Por Laura Mariano
Como seria se tivéssemos um sistema público e privado de saúde integrados, de norte a sul do País, de maneira que contemplasse o histórico de saúde do paciente, fornecesse dados para possíveis tratamentos e diagnósticos? Parece roteiro de filme de ficção, ou um pensamento utópico, mas na verdade, essa é uma realidade muito próxima. Com os avanços tecnológicos têm sido cada vez mais comum ver a área da saúde usando ferramentas como big data, machine learning e data analytics.
Cada paciente se torna um desafio de big data, com uma carga de dados que ultrapassa a capacidade de processamento do cérebro humano. O médico intensivista e pesquisador do Hospital Israelita Albert Einstein e professor livre-docente da Universidade de São Paulo (USP), Ary Serpa, explica as razões de se implementar tecnologia na saúde: “A medicina de uma forma geral, em especial na parte hospitalar, a geração de dados é gigante. [...] Uma hora o cérebro falha, é normal, somos seres humanos. Além disso, temos o exemplo de um paciente que chega na unidade inconsciente e não conseguimos contato com nenhum familiar, não temos o histórico do paciente, não sabemos se ele toma remédios ou se tem alguma doença. Pensando nesse momento que todos temos acesso à informação, é um absurdo não termos conhecimento dela. Por isso, sem dúvida nenhuma, precisamos da digitalização da medicina”, defende.
Diante da mudança no perfil demográfico e epidemiológico da população, sujeita a desenvolver novas enfermidades ao longo do tempo que podem ser evitadas, ou amenizadas por diagnósticos precoces, não faz mais sentido insistir em apenas um modelo de oferta de tratamento, focado quase que exclusivamente na saúde suplementar no século passado. A inteligência artificial (IA) tem sido encarada como uma grande aliada dos profissionais de saúde. Giovanni Sima, farmacêutico e pesquisador da Escola Paulista de Medicina e Hospital São Paulo pertencente ao Sistema Único de Saúde - SUS, analisa esse fato: “Sabemos que a maior causa de morte no mundo ocorre por condutas erradas dos profissionais de saúde, e nesse sentido, a Medicina de Dados pode ser um grande aliado para evitar erros médicos”.
Registrar dados de saúde pode parecer uma tarefa simples, mas não é bem assim, especialmente no Brasil, que soma 211 milhões de pessoas com necessidades muito divergentes na rede de saúde pública, como o SUS, que é universal e acessível a todos.
“É interessante de se pensar, inicialmente, na interação ‘profissional de saúde com o paciente’ de uma forma geral, até um contato mais especializado num âmbito hospitalar ou em clínicas. Nós que trabalhamos no SUS costumamos dizer que a prática do dado é o que temos de mais humanizado. Se pensarmos no profissional como um agente humanizado, fica mais fácil visualizar a tecnologia no cuidado. Temos a telemedicina como exemplo, especialmente nesse período de pandemia, já é de senso comum que essa ferramenta otimiza o cuidado”, explica Giovanni.
Alguns projetos destinados que envolvem esses novos dispositivos já têm adesão no Brasil e servem de exemplo para suportes utilitários futuros, como é o caso do Regula+Brasil, que faz parte do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde (PROADI-SUS) e foi desenvolvido pelo Hospital Sírio Libânes em 2018, a fim de melhorar os serviços da atenção primária à saúde, diminuindo o tempo de espera para consultas com especialistas. O Regula+ atua de duas formas: usando a tele-saúde para apoiar os médicos presentes nas Unidades Básicas de Saúde (UBSs) e orientando a regulação das filas para consultas na atenção secundária à saúde, através de uma coleta e armazenamento de dados.
Stephan Sperling, médico de família e coordenador médico do Regula+Brasil, explicou sobre o projeto: “A ideia do Regula+Brasil é facilitar o trânsito das pessoas que estão na estação primária, nas UBSs, e recebem encaminhamentos para serem cuidadas em ambulatórios de especialidades utilizando a tele-saúde e a medicina de dados. Geralmente, a gente entra nos sistemas de regulação das localidades - a maioria utiliza o sistema do próprio Ministério da Saúde, o Sistema Nacional de Regulação (SisReg). Os médicos entram nesse sistema, avaliam as características físicas e clínicas do paciente descrito ali, listando a prioridade e de qual especialidade médica aquela pessoa precisa. Além disso, registramos as informações de regulação no nosso banco de dados, assim facilita nosso trabalho, porque atendemos inúmeras pessoas e projetos, e nos permite avaliar os CIDs [Classificação Internacional de Doenças] mais recorrentes e o comportamento das localidades”, conta.
Para que profissionais de saúde e pacientes possam usufruir desse sistema unificado e tecnológico, não se pode pensar apenas em softwares de inteligência artificial ou aparelhos avançados. Existe a necessidade de discutir de qual modo será feito o registro dos dados clínicos da população.
Sperling acrescenta que a inovação deve ser uma aliada, visando um bem maior, não focando apenas numa criação desenfreada de novas ferramentas de saúde. Para ele a tecnologia não é uma finalidade, é um vetor para que as coisas aconteçam e é preciso conectar as coisas. "Temos o caso do Recife, onde estamos tentando plataformas para registrar as tele-consultas e pegar as informações para armazenar no prontuário eletrônico, a fim de diminuir a quantidade de sistemas abertos, pois o médico da ponta precisa acessar cerca de 4 sistemas de uma só vez. A ideia de inter-operacionalidade desse projeto é agilizar e simplificar o trabalho”, argumenta.
Ademais, é preciso avaliar os aspectos que envolvem a funcionalidade e praticidade dos sistemas de armazenamento de dados para que profissional atuante, naquele momento, não tenha maiores dificuldades. “Aquela imagem do ‘robozinho’ atendendo [os pacientes] é uma realidade muito distante, pode até acontecer, mas não é o que temos hoje", diz. Uma grande desvantagem é a carga de trabalho que acrescenta ao profissional de saúde, principalmente o profissional de enfermagem. "Ao mesmo tempo que é fácil obter todos esses dados, ainda é necessário ter alguém registrando num formulário digital, deixando de dedicar seu tempo totalmente ao paciente" afirma. Existem estudos que comprovam que um do componente importante que induz [Síndrome de] Burnout no profissional são as obrigações relacionadas à documentação. "Para resolver esse problema tem duas opções: contratar mais profissionais ou automatizar e simplificar mais os softwares", pontua Ary Serpa.
Para que a IA seja capaz de coletar um grande volume de dados, reconhecer padrões e gerar algoritmos que podem tanto auxiliar médicos no atendimento diário, quanto projetar diagnósticos e tratamentos, é preciso ter sistemas informatizados e unificados para substituir as inúmeras fichas de papel por prontuários eletrônicos — o que, além de evitar gastos e erros, economiza tempo nas consultas.
Para que isso se concretize, Sima sugere que essa instalação tem que ser feita de maneira gradual, pois precisa atender desde as metrópoles até as populações indígenas e ribeirinhas. O SUS, por exemplo, é universal. Falar sobre administração de saúde é falar também sobre política, não apenas o dinheiro resolve o problema estrutural do Brasil. É preciso haver uma mobilização social para entender que essa inovação pode ser a solução do problema", prevê. Ele diz que nesse quesito o setor científico vai desenvolver os estudos de impacto social e orçamentário, sobretudo para o debate político e ainda acrescenta: “Em seguida, é importante haver uma comunicação integrada, nesse sentido, jornalistas são essenciais. Os formadores de opinião ganham uma posição de destaque, pois trazem a informação correta à população. Deve existir esse ‘caminhar de mãos dadas’ para que essas tecnologias possam existir efetivamente", defende.
Registros Eletrônicos
Uma pesquisa feita em 2016, pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), incluiu 30 países-membros e revelou que, apesar de a maioria investir em registros eletrônicos, poucos conseguiram alcançar um nível de integração que permita extrair dados para pesquisas e estatísticas. A maior parte ainda colhe informações de forma isolada e as analisa separadamente.
Segundo Ary, isso pode tornar-se realidade através de um bom planejamento. Para ele socializar esses dados, torná-los mais democráticos é essencial. "Sem dúvida nenhuma, a tecnologia bem empregada nos dá mais tempo para ficar com o paciente, aumentando a qualidade do atendimento. Um dinheiro bem empregado e profissionais adequados, sendo eles um profissional de Tecnologia da Informação [T.I], um de saúde e um datasets, que são imprescindíveis, afinal, o médico traz a prática, o datasets analisa os dados e o T.I acopla isso aos sistemas”, explica.
Incentivos à pesquisa também são um dos grandes pilares para o desenvolvimento. Serpa explica que a pesquisa é uma das formas mais inteligentes de utilizar dinheiro e atender ao paciente. Ela tem salvado vidas de pessoas que não tinham acesso aos tratamentos como no caso da oncologia. "Muitas coisas no SUS só são feitas por esse incentivo, por parcerias com indústrias ou com governos federais ou estaduais. Sobretudo, também é preciso mudar a visão da população, para que se entenda que pesquisas não servem para fazer ninguém de cobaia ou para mascarar um ato corruptível”, adverte.
Outro desafio enfrentado por essa revolução é o aspecto humanitário do atendimento ao paciente. Profissionais e usuários dos serviços argumentam sobre a suposta falta de humanidade do cuidado igualitário, feito por equipes multiprofissionais. O algoritmo, a inteligência artificial, o deep learning podem acabar dominando o cuidado¹.
Entretanto, os apoiadores da inovação rebatem: “Se falarmos das principais críticas ao acesso dos pacientes aos sistemas de saúde pode haver um pouco de preconceito da nossa parte. Nós já operamos teleconsultas no interior do Amazonas e a grande surpresa foi saber que a comunidade tinha acesso à Internet, mas não tinha sinal de operadoras ou cabos de telefonia. Atendemos crianças que precisavam de neuropediatras, e estavam aguardando há 3 anos na fila. Sem essas tele-consultas não seria possível orientar a família e passar o tratamento correto. Nós testamos e vimos que, apesar dos desafios, foi fácil atingir nosso objetivo”, argumenta Sperling.
Para Sabrina Dalbosco Gadenz, gerente de projetos no Hospital Sírio Libanês dentro do portfólio Regula+Brasil, essa revolução tecnológica já aconteceu em outras profissões: “A transformação digital que a saúde está passando agora, muito por conta da pandemia, nós já vimos antes. Nós não chamamos o banco de tele-banco, por exemplo, e hoje em dia fazemos tudo pelo celular. A medicina não é ‘tele-nada’, é saúde e medicina como qualquer outra coisa. É preciso revisar e avaliar todos esses processos para ser bom para os profissionais e pacientes. Ambos precisam enxergar valor e qualidade no serviço oferecido, é para isso que nós trabalhamos”, explica.
Os diferentes pontos de vista acerca de toda essa modernização acabam enriquecendo o debate, e proporcionando diferentes maneiras de solucionar os problemas que o upgrade na medicina enfrenta, a fim de simplificar e unificar os atendimentos aos pacientes brasileiros. A evolução tecnológica no campo da medicina está em busca de comprovar sua utilidade terapêutica. “Muitas vezes o que tem de mais humanitário num atendimento é o tratamento e o resultado final positivo, como a cura de determinada doença”, finaliza Giovanni Sima.
Glossário:
Big data: Segundo o Oracle Brasil, big data é um conjunto de dados maior e mais complexo, especialmente de novas fontes de dados. Esses conjuntos de dados são tão volumosos que o software tradicional de processamento de dados simplesmente não consegue gerenciá-los.
Machine learning: Segundo IBM Watson, é uma tecnologia onde os computadores têm a capacidade de aprender de acordo com as respostas esperadas por meio associações de diferentes dados, os quais podem ser imagens, números e tudo que essa tecnologia possa identificar.
Data analytics: Processo de analisar informações (dados) com um propósito específico. Isto é, pesquisar e responder perguntas com base em dados e com uma metodologia clara para todos os participantes.
Datasets: Um conjunto de dados ou "dataset" é uma coleção de dados normalmente tabulados.
¹Adaptação da frase do médico e escritor Luiz Vianna Sobrinho, que disse: “Acabou a figura do médico à beira do leito. O algoritmo, a inteligência artificial, o deep learning e…a lógica da gestão acabam tomando à frente do cuidado”.
Por Eleonora Marques
Como seria o seu dia se você não pudesse usar Internet, celular, computador e televisão? Você conseguiria trabalhar, estudar, passear e viajar? Mesmo que tenha respondido “sim” para alguma dessas perguntas, será que conseguiria chegar a todos esses locais sem um GPS? Em um mundo tão conectado - especialmente na pandemia - às vezes parece que a tecnologia sempre esteve aqui. Mas não é bem assim. Os eventos da história sempre foram registrados e transmitidos com as tecnologias disponíveis em seus tempos.
Quando Luzia Maria de Almeida (85) nasceu, em 1936, o rádio era artigo de luxo: ainda menina, ela conta que se lembra de ter apenas um em toda a vizinhança. Aos poucos, o produto começou a se popularizar um pouco e outras casas passaram a ter não só o rádio, mas também um móvel específico para colocá-lo. Afinal, naquela época, ouvir as notícias, músicas e novelas era um evento especial. “Lembro que de ouvir sobre a Segunda Guerra e de papai ficar preocupado, achando que podiam chegar no Brasil ou que alistariam ele e meu irmão. Quando ele falava disso, mamãe sempre ia para a cozinha. Lembro do cheiro do cigarro de palha dela e ela ensinando a gente a depenar galinha”, conta.
Segunda Guerra Mundial. Cigarro de palha. Depenar galinha. Todas essas cenas, que fizeram parte da vida de Luzia e de muitos dos idosos do Brasil, parecem estrangeiras aos mais jovens. Edil Baffa (88), natural de Queluzito-MG, também relembra acontecimentos que para ela parecem recentes, claros na memória, mas que já podem estar distantes para boa parte da população. Ela conta que veio para São Paulo aos 17 anos, acompanhada do pai e dos irmãos. “Íamos todos juntos ‘tomar’ o bonde para ir trabalhar. Meu pai tinha me conseguido um emprego de datilógrafa no Ministério do Trabalho na época, eles trabalhavam lá perto também”, diz.
Ao ouvir suas histórias, é possível perceber que Luzia, Edil e todos os idosos presentes na sociedade viram a maior parte das invenções do século passado surgirem. E se adaptaram a elas. Porém, na velhice, essa tarefa pode ficar mais difícil.
“Até hoje não sei usar WhatsApp. Consigo mandar mensagens para os contatos que tenho salvos, mas ligar, mandar áudio... Vish!”, brinca Luzia.
De acordo com o neurologista Bruno Funchal, colunista do site "Neurologia Integrada", essa dificuldade relatada por Luzia é normal. Com o passar dos anos, os neurônios atingem seu limite de funcionamento cognitivo, fazendo com que a velocidade e a qualidade das conexões sejam prejudicadas.
Além disso, uma pesquisa realizada pela Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto (FMRP), mostrou que os idosos ainda encontram barreiras adicionais. Entre elas estão as letras pequenas e o aparelho vir configurado em inglês. Segundo a autora do estudo, Taiuani Marquine Raymundo, outro problema é a idade com que foram apresentados às novas tecnologias. Para ela, isso pode ser um obstáculo tanto para que entendam a tecnologia, quanto para que a acrescentem ao seu cotidiano.
Ainda, do total dos entrevistados por Taiuani, 40% relataram ter medo de utilizar novas tecnologias, 24% deles por receio de danificar o aparelho. Os motivos para isso podem ser múltiplos, mas, entre eles, pode estar a maneira com que os idosos foram ensinados a lidar com a tecnologia ainda na infância.
Como o rádio, vitrola e demais aparelhos modernos para a época eram caros, tanto a família de Edil, quanto a família de Luzia não permitiam que elas tocassem neles: o manuseio dos aparelhos era restrito somente aos adultos.
Para driblar esse possível trauma, a paciência de filhos e netos e a criação de cursos de inclusão digital voltados para esse público podem ser boas escolhas.
Por Laura de Almeida Melo
Quem nunca abriu um site qualquer e se deparou com uma grande mensagem dizendo que este site utiliza cookies e, ao continuar navegando, você aceita essa política? Mas, afinal, o que são esses cookies e o que eles estão armazenando? De acordo com a advogada Cristina Cantú Prestes em seu artigo “Privacidade e Intimidade: A Legalidade dos Cookies e Spam”, cookies são pequenos arquivos armazenados em nossos navegadores e dispositivos que contém dois pedaços de informação: um identificador do consumidor e um identificador da página. Derivando do conceito de “Magic cookies” (biscoitos mágicos), ela afirma que cookies são capazes de armazenar dados como passes para localizar cada usuário e fornecer maior facilidade para navegação e propagandas mais direcionadas, como os spams que chegam ao email em segundos. Mas você sabe o que acontece depois que seu navegador é fechado?
Existem três tipos de cookies: de sessão/transitórios; permanentes/persistentes e os maléficos. Cookies de sessão são apagados do seu dispositivo assim que o seu navegador é fechado, eles não coletam nenhum dado pessoal ou informações do computador, apenas armazenam informações que identifiquem o usuário. Os cookies permanentes, no entanto, permanecem no seu dispositivo até serem excluídos manualmente ou quando sua data de validade é expirada – que pode ser em um dia ou mil anos. Ao contrário dos cookies de sessão, os permanentes coletam informações do usuário como, por exemplo, sites que ele visitou anteriormente e seus favoritos, para construir a preferência daquele usuário. Já os cookies maliciosos, como diz o próprio nome, são os mais perigosos e os que devemos nos preocupar. Esse tipo de cookie, além de coletar informações do usuário como os cookies permanentes, acompanham toda a sua atividade online, rastreiam e montam um perfil do usuário, que podem ser vendidos e utilizados para qualquer propósito, além de captarem informações pessoais e sensíveis, como senhas de bancos ou até sua religião. É por causa deste último e mais outros casos que a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) entrou em vigor no Brasil em setembro de 2020, pois esses, também conhecidos por serem pequenos arquivos rastreadores, violam a privacidade e intimidade do titular dos dados, agora ilegal pela sanção da lei.
“Depois de escândalos como o dos Estados Unidos de vazamento de dados, se entendeu que era necessário um limite de legislação. A gente sabe que a internet é um ambiente autorregulado muito positivo e útil, mas o direito vem para impor limites. Crime é crime, dentro ou fora das redes.”, comenta Cristina. “Só o fato de o Brasil reconhecer a proteção de dados já é muito positivo, pois o coloca como um País sensível e confiável quanto à essa problemática internacional.”. Tendo como principal referência a General Data Protection Regulation (GDPR) da Europa, a LGPD possui uma agência regulatória - a Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD) para fiscalizar e aplicar multas quando necessário. Além disso, a lei foi incorporada no Código de Defesa do Consumidor, podendo ser atendida tanto pela ANPD quanto pelo PROCON.
Mesmo com todo cuidado da lei, ainda há especialistas que a acham pouco eficaz, como o doutor em direito pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Josué de Oliveira Rios. “Se fosse levada à risca, os cookies quase deixariam de existir”, argumenta. “Falta transparência, pois só apresenta para o titular dos dados (usuário) uma possibilidade – concordar com os cookies. A maioria das pessoas, pensando que perderão o acesso ao site, concordam, mesmo não sabendo do que se trata. Deve-se esclarecer a finalidade para o titular consentir conscientemente.”. Para excluir os dados recolhidos por cookies, o titular deve entrar em contato com o controlador do site, normalmente indicado na Política de Privacidade, ou excluir remotamente do seu dispositivo nas configurações na opção limpar dados de cachê e cookies.
Mas, afinal, qual é o risco do recolhimento de dados? E como isso infringe nossa privacidade? O caso mais famoso de mapeamento de perfis com base de dados recolhidos pelo Facebook foi o da Cambridge Analytica, que mapeou perfis de pessoas indecisas quanto ao voto das eleições de 2018 dos EUA e também no plesbicito do Brexit, na Inglaterra. A empresa de publicidade, ao mapear esses perfis com dados pessoais sensíveis, como raça, religião e posicionamento político, bombardeava cada pessoa com anúncios ou notícias falsas que a tiravam de cima do muro para votar no candidato da campanha. Assim, iniciou-se a caça à segurança dos dados e leis como a LGPD e a GDPR entraram em pauta no legislativo.
Por Lidiane Miotta
A Internet se transformou na espinha dorsal da modernidade, uma necessidade indiscutível que passou ressignificar tudo ao nosso redor. Contudo, para fazer parte dessa nova organização da sociedade é necessário ter equipamentos como celulares, computadores e tablets, e do serviço da Internet. Mas com uma desigualdade social tão grande como é o caso brasileiro, em que as pessoas têm dificuldade até de comprar comida, a desigualdade também chegou ao nível digital, passando a excluir e dificultar os indivíduos de participarem da vida virtual que se tornou tão importante no nosso cotidiano e passou a intervir em coisas essenciais para os brasileiros, principalmente nesse momento de pandemia, como a busca de emprego e o recebimento do auxílio emergencial por conta digital na Caixa Econômica Federal.
A último pesquisa do PNAD, realizada em 2019 e divulgada nesse ano pelo IBGE revela que 21,7% da população brasileira não tem Internet, isso é 39,8 milhões de pessoas não utilizam a rede mundial, e que o rendimento médio dos domicílios com Internet era de R$ 1.557, enquanto para os que não têm Internet é de apenas R$728. Quando perguntados pelo motivo de não utilizarem a Internet, um dos mais alegados no estudo, é que o serviço ou equipamentos eletrônicos são muito caros (18%).
Apesar disso, a desigualdade digital apresenta um novo elemento, que a desigualdade social não tem: ela não exclui só aqueles que não têm dinheiro, ela também exclui aqueles que por algum motivo não aprenderam a usar equipamentos, ou seja, não são alfabetizados digitais, que têm dificuldades ou que não têm interesse em utilizá-los. O número de pessoas que entram nessa categoria é 75,4% de acordo com a pesquisa do PNAD, e isso faz desses os motivos mais apontados como razão a não utilização da Internet, a não ser entre os estudantes.
A partir desse ponto o estudo demonstra que entre os estudantes e não estudantes os números têm uma grande diferença. Entre os estudantes a porcentagem de pessoas que utilizam a Internet chega a 88,1%, enquanto as dos não estudantes é de 75,8%, e o motivo de não saber usar a rede mundial é de apenas 16% entre os estudantes, enquanto entre os não estudantes é de 47,2%. A diferença porcentual dos motivos de não fazer uso da Internet também se torna grande: entre os não estudantes os principais motivo é não saber usar a Internet (47,2%) e não ter interesse em utilizá-la (33,1%). Enquanto entre os estudantes os principais motivos são o serviço de Internet ser caro (26,1%) e o custo alto dos equipamentos necessários (19,3%).
Quando entramos a fundo nesses aspectos percebesse que entre os estudantes a condição econômica ganha mais importância na desigualdade digital, reproduzindo a conhecida desigualdade social brasileira, pois entre estudantes da rede pública o uso da Internet é de 83,7%, mas nas Regiões Norte e Nordeste do Brasil esse número chega a apenas 64,4% e 77%, enquanto nas outras regiões varia entre 88,6% e 91,3%. Entretanto entre os estudantes da rede de ensino privada a de Internet fica acima de 95% em todas as regiões do Brasil e quase atinge a totalidade nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste.
Dessa forma o estudo concluí que 95,9% dos estudantes que não tem acesso à Internet são da rede pública de ensino, resultado que foi escancarado durante a pandemia da Covid-19, onde o ensino teve que se tornar remoto e consequentemente muitos desses estudantes foram excluídos dos estudos por não terem como fazerem uso da rede mundial de computadores.
Por Gabriel Dutra
As últimas décadas apresentaram um enorme desenvolvimento dos processos tecnológicos em diversos campos da nossa sociedade. Avanços na área da saúde, da educação, dos negócios e em vários outros segmentos ocorreram por causa da tecnologia. E no mundo dos esportes não foi diferente, uma vez que se trata de uma área que passou (e continua passando) por inúmeras mudanças, tanto na forma como esses esportes são organizados e transmitidos, como na maneira que os clubes e os atletas vêm se preparando para as competições. A tecnologia promoveu diversas modificações nesse meio e a tendência é que continue promovendo cada vez mais.
No que diz respeito à organização das competições esportivas, um grande incremento da tecnologia é o uso de equipamento de auxílio aos árbitros. No futebol, por exemplo, o principal equipamento tecnológico é o árbitro de vídeo (Video Assistant Referee - VAR), que vem sendo utilizados nas principais competições pelo mundo desde 2017. E apesar de contestado por muitos devido à maneira como é utilizado, é difícil imaginar o futebol novamente sem a presença do VAR.
De qualquer maneira, o debate é amplo e há diferentes visões de especialistas a respeito do uso desta tecnologia no futebol. Paulo Vinícius Coelho, o PVC, por exemplo, revelou ao jornal "Lance!" que é a favor do uso do VAR no futebol, mas tem ressalvas. "Sou a favor. Mas acho que o VAR tem que ser usado como corretor, o que era sua função primordial. Tem que acabar com a polêmica. No momento, ele não tem feito isto. A forma como ele é utilizado está gerando ainda mais polêmica no futebol", disse PVC.
Já Walter Casagrande, comentarista esportivo, em entrevista ao mesmo jornal, se mostrou bastante desconfiado em relação ao impacto do uso do VAR no futebol. "Olha, eu ainda não consegui me acostumar ao VAR. Mas acho que é pela maneira como os árbitros se comportam em campo. A sensação é de que os juízes agora tiveram uma perda de convicção ao apitar faltas. Toda hora, eles usam o VAR como escudo. Parece que apitam primeiro o lance e, depois, esperam que o árbitro de vídeo dê seu veredicto", analisou Casagrande.
Além do futebol, outros esportes de destaque também possuem, há um bom tempo, sistemas tecnológicos de auxílio à arbitragem que são imprescindíveis para o bom andamento das competições, como o tênis e o futebol americano, com o sistema conhecido como desafio, e o vôlei, com o uso do Hawk-Eye (olhos de falcão).
Já com relação ao uso da tecnologia nas transmissões dos eventos esportivos, muitas evoluções também podem ser observadas. À medida que o interesse por esportes cresce ao redor do mundo, cresce também a demanda do público para acompanhar uma maior quantidade de partidas e torneios. Cinco décadas atrás acontecia a primeira transmissão ao vivo de um evento esportivo de longo alcance na América Latina: a Copa do Mundo de futebol no México, em 1970. É claro que a tecnologia utilizada naquela época na transmissão do mundial não é a mesma que utilizam nas transmissões esportivas da atualidade.
Naturalmente, nos últimos anos, a tecnologia necessária para realizar a transmissão de eventos esportivos de alta demanda, como copas do mundo e olimpíadas, cresceu abundantemente. Como exemplo, as distintas plataformas de streaming esportivo, tais como Dazn, Esporte Interativo Plus e SporTV Play, que permitem que o público acompanhe as competições por meio de diferentes dispositivos, como computadores, tablets e celulares, algo que era impossível 50 anos atrás.
A produtividade dos atletas é outro fator que mudou radicalmente com os avanços tecnológicos ocorridos no mundo dos esportes. Nesse quesito, a tecnologia vem sendo utilizada com a finalidade de promover evoluções no desempenho dos esportistas, para que, assim, eles possam alcançar o seu melhor rendimento e potencializar os seus resultados, através de uma preparação cada vez mais avançada e inovadora.
Os recursos tecnológicos possibilitam, por exemplo, que todas as informações referentes a um time ou atleta sejam coletadas e analisadas, através de um “Banco de Dados”, que permite o armazenamento dessas informações e, depois disso, a implementação de melhorias específicas quando necessário, tanto nos treinamentos como nas ferramentas utilizadas pelos atletas. A tecnologia também proporciona o surgimento de vestimentas que podem melhorar o rendimento, como roupas inteligentes, tênis de alta performance, além de equipamentos e acessórios modernos, como por exemplo raquetes de tênis e bolas de futebol com o uso da nanotecnologia, e relógios inteligentes (smartwatch). Os atletas, nos dias de hoje, possuem um rendimento amplamente superior em comparação aos de décadas atrás.
A tendência é que esses avanços ligados à tecnologia continuem cada vez mais presentes. Indubitavelmente, o mundo dos esportes depende cada vez mais de novos recursos tecnológicos para a melhoria de desempenho de atletas e profissionais ligados ao setor esportivo, e também para o desenvolvimento de novas formas de transmissão e das modalidades esportivas de uma maneira geral.