Por Daniel Dias
A tecnologia continua a evoluir a passos que a humanidade ainda se surpreende. Anos atrás os emails substituíram as cartas e após isso aplicativos como o Whatsapp, encontrados nos smartphones, deixaram tudo ainda mais prático.
Por muito tempo saber mexer nesses aplicativos era algo somente para o público adulto ou para pessoas que estudaram sobre o assunto, por conta da complexidade apresentada. Porém, hoje em dia são os jovens que comandam a utilização da tecnologia.
A geração atual praticamente nasce sabendo utilizar um celular ou um computador, sendo agora eles a ensinar os adultos. Tudo se tornou mais prático. Os livros físicos vêm sendo substituídos por digitais, as perguntas que necessariamente teriam que ser feitas para professores podem ser encontradas no Google, entre outras questões.
Por conta dessa evolução, tanto dos jovens quanto da própria tecnologia, o mundo e suas mais diversas áreas tiveram que se modernizar para não se tornar algo retrógrado em relação a esta geração. Recentemente, a área que sofreu com tal alteração foi a educação, as apostilas vem deixando de serem utilizadas e sendo substituídas em escolas que possuem condição, por tablets. Os livros que são indicados para leitura podem ser baixados em celulares, e provas podem ser feitas de modo digital.
O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) decidiu realizar em 2020, criando o ENEM digital para diminuir o gasto de folhas impressas, facilitar a correção da prova e também a velocidade da liberação dos resultados. Em relação a tecnologia, a ideia é interessante, pois ajuda em diversas questões ambientais e praticidade, no entanto por ser eletrônico ainda pode apresentar problemas como panes elétricas, falta de energia e outras questões.
Entretanto, e pedagogicamente falando? Como isso afeta os estudantes, escolas e cursinhos preparatórios? Tal mudança é realmente uma melhoria para a educação e será que é mesmo algo justo? Todos estarão prontos para realizar a prova digital até 2026 como está previsto?
A coordenadora Yanka Xavier do Cursinho Comunitário A-SOL, em Guarulhos, acredita que no momento a tecnologia possa escancarar a desigualdade social no sentido de auxiliar jovens da periferia a entrarem no ensino superior.

Agemt: Como você vê essa mudança de alguns vestibulares, principalmente, do Enem para o digital?
Yanka Xavier: Como coordenadora do cursinho A-Sol, percebi que, pelo menos nas periferias onde atuamos, não houve antes da implementação das provas digitais, o letramento e treinamento necessário para manter a qualidade na avaliação dos estudantes. Acredito que a tecnologia deve sim servir a melhorias, principalmente na questão do gasto de papel em relação ao meio ambiente, mas ainda assim percebemos que instituições como o INEP, por exemplo, atropelaram essa questão sem o fundamental preparo prévio dos estudantes, o que pode salientar ainda mais a desigualdade no acesso às provas, e não o contrário como impele a proposta. Muitos, por exemplo, mal tem contato com computador em casa e só acessam a rede de internet pelo celular que muitas vezes não tem a mesma qualidade de processamento e ferramentas.
Agemt: Você acredita que pedagogicamente falando, essa mudança facilita ou complica a vida dos estudantes e instituições de ensino a se prepararem para o vestibular?
Yanka Xavier: Acredito que se houver o investimento no preparo, ou seja, no letramento digital e o investimento em maquinário principalmente com os estudantes que não tem condição alguma de ter um computador em casa, pode ser que comecemos a implementar a ideia de forma que atenda as demandas sem precisar atropelá-las. Como essa ideia foi imposta numa situação precária onde muitos estão mais preocupados em manter empregos e não passar fome do que conseguindo priorizar os estudos, acredito que surge aí o aumento da insegurança e não a melhoria no preparo do estudante para determinada prova.

Agemt: Neste momento, o cursinho tem condições de auxiliar os alunos a prestar o Enem digital? Com computadores que já os habituem a tal prova
Yanka Xavier: Como somos um movimento social e militantes voluntários, sem exceção, dependemos muito um do outro para fazer as coisas acontecerem, visto que, na cidade o poder público tão pouco se preocupa com a existência de cursinhos comunitários ou vimos o Estado com essa preocupação com o ensino médio, por exemplo, pelo menos nessa atual gestão. Por outro lado, mesmo sem qualquer apoio, sempre disponibilizamos questionários para saber como anda cada um deles e fazemos levantamentos per capita de quantos de nossos estudantes possuem ou não computador e internet em casa, ou se trabalham, tem o que comer, etc. Assim, podemos buscar soluções no nosso alcance para resolver um problema que não está na nossa alçada, visto que essas obrigações fundamentais teria de vir dos órgãos responsáveis já que o cursinho só existe porque o Estado ainda não tem cumprido seu papel de eficiência nas escolas, por outro lado, vem sucateando e privatizando as instituições de ensino. O resultado disso é menos acessos e menos soluções para problemas estruturais. Basta observar que este ano batemos recorde de baixa nas inscrições para o Enem em qualquer formato.
Agemt: Acredita que esse novo formato seja justo para todos os alunos? Desde os que possuíam uma qualidade financeira melhor até os de periferia?
Yanka Xavier: Acredito que este novo formato sem investimento e resoluções para problemas concretos e estruturais, pode na verdade salientar a desigualdade entre os estudantes no momento da prova com as justificativas que expliquei anteriormente.
Agemt: Por enquanto esses vestibulares são somente opcionais, porém é estipulado que até 2026 o Enem será somente digital. Até lá, em relação a estrutura, a método de ensino e até mesmo pedagogicamente no geral, vocês já se vêm prontos para tal feito?
Yanka Xavier: Sobre o corpo docente e a equipe diretiva e pedagógica do A-Sol, temos voluntários especialistas em ciência da computação e contamos com projetos voltados ao letramento digital a partir do ano que vem (2022). Nossa luta agora será conseguir equipamentos para que esse feito seja concretizado. Mas com certeza todo o estudante que entrar no A-Sol poderá contar com a força da nossa militância para que tenha um bom alcance em suas provas e consiga enfim alcançar seus sonhos e uma vida melhor. A gente acredita muito no potencial dos estudantes das periferias, mesmo que seja a classe mais prejudicada com toda a realidade material imposta a elas e a eles.
Por Mário Gandini
No começo da pandemia, no ano de 2020,o Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) recebeu robôs que permitiram aos médicos da unidade fazer atendimento aos pacientes com COVID-19, remotamente, usando recursos de telepresença. Os equipamentos foram doados pela empresa de tecnologia Pixeon e estão em cinco áreas do HC sendo usados para visitas virtuais de familiares aos pacientes internados e até mesmo na triagem, tudo isso com a finalidade de manter esse distanciamento social.
A doação reforça a estratégia da Pixeon de oferecer a hospitais e clínicas tecnologias que permitam aos pacientes uma jornada de saúde cada vez mais digital, sem deixar de lado o aspecto humano, tão importante em qualquer tratamento. O uso de robôs na medicina não é nenhuma novidade, principalmente na área da cirurgia. Com a chegada da pandemia muitos avanços foram agilizados e era de se esperar que essas inovações seriam realizadas de forma orgânica, fora desse cenário caótico que estamos vivendo com milhares de mortes decorrentes do Covid-19. Uma das grandes inovações foram os robôs usados no Hospital das Clínicas para realizar a triagem dos pacientes com suspeita de Covid-19
Na etapa de triagem, logo quando uma nova pessoa chega no ambulatório, o enfermeiro é quem controla o robô, se mantendo afastado de quem está com suspeita de contaminação. O robô se aproxima e realiza as primeiras perguntas, como, por exemplo, se a pessoa já apresenta problemas respiratórios etc. Em alguns casos, até mesmo os pacientes internados na UTI, quando precisarem de ajuda dos profissionais de saúde, são atendidos via robô. Thiago Maciel, formado em Ciência da Computação e funcionário do Hospital das Clínicas na área de tecnologia explica que durante a pandemia muitas empresas com projetos de utilização de robôs. "Ajudamos principalmente na parte da aplicação do desenvolvimento" como foi o caso da televisita. "O robô vai até o leito, se posiciona da melhor forma e faz a chamada com a família, com o pessoal que está de fora, e então podem usar vários softwares, como o do próprio aparelho ou o zoom, ou o WhatsApp”, afirma.

crédito: Divulgação O Globo
Maciel conta ainda que a pandemia trouxe necessidade de soluções tecnológicas que estavam em segundo plano. Projetos engavetados e ideias inovadoras tornaram-se prioridade numa sociedade pulsante por inovações. Além da aceleração de projetos antigos, muitos profissionais estão trabalhando para inovações tecnológicas. “Nós ficamos com um protótipo de um carrinho autônomo que não chegou a ser usado com o mesmo volume que o da televisita". Ele planeja integrar esse carrinho em projeto um pouco maior na UTI. "A nossa ideia é que todos os dispositivos de uma UTI se conectem em uma mesma rede e transmitam dados de forma uniforme para nós conseguirmos enxergar tudo sobre o paciente em um mesmo local", planeja. Mais: "hoje em dia não é assim, nós pensamos em um paciente um pouco mais complexo, ele tem um ventilador mecânico ligado a ele, uma bomba de infusão para aplicação de medicação, um monitor multiparamétrico e eventualmente mais um aparelho que ajuda na respiração. Então, você olha o posto de enfermagem tem várias telas, cada uma para você enxergar uma coisa, a ideia é justamente unificar esses dados que alimentarão a inteligência artificial do robô para ele tomar as decisões necessárias”, prevê.
Por Rafael Monteiro
No final do segundo trimestre de 2021 um antigo alerta, que não era aceso desde 2001, está em evidência. Trata-se de uma nova crise energética, que obriga o País economizar energia mais uma vez. Por conta da crise hídrica, que leva ao problema em relação a energia, a conta de luz aumentou seu valor em 5%, além da aplicação de sucessivos aumentos nas bandeiras tarifárias, fato que tem pesado no orçamento das famílias ao redor do Brasil.
Nesse cenário atual, a saída mais viável seria a adoção de novas maneiras de se conseguir energia. Entre elas os painéis solares ou fotovoltaicos, que devem evoluir bastante, tanto no Brasil quanto em outros países, nos próximos anos. Mas primeiro, o que é energia solar? Se trata de toda a energia proveniente do sol, sendo essa térmica ou luminosa, fornecida em forma de radiação solar. É considerada por estudiosos como uma fonte energética inesgotável e superior a outras fontes de energia renováveis, como por exemplo, eólica, hídrica e geotérmica.
E para se obter essa energia solar é preciso dos painéis solares cujos preços para instalação podem variar bastante, podendo ser de R$ 4mil até R$ 10mil para uso residencial, e o preço apenas do painel pode ser de R$750 até R$900 por unidade.

Além do próprio painel, também tem que ser comprado e instalado um inversor, que transforma e habilita a energia acumulada pelos painéis para que se possa utilizar em casa, onde os preços são de R$1.500 à R$40mil. Outro dispositivo importante seria as baterias solares, pois elas armazenam a energia restante, possuindo quatro tipos: Baterias AGM (para instalações pequenas), Baterias Monobloco e Estacionárias (para instalações de uso contínuo) e as Baterias de Lithium (funcionais, porém com preços elevados).
Também é preciso contar com alguns outros elementos, como uma estrutura de suporte para os painéis, um contador bidirecional, cabeamento, um regulador de carga, e claro, o mais importante uma mão de obra especializada para instalar os aparelhos. Para Gustavo Sá, Engenheiro ambiental, MSc em Engenharia de Energia e professor de Pós-graduação do Senac Jabaquara, a utilização de painéis solares em residências é possível, porém não de imediato:
“Com um payback de aproximadamente 3,5 anos, para um tempo mínimo de geração estimado em 25 anos, tem-se um ganho médio de 21,5 anos sem pagar pela tarifa de energia – TE, cabendo somente o pagamento da tarifa mínima da concessionária, caso a unidade consumidora seja conectada à rede (on grid). O problema, creio eu, é o acesso ao recurso, pois prover um montante médio de R$ 13 mil para adquirir um sistema fotovoltaico e suprir o consumo de uma residência com 4 pessoas, muitas vezes não é fácil. Mesmo assim, observa-se que as pessoas preferem trocar seu veículo por um mais novo com esse recurso, mesmo que obtido em financiamentos (pagando juros não tão suaves), mas têm resistência em adquirir um ativo (isso mesmo, um ativo, gera lucro, já o carro só deprecia) e facilidade para financiar um veículo.”
Ele explica que existem dois tipos de energia solar mais comuns, a solar fotovoltaica (geração de energia elétrica) e solar térmica (aquecedores para água), ambas com contribuições positivas para o setor energético. “Para a geração solar fotovoltaica, cabe ressaltar que a geração pode ser feita em pequena escala (Geração Distribuída – GD: residências, comércios e indústrias, onde a unidade consumidora pode gerar sua própria energia e injetar o excedente na rede local) e grande escala (Geração Centralizada – GC: projetos de geração de energia elétrica de grande porte, voltados ao abastecimento público por leilões públicos de energia ou por venda no mercado livre de energia).” Diz Sá, ressaltando como funciona a energia solar fotovoltaica.
Ele fala também da geração de energia de grande e pequeno porte: “Para a geração de grande porte, existe uma regulação diferenciada, cujos incentivos são inerentes às fontes renováveis, aplicando-se ao atendimento público da oferta de energia ou pelos produtores do mercado livre de energia, o ML”, explica. Mais: “Para a geração de pequeno porte, em GD, que têm sido alvo de muitas discussões e polêmicas, a política energética praticada no país não prevê incentivos diretos, na forma de tarifas prêmio, por exemplo (buscar por feed in tariff). O que existe são convênios do Confaz que reduzem ou zeram alguma carga tributária (a depender da adesão por estados), o que na prática, reduz o preço dos kits de equipamentos”, informa.
É possível afirmar que a política energética atual do País não relaciona incentivos financeiros à importância da GD, que incluí a energia solar fotovoltaica, para o sistema interligado nacional (SIN). “Primeiramente é necessário dizer que a geração de energia solar fotovoltaica requer do sistema local uma capacidade de suporte, pois se todas as unidades consumidoras passarem a injetar energia na rede, certamente haveria a necessidade de uma atualização dessa rede local, entenda-se investimentos em ampliação”, prevê.

Nesse contexto, a injeção de energia gerada por fonte fotovoltaica distribuída, dentro dos limites que o sistema suporta na atualidade, certamente é benéfica, pois evita-se que a energia gerada remotamente em usinas de fontes diversas tenha a necessidade de ser transmitida (pelas linhas de transmissão de energia, essenciais para este fim). Mas, ainda no ponto positivo, se por exemplo, uma residência produz exatamente a média de energia que necessita consumir, através de um sistema fotovoltaico de pequeno porte, não necessitando dessa forma injetar excedentes na rede, tem-se um cenário essencialmente positivo, pois supre a necessidade daquela unidade consumidora e ao mesmo tempo não exige da rede local um suporte, justamente por não estar injetando energia e sim consumindo somente o que necessita.” Comenta o engenheiro ambiental, sobre como alguns pontos positivos da energia solar para uso residencial e com ela pode reduzir os impactos da crise energética.
Vai na contramão da sustentabilidade energética-econômica e ambiental, já que a diversificação da matriz energética se constitui no melhor cenário, principalmente quando pensado em termos da "avaliação do ciclo de vida – LCA” sobre a implementação dos painéis. Ele ainda complementa que é preciso ser avaliada a possibilidade de uma matriz cada vez mais limpa, com fontes renováveis em geral, eliminando os combustíveis fósseis. Se durante a noite o sistema solar não gera energia, e então se a necessidade por energia é maior, a única forma seria armazenar durante o dia e distribuir a noite, fato que implicaria em uso de baterias (em grande escala e com proporções físicas gigantescas), tornando nos padrões de mercado de hoje, inviável. É necessário saber que, por exemplo, a utilização do hidrogênio vem se mostrando muito importante no contexto da sustentabilidade ampla, ou seja, econômico-energética e ambiental.

Sá garante que o que se percebe pelo ponto de vista da avaliação de ciclo de vida, é que um sistema de geração fotovoltaica tem tantos problemas quanto os demais, contudo, ao utilizar a energia do sol para conversão em energia elétrica, há diversos pontos de economia, principalmente porque dezenas de milhares de km de linhas de transmissão podem deixar de ser implantadas, conhecido como “do berço ao túmulo” na LCA. Assim, a possibilidade de gerar energia no local onde irá consumi-la é outra característica positiva importante no uso de painéis solares.
Por Julia Nogueira
Este ano conta a marca de 30 anos do lançamento (17 de setembro de 1991) e da criação do engenheiro de software, Linus Torvalds, do sistema operacional Linux. O pinguim Tux (mascote oficial do Kernel Linux) segue representando mais de 600 distribuições existentes, e até hoje um dos maiores exemplos de colaboração de software livre. Com essa filosofia contrapondo a lógica dos mercados, o Linux ainda é de pouco conhecido das pessoas.
Cristina Motinha, 26, utiliza uma distribuição do Linux há mais de cinco de anos, e afirma que “é muito ‘não natural’ para nossa sociedade pensar que alguém vai fazer algo e deixar você usar de graça. E o software livre vem justamente para mostrar que não, que é possível você retornar seu conhecimento para comunidade sem cobrar. "É possível você distribuir gratuitamente e ainda assim pessoas pagarem pelo produto, mesmo podendo usar de graça. É um ‘modelo de negócio’ que não é fácil de ser compreendido, e por isso, acaba ficando muito fechado nas bolhas de computação, essa discussão não sai pra sociedade como um todo", afirma. Não chega nas escolas, "no máximo alguém esbarra nisso quando faz algum trabalho sobre pirataria". O software livre que muita gente interpreta como "software de graça" na verdade é muito mais do que isso, é uma mensagem de inclusão, de comunidade, de dar sem esperar algo em troca.”
Se Torvalds, 30 anos atrás, foi o passe para a criação, o Linux se mantém porque desenvolvedores e colaboradores do mundo todo avançam ao longo desses anos com o código aberto para todos. Motinha complementa: “eu vejo o software livre como uma horta comunitária: todo mundo ajuda com o que pode, vai ter gente fazendo muito, gente que não pode colaborar, mas todos os envolvidos sabem que todos tem direito a comer o que surgir dali.”
Centenas de distribuições podem ter vindo a acrescentar ao longo do tempo, mas esses 30 anos mostram que o que não mudou é que mesmo sob a perspectiva de inclusão digital, continuamos à mercê da lógica do mercado, e desinformação sobre o universo de software livre confirma isso. Cristina continua: ”Tudo de computação é visto como feito por outros países, e o preço fica salgado pela conversão do dólar/importação, e assim como tem milhões de jogos piratas para os consoles, tem muitos CDs de softwares piratas também. Então, acaba juntando tudo. Você aprende na aulinha de informática a usar o Windows; vai pro seu trabalho, nos computadores Windows e Microsoft Office; vai pra casa, no seu notebook que já veio com Windows instalado. Vale a pena ficar sofrendo porque o formato do Libre Office não é compatível com o Word do trabalho? Mais fácil comprar um CD por 10 reais no camelô”, explica.
Mais do que apenas recuperar computadores velhos que não rodam novas atualizações de Windows, o Linux está presente em lugares que nem se tem ideia, como smartphones Android e as Smart TVs e, cerca de 85% das empresas o utilizam em seus servidores, como os casos do Facebook, Google, Amazon e até a NASA. Longe de alcançar a predominância do Windows nos desktops, a “horta comunitária” ainda cresce a cada dia, sem desviar da filosofia proposta 30 anos atrás.
Por Gabriel Aragão
O futebol americano, por natureza, é um esporte de contato que exige muito do físico de seus atletas e, diferentemente de muitos outros, seu equipamento é pesado e cobre diversas partes do corpo. Seu uso é essencial para a saúde do praticante, mas a consciência coletiva sobre sua relevância nem sempre foi tão elevada quanto é hoje, tendo avançando de mãos dadas com a tecnologia.
Na década de 1920, o capacete era feito de couro endurecido e depois o couro moldado (sim, o mesmo material usado em carteiras) tomou o lugar na proteção. Em 1949, o plástico é adotado para os capacetes ganhando, também, acolchoamento, mas não parou aí, sendo sempre aperfeiçoado até a versão que é hoje.
Em conversa, Paulo “Mancha” D’Amaro, comentarista e historiador de futebol americano, aponta inclusive para a importância do desenvolvimento desse equipamento para a segurança do jogo: “o capacete hoje em dia é desenvolvido de modo tecnológico, ele é simples, na verdade, mas é feito com cada vez mais testes para absorver os impactos e minimizar as chances de concussão”, explica. O comentarista lembra também que, nos primórdios do jogo, o esporte correu sérios riscos de ser banido por Theodore Roosevelt em 1905, por conta de muitas lesões e algumas mortes, resultando em mudanças de regras para um jogo mais seguro.
No capacete também se inseriu a facemask. Originalmente, se tratava apenas de uma barra. A facemask entrou em campo quando o técnico do Cleveland Browns, Paul Brown, exigiu que seu quarterback, Otto Graham, a utilizasse depois de sofrer um corte, precisando de 15 pontos no queixo. Nos anos 1970 foi adicionada uma nova barra (abaixo da original) com outras menores, ligando as duas, versão que ficou conhecida como “full cage”. Duas décadas mais tarde chegou a versão “grill”.

Todas essas mudanças foram pensadas com intuito de preservar a saúde dos jogadores, uma vez que as concussões são algo comum no esporte. Porém, não é só a cabeça que está em risco no futebol americano. Nos ombros, a proteção foi de feltro, lã e couro nos anos 1920, para espuma, couro endurecido, fibra sintética até, finalmente, plástico nas décadas de 1950 e 1960. A partir daí as grandes mudanças foram no design com os shoulder pads diminuindo de tamanho e o peso, ajudando na qualidade do jogo, sem perder a capacidade de proteger os atletas. O mesmo vale para o acolchoamento nas costelas, no abdômen, no quadril, nas coxas e nos joelhos.
Em entrevista, Patrick Dutton, fundador e CEO da Rio Football Academy (RFA), além de ter experiência como jogador, disse que, no cenário brasileiro: “Tem muitos atletas com condição de comprar do melhor e a gente vê bastante gente usando o mesmo equipamento da NFL (National Football League), quando se trata de capacete, proteção de ombro, chuteira, luva. A qualidade é muito boa”, opina. O que contribui para uma situação complexa é que, como Dutton lembra, existem mais lojas que vendem o necessário para a prática, mas, na acachapante maioria, é material importado, fazendo do custo arcado pelo jogador ser maior. Por esse lado, Dutton completa a questão anterior afirmando que ainda tem muitos atletas que usam equipamentos precários ou "equipamentos com mais de 10 anos de uso. Isso com certeza é prejudicial e é um perigo para a saúde física e mental dos atletas”, afirma.
Paulo Mancha lembra que nas décadas de 2000 e 2010 a ênfase das tecnologias desenvolvidas para o futebol americano se voltou a saúde dos praticantes, depois de anos projetando em como vender melhor o jogo e atrair mais fãs. Isso se deu pensando que a Encefalopatia Traumática Crônica (ETC) se tornou um problema conhecido publicamente, tanto na NFL como na National Collegiate Athletic Association (NCAA), que rege o esporte em nível universitário. O comentarista ainda encontra um papel importante da evolução da tecnologia nesse sentido fora do campo, com a inserção de um protocolo médico em suspeitas durante a partida, através de exames clínicos e com equipamento médico. Mas quando falamos de NFL e NCAA, estamos tratando da principal liga profissional do esporte no mundo e da principal organização do futebol americano em nível universitário, portanto, duas empresas bilionárias.
Pensando na brutalidade do futebol americano e no status do esporte no Brasil, Dutton afirmou que é irresponsável praticar o esporte (que no país é amador) sem plano de saúde.
Nem todas as melhorias tecnológicas no futebol americano, porém, são em prol da saúde, mas também no lado estratégico. No capacete, por exemplo, o quarterback e um jogador de defesa, de todos os times, tem um ponto eletrônico para ouvir qual jogada o técnico escolheu e que deverá ser executada. A partir daí, ele passa as instruções aos seus companheiros em campo. A ideia foi pensada por Paul Brown e no início houve dificuldades, como interferência do rádio da polícia e, em uma partida em Nova Iorque, até rádio de aviões, mas a ideia foi abandonada até voltar para o QB em 1994 e chegar ao lado da defesa em 2008.
No caso do Brasil, se tratando do aspecto tático, Dutton aponta para as plataformas de vídeo como Hudl, pensadas inteiramente no esporte para o estudo de vídeo e, por consequência, traçar a estratégia de jogo.
Paulo Mancha lembra que as melhorias tecnológicas desenvolvidas por causa do futebol americano tendem a se espalhar por outras ligas americanas, como as de beisebol, basquete, hóquei no gelo e até no automobilismo, através da troca de informações. O comentarista até cita que um “grande exemplo negativo disso é o VAR no futebol, mais por culpa do futebol, da FIFA e das confederações [do esporte], que são muito arrogantes e nunca foram buscar, junto à NFL, informações do Instant Replay. A NFL usa o replay desde 1994, então tem muito know-how disso, mas o futebol preferiu partir da estaca zero”.
A utilização do replay por aqueles que apitam os jogos da NFL já passou por várias mudanças. Hoje, o juiz principal do jogo vai até a lateral, onde uma pessoa segura um tablet da Microsoft com o lance sendo revisado. Além disso, o arbitro também discute com o chefe de arbitragem da liga (que fica em um escritório) o que estão vendo. Esses tablets também ajudam os jogadores fora da ação, já que podem observar o posicionamento do oponente no campo. Com isso as câmeras que revelam fotos instantaneamente perderam seu lugar no jogo. De maneira geral, a tecnologia faz o futebol americano um jogo melhor de se jogar e, por tabela, de se assistir.
O futebol americano, portanto, durante toda sua história se usou da tecnologia para evoluir, tanto na proteção dos seus praticantes que fazem as partidas acontecerem, quanto no aspecto tático, de estudo dos oponentes e formulação de uma estratégia para vencer, criando um esporte mais inteligente.