Por Maria Eduarda Camargo (texto) e Bianca Novais (audiovisual)
Para Suelma Feitosa, mãe da Sofia de 8 anos, é difícil acompanhar o conteúdo que a filha vê na Internet. Como a menina estuda na Escola do Campo, no interior de Goiás, a rotina do nascer do sol e a longa distância até a escola se tornaram motivos para que o celular entrasse na mochila, e consequentemente no ambiente familiar. Desde vídeos no Youtube até jogos online, Sofia passa o entardecer no aparelho – que serve como um funil do universo infantil. Celebridades como Luccas Neto e Julia MineGirl, que hoje possuem um público de acesso majoritariamente infantil, fazem parte do interesse da garota pelo digital. Mas, na sala de aula, a rotina é outra: desenhos, massinha e brincadeiras ao ar livre fazem mais sucesso no ambiente. Para minimizar esses efeitos negativos estão sendo usadas muitas estratégias pedagógicas.
Thaís Oliveira é professora do ensino fundamental na rede municipal de Guarulhos, em São Paulo. Em sua rotina de ensino entram jogos, atividades e pesquisas online mas ainda faltam recursos para que as tecnologias possam entrar com funcionalidade na classe. Mesmo assim, dentro de sala, as atividades manuais e escritas ainda são um dos pilares. A professora afirma que a falta da prática da escrita fora do ambiente escolar, fruto da facilidade ao acesso da tecnologia, é um dos pontos de perda desse novo mundo. O analfabetismo digital dos pais é um dos pontos de atenção para Thaís, que também se inclui em um grupo que tem dificuldade de acompanhar os avanços tecnológicos, mas que precisou correr atrás de se atualizar durante a pandemia de Covid-19.
A legislação mais recente sobre o tema, a Lei Federal 14.533 de janeiro de 2023, institui a Política Nacional de Educação Digital (PNED), prevendo o desenvovlimento da inclusão digital dentro da sala de aula, com investimento em infraestrutura e capacitação de educadores. O principal objetivo é deixar os alunos, de quaisquer níveis, a par dos avanços tecnológicos e familiarizados com as ferramentas digitais atuais. Já o desafio, é encontrar o equilíbrio entre os benefícios e os malefícios da exposição às telas, que ainda não estão completamente elucidados.
Whatsapp, Instagram e TikTok. Esses são, em ordem, os sites mais utilizados por crianças e adolescentes na faixa dos nove aos 17 anos, de acordo com o CGI (Comitê Gestor da Internet). Em meros três minutos – o tempo máximo de vídeo permitido em todas as redes mencionadas – crianças pesquisam conteúdos como ajuda emocional e sexual, dietas e dicas para entrar em forma e tratamento de doenças. O mundo do curto prazo chegou aos pequenos, e com ele, a metamorfose da pedagogia teve que andar.
A pandemia de coronavírus, que durou de 2020 a 2023, forçou uma inclusão desorganizada de tecnologia nas salas de aula, visando minimizar o impacto que as medidas de distanciamento social causaram nos jovens em idade escolar. Segundo o relatório "O abismo digital no Brasil" da PwC, de 2022, 33,9 milhões de brasileiros não têm qualquer tipo de acesso à Internet, ao passo que 81% da população com 10 anos ou mais são usuários da rede mundial de computadores. Esse recorte etário se reflete na sala de aula de Maria de Lourdes Freitas, professora de ensino infantil na rede municipal de São Paulo, capital. Apesar de haver tablets para inclusão digital dos pequenos, a professora esclarece que a função do ensino infantil é o desenvolvimento de habilidades motoras e sociais.
Apesar disso, é comum em locais públicos como restaurantes ou shoppings observar crianças pequenas vidradas em telas. A estratégia é utilizada por pais que buscam "aquietar" os filhos, muitas vezes sem se preocuparem com os efeitos a longo prazo da exposição contínua a recursos tecnológicos de consumo passivo.
Fugindo da dicotomia de malefícios e benefícios, Thaís observa que o lugar da tecnologia na educação é, hoje em dia, sobre entender a possibilidade de acesso e como as ferramentas digitais podem se tornar aliadas no processo pedagógico.
Por Manuela Dias (audiovisual) e Luísa Ayres (texto)
Tecnologia é o nome dado a aparelhos, sistemas e métodos criados para facilitar tarefas do cotidiano humano. Desde a pré-história, diversas delas foram desenvolvidas.
Do machado à espaçonave, o mundo foi se reinventando e tentando contemplar cada vez mais as necessidades evolutivas e modernas da sociedade. Mas será que as ferramentas criadas até aqui foram pensadas para todos?
Tecnologia e falsa acessibilidade
Apesar da evolução tecnológica presenciada nos últimos séculos, que já nos proporciona trabalhar com conceitos como nanotecnologia e inteligência artificial, nem toda a população global tem tido acesso aos meios mais simples de todos esses recursos.
Segundo dados da Oxfam (Comitê de Oxford para o Alívio da Fome), o desenvolvimento tecnológico ainda exclui metade da população mundial. Quando recortes como raça e gênero são feitos em meio a essas estatísticas, os dados são ainda mais alarmantes. Cerca de 90% das mulheres habitantes dos países mais pobres não têm acesso à internet, conforme indica a ONU (Organização das Nações Unidas). Além disso, de acordo com a pesquisa feita pela TIC Domicílios, 65% da população negra possui acesso à internet apenas através do celular.
A disparidade vista através desses dados e da chamada “exclusão digital”, dificultam a democratização da tecnologia e de diversos outros meios importantes ao funcionamento do mundo contemporâneo. Infelizmente, pensar em uma realidade acessível tecnologicamente a todos ainda parece utópico. A educação de milhares de crianças, sobretudo durante a última pandemia, bem como o acesso da população carente aos tratamentos e vacinas, exemplificou diversas facetas de um mesmo problema: a desigualdade social e a falta de acesso à recursos hoje, já vistos como básicos.
Em um mundo onde ter acesso aos meios e ferramentas significa ter o poder em suas mãos, a concentração de renda e posse desta tecnologia é pensada como forma de controle e autoridade perante àqueles que delas não podem usufruir. A inclusão social sempre estará distante enquanto espaços e direitos forem negados, seja através do preconceito e discriminação ou exclusão econômica e tecnológica.
PCD’s
Nessa mesma perspectiva, outro recorte social se faz necessário para o desenvolvimento da crítica ao ilusório conceito de integração e proximidade tecnológica que tanto se fala, principalmente com o advento das redes sociais e com o barateamento de aparelhos. É preciso pensar o lugar que pessoas com deficiência ocupam na sociedade moderna, que apesar de tantos recursos, ainda oferece meios de assistência e apoio limitados a esta parcela da população.
Não é incomum ver estabelecimentos sem sinalizações em braile ou mesmo sem acessibilidade através de rampas ou elevadores. Estas são demonstrações mais evidentes dos desafios cotidianos enfrentados por pessoas com deficiências visuais severas. Porém, o problema da integração social desses indivíduos vai muito além destes aparelhos e métodos de alcançabilidade mais típicos.
Em uma pesquisa apresentada no último seminário organizado pela Fiocruz, estimou-se que cerca de 16% da população mundial apresente algum tipo de deficiência. É importante lembrar que existem diversos tipos e graus de deficiência, variando entre visual, auditiva, intelectual, psicossocial e até mesmo múltipla.
Bengalas, linguagem de sinais, cadeiras de roda e tantos outros aparelhos mais popularizados facilitam a vida cotidiana de muitas das pessoas com algum tipo de deficiência. Ainda assim, pensar em instrumentos tão simples e que dificilmente possuem adaptações específicas a cada indivíduo e suas necessidades, é desconsiderar a complexidade e pluralidade de corpos que compõem esses dados.
Deficiência visual
Segundo a Pan American Health Organization, aproximadamente 1.3 bilhão de pessoas vivem com alguma forma de deficiência visual, também variada em graus de complexidade.
Com isso, os principais órgãos de saúde ao redor do mundo, incluindo a Anvisa, classificam os graus de deficiência visual e cegueira baseados na tabela de Snellen, do seguinte modo:

Legenda: A perdão de visão varia entre “leve” à “cegueira total”, conforme aponta a tabela. Reprodução: Luísa Ayres.
Tecnologia assistiva
Desde o ano de 1988, nos Estados Unidos, o termo “tecnologia assistiva” é utilizado dentro da sociedade comum, política e jurídica. No Brasil, também pode ser visto como “Ajudas Técnicas” ou “Tecnologia de Apoio”. De qualquer forma que seja grafado, o termo remete ao uso de tecnologias que visam apoiar e integrar socialmente quaisquer pessoas com algum tipo de deficiência. No caso dos deficientes visuais, os personagens principais deste texto, pode-se falar em aparatos mais difundidos, como as bengalas e escritas em braile, até aparelhos extremamente caros e de difícil acesso.
Em geral, existem cerca de 12 categorias de tecnologias assistivas, listadas a seguir:
- Auxílio para a vida diária: ferramentas mais básicas ligadas ao uso cotidiano mais básico e primeiras necessidades, como alimentação, tomar banho, se vestir, etc;
- Comunicação aumentativa e alternativa: permitem que pessoas mudas ou com limitações de fala possam se comunicar, como através das pranchas de comunicação ou vocalizadores;
- Recursos de acessibilidade ao computador: equipamentos eletrônicos como teclados especiais, softwares de leitores de tela, reconhecimento por voz e ditados que transformam falas em textos escritos;
- Sistemas de controle de ambiente: desenvolvidos para quem tem mobilidade reduzida, como aparelhos inteligentes que ligam e desligam luzes ou abrem portas, por exemplo;
- Projetos arquitetônicos acessíveis: são projetos pensados para pessoas com deficiência que necessitam de adaptações para que possam frequentar e usufruir dos espaços. É o caso das rampas, dos apoios ao lado de vasos sanitários em banheiros, etc;
- Órteses e próteses: trata-se de ferramentas ortopédicas que podem ajustar ou substituir partes do corpo;
- Adequação postural: produtos que promovem conforto e maior estabilidade no dia a dia, como encostos anatômicos para cadeiras de roda e posicionadores veiculares;
- Auxílios de mobilidade: O mais conhecido neste grupo é a cadeira de rodas. No entanto, os auxílios de mobilidade dizem respeito a qualquer veículo de auxílio, como andadores e scooters;
- Auxílio para pessoas cegas ou com deficiência visual: lupas, braille, leitores de tela ou até mesmo animais de estimação devidamente treinados como guias;
- Auxílios para pessoas surdas ou com deficiência auditiva: tradutores para línguas de sinais, telefones com teclado, sistemas de alerta visuais etc;
- Adaptações em veículos: rampas para cadeira de rodas, arranjos de pedais e demais utensílios que facilitem a direção de pessoas com deficiência;
- Esporte e Lazer: Para quem já assistiu as Paraolimpíadas ou aos jogos de GoalBall, sabe que diversos aparatos esportivos já estão sendo adaptados a pessoas com deficiência. As bolas que emitem sons, destinadas a pessoas com deficiência visual, as toucas com vibração, feitas para os nadadores saberem quando estão se aproximando das bordas das piscinas e até mesmo novas cadeiras de roda adaptadas e fabricadas pela BMW, são exemplos de que o esporte pode sim ser praticado por todos.
No entanto, nem todas essas tecnologias e aparatos estão disponíveis para que todos ter uma melhor qualidade de vida.
Segundo a Organização Mundial de Propriedade Intelectual (OMPI) mais de um bilhão de pessoas necessitam atualmente de meios assistivos. Apesar do aumento de produtos e da alavancagem do setor de bens e tecnologia na economia mundial, os preços ainda são demasiadamente elevados. China, Estados Unidos, Alemanha, Japão e Coreia do Sul se destacam como pesquisadores e produtores. Tudo isso contribui para que somente uma em cada dez pessoas no mundo tenha acesso aos produtos assistivos de que precisa. Assim, 90% da população com deficiência visual continua a viver sem os recursos cabíveis às suas condições e necessidades.
Esse é o caso da Fernanda, estudante de direito e integrante há três anos da Associação dos Deficientes Visuais de Sete Lagoas - ADVISETE, fundada dia 01/10/1984, que tem por objetivo o desenvolvimento de ações de apoio, proteção, informação, orientação e encaminhamentos aos usuários e seus familiares através do Serviço da Proteção Social Especial para Pessoas com Deficiência Visual de Média Complexidade. Fernanda também tem deficiência visual, o que nunca a impediu de lutar por seu espaço no sistema educacional e na sociedade.
Ela diz que chegou na Advisete por acaso. Enquanto procurava por um serviço foi atendida pela Tati, assistente Social da Advisete. Foi assim que começou a participar de todas as oficinas, principalmente as de Braille. Hoje, além de integrar a equipe de colaboradores da Advisete, ela tem aproveitado o seu tempo livre para aprender coisas novas que possam ajudar em seu dia a dia - como usar a bengala corretamente e aprofundar a leitura do Braille.
Na Advisete existem oficinas de artesanato, informática, Braille e música, de forma gratuita. O objetivo é a autonomia da pessoa com deficiência, garante a assistente social da entidade.

Legenda: Na Advisete, os alunos com deficiência visual têm a oportunidade de utilizar os teclados em Braille disponíveis na oficina de informática . Reprodução: Internet.
É direito
Segundo a Câmara dos Deputados “o projeto de Lei 708/23 obriga órgãos públicos a garantir condições de acessibilidade a todos os cidadãos, oferecendo a pessoas com deficiência recursos de tecnologia assistiva ou profissionais com habilitação em Libras e Braile”. Essa proposta, criada pelo deputado Márcio Honaiser (PDT-MA), viria a modificar o Estatuto da Pessoa com Deficiência e já está sendo analisada.
É fundamental lembrar, contudo, que o decreto Nº 10.645, de 11 de março de 2021 já propõe o debate acerca do Plano Nacional de Tecnologia Assistiva. Ele visa, através do apoio à produção, regulamentação e promoção de acesso aos bens assistivos, inclusive através do Sistema Único de Saúde (SUS), a “eliminação, redução ou superação de barreiras à inclusão social”, bem como a “promoção da inserção da tecnologia assistiva no campo do trabalho, da educação, do cuidado e da proteção social”.
Apesar do Decreto atrelar tais responsabilidades aos Ministérios da Educação; Cidadania; Saúde; Ciência, Tecnologia e Inovações e ao antigo Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, o dever de implementação de tais tecnologias no dia a dia das pessoas com deficiência deve ser considerado em todos os demais setores da sociedade como direito básico delas.
Teclado adaptado
Em um mundo cada vez mais digital, a acessibilidade se tornou uma pauta crucial na busca por inclusão, tendo a tecnologia como a sua maior aliada. Entre as diversas soluções inovadoras que têm surgido para melhorar a qualidade de vida de pessoas com deficiência visual, o "Teclado Adaptado" ganha destaque como uma ferramenta revolucionária para a alfabetização.
Desenvolvido pelo engenheiro eletrônico Maicon Gonzaga, o Teclado Adaptado é um exemplo notável das tecnologias assistivas que estão transformando a maneira como os deficientes visuais interagem com o mundo digital. Segundo Gonzaga, a criação visa reduzir a curva de aprendizado de estudantes que enfrentam desafios de acessibilidade. Ele explica que o teclado que ele desenvolveu é específico para a alfabetização. Ele facilita e diminui a curva de aprendizado do estudante,.
Além do custo acessível que fica por volta dos sessenta reais, o Teclado para alfabetização em Braille possui um botão rotativo que permite ao usuário navegar pelo texto palavra por palavra ou caracter por caracter. Assim, enquanto digita, o usuário consegue navegar e ouvir o texto. Ou seja, ele vai digitando e ouvindo as palavras simultaneamente.
Projetado para ser altamente intuitivo e de fácil uso, o Teclado Adaptado em Braille não é apenas para estudantes em processo de alfabetização, mas sim para pessoas de todas as idades.

Legenda: O teclado adaptado de Maicon, pertencente à marca Programatônica, leva dois dias para ser produzido. Reprodução: Maicon Gonzaga da Silva
Tecnologia X custos
Enquanto as tecnologias assistivas têm desempenhado um papel vital na promoção da inclusão de pessoas com deficiência visual, um problema preocupante está surgindo como um obstáculo significativo: o custo. Embora esses dispositivos sejam projetados para facilitar a vida daqueles que dependem deles, seus preços muitas vezes inacessíveis estão criando barreiras financeiras que prejudicam a viabilização do produto e a inclusão dessas pessoas na sociedade.
O engenheiro eletrônico Maicon Gonzaga, criador do Teclado Adaptado, têm se dedicado continuamente para a produção do seu eficiente dispositivo educativo, no entanto, devido à falta de apoio público e até mesmo particular, tem passado dificuldades para continuar com o projeto e compartilha sua preocupação. A ideia foi criar um kit completo para tornar independente a vida de alguém fisicamente desafiado pela cegueira dentro das escolas e universidades do Brasil, mas por conta da falta de verbas, esse serviço ficou praticamente inviável.
Na maioria das vezes, a aquisição de um teclado adaptado requer um investimento significativo, o que torna esses dispositivos fora do alcance de muitos. Isso, por sua vez, limita o acesso a oportunidades educacionais e profissionais, além de restringir a capacidade das pessoas com deficiência visual de participar plenamente da sociedade digital.
A acessibilidade não deve ser um luxo, mas sim um direito de todos. A redução dos custos dos teclados adaptados para deficientes visuais é um passo crucial para garantir que a inclusão digital seja uma realidade para todos, independentemente de suas condições físicas ou financeiras.
Legenda: Maicon explica melhor as funcionalidades e conceitos por trás do teclado assistivo. Reprodução: Maicon Gonzaga da Silva
Por Fernanda Querne (texto) e Amanda Tescari (audiovisual)
No final da Pré-História, na Idade dos Metais, ela já existia. Passou longe do Paleolítico e Neolítico. Era arte nas paredes. Emanava das necessidades e desejos daqueles que a pintavam. Essas são as pinturas rupestres. Assim, a escrita nasceu. Tanto para fins comerciais quanto artísticos. E ela sempre evolui. Desenhos em rochas; manuscritos bíblicos, impressos de Gütenberg e, agora, em legendas do Instagram no smartphone.
Desde então a civilização foi inundada por livros - a cada página que se passa, há edificação nos aprendizados de todos. Idosos, adultos, adolescentes e até crianças, ao serem alfabetizados, desfrutam da leitura. Entretanto, na nossa realidade Pós-Moderna, o Kindle ocupa o lugar do papel para a geração Tik-Tok. O digital não sairá da sociedade. Na verdade, a sociedade não sairá do digital por questão de sobrevivência. E, nesse sentido, a realidade vai sendo remodelada, criando novas dinâmicas de trabalho, de lazer e na educação.
A maior metrópole da América Latina não ficaria de fora de tais mudanças e aparentes avanços tecnológicos. No âmbito das políticas públicas relacionadas à educação, o que se teve foi a tentativa da implementação do material 100% digital na rede estadual de São Paulo. Por governança ou desgovernança de Tarcísio, o objetivo declarado era que esses equipamentos escolares “se adequassem ao currículo do Estado, mantendo a coerência pedagógica” - segundo a Secretaria de Educação de Estado.
A proposta de inclusão do material digital veio, contudo, de uma ruptura com o Programa Nacional de Livros Didáticos, programa do Ministério da Educação junto ao Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação. Até então, foi este programa federal que se ocupou de levar o material didático de maneira adequada para cada nível educacional, desde a educação infantil até o ensino médio.
Compreendida a importância de um material didático de qualidade para um bom desempenho escolar, a escolha desses livros passa por um processo minucioso até que seja efetivada. Nesse sentido, evidente que qualquer alteração na definição desses materiais deve seguir as mesmas cautelas, mas não foi a escolha do governador.
Segundo o governo estadual, a opção pela não adesão ao PNLD deu lugar à confecção de um material didático próprio, alinhado ao currículo do Estado. Diante disso, muitas questões foram levantadas por educadores, parlamentares e diversos setores da sociedade. Fica a dúvida sobre benefício do material 100% digital na rede pública estadual e a eficácia de se garantir a emancipação dos estudantes. Além disso, questionar o planejamento para os alunos que utilizarão esse material. São indagações sobre alguns dos pontos de dúvida dentro da nebulosidade de tal política.
Foto: Alexandre Lombardi/ Secom Sorocaba
Em conversa no gabinete da vereadora Luana Alves (PSOL), que trabalhava depois das 19h00min, após uma entrevista ao Fantástico sobre a fala racista do então Camilo Cristófaro na Comissão Parlamentar de Inquérito dos aplicativos. Quando ouviu o nome de Tarcísio e o seu “plano infalível educacional”, os seus gestos mudaram. Antes, ouvia atentamente a pergunta. Depois, sua cabeça mexia para lá e para cá em sinal de reprovação ao projeto enquanto repetia sobre a falta de sentido do projeto.
E não pense que Alves compartilha dessa opinião por causa apenas do seu partido. Ela mencionou até que os aliados de Tarcísio desaprovaram o projeto aqui na Câmara Municipal. Há 28,2 milhões de pessoas acima de 10 anos sem acesso à Internet, de acordo com os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. É incongruente aderir ao material online sem um estudo prévio da educação e acesso digital. Até a Suíça com os seus recursos disponíveis desistiu da didática proposta sem livros físicos.
Entre os educadores, a opinião permanece. A infraestrutura da escola está com superlotação das salas de aula; excluindo estudantes que são Pessoas Com Deficiências (PCDs) sem apoio e falta de comunicação entre educadores e Secretaria de Educação - explicou a professora da rede municipal, Fernanda Guimarães. Destacou também o desinteresse governamental na estrutura colegial: pensa que há pouco ou zero interesse em realmente implantar algo que funcione, se conhecessem a realidade escolar, perceberiam que o problema não está nos livros físicos, que aliás, são muito mais funcionais do que os digitais. - enfatizou Guimarães.
A funcionalidade do material online de Tarcísio não está desempenhando como o esperado. Com erros gravíssimos didáticos. Mencionaram que o D. Pedro II foi quem assinou a Lei Áurea e citaram que o Jânio Quadros foi o prefeito de São Paulo. Após pressão da mídia, a Secretaria de Educação só afastou os servidores responsáveis pela polêmica. Alves e Guimarães compartilham do sentimento de insuficiência governamental ao solucionarem o problema. A vereadora logo disse que Renato Feder, secretário de Educação do Estado de São Paulo, deveria sair do cargo e tentar ganhar dinheiro em outro lugar.
O Renato Feder é sócio da offshore Dragon Gem LLC, detentora de 28,16% das ações da Multilaser - empresa de capital aberto brasileira no segmento de eletrônicos e informática. Feder se envolve muito nesse mundo tecnológico, já que o secretário de Educação levou em frente a narrativa do material 100% digital sem hesitação. Expôs, rapidamente, que não seguiria o Programa Nacional do Livro Didático (PNLD). Assim, o governo logo providenciou os livros serão comprados da empresa Bookwire Brazil Distribuição de Livros Digitais LTD.
O tema da educação é basilar para a formação de uma sociedade mais crítica e capaz de superar suas contradições. Garantido formalmente na Constituição Federal, esse direito fundamental precisa se traduzir a partir de políticas públicas de qualidade e que realmente busquem efetivar e materializar esse direito na vida de todos os cidadãos.
Nesse sentido, mais do que a letra da lei garantindo o acesso à Educação, cabe à Administração Pública encarar a conjuntura na qual está inserida e a realidade do acesso à tecnologia e do letramento digital antes de uma proposta drástica de mudança.
Diante do cenário nacional, a vereadora Luana Alves crê que não há alguma perspectiva dessa desigualdade digital na educação ser uma pauta de relevância para o governo federal - infelizmente. A movimentação percebida por ela é em relação ao combate às fake news, pois já virou uma reivindicação ideológica do Partido dos Trabalhadores (PT). Contudo, não percebe nenhuma pauta que tenha como objeto uma preocupação com o letramento digital dessa nova geração.
A vereadora refletiu sobre como uma educação de fato mais digital, tem que ter uma ideia e uma política de conseguir de fato uma espécie de letramento digital. Principalmente, com os adolescentes brasileiros. Alves explicou sobre a importância de ensinar a nova geração a diferença entre: anúncio, propaganda, reportagem e até mesmo fake news - o que há muito nesse mundo Pós-Moderno, para não permitir a desvinculação com a realidade.
Com cerca de 500 mil espectadores durante 8 dias de evento, o IAA Mobility Show – em sua segunda edição em Munique, na Alemanha – não decepcionou, mas acendeu, mais uma vez, um alerta para a indústria automotiva europeia, em declínio. Marcas tradicionais como Peugeot, Toyota e Volvo se ausentaram, enquanto as chinesas ganharam grande relevância em terras germânicas.
Abrangendo todas as esferas da mobilidade urbana, o Salão de Munique contou com expositores de bicicletas, motocicletas, softwares, baterias e de veículos. A feira teve como foco um futuro mais sustentável, seguro e digital, com destaque às iniciativas de reciclagem, uso de materiais veganos e ecológicos, aplicação da inteligência artificial na indústria automobilística e a sua descarbonização.
Greenwashing

Foto: Greenpeace/Divulgação
Apesar da roupagem “verde” que o evento busca transmitir desde 2021, não sendo mais apenas um salão de automóvel tradicional, mas sim um local de apresentação e debate de novas tecnologias e ideias para um futuro amigo do meio ambiente, protestos ocorreram.
A ONG Greenpeace realizou um protesto no dia anterior à abertura do evento, dedicado à imprensa, no lago que fica em frente ao centro de exposições. O ato contou com dois ativistas segurando cartazes em meio a três carros submersos, em alusão às mudanças climáticas. A mensagem em inglês era “Encolha agora ou afunde mais tarde”, uma crítica ao modelo de negócios da indústria automobilística que visa vender cada vez mais carros de forma direta, ao invés de aderir a iniciativas de mobilidade sustentável, que o próprio evento prega.
Além disso, no mesmo dia, mas desta vez na ponte Georg-Brauchle-Ring, próxima à sede da BMW, um grupo de ativistas do movimento “Extinction Rebellion” protestou com cartazes e bandeiras. O grupo pedia por uma indústria com menor emissão de poluentes, e por menos carros, que estão cada vez maiores, mais pesados e menos eficientes.
Mobilizações dessa natureza já haviam ocorrido na edição de 2021 do evento, e de maneira geral se intensificaram nos últimos meses pela Europa. Isso se deu principalmente pela desistência da União Europeia em banir os motores a combustão do continente até 2035, em um pedido do governo alemão que é contra a medida, e a favor do uso de combustíveis sintéticos.
Futuro de luxo Alemão

Foto: Caradisiac/Reprodução
Sendo um dos grandes lançamentos do IAA 2023, o conceito Neue Klasse promete iniciar uma nova era para a BMW. Segundo Oliver Zipse, presidente do conselho de administração da marca, “O BMW Vision Neue Klasse combina nossa capacidade de inovar nas principais áreas de eletrificação, digitalização e circularidade”.
Prometendo autonomia 30% maior, e uma eficiência energética 25% melhor que os atuais elétricos da marca, o conceito apresenta uma nova plataforma modular que originará seis modelos a partir de 2025. Em relação ao design, que inicia uma nova identidade visual, a empresa diz que 90% do que foi visto estará presente na sua versão de produção. O interior, livre de couro e cromados, em sintonia com a proposta de sustentabilidade, apresenta o novo conceito minimalista Panoramic Vision. A marca bávara ainda garante redução da pegada de carbono do modelo e a alta reciclabilidade do veículo, apesar de não especificar porcentagens.

Foto: NetCarShow/Reprodução
Outra grande estrela alemã foi o Concept CLA, construído sobre a nova plataforma MMA, que prevê a próxima geração de veículos de entrada da Mercedes. A nova arquitetura promete 750 km de autonomia, tração 4x4, e quatro novos modelos a partir de 2025. Seu interior conta com o novo software MB OS, e é dominado por uma tela touch ao longo de todo o painel, apesar de não abandonar os controles físicos. A empresa frisa o uso de materiais sustentáveis, no entanto abusa do couro e de cromados. Além disso, a companhia alega redução de 40% na pegada de carbono do veículo, comparado ao atual CLA, mas não falou sobre índices de reciclagem.
Durante a apresentação, Ola Kaellenius, presidente da Mercedes, ainda comentou sobre a sua visão de eletrificação, “Os custos variáveis de um carro elétrico são mais altos e continuarão sendo em um futuro próximo. Os que pesam sobre a produção dos elétricos incluem matérias-primas para baterias, desenvolvimento de software e preços da eletricidade”. Ele também destacou que a empresa focará na rentabilidade.
Sem nenhum grande lançamento, a Audi se limitou ao reestilizado Q8, e a um protótipo do aguardado Q6 e-tron. O novo SUV que por atrasos no desenvolvimento de seu software, viu seu lançamento ser adiado e teve apenas o seu interior mostrado.
Lançamentos de produção

Única representante francesa da mostra, a Renault fez a estreia mundial do novo Scénic E-Tech. O modelo baseado na mesma plataforma do Mégane E-Tech, – o qual será lançado no Brasil ainda esse ano – se apresenta na forma de um crossover elétrico, com cerca de 600 km de autonomia e recarga de 10% a 80% em apenas 30 minutos em um carregador super rápido.
O seu interior é 100% vegano e na versão Espirit Alpine, feito todo de tecido reciclado. Em consonância aos objetivos de sustentabilidade do programa Renaulution, a marca ainda destaca que 90% de todo o carro é reciclável, incluindo a sua bateria, fornecida pela LG, comprovando a possibilidade de uma cadeia de produção e uso de carros elétricos, ser circular e sustentável.

Os modelos da MINI também foram destaque, com o salão sendo o palco dos novos Cooper e Countryman, ambos totalmente elétricos. O primeiro estreia uma nova plataforma dedicada aos elétricos desenvolvida em parceria com a GWM – marca que recentemente lançou na Europa e no Brasil o Ora 03. Na versão elétrica, ele estará disponível somente na versão de duas portas, enquanto a antiga geração continuará sendo comercializada com motores a gasolina, com duas ou quatro portas.
Já o novo Countryman, que compartilha a plataforma com o BMW X1, cresceu 13 centímetros no comprimento, se tornando o maior MINI de sempre. Tal como o hatch, o SUV apresenta a nova identidade da marca, minimalista. O interior é livre de produtos de origem animal, e conta com um novo sistema de infotenimento no topo do painel, feito de material reciclado. Foi apresentado na sua versão elétrica, mas variantes a gasolina e híbrida serão apresentadas posteriormente.
Por fim, o segundo modelo da nova era da smart, agora 50% da Mercedes e 50% da Geely, foi apresentado. O #3 é a versão esportiva do SUV #1, e segundo Dirk Adelman, CEO da smart Europe, o modelo é uma importante adição à linha de produtos da marca, “Estamos empolgados com o impacto que nosso primeiro SUV coupé terá no mercado europeu”.
Concorrência Chinesa

Representando 40% de todos os expositores do IAA Mobility 2023, as marcas chinesas não param de crescer em número de vendas na Europa, preocupando as montadoras tradicionais. Tal soberania do país no cenário dos elétricos se deve a vários fatores, sendo o principal deles, a hegemonia na produção e propriedade dos minérios necessários às baterias.
O principal alvo das marcas no evento foi a Tesla, então líder de vendas de elétricos no velho continente. A BYD, por exemplo, lançou o sedã Seal e o SUV Seal U, concorrentes diretos do Model 3 e Model Y, respectivamente. Ambos contam com cerca de 500 km de autonomia, muita tecnologia embarcada, e requinte digno de marcas premium.

Além da Build Your Dreams, que também vem movimentando o mercado brasileiro, a Xpeng apresentou as suas respostas à marca de Elon Musk, o sedã P7 e o SUV G9 – que prometem tecnologia de ponta. "A Xpeng está entrando em um dos mercados mais competitivos do mundo, com clientes que esperam os mais elevados padrões. Pretendemos introduzir um novo patamar de sofisticação, com uma tecnologia impressionante capaz de definir uma nova era de mobilidade inteligente", disse Brian Gu, presidente da marca.
Com grandes pretensões, a marca sino-americana SERES também esteve presente com os modelos elétricos 3, 5 e 7, SUVs do segmento C, D e E respectivamente. Os dois primeiros vendidos no Brasil. Outra marca que chamou a atenção foi a Avatr, propriedade da Changan, Huawei e CATL. A startup chinesa apresentou o elegante fastback 12.
Resposta Norte-americana

A californiana Fisker esteve presente e se destacou ao realizar no IAA 2023 a apresentação europeia dos seus três novos veículos elétricos, com previsões de entrega para 2025. Henrik Fisker, fundador da marca, afirmou que "Através de nossa combinação exclusiva de design, inovação e sustentabilidade, a Fisker está comprometida em trazer experiências únicas e emocionantes para os motoristas europeus que transcendem as categorias tradicionais de veículos”.
Com desempenho digno de superesportivo, o GT conversível de duas portas, Ronin foi o primeiro apresentado. Em seguida, com um design não convencional e com 35% menos peças do que um EV atual, para baixar os seus custos, o crossover PEAR fez sua estreia. Com 4,5m promete entregar versatilidade, autonomia e segurança por um preço acessível. Por fim, a picape Alaskan foi apresentada, ao lado do já lançado Ocean. De acordo com a empresa, será a mais leve e sustentável da categoria.
E face à ascensão das marcas chinesas no mercado europeu, em um pequeno estande, mas muito movimentado, a Tesla, que quase não participa de eventos desse tipo, marcou presença ao apresentar a versão atualizada do seu best-seller, o Model 3. O facelift conta com uma frente redesenhada, novas lanternas traseiras e melhorias no interior e equipamentos.
Legado e originalidade

A inglesa MG, controlada pela chinesa SAIC desde 2008, realizou no evento a estreia europeia do novo Cyberster, primeiro esportivo da marca em décadas. O roadster, na versão com dois motores e tração integral, conta com 544 cavalos e aceleração de 0 a 100 em 3.2 segundos e remonta às origens da marca fundada em 1924, conhecida por seus modelos conversíveis e divertidos.

Em uma coletiva de imprensa guiada pelo lema "Sucesso pelo Design", o Grupo Volkswagen apresentou vários modelos que refletem o seu slogan. A Porsche por exemplo, levou o conceito Mission X, sucessor dos icônicos 959, Carrera GT e 918 Spyder. O supercarro elétrico prevê o modelo de produção que será lançado nos próximos anos.
Mas a grande estrela do estande foi o Volkswagen ID.GTI. A versão esportiva do conceito ID.2all, tem produção confirmada para 2026 e promete emocionar. Segundo Thomas Schäfer, CEO da marca. “O GTI permanece esportivo, icônico, tecnologicamente progressivo e acessível, mas agora tem uma nova interpretação para o mundo de amanhã: elétrico, totalmente conectado e extremamente emotivo. Aqui, o prazer de dirigir e a sustentabilidade são uma combinação perfeita”.
O hot hatch é inspirado na primeira geração do Golf GTI, apresentada há 48 anos, e foi o maior exemplo da coletiva. De acordo com Oliver Blume, CEO do grupo, o legado histórico estilístico das marcas do conglomerado será a principal chave para conquistar a preferência do público, “é algo que não pode ser adquirido nem comprado”. Já a recém-emancipada Cupra, focará em originalidade e ousadia para cativar os compradores, como expresso pelo conceito DarkRebel. Fato é que diante de tantas concorrentes chinesas com produtos de qualidade invadindo o mercado, a indústria automotiva tradicional busca se reerguer, e tenta retomar as rédeas dessa nova era que já bate à porta, a qual já tem dono.
Quando alguém se inscreve para usar um serviço online ou cria uma conta em um aplicativo, costuma se deparar com um conjunto de regras e acordos chamados de "Termos e Condições". Basicamente, é um documento que contém diversas regras, diretrizes, regulamentos e cláusulas legais para o uso dos serviços e produtos de qualquer empresa pertencente ao mundo digital; é um contrato que define a relação do prestador de serviço com o seu usuário. Para a companhia em questão, esses termos são nada mais nada menos que uma proteção jurídica.
Antes de poder começar a usar o serviço, o usuário é solicitado a concordar com esses termos. No entanto, eles costumam ser longos e escritos em linguagem legal complexa, o que pode tornar o seu entendimento mais trabalhoso. Essa maneira de apresentação (com diversas páginas, repletos de jargões jurídicos e com letras pequenas) faz com que a grande maioria dos consumidores negligenciem o conteúdo escrito e apenas cliquem em “Aceitar”.
Com o desenvolvimento e popularização da Inteligência Artificial, isso tende a se tornar um problema maior. Com tecnologias mais avançadas, as empresas agora possuem diversas maneiras a mais de fazer uso de dados, informações e até mesmo a imagem (no caso das redes sociais) coletados de um usuário.
Em função disso, é necessário criar uma cultura de atenção cada vez maior aos T&C antes de aceitar qualquer imposição. Como a rotina de ‘aceitar sem ler’ já é extremamente habitual na internet, a divulgação da legislação a respeito do assunto já pode ser muito útil.
Em entrevista à AGEMT, a advogada Cláudia Lourenço Tabano, formada em direito pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, e que atua na área civil, afirmou: “Existem quatro limites bem claros em relação aos Termos e Condições de uma empresa, e podemos tratá-los separadamente para analisar as possibilidades de inserção da IA dentro de cada um”.
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Proteção de dados e Privacidade
O primeiro limite crítico dos T&C está relacionado à proteção de dados e privacidade. À medida que a coleta de dados se torna mais intrusiva na era digital, as empresas devem estabelecer cláusulas que explicitem como os dados dos consumidores serão utilizados, armazenados e compartilhados. Um exemplo que retrata bem, levando ao extremo esse problema da falta de privacidade, aparece no primeiro episódio da sexta temporada de Black Mirror, uma série da Netflix. O nome do episódio é “Joan é Péssima”. Nele, ao aceitar os termos e condições de um serviço de streaming, uma mulher passa a ter sua vida ‘reprisada’ em uma série. A reprodução vai até os últimos detalhes, e traz consequências pesadas para a vida da mulher, como demissão e fim do relacionamento.
“Se fosse na vida real, a possibilidade do processo existiria, porque a lei da proteção de dados e privacidade é rígida em relação a isso”, completa Cláudia: “Esse episódio é um modelo dos perigos da IA nesse sentido. Se uma série mostrando a vida da pessoa já gerou todo esse alvoroço, imaginem as novas tecnologias que conseguem até mesmo recriar pessoas em diferentes contextos”.
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Transparência e Acessibilidade
Um dos principais limites dos T&C de uma empresa é a necessidade de transparência e acessibilidade. As empresas têm o dever de apresentar seus termos de maneira clara e compreensível para os consumidores. Muitas vezes, as cláusulas complexas e a linguagem jurídica podem criar barreiras à compreensão, tornando difícil para os consumidores entenderem seus direitos e obrigações. Portanto, os T&C devem ser redigidos de forma clara e acessível, garantindo que os consumidores possam tomar decisões informadas.
A respeito desse assunto, Cláudia lamenta: “A Inteligência Artificial teria muito a ajudar nesse ponto. Se os grandes proprietários quisessem facilitar o acesso e a interpretação universal dos seus T&Cs, as novas IAs poderiam ser úteis no sentido de dinamizar os textos e aproximar o consumidor do que ele precisa saber ao concordar com o produto. No entanto, o que se enxerga no momento são tentativas inescrupulosas de utilizar esse tipo de tecnologia para conseguir ainda mais dados dos usuários, sempre fazendo uso de artifícios nebulosos para tal”.
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Cláusulas Abusivas
Cláusulas abusivas são outro limite crítico que deve ser observado nas T&C das empresas. Essas cláusulas são frequentemente usadas para desequilibrar a relação entre a empresa e o consumidor, restringindo direitos legais ou impondo obrigações excessivas. Governos e órgãos reguladores têm a responsabilidade de identificar e proibir cláusulas abusivas, a fim de garantir a justiça nas relações comerciais.
Na opinião de Cláudia, a Inteligência Artificial vai contra a motivação das principais tecnologias nesse sentido: “A grande função de uma inovação é garantir uma realidade mais justa, acessível e moderna para todos. Com esse maquinário de IA concentrado nas mãos dos mais ricos e elitizados, essa ferramenta pode ser usada para garantir relações mais desiguais ainda entre empresas bilionárias e consumidores, que muitas vezes não tem outras alternativas senão aceitar imposições”.
Esses são os principais limites que buscam de alguma forma regular o poder que as empresas têm sobre os consumidores através dos T&C. Cláudia encerra: “Claro que vemos no dia-a-dia diversos métodos que os chefes desse ramo usam para burlar essas regras e tentar maximizar suas vantagens. A Inteligência Artificial, apesar do nome, só existe quando há alguém por trás gerando seus interesses através dela. É claro que é importante que haja campanhas de conscientização a respeito dos T&C, mas é complicado exigir isso agora, em um mundo tão acostumado a só ‘concordar sem ler’ e tomado de assalto por essas novas tecnologias. Portanto, a curto prazo, o fundamental é se manter sempre atento ao que surge no mundo, além de sempre se colocar em jogo. A pergunta que deve ser feita é: ‘Como essa nova ferramenta pode me atingir? Como eu posso evitar que as consequências ruins disso cheguem até mim?’. O resultado disso já vai ser uma análise mais cuidadosa em relação a tudo que uma pessoa assina na vida”.







