Maior evento europeu do setor continua na rota por novidades eletricas e mais concorrência a cada ano
por
Vítor Nhoatto
|
22/09/2025 - 12h

Ocorrido entre os dias 9 e 14 de setembro, o IAA Mobility recebeu mais de 500 mil visitantes, superando a sua última edição em 2023. Estiveram presentes as germânicas Audi, BMW, Mercedes, Opel, Porsche e Volkswagen, mas Fiat, Peugeot e nenhuma japonesa compareceu. Com isso, mais uma vez uma grande parte de Munique foi palco para as chinesas se consolidarem e expandirem.

Com o lema “It’s all About Mobility”, em tradução livre, “É Tudo Sobre Mobilidade”, o foco da mostra se manteve em soluções inteligentes e inovadoras. Startups como a Linktour com  seus micro carros elétricos, e marcas de bicicletas e motocicletas elétricas estavam por todos os lados do München Expo Center. E repetindo o formato aplicado desde 2021, com o chamado “Open Space”, uma área de experiências interativas gratuitas ao ar livre, os visitantes podiam experimentar tudo isso.

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

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 Além disso, a inovação tecnológica foi tema de muitos debates e coletivas de imprensa com representantes da indústria. Fornecedoras como a Bosch, Aisin e Revolt, além de empresas de carregadores como a Charge X e E-Mobilio e a gigante de baterias CATL foram só alguns dos mais de 750 expositores presentes. 

Setor premium atento

Falando em eletricidade, ela estava no centro das atenções de todas as marcas, apesar das vendas de carros elétricos (BEV) terem sido prejudicada na Europa no ano passado. O fim ou diminuição de subsídios governamentais e metas de descarbonização estagnadas na União Europeia foram os principais motivos segundo o Global EV Outlook 2025 da International Energy Agency (IEA). No entanto, as projeções para esse ano e os próximos são de crescimento.

De olho nisso a BMW lançou o novo iX3, modelo mais importante em anos ao inaugurar uma nova era para a alemã. A segunda geração do modelo estreia uma plataforma sob medida e exclusiva para elétricos de nova geração, chamada de Neue Klasse. O destaque fica com a nova bateria de 108.7kWh de capacidade integrada ao chassi, compatível com carregamento ultrarrápido de até 800V - ganha 372km em apenas dez minutos - e autonomia de 805km em uma carga segundo o ciclo WLTP. 

No quesito design a ruptura com o passado é ainda mais evidente, com uma nova linguagem visual, inspirado nos modelos da BMW dos anos 80. No interior foi inaugurado o Panoramic iDrive, com o painel de instrumentos correndo ao longo de todo o para-brisa, um novo volante de quatro raios e um multimídia com inteligência artificial de 17,5 polegadas. “A Neue Klasse é o nosso maior projeto futuro e marca um grande salto em termos de tecnologias, experiência de condução e design”, frisou o presidente do conselho de administração da marca, Oliver Zipse.

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Alemã aproveitou o evento para apresentar o futuro Sedan i3, que seguirá o capítulo iniciado pelo SUV iX3,  irmão de plataforma. Foto: BMW Group / Divulgação 

Do outro lado do pavilhão, a Mercedes-Benz fez um movimento parecido, lançando a segunda geração do GLC elétrico. O modelo foi o primeiro elétrico da marca, ainda em 2018 como EQC. Mas pelas vendas baixas havia sido descontinuado no ano passado, e agora retorna com o nome “GLC With EQ Technology”, para evidenciar as mudanças. Rival direto do iX3, segue a linguagem de design inaugurada no novo CLA no ano passado, aqui com uma grade iluminada e enormemente proeminente.

Construído sob a inédita plataforma elétrica MB.EA Medium, independente do GLC, a combustão portanto, possui carregamento de até 800V e uma bateria de 94kWh, traduzidos em 713 km de autonomia. No interior, o SUV inaugura o “Hyperscreen”, transformando o painel inteiro em uma tela de 39.1 polegadas. O interior pode ser todo vegano e certificado, e a comunicação Car-to-X - que coleta e envia dados para comunicar outros veículos - se destaca no quesito segurança. O preço inicial deve girar em €60 mil quando chegar às lojas ainda esse ano, tal qual o rival.

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Faróis possuem tecnologia Matrix, e sob o capô há um espaço de 128 litros para bagagens. Foto: Mercedes-Benz / Reprodução

Mas nem só de SUVs o mercado premium é formado, e a Polestar compareceu a Munique para o lançamento mundial do seu novo modelo de topo, o sedã 5. A marca do grupo Geely, divisão de performance da Volvo até 2017, aposta em sustentabilidade e alta performance, estreando a nova plataforma PPA do grupo. São 872 cavalos, tração integral, aceleração de 0 a 100 em 3,2 segundos e ausência de janela traseira, tal qual no crossover 4.

Um presente e futuro elétrico

Nas duas últimas edições do Salão de Munique, ambientalistas protestaram em frente ao evento em defesa de uma mudança sistêmica da indústria, o que se repetiu. As ONGs Extinction Rebellion e Attac levaram placas pedindo por mais investimento em transporte público e justiça social, jogando atenção para uma mentalidade individualista e o preço dos elétricos. 

Em relação a essa questão, um estudo da empresa de consultoria, Gartner, mostra que até 2027 os BEVs serão mais baratos de produzir que os carros a combustão (ICEVs), e o Grupo Volkswagen promete preços competitivos para sua nova geração de elétricos. 

Foram revelados no evento quatro modelos para o segmento B baseados na plataforma MEB Entry do conglomerado. O principal deles foi o ID.Polo da Volkswagen, com previsão de início de vendas em maio na casa dos € 25 mil. Como o seu nome sugere, é a versão elétrica do hatch Polo, e contará com baterias de 38 e 56 kWh, com uma autonomia de 350 e 450 km respectivamente. Uma versão GTI do modelo será também comercializada, com 223 cavalos.

Continuando o apelo esportivo que a versão encurtada da plataforma em que os modelos do segmento C, ID.3 e ID.4, são construídos, a espanhola Cupra mostrou a versão de produção do Raval. Com dimensões e motorizações basicamente iguais às do ID.Polo, promete continuar a expansão da nova marca do grupo, antigamente uma divisão de performance da Seat.

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Cupra Raval, ID.Polo e ID.Polo GTI  (direita) serão lançados em março do ano que vem, enquanto os SUVs Epiq e ID.Cross (esquerda) chegarão no segundo semestre. Foto: Volkswagen AG / Divulgação

Como era de se esperar pela relação do Polo com o T-Cross, sua versão SUV, o conceito ID.Cross foi mostrado. Com o mesmo tamanho do modelo que substituirá em 2026, integra o segmento disputado dos B-SUV elétricos, formado por nomes como Peugeot e-2008, Renault 4 e Volvo EX30. Focando em espaço e ergonomia, marca a volta de botões físicos no volante e do ar condicionado, além de um maior uso de materiais reciclados. 

Por fim, a Skoda apresentou a sua versão do SUV, denominada Epiq. Tal qual os irmãos de plataforma, será construído em Pamplona, na Espanha, e contará com a capacidade de carregar dispositivos externos como eletrodomésticos (V2L). A velocidade de carregamento é de até 125 kW, indo de 10% a 80% em 20 minutos, e o modelo estreará uma nova identidade visual para a tcheca no ano que vem.

Ascensão chinesa continua 

Aprofundando essa questão dos preços, são as marcas chinesas que se destacam globalmente, como destaca a IEA. Com grandes reservas dos minérios utilizados nas baterias, as fábricas para construí-las e anos de investimento estatal na tecnologia, seguiram com sua expansão em solo alemão. 

A BYD, maior marca chinesa em números, marcou presença com o recém lançado Dolphin Surf - a versão europeia do Dolphin Mini. Avaliado com cinco estrelas pelo Euro NCAP, é um dos BEVs mais baratos hoje à venda na Europa, custando cerca de € 20 mil. No campo dos híbridos plug-in (PHEV) a Station Wagon do segmento D, Sealion 06, foi lançada, focada em conforto e tecnologia com até 1.092 km de autonomia combinada.

Outra marca com novidades foi a Leapmotor, que já vende o hatch subcompacto T03 e o D-SUV C10 no continente, de lançamento marcado para o Brasil ainda em 2025. Pertencendo 20% à Stellantis, que controla a sua operação internacional, apresentou o inédito hatch B05, rival de Volkswagen ID.3 e BYD Dolphin. Sob a mesma plataforma do C-SUV B10, terá cerca de 400 km de autonomia e início de vendas para o ano que vem por cerca de € 30 mil.

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"O B05 (direita) reflete nosso compromisso com a inovação, acessibilidade e a capacitação da próxima geração de motoristas em toda a Europa e além", declarou o CEO global da marca, Zhu Jiangming. Foto: Leapmotor / Divulgação

Munique foi para além de um lugar de novos modelos, mais uma vez o palco de marcas inteiras debutando em solo europeu. A marca AITO, do grupo Seres, que usa a tecnologia da Huawei, se lançou no mercado internacional com os SUVs 9, 7 e 5. Mirando as marcas premium alemãs nos segmentos E e D, podem ser tanto BEVs ou elétricos com extensor de autonomia (REEV), repetindo a abordagem da Leapmotor com o C10.

O grupo Changan Auto iniciou as operações da sua marca Deepal com os SUVs de apelo jovem e esportivo S05 e S07, ambos com opções de serem elétricos ou PHEVs. No campo de luxo, a marca Avatr da gigante chinesa mostrou seu primeiro concept car, o Xpectra, além dos modelos 06, 07 e 12, já comercializados em alguns países europeus e com planos de chegarem a 50 mercados em breve.

A premium Hongqi esteve presente e revelou o C-SUV elétrico EHS5, além de anunciar planos de expansão com 15 modelos e 200 pontos de venda pela Europa nos próximos anos. E aumentando a sua aposta no evento, a Xpeng teve um stand dentro do pavilhão e apresentou a nova geração do P7, sedã que começou a ser comercializado na Europa no IAA Mobility 2023.

Além disso, a recém chegada ao Brasil, GAC, estreou no velho continente levando cinco modelos para a mostra. Seguindo com o “European Plan Market” anunciado no ano passado, lançou como modelos de topo o novo GS7, um SUV grande híbrido plug-in, e a MPV híbrida (HEV) E9. Mas os destaques da marca foram o hatch AION UT, rival de BYD Dolphin, e o D-SUV rival de Tesla Model Y, o AION V.

O primeiro possui bateria de 60 kW/h com 430 km de autonomia e previsão de início da comercialização em 2026 na casa dos € 30 mil. Já para o segundo, comercializado no Brasil por R$214.990, o preço de € 35.990 foi anunciado, muito competitivo para o segmento. Com 510km de autonomia e cinco estrelas no teste do Euro NCAP - com mais ADAS que o brasileiro - será o primeiro a chegar às lojas, já em setembro em mercados como Portugal, Finlândia e Polônia. O plano é que a marca venda em todos os países europeus até 2028.

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Estava ainda em Munique o carro elétrico voador GOVI AirCab (ao fundo) buscando mostrar os avanços da indústria chinesa, segundo a empresa. Foto: GAC Group / Divulgação

Eletrificação em todos os níveis 

Para além das novatas, ícones do mercado aproveitaram os holofotes da feira para se renovarem completamente. Esse foi o caso da única francesa presente, a Renault, que lançou a sexta geração do hatch Clio, o segundo carro mais vendido no continente em 2024.

Construído sob a mesma plataforma que o seu predecessor, mantém o motor 1.2 TCe e uma opção movida a GPL, mas as semelhanças acabam por aqui. No powertrain, estreia um novo sistema full-hybrid (HEV) formado por um motor 1.8 e dois elétricos, resultando em 160 cavalos e modo de condução elétrico na cidade. Conforme a estratégia da marca, o Clio não terá versão elétrica, papel delegado ao hatch de estilo retrô, o 5.

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Hatch cresceu 6 centímetros em comprimento, evocando uma silhueta mais esportiva e afilada. Foto: Renault Group / Divulgação

No quesito design, o carro rompe por inteiro com a geração anterior, o oposto do que havia acontecido com a quinta geração em relação à quarta. A frente ostenta uma nova assinatura em DRL, que forma o símbolo da Renault, e a traseira possui lanternas duplas, nunca vistas em um Clio. O interior é todo novo também em relação ao antecessor, mas com o mesmo layout e sistema operacional do Google do irmão elétrico 5.

A Volkswagen foi outra que debutou no IAA uma nova geração de um best-seller, o T-Roc. Em sua segunda encarnação, também não terá versões elétricas, sendo o último novo carro a combustão desenvolvido pela marca. Haverão pela primeira vez no SUV opções micro-híbridas (MHEV), já conhecidas dos irmãos de plataforma como o Golf e A3, além de um novo sistema HEV, com 134 e 168 cavalos. Não haverá, pelo menos por ora, versões PHEV, sendo o único modelo sob a MEB Evo sem essa possibilidade, no entanto.

Seu exterior é uma evolução da primeira geração, mantendo linhas semelhantes e o seu apelo descolado, descrito pela marca. As dimensões aumentaram, 12 centímetros em comprimento, chegando a 4.37 metros, o colocando alinhado a rivais como o Toyota CH-R e Mazda CX-30. Por dentro a abordagem continua, com telas maiores e mais itens de conectividade e segurança assistida, mas com uma disposição de elementos clássica, vista nos últimos Golf e Tiguan.

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Modelo construído em Portugal foi o quinto carro mais vendido na Europa no ano passado. Foto: Volkswagen Group / Divulgação

Concorrência de todos os lados

Além das chinesas em franca expansão nos últimos anos no continente, outras concorrentes vêm se destacando na corrida pelos elétricos principalmente. A coreana Kia compareceu ao evento e mostrou ao público os novos integrantes da família EV, o EV4 e o EV5. 

O primeiro é um hatch do segmento C, acompanhado de uma variante sedã. Já o último se trata de um modelo lançado em 2023 - inclusive a venda no Brasil desde o ano passado - mas que chega só agora à União Europeia como a versão elétrica do Sportage. Sua conterrânea e marca irmã também esteve em Munique com o Concept 3, prevendo o futuro Hyundai Ioniq 3, equivalente do EV4.

Mas nem só da Ásia as novidades chegam, com a primeira marca turca de automóveis elétricos, a Togg, debutando em solo alemão a sua ofensiva no continente europeu. Fundada em 2018 e com a primeira fábrica inaugurada em 2022, apresentou o C-SUV T10X e o sedã T10F ao público. A pré-venda dos modelos começará em 29 de setembro na Alemanha, e no ano que vem a empresa pretende iniciar seus trabalhos na França e Itália, com meta de ter até 2030 um milhão de veículos em toda a Europa.

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Preços ainda não foram divulgados, mas devem ficar em torno de € 40 mil tomando como base as cifras no mercado turco. Foto: Togg / Divulgação

Construídos sob uma plataforma elétrica, ambos receberam nota máxima no Euro NCAP recentemente, com mais de 9% de proteção para adultos e 80% nos ADAS. A respeito do desempenho, a bateria possui 88.5 kWh de capacidade, e autonomias de até 500 e 600 km para o SUV e o sedã respectivamente. 

“Nossos modelos proporcionam uma experiência de mobilidade voltada para o usuário e voltada para o futuro”, comentou Gürcan Karakaş, CEO da marca durante o evento. A marca anunciou ainda que trabalha no terceiro de cinco modelos que irá lançar até o fim da década, o B-SUV T8X. Karakaş finalizou destacando que prepara para introduzir baterias de pirofosfato de lítio (LFP), e que a indústria deve estar preparada para as mudanças e maior concorrência.

Evento continua sua evolução com mais atrações e marcas patrocinadoras, mesmo com menos montadoras
por
Vítor Nhoatto
|
18/06/2025 - 12h

 

Em sua quarta edição, ocorrida entre os dias 12 e 15 de junho, o Festival Interlagos Edição Carros se consolidou no setor. Realizada no autódromo de mesmo nome, na zona sul de São Paulo, contou com lançamentos de Ford, Honda e GWM. Além disso, nomes como IZA e Ferrugem animaram os amantes das quatro rodas.

Ao todo, estiveram presentes 18 marcas de automóveis, contando Omoda e Jaecoo como marcas separadas. A quantia diminuiu em relação à edição de 2024, que teve 19. Este ano, marcas como Chevrolet e Renault não compareceram. Mas ao andar pelos boxes da pista e no gramado que recebe os festivais Lollapalooza e The Town, a diferença é imperceptível. 

Se por um lado havia uma fabricante a menos, o número de stands de marcas patrocinadoras aumentou e chamava bastante a atenção. Desde casas de apostas até plataformas de venda de produtos online, com direito a uma estátua de leão que atraia as câmeras dos celulares. Completava o cenário a roda gigante popular nos eventos musicais que ali ocorrem, mas que não estava disponível para passeio.

No quesito alimentação, havia um número grande de opções, com uma dezena de food trucks e quiosques para petiscos e um restaurante com buffet também. Ponto importante é a falta de bebedouros pelo complexo, obrigando a todos a comprarem água, mesmo com os shows musicais que pedem por estações de hidratação.

Já em relação à organização do evento, mesmo com as obras aparentemente incessantes em Interlagos, com tapumes e entulhos em alguns locais, estavam menos intrusivas no campo de visão do espectador que as edições passadas. A sinalização continuou precária, com muitas pessoas perguntando para seguranças como descer para a área dos boxes e para o meio da pista, onde as grandes marcas ficavam.

Baseado no conceito de experiência automotor, o formato das edições anteriores foi mantido. Diferente de um Salão do Automóvel tradicional, os interessados poderiam andar na pista por R$593 com o ingresso Drive Pass, e também negociar com representantes de concessionárias a compra dos carros expostos e testados.

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Era possível ainda se sujar na lama, e nem precisava pagar mais pelo Drive Pass, com o Street Pass de R$107 já era suficiente. Foto: Vítor Nhoatto

Tudo isso faz do festival um exemplo atraente financeiramente para as marcas e emocionalmente para o público. Em Portugal, isso acontece de forma parecida com o ECAR Show e, na Espanha, com o Automobile Barcelona, por exemplo. Mas é só no Brasil que uma pista de corridas todo pode ser explorada. Além disso, para diminuir os custos, a edição Carros aconteceu apenas duas semanas depois da edição Motos, reaproveitando a estrutura e agilizando o processo para as montadoras, segundo a organização do evento. 

Palco de lançamentos 

Mesmo sem Volkswagen e o novo Tera, e a Chevrolet tendo optado por lançar os facelift de Onix e Tracker em julho em evento fechado, grandes revelações tomaram Interlagos. No quesito modelo inédito não houve nenhum caso por parte das montadoras tradicionais, limitadas a reestilizações e apresentações ao público de carros já mostrados em solo brasileiro.

Dessa vez presente somente com a Abarth, o conglomerado Stellantis aproveitou o ambiente de corrida que a marca do escorpião evoca e mostrou o renovado Pulse. Seguindo as atualizações da versão não envenenada da Fiat, ganhou nova grade frontal e teto panorâmico, além de banco do motorista com ajuste elétrico para o esportivo. Ficaram de fora, no entanto, novos assistentes de condução como leitor de placas de trânsito e piloto automático adaptativo, disponíveis em veículos mais baratos que os R$157.990 anunciados.

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Por trás do Pulse de hoje, o Abarth 600 dos anos 1960, exposto também pela marca em Interlagos. Foto: Vítor Nhoatto

Ainda em relação às europeias, a Volvo esteve presente novamente, inclusive reaproveitando muitos dos EX30 amarelos da edição passada. Falando nele, que não oferece mais a cor citada, ganhou uma nova versão em território brasileiro, a Cross Country. Apresentada em fevereiro na Europa, chega aqui como topo da gama por R$314.950. Se diferencia das demais pelas caixas de roda e proteções na frente e atrás em plástico preto, além de estrear um novo sistema de propulsão, com  tração integral e 428 cavalos, e indo de 0 a 100km/h em apenas 3,7 segundos.

Também foram mostrados ao público o XC90 atualizado, lançado em 2015, que ganhou sobrevida após a decisão da sueca de prolongar o ciclo dos seus modelos a combustão até uma maior maturação do mercado de elétricos. E ao lado dele estava também o recém lançado no Brasil, o novo EX90, antes tido como sucessor do irmão e agora como complemento e modelo topo de gama da marca. 

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De alguma forma a eletrificação chega para o cliente Volvo, seja com o elétrico EX30 ao fundo ou com o híbrido plug-in XC90 dourado à direita. Foto: Vítor Nhoatto

Mudando de continente, a Honda aproveitou a ocasião para apresentar o facelift do Civic e do HR-V. Ambos receberam mudanças sutis na grade dianteira e parachoques, além de novas lanternas traseiras e desenho de rodas para o segundo. No interior, o sistema multimídia do sedã ganhou novas funcionalidades e o console central do SUV foi alterado levemente para facilitar o acesso ao carregador por indução. Os preços não foram divulgados, no entanto. 

A conterrânea Mitsubishi estava presente novamente, mas diferente da edição 2024 trouxe modelos realmente novos em sua linha, apesar de nenhuma revelação no evento. Lançado no país há poucos meses, a nova geração da picape Triton estava presente e o destaque do stand foi o novo Outlander, anunciado no mês passado. Agora híbrido plug-in, se coloca como modelo mais tecnológico da marca no Brasil, mas custa quase R$400 mil. 

Novidade este ano no festival, a Hyundai também não trouxe novidades, mas aproveitou para mostrar para os consumidores o recém-lançado Kona, o SUV de oito lugares Palisade e o eletrônico Ioniq 5. Os modelos marcam uma nova fase da divisão de importados da coreana no país, administrada pela CAOA e separada da HMB que fabrica os modelos HB20 e Creta. 

Por fim, a estadunidense Ford levou a Interlagos a linha Tremor de suas picapes Maverick, Ranger e F-150, reforçando o apelo off-road da marca com direito a um segundo stand só para elas próxima à pista off-road. Já dentro dos boxes, a reestilização do seu segundo modelo mais importante no país hoje, o Territory, foi revelada.

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Além da mudança estética que tenta alinhar o Territory a linguagem visual da marca, também conta com novo design para as rodas.Foto: Vítor Nhoatto

Atrás apenas da Ranger em vendas e popularidade, é rival de modelos best-sellers como os Jeep Compass e Toyota Corolla Cross, SUVs médios. Com uma frente toda remodelada, mais arredondada e passível de julgamentos, mudou a cor dos estofados internos mas manteve o seu preço de R$215 mil. Importado da China, pretende crescer na categoria com a estratégia, custando menos que os dois concorrentes citados em versões equivalentes.

Ascensão chinesa continua 

Falando mais sobre a potência asiática, se nenhuma surpresa veio por parte das montadoras já estabelecidas, mais uma vez as chinesas ocuparam em todos os sentidos Interlagos, e tiveram destaque. Com revelações importantes e presentes na pista e no barro, elas focaram em mostrar qualidade e potencial tecnológico irreverente.  

Veteranas do Festival, BYD e GWM foram desta vez por caminhos distintos, com a primeira sem lançamentos no mercado de fato, mas trabalhando fortemente o imaginário da marca no Brasil. No stand o ato principal foi o supercarro elétrico YangWang U9, chamando todas as atenções com o seu vermelho vivo e asa traseira enorme. Além disso, era impossível não reparar o carro “dançando”, demonstrando a suspensão independente sofisticada do modelo que consegue saltar e andar somente com três rodas.

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Ao lado de Dolphin Mini e King, U9 roubava os olhares com seus 1.300 cavalos elétricos. Foto: Vítor Nhoatto

Do lado de fora quem brilhava era o também elétrico YangWang U8, agora sob o formato SUV. Capaz de girar no próprio eixo e flutuar, corria pela pista e chamava atenção pelo porte de cerca de cinco metros de comprimento e design singular. Nada foi falado sobre a possível comercialização de ambos no Brasil, o que não era esperado, mas sim as onomatopeias e expressões de surpresa que eles provocam.

Já em relação ao rival GWM, a estratégia foi repetir o que fez em 2024: apresentar novos modelos. A picape híbrida Poer e o SUV Tank 9 foram as estrelas da vez, com a primeira já tendo aparecido em evento com o vice-presidente Geraldo Alckmin na futura fábrica da empresa no Brasil. No caso do segundo, promete complementar a linha Tank após a chegada do Tank 300, na edição passada revelado, e agora ocupando a pista off-road e as ruas também. 

Cenário similar ocorreu no stand da Omoda & Jaecoo, marcas do grupo Chery que em 2024 debutaram em Interlagos e agora já contam com cerca de 50 lojas pelo país. Foram apresentados a versão híbrida do Omoda 5, vendido aqui até então somente como elétrico sob o nome E5, e o inédito Omoda 7, um híbrido plug-in para rivalizar com BYD Song Plus e o GWM Haval H6. Ambos tem previsão de lançamento até final do ano.

Porém, o destaque da mostra foi a novata GAC, que chegou ao mercado brasileiro oficialmente no mês passado já com 33 lojas e cinco modelos. Estilizada sob o slogan Go and Change, vá e mude em português, é o acrônimo para Guangzhou Automobile Group, e se pronuncia “gê á cê”. 

Com um dos maiores estandes da edição, o mesmo que a também estreante chinesa Neta usou no ano passado, era um dos mais movimentados também. O centro das atenções era o elétrico Hyptec  HT com suas portas traseiras “asa de gaivota”, ao estilo do rival Tesla Model X. Custando a partir de R$299.990, é o modelo topo de gama da marca à venda aqui, e promete agitar o mercado dos SUVs elétricos grandes, com uma cabine extremamente luxuosa.

Mais ao fundo estava o também elétrico e SUV, Aion V, com uma pegada mais quadrada e prática. Com porte de GWM Haval H6, tela para o ajuste do ar condicionado no banco de trás, massagem nos dianteiros e até 602 km de autonomia segundo o ciclo chinês NDEC, custa a partir de R$214.990, mesmo preço que o rival híbrido. A MPV (Multi Purpose Vehicle) Aion Y e o sedã Aion ES completavam a linha elétrica.

E apostando também nos híbridos, o SUV GS4 marcou presença, rival direto do supracitado H6 e do recém atualizado BYD Song Plus. A partir de R$189.990 é tido pela marca como o modelo com maior potencial de vendas, e aposta em um design ousado cheio de vincos e quinas, além de qualidade, conforto e tecnologia por um preço mais acessível que modelos menores como o Toyota Corolla Cross inclusive.

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Espaço da GAC remetia a conforto, natureza e um estilo de vida novo, como proposto pela marca. Foto: Vítor Nhoatto

Vale notar, no entanto, que apesar de todo o apelo high tech, nenhum dos modelos conta com leitor de placas de trânsito e detector de fadiga, presentes nos rivais da GWM e BYD. Além disso, o sedã Aion ES, com a mira para o BYD King, não possui nenhum assistente de condução e acabamento digno de Fiat Mobi por R$170 mil. Só o tempo dirá se a estratégia será efetiva ou desaparecerá em um ano como a Neta.

Museu a céu aberto

Ao lado da imersão chinesa a nostalgia tomava conta no segundo espaço da Honda no evento. Entrando era possível admirar o Civic Type-R, o mais potente já feito e vendido por quase meio milhão no Brasil. De frente a ele estava o primeiro Civic fabricado no Brasil, parecendo que havia saído da loja em 1997.  

E como um espaço de memória da japonesa pedia, um tributo a parceria de Ayrton Senna e a marca levou ao festival itens exclusivos do ídolo brasileiro. Acompanhado do capacete usado por ele estava exposto um exemplar 1992 do Honda NSX, esportivo que contou com a participação do piloto no desenvolvimento e que é lembrado pelos fãs por isso. Os entusiastas das pistas ainda puderam ver de perto o primeiro Honda que ganhou na Fórmula Indy.

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História não se compra e contra isso as chinesas não podem lutar. Foto: Vítor Nhoatto

Não necessariamente só de antiguidades que se faz um museu, mas também obras de arte, como abrigava um pavilhão mais adiante. Nele os interessados podiam fazer tatuagens no estúdio presente enquanto admiravam os dois carros mais caros do Brasil. 

No seu tom azul vibrante de lançamento, o superesportivo Bugatti Chiron estava sempre rodeado de câmeras, queixos caídos e pessoas de todas as idades. Com 1.500 cavalos, estima-se que custe cerca de R$40 milhões e é o único exemplar em solo brasileiro. E acompanhando o francês estava o Pagani Utopia, feito artesanalmente e em apenas 99 unidades. O único exemplar no país é branco e possui faixas azuis e vermelhas, importado por cerca de R$60 milhões.  

Estavam mais ao fundo ainda uma Porsche Taycan e uma Mercedes G-Class, que torcem pelos pescoços pelas ruas, mas se contentavam em ser apenas os figurantes do espaço desta vez. Falando na alemã, pela primeira vez esteve no evento, com um stand discreto no gramado e apenas quatro modelos, mas que estavam quase sempre rodeados de interessados. Ao lado também estavam as novatas no evento, BMW e Mini, com seus últimos modelos, mas sem novidades.

De volta ao prédio, Lexus e Toyota repetiam a estratégia das alemãs, sem alardes, e para completar o mundo das exclusividades, um cercado contava com um Rolls Royce Ghost, um McLaren GT, alguns Mitsubishi Lancer Evolution e até mesmo uma Tesla Cybertruck. Se não fosse o suficiente, no andar de cima empresas de acessórios e produtos automotivos em geral trouxeram Nissan GT-R, Ford Mustang e mesmo Ferrari. Lembrando que se fosse de desejo, por  R$1.970 à R$3.950 era possível pilotar máquinas como essas com o ingresso Sport Pass.

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Seja criança ou não, entusiasta ou leigo, muitos modelos chamavam atenção de todo mundo que passava por Interlagos. Foto: Vítor Nhoatto

Para completar a experiência no fim da noite, ainda aconteceram shows de cantores a lá Lollapalooza em pleno mês de junho. No dia 13 se apresentaram Seu Jorge e IZA, seguidos da dupla Maiara e Maraisa no dia seguinte, e Diogo Nogueira e Ferrugem no domingo (15). 

A Prefeitura de São Paulo anunciou em abril deste ano que renovou o contrato com a organização do evento para edições anuais até 2028, comprovando o sucesso do formato. Mesmo que o Salão do Automóvel de São Paulo volte depois de sete anos em novembro, como foi anunciado, o espaço do Festival Interlagos é só dele, e parece mais que nunca robusto e consolidado pelas marcas, governo e também pelo público. 

Para Mércia Cristina, a ausência do celular trará um aproveitamento melhor dos conteúdos educacionais
por
Laila Santos
Tamara Ferreira
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09/06/2025 - 12h

Em 13 de janeiro deste ano, foi sancionada a lei nº 15.100/2025 pelo Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que limita o uso de celulares em escolas das redes pública e privada. O objetivo é diminuir os impactos negativos deste aparelho, como o vício em tecnologia, a falta de concentração e os prejuízos à saúde mental dos jovens. Não está proibido portar os dispositivos eletrônicos nas classes, mas sua utilização é apenas para emergências, necessidades de saúde e atividades pedagógicas que necessitam deles. Tudo fica sempre sob supervisão do professor. Essa 'brecha' tem levado muitos alunos a tentar burlar as regras, afirma Mércia Cristina de Freitas Andrade, inspetora de alunos em uma escola da rede pública, em entrevista à AGEMT. 

Com foco em diminuir o cyberbullying, que causa dificuldades nas relações interpessoais e no desempenho escolar, além dos problemas de sono e das questões psicológicas, as instituições de ensino tiveram que definir as estratégias de implementação da lei, inclusive em recreios e intervalos entre as aulas.   

Estudante com um celular em sala de aula
Estudante com um celular em sala de aula. Foto/Agência de Notícias Yonhap

Com a dependência em inteligências artificiais (IAs) atualmente, a funcionária do Educandário comentou se notou alguma diferença na aprendizagem dos alunos com a utilização desenfreada da internet e o acesso à inteligência artificial: "O uso de celulares e a utilização da IA, de certa forma, fez com que os alunos fizessem o uso demasiado de respostas e pesquisas prontas. Dessa forma, a aprendizagem e o aprimoramento da bagagem cultural foram seriamente comprometidos", ressalta. 

São Paulo foi o primeiro estado a adotar a medida, antes mesmo da criação da lei federal. Os regulamentos mais detalhados da implementação da legislação ficaram ao cargo do CNE (Conselho Nacional de Educação), órgão consultivo do Ministério da Educação (MEC), que decidiu dar autonomia aos colégios na maneira de armazenar e lidar com os aparelhos. Para Mércia, a proibição foi uma medida tardia, mas necessária e, com isso, os estudantes poderão fazer melhor uso do tempo e se concentrar melhor nos estudos. Ela cita: “Notei uma ligeira melhora nas relações humanas. Uma atenção mais direcionada às disciplinas, mas ainda uma resistência à proibição…" 

A entrevistada: Mércia Cristina
A entrevistada: Mércia Cristina de Freitas Andrade. Foto/Arquivo Pessoal

Essa atitude reflete um relacionamento não saudável com um dispositivo que era, praticamente, parte do material escolar e que está cada vez mais presente na vida social. Quando foi proibido, causou uma onda de irritação nos jovens, relata a inspetora.   

A partir de 2018, a Organização Mundial da Saúde (OMS) começou a reconhecer a dependência do celular e em outros meios digitais como um transtorno chamado nomofobia. Um estudo da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) diz que cerca de 25% dos adolescentes brasileiros são viciados na internet. Além disso, a Opinion Box traz os dados de que 95% das crianças do país, entre 10 e 12 anos, têm acesso a pelo menos um smartphone.  Com essa medida, espera-se que a escola volte a ser um ambiente de interação, que os estudantes voltem a ter uma aprendizagem mais fluida e que desenvolvam uma relação mais equilibrada com a tecnologia. 

Apontada como uma ferramenta no combate às mudanças climáticas, a nuclearização envolve questões colaterais complexas
por
Vítor Nhoatto
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30/05/2025 - 12h

O setor de energia respondeu em 2024 por 68% de toda a emissão de CO2 no mundo, segundo relatório da United Nations Environment Programme (UNEP). O gás é o principal causador do aquecimento global e precisa diminuir drasticamente nos próximos anos, apontando para a necessidade da chamada transição energética e descarbonização. Mudar a forma como se produz energia é um desafio, e a nuclearização ressurge como uma possível resposta.

A produção de energia a partir de material nuclear é antiga, e de forma simplificada funciona em algumas etapas. O combustível radioativo (urânio) tem seus átomos divididos no processo de fissão, liberando uma grande quantidade de energia que aquece a água em torno do reator e o vapor gerado acaba movimentando turbinas na usina que geram a energia. 

O que chama a atenção para a modalidade é a produção de grandes quantidades de energia com pouco material e baixa pegada de carbono em comparação aos combustíveis fósseis. De acordo com dados de 2020 da German Environment Agency levantados pela organização holandesa fundada em 1978, World Information Service on Energy (WISE), para cada Kwh gerado por usinas nucleares, cerca de 117 gramas de CO2 são emitidos. No caso do carvão e do gás natural as médias giram em torno de 950 e 440 gramas respectivamente. 

Cláudio Geraldo Schön, doutor em Ciências Naturais pela Universität de Dortmund, mestre em Engenharia Metalúrgica pela Universidade de São Paulo (USP) e professor titular na instituição destaca o potencial e a evolução nuclear com o passar dos anos. "Expandi-la poderia substituir as usinas termelétricas, diminuindo a geração de gases de efeito estufa [...] “o processo é continuamente atualizado, e resulta em avanços mesmo sendo uma tecnologia consolidada”.

Foi na extinta União Soviética que a primeira usina nuclear para uso doméstico começou a funcionar para contextualização, a Obninsk em 1954. Em seguida vieram outras, como a de Calder Hall no Reino Unido em 1956 e Shippingport nos Estados Unidos da América (EUA) em 1957. No Brasil, a usina Angra I foi a pioneira, com operações iniciadas em 1985.

Cinza e não verde

No entanto, o cinzento urânio traz um efeito não tão expressivo. Segundo a Agência Internacional de Energia (AIE), se a capacidade de produção nuclear triplicasse, a redução na emissão de CO2 do setor de energia seria cerca de apenas 6% devido principalmente à grande quantidade de carbono liberada na construção de reatores e usinas, que exigem grandes quantidades de recursos e décadas até começarem a funcionar, e para a mineração do urânio também. 

Além disso, a pegada de carbono das principais fontes renováveis de produção de energia são bem mais baixas que a nuclear. Ainda de acordo com o levantamento de 2020 da German Environment Agency, no caso da solar, cada Kwh emite algo em torno de 30 gramas de CO2, para a eólica a cifra é inferior a 10 e para a hidrelétrica de apenas 4 aproximadamente. 

Para o especialista sênior em energia nuclear e integrante da WISE International, Jan Haverkamp, a energia nuclear não é efetiva e nem tem a emergência climática como foco. “O uso do argumento climático é uma cobertura para outros interesses [...] os países com uso tradicional de energia nuclear não a desenvolveram devido às alterações climáticas, o fator inicial foi militar como EUA, China, Rússia e Brasil. Já para outros países era um sinal de importância, como no caso da Romênia, Bulgária e Coreia do Sul. Ou ainda visando a redução da dependência do petróleo como na Alemanha e Reino Unido, ou ainda uma tentativa fracassada de desenvolver uma fonte barata de energia como na Suécia e Canadá”.

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Última usina nuclear na Alemanha começou a ser demolida em 2023, mas novo governo de extrema-direita avalia reativar a base; “resumindo, para alguns é geopolítica” comenta Jan Haverkamp - Foto: Thomas Frey / DPA / Picture Alliance

Atualmente existem 437 reatores nucleares em funcionamento no mundo, que representam 14% de toda a energia gerada no mundo, de acordo com a World Nuclear Association (WNA). Os EUA ocupam a primeira posição do ranking com 96 unidades, com França, China e Rússia em seguida com 56, 55 e 37 cada, respectivamente. O país asiático tem planos inclusive de se tornar uma potência nuclear, e até 2035 ter o dobro da capacidade atual dos EUA. 

No caso do Brasil, a geração nuclear responde por apenas 2% da matriz energética, produzidos nas usinas Angra I e Angra II. Ambas fazem parte da Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto, ao lado da Angra III, ainda em obras, e o complexo começou a ser construído durante a ditadura militar no país.  

Aquilino Senra Martinez, doutor em Ciências da Engenharia Nuclear pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e ex-membro do Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia da Presidência da República explica as nuances da modalidade: “O seu uso para geração de eletricidade depende do contexto de cada país. Em lugares com alta demanda e poucos recursos renováveis, a sua expansão pode ser estratégica. No cenário das mudanças climáticas, ela não pode ser descartada, mas também não deve ser tratada como solução única".

Com dimensões continentais e clima tropical, o Brasil se destaca no cenário mundial justamente pelo seu potencial de produção energética renovável, e hoje é referência no quesito. O Balanço Energético Nacional (BEN) de 2024, feito pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE) em parceria com Ministério de Minas e Energia (MME), constatou que foi de 49% o índice de energia proveniente de fontes renováveis. 

Mesmo assim, no fim do ano passado a usina Angra I teve seu licenciamento para operação renovado por mais 20 anos pela Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), órgão do Governo Federal, e demandará investimento de R$3,2 bilhões nos próximos 3 anos. A continuação das obras de Angra III seguem em análise, mesmo com a administradora das usinas, a empresa de capital misto Eletronuclear, tendo uma dívida de R$6,3 bilhões com a Caixa e o Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES). 

As operações no terceiro reator foram paralisadas em 2015 e voltaram somente em 2022 após reajuste do orçamento, com 65% das obras concluídas. Isso demandou um investimento até então de R$7,8 bilhões, e apesar da conclusão não ter sido incluída no novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) anunciado em 2023, estima-se cerca de R$20 bilhões necessários para tal.

Para Rárisson Sampaio, porta-voz da Frente de Transição Energética do Greenpeace Brasil, essas cifras revelam como a nuclearização desvia dinheiro necessário das fontes renováveis e ameaça um desenvolvimento sustentável e acessível. “O investimento em usinas nucleares não se conecta com a realidade do país, que poderia direcionar tais recursos para outras áreas, fortalecendo políticas como o Luz para Todos, que garante acesso a fontes de energia limpa, segura e barata, combatendo a pobreza energética e alinhando-se aos ODS da Agenda 2030”, diz Sampaio. 

Criado em 2003, o programa do Governo federal tem como intuito universalizar o acesso à energia no país, especialmente em áreas afastadas e periféricas e já impactou 17,5 milhões de pessoas. Para essa nova fase, uma das frentes é justamente possibilitar a instalação de placas solares em domicílios de baixa renda. 

Jan Haverkamp, da WISE, defende como em muitos países o investimento na energia nuclear desvia efetivamente o foco e dinheiro para medidas concretas no combate às mudanças climáticas, o que não é verídico: “As fontes de energia renováveis ​​produzem atualmente mais energia do que a nuclear em todo o mundo, e essa quantidade continua aumentando. A geração nuclear está mais ou menos estável há 3 décadas. A Finlândia, por exemplo, está atrasada na implementação de energia eólica desde que decidiu construir a usina Olkiluoto 3, que sofreu um atraso significativo”.

Segurança x planejamento

De acordo com estimativas de 2024 da Agência Internacional de Energia, a demanda energética global aumentará 4% ao ano entre 2024 e 2025, cifra bem maior que os 2,5% registrados em 2023. Os principais impulsionadores serão o maior uso de ar-condicionado devido justamente às mudanças climáticas, a progressiva eletrificação da frota de veículos, imprescindível na descarbonização do setor, e pelo avanço das Inteligências Artificiais (IA). 

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Demanda por energia pelas big techs só cresce, tal qual o uso de água potável para resfriamento dos computadores, o que aponta para uma necessidade de consciência ao usar IAs e a internet -  Foto: Microsoft / Divulgação

Os data centers deverão mais que duplicar as suas necessidades de energia até 2030 segundo a AIE, ultrapassando em alguns anos a energia consumida pelo Japão. Corroborando com esses indicativos, o Ministério de Minas e Energias realizou um estudo que aponta para um aumento de 25% na necessidade de produção energética brasileira até 2034. Nesse cenário, uma questão levantada na transição energética é a segurança e expansão necessárias para a manutenção sadia da sociedade.

Carlos Schön argumenta sobre o papel da energia nuclear, portanto, e as questões em relação ao clima: “Nós produzimos muita energia, mas ainda é pouco considerando o tamanho do país [...] a energia nuclear é a principal aliada das fontes renováveis, justamente porque essas dependem de fatores extrínsecos (sol na geração fotovoltaica, vento na geração eólica) que por sua própria natureza são flutuantes”.

Uma vez extraído do solo, o urânio pode abastecer por décadas uma usina nuclear, as quais em média podem funcionar por 40 anos, com a possibilidade de extensão, como no caso de Angra I, em funcionamento desde 1985 e renovada até 2044. Tudo isso acontece também sem depender de fatores externos como o vento, que pode danificar as hélices das turbinas eólicas, as nuvens que afetam a produção solar e a variação dos reservatórios que impactam as hidrelétricas. 

Contudo, Ana Fabiola Leite Almeida, professora do Departamento de Engenharia Mecânica e Produção da Universidade Federal do Ceará (UFC) e Mestre em Química pela instituição, destaca que o problema reside no planejamento energético. Mesmo que a produção diminua, é algo manejável com vontade. “O risco não está nas renováveis em si, mas na falta de planejamento. Em cenários críticos, pode haver queda média de 20 a 40% na produção energética dependendo da região, mas com previsibilidade climática, diversificação geográfica e sistemas híbridos conseguimos mitigar esses efeitos”, explica Almeida.

Em períodos como de ondas de calor em que a demanda energética aumenta, fontes como as termelétricas passam a ter maior participação na produção de energia, e como são mais caras que as hidrelétricas, a conta de luz pressiona o bolso da população. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no acumulado de 2023 o aumento na tarifa foi de 9,52%, bem acima da inflação, de 4,62% no mesmo período. 

Relatório de 2024 do Tribunal de Contas da União (TCU) em parceria com a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e a Empresa de Pesquisa Energética aponta que a nuclearização não resolveria justamente essa questão. A energia nuclear produzida em Angra III aumentará em 2,9% a conta de luz por ano e custará à população até 77 bilhões em despesas na contratação se a obra for concluída.

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“Existe todo um investimento que pode ser perdido, mas não justifica a continuidade de Angra III. É o resultado do  mal planejamento e desalinhamento com a política energética aponta Rarisson do Greenpeace - Foto: Eletrobras / Divulgação

O mesmo estudo do TCU destaca que as despesas com a obra “parada” chegam a R$2 bilhões por ano e uma desistência definitiva custaria cerca de R$13 bilhões, menos que o montante necessário para conclusão. Países como Áustria, Portugal e Dinamarca não classificam a energia nuclear como uma fonte limpa, e Itália e mais recentemente Alemanha, desativaram seus reatores ainda em funcionamento.

No caso do Brasil em relação ao setor de energias, as renováveis se destacam em várias frentes. Segundo o “Atlas Eólico” de 2022 do governo do Espírito Santo em parceria com a Embaixada Alemã, o potencial de geração pelo vento somente no estado é de 160 GWh, quase um terço da demanda anual do país hoje.

A energia solar também é outro enorme potencial, levando em consideração que o Brasil é o país que mais recebe irradiação solar no mundo, até então desperdiçado. Em 2023 a companhia de consultoria BloombergNEF apontou que se as políticas de incentivo à modalidade permanecerem iguais, em 2050 a capacidade de geração será de 121 GW por ano. Na ocasião, o presidente da Associação Brasileira de Energia Solar (Absolar), Ronaldo Koloszuk, defendeu que isso pode acontecer ainda em 2040 com apoio e expansão do setor. 

Ana Fabiola destaca: "O Brasil tem um dos maiores potenciais renováveis do mundo, mas para isso precisamos investir em inovação, infraestrutura de rede, armazenamento e educação técnica [...] é preciso ter suporte de armazenamento, interligação entre regiões e tecnologias de resposta à demanda. As fontes renováveis podem sim suprir a demanda crescente se houver vontade política e investimento contínuo", afirma. 

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Maior parque solar do mundo fica em Minas Gerais e foi inaugurado em 2023, fazendo com que a capacidade do estado chegue a 8 GW por ano - Foto: Solatio / Divulgação

Potencial radioativo denso

Falando em demandas futuras e recursos para sanar problemas sem gerar mais, uma outra implicação da energia nuclear gira em torno dos resíduos perigosos da atividade. A World Nuclear Association aponta que o resíduo nuclear equivalente à demanda de uma pessoa por um ano é do tamanho de um tijolo. Pode não parecer tanto de início, mas o problema está na radioatividade do material. 

A meia vida do urânio 235, o tempo que o material leva para se desintegrar e deixar de ser extremamente radioativo, gira em torno de 700 milhões de anos. Durante esse tempo as substâncias líquidas e sólidas precisam ficar armazenadas e isoladas do mundo, seja em reservatórios subterrâneos, piscinas gigantes ou toneis de chumbo. Não existe hoje uma solução para esse material, e como os primeiros usos são do século passado apenas, respostas sobre o comportamento dele também não foram encontradas. 

Isso em si já acende um alerta pois relega uma questão das gerações passadas às futuras, e a possível fuga de material radioativo das usinas pode colocar em risco a segurança nacional com a produção de bombas. Mas olhando para a história mais uma vez, a situação se complica. Em 1986 ocorreu na atual Ucrânia o famigerado desastre nuclear de Chernobyl, zona até hoje inabitável. A explosão da usina contaminou uma área de milhares de quilômetros ao seu redor, causou milhares de mortes e adoeceu os que resistiram. Um caso mais recente foi em Fukushima no Japão em 2011, que apesar de menor e diferente, reforça o cuidado exigido. 

Aquilino Senra afirma que a questão é muito relevante no debate atual, mas avanços foram feitos e que não deve ser a única levada em consideração: “É essencial que seja considerado dentro de um contexto histórico e tecnológico, à luz dos avanços obtidos nas décadas subsequentes e da comparação com outras fontes de geração de energia, como as fontes fósseis, que também provocam milhares de mortes anuais em decorrência da poluição atmosférica”.

A Organização das Nações Unidas estima que por ano a poluição atmosférica mata entre 7 e 8 milhões de pessoas ao redor do mundo. Somente no ano de 2021, 8,1 milhões de pessoas morreram, além do fator contribuir decisivamente para o desenvolvimento de câncer de pulmão e doenças respiratórias. 

Fazendas de turbinas eólicas, sítios de placas solares e usinas hidrelétricas também estão sujeitas a acidentes e impactam o meio ambiente, mas em um grau muito menor. Além dos grandes desastres, existe a possibilidade de vazamento de material radioativo. No Brasil, por exemplo, a Comissão Nacional de Energia Nuclear constatou um caso em 2022 na unidade de Angra I, no qual a água contaminada chegou ao mar. Na ocasião, a Eletronuclear foi multada em mais de R$2 milhões de reais pelo órgão

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ONG fez protestos em frente a usina de Angra I e relembrou o desejo ilegal de milhões de litros de água contaminada pela usina em 1986 - Foto: Greenpeace Brasil / Divulgação

Rárisson do Greenpeace destaca: “a energia nuclear não tem lugar em um futuro seguro, limpo e sustentável. A energia nuclear é cara e perigosa. Apesar de oferecer energia não intermitente, há outras soluções no país que podem ser mais eficientes, seguras e baratas [...] só porque a poluição nuclear é invisível não significa que seja limpa, nessa conta toda, a energia nuclear é inexpressiva”.

Mesmo assim, nos últimos anos empresas e nomes do vale do silício floresceram no cenário da nuclearização em defesa dos chamados Small Modular Reactors (SMR), em tradução livre, pequenos reatores modulares. Segundo a Agência Internacional de Energia, as unidades menores podem ser uma solução para a demanda crescente por energia dos data centers, e por serem menores, construídos em uma fábrica e depois enviados ao local de destino, podem baratear os custos.

Com um tempo de construção diminuído para cerca de 5 anos em comparação aos reatores convencionais e cinco vezes menores em tamanho, o primeiro SMR instalado no mundo data de 2023 na China, o Linglong One. A capacidade do reator será de 1 GW quando entrar em operação regular segundo a Corporação Nacional de Energia Nuclear da China. Mesmo assim, de acordo um estudo independente da Universidade de Stanford que avaliou os dados preliminares da empresa norte-americana NuScale Power, mais lixo radiativo é gerado e há maior dispersão de energia no interior dos SMRs.

Os principais projetos na área ainda vão levar tempo também, com expectativa de começarem a operar em meados da próxima década apenas, como o da britânica Rolls Royce. Ainda existe a startup de Bill Gates, Terra Power, com expectativa que o seu reator em Wyoming, o estado menos populoso do país, entre em operação no começo de 2030. No entanto, nessa data as emissões de CO2 na atmosfera já deverão ter caído 42% para que o aquecimento fique em 1,5 graus celsius de acordo com o relatório de 2024 da United Nations Environment Programme.

 “Não é surpresa que tecno-oligarcas como Gates, Musk, Zuckerberg e Bezos sejam especialmente atraídos pelas ideias por trás de pequenos reatores nucleares modulares. Mas eles não percebem que essas tecnologias são fundamentalmente diferentes da internet ou mesmo das estruturas de energia renovável, incluindo armazenamento, com custos mais elevados em comparação com sistemas totalmente renováveis, tempos de desenvolvimento muito mais longos e sérios riscos”, alerta Jan Haverkamp da WISE International.

Esclarecendo dúvidas sobre os riscos em uma conversa com Luiz Padulla
por
Clara Dell'Armelina
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05/05/2025 - 12h

O mundo está farto de plástico. Estão presentes em utensílios, móveis, roupas e, agora, também nos alimentos, mas não para por aí, estudos recentes, como o feito por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), comprovam a existência de plástico acumulado no corpo humano. Estamos falando de microplásticos, pequenas partículas de plástico com dimensões inferiores a 5 milímetros causadoras de danos tóxicos aos seres vivos. 

A presença de plástico nos oceanos foi detectada pela primeira vez na década de 70 e só em 2004, com o pesquisador Richard Thompson, que tivemos o conhecimento dos "microplásticos". Entre 2010 e 2020 foi quando  identificaram a presença de microplástico em toda a cadeia alimentar, mas só a partir de 2023 que as pesquisas se voltaram para mapear seus impactos na saúde humana. O professor, biólogo, doutor e autor do blog "Biólogo Socialista", Luiz Fernando Padulla, conversa sobre o assunto com a repórter da AGEMT. Confira!

Como a tentativa do material 100% online nas escolas públicas escancarou a desigualdade digital
por
Fernanda Querne e Amanda Tescari
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03/10/2023 - 12h

Por Fernanda Querne (texto) e Amanda Tescari (audiovisual)


No final da Pré-História, na Idade dos Metais, ela já existia. Passou longe do Paleolítico e Neolítico. Era arte nas paredes. Emanava das necessidades e desejos daqueles que a pintavam. Essas são as pinturas rupestres. Assim, a escrita nasceu. Tanto para fins comerciais quanto  artísticos. E ela sempre evolui. Desenhos em rochas; manuscritos bíblicos, impressos de Gütenberg e, agora, em legendas do Instagram no smartphone

Desde então a civilização foi inundada por livros - a cada página que se passa, há edificação nos aprendizados de todos. Idosos, adultos, adolescentes e até crianças, ao serem alfabetizados, desfrutam da leitura. Entretanto, na nossa realidade Pós-Moderna, o Kindle ocupa o lugar do papel para a geração Tik-Tok. O digital não sairá da sociedade. Na verdade, a sociedade não sairá do digital por questão de sobrevivência. E, nesse sentido, a realidade vai sendo remodelada, criando novas dinâmicas de trabalho, de lazer e na educação.

A maior metrópole da América Latina não ficaria de fora de tais mudanças e aparentes avanços tecnológicos. No âmbito das políticas públicas relacionadas à educação, o que se teve foi a tentativa da implementação do material 100% digital na rede estadual de São Paulo. Por governança ou desgovernança de Tarcísio, o objetivo declarado era que esses equipamentos escolares “se adequassem ao currículo do Estado, mantendo a coerência pedagógica” - segundo a Secretaria de Educação de Estado. 

A proposta de inclusão do material digital veio, contudo, de uma ruptura com o Programa Nacional de Livros Didáticos, programa do Ministério da Educação junto ao Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação. Até então, foi este programa federal que se ocupou de levar o material didático de maneira adequada para cada nível educacional, desde a educação infantil até o ensino médio. 

Compreendida a importância de um material didático de qualidade para um bom desempenho escolar, a escolha desses livros passa por um processo minucioso até que seja efetivada. Nesse sentido, evidente que qualquer alteração na definição desses materiais deve seguir as mesmas cautelas, mas não foi a escolha do governador.

Segundo o governo estadual, a opção pela não adesão ao PNLD deu lugar à confecção de um material didático próprio, alinhado ao currículo do Estado. Diante disso, muitas questões foram levantadas por educadores, parlamentares e diversos setores da sociedade. Fica a dúvida sobre benefício do material 100% digital na rede pública estadual e a eficácia de se garantir a emancipação dos estudantes. Além disso, questionar o planejamento para os alunos que utilizarão esse material. São indagações sobre alguns dos pontos de dúvida dentro da nebulosidade de tal política. 

   

                                                               
                                                                                  Foto: Alexandre Lombardi/ Secom Sorocaba 

 

Em conversa no gabinete da vereadora Luana Alves (PSOL), que trabalhava depois das 19h00min, após uma entrevista ao Fantástico sobre a fala racista do então Camilo Cristófaro na Comissão Parlamentar de Inquérito dos aplicativos. Quando ouviu o nome de Tarcísio e o seu “plano infalível educacional”, os seus gestos mudaram. Antes, ouvia atentamente a pergunta. Depois, sua cabeça mexia para lá e para cá em sinal de reprovação ao projeto enquanto repetia sobre a falta de sentido do projeto.

E não pense que Alves compartilha dessa opinião por causa apenas do seu partido. Ela mencionou até que os aliados de Tarcísio desaprovaram o projeto aqui na Câmara Municipal. Há 28,2 milhões de pessoas acima de 10 anos sem acesso à Internet, de acordo com os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. É incongruente aderir ao material online sem um estudo prévio da educação e acesso digital. Até a Suíça com os seus recursos disponíveis desistiu da didática proposta sem livros físicos. 

Entre os educadores, a opinião permanece. A infraestrutura da escola está com superlotação das salas de aula; excluindo estudantes que são Pessoas Com Deficiências (PCDs) sem apoio e falta de comunicação entre educadores e Secretaria de Educação - explicou a professora da rede municipal, Fernanda Guimarães. Destacou também o desinteresse governamental na estrutura colegial: pensa que há pouco ou zero interesse em realmente implantar algo que funcione, se conhecessem a realidade escolar, perceberiam que o problema não está nos livros físicos, que aliás, são muito mais funcionais do que os digitais. - enfatizou Guimarães.

A funcionalidade do material online de Tarcísio não está desempenhando como o esperado. Com erros gravíssimos didáticos. Mencionaram que o D. Pedro II foi quem assinou a Lei Áurea e citaram que o Jânio Quadros foi o prefeito de São Paulo. Após pressão da mídia, a Secretaria de Educação só afastou os servidores responsáveis pela polêmica. Alves e Guimarães compartilham do sentimento de insuficiência governamental ao solucionarem o problema. A vereadora logo disse que Renato Feder, secretário de Educação do Estado de São Paulo, deveria sair do cargo e tentar ganhar dinheiro em outro lugar.

O Renato Feder é sócio da offshore Dragon Gem LLC, detentora de 28,16% das ações da Multilaser - empresa de capital aberto brasileira no segmento de eletrônicos e informática. Feder se envolve muito nesse mundo tecnológico, já que o secretário de Educação levou em frente a narrativa do material 100% digital sem hesitação. Expôs, rapidamente, que não seguiria o Programa Nacional do Livro Didático (PNLD). Assim, o governo logo providenciou os livros serão comprados da empresa Bookwire Brazil Distribuição de Livros Digitais LTD.   

O tema da educação é basilar para a formação de uma sociedade mais crítica e capaz de superar suas contradições. Garantido formalmente na Constituição Federal, esse direito fundamental precisa se traduzir a partir de políticas públicas de qualidade e que realmente busquem efetivar e materializar esse direito na vida de todos os cidadãos. 

Nesse sentido, mais do que a letra da lei garantindo o acesso à Educação, cabe à Administração Pública encarar a conjuntura na qual está inserida e a realidade do acesso à tecnologia e do letramento digital antes de uma proposta drástica de mudança. 

Diante do cenário nacional, a vereadora Luana Alves crê que não há alguma perspectiva dessa desigualdade digital na educação ser uma pauta de relevância para o governo federal - infelizmente. A movimentação percebida por ela é em relação ao combate às fake news, pois já virou uma reivindicação ideológica do Partido dos Trabalhadores (PT). Contudo, não percebe nenhuma pauta que tenha como objeto uma preocupação com o letramento digital dessa nova geração.

A vereadora refletiu sobre como uma educação de fato mais digital, tem que ter uma ideia e uma política de conseguir de fato uma espécie de letramento digital.  Principalmente, com os adolescentes brasileiros. Alves explicou sobre a importância de ensinar a nova geração a diferença entre: anúncio, propaganda, reportagem e até mesmo fake news - o que há muito nesse mundo Pós-Moderno, para não permitir a desvinculação  com a realidade.

 

Evento que aconteceu entre 5 e 12 de setembro foi marcado por protestos e grandes lançamentos
por
Vitor Nhoatto
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13/09/2023 - 12h

Com cerca de 500 mil espectadores durante 8 dias de evento, o IAA Mobility Show  – em sua segunda edição em Munique, na Alemanha – não decepcionou, mas acendeu, mais uma vez, um alerta para a indústria automotiva europeia, em declínio. Marcas tradicionais como Peugeot, Toyota e Volvo se ausentaram, enquanto as chinesas ganharam grande relevância em terras germânicas.

Abrangendo todas as esferas da mobilidade urbana, o Salão de Munique contou com expositores de bicicletas, motocicletas, softwares, baterias e de veículos. A feira teve como foco um futuro mais sustentável, seguro e digital, com destaque às iniciativas de reciclagem, uso de materiais veganos e ecológicos, aplicação da inteligência artificial na indústria automobilística e a sua descarbonização.

 

Greenwashing

Duas pessoas segurando cartazes com escritos em Alemão, dentro de um lago com três carros parcialmente submersos, ao fundo o centro de exposições do Salão de Munique 2023 com uma fila de bandeiras de vários países ate a entrada, a qual conta com uma placa divulgando o evento escrita em inglês.
Protesto da ONG Greenpeace contra a indústria automobilística em frente ao local do IAA 2023
Foto: Greenpeace/Divulgação

Apesar da roupagem “verde” que o evento busca transmitir desde 2021, não sendo mais apenas um salão de automóvel tradicional, mas sim um local de apresentação e debate de novas tecnologias e ideias para um futuro amigo do meio ambiente, protestos ocorreram. 

A ONG Greenpeace realizou um protesto no dia anterior à abertura do evento, dedicado à imprensa, no lago que fica em frente ao centro de exposições. O ato contou com dois ativistas segurando cartazes em meio a três carros submersos, em alusão às mudanças climáticas. A mensagem em inglês era “Encolha agora ou afunde mais tarde”, uma crítica ao modelo de negócios da indústria automobilística que visa vender cada vez mais carros de forma direta, ao invés de aderir a iniciativas de mobilidade sustentável, que o próprio evento prega.

Além disso, no mesmo dia, mas desta vez na ponte Georg-Brauchle-Ring, próxima à sede da BMW, um grupo de ativistas do movimento “Extinction Rebellion” protestou com cartazes e bandeiras. O grupo pedia por uma indústria com menor emissão de poluentes, e por menos carros, que estão cada vez maiores, mais pesados e menos eficientes.

Mobilizações dessa natureza já haviam ocorrido na edição de 2021 do evento, e de maneira geral se intensificaram nos últimos meses pela Europa. Isso se deu principalmente pela desistência da União Europeia em banir os motores a combustão do continente até 2035, em um pedido do governo alemão que é contra a medida, e a favor do uso de combustíveis sintéticos.

 

Futuro de luxo Alemão

Carro conceito da BMW na cor branca sob uma plataforma cinza escura, em um ambiente moderno com uma planta ao lado direito, uma cortina cinza ao fundo
Conceito Neue Klasse no Salão de Munique, modelo conta com inspiração de modelos do passado
Foto: Caradisiac/Reprodução

Sendo um dos grandes lançamentos do IAA 2023, o conceito Neue Klasse promete iniciar uma nova era para a BMW. Segundo Oliver Zipse, presidente do conselho de administração da marca, “O BMW Vision Neue Klasse combina nossa capacidade de inovar nas principais áreas de eletrificação, digitalização e circularidade”.

Prometendo autonomia 30% maior, e uma eficiência energética 25% melhor que os atuais elétricos da marca, o conceito apresenta uma nova plataforma modular que originará seis modelos a partir de 2025. Em relação ao design, que inicia uma nova identidade visual, a empresa diz que 90% do que foi visto estará presente na sua versão de produção. O interior, livre de couro e cromados, em sintonia com a proposta de sustentabilidade, apresenta o novo conceito minimalista Panoramic Vision. A marca bávara ainda garante redução da pegada de carbono do modelo e a alta reciclabilidade do veículo, apesar de não especificar porcentagens.

Carro conceito da Mercedes na cor vermelha, estático de frente, em um fundo amarelo com uma passagem para uma sala branca
Concept CLA no estande da Mercedes, sedã prevê o caminho que a marca seguirá
Foto: NetCarShow/Reprodução

Outra grande estrela alemã foi o Concept CLA, construído sobre a nova plataforma MMA, que prevê a próxima geração de veículos de entrada da Mercedes. A nova arquitetura promete 750 km de autonomia, tração 4x4, e quatro novos modelos a partir de 2025. Seu interior conta com o novo software MB OS, e é dominado por uma tela touch ao longo de todo o painel, apesar de não abandonar os controles físicos. A empresa frisa o uso de materiais sustentáveis, no entanto abusa do couro e de cromados. Além disso, a companhia alega redução de 40% na pegada de carbono do veículo, comparado ao atual CLA, mas não falou sobre índices de reciclagem.

Durante a apresentação, Ola Kaellenius, presidente da Mercedes, ainda comentou sobre a sua visão de eletrificação, “Os custos variáveis de um carro elétrico são mais altos e continuarão sendo em um futuro próximo. Os que pesam sobre a produção dos elétricos incluem matérias-primas para baterias, desenvolvimento de software e preços da eletricidade”. Ele também destacou que a empresa focará na rentabilidade.

Sem nenhum grande lançamento, a Audi se limitou ao reestilizado Q8, e a um protótipo do aguardado Q6 e-tron. O novo SUV que por atrasos no desenvolvimento de seu software, viu seu lançamento ser adiado e teve apenas o seu interior mostrado.

 

Lançamentos de produção

Renault Scenic E-Tech na cor branca com o teto preto, de lateral parado em uma faixa de pedestre, com prédios ao fundo
Novo Renault Scenic E-Tech, crossover elétrico terá primeiras unidades entregues no inicio de 2024 Foto: Renault/Divulgação

Única representante francesa da mostra, a Renault fez a estreia mundial do novo Scénic E-Tech. O modelo baseado na mesma plataforma do Mégane E-Tech, – o qual será lançado no Brasil ainda esse ano – se apresenta na forma de um crossover elétrico, com cerca de 600 km de autonomia e recarga de 10% a 80% em apenas 30 minutos em um carregador super rápido.

O seu interior é 100% vegano e na versão Espirit Alpine, feito todo de tecido reciclado. Em consonância aos objetivos de sustentabilidade do programa Renaulution, a marca ainda destaca que 90% de todo o carro é reciclável, incluindo a sua bateria, fornecida pela LG, comprovando a possibilidade de uma cadeia de produção e uso de carros elétricos, ser circular e sustentável.

Novo Mini Cooper elétrico de lado na cor azul e teto branco a frente, e novo Mini Countryman ao fundo na cor cinza com teto dourado, ambos em um cenário totalmente branco
Novo Mini Cooper elétrico, e novo Mini Countryman, apresentado em sua versão elétrica - Foto: NetCarShow/Reprodução

Os modelos da MINI também foram destaque, com o salão sendo o palco dos novos Cooper e Countryman, ambos totalmente elétricos. O primeiro estreia uma nova plataforma dedicada aos elétricos desenvolvida em parceria com a GWM – marca que recentemente lançou na Europa e no Brasil o Ora 03. Na versão elétrica, ele estará disponível somente na versão de duas portas, enquanto a antiga geração continuará sendo comercializada com motores a gasolina, com duas ou quatro portas.

Já o novo Countryman, que compartilha a plataforma com o BMW X1, cresceu 13 centímetros no comprimento, se tornando o maior MINI de sempre. Tal como o hatch, o SUV apresenta a nova identidade da marca, minimalista. O interior é livre de produtos de origem animal, e conta com um novo sistema de infotenimento no topo do painel, feito de material reciclado. Foi apresentado na sua versão elétrica, mas variantes a gasolina e híbrida serão apresentadas posteriormente.

Por fim, o segundo modelo da nova era da smart, agora 50% da Mercedes e 50% da Geely, foi apresentado. O #3 é a versão esportiva do SUV #1, e segundo Dirk Adelman, CEO da smart Europe, o modelo é uma importante adição à linha de produtos da marca, “Estamos empolgados com o impacto que nosso primeiro SUV coupé terá no mercado europeu”.

 

Concorrência Chinesa

BYD Seal U a frente na cor azul de perfil e sedã Seal na mesma cor azul ao fundo, ambos no estande da marca no centro de exposições com um painel atrás escrito em inglês para diminuir a temperatura da Terra em um grau.
Estande da BYD no Salão de Munique com o SUV Seal U e o sedã Seal, elétricos foram lançados no evento - Foto: BYD Europe/Divulgação

Representando 40% de todos os expositores do IAA Mobility 2023, as marcas chinesas não param de crescer em número de vendas na Europa, preocupando as montadoras tradicionais. Tal soberania do país no cenário dos elétricos se deve a vários fatores, sendo o principal deles, a hegemonia na produção e propriedade dos minérios necessários às baterias. 

O principal alvo das marcas no evento foi a Tesla, então líder de vendas de elétricos no velho continente. A BYD, por exemplo, lançou o sedã Seal e o SUV Seal U, concorrentes diretos do Model 3 e Model Y, respectivamente. Ambos contam com cerca de 500 km de autonomia, muita tecnologia embarcada, e requinte digno de marcas premium.

SUV Xpeng G9 de frente na cor azul com um totem ao lado direito a frente, e sedã P7 de frente na cor verde clara com um totem ao lado, ambos ao ar livre com um monumento clássico ao fundo, e um painel escrito em inglês Olá Alemanha.
Estande da Xpeng no Open Space do IAA 2023 com o SUV G9 e o sedã P7 - Foto: Razão Automóvel/Reprodução

Além da Build Your Dreams, que também vem movimentando o mercado brasileiro, a Xpeng apresentou as suas respostas à marca de Elon Musk, o sedã P7 e o SUV G9 – que prometem tecnologia de ponta. "A Xpeng está entrando em um dos mercados mais competitivos do mundo, com clientes que esperam os mais elevados padrões. Pretendemos introduzir um novo patamar de sofisticação, com uma tecnologia impressionante capaz de definir uma nova era de mobilidade inteligente", disse Brian Gu, presidente da marca. 

Com grandes pretensões, a marca sino-americana SERES também esteve presente com os modelos elétricos 3, 5 e 7, SUVs do segmento C, D e E respectivamente. Os dois primeiros vendidos no Brasil. Outra marca que chamou a atenção foi a Avatr, propriedade da Changan, Huawei e CATL. A startup chinesa apresentou o elegante fastback 12. 

 

Resposta Norte-americana

Carro esportivo Ronin da marca Fisker a frente na cor prata, crossover PEAR logo atrás na cor azul, picape Alaskan ao fundo na cor laranja, e SUV Ocean do outro lado ao fundo na cor azul escuro, modelos estão em um estande prata com um telão ao fundo escrito Fisher
Estande da Fisker com os modelos Ronin a frente, PEAR em seguida, e Alaskan e Ocean ao fundo - Foto: Fisker/Divulgação

A californiana Fisker esteve presente e se destacou ao realizar no IAA 2023 a apresentação europeia dos seus três novos veículos elétricos, com previsões de entrega para 2025. Henrik Fisker, fundador da marca, afirmou que "Através de nossa combinação exclusiva de design, inovação e sustentabilidade, a Fisker está comprometida em trazer experiências únicas e emocionantes para os motoristas europeus que transcendem as categorias tradicionais de veículos”.

Com desempenho digno de superesportivo, o GT conversível de duas portas, Ronin foi o primeiro apresentado. Em seguida, com um design não convencional e com 35% menos peças do que um EV atual, para baixar os seus custos, o crossover PEAR fez sua estreia. Com 4,5m promete entregar versatilidade, autonomia e segurança por um preço acessível. Por fim, a picape Alaskan foi apresentada, ao lado do já lançado Ocean. De acordo com a empresa, será a mais leve e sustentável da categoria.

E face à ascensão das marcas chinesas no mercado europeu, em um pequeno estande, mas muito movimentado, a Tesla, que quase não participa de eventos desse tipo, marcou presença ao apresentar a versão atualizada do seu best-seller, o Model 3. O facelift conta com uma frente redesenhada, novas lanternas traseiras e melhorias no interior e equipamentos.

 

Legado e originalidade

Novo roadster MG Cyberster de lado na cor vermelha com a capota abaixada e os faróis acessos, em um fundo totalmente branco
Novo roadster elétrico Cyberster representa a volta às origens da marca - Foto: MG Media Centre/Divulgação

A inglesa MG, controlada pela chinesa SAIC desde 2008, realizou no evento a estreia europeia do novo Cyberster, primeiro esportivo da marca em décadas. O roadster, na versão com dois motores e tração integral, conta com 544 cavalos e aceleração de 0 a 100 em 3.2 segundos e remonta às origens da marca fundada em 1924, conhecida por seus modelos conversíveis e divertidos.

Carro conceito Volkswagen ID.GTI na cor branca do lado esquerdo de lado, Oliver Blume, CEO do Grupo Volkswagen, vestindo um terno cinza claro de mãos cruzadas ao meio, e carro conceito Cupra DarkRebel na cor cinza escuro ao lado direito de lado, ambos em um estande cinza com um grande tela ao fundo escrito em inglês o lema da coletiva de imprensa do grupo, Sucesso pelo Design
Volkswagen ID.GTI e Cupra DarkRebel juntos a Oliver Blume no estande do Grupo Volkswagen - Foto: Volkswagen-Group/Divulgação

Em uma coletiva de imprensa guiada pelo lema "Sucesso pelo Design", o Grupo Volkswagen apresentou vários modelos que refletem o seu slogan. A Porsche por exemplo, levou o conceito Mission X, sucessor dos icônicos 959, Carrera GT e 918 Spyder. O supercarro elétrico prevê o modelo de produção que será lançado nos próximos anos.

Mas a grande estrela do estande foi o Volkswagen ID.GTI. A versão esportiva do conceito ID.2all, tem produção confirmada para 2026 e promete emocionar. Segundo Thomas Schäfer, CEO da marca. “O GTI permanece esportivo, icônico, tecnologicamente progressivo e acessível, mas agora tem uma nova interpretação para o mundo de amanhã: elétrico, totalmente conectado e extremamente emotivo. Aqui, o prazer de dirigir e a sustentabilidade são uma combinação perfeita”.

O hot hatch é inspirado na primeira geração do Golf GTI, apresentada há 48 anos, e foi o maior exemplo da coletiva. De acordo com Oliver Blume, CEO do grupo, o legado histórico estilístico das marcas do conglomerado será a principal chave para conquistar a preferência do público, “é algo que não pode ser adquirido nem comprado”. Já a recém-emancipada Cupra, focará em originalidade e ousadia para cativar os compradores, como expresso pelo conceito DarkRebel. Fato é que diante de tantas concorrentes chinesas com produtos de qualidade invadindo o mercado, a indústria automotiva tradicional busca se reerguer, e tenta retomar as rédeas dessa nova era que já bate à porta, a qual já tem dono.

O simples ato de “assinar sem ler” ao navegar pela internet pode ter consequências mais graves do que se imagina
por
Felipe Abel Horowicz Pjevac
Pedro Paes Barreto Monteiro
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05/09/2023 - 12h

Quando alguém se inscreve para usar um serviço online ou cria uma conta em um aplicativo, costuma se deparar com um conjunto de regras e acordos chamados de "Termos e Condições". Basicamente, é um documento que contém diversas regras, diretrizes, regulamentos e cláusulas legais para o uso dos serviços e produtos de qualquer empresa pertencente ao mundo digital; é um contrato que define a relação do prestador de serviço com o seu usuário. Para a companhia em questão, esses termos são nada mais nada menos que uma proteção jurídica.

Antes de poder começar a usar o serviço, o usuário é solicitado a concordar com esses termos. No entanto, eles costumam ser longos e escritos em linguagem legal complexa, o que pode tornar o seu entendimento mais trabalhoso. Essa maneira de apresentação (com diversas páginas, repletos de jargões jurídicos e com letras pequenas) faz com que a grande maioria dos consumidores negligenciem o conteúdo escrito e apenas cliquem em “Aceitar”.

Com o desenvolvimento e popularização da Inteligência Artificial, isso tende a se tornar um problema maior. Com tecnologias mais avançadas, as empresas agora possuem diversas maneiras a mais de fazer uso de dados, informações e até mesmo a imagem (no caso das redes sociais) coletados de um usuário.

Em função disso, é necessário criar uma cultura de atenção cada vez maior aos T&C antes de aceitar qualquer imposição. Como a rotina de ‘aceitar sem ler’ já é extremamente habitual na internet, a divulgação da legislação a respeito do assunto já pode ser muito útil.

Em entrevista à AGEMT, a advogada Cláudia Lourenço Tabano, formada em direito pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, e que atua na área civil, afirmou: “Existem quatro limites bem claros em relação aos Termos e Condições de uma empresa, e podemos tratá-los separadamente para analisar as possibilidades de inserção da IA dentro de cada um”.

  1. Proteção de dados e Privacidade

O primeiro limite crítico dos T&C está relacionado à proteção de dados e privacidade. À medida que a coleta de dados se torna mais intrusiva na era digital, as empresas devem estabelecer cláusulas que explicitem como os dados dos consumidores serão utilizados, armazenados e compartilhados. Um exemplo que retrata bem, levando ao extremo esse problema da falta de privacidade, aparece no primeiro episódio da sexta temporada de Black Mirror, uma série da Netflix. O nome do episódio é “Joan é Péssima”. Nele, ao aceitar os termos e condições de um serviço de streaming, uma mulher passa a ter sua vida ‘reprisada’ em uma série. A reprodução vai até os últimos detalhes, e traz consequências pesadas para a vida da mulher, como demissão e fim do relacionamento.

“Se fosse na vida real, a possibilidade do processo existiria, porque a lei da proteção de dados e privacidade é rígida em relação a isso”, completa Cláudia: “Esse episódio é um modelo dos perigos da IA nesse sentido. Se uma série mostrando a vida da pessoa já gerou todo esse alvoroço, imaginem as novas tecnologias que conseguem até mesmo recriar pessoas em diferentes contextos”.

  1. Transparência e Acessibilidade

Um dos principais limites dos T&C de uma empresa é a necessidade de transparência e acessibilidade. As empresas têm o dever de apresentar seus termos de maneira clara e compreensível para os consumidores. Muitas vezes, as cláusulas complexas e a linguagem jurídica podem criar barreiras à compreensão, tornando difícil para os consumidores entenderem seus direitos e obrigações. Portanto, os T&C devem ser redigidos de forma clara e acessível, garantindo que os consumidores possam tomar decisões informadas.

A respeito desse assunto, Cláudia lamenta: “A Inteligência Artificial teria muito a ajudar nesse ponto. Se os grandes proprietários quisessem facilitar o acesso e a interpretação universal dos seus T&Cs, as novas IAs poderiam ser úteis no sentido de dinamizar os textos e aproximar o consumidor do que ele precisa saber ao concordar com o produto. No entanto, o que se enxerga no momento são tentativas inescrupulosas de utilizar esse tipo de tecnologia para conseguir ainda mais dados dos usuários, sempre fazendo uso de artifícios nebulosos para tal”.

  1. Cláusulas Abusivas

Cláusulas abusivas são outro limite crítico que deve ser observado nas T&C das empresas. Essas cláusulas são frequentemente usadas para desequilibrar a relação entre a empresa e o consumidor, restringindo direitos legais ou impondo obrigações excessivas. Governos e órgãos reguladores têm a responsabilidade de identificar e proibir cláusulas abusivas, a fim de garantir a justiça nas relações comerciais.

Na opinião de Cláudia, a Inteligência Artificial vai contra a motivação das principais tecnologias nesse sentido: “A grande função de uma inovação é garantir uma realidade mais justa, acessível e moderna para todos. Com esse maquinário de IA concentrado nas mãos dos mais ricos e elitizados, essa ferramenta pode ser usada para garantir relações mais desiguais ainda entre empresas bilionárias e consumidores, que muitas vezes não tem outras alternativas senão aceitar imposições”.

Esses são os principais limites que buscam de alguma forma regular o poder que as empresas têm sobre os consumidores através dos T&C. Cláudia encerra: “Claro que vemos no dia-a-dia diversos métodos que os chefes desse ramo usam para burlar essas regras e tentar maximizar suas vantagens. A Inteligência Artificial, apesar do nome, só existe quando há alguém por trás gerando seus interesses através dela. É claro que é importante que haja campanhas de conscientização a respeito dos T&C, mas é complicado exigir isso agora, em um mundo tão acostumado a só ‘concordar sem ler’ e tomado de assalto por essas novas tecnologias. Portanto, a curto prazo, o fundamental é se manter sempre atento ao que surge no mundo, além de sempre se colocar em jogo. A pergunta que deve ser feita é: ‘Como essa nova ferramenta pode me atingir? Como eu posso evitar que as consequências ruins disso cheguem até mim?’. O resultado disso já vai ser uma análise mais cuidadosa em relação a tudo que uma pessoa assina na vida”.

 

Como a Inteligência Artificial vem dividindo opiniões na sociedade e no meio publicitário
por
Sophia Pietá Milhorim Botta
Isabella Santos
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05/09/2023 - 12h

A inteligência artificial (IA) é uma tecnologia que permite computadores executarem uma série de inovações por meio de algoritmos e uma das funções em alta em 2023 é recriar pessoas mortas via base de dados, o que se tornou popular,  principalmente, no segmento publicitário. Essa novidade acaba por acarretar divergência entre o público, já que as agências de marketing estão recriando falecidos ilustres, mas para o judiciário a atitude, pouco ética, deve ser limitada judicialmente, justamente por não ter autorização de quem está sendo recriado. Segundo a advogada Kátia Jacinto, ‘‘os direitos de personalidade são intransmissíveis e irrenunciáveis, ou seja não é um bem material, a campanha da Volkswagen teve uma estratégia ousada, mas o código civil determina o uso dessas imagens desde que não corrompa a reputação da pessoa”. 

Esse assunto está em alta devido a propaganda de 70 anos da Volkswagen, na qual a cantora Elis Regina, morta em janeiro de 1982, é trazida de volta à vida por meio de inovações tecnológicas proporcionadas pela IA. Ao som de “Como Nossos Pais”, a estrela dos anos 70 reencontra sua filha, Maria Rita; ambas dirigindo um dos automóveis mais icônicos da história da marca, a Kombi. A propaganda emocionou muitos telespectadores, porém a publicidade chamou a atenção do Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (CONAR), em que foi aberta uma representação ética contra a campanha. Como ela contou com a autorização da família da cantora, foi considerada uma prática legal.

A regulamentação da prática da IA tornou-se uma preocupação atual, uma vez que nos anos 2000, por exemplo, não era possível exercer esse feito. Grandes artistas deixaram escrito em seus testamentos se gostariam ou não de serem recriados, um desses exemplos é Robin Williams, ator americano falecido em 2014, ele restringiu o uso de sua imagem em até 25 anos após sua morte, para que sua figura não fosse comercializada sem sua autorização. Já Madonna, após deixar o hospital em 2023, proibiu o uso da IA após sua morte para proteger sua imagem.

Algumas empresas  já estão comercializando a “vida após a morte”. O aplicativo HereAfter AI permite que as pessoas conversem com falecidos a partir da recriação de vozes por inteligência artificial, combinando ferramentas de dados antigos para gerar novas conversas com os usuários. Em meio a debates éticos e judiciais de quando e onde se usar a IA, Gustavo Miller, head de marketing da Defined.AI pontua: “Isso não é uma ferramenta exclusiva de um estúdio de publicidade ou de filmes, qualquer pessoa pode usar. Daí a importância de debatermos aquilo que chamamos de Inteligência Artificial Ética, que tem como um de seus principais pilares o seu uso responsável. É importante avançarmos com isso porque a Inteligência Artificial evolui mais rápido que a regulamentação.”

O estudante de ciências da computação, na Universidade de São Paulo (USP), João Misson afirma que “é muito controverso o uso da IA em pessoas mortas, pois debate sobre os efeitos psicológicos naqueles que vão assistir e nos familiares das pessoas. O uso da tecnologia toca em questões como consentimento, autenticidade e finitude da vida. Não é uma forma transparente de se utilizar a programação nas publicidades”, afirma Misson.

Por mais que o público tenha opiniões divergentes sobre a utilização dessa tecnologia nas propagandas, a base precisa vir do judiciário, em que é necessário uma regulamentação rigorosa para a utilização da imagem das pessoas, uma vez que a mesma já tenha falecido, garantindo que suas vidas sejam amparadas e protegidas pela Lei.

Regulamentação das questões éticas são chave para boa convivência com IA no futuro
por
Gabriela da Silva
Pietra Nóbrega
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05/09/2023 - 12h

A Inteligência Artificial (IA) é uma das tecnologias mais utilizadas do século XXI, oferecendo um acesso muito ágil a informações de qualquer meio, assim transformando a vida e o cotidiano da sociedade. No entanto, seu impacto não é unicamente positivo, pois também traz desafios e dilemas éticos significativos. Conforme essa ferramenta se tornou mais onipresente, surgiram questões relacionadas à privacidade, viés algorítmico e ética no uso da tecnologia. Governos e reguladores começaram a se envolver na regulamentação da IA para garantir seu uso responsável. Empresas usam IA para personalizar serviços e produtos, oferecendo experiências mais relevantes e tecnológicas aos clientes.

Segundo Jefferson de Oliveira, doutor em Ciências da Computação, o futuro do mercado de trabalho no Brasil já se modificou. “Atualmente a inteligência artificial é bastante presente nos algoritmos de recomendação de conteúdo como, por exemplo, TikTok, YouTube e Instagram, mas também é muito visto no atendimento ao cliente", diz Oliveira, que acrescenta: "você sempre vai falar com uma máquina antes de chegar em uma pessoa”. 
 
A automação impulsionada pela IA pode resultar na substituição de empregos tradicionais, causando desigualdade econômica e social e o desemprego de alguns setores. Quando falamos de dilemas éticos, a IA levanta questões éticas complexas, incluindo responsabilidade legal por decisões tomadas por máquinas autônomas. “Podemos dizer que um dos primeiro serviços adotados pelas grandes empresas é o atendimento ao cliente, o telemarketing e outras tarefas repetitivas que já são quase totalmente automatizadas, IA nunca vai substituir totalmente as pessoas. Afinal, ela não cria sozinha, precisa que alguém forneça os dados pra isso”, afirma Oliveira.
 
Entretanto, a privacidade e segurança da maioria das pessoas que fazem o uso da Internet é duvidosa, a coleta e uso de dados pessoais levantam preocupações sobre o direito da privacidade de todo e qualquer cidadão, além de criar riscos de segurança cibernética, a confiança excessiva na inteligência artificial pode tornar as futuras sociedades vulneráveis a falhas tecnológicas e ameaças cibernéticas.  O crescimento exponencial da quantidade de dados disponíveis e o aumento da capacidade computacional permitiram o aperfeiçoamento do aprendizado de máquina e das redes neurais profundas. Isso impulsionou a IA a novos patamares de desempenho em tarefas como reconhecimento de padrões e processamento de linguagem natural.
“Acho que mesmo se a inteligência artificial tivesse sido criada com uma base de dados livre de estereótipos e preconceitos isso teria se desenvolvido mais tarde com o Machine Learning, aliás a maneira de resolver isso é justamente não alimentar o algoritmo com esse tipo de conteúdo, não dar engajamento para o preconceito para que o Machine Learning não entenda essas coisas como algo que deve ser reproduzido”, ressalta Oliveira.  
 
O Machine Learnin é um "sistema que usa da inteligência artificial para identificar padrões e a partir disso realizar tarefas sem ajuda humana, já o Deep Learning (aprendizado profundo) é bem mais complexo, ele usa redes neurais artificiais para resolver problemas ao invés de só usar o próprio histórico de dados como o Machine Learning. Por exemplo o Machine Learning pode aprender qual tipo de vídeo deve te recomendar no YouTube a partir do seu histórico de vídeos marcados com like, já o Deep Learning seria capaz de identificar as características presentes nos vídeos e buscar vídeos com as mesmas características para te recomendar.”
 
O desenvolvimento da IA continua, com pesquisas focadas em sistemas de IA mais avançados, como a IA geral, que pode executar uma ampla gama de tarefas com compreensão e raciocínio humanos. Também é esperado que a IA continue a transformar setores inteiros e a sociedade em geral. “Sobre o futuro, a chave para aproveitar ao máximo os benefícios da inteligência artificial enquanto minimizamos seus riscos está em abordar essas questões de forma ética e responsável. A regulamentação adequada, o treinamento de algoritmos com dados imparciais e a conscientização sobre as implicações éticas são passos cruciais, pelo menos eu espero para que a gente possa conviver com a IA como auxiliar das pessoas e não como um substituto ou obstáculo”, diz ele.
 
A inteligência artificial é uma ferramenta simbólica nos tempos atuais que oferece inúmeras vantagens, mas também apresenta desafios significativos. O equilíbrio entre maximizar seus benefícios e mitigar seus riscos é um desafio crucial que nossa sociedade enfrenta na era da tecnologia avançada. O futuro da IA dependerá da capacidade de abordar essas questões de forma ética e responsável presando sempre pela segurança plena de todo indivíduo. Enquanto continuamos a explorar o potencial dessa tecnologia, ela continuará a evoluir e moldar nossa sociedade, é imperativo que mantenhamos um equilíbrio entre a inovação e a consideração dos impactos sociais, éticos e legais.