Documentário I’m Not a Robot instiga o telespectador a refletir sobre a evolução das máquinas
por
Vítor Nhoatto
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08/04/2025 - 12h

Não sou um robô, uma etapa de checagem comum ao navegar na internet e uma sentença obviamente verdadeira, ou talvez não. O curta-metragem de co-produção holandesa e belga de mesmo nome, problematiza o chamado teste Captcha, quando a protagonista Lara (Ellen Parren, produtora musical, entra em uma crise existencial ao não conseguir provar sua humanidade.

Logo de cara o enredo de Victoria Warmerdam, também diretora da obra,  pode parecer apenas cômico, e a interpretação de Parren colabora para essa atmosfera. Os diálogos curtos e a indignação diante de uma suposta certeza de Lara prendem a atenção do telespectador ao fazer com que haja identificação com a situação. Provavelmente todos nós já erramos um destes testes simples em algum momento.

A história com pouco mais de 20 minutos continua com a indicação que a personagem tem a chance de ser 87% um robô, segundo um quiz online, e a essência incômoda da ficção científica começa a reluzir. Conversas entre humano e máquina existem há cerca de 60 anos, com a criação do chatbot Eliza, e com o avançar dos anos é cada vez mais comum, de fato.

Seja aquele número para marcar consultas ou o serviço de atendimento ao cliente das operadoras, a Inteligência Artificial rodeia as esferas da vida cotidiana e vem evoluindo rapidamente. Tome como exemplo o robô humanoide que já foi capa de revista e é considerada cidadã saudita, Sophia, da Hanson Robotics desenvolvido em 2015. Ou ainda os influencers virtuais com milhões de seguidores do Instagram hoje como a carismática Lu da empresa de varejo brasileira, Magazine Luiza.

Robô Sophia
Sophia foi inclusive ao Talk Show do apresentador norte-americano Jimmy Fallon - Foto: Hanson Robotics / Divulgação

Parece que a barreira entre o físico e digital, natural e artificial vem sendo quebrada, como aborda a obra de Margareth Boarini, “Dos humanos aos humanos digitais e os não humanos”, lançada em julho do ano passado pela editora Estação das Letras e Cores. O primeiro livro da doutora em tecnologias da inteligência e mestre em comunicação se aprofunda nesses casos de coexistência entre robôs e pessoas, porém, até onde se sabe as diferenças entre máquinas e humanos são perceptíveis, ainda. 

Mas como uma boa teoria de ficção científica, o documentário explora justamente um possível futuro da humanidade, em que máquinas e humanos serão indistinguíveis, A saga de Lara por respostas acaba com a revelação de que Daniël (Henry van Loon), marido da personagem, a encomendou sob medida há alguns anos, como se faz com uma roupa hoje.

Suas memórias, sentimentos e até mesmo relações com outras pessoas, ou robôs, são todas fabricadas, como uma versão muito mais avançada do robô Sophia. A comédia permeia a narrativa um tanto quanto impensável aos olhos de hoje, mas curiosa. A seriedade da executiva da empresa que fabricou Lara, Pam (Thekla Reuten) cria uma atmosfera cômica ao assunto, completada pela tranquilidade que Daniël fala sobre sua “aquisição”.

Parren entrega uma atuação que transborda indignação, e o trabalho cinematográfico é inteligente, com cortes que acompanham a visão de Lara. Sobre o ambiente que o filme se passa, todas as gravações foram no CBR Building em Bruxelas, e a ambientação feita com cores vibrantes e apenas carros de época no estacionamento propõe um contraste entre antigo e moderno, frio e robótico, quente e humano. 

O desfecho se dá com o desejo da protagonista de ser dona do próprio destino, relegando o fato de não poder morrer antes de seu “dono”. Isso pode ser visto talvez como uma negação em aceitar a única coisa que a diferencia de um humano, ou como uma mensagem da autora da obra sobre uma rebelião das máquinas.

Fato é que Lara se joga do topo do prédio, em um take muito inteligente por parte da direção ao filmar de cima, e que apesar de pesado e grotesco consegue ser engraçado e não desagradável aos olhos. Tal qual uma morte comum, há muito sangue saindo do corpo, as necessidades fisiológicas também são como de humanos, mas após alguns instantes a robô volta à vida.

Lara e Daniel em um Volkswagen Fusca azul
Com cinematografia cativante e enredo inesperado, é um Sci-Fi cômico e dramático - Foto: Indie Shorts Mag / Reprodução

Incômodo e perspicaz são boas palavras para definir a quinta produção de Warmerdam, que a fez faturar uma série de prêmios internacionais incluindo o Oscar de Melhor Curta-metragem deste ano. Sua produção também se destaca por ser carbono neutro, com o plantio de uma agrofloresta na Holanda para compensar as emissões de gás carbônico (CO2) da obra.

I’m Not a Robot está disponível de forma gratuita no YouTube desde o dia 15 de novembro de 2025 no canal The New Yorker, com legendas apenas em inglês ou holandês. Mesmo com essa barreira linguística, o choque final é inevitável, e a reflexão provavelmente também, se o seu cérebro não estiver se perguntando se você pode ser também um robô.

Cientistas brasileiros deixam o País em busca de melhores oportunidades no mercado científico
por
Brenda Martins
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19/11/2024 - 12h

Por Brenda Costa Martins

 

Enquanto nossos melhores pesquisadores são acolhidos por laboratórios estrangeiros e embarcam em direção aos países que valorizam a academia e a ciência, ficamos à margem das grandes inovações e descobertas científicas, como espectadores de um progresso que poderíamos estar liderando. A formação de cientistas no Brasil enfrenta uma crise profunda, marcada não por apenas dificuldades estruturais como a escassez de equipamentos em Universidades e laboratórios, mas também pela falta de incentivo à estudantes para que sigam na área acadêmica de pesquisas, além das oportunidades limitadas desse marcado no país. Nos últimos anos, temos assistido a uma crescente “fuga de cérebros” — fenômeno em que profissionais qualificados, principalmente cientistas e pesquisadores, optam por desenvolver suas carreiras no exterior, sendo atraídos por melhores condições de trabalho e valorização profissional. Fuga que tem sido alimentada pela escassez de investimentos no campo da ciência e da tecnologia no país.

Desde 2015, cortes orçamentários intensos afetaram diretamente a manutenção de bolsas de estudo, o financiamento de projetos de pesquisa, bem como a continuidade de programas de pós-graduação em diversas áreas. Com menos verbas, muitos laboratórios foram fechados e projetos interrompidos, situação que acabou por criar um ambiente de insegurança e instabilidade para jovens pesquisadores que desejam contribuir com o avanço científico no país.

Nos centros de excelência, como a Universidade de São Paulo (USP), Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), e a Universidade Federal do ABC (UFABC) doutores e mestres formados com alto nível de competência se deparam com um mercado de trabalho retraído. Apesar de contar com instituições de ensino que formam profissionais altamente capacitados, os cortes e as limitações severas no mercado de trabalho continua a fazer com que esses cérebros embarquem para o exterior buscando oportunidades de maior rentabilidade e visibilidade pois para muitos desses cientistas, o ambiente brasileiro se mostra inviável para o desenvolvimento de suas carreiras.  Mesmo entre os profissionais que conseguem uma colocação, as condições de trabalho são frequentemente limitadas, com infraestrutura insuficiente e salários que não condizem com o nível de formação e as exigências da carreira científica.

Esse êxodo de cientistas gera impactos econômicos e sociais observados em longo prazo. Ao investir na formação desses profissionais e, em seguida, vê-los partir para outros países, o Brasil perde o retorno desse investimento, bem como a possibilidade de desenvolver inovações e avanços tecnológicos que poderiam impulsionar setores como saúde, agronegócio e tecnologia. Fato que evidencia outro problema: Não é preciso investir apenas na educação básica e incentivo aos jovens cientista se, no futuro, eles não terão um lugar nas grandes corporações, já que as poucas que existem no país continuam não oferecendo benefícios tão competitivos quantos os de vagas alocadas no exterior, sedes dessas empresas.

Para cientistas como Paula Rezende, doutora em Biomedicina, a decisão de deixar o Brasil é dolorosa, mas necessária. Após anos lidando com infraestrutura insuficiente e atrasos em recursos para pesquisa, ela aceitou uma proposta de trabalho na Alemanha, onde encontrou o ambiente ideal para continuar seu trabalho. Casos como o de Paula são cada vez mais comuns, o que ilustra como o cenário nacional tem se tornado um impeditivo para o progresso da ciência e da carreira dos profissionais brasileiros. A falta de oportunidades no Brasil também gera uma lacuna na academia e nas universidades, onde a quantidade de concursos e oportunidades para docentes e pesquisadores é insuficiente para absorver os doutores formados a cada ano. O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) aponta que cerca de 25% dos doutores no Brasil ficam fora do mercado de trabalho adequado à sua formação, o que leva muitos a buscar alternativas no exterior, onde há mais estabilidade e reconhecimento.

Elisabeth Balbachevsky, professora da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) e coordenadora científica do Núcleo de Pesquisa de Políticas Públicas (NUPPs) da USP, tem outra visão. A professora tenta analisar um lado positivo desse fenômeno da "fuga de cérebros", as mentes que vão embora do Brasil buscando melhores oportunidades podem "se inserir em redes de pesquisa internacionais, o que poderá ter um impacto extremamente positivo, porque irão se tornar lideranças brasileiras e, uma vez de volta ao Brasil, trarão novas expertises e abordagens para o País", diz a pesquisadora. Uma vez que esses cientistas brasileiros conseguem cada vez mais se estabelecer nas gigantes da tecnologia, por exemplo, o país indiretamente está ganhando reconhecimento, o que pode fazer com que os olhos dessas grandes corporações se voltem ao Brasil. Ainda que a "fuga" desses pesquisadores seja prejudicial no início, com mais profissionais produzindo ciência de qualidade em um ambiente no exterior que comporta suas necessidades, podemos colher frutos no futuro. Afinal, para que grandes corporações se desenvolvam no país, é preciso ver que a população tem capacidade de produzir recursos que possibilite sua expansão.

Outro fator que importante ser destacado é a busca pelo incentivo ao empreendedorismo desses jovens cientistas. Grandes empresas como o Facebook e a Amazon surgiram de um pequeno projeto de seus fundadores enquanto ainda eram estudantes, desenvolvendo uma start-up na garagem de suas casas. É claro que, a qualidade de ensino de ciências nas Universidades americanas possibilitam que seus alunos desenvolvam o pensamento empreendedor, enquanto no Brasil, os alunos são incentivados a bucar emprego fora, em empresas já estabelecidas, fator resultado do cenário de instabilidade não apenas do mercado científico, mas também do empreendedorismo. Algumas escolas de redes particulares no país contam com matérias de empreendedorismo e educação financeira, por outro lado, escolas da rede pública e estaduais se encontram em um cenário totalmente diferente. Ainda há um grande caminho a trilhar para que o acesso à uma educação de qualidade seja uma realidade igualitária entre todos os estudantes do país.

Propostas como a criação de um fundo nacional para Ciência e Tecnologia, que garanta recursos contínuos para a pesquisa, são defendidas por entidades como a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). Outra alternativa é fortalecer as parcerias entre universidades e empresas, criando oportunidades de inovação e desenvolvimento em conjunto com o setor privado, o que poderia abrir novas frentes de trabalho para cientistas dentro do Brasil.

Enquanto não houver um comprometimento estrutural e financeiro com a ciência, o Brasil permanece vulnerável à saída de seus talentos. A fuga de cérebros se torna um símbolo das dificuldades enfrentadas pela ciência brasileira, limitando o potencial de avanço científico e tecnológico do país. A valorização da ciência e o investimento em condições de trabalho são essenciais para que o Brasil não apenas forme cientistas, mas também consiga retê-los e fortalecer sua base científica para o desenvolvimento nacional e reconhecimento internacional.

Produzir orgânicos é um desafio que envolve altos custos, manejo artesanal e um compromisso com a sustentabilidade.
por
NINA JANUZZI DA GLORIA
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12/11/2024 - 12h

Por Nina J. da Glória

 

No coração de uma pequena fazenda nos arredores de São Paulo, a paisagem exibe fileiras simétricas de verduras, um campo verde que mais parece um quadro pintado com paciência e precisão. Cada folha simboliza uma promessa livre de químicos, cultivada à mão, mas também testemunha de um trabalho árduo, invisível ao consumidor final. Esse é o cotidiano de Mariana Silva, uma agricultora que decidiu, há quase uma década, abandonar a produção convencional para dedicar-se ao orgânico. No início, acreditava que seria um retorno ao básico, uma reconexão com a natureza. Mas a realidade mostrou-se mais densa e complexa do que o imaginado. O solo, como um organismo vivo, exigia constantes cuidados e uma compreensão que ia além dos métodos tradicionais. Cada semente carregava uma incerteza, e cada colheita trazia consigo os riscos de uma produtividade menor, vulnerável a pragas e intempéries. "O solo não aceita pressa", sua frase parece pairar na atmosfera ao redor das hortas, impregnada de paciência e resignação.

Nas redondezas, em outra propriedade de São Roque, Paulo Mendes compartilha a mesma visão, mas com uma trajetória que o levou ao orgânico por caminhos distintos. Ao contrário de Mariana, ele vem de uma família que cultivava com agroquímicos, mas sempre sentiu a necessidade de transformar as práticas de cultivo. Para ele, o orgânico é como um resgate da essência da terra, uma escolha que exige mais do que habilidades tradicionais. É um compromisso com o solo, com o ciclo de nutrientes e com o futuro. Paulo vê o campo como um delicado organismo, onde a compostagem e a rotação de culturas são essenciais, mas também um desafio financeiro. Cada safra se transforma em uma experiência quase artesanal, onde a eficácia do manejo natural precisa competir com a tentação das facilidades químicas. Esse processo, para ele, é como uma dança cuidadosa com a natureza, em que observar e respeitar o ritmo das estações torna-se tão vital quanto qualquer técnica de plantio.

                                                            Comunidade de pessoas que trabalham juntas na agricultura para cultivar alimentos

Para Mariana e Paulo, a colheita orgânica traz consigo um custo invisível ao olhar do consumidor. A vulnerabilidade às pragas, por exemplo, é uma preocupação constante. Sem pesticidas convencionais cada infestação é uma batalha natural que, muitas vezes, se perde. A introdução de insetos benéficos para conter pragas ou o uso de biofertilizantes representa um custo adicional, tornando a logística do manejo um quebra-cabeça financeiro. Além disso, há as certificações rigorosas exigidas para que o produto receba o selo de orgânico, que Mariana descreve como "um segundo trabalho", com visitas e inspeções que, embora necessárias, absorvem ainda mais recursos.

No centro dessa cadeia está Cláudia Ramos, proprietária de uma loja de produtos orgânicos em São Paulo. De seu ponto de vista privilegiado, ela percebe o esforço e as dificuldades de seus fornecedores, mas também o descompasso entre o preço desses produtos e a percepção dos consumidores. Em cada item das prateleiras, Cláudia vê um microcosmo de esforço e idealismo, mas, ao explicar as diferenças entre orgânico e convencional, enfrenta um público que ainda considera o orgânico um luxo. Ela afirma que cada produto é uma história de sacrifício, e explica que o custo mais alto representa a vulnerabilidade da produção orgânica, que exige cuidados permanentes e colheitas menos previsíveis.

                                                                                           Close-up de plantas verdes na estufa

A produção orgânica, então, emerge como uma complexa equação de valores, sacrifícios e riscos. Cada um dos envolvidos—do campo à prateleira—carrega uma parte dessa carga, como se fosse um ciclo contínuo de compromissos, onde o ideal e o real se encontram e se confrontam. A busca pela pureza e pelo cuidado no cultivo se mescla a um cotidiano cheio de dificuldades, e o produto final se transforma numa espécie de narrativa silenciosa sobre perseverança e dedicação ao que se acredita ser o melhor para o futuro do planeta e do ser humano.

A jornada dos entregadores não se limita ao trajeto, mas envolve obstáculos que vão da segurança no trânsito às incertezas de um dia de trabalho autônomo.
por |
12/11/2024 - 12h

Por Thais Oliveira 

 

Se antigamente era comum esperar dias ou semanas para que um pedido chegasse, hoje a demanda por rapidez e eficiência exige uma operação logística reforçada. O dia começa antes do sol nascer, com o medo e a ansiedade tomando conta de Joice Alves, mãe solteira de 50 anos que precisou se reinventar após um divórcio e o enfraquecimento das vendas em seu comércio de plantas. Seus cabelos longos e quase grisalhos carregam histórias de uma mulher forte que devido a gravidez, parou os estudos na quinta série. Tudo que aprendeu é resultado de suas vivências.

A tecnologia dominou o mundo e os seres humanos. Para Joice isso não passava de uma grande perda de tempo, até que tudo mudou em sua vida e a tecnologia virou sinônimo de estabilidade financeira e independência. Conseguir realizar uma entrega parece fácil aos olhos dos que recebem em casa. O suor do trabalho de prestadores de serviço das grandes empresas está presente em cada pacote entregue.

Os desafios começam à frente da seleção. Um aplicativo viabiliza para os entregadores os percursos disponíveis, juntamente ao valor a receber, e cada um seleciona o de sua preferência. Mas o número de prestadores é maior do que os de entregas e, às vezes é necessário passar horas olhando as atualizações no celular. Há dois meses o aparelho eletrônico, que não passava de uma ferramenta de comunicação com a família, amigos e clientes, se tornou o principal equipamento do trabalho de Joice. Foram semanas aprendendo a usar o mapa, abrir e fechar aplicativos, escrever mensagens mais rápidas e, principalmente, a contabilizar os resultados do seu novo emprego. No início de sua trajetória, Lucas, o filho mais velho, acompanhou a mãe em todos os percursos e assim, ela ganhou confiança para trabalhar sozinha. 

Desde a adolescência, Joice foi diagnosticada com TAG (Transtorno de Ansiedade Generalizada) e comenta que essa logística piora os sintomas diariamente. O seu conforto é o chá de camomila colhido diretamente dos vasos sobrepostos na janela do sexto andar e do calmante recomendado pela cardiologista. Ao conseguir uma corrida, agradece a Deus pela oportunidade e pula o café da manhã, colocando tudo que precisa dentro de uma bolsa térmica. De acordo com o aplicativo fornecido pela empresa, cada percurso tem a duração de 4h e 6h e os valores são correspondentes a estes horários. Explica que foi acordado entre a empresa e os prestadores de serviço que todas as entregas contariam com, no máximo, 45 pacotes e 40 paradas. 

Ao chegar no Centro de Distribuição, Joice recebe a rota com 52 paradas, 65 pacotes amarelos e o medo de não conseguir finalizar dentro do prazo estipulado. É necessário entregar todas as mercadorias para receber os valores completos, independente da chuva, dos ventos de 100km/h, dos postes desligados e das ruas escuras. Joice sai de Mauá com o seu destino traçado em um papel com nomes de pessoas desconhecidas diretamente para a cidade de São Paulo. Na travessa da Avenida Vila Ema e nas mãos Joice, o primeiro pacote foi entregue para a Renata, uma mulher simpática que desejou um bom dia para a entregadora.

Dentro do carro, o estômago de Joice espera por um alimento desde às 9h00min, porém os donos dos 50 pacotes pendentes têm prioridade na fila e as refeições ficam em segundo plano, sendo necessário seguir o caminho ingerindo apenas uma banana. A falta de hidratação e de nutrientes causa cansaço excessivo, perda de cabelo e, consequentemente, ausência de vitaminas importantes para o funcionamento do corpo. Relata, que praticava uma rotina saudável, alimentando-se bem e correndo na rua todos os dias de manhã com os seus filhos, porém precisou abrir mão do estilo de vida para arcar com os novos custos, como por exemplo o aluguel. A infraestrutura básica é uma questão: nas cidades grandes, com quilômetros percorridos entre um ponto e outro, muitas vezes não há onde parar para descansar ou usar o banheiro. A cidade se torna um palco de correria constante, onde não há tempo ou lugar para uma pausa, justifica Joice, ao informar que não consegue ingerir ao menos 200ml de água durante a jornada de trabalho. 

O futuro do setor aponta para uma integração cada vez maior entre tecnologia e logística, com inovações que prometem transformar ainda mais a experiência de compra e aproximar o e-commerce dos consumidores. Embora a constante evolução esteja dominando o cenário, não há direitos trabalhistas ou benefícios assegurados, como convênio médico ou seguro de saúde. Se houver algum acidente ou emergência, o entregador precisa arcar com os custos e lidar com as consequências sozinho. 

Dentro do aplicativo de entregas é possível saber que, dependendo do nível, o entregador terá acesso a mais pedidos, melhores comissões e suporte especializado. A grande corporação criou um sistema de níveis que funciona como uma espécie de escada, onde cada degrau alcançado representa mais oportunidades, e consequentemente, mais pressão. Estar em um nível mais alto pode significar, por exemplo, maior acesso a entregas em horários de pico ou de longa distância, que pagam melhor. Joice é prata, mas conta que demorou meses para alcançar a nomenclatura, afinal qualquer queda no desempenho pode significar uma descida de nível. Cancelamentos, avaliações ruins ou atrasos podem rebaixar o entregador, retirando seus, quase que invisíveis, benefícios. 

Joice conseguiu dois percursos no mesmo dia, isso significa que a corrida contra o tempo é primordial para finalizar o primeiro, voltar ao Centro de Distribuição e recolher as próximas encomendas. Ao sair, os clientes recebem notificações de que o produto está a caminho, causando ansiedade e desconfiança dos que aguardam em suas casas. Durante a noite as entregas são realizadas das 18h00 às 22h00 e Matheus, o filho mais novo, auxilia a mãe ligando para os clientes e entregando os pacotes enquanto ela separa os próximos. Em meio à movimentação, Matheus recebe uma mensagem de uma mulher que estava aguardando o produto há 30 minutos e precisava dormir. Era sexta-feira, 19h39min, quando os insultos começaram e mudaram a rota da família. Cada pacote recebe uma numeração de envio, o itinerário e os dados relevantes do consumidor, em consequência das mudanças Matheus e Joice aumentam a duração do percurso e os quilômetros rodados no carro. A quantidade de remessas no período da noite é majoritariamente maior, entretanto os consumidores não sentem confiança em recebê-las e, frequentemente, rejeitam a tão esperada aquisição. 

As embalagens amarelas recusadas devem atravessar a cidade e voltar à corporação até às 23h00min, horário de finalização dos serviços diários. Joice retorna com o peso da consciência de classe descendo em seus cabelos, refletindo sobre o comportamento interpessoal dos consumidores, do egoísmo e da falta de empatia. O mundo não é mais o mesmo e as pessoas estão preocupadas com as futilidades expostas nas prateleiras invisíveis dos comércios online. Não se importam se a voz que clama do lado de fora da residência está enfrentando a maior chuva do ano na cidade ou se está com um prazo apertado, o importante é aconchego e a novela das 21h00min. 

Após 15 horas, Joice finalmente chega em casa, sentindo-se cansada, fraca e estressada. O dia foi longo, repleto de entregas que exigiam rapidez, atenção e resistência. Cada pedido, cada quilômetro percorrido, parecia se arrastar em meio à chuva, ao trânsito caótico e à pressão por cumprir os prazos apertados. Como muitos entregadores, Joice não tem garantia de descanso ou segurança no trabalho, e mesmo ao chegar em casa, a sensação de que poderia ter feito mais, ou o medo de não atingir o número de entregas esperado, a acompanha. Mas para Joice, o trabalho nunca termina realmente. Ela reflete sobre o que poderia ter feito para ser mais rápida, ou se valeu a pena o esforço de correr contra o relógio. Em sua mente, os desafios que ela enfrentou ao longo do dia continuam vivos, a insegurança nas ruas, o risco de acidentes, a exaustão física e emocional. Mas amanhã, o caminho se repete, enfrentando as mesmas dificuldades em nome de um dia melhor, ou, quem sabe, uma coroa de ouro na guerra contra a logística desumana.

Os chamados cibercrimes são considerados um tipo de violência contra o idoso, e a campanha Junho Violeta busca conscientizar à população sobre a violência patrimonial
por
Alice Di Biase
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11/11/2024 - 12h

Por Alice di Biase

 

A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que a população acima de 60 anos no Brasil deve crescer em ritmo acelerado, quase triplicando até 2050. Dados como esse expõem o crescente aumento da população idosa, além de um novo perfil de envelhecimento que requer atenção especial em políticas públicas. Adriana Horvath, diretora voluntária de captação de recursos da Casa Ondina Lobo, relata que a principal queixa dos residentes da Casa é a invisibilidade, a visão estereotipada do “vovozinho” de cabelo branco e ingênuo, e adiciona que os idosos querem ser vistos como seres humanos que ainda tem muito a oferecer.

A Casa de Repouso Ondina Lobo é uma instituição de longa permanência para idosos em situação de vulnerabilidade social, o projeto é sustentado por doações filantrópicas. A missão da organização é promover o bem-estar e a integração do idoso na sociedade, por meio de atividades plurais. Ela relata que muitos dos idosos residentes da Casa já passaram por alguma violência ou situação de preconceito e atribui isso a forma como a sociedade olha os idosos, relacionando-o com a finitude da vida. E adiciona que é preciso entender que a velhice é apenas mais uma fase. Além disso, ela também cita a importância de campanhas de conscientização contra a violência ao idoso, como o Junho Violeta.

Existem vários tipos de violências direcionadas aos idosos, uma delas é a violência patrimonial. Com o avanço tecnológico, os mais velhos se tornaram mais vulneráveis para a violência patrimonial, por meio dos chamados golpes. O Disque 100, do governo federal, registrou, nos cinco primeiros meses de 2023 mais de 15 mil denúncias de violações financeiras ou materiais contra idosos; 73% a mais do que no mesmo período de 2022. Cada vez mais conectada, a terceira idade tem sido um dos principais alvos de quadrilhas especializadas em crimes cibernéticos que comprometem o patrimônio da vítima.

Ondina Lobo e Image Magica

“Mãe, mudei de número, salva esse contato aqui”, assim começa uma das formas mais comuns de fraudes financeiras contra os idosos, a foto de perfil é a mesma que o filho utiliza no seu número próprio e logo em seguida são solicitadas as transferências. Cláudia, aposentada de 66 anos relata como caiu no phishing - tipo de golpe realizado por e-mails, redes sociais e sites que utilizam uma “isca” para fazer a vítima fornecer informações pessoais. Uma loja conhecida com descontos extravagantes, a propaganda era feita por celebridades como Gisele Bündchen e a apresentadora Angélica que recomendavam a promoção. Tudo feito com inteligência artificial. O valor perdido não foi alto, como conta Claúdia, com alívio, no entanto, a sensação de ter sido enganado com facilidade pelos golpistas causa constrangimento.

O constrangimento também é um dos motivos que leva os idosos a se tornarem um alvo fácil dos golpistas. Envergonhados de demonstrar a fragilidade e, de certo modo, alimentar os estereótipos de ingenuidade que a sociedade cria em relação a faixa etária, muitos idosos não contam aos familiares a situação e deixam o ciclo de golpes se estender. Em 2024, a Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos já recebeu mais de 21 mil denúncias de violações deste tipo contra idosos, destes 80% dos casos são denunciados por terceiros, e não pela própria vítima.

A psicóloga e psicanalista Moema Sarmento compartilha suas perspectivas sobre a saúde mental na terceira idade, ela argumenta que a falta de respeito e os maus tratos podem levar ao isolamento e depressão, o que faz que muitos idosos que sofrem esses abusos patrimoniais não procurem ajuda, assim os casos só chegam aos familiares e autoridades quando já estão em estágios alarmantes.

Com o intuito de alterar esse cenário, a Casa Ondina Lobo em pareceria com a ONG Image Mágica, levou o Circuito Cultura e Inclusão para as mulheres da Casa. As aulas de inclusão digital e fotografia buscam conscientizar os moradores a respeito dos golpes digitais, resgate da autoestima e criar intimidade com o meio tecnológico.
 

Ondina Lobo e Image MagicaOndina Lobo e Image Magica

Como comenta Horvath, a velhice é só mais uma fase da vida que envolve atenção e deve ser aproveitada com qualidade de vida e isso envolve a liberdade de consumir a Internet com segurança.

Após a sanção da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), a Internet se torna mais regulada
por
Laura Mello
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21/09/2021 - 12h

Por Laura de Almeida Melo

Quem nunca abriu um site qualquer e se deparou com uma grande mensagem dizendo que este site utiliza cookies e, ao continuar navegando, você aceita essa política? Mas, afinal, o que são esses cookies e o que eles estão armazenando? De acordo com a advogada Cristina Cantú Prestes em seu artigo “Privacidade e Intimidade: A Legalidade dos Cookies e Spam”, cookies são pequenos arquivos armazenados em nossos navegadores e dispositivos que contém dois pedaços de informação: um identificador do consumidor e um identificador da página. Derivando do conceito de “Magic cookies” (biscoitos mágicos), ela afirma que cookies são capazes de armazenar dados como passes para localizar cada usuário e fornecer maior facilidade para navegação e propagandas mais direcionadas, como os spams que chegam ao email em segundos. Mas você sabe o que acontece depois que seu navegador é fechado? 

Existem três tipos de cookies: de sessão/transitórios; permanentes/persistentes e os maléficos. Cookies de sessão são apagados do seu dispositivo assim que o seu navegador é fechado, eles não coletam nenhum dado pessoal ou informações do computador, apenas armazenam informações que identifiquem o usuário. Os cookies permanentes, no entanto, permanecem no seu dispositivo até serem excluídos manualmente ou quando sua data de validade é expirada – que pode ser em um dia ou mil anos. Ao contrário dos cookies de sessão, os permanentes coletam informações do usuário como, por exemplo, sites que ele visitou anteriormente e seus favoritos, para construir a preferência daquele usuário. Já os cookies maliciosos, como diz o próprio nome, são os mais perigosos e os que devemos nos preocupar. Esse tipo de cookie, além de coletar informações do usuário como os cookies permanentes, acompanham toda a sua atividade online, rastreiam e montam um perfil do usuário, que podem ser vendidos e utilizados para qualquer propósito, além de captarem informações pessoais e sensíveis, como senhas de bancos ou até sua religião. É por causa deste último e mais outros casos que a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) entrou em vigor no Brasil em setembro de 2020, pois esses, também conhecidos por serem pequenos arquivos rastreadores, violam a privacidade e intimidade do titular dos dados, agora ilegal pela sanção da lei.

“Depois de escândalos como o dos Estados Unidos de vazamento de dados, se entendeu que era necessário um limite de legislação. A gente sabe que a internet é um ambiente autorregulado muito positivo e útil, mas o direito vem para impor limites. Crime é crime, dentro ou fora das redes.”, comenta Cristina. “Só o fato de o Brasil reconhecer a proteção de dados já é muito positivo, pois o coloca como um País sensível e confiável quanto à essa problemática internacional.”. Tendo como principal referência a General Data Protection Regulation (GDPR) da Europa, a LGPD possui uma agência regulatória - a Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD) para fiscalizar e aplicar multas quando necessário. Além disso, a lei foi incorporada no Código de Defesa do Consumidor, podendo ser atendida tanto pela ANPD quanto pelo PROCON. 

Mesmo com todo cuidado da lei, ainda há especialistas que a acham pouco eficaz, como o doutor em direito pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Josué de Oliveira Rios. “Se fosse levada à risca, os cookies quase deixariam de existir”, argumenta. “Falta transparência, pois só apresenta para o titular dos dados (usuário) uma possibilidade – concordar com os cookies. A maioria das pessoas, pensando que perderão o acesso ao site, concordam, mesmo não sabendo do que se trata. Deve-se esclarecer a finalidade para o titular consentir conscientemente.”. Para excluir os dados recolhidos por cookies, o titular deve entrar em contato com o controlador do site, normalmente indicado na Política de Privacidade, ou excluir remotamente do seu dispositivo nas configurações na opção limpar dados de cachê e cookies.  

Mas, afinal, qual é o risco do recolhimento de dados? E como isso infringe nossa privacidade? O caso mais famoso de mapeamento de perfis com base de dados recolhidos pelo Facebook foi o da Cambridge Analytica, que mapeou perfis de pessoas indecisas quanto ao voto das eleições de 2018 dos EUA e também no plesbicito do Brexit, na Inglaterra. A empresa de publicidade, ao mapear esses perfis com dados pessoais sensíveis, como raça, religião e posicionamento político, bombardeava cada pessoa com anúncios ou notícias falsas que a tiravam de cima do muro para votar no candidato da campanha. Assim, iniciou-se a caça à segurança dos dados e leis como a LGPD e a GDPR entraram em pauta no legislativo.

 

Estudo do Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua - PNAD - mostra que a desigualdade digital não é causada apenas pela questão econômica, mas também é afetada por um novo elemento: a falta de educação digital.
por
Lidiane Domiciano Miotta
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21/09/2021 - 12h

Por Lidiane Miotta

A Internet se transformou na espinha dorsal da modernidade, uma necessidade indiscutível que passou ressignificar tudo ao nosso redor. Contudo, para fazer parte dessa nova organização da sociedade é necessário ter equipamentos como celulares, computadores e tablets, e do serviço da Internet. Mas com uma desigualdade social tão grande como é o caso brasileiro, em que as pessoas têm dificuldade até de comprar comida, a desigualdade também chegou ao nível digital, passando a excluir e dificultar os indivíduos de participarem da vida virtual que se tornou tão importante no nosso cotidiano e passou a intervir em coisas essenciais para os brasileiros, principalmente nesse momento de pandemia, como a busca de emprego e o recebimento do auxílio emergencial por conta digital na Caixa Econômica Federal.

A último pesquisa do PNAD, realizada em 2019 e divulgada nesse ano pelo IBGE revela que 21,7% da população brasileira não tem Internet, isso é 39,8 milhões de pessoas não utilizam a rede mundial, e que o rendimento médio dos domicílios com Internet era de R$ 1.557, enquanto para os que não têm Internet é de apenas R$728. Quando perguntados pelo motivo de não utilizarem a Internet, um dos mais alegados no estudo, é que o serviço ou equipamentos eletrônicos são muito caros (18%).

Apesar disso, a desigualdade digital apresenta um novo elemento, que a desigualdade social não tem: ela não exclui só aqueles que não têm dinheiro, ela também exclui aqueles que por algum motivo não aprenderam a usar equipamentos, ou seja, não são alfabetizados digitais, que têm dificuldades ou que não têm interesse em utilizá-los. O número de pessoas que entram nessa categoria é 75,4% de acordo com a pesquisa do PNAD, e isso faz desses os motivos mais apontados como razão a não utilização da Internet, a não ser entre os estudantes.

A partir desse ponto o estudo demonstra que entre os estudantes e não estudantes os números têm uma grande diferença. Entre os estudantes a porcentagem de pessoas que utilizam a Internet chega a 88,1%, enquanto as dos não estudantes é de 75,8%, e o motivo de não saber usar a rede mundial é de apenas 16% entre os estudantes, enquanto entre os não estudantes é de 47,2%. A diferença porcentual dos motivos de não fazer uso da Internet também se torna grande: entre os não estudantes os principais motivo é não saber usar a Internet (47,2%) e não ter interesse em utilizá-la (33,1%). Enquanto entre os estudantes os principais motivos são o serviço de Internet ser caro (26,1%) e o custo alto dos equipamentos necessários (19,3%).

Quando entramos a fundo nesses aspectos percebesse que entre os estudantes a condição econômica ganha mais importância na desigualdade digital, reproduzindo a conhecida desigualdade social brasileira, pois entre estudantes da rede pública o uso da Internet é de 83,7%, mas nas Regiões Norte e Nordeste do Brasil esse número chega a apenas 64,4% e 77%, enquanto nas outras regiões varia entre 88,6% e 91,3%. Entretanto entre os estudantes da rede de ensino privada a de Internet fica acima de 95% em todas as regiões do Brasil e quase atinge a totalidade nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste.

Dessa forma o estudo concluí que 95,9% dos estudantes que não tem acesso à Internet são da rede pública de ensino, resultado que foi escancarado durante a pandemia da Covid-19, onde o ensino teve que se tornar remoto e consequentemente muitos desses estudantes foram excluídos dos estudos por não terem como fazerem uso da rede mundial de computadores.

O surgimento de novas demandas por parte dos torcedores faz com que esses dois campos criem laços cada vez mais estreitos
por
Gabriel Alves Dutra
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21/09/2021 - 12h

Por Gabriel Dutra

As últimas décadas apresentaram um enorme desenvolvimento dos processos tecnológicos em diversos campos da nossa sociedade. Avanços na área da saúde, da educação, dos negócios e em vários outros segmentos ocorreram por causa da tecnologia. E no mundo dos esportes não foi diferente, uma vez que se trata de uma área que passou (e continua passando) por inúmeras mudanças, tanto na forma como esses esportes são organizados e transmitidos, como na maneira que os clubes e os atletas vêm se preparando para as competições. A tecnologia promoveu diversas modificações nesse meio e a tendência é que continue promovendo cada vez mais.

No que diz respeito à organização das competições esportivas, um grande incremento da tecnologia é o uso de equipamento de auxílio aos árbitros. No futebol, por exemplo, o principal equipamento tecnológico é o árbitro de vídeo (Video Assistant Referee - VAR), que vem sendo utilizados nas principais competições pelo mundo desde 2017. E apesar de contestado por muitos devido à maneira como é utilizado, é difícil imaginar o futebol novamente sem a presença do VAR.

De qualquer maneira, o debate é amplo e há diferentes visões de especialistas a respeito do uso desta tecnologia no futebol. Paulo Vinícius Coelho, o PVC, por exemplo, revelou ao jornal "Lance!" que é a favor do uso do VAR no futebol, mas tem ressalvas. "Sou a favor. Mas acho que o VAR tem que ser usado como corretor, o que era sua função primordial. Tem que acabar com a polêmica. No momento, ele não tem feito isto. A forma como ele é utilizado está gerando ainda mais polêmica no futebol", disse PVC.

Já Walter Casagrande, comentarista esportivo, em entrevista ao mesmo jornal, se mostrou bastante desconfiado em relação ao impacto do uso do VAR no futebol. "Olha, eu ainda não consegui me acostumar ao VAR. Mas acho que é pela maneira como os árbitros se comportam em campo. A sensação é de que os juízes agora tiveram uma perda de convicção ao apitar faltas. Toda hora, eles usam o VAR como escudo. Parece que apitam primeiro o lance e, depois, esperam que o árbitro de vídeo dê seu veredicto", analisou Casagrande.

Além do futebol, outros esportes de destaque também possuem, há um bom tempo, sistemas tecnológicos de auxílio à arbitragem que são imprescindíveis para o bom andamento das competições, como o tênis e o futebol americano, com o sistema conhecido como desafio, e o vôlei, com o uso do Hawk-Eye (olhos de falcão).

Já com relação ao uso da tecnologia nas transmissões dos eventos esportivos, muitas evoluções também podem ser observadas. À medida que o interesse por esportes cresce ao redor do mundo, cresce também a demanda do público para acompanhar uma maior quantidade de partidas e torneios. Cinco décadas atrás acontecia a primeira transmissão ao vivo de um evento esportivo de longo alcance na América Latina: a Copa do Mundo de futebol no México, em 1970. É claro que a tecnologia utilizada naquela época na transmissão do mundial não é a mesma que utilizam nas transmissões esportivas da atualidade.

Naturalmente, nos últimos anos, a tecnologia necessária para realizar a transmissão de eventos esportivos de alta demanda, como copas do mundo e olimpíadas, cresceu abundantemente. Como exemplo, as distintas plataformas de streaming esportivo, tais como Dazn, Esporte Interativo Plus e SporTV Play, que permitem que o público acompanhe as competições por meio de diferentes dispositivos, como computadores, tablets e celulares, algo que era impossível 50 anos atrás.

A produtividade dos atletas é outro fator que mudou radicalmente com os avanços tecnológicos ocorridos no mundo dos esportes. Nesse quesito, a tecnologia vem sendo utilizada com a finalidade de promover evoluções no desempenho dos esportistas, para que, assim, eles possam alcançar o seu melhor rendimento e potencializar os seus resultados, através de uma preparação cada vez mais avançada e inovadora.

Os recursos tecnológicos possibilitam, por exemplo, que todas as informações referentes a um time ou atleta sejam coletadas e analisadas, através de um “Banco de Dados”, que permite o armazenamento dessas informações e, depois disso, a implementação de melhorias específicas quando necessário, tanto nos treinamentos como nas ferramentas utilizadas pelos atletas. A tecnologia também proporciona o surgimento de vestimentas que podem melhorar o rendimento, como roupas inteligentes, tênis de alta performance, além de equipamentos e acessórios modernos, como por exemplo raquetes de tênis e bolas de futebol com o uso da nanotecnologia, e relógios inteligentes (smartwatch). Os atletas, nos dias de hoje, possuem um rendimento amplamente superior em comparação aos de décadas atrás.

Tecnologia no esporte: A evolução que está mudando a rotina dos atletas -  AtletasNow

A tendência é que esses avanços ligados à tecnologia continuem cada vez mais presentes. Indubitavelmente, o mundo dos esportes depende cada vez mais de novos recursos tecnológicos para a melhoria de desempenho de atletas e profissionais ligados ao setor esportivo, e também para o desenvolvimento de novas formas de transmissão e das modalidades esportivas de uma maneira geral.

Como que as redes sociais estão prejudicando a saúde mental das pessoas e qual é o limite de uma interação na Internet
por
Maria Luiza Oliveira
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21/09/2021 - 12h

Por Maria Luiza Oliveira

 

No dia 4 de agosto de 2021, o garoto de 16 anos, Lucas Santos, se suicidou após um vídeo publicado na rede social TikTok. O fato acabou rendendo muitos comentários homofóbicos e maldosos. A mãe do garoto, Walkyria Santos, se pronunciou no Instagram afirmando que a Internet está doente. Após o acontecimento, o TikTok emitiu uma nota em sua conta oficial dizendo que lamentavam a tragédia e que a prioridade da empresa era ter um ambiente acolhedor e de bem-estar para todos os usuários. Mas como fazer isso se o uso das redes sociais é pautado como uma das principais causas de transtornos mentais?

A cantora Luisa Sonza, 22 anos, é atacada quase que diariamente por comentários machistas e misóginos em suas plataformas digitais de relacionamentos afirma que sua saúde mental está sendo afetada. Sonza chegou a adiar o lançamento do álbum “Doce 22” devido a isso, informando que se afastaria por um tempo daquele mundo. Em nota, a equipe de Luísa pede “(...) mais uma vez respeito e empatia pelo próximo”. A cantora até mesmo já foi xingada e acusada pelos juízes da Internet pela morte prematura do filho de seu ex marido, Whindersson Nunes.

Facebook, Instagram e outras plataformas são um enorme complexo de conexão, e ao mesmo tempo em que são postadas fotos de animais de estimação, há inúmeras pessoas recebendo “hate” gratuitamente. Os preconceitos ficaram evidentes e alarmantes, pois todos se expressam da forma que quiserem, “o fato de a pessoa não precisar se expor é muito mais fácil falar o que pensa (...) É como se de forma virtual a pessoa se sentisse mais protegida, mais imponente, mais forte, dentro do seu ambiente seguro” - explica a psicóloga Jacqueline Leite.

A influencer digital, Isabela Cantinelli (18) tem mais de 56 mil seguidores no Instagram e relata que já sofreu ataques virtuais. Em um episódio recente, expôs um caso de assédio que sofreu nos storys e recebeu muitos comentários maldosos e denúncias no seu perfil, que agora corre o risco de ter sua conta banida.

Em outro momento, Isabela relata que já teve sua autoestima afetada pelos comentários que recebeu. “Eu postei uma brincadeira em tom de ironia e o tanto de coisa que eu recebi e falaram, as pessoas destilam muito ódio na internet. Isso me marcou muito, porque afetou minha autoestima pelas coisas que eu recebi.”

Foto de Tracy Le Blanc no Pexels
Foto de Tracy Le Blanc no Pexels

Diferente de como muitos pensam, a vida virtual não é um espaço sem regras a serem seguidas, de acordo com a advogada Luiza Sato, atuante na área de proteção de dados, explica que a Internet não é um ambiente sem lei: “(...) isso é um total e absoluto desconhecimento da realidade, pois todas as normas que existem hoje, mesmo antes da internet, vigoram e valem para o ambiente digital.”

Mas diante de casos que acontecem como o da Luisa Sonza, Lucas Santos e tantos outros, é um questionamento comum o motivo pelo qual as plataformas digitais não tomam uma atitude de retirar esse tipo de conteúdo ofensivo do ar. Para isso, é importante compreender como essa relação funciona.

De acordo com o Marco Civil da Internet, os provedores (Instagram, Facebook, Twitter etc.), podem tirar um conteúdo do ar, mas só se tornam obrigados mediante ordem judicial, sendo exceção somente quando há a divulgação de imagens íntimas sexuais. “ (...) os provedores têm milhares de pedidos de retirada de conteúdo e na maior parte das vezes são coisas que não tem fundamento. Um concorrente querendo prejudicar o outro. Então eu acho interessante que haja um juiz que reflita sobre esse assunto.” - afirma Sato.

Além disso, a advogada afirma que caso a plataforma retire um conteúdo sem uma ordem judicial ela pode vir a sofrer uma ação por censura. Por isso, muitas preferem esperar uma decisão judiciária para estarem resguardadas na retirada de um conteúdo.

“A tecnologia não é culpada, é o uso que a gente faz dela. Então o problema sempre chega no ser humano, sempre foi feito mau uso da tecnologia pelos seres humanos” – conclui a advogada. O surgimento das redes sociais facilitou muitos processos, agora é possível mandar mensagens de uma forma mais rápida, diminuir distâncias em um ambiente conectado, compartilhar momentos. Mas o mau uso dela também pode ocasionar diversos transtornos na saúde mental, desde vício à tecnologia até mesmo para quem recebe diversos comentários maldosos.

 

Uma pesquisa da Universidade de São Paulo (USP) demonstra que o uso excessivo desse tipo de realidade virtual está relacionado ao sentimento de se isolar do mundo real, o que contribui para doenças relacionadas à saúde mental, como depressão e ansiedade. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística já mostrou que a população brasileira é a segunda que mais gasta seu tempo na Internet, estando conectada cerca de 9 horas e 29 minutos por dia, sendo 40% do tempo gasto em sites de relacionamento.

A psicóloga explica que na Internet é mais fácil falar suas opiniões e demonstrar os seus “achismos”, independente se isso irá ou não afetar o outro, uma vez que ela sente sua privacidade e identidade protegida por um perfil que muitas vezes não é dela. “O olho a olho não existe, o que torna mais difícil dizer o que se pensa, pois, pessoalmente inúmeras variáveis estão presentes e no virtual não) ” – reforça Leite.

Hoje é comum a prática do cancelamento (quando alguém recebe inúmeros ataques e ameaças por ter tido uma atitude que não agradou a opinião pública) algo que Cantinelli pode vivenciar a qualquer momento uma vez que trabalha e quer crescer ainda mais nesse meio: “É uma coisa ridícula, todo mundo erra, ninguém é perfeito! Eles julgam muito o próximo e não olham para o próprio umbigo.”

A Internet e as redes sociais facilitaram muitos processos, de contato com outras pessoas e de acesso a conteúdos de uma maneira mais rápida, contudo, é um ambiente totalmente tóxico. Pelas pessoas terem um contato maior e esconderem suas identidades, acreditam que podem expor seus preconceitos, disfarçados de opinião, para qualquer um.   

População idosa inova e aproveita o tempo livre proporcionado pela aposentadoria para experimentar e principalmente aprender novas tecnologias digitais. 
por
Dayres Vitoria
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24/09/2021 - 12h

Por Dayres Vitoria

Com os filhos crescidos, os netos na escola e a família eventualmente distante, para muitos idosos o tempo pode parecer não passar. A rotina para alguns considerada monótona, geralmente da casa para o hospital e vice-versa, pode se tornar entediante. Entretanto, uma grande parcela dessa população está desfrutando do tempo livre sobrando para testar e compreender e fazer uso das novas tecnologias digitais. Porém, muitos deles descobriram que não é tão simples quanto imaginavam.

No Estatuto do Idoso, criado pela Lei 10.741 em 1º de outubro de 2003, é previsto no primeiro parágrafo do Art. 21: “os cursos especiais para idosos incluirão conteúdo relativo às técnicas de comunicação, computação e demais avanços tecnológicos, para sua integração à vida moderna”. Contudo, na prática não funciona bem assim. Por haver poucos cursos de inclusão digital para idosos (e os que já circulam normalmente não são muito divulgados) e com a falta de pessoas ou parentes para acompanhá-los durante esse processo de aprendizado, boa parte da população idosa acaba ficando de fora das novidades e facilidades conquistadas na contemporaneidade.  

A era da TV 

A televisão foi uma das primeiras tecnologias eletro-eletrônicas disponíveis.  Inaugurada no Brasil em 1950, ela nunca deixou de ser inovada para que cada vez mais esteja no agrado dos telespectadores. Do “caixote” pesado com apenas imagens em preto e branco para televisores ultrafinos com imagens hipnotizantes (devido a tantas cores) e agora com um áudio com qualidade de cinema, esse é um dos itens tecnológicos mais amado pelos brasileiros sendo apenas 2,8% das casas no País que não possuem uma, segundo pesquisa do IBGE.  

 Seguindo sendo a mídia soberana no "país do futebol", a TV representa um dos maiores marcos da tecnologia digital. Para Cicero Cardoso Vieira, 70 anos, o aparelho foi uma das melhores invenções já criadas pelo homem. Contudo, ele afirma que até hoje não sabe lidar direito com o engenhoso aparelho. Vieira conta que na época de sua juventude poucas casas tinham TVs, somente as famílias com melhores condições financeiras. Por isso, sempre considerou o rádio um equipamento de comunicação mais simples e fácil de usar, principalmente, para quem morava no interior.   

Conforme o tempo passou, a população (se comparado a antes) melhorou financeiramente. Ainda que a maioria não tenha enriquecido, a mudança já foi significativa. Assim, um produto que antes era restrito apenas às classes economicamente mais favorecidas, hoje ocupa um espaço especial nas estantes e paredes dos lares brasileiros. Embora ainda haja uma pequena parcela da população que não tenha, o aparelho já deixou, há algum tempo, de ser símbolo da elite e passou a ser um símbolo da democratização da comunicação brasileira.  

Cardoso completou recentemente seis meses com a sua primeira TV. Ele explica que como sempre ouviu o rádio não enxergava a necessidade de adquirir uma, contudo, isso mudou ao longo do tempo:  “Eu comecei a perceber que muita gente tinha televisão em casa, eu olhava para a casa dos vizinhos e achava bonito então inventei de comprar uma televisão também”, alega Cardoso. 

Questionado se não se arrepende de não ter comprado uma antes Cicero afirma que sim, pois poder assistir aos programas, segundo ele, que gosta - inclusive dos apresentados “ao vivo” - o ajuda a descontrair além de ter se tornado parte de sua rotina. Como um bom brasileiro uma de suas grandes emoções é poder assistir as partidas de futebol do sofá de casa: “Na televisão eu não perco um jogo de futebol, sou muito fã de esporte”, diz o aposentado. 

Internet para os idosos 

Além das TVs, um dos principais meios para os idosos de se informar ou se comunicar com o mundo atualmente é através da Internet. Nos últimos anos, o acesso à rede mundial de computadores pelas pessoas com mais de 60 anos no Brasil avançou significativamente. De acordo com a pesquisa realizada pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) em parceria com a Offer Wise Pesquisas, o percentual de navegação entre eles cresceu de 68%, em 2018, para 97%, em 2021. 

Ainda segundo a pesquisa, 61% utilizam a web para manter contato com outras pessoas. O WhatsApp é a rede social mais utilizada (92%), seguida do Facebook (85%) e Youtube (77%). Esse é o caso de Anario Soares da Cruz, 74 anos, que só tem notícias de sua família, espalhada pelo Brasil todo, por ter acesso à Internet e utilizar o WhatsApp:  “Quando eu quero saber como é que um parente está eu já passo um “zap” ou se não eu ligo. Eu posso falar com a pessoa na hora, isso já dá uma tranquilidade não ter que esperar para saber”, assegura ele. De acordo com os dados, o smartphone é o principal aparelho de acesso, citado por 84% dos idosos que usam a Internet enquanto 37% usam notebook e 36% computador desktop

Conforme a pesquisa, os aplicativos que os idosos mais usam nos celulares são as redes sociais (72%). O acesso às redes, como Facebook e WhatsApp, ajuda a combater o isolamento social e a se sentirem parte da comunidade, inclusive no meio digital. Para eles, é uma boa maneira de conhecer pessoas, socializar com amigos e familiares e não ficar para trás. Além disso, pesquisas realizadas pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte apontam que o uso de celular pode gerar um ganho considerável ao bem-estar do idoso, além de ser um excelente aliado contra a solidão e a depressão por permitir a interação com outros indivíduos.  

Apesar do grande acesso à Internet por parte dos idosos partir do uso de aparelhos como smartphones, eles ainda enfrentam barreiras de acessibilidade desde o uso de aplicativos quanto de equipamentos tecnológicos.  Muitas vezes esses obstáculos derivam de características do próprio equipamento como letras pequenas e idiomas estrangeiros. Para Anario, por exemplo, isso também é um problema, o que inclusive dificulta o seu aprendizado em manusear totalmente tanto o produto eletrônico quanto seus programas: “Até hoje eu tenho dificuldades, principalmente para escrever. O que pra mim foi bom é que eu posso mandar um “zap” (referindo-se à opção de áudio) ou telefonar para alguém. Mas se for pra fazer transferência de uma conta de banco, essas coisas toda eu já não sei mexer ainda, estou tentando aprender. Mas comparado a antes as coisas melhoraram. Antes eu comunicava pelo telefone fixo, o celular facilitou porque você pode carregar ele para qualquer lugar e o telefone fixo não, para mim facilitou por esse motivo”, afirma o aposentado.  

 

Anario Soares da Cruz, 74 anos.

 

Embora alguns estejam contentes com o pouco que sabem e utilizam desses avanços tecnológicos, ainda há aqueles que não confiam totalmente nessas inusitadas formas de tecnologia. Taiuani Marquine Raymundo, terapeuta ocupacional de formação, realizou sua pesquisa de mestrado na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP com 100 indivíduos com mais de 65 anos escolhidos ao acaso. Ela analisou o nível de aceitação da tecnologia por parte dos entrevistados e conforme suas pesquisas 24% relataram ter medo de utilizar as novas tecnologias, e 40% relataram ter receio de danificar o aparelho celular. 

O sentimento de medo, para aqueles que responderam ter, cresce principalmente quando usam a Internet.  Além disso, o medo de vírus e das redes sociais também é comum.  Os resultados da pesquisa mostraram que, apesar das dificuldades encontradas, os membros do grupo avaliado relataram que superaram o medo após frequentarem cursos de inclusão digital. Vontade de aprender é o que não os falta.  

Um aspecto de extrema importância e que de certa forma é responsável por essa conexão dos idosos com esse tipo de tecnologia (apesar do misto de sentimentos que eles sentem frente a esse avanço) é a influência da família para que adentrem cada vez mais a esse mundo virtual. Com a correria do dia a dia e por na maior parte do tempo familiares não conseguirem estar 100% presente acompanhando eles pedem para que esses idosos tenham ao menos um celular (na maioria das vezes dado de presente) para se comunicarem. Ter informações dos pais ou avós, sabendo que eles estão em segurança, gera um sentimento de tranquilidade.  

Assim, frente ao que foi visto e entre tantos aspectos que rondam essa relação do idoso com a tecnologia digital, seria um absurdo afirmar que ela não tenha melhorado ou facilitado a vida e formas de convivência desse grupo. Embora essa relação não seja similar para todos, há uma construção, ainda que lenta, para que ela se torne mais acessível. Projetos de inclusão para idosos na nova era, inclusive voltadas para a tecnologia, já existem, porém, como já ressaltado anteriormente, não são muito divulgados e ainda são poucos.