Ellie desde o primeiro encontro dos dois. Porém, com o passar dos episódios, nota-se a aproximação entre eles e o desenvolvimento de uma relação afetuosa de “pai e filha” que Joel acreditava ter perdido. Este vínculo vai se intensificando a cada novo desafio apresentado e é assertivamente demonstrado pela atuação de Pedro Pascal e Bella Ramsey.

A adaptação também chamou uma atenção detalhista quanto à fidelidade ao jogo. Diversas cenas foram reproduzidas de forma idêntica, fazendo uso dos mesmos diálogos e até o mesmo enquadramento. Grande parte disso se deve ao fato da equipe produtora do jogo — especialmente Druckmann e Mazin — estarem envolvidos na produção da série.

Apesar disso, houveram críticas por parte dos fãs do jogo em relação a pouca exploração dos Infectados, como as frequentes "hordas de zumbis”. Porém, havia, por parte dos diretores, a preocupação em não ser repetitivo e a necessidade de adaptação para televisão.

Opinião

Comparação entre cena no jogo e na série. Fonte Imagem 1: Wikihow | Imagem 2: The Last of Us - HBO Max
Comparação entre cena no jogo e na série. Fonte Imagem 1: Wikihow | Imagem 2: The Last of Us - HBO Max

A ausência da já conhecida e cansativa “horda de zumbis” e de um Joel “à prova de balas” cria uma atmosfera muito mais crível e dramática na obra. Tudo isso é combinado ao talento de Bella Ramsey, que tira completamente a Ellie de um papel passivo e prepara o espectador para o que está por vir. A criação de uma atmosfera de suspense e um novo take no estilo zumbi são os pontos essenciais para a fórmula de sucesso da série.

Outro ponto importante de The Last of Us é o jeito como Druckmann explora as diversas facetas de um mesmo personagem. Nenhum daqueles que se opõem aos personagens principais é inerentemente mau, mas sim só um ser humano lutando por sua sobrevivência e pela vida daqueles que ama. Tanto a série como o jogo se aprofundam na característica mais humana de todas: a busca por um motivo para sobreviver. A inevitabilidade da missão é a beleza da dramaturgia de Druckmann – e da HBO.

Com a liberação de eventos, dúvidas e questionamentos surgem sobre seu retorno ser precipitado ou não.
por
João Pedro Pires da Costa
Rodolfo Soares Dias
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05/05/2022 - 12h

Em novembro do ano passado o estado de São Paulo divulgou o decreto que libera a realização de eventos com 100% do público, esse retorno se tornou um fato necessário para investidores e comerciantes, que por sua vez, querem entregar o melhor conteúdo para um público ávido, que por muito tempo manteve uma distância social indesejada.

 A quarentena causou uma série de impactos na vida dos brasileiros, e um dos fatores determinantes para manter a saúde mental de todos, foram os tipos de contatos sociais possíveis na quarentena, ligações entre amigos e familiares se tornaram algo comum no dia a dia, Shows de artistas através de lives gratuitas era o mais perto que se podia chegar de um grande evento. Já com a chegada das primeiras doses da vacina contra a Covid-19 pequenos encontros foram possíveis, para “matar a saudade” de pessoas mais próximas e queridas.

Com a recente liberação para os eventos de grande porte e a liberação do uso de máscara, muitas questões se mostraram pertinentes sobre os cuidados a serem tomados para evitar a proliferação do vírus.

Para entendermos melhor como está sendo encarada a abertura do mercado, entrevistamos um dos promotores da casa de shows Honey Club localizada em São José dos Campos, João Peraccini, jovem que trabalha no ramo de eventos há mais de três anos relatou que no período pós pandemia houve um aumento significativo na procura por festas e eventos sociais em geral, o promotor pensa que o tempo perdido dentro de casa fez com que as pessoas valorizassem mais a vida e os encontros sociais.

Ao ser questionado sobre a volta precipitada dos eventos, João admitiu que houve sim uma cobrança para a volta dos shows, tanto do público quanto dos organizadores. “Na Honey Club, por exemplo, essa pressão existiu, e fez com que houvesse um retorno precipitado e até desorganizado, levando em conta que os protocolos de saúde não foram seguidos corretamente, diversos casos de Covid-19 foram registrados por lá” complementa João.

Como parte do público, Helena Souza vê a volta de grandes eventos como um “mal necessário", acha que a liberação não foi um erro, mas da forma que aconteceu, pode causar problemas que poderiam ser evitados. “É claro que eu queria voltar a ir em festas, mas não do jeito que tá agora, sem fiscalização ou cuidado, não me sinto confortável pra ficar no meio de um monte de gente” e ainda complementou “A Covid ainda tá por aí, mas parece que todo mundo esqueceu do que passamos”.

 


Texto produzido por Rodolfo Dias e João Pedro Pires.

Elifas Andreato, entrelaçado à PUC-SP em uma das últimas obras.
por
Maria Eduarda dos Anjos
Ricardo Dias de Oliveira Filho
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29/03/2022 - 12h

Com tristeza icônica, nos desligamos essa semana do ponto colorido de convergência entre várias pessoas, Elifas Andreato. O artista gráfico, presente em mais de 360 capas de discos de artistas nacionais, teve como foco na carreira dar traços à cultura popular brasileira, constituindo a ponte viva entre figuras como Criolo e Chico Buarque. Expressivo, Andreato é peça chave na frente artística de oposição do período militar e modelo na integração da imagem nacional, abraçando com uma corda só a beleza e as mazelas da nação ao lado de contemporâneos como Gilberto Gil e Paulinho da Viola.

Elifas Andreato
Créditos da arte: Elifas Andreato
Reprodução: PUC-SP

Nas primeiras semanas de março, o reencontro do corpo docente e alunos da PUC-SP foi ilustrado pelo caloroso abraço desse velho irmão de luta. O casamento da instituição com o artístico é, primeiramente, de gigante simbolismo da relação política na sociedade civil. A faculdade combateu à base de subversão ideológica os avanços militares, virando símbolo da oposição durante o período. Elifas fez o mesmo à base de canetas, lápis e papel. Assim como a universidade carrega orgulhosa essa herança, sua pós-vida não foge de igual importância.

A arte espalhada pelas vias principais representou o abraço metafórico do campus Monte Alegre, que mesmo privado do toque físico pelas restrições sanitárias, teve sua cultura de troca social revivida pelas vozes nos corredores e olhares deslumbrados com a nova fase da vida que começa à sua frente. As cores vivas e concretas do abraço compartilhado em contraste às paredes cinzas e amareladas dos corredores alude perfeitamente à vida no campus, a base da identidade tradicional da Pontifícia. Assim como no desenho, este é um lugar onde mentes se intercalam e a união se mostra presente à base da cultura brasileira. Assim como os traços da arte, a vida é fluida, feita de contato e palco para encontros, reencontros e, infelizmente, despedidas.

Sua última obra em vida, a cenografia da peça ‘Morte e vida severina’ dirigida pelo irmão Elias Andreato, também habita sob teto puquiano, no TUCA. O entrelaçamento de duas figuras tão emblemáticas na história do Brasil, da cultura e entre si não poderia ter fim mais apropriado e familiar. 
 

Obra de Érico Veríssimo aborda temas atemporais que podem ser relacionados aos dias de hoje
por
Isabela Lago, Ramon de Paschoa e Tabitha Ramalho
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01/06/2021 - 12h
Livro Incidente em Antares, capa roxa
Foto divulgação do livro Incidente em Antares.

 

No episódio de hoje comentamos um pouco sobre o livro “Incidente em Arantes” do escritor Érico Veríssimo. Publicado na década de 1970, durante a ditadura militar, a obra é, ao mesmo tempo, um drama e um romance. Para comemorar os 50 anos do livro, a obra ganhou debate para relembrar sua narrativa repleta de realismo fantástico e críticas contundentes ao autoritarismo e ditadura do contexto histórico, temas que podem ser relacionados com nosso contexto atual.

Disponível no SoundCloud.

Em coletiva, Aroeira comenta a função da charge e o seu impacto visual
por
Carlos Gonçalves
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15/05/2021 - 12h

     Por mais que há a tendência em associar as charges com os traços humorísticos, devemos compreender que a sua função vai além de qualquer piada banal. Temos que observar o peso crítico que nela está envolvido e todo o enredo crítico criado pelo artista. Além do traço, do movimento ou da narrativa, o artista quer mostrar ao leitor que a expressão demonstrada em sua arte serve como ponte para uma reflexão crítica: a função do chargista é plantar o incômodo no leitor, gerar a dúvida, fazendo-o questionar o ambiente em que ele vive. Nada que é colocado em uma charge é irrelevante: o sorriso malicioso do personagem que age na má-fé, o gesto brusco de frustração, a inocência de quem está sendo enganado, são algumas formas que não só servem para mostrar os comportamentos sociais dos brasileiros, como também servem para retratar os nossos pensamentos ou como reagimos em certos momentos. A charge é a sátira ao comportamento social, é questionar as nossas fragilidades e dores; por isso, se ao ler uma charge você sentir vergonha, não se desespere, ela só está cumprindo a sua função de mostrar o quão cruel (ou ignorante) uma sociedade pode ser.

     Renato Aroeira é um dos artistas que se debruçam sobre a arte crítica. Como ferramenta, ele utiliza o traço marcante do nanquim para expor expressões energéticas, somada com a sutileza da aquarela para dar volume e vivacidade a suas artes. Para ele, além da arte em si, o enredo da charge precisa ser bem contextualizado, seguindo uma estrutura. Durante o seu processo de criação, o artista chegou a achar que o humor crítico poderia ser simplificado, porém percebeu que em certos assuntos a simplificação acaba levando a interpretações errôneas, pois pode acabar expressando uma visão sobre algo que não pretendia concluir daquela forma. Então, ele começou a complicar as charges para ser bem compreendido, mesmo que a charge se torne difícil de ser entendida em certos aspectos. Simplificar a charge pode acarretar diversos preconceitos, que acabam trazendo até um sorriso mais fácil, e é por isso que atualmente o chargista toma cuidado com a construção do humor.

 

“O papel da charge é um dos processos para a construção social, serve para informar, impactar. Mas quem transforma o mundo é o coletivo social, apontado para o lado certo, e fazer parte disso de alguma forma é bom demais! É bacana fazer parte dessa confraria, não sou humilde, mas entendo o papel da charge dentro da mídia e os seus limites.

  – Renato Aroeira

 

     O processo de criação artístico de quem trabalha diariamente com o leitor não é algo simples de ser conquistado, requer décadas de aperfeiçoamento. Diferente, por exemplo, dos artistas plásticos, que expressam a sua visão pessoal do mundo e não se preocupam tanto (ou nada) em mostrar de forma categórica o que foi exposto em sua arte, cabendo ao observador buscar as respostas em outros meios para compreendê-la. Já o chargista precisa expor os caminhos do seu pensamento ao leitor, para que ele ache de alguma forma o caminho na própria charge. Entre as dificuldades da profissão, há também a seleção de qual tema abordar; por ser um trabalho constante, o artista tem que estar sempre se atualizando das notícias que mais lhe chamam a atenção e quais servem como inspiração para serem adaptadas em forma de charge. Podendo ser um tema que está em voga ou algo polêmico que ocorreu naquele exato momento. No início da profissão, Aroeira diz que não sabia exatamente o que queria dizer ao público, tendo que buscar inspiração nos jornais, hoje ele já tem uma ideia do que ele quer expressar quando faz a sua arte.

     Mesmo que o papel da charge tenha um limite de influência, Aroeira gosta da função de ser crítico social. Consciente, ele diz que o papel da charge é só um braço entre tantos que há na mídia informativa; cabendo a todos os meios da comunicação unirem-se para criar dispositivos que irão mostrar as inquietações que movem o comportamento social. O grande revés, segundo o artista, é o aumento da perda de função e interesse pelas charges. Para ele, a charge está ficando de lado, não sendo valorizada da forma correta.

 

“Que se divirtam com a charge, mas também olhem para o que estou apontando, para a crítica. Que gostem, que gostem de mim, mas que também entendam que além de fazer rir, ela tem uma trava amarga, ela tem um gosto amargo no geral, pois estou falando de um genocida, de uma estupidez etc. Mas eu não espero que uma charge resolva nenhum problema, que gere uma revolução ou qualquer coisa do tipo. Eu tento desenhar para que as pessoas entendam o que está acontecendo e assim tomem uma decisão melhor, uma eleição bem votada por exemplo. Nosso papel na comunicação é informar da melhor forma possível.”

– Renato Aroeira