Para Mércia Cristina, a ausência do celular trará um aproveitamento melhor dos conteúdos educacionais
por
Laila Santos
Tamara Ferreira
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09/06/2025 - 12h

Em 13 de janeiro deste ano, foi sancionada a lei nº 15.100/2025 pelo Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que limita o uso de celulares em escolas das redes pública e privada. O objetivo é diminuir os impactos negativos deste aparelho, como o vício em tecnologia, a falta de concentração e os prejuízos à saúde mental dos jovens. Não está proibido portar os dispositivos eletrônicos nas classes, mas sua utilização é apenas para emergências, necessidades de saúde e atividades pedagógicas que necessitam deles. Tudo fica sempre sob supervisão do professor. Essa 'brecha' tem levado muitos alunos a tentar burlar as regras, afirma Mércia Cristina de Freitas Andrade, inspetora de alunos em uma escola da rede pública, em entrevista à AGEMT. 

Com foco em diminuir o cyberbullying, que causa dificuldades nas relações interpessoais e no desempenho escolar, além dos problemas de sono e das questões psicológicas, as instituições de ensino tiveram que definir as estratégias de implementação da lei, inclusive em recreios e intervalos entre as aulas.   

Estudante com um celular em sala de aula
Estudante com um celular em sala de aula. Foto/Agência de Notícias Yonhap

Com a dependência em inteligências artificiais (IAs) atualmente, a funcionária do Educandário comentou se notou alguma diferença na aprendizagem dos alunos com a utilização desenfreada da internet e o acesso à inteligência artificial: "O uso de celulares e a utilização da IA, de certa forma, fez com que os alunos fizessem o uso demasiado de respostas e pesquisas prontas. Dessa forma, a aprendizagem e o aprimoramento da bagagem cultural foram seriamente comprometidos", ressalta. 

São Paulo foi o primeiro estado a adotar a medida, antes mesmo da criação da lei federal. Os regulamentos mais detalhados da implementação da legislação ficaram ao cargo do CNE (Conselho Nacional de Educação), órgão consultivo do Ministério da Educação (MEC), que decidiu dar autonomia aos colégios na maneira de armazenar e lidar com os aparelhos. Para Mércia, a proibição foi uma medida tardia, mas necessária e, com isso, os estudantes poderão fazer melhor uso do tempo e se concentrar melhor nos estudos. Ela cita: “Notei uma ligeira melhora nas relações humanas. Uma atenção mais direcionada às disciplinas, mas ainda uma resistência à proibição…" 

A entrevistada: Mércia Cristina
A entrevistada: Mércia Cristina de Freitas Andrade. Foto/Arquivo Pessoal

Essa atitude reflete um relacionamento não saudável com um dispositivo que era, praticamente, parte do material escolar e que está cada vez mais presente na vida social. Quando foi proibido, causou uma onda de irritação nos jovens, relata a inspetora.   

A partir de 2018, a Organização Mundial da Saúde (OMS) começou a reconhecer a dependência do celular e em outros meios digitais como um transtorno chamado nomofobia. Um estudo da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) diz que cerca de 25% dos adolescentes brasileiros são viciados na internet. Além disso, a Opinion Box traz os dados de que 95% das crianças do país, entre 10 e 12 anos, têm acesso a pelo menos um smartphone.  Com essa medida, espera-se que a escola volte a ser um ambiente de interação, que os estudantes voltem a ter uma aprendizagem mais fluida e que desenvolvam uma relação mais equilibrada com a tecnologia. 

Apontada como uma ferramenta no combate às mudanças climáticas, a nuclearização envolve questões colaterais complexas
por
Vítor Nhoatto
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30/05/2025 - 12h

O setor de energia respondeu em 2024 por 68% de toda a emissão de CO2 no mundo, segundo relatório da United Nations Environment Programme (UNEP). O gás é o principal causador do aquecimento global e precisa diminuir drasticamente nos próximos anos, apontando para a necessidade da chamada transição energética e descarbonização. Mudar a forma como se produz energia é um desafio, e a nuclearização ressurge como uma possível resposta.

A produção de energia a partir de material nuclear é antiga, e de forma simplificada funciona em algumas etapas. O combustível radioativo (urânio) tem seus átomos divididos no processo de fissão, liberando uma grande quantidade de energia que aquece a água em torno do reator e o vapor gerado acaba movimentando turbinas na usina que geram a energia. 

O que chama a atenção para a modalidade é a produção de grandes quantidades de energia com pouco material e baixa pegada de carbono em comparação aos combustíveis fósseis. De acordo com dados de 2020 da German Environment Agency levantados pela organização holandesa fundada em 1978, World Information Service on Energy (WISE), para cada Kwh gerado por usinas nucleares, cerca de 117 gramas de CO2 são emitidos. No caso do carvão e do gás natural as médias giram em torno de 950 e 440 gramas respectivamente. 

Cláudio Geraldo Schön, doutor em Ciências Naturais pela Universität de Dortmund, mestre em Engenharia Metalúrgica pela Universidade de São Paulo (USP) e professor titular na instituição destaca o potencial e a evolução nuclear com o passar dos anos. "Expandi-la poderia substituir as usinas termelétricas, diminuindo a geração de gases de efeito estufa [...] “o processo é continuamente atualizado, e resulta em avanços mesmo sendo uma tecnologia consolidada”.

Foi na extinta União Soviética que a primeira usina nuclear para uso doméstico começou a funcionar para contextualização, a Obninsk em 1954. Em seguida vieram outras, como a de Calder Hall no Reino Unido em 1956 e Shippingport nos Estados Unidos da América (EUA) em 1957. No Brasil, a usina Angra I foi a pioneira, com operações iniciadas em 1985.

Cinza e não verde

No entanto, o cinzento urânio traz um efeito não tão expressivo. Segundo a Agência Internacional de Energia (AIE), se a capacidade de produção nuclear triplicasse, a redução na emissão de CO2 do setor de energia seria cerca de apenas 6% devido principalmente à grande quantidade de carbono liberada na construção de reatores e usinas, que exigem grandes quantidades de recursos e décadas até começarem a funcionar, e para a mineração do urânio também. 

Além disso, a pegada de carbono das principais fontes renováveis de produção de energia são bem mais baixas que a nuclear. Ainda de acordo com o levantamento de 2020 da German Environment Agency, no caso da solar, cada Kwh emite algo em torno de 30 gramas de CO2, para a eólica a cifra é inferior a 10 e para a hidrelétrica de apenas 4 aproximadamente. 

Para o especialista sênior em energia nuclear e integrante da WISE International, Jan Haverkamp, a energia nuclear não é efetiva e nem tem a emergência climática como foco. “O uso do argumento climático é uma cobertura para outros interesses [...] os países com uso tradicional de energia nuclear não a desenvolveram devido às alterações climáticas, o fator inicial foi militar como EUA, China, Rússia e Brasil. Já para outros países era um sinal de importância, como no caso da Romênia, Bulgária e Coreia do Sul. Ou ainda visando a redução da dependência do petróleo como na Alemanha e Reino Unido, ou ainda uma tentativa fracassada de desenvolver uma fonte barata de energia como na Suécia e Canadá”.

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Última usina nuclear na Alemanha começou a ser demolida em 2023, mas novo governo de extrema-direita avalia reativar a base; “resumindo, para alguns é geopolítica” comenta Jan Haverkamp - Foto: Thomas Frey / DPA / Picture Alliance

Atualmente existem 437 reatores nucleares em funcionamento no mundo, que representam 14% de toda a energia gerada no mundo, de acordo com a World Nuclear Association (WNA). Os EUA ocupam a primeira posição do ranking com 96 unidades, com França, China e Rússia em seguida com 56, 55 e 37 cada, respectivamente. O país asiático tem planos inclusive de se tornar uma potência nuclear, e até 2035 ter o dobro da capacidade atual dos EUA. 

No caso do Brasil, a geração nuclear responde por apenas 2% da matriz energética, produzidos nas usinas Angra I e Angra II. Ambas fazem parte da Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto, ao lado da Angra III, ainda em obras, e o complexo começou a ser construído durante a ditadura militar no país.  

Aquilino Senra Martinez, doutor em Ciências da Engenharia Nuclear pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e ex-membro do Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia da Presidência da República explica as nuances da modalidade: “O seu uso para geração de eletricidade depende do contexto de cada país. Em lugares com alta demanda e poucos recursos renováveis, a sua expansão pode ser estratégica. No cenário das mudanças climáticas, ela não pode ser descartada, mas também não deve ser tratada como solução única".

Com dimensões continentais e clima tropical, o Brasil se destaca no cenário mundial justamente pelo seu potencial de produção energética renovável, e hoje é referência no quesito. O Balanço Energético Nacional (BEN) de 2024, feito pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE) em parceria com Ministério de Minas e Energia (MME), constatou que foi de 49% o índice de energia proveniente de fontes renováveis. 

Mesmo assim, no fim do ano passado a usina Angra I teve seu licenciamento para operação renovado por mais 20 anos pela Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), órgão do Governo Federal, e demandará investimento de R$3,2 bilhões nos próximos 3 anos. A continuação das obras de Angra III seguem em análise, mesmo com a administradora das usinas, a empresa de capital misto Eletronuclear, tendo uma dívida de R$6,3 bilhões com a Caixa e o Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES). 

As operações no terceiro reator foram paralisadas em 2015 e voltaram somente em 2022 após reajuste do orçamento, com 65% das obras concluídas. Isso demandou um investimento até então de R$7,8 bilhões, e apesar da conclusão não ter sido incluída no novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) anunciado em 2023, estima-se cerca de R$20 bilhões necessários para tal.

Para Rárisson Sampaio, porta-voz da Frente de Transição Energética do Greenpeace Brasil, essas cifras revelam como a nuclearização desvia dinheiro necessário das fontes renováveis e ameaça um desenvolvimento sustentável e acessível. “O investimento em usinas nucleares não se conecta com a realidade do país, que poderia direcionar tais recursos para outras áreas, fortalecendo políticas como o Luz para Todos, que garante acesso a fontes de energia limpa, segura e barata, combatendo a pobreza energética e alinhando-se aos ODS da Agenda 2030”, diz Sampaio. 

Criado em 2003, o programa do Governo federal tem como intuito universalizar o acesso à energia no país, especialmente em áreas afastadas e periféricas e já impactou 17,5 milhões de pessoas. Para essa nova fase, uma das frentes é justamente possibilitar a instalação de placas solares em domicílios de baixa renda. 

Jan Haverkamp, da WISE, defende como em muitos países o investimento na energia nuclear desvia efetivamente o foco e dinheiro para medidas concretas no combate às mudanças climáticas, o que não é verídico: “As fontes de energia renováveis ​​produzem atualmente mais energia do que a nuclear em todo o mundo, e essa quantidade continua aumentando. A geração nuclear está mais ou menos estável há 3 décadas. A Finlândia, por exemplo, está atrasada na implementação de energia eólica desde que decidiu construir a usina Olkiluoto 3, que sofreu um atraso significativo”.

Segurança x planejamento

De acordo com estimativas de 2024 da Agência Internacional de Energia, a demanda energética global aumentará 4% ao ano entre 2024 e 2025, cifra bem maior que os 2,5% registrados em 2023. Os principais impulsionadores serão o maior uso de ar-condicionado devido justamente às mudanças climáticas, a progressiva eletrificação da frota de veículos, imprescindível na descarbonização do setor, e pelo avanço das Inteligências Artificiais (IA). 

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Demanda por energia pelas big techs só cresce, tal qual o uso de água potável para resfriamento dos computadores, o que aponta para uma necessidade de consciência ao usar IAs e a internet -  Foto: Microsoft / Divulgação

Os data centers deverão mais que duplicar as suas necessidades de energia até 2030 segundo a AIE, ultrapassando em alguns anos a energia consumida pelo Japão. Corroborando com esses indicativos, o Ministério de Minas e Energias realizou um estudo que aponta para um aumento de 25% na necessidade de produção energética brasileira até 2034. Nesse cenário, uma questão levantada na transição energética é a segurança e expansão necessárias para a manutenção sadia da sociedade.

Carlos Schön argumenta sobre o papel da energia nuclear, portanto, e as questões em relação ao clima: “Nós produzimos muita energia, mas ainda é pouco considerando o tamanho do país [...] a energia nuclear é a principal aliada das fontes renováveis, justamente porque essas dependem de fatores extrínsecos (sol na geração fotovoltaica, vento na geração eólica) que por sua própria natureza são flutuantes”.

Uma vez extraído do solo, o urânio pode abastecer por décadas uma usina nuclear, as quais em média podem funcionar por 40 anos, com a possibilidade de extensão, como no caso de Angra I, em funcionamento desde 1985 e renovada até 2044. Tudo isso acontece também sem depender de fatores externos como o vento, que pode danificar as hélices das turbinas eólicas, as nuvens que afetam a produção solar e a variação dos reservatórios que impactam as hidrelétricas. 

Contudo, Ana Fabiola Leite Almeida, professora do Departamento de Engenharia Mecânica e Produção da Universidade Federal do Ceará (UFC) e Mestre em Química pela instituição, destaca que o problema reside no planejamento energético. Mesmo que a produção diminua, é algo manejável com vontade. “O risco não está nas renováveis em si, mas na falta de planejamento. Em cenários críticos, pode haver queda média de 20 a 40% na produção energética dependendo da região, mas com previsibilidade climática, diversificação geográfica e sistemas híbridos conseguimos mitigar esses efeitos”, explica Almeida.

Em períodos como de ondas de calor em que a demanda energética aumenta, fontes como as termelétricas passam a ter maior participação na produção de energia, e como são mais caras que as hidrelétricas, a conta de luz pressiona o bolso da população. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no acumulado de 2023 o aumento na tarifa foi de 9,52%, bem acima da inflação, de 4,62% no mesmo período. 

Relatório de 2024 do Tribunal de Contas da União (TCU) em parceria com a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e a Empresa de Pesquisa Energética aponta que a nuclearização não resolveria justamente essa questão. A energia nuclear produzida em Angra III aumentará em 2,9% a conta de luz por ano e custará à população até 77 bilhões em despesas na contratação se a obra for concluída.

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“Existe todo um investimento que pode ser perdido, mas não justifica a continuidade de Angra III. É o resultado do  mal planejamento e desalinhamento com a política energética aponta Rarisson do Greenpeace - Foto: Eletrobras / Divulgação

O mesmo estudo do TCU destaca que as despesas com a obra “parada” chegam a R$2 bilhões por ano e uma desistência definitiva custaria cerca de R$13 bilhões, menos que o montante necessário para conclusão. Países como Áustria, Portugal e Dinamarca não classificam a energia nuclear como uma fonte limpa, e Itália e mais recentemente Alemanha, desativaram seus reatores ainda em funcionamento.

No caso do Brasil em relação ao setor de energias, as renováveis se destacam em várias frentes. Segundo o “Atlas Eólico” de 2022 do governo do Espírito Santo em parceria com a Embaixada Alemã, o potencial de geração pelo vento somente no estado é de 160 GWh, quase um terço da demanda anual do país hoje.

A energia solar também é outro enorme potencial, levando em consideração que o Brasil é o país que mais recebe irradiação solar no mundo, até então desperdiçado. Em 2023 a companhia de consultoria BloombergNEF apontou que se as políticas de incentivo à modalidade permanecerem iguais, em 2050 a capacidade de geração será de 121 GW por ano. Na ocasião, o presidente da Associação Brasileira de Energia Solar (Absolar), Ronaldo Koloszuk, defendeu que isso pode acontecer ainda em 2040 com apoio e expansão do setor. 

Ana Fabiola destaca: "O Brasil tem um dos maiores potenciais renováveis do mundo, mas para isso precisamos investir em inovação, infraestrutura de rede, armazenamento e educação técnica [...] é preciso ter suporte de armazenamento, interligação entre regiões e tecnologias de resposta à demanda. As fontes renováveis podem sim suprir a demanda crescente se houver vontade política e investimento contínuo", afirma. 

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Maior parque solar do mundo fica em Minas Gerais e foi inaugurado em 2023, fazendo com que a capacidade do estado chegue a 8 GW por ano - Foto: Solatio / Divulgação

Potencial radioativo denso

Falando em demandas futuras e recursos para sanar problemas sem gerar mais, uma outra implicação da energia nuclear gira em torno dos resíduos perigosos da atividade. A World Nuclear Association aponta que o resíduo nuclear equivalente à demanda de uma pessoa por um ano é do tamanho de um tijolo. Pode não parecer tanto de início, mas o problema está na radioatividade do material. 

A meia vida do urânio 235, o tempo que o material leva para se desintegrar e deixar de ser extremamente radioativo, gira em torno de 700 milhões de anos. Durante esse tempo as substâncias líquidas e sólidas precisam ficar armazenadas e isoladas do mundo, seja em reservatórios subterrâneos, piscinas gigantes ou toneis de chumbo. Não existe hoje uma solução para esse material, e como os primeiros usos são do século passado apenas, respostas sobre o comportamento dele também não foram encontradas. 

Isso em si já acende um alerta pois relega uma questão das gerações passadas às futuras, e a possível fuga de material radioativo das usinas pode colocar em risco a segurança nacional com a produção de bombas. Mas olhando para a história mais uma vez, a situação se complica. Em 1986 ocorreu na atual Ucrânia o famigerado desastre nuclear de Chernobyl, zona até hoje inabitável. A explosão da usina contaminou uma área de milhares de quilômetros ao seu redor, causou milhares de mortes e adoeceu os que resistiram. Um caso mais recente foi em Fukushima no Japão em 2011, que apesar de menor e diferente, reforça o cuidado exigido. 

Aquilino Senra afirma que a questão é muito relevante no debate atual, mas avanços foram feitos e que não deve ser a única levada em consideração: “É essencial que seja considerado dentro de um contexto histórico e tecnológico, à luz dos avanços obtidos nas décadas subsequentes e da comparação com outras fontes de geração de energia, como as fontes fósseis, que também provocam milhares de mortes anuais em decorrência da poluição atmosférica”.

A Organização das Nações Unidas estima que por ano a poluição atmosférica mata entre 7 e 8 milhões de pessoas ao redor do mundo. Somente no ano de 2021, 8,1 milhões de pessoas morreram, além do fator contribuir decisivamente para o desenvolvimento de câncer de pulmão e doenças respiratórias. 

Fazendas de turbinas eólicas, sítios de placas solares e usinas hidrelétricas também estão sujeitas a acidentes e impactam o meio ambiente, mas em um grau muito menor. Além dos grandes desastres, existe a possibilidade de vazamento de material radioativo. No Brasil, por exemplo, a Comissão Nacional de Energia Nuclear constatou um caso em 2022 na unidade de Angra I, no qual a água contaminada chegou ao mar. Na ocasião, a Eletronuclear foi multada em mais de R$2 milhões de reais pelo órgão

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ONG fez protestos em frente a usina de Angra I e relembrou o desejo ilegal de milhões de litros de água contaminada pela usina em 1986 - Foto: Greenpeace Brasil / Divulgação

Rárisson do Greenpeace destaca: “a energia nuclear não tem lugar em um futuro seguro, limpo e sustentável. A energia nuclear é cara e perigosa. Apesar de oferecer energia não intermitente, há outras soluções no país que podem ser mais eficientes, seguras e baratas [...] só porque a poluição nuclear é invisível não significa que seja limpa, nessa conta toda, a energia nuclear é inexpressiva”.

Mesmo assim, nos últimos anos empresas e nomes do vale do silício floresceram no cenário da nuclearização em defesa dos chamados Small Modular Reactors (SMR), em tradução livre, pequenos reatores modulares. Segundo a Agência Internacional de Energia, as unidades menores podem ser uma solução para a demanda crescente por energia dos data centers, e por serem menores, construídos em uma fábrica e depois enviados ao local de destino, podem baratear os custos.

Com um tempo de construção diminuído para cerca de 5 anos em comparação aos reatores convencionais e cinco vezes menores em tamanho, o primeiro SMR instalado no mundo data de 2023 na China, o Linglong One. A capacidade do reator será de 1 GW quando entrar em operação regular segundo a Corporação Nacional de Energia Nuclear da China. Mesmo assim, de acordo um estudo independente da Universidade de Stanford que avaliou os dados preliminares da empresa norte-americana NuScale Power, mais lixo radiativo é gerado e há maior dispersão de energia no interior dos SMRs.

Os principais projetos na área ainda vão levar tempo também, com expectativa de começarem a operar em meados da próxima década apenas, como o da britânica Rolls Royce. Ainda existe a startup de Bill Gates, Terra Power, com expectativa que o seu reator em Wyoming, o estado menos populoso do país, entre em operação no começo de 2030. No entanto, nessa data as emissões de CO2 na atmosfera já deverão ter caído 42% para que o aquecimento fique em 1,5 graus celsius de acordo com o relatório de 2024 da United Nations Environment Programme.

 “Não é surpresa que tecno-oligarcas como Gates, Musk, Zuckerberg e Bezos sejam especialmente atraídos pelas ideias por trás de pequenos reatores nucleares modulares. Mas eles não percebem que essas tecnologias são fundamentalmente diferentes da internet ou mesmo das estruturas de energia renovável, incluindo armazenamento, com custos mais elevados em comparação com sistemas totalmente renováveis, tempos de desenvolvimento muito mais longos e sérios riscos”, alerta Jan Haverkamp da WISE International.

Esclarecendo dúvidas sobre os riscos em uma conversa com Luiz Padulla
por
Clara Dell'Armelina
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05/05/2025 - 12h

O mundo está farto de plástico. Estão presentes em utensílios, móveis, roupas e, agora, também nos alimentos, mas não para por aí, estudos recentes, como o feito por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), comprovam a existência de plástico acumulado no corpo humano. Estamos falando de microplásticos, pequenas partículas de plástico com dimensões inferiores a 5 milímetros causadoras de danos tóxicos aos seres vivos. 

A presença de plástico nos oceanos foi detectada pela primeira vez na década de 70 e só em 2004, com o pesquisador Richard Thompson, que tivemos o conhecimento dos "microplásticos". Entre 2010 e 2020 foi quando  identificaram a presença de microplástico em toda a cadeia alimentar, mas só a partir de 2023 que as pesquisas se voltaram para mapear seus impactos na saúde humana. O professor, biólogo, doutor e autor do blog "Biólogo Socialista", Luiz Fernando Padulla, conversa sobre o assunto com a repórter da AGEMT. Confira!

Pressão do governo Trump sobre instituições de ensino provoca medo sobre fuga de cientistas
por
João Paulo Moura
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05/05/2025 - 12h

Instabilidade é um rótulo que nenhuma nação deseja carregar. Seja na economia ou na educação, viver em um lugar de incertezas gera apreensão a todos. E, embora Donald Trump tenha recém completado 100 dias no cargo de presidente, graças às medidas adotadas, os cientistas se encontram em um mar de insegurança nunca vivido nestas últimas décadas. Columbia, Princeton e a Universidade da Pensilvânia sofreram com os cortes e ameaças de Donald Trump. Columbia teve US$ 400 milhões em subsídios federais suspensos devido à casos de assédio a estudantes judeus. Harvard foi uma das universidades que negou as demandas da Casa Branca.

Em consequência, no dia 14 de março, o Departamento de Educação anunciou o congelamento de US$ 2,3 bilhões em subsídios para a instituição. "Uma das grandes vantagens comparativas que os EUA tinha era sua capacidade de atração e fixação de cérebros de pesquisadores de outros países, principalmente do Sul Geopolítico”, diz Cristina Pecequilo, doutora em ciência política pela USP e professora de relações internacionais da UNIFESP. Assim, se os EUA deixarem de ser atrativos, os pesquisadores se moverão a outras nações, e com isso haverá uma perda de conhecimento de ponta”, ressalta Pecequilo em entrevista à AGEMT.    

As ações tomadas pelo governo Trump provocaram um temor generalizado entre os cientistas com medo de uma possível fuga de cérebros. O termo se refere ao processo de migração de pesquisadores, cientistas e profissionais altamente qualificados. Em pesquisa realizada pela revista Nature, dos 2000 pesquisadores consultados no levantamento, 75% consideram sair do país nos próximos anos. Desde que assumiu a presidência dos Estados Unidos no dia 20 de janeiro e, em seu primeiro dia de mandato, revogou 78 ordens executivas do governo anterior, retirou o país da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do acordo de Paris. Durante os três meses seguintes, as ações tomadas pelo governo se intensificaram, principalmente no setor econômico.  

Donald Trump segurando decreto no salão oval da casa branca
Donald Trump exibe decreto assinado no dia 20 de janeiro. Foto: Anna Moneymaker/Getty Images 

No dia 2 de abril, intitulado pelos republicanos como o “dia da libertação”, iniciou-se uma guerra comercial entre os EUA e o mundo. Com a meta de corrigir o déficit comercial internacional do país, o governo norte-americano impôs taxas a 185 países. As altas porcentagens geraram respostas das nações, principalmente por parte da China que revidou com um grande pacote de alíquotas sobre as commodities americanas. Mas as medidas não pararam somente no setor econômico. Dentro das universidades do país, o temor do corte de financiamento e da fiscalização do conteúdo dos cursos aumentou.

A tensão entre o governo Trump e as instituições de ensino superior se elevou a partir do mês de março. Investigações de programas de diversidade e inclusão foram abertas em 45 universidades, com exigências sobre a auditoria de conteúdos e as condutas de alunos em favor da Palestina. Em resposta a esse cenário, instituições e países ao redor do mundo começaram a se movimentar para atrair os cientistas que se encontram nos EUA. A Universidade de Aix-Marselha, localizada na França, lançou uma iniciativa chamada Safe Place for Science, que investirá 15 milhões de euros para apoiar 15 pesquisadores. A União Europeia lançou a campanha Choose Europe for Science, como um refúgio para a liberdade acadêmica. Bélgica, Holanda e países nórdicos vêm oferecendo bolsas e infraestrutura de ponta para pesquisadores norte-americanos. 

Além das universidades europeias, China e Índia se consolidam como potenciais concorrentes dos pesquisadores estadunidenses. “Eu destacaria a China como uma potencial concorrente, até porque basta lembrar que todos estes outros países, principalmente a França tem problemas com forças políticas conservadoras anticiência. Além dela, mencionaria igualmente a Índia, que tem investido pesadamente em ciência e tecnologia”, completa Pecequilo. 

Nos últimos anos, a China despontou como a líder mundial em número de artigos científicos publicados. Segundo Ministério de Ciência e Tecnologia da China, em 2024, o país destinou mais de US$ 496 bilhões para pesquisa e desenvolvimento. Esse valor corresponde a 2,68% do Produto Interno Bruto (PIB) chinês, sendo o segundo maior investidor mundial em pesquisas, atrás apenas dos Estados Unidos. 

A Índia também tem se destacado como uma potência emergente em ciência e tecnologia, apesar de ainda apresentar desafios estruturais. O país investe 0,64% de seu PIB em pesquisa e desenvolvimento. Entretanto, esse investimento tem crescido de forma constante, dobrando na última década. O governo indiano é o principal financiador, respondendo por mais da metade do total, com destaque para agências como o DRDO (Defesa), o Departamento de Espaço e o Departamento de Energia Atômica. 

Apesar das incertezas internas e das ameaças que pairam sobre o sistema científico dos Estados Unidos, a ciência mundial está encontrando novos centros. Essa reconfiguração global do conhecimento pode redefinir o papel dos EUA como epicentro da inovação e da produção científica.

Documentário I’m Not a Robot instiga o telespectador a refletir sobre a evolução das máquinas
por
Vítor Nhoatto
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08/04/2025 - 12h

Não sou um robô, uma etapa de checagem comum ao navegar na internet e uma sentença obviamente verdadeira, ou talvez não. O curta-metragem de co-produção holandesa e belga de mesmo nome, problematiza o chamado teste Captcha, quando a protagonista Lara (Ellen Parren, produtora musical, entra em uma crise existencial ao não conseguir provar sua humanidade.

Logo de cara o enredo de Victoria Warmerdam, também diretora da obra,  pode parecer apenas cômico, e a interpretação de Parren colabora para essa atmosfera. Os diálogos curtos e a indignação diante de uma suposta certeza de Lara prendem a atenção do telespectador ao fazer com que haja identificação com a situação. Provavelmente todos nós já erramos um destes testes simples em algum momento.

A história com pouco mais de 20 minutos continua com a indicação que a personagem tem a chance de ser 87% um robô, segundo um quiz online, e a essência incômoda da ficção científica começa a reluzir. Conversas entre humano e máquina existem há cerca de 60 anos, com a criação do chatbot Eliza, e com o avançar dos anos é cada vez mais comum, de fato.

Seja aquele número para marcar consultas ou o serviço de atendimento ao cliente das operadoras, a Inteligência Artificial rodeia as esferas da vida cotidiana e vem evoluindo rapidamente. Tome como exemplo o robô humanoide que já foi capa de revista e é considerada cidadã saudita, Sophia, da Hanson Robotics desenvolvido em 2015. Ou ainda os influencers virtuais com milhões de seguidores do Instagram hoje como a carismática Lu da empresa de varejo brasileira, Magazine Luiza.

Robô Sophia
Sophia foi inclusive ao Talk Show do apresentador norte-americano Jimmy Fallon - Foto: Hanson Robotics / Divulgação

Parece que a barreira entre o físico e digital, natural e artificial vem sendo quebrada, como aborda a obra de Margareth Boarini, “Dos humanos aos humanos digitais e os não humanos”, lançada em julho do ano passado pela editora Estação das Letras e Cores. O primeiro livro da doutora em tecnologias da inteligência e mestre em comunicação se aprofunda nesses casos de coexistência entre robôs e pessoas, porém, até onde se sabe as diferenças entre máquinas e humanos são perceptíveis, ainda. 

Mas como uma boa teoria de ficção científica, o documentário explora justamente um possível futuro da humanidade, em que máquinas e humanos serão indistinguíveis, A saga de Lara por respostas acaba com a revelação de que Daniël (Henry van Loon), marido da personagem, a encomendou sob medida há alguns anos, como se faz com uma roupa hoje.

Suas memórias, sentimentos e até mesmo relações com outras pessoas, ou robôs, são todas fabricadas, como uma versão muito mais avançada do robô Sophia. A comédia permeia a narrativa um tanto quanto impensável aos olhos de hoje, mas curiosa. A seriedade da executiva da empresa que fabricou Lara, Pam (Thekla Reuten) cria uma atmosfera cômica ao assunto, completada pela tranquilidade que Daniël fala sobre sua “aquisição”.

Parren entrega uma atuação que transborda indignação, e o trabalho cinematográfico é inteligente, com cortes que acompanham a visão de Lara. Sobre o ambiente que o filme se passa, todas as gravações foram no CBR Building em Bruxelas, e a ambientação feita com cores vibrantes e apenas carros de época no estacionamento propõe um contraste entre antigo e moderno, frio e robótico, quente e humano. 

O desfecho se dá com o desejo da protagonista de ser dona do próprio destino, relegando o fato de não poder morrer antes de seu “dono”. Isso pode ser visto talvez como uma negação em aceitar a única coisa que a diferencia de um humano, ou como uma mensagem da autora da obra sobre uma rebelião das máquinas.

Fato é que Lara se joga do topo do prédio, em um take muito inteligente por parte da direção ao filmar de cima, e que apesar de pesado e grotesco consegue ser engraçado e não desagradável aos olhos. Tal qual uma morte comum, há muito sangue saindo do corpo, as necessidades fisiológicas também são como de humanos, mas após alguns instantes a robô volta à vida.

Lara e Daniel em um Volkswagen Fusca azul
Com cinematografia cativante e enredo inesperado, é um Sci-Fi cômico e dramático - Foto: Indie Shorts Mag / Reprodução

Incômodo e perspicaz são boas palavras para definir a quinta produção de Warmerdam, que a fez faturar uma série de prêmios internacionais incluindo o Oscar de Melhor Curta-metragem deste ano. Sua produção também se destaca por ser carbono neutro, com o plantio de uma agrofloresta na Holanda para compensar as emissões de gás carbônico (CO2) da obra.

I’m Not a Robot está disponível de forma gratuita no YouTube desde o dia 15 de novembro de 2025 no canal The New Yorker, com legendas apenas em inglês ou holandês. Mesmo com essa barreira linguística, o choque final é inevitável, e a reflexão provavelmente também, se o seu cérebro não estiver se perguntando se você pode ser também um robô.

Simpósio internacional traz a história da internet e as perspectivas dos profissionais para o futuro da área
por
Beatriz C. Porto, Giovanna O. da Silva e Lorrane de Santana Cruz
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02/10/2023 - 12h

Nos dias 11 e 12 de setembro aconteceu o 2° TechnoIN - Simpósio Internacional em Tecnologias da Inteligência, desenvolvido pelo Grupo de Pesquisa em Transformação Digital e Sociedade, do Programa de Pós Graduação em Tecnologias da Inteligência e Design Digital. O objetivo do evento é criar um diálogo entre estudantes, pesquisadores e profissionais do Brasil e Canadá. 

No dia 12, o painel 2: A história da internet e a evolução da IA (Inteligência Artificial), contou com a presença de Claudio Pinhanez, Demi Getschko, Dora Kaufman, Solange Luz e Soumo Mukherjee. Os pontos principais desta palestra foram contar o surgimento da internet, o treinamento de IA e debater sobre o que poderá acontecer no futuro com a Inteligência Artificial.  

Demi Getschko é professor da PUC-SP, e abriu a palestra falando sobre a história da internet apresentando sua perspectiva profissional. "A internet começa a partir de uma pesquisa em um laboratório de pesquisas avançadas dos Estados Unidos, chamado Arpanet". Getschko, conta que conviveu com alguns dos pesquisadores da internet. "Tenho vários estudos desses pioneiros que estão vivos e eu tive a sorte de conhecê-los bem". 

Explicando um pouco, sobre o contexto histórico do que viria a se tornar internet e como funcionava ele explica: "certamente a Arpanet nasceu com o dinheiro militar, é um projeto feito com o financiamento militar, assim como o GPS".  "Arpanet era uma rede de troca de pacotes o software original servia para realizar essas trocas. Quando mudado, foi implementado no lugar dele um conjunto chamado TCP ou TCPI". Esse IP foi nomeado de internet protocol, ou seja, protocolo de internet. 

Já Claudio Pinhanez, do IBM Research Brasil, contextualizou a história da Inteligência Artificial no mundo. "Vou tentar falar sobre IA como alguém que trabalha há 35 anos nessa área. Comecei a trabalhar em torno de 1987, antes do Brasil entrar na bitnet". Ele continua, "eu gostaria de usar esse espaço para a gente entender o que está acontecendo em Inteligência Artificial e todo esse enorme fuzuê que ronda o assunto, já que todo mundo virou especialista sobre o assunto". 

Tentando desmentir conspirações e fakes news criadas sobre esse tema, ele verbaliza, "É preciso dar um contexto para colocar calma, paciência e a gente se conter um pouco no que a gente está falando sobre IA". 

Apesar de um debate muito atual no meio digital, a inteligência artificial não é algo criado e pensado recentemente. "O que está acontecendo na IA não é novo, nós estamos na quarta, quinta onda com excitação em volta do assunto". Ainda falando sobre o seu trabalho, Pinhanez conta sobre uma exposição que aborda inteligência artificial. "A IBM atuou com o Museu Catavento, nós montamos uma exposição para ensinar a respeito da IA para crianças e famílias. Eu montei um mural com os momentos que considero importantes". 

Voltando algumas décadas, mais especificamente em 1950, Cláudio conta que já havia pesquisas sobre as máquinas inteligentes. "O pesquisador britânico Alan Turing, ficou intrigado ao mexer com sistemas avançados de computação no contexto da época, ele pensou na ideia de que esses sistemas iriam virar inteligentes". Algumas décadas depois, em 1990 o profissional da IBM, diz que é uma época interessante e que se os problemas eram as máquinas, era necessário adicionar mais máquinas. O aprendizado dessas tecnologias é uma característica muito forte". 

E por fim, o último convidado foi o professor da Toronto Business College, Soumo Mukherjee. Que iniciou sua participação dizendo concordar com os demais participantes do painel. "Primeiro eu gostaria de dizer sobre as duas fases da internet, quero falar do passado e do futuro. Nós temos uma especulação sobre a ideia de enciclopédia final, ela seria um repositório de informações humanas. Mas eu aprendi que isso não existe, é apenas uma teoria sobre ficção". 

Ainda sobre essa teoria Soumo diz que, "essa ficção está ali já quase imediata, duas décadas depois nós tínhamos a Wikipedia, e ela não está na nuvem". Finalizando, o professor Mukherjee explora o assunto IA. "Agora nós temos um crescimento explosivo de inteligência artificial, não tem singularidades, mas os trabalhos estão mudando isso é uma realidade. Isso é trabalho para cientistas de dados, e o que devemos fazer é procurar soluções para assim ter dados de uma forma rápida, que possam ser processados", completa o professor.

 

Rock in Rio e The Town viralizam graças à tecnologia e a inteligência artificial
por
Isabella Santos
Sophia Pietá
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02/10/2023 - 12h

Os festivais de música são uma forma de entretenimento que vem se tornando grandioso a cada ano. Rock in Rio, Lollapalooza, The Town, Tomorrowland, são grandes exemplos que procuram trazer para o público a música, diversão e tecnologia. Sempre inovando, a indústria do entretenimento procura se reinventar trazendo novidades para uma experiência única ao público. No século da tecnologia marcado por celulares, redes sociais e inovações, a organização dos maiores festivais busca se encaixar nesse padrão. Com pontos de carregamento para smartphones, aplicativos em tempo real, ativações publicitárias e transmissões ao vivo, os eventos se tornaram mais confortáveis e adaptáveis à realidade da atual sociedade. 

No Rock in Rio 2022, por exemplo, foi criado um aplicativo do festival que possibilitava os presentes no evento acessassem informações em tempo real com os horários dos shows do dia, o palco indicado, ferramentas exclusivas aos PCDs, horário de chegada e saída dos ônibus do evento, marcas parceiras e agendamento das atrações extras. Esse aplicativo se tornou tendência entre os festivais, pela fácil acessibilidade e modernidade. Já nos shows, os artistas procuram a cada ano inovar em suas apresentações com novidades tecnológicas e multissensoriais. “Eu vejo que esse tipo de show com experiências visuais e sensoriais tem conquistado cada vez mais o público. O fato de o artista interagir com a plateia de formas diferentes acaba gerando uma maior conexão ali. As experiências sem dúvidas são únicas e inesquecíveis, mas acaba deixando uma expectativa ainda maior de surpreender nas próximas apresentações” conta para a AGEMT, a assessora de imprensa Maria Fernanda Moog, que trabalha com artistas como Alok, Claudia Leitte, Matuê e Vitão.  

Durante a passagem ao Brasil, a banda britânica Coldplay esgotou os ingressos do Rock in Rio do dia 10 de setembro de 2022 e entregou ao seu público um show personalizado que contava com pulseiras de led programas para mudar de cor de acordo com as batidas das músicas. Eles são pioneiros nesse tipo de tecnologia que envolve o público durante toda a apresentação. 

 

fonte: reprodução

O show de Alok na primeira edição do The Town contou com mais de 42 máquinas de lasers, batendo o recorde de maior quantidade de máquinas em um show. Além disso, ele também utilizou drones especiais para formar projeções no céu causando impacto no público e na imprensa, considerado um dos melhores shows do dia. "Quando se oferece uma experiência diferenciada para o público chama muito mais atenção da imprensa e, consequentemente, dos compradores. Porém, quando o artista já traz o mesmo formato de show há um tempo, acaba sendo mais do mesmo na divulgação, então neste caso, o ideal é divulgar em formato de turnê, falando sobre todas as praças que serão atendidas e os diferenciais dessas apresentações", explica Moog.

A grande tendência deste ano, a inteligência artificial, já está começando a ser utilizada em shows. No The Town ela marcou presença na apresentação do rapper Matuê em que a voz de sua avó, a poeta Núbia Brasileira, foi recriada através da IA para recitar seus poemas e conselhos. Para concluir, essa projeção foi utilizado uma base de gravações antigas para colocar sua voz de volta à vida com base no tom de voz e emoções ao falar, ficando o mais fiel possível a voz real de sua avó.  

Moog acredita que cada vez mais os artistas têm apostado e seguirão com estratégias envolvendo ideias inovadoras para trazer um maior diferencial em suas apresentações. Seja através de show de luzes,  projeções de vídeos e imagens em tela no palco, etc. Participando do processo do show de Matuê a profissional pode afirmar que essas tecnologias auxiliam na aproximação com o público e trazem experiências únicas à plateia.

A tecnologia mudou a maneira de conhecer pessoas e de se apaixonar, mas será que ela é tão eficiente quanto o romance à moda “antiga”
por
Catarina Pace
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02/10/2023 - 12h

À medida que a tecnologia avança, outras partes da vida pessoal também são determinadas por ela, e o romance não escapou dessa vez. Antigamente, o romantismo não era algo para se descartar, pelo contrário, os casais tinham um compromisso maior com os valores e família, mas também demonstravam que o amor era real. Com o tempo, tudo mudou, e por bem ou por mal, os relacionamentos também. 

Só o Tinder -- um dos aplicativos de namoro mais usados no mundo -- coleciona mais de 75 milhões de usuários ativos mensais. E suas motivações para buscar relações através de APPs são diversas, inclusive por impulsividade, auto estima ou realmente a de encontrar um namorado ou namorada. Em entrevista para AGEMT, um usuário do Tinder que preferiu não ser identificado, não descarta a opção de conhecer um futuro namorado (a) pelo aplicativo: "Eu acho que as pessoas que estão em um aplicativo de namoro, estão querendo algo mais casual, para matar a carência. Mas mesmo assim, tem pessoas que estão buscando algo mais sério nesses aplicativos. Eu já me relacionei emocionalmente em alguns APPs de relacionamento que deram muito certo, e foi muito bom”, declarou.

Segundo uma pesquisa da Pew Research de 2023, cerca de 50% de todos os adultos com menos de 30 anos já usaram algum site ou aplicativo de namoro. Mas ao longo do tempo, esses apps de paquera foram saturando, principalmente porque os matchs eram baseados em fotos, reforçando um estereótipo. Agora, a maioria deles está usando Inteligência Artificial para que as combinações sejam mais perfeitas. Alguns usam testes de personalidade e de tipo físico para que os filtros fiquem cada vez mais certeiros na hora de dar um match com a pessoa ideal.  

Eles estão cada vez mais inovadores em suas funções de cupido, mas será que é possível que possam identificar uma verdadeira conexão amorosa? O rastreamento de emoções não é algo totalmente fora da realidade, muitas empresas e aplicativos já fazem isso através de relógios que calculam frequência cardíaca, por exemplo. Mas essas ferramentas não conseguem dizer uma das maiores questões para os casais: saber se um relacionamento pode durar. 

Para a estudante de psicologia e usuária ativa do Tinder, Maria Laura Souza, o aplicativo abre portas, mas se mal utilizado, vira um APP de pessoas descartáveis. “Na era do amor líquido e dos relacionamentos virtuais, os indivíduos passam a manter vínculos afrouxados a fim de desfazê-los rapidamente", é um trecho do artigo “O amor nos tempos do Tinder". Algumas pessoas acabam se validando por quantos matchs possuem, ou se as pessoas que elas gostam, curtem ela de volta.”, disse ela. 

Autora: Catarina Pace
Imagem: [Reprodução/LT Latercera] 

Um dos exemplos mais recentes sobre a combinação IA e amor, é o aplicativo Aimm, um tipo de casamenteiro digital que usa uma assistente virtual para realizar avaliações intensas de personalidade antes de “conduzir” o usuário a um casamento. Ele ajuda a encontrar a combinação ideal. Mas como um computador pode saber o que é o verdadeiro amor humano? A paixão pode ser traduzida perfeitamente através de uma máquina? 

Só o futuro poderá dizer. Até hoje, os computadores funcionam através de bases de dados e algoritmos, juntando todas as informações sobre um usuário e suas atividades dentro do aplicativo. Se as inovações continuarem nesse ritmo, não seria impossível um computador identificar um sentimento. 

Os APPs de relacionamento usam uma tecnologia chamada aprendizado por reforço, que aprende com o mecanismo de avaliação dos próprios usuários na plataforma e relatos sobre as experiências nos encontros. Além dele, as plataformas podem adotar ainda, mecanismos de rastreamento baseados no comportamento do usuário dentro do aplicativo, como a frequência de mensagens, tipos de perfis visitados e a duração das interações. Tudo que é captado vai para a base de dados do aplicativo, e cada vez mais, há a chance de acontecer um match muito bem combinado. 

Para o usuário anônimo, os aplicativos de relacionamento não servem para substituir sentimentos e atitudes reais, mas eles vêm para somar. “Eu acho que as coisas acontecem naturalmente mesmo quando é online. Acredito que até hoje existe um tabu sobre conhecer as pessoas online, como se fosse algo ruim, pejorativo. E eu acho que encontrar pessoas na rua, no dia a dia, na vida real, é mais legal, tem uma certa mágica. Mas as relações que se constroem não dependem do como você conheceu a pessoa, a única coisa que muda é essa magia do primeiro encontro, por exemplo. Eu acho que pouco importa como você a conheceu na hora de construir uma relação.”, conclui. 

A educadora sexual e especialista em relacionamentos, Sham Boodram toca em um ponto importante na série O Futuro (Netflix, 2023). Ela diz que "mesmo que a inteligência artificial seja uma ótima ferramenta para ensinar as pessoas a ter boas conexões, ela pode acabar evitando que essas pessoas aprendam a fazer boas relações por si só: Elas tem um programa que vai fazer isso pra elas, ao invés de você mesmo fazer”, diz Sham.

Há um certo medo implícito em ficar dependente dessa tecnologia nas relações pessoais e amorosas, principalmente por ser uma ferramenta frequentemente usada para conhecer pessoas novas e sair do seu próprio círculo social, o que pode ser um grande problema. Esses APPs ainda não são capazes de impedir completamente problemas como encontros frustrados, discriminação, racismo e assédio e podem reforçar pré conceitos que usuários não demonstravam antes deles. 

A tecnologia pode ser vista como um facilitador de muitas tarefas diárias, até para o amor. Maria acredita que eles apresentam certos benefícios como o de iniciar novas conversas e ciclos, e expor pessoas a lugares que seu ciclo social não as levaria. “Um malefício, eu diria a superficialidade das relações, a sensação de que você pode ser descartado e a necessidade de validação por ter o melhor perfil para poder encontrar outras pessoas.”, concluiu a estudante. 

É difícil prever as próximas inovações da IA dentro dos aplicativos de relacionamento, mas que vão facilitar o encontro de duas pessoas  compatíveis, é algo certo. Cada vez mais certeiros nos matchs, os aplicativos podem ser um ponto de partida para um bom romance ou para uma grande decepção amorosa, coisas que só os humanos conseguem sentir, por enquanto. Agora, basta esperar e ver (ou experimentar) qual será a próxima descoberta que as IAs farão no mundo do amor.

Como a tecnologia pode impactar costumes tradicionais conhecidos mundialmente
por
Fernando Muro Schwabe
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02/10/2023 - 12h

A morte é algo presente na vida de todo ser humano. Esse fenômeno desperta diferentes emoções, reflexões e crenças em diferentes culturas, religiões e indivíduos. Recentemente, com ajuda da inteligência artificial, diversas pessoas têm a possibilidade de serem “recriadas”. Apesar de parecer loucura, bastam apenas áudios e imagens e diversas ferramentas podem “renascer” alguém. Esse novo “avanço” colocou em pauta a discussão sobre a permissão do uso da ferramenta e como diferentes culturas poderiam ser impactadas.

Para o povo Trojan, que vive em uma região central em uma das milhares de ilhas da Indonésia, é comum ver os cadáveres dos entes que já partiram  dentro das casas. Isso acontece para que a família possa arrecadar o dinheiro suficiente para organizar um funeral digno. Em outras regiões do sudeste asiático, os defuntos são vestidos e levados para fazerem atividades que eram rotineiras na vida da pessoa, como por exemplo fumar um cigarro ou assistir ao pôr-do-sol. Em uma reportagem da BBC Brasil, a equipe foi até a região onde habitam os Trojans e visitaram uma das casas.

Ao chegar lá, a equipe pergunta se pode falar com o pai de uma das meninas. A jovem trata o já falecido pai como se ainda estivesse vivo, mesmo tendo partido a mais de 10 anos: “Pai, o senhor tem visita. Espero que você não se incomode.”

Cultura Trojan
Homem da cultura Trojan está morto a mais de 10 anos e segue vivendo em sua casa (Foto: Reprodução/BBC)

No Brasil, um dos recentes casos de recriação de falecidos ganhou notoriedade. Trata-se do produtor João Lee, de 44 anos, que utilizou da ferramenta para recriar a voz de sua mãe, a famosa cantora Rita Lee, que faleceu em maio deste ano. É muito comum encontrar recriações, principalmente vocal, de famosos nas redes sociais, majoritariamente no Tik Tok. Não é raro ver vídeos onde o já falecido Michael Jackson canta músicas do artista Bruno Mars ou até mesmo cantando músicas em português. Até mesmo o astro brasileiro Neymar Jr. virou cantor na rede social. 

Outro país que tem uma ligação cultural muito forte com a morte é o México. No país latino, ao contrário de muitos países, o feriado do Dia dos Mortos é uma data feliz. Tradicionalmente, nos dias 1º e 2 de novembro, milhares de pessoas saem pelas ruas fantasiadas, com músicas e comidas típicas. Apesar dessas culturas passarem por diversas gerações, a possibilidade de recriar uma pessoa que faleceu, através da inteligência artificial, poderia mudar essas comemorações para sempre. Com isso, buscamos entender e buscar a opinião de pessoas que vivem nestes países e nessas culturas. 

Em entrevista para a AGEMT, o mexicano Axel Solalinde, de 22 anos, opinou sobre a possibilidade das pessoas falecidas serem recriadas por inteligência artificial: “Acho que é uma forma muito legal de homenagear os falecidos, pois com a tecnologia poderíamos recriá-los em qualquer fase da vida deles”. O jovem também comentou sobre como essa nova tendência poderia impactar na tradicional cultura mexicana do Dia de Los Muertos: “Eu não acho que isso mudaria, mas seria uma ‘atualização’ do que já conhecemos. Não vejo problemas em usar a tecnologia atual, já que a celebração consiste em lembrar que a morte, que faz parte da vida, e em honrar a memória de nossos entes queridos. Podemos usar a inteligência artificial para inovar esta celebração”. 

 

Dia de los Muertos
Tradicional celebração do Dia dos Mortos no México (Foto: Reprodução/ National Geographic)

De fato, no caso da cultura mexicana, a inteligência artificial pode dar uma “nova versão” à tradicional comemoração. Entretanto, é necessário a permissão dos familiares ou a permissão do próprio falecido, em um testamento ainda em vida. Definitivamente, o futuro sobre as comemorações típicas da morte e como as culturas seguem suas tradições é incerto. A tecnologia é uma grande aliada para essa e para as próximas gerações, mas é impossível assumir se a recriação de pessoas que já faleceram fará ou não parte da cultura e do dia a dia das pessoas. 

 

 

Uso de IAs traz facilidades, mas pode causar desemprego na área de programação
por
Lucas Gomes
Matheus Marcolino
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21/11/2023 - 12h

Todos os dias, por volta das 7h00min, André chega no trabalho, toma café e se posiciona em sua mesa. Depois de uma reunião com o restante da equipe, começa a escrever - é assim que ele e outros do ramo da programação chamam a prática de desenvolver linhas de códigos. Em meio a trabalhos mais abstratos e diferentes, surgem demandas mais básicas, que precisam de mais execução que criatividade; nesses momentos, ferramentas de inteligência artificial são acionadas. André Luís deixou o Recife-PE há quase quinze anos. Em São Paulo, encontrou oportunidades de estudo e trabalho. Trabalha na mesma empresa, do ramo de tecnologia, desde 2018, em muitas funções. Já foi auxiliar administrativo, mas hoje trabalha numa função que lhe agrada mais: é um desenvolvedor júnior, responsável pela programação  de softwares para outras empresas, fato que comprova o crescimento do mercado tecnológico.

Essas tecnologias estão assumindo cada vez mais protagonismo na área de programação - e assustam: uma pesquisa recente da Microsoft aponta para esse cenário: 49% dos entrevistados estão preocupados com a possibilidade de serem substituídos por inteligência artificial. Economistas do banco Goldman Sachs, estimam que 300 milhões de empregos poderão ser totalmente automatizados com esse tipo de ferramenta. O setor de programação e desenvolvimento, entretanto, não é o único mercado afetado pela tecnologia nos últimos anos. Ricardo Antunes, sociólogo, escritor e professor da Unicamp, considerado o maior especialista em trabalho do Brasil, conta que alguns dos muitos trabalhadores impactados por tecnologia são os entregadores e motoristas de aplicativo.

Esses profissionais passam por um processo chamado de “trabalho intermitente”. Os aplicativos dão duas escolhas ao trabalhador: ou recebe, ou descansa. Se o entregador parar para descansar e fechar o app, não será recomendado para uma entrega tão cedo; se o motorista recusa corridas para almoçar, idem. “Entre o almoço e a janta, e entre o café da manhã e o almoço, são horários com menos demanda. Eles [entregadores] ficam parados e não recebem. É criminoso, mas é assim que funciona. E o fato de ser intermitente faz com que os algoritmos paguem o que quiserem, explica Ricardo Antunes.

Apesar das críticas, o pesquisador diz não ser contra o avanço tecnológico, e sim contra o modelo capitalista vigente. “A tecnologia existe na humanidade desde o primeiro microcosmo familiar. O capitalismo mudou a tecnologia para ser um instrumental para acumulação de mais riqueza”, afirma.

UNIVERSO DA PROGRAMAÇÃO

André é especialista em “C#” (a pronúncia é C Sharp), uma das várias linguagens de programação existentes, assim como Java, HTML e Python, por exemplo. Ele conta que a parte mais difícil de seu trabalho não é escrever os códigos, e sim decifrar como “traduzir” uma ideia inicial na linguagem de programação. “Você tem que escrever algo que outros programadores possam entender, pra que eles não gastem dias tentando decifrar seus códigos”, conta. Há algumas estratégias para isso.

As inteligências artificiais ajudam, principalmente, na execução de tarefas repetitivas que demorariam muito mais para serem concluídas sem o uso delas. André conta que, quanto mais específico o pedido para a IA, maiores são as chances de um desempenho satisfatório. A assertividade de uma inteligência artificial depende dos dados que ela recebe. Vinicius Cassin, 29, também é desenvolvedor e trabalha como SRE (sigla em inglês para engenheiro de confiabilidade de sites) para a BEES, célula tecnológica da Ambev. Ele passou a utilizar inteligência artificial no dia a dia do trabalho há seis meses; desde então, o ganho foi tanto que a empresa resolveu adquirir uma versão do ChatGPT, da Open AI, para uso interno - e parar de fornecer dados para a versão aberta do site.

“O ChatGPT é assustador”, conta Vinicius. “Há muita coisa que eu não sei, e que em vez de comprar um curso para resolver um problema, eu só digitava lá e ele fazia para mim”. Ele relata que usa a IA como um bom apoio no desenvolvimento de sua função.

 

O MEDO

Em recente visita ao Brasil, Sam Altman, cofundador da Open AI, empresa criadora do ChatGPT, admitiu que, sim, o mercado de inteligência artificial vai causar desemprego: "Achamos que muitos empregos vão desaparecer, isso acontece em toda revolução tecnológica, mas muitos empregos vão melhorar. Eu acho que vamos ver impacto em todos os lugares. A sociedade pode regulamentá-la, mas não vai impedir isso de acontecer", afirmou o ex-executivo que foi contratado pela Microsoft para desenvolver projetos de IA. 

Apesar do uso majoritariamente positivo das IAs, André Luís admite que essas tecnologias assumem funções básicas que anteriormente eram realizadas por programadores humanos. O GitHub Copilot, por exemplo, é um serviço de inteligência artificial que pode substituir facilmente um auxiliar ou um funcionário de suporte em alguns casos.

Ricardo Antunes afirma que, mesmo com seus evidentes benefícios, as inteligências artificiais tem um objetivo claro: substituir o trabalho humano - e isso pode causar um desemprego monumental. Para ele, as IA's são "um demônio contra a humanidade" quando poderiam ser um instrumento favorável - isso, porém, depende do sistema que molda a inteligência artificial. Hoje, é o "capitalismo destrutivo".  Ele também conta que o cenário é mais preocupante do que a Open AI assume ser, e dá um exemplo hipotético: para cada 100 empregos eliminados, surgirão outros dez. A conta não fecha. É por isso que Elon Musk, dono do Twitter, e outras grandes high techs como Google, Microsoft e Amazon assinaram uma carta (divulgada em março de 2023) pedindo que os laboratórios de IA “parem imediatamente” o treinamento de sistemas mais poderosos que o ChatGPT4. É muito fácil se iludir com os primeiros passos. O capitalismo agora teme sua criação.