
Por Julia Takahashi
A pandemia da Covid-19 fez com que 2020 fosse considerado o ano em que o mundo parou. A sociedade teve que se isolar para não se contaminar com o vírus atualmente, estão contabilizados mais de 21 milhões de casos no Brasil, segundo os dados da Secretaria Estaduais de Saúde e, consequentemente, os espaços públicos foram interditados. Crianças, jovens e professores tiveram que aprender a lidar com aulas online enquanto outros tipos de trabalhos ficavam em home office. Todos foram afetados de alguma maneira, porém uma grande quantidade de pessoas não puderam trabalhar de casa e foram obrigados a se reinventarem para ganhar dinheiro. Muitos até perderam seus empregos devido ao corte de gastos das empresas.
Entre eles estão os artistas, por dependerem muito do público. A cantora Isadora Morais comenta que antes de iniciar a quarentena tinha muitos planos para a carreira, “antes da pandemia eu estava montando meu primeiro show autoral, eu tinha até um teste de luz no dia 16 ou 18 de março, a gente ia para um teatro e tínhamos algumas data fechadas para abrir com a banda. Aí foi uma pena, porque nosso ensaio foi cancelado, achamos que pudesse retomar na semana seguinte, mas está durando um ano e meio”, conta.
Essa pausa abrupta obrigou artistas a encontrarem outras maneiras de sobreviverem. Uma dessas saídas para continuar divulgando suas artes foi por meio de lives nas redes sociais, principalmente no Instagram e no Youtube. Cleber Akio, músico e produtor, explica sobre essa mudança: "os shows presenciais pararam, então passei a fazer algumas lives, alguns incentivos da prefeitura". "A Lei Aldir Blanc ajudou muito", diz. Quem tem um trabalho mais “sério” conseguiu pegar incentivo, fazer shows virtuais, fazer vídeo aula. Pelo estúdio eu produzi algumas lives, mas fui chamado também para fazer algumas lives”, diz.
Ambos os músicos comentam que as lives os ajudaram, principalmente na expansão do público, algo que era muito restrito a apenas a cidade pode ser acessada em todo Brasil e em qualquer lugar do mundo. Porém o maior ponto negativo é a falta de público. “É bem diferente tocar para as pessoas que estão lá com você, com o público interagindo, é bem diferente tocar para uma câmera, tocando para ninguém e falando sozinho”, afirma Cleber.
Contudo, uma outra profissão muito afetada são os técnicos do audiovisual. Segundo um levantamento feito pelo Glassdoor, o Workplace Trends 2021, as profissões mais afetadas, que mais tiveram sua atuação paralisada durante a pandemia são técnico e coordenador de eventos. O produtor de audiovisual, Luiz da X3m Luz & Som, comenta “Vi muitos amigos, parceiros, tendo se desfazer de muitos equipamentos de trabalho, para manter o sustento de sua família, mas acredito que o pessoal de montagem foram mais afetados, são a maioria dentro de um evento, e com a parada, não tinham onde se encaixar, a maioria desses profissionais, trabalham por conta (freelance), então dependem diretamente do dia de trabalho e não tendo aonde recorrer, e ainda tiveram auxílios negados, pois nem a categoria existia nos cadastros, ficaram à margem da sociedade”, explica.
Aos poucos, os espaços públicos, eventos, shows começam a voltar e as lives passam para um segundo plano, já que os gastos com elas são maiores que os cachês. Os artistas consagrados foram os que mais se beneficiaram com os patrocínios. Muitos acreditam que as "lives" não vão acabar por completo, até porque elas ajudam na divulgação do trabalho e podem dar mais visibilidade para conseguir chegar em uma platéia mais amplificada.
Por Carlos E. Kelm
Os efeitos da crise hídrica já reverberam em diversos setores da economia. Diante da falta de água nos reservatórios o governo acionou usinas termelétricas para suprir a demanda de energia, o que acabou encarecendo a conta de luz. A professora e pesquisadora, Clarice Ferraz, do Grupo de Economia da Energia da UFRJ, questiona as medidas do Governo e avisa que o problema pode piorar.
“Há mais de dez anos a gente observa que as hidrologias não são as mesmas; os reservatórios não estão ficando com o nível de armazenamento elevado”, explica Clarice. Para a professora, a causa do problema é estrutural e medidas como a nova bandeira tarifaria de “Escassez hídrica” indicam que a crise vai continuar: “se o Governo não agir sobre o problema e ficar só remediando, podemos esperar que essa bandeira seja disparada com uma certa frequência”.
A principal fonte de energia no Brasil vem dos rios. O nosso grande potencial hídrico garante uma energia limpa e renovável, no entanto, existem fatores que podem interferir no ciclo das águas. Podemos dividir estes fatores em dois grupos: os de ordem natural e os administrativos. Para Clarice, a atual crise hídrica foi agravada por questões administrativas, “O problema é você ter um grande percentual de hidrelétricas e não prestar atenção no que está acontecendo com os seus rios, com o seu padrão de chuva, e continuar colocando fontes que sejam mais poluentes, que não colaborem com a transição energética”. A fonte em questão é a termoelétrica: gerada a partir da combustão, libera grandes quantidades de gás carbônico, por isso, vem sendo substituída em diversos países por fontes mais baratas e limpas.
Para Clarice, a crise deveria ser contornada com um programa de eficiência energética: “Dado que você tem muitas hidrelétricas com reservatórios, para remediar essa crise você deveria pensar como reduzir o consumo promovendo programas de eficiência energética, com estímulos verdadeiros a indústria, com trocas de equipamento, com auditorias que a gente faz nos prédios pra ver se tem alguma fuga. Então, saber consumir o recuso com o máximo de aproveitamento”, explica.
A professora considera que a seca está diretamente relacionada a fatores ambientais, como a deflorestação e as queimadas na Amazônia: “Desmatando a floresta lá na Amazônia a gente diminui os fenômenos dos rios voadores, que são trazidos aqui pra região sudeste. Afetando esse ciclo, teremos cada vez menos água. Falta planejamento e isso é responsabilidade do governo, sobretudo do poder executivo”
Clarice reafirma que continuar recorrendo a energias poluentes como a termelétrica pode agravar ainda mais um problema que é crônico. Mas então, por que optamos pelas termoelétricas? “O argumento normalmente usado, mas que já foi superado é o de que precisamos de uma geração que não oscile, e a eólica e solar têm uma variabilidade. Mas o padrão do Nordeste é espetacular, as eólicas geram muito bem, é uma coisa de recorde mundial mesmo. Então, a alegação é esta, mas isso não se comprova”, diz.
Outra explicação para a utilização da energia suja, seria o interesse econômico por detrás dessas usinas. Clarice revela que há pessoas se beneficiando da situação, “Todos os bancos. As pessoas que vão ganhar dinheiro enquanto o sistema não entrar em colapso, como foi o caso do Texas. Comercializadores; os seguradores dos comercializadores, as pessoas que estão por trás dessas térmicas novas” mas a professora prevê grandes prejuízos econômicos e diz que já existem empresas falindo por não perceber a escala do problema. “A gente tá nessa situação gravíssima hoje e a gente já sabe que ano que vem vai ser pior, por que todas as medidas que estão sendo tomadas contribuem para o agravamento do problema, e isso que a privatização ainda não entrou em vigor”, prevê.
Diante deste quadro, ela sugere fontes renováveis que contribuam para uma transição energética: “Somos um dos raros países, se não o País melhor habilitado a promover a transição energética, porque temos enormes estoques de água que podem ser usados como reservatórios de hidro-eletricidade. Sendo assim, a gente podia avançar no uso das renováveis, e como a energia que mais rapidamente entra em operação é a hidroelétrica de reservatório, qualquer oscilação das renováveis, a gente compensa com a água dos reservatórios”, conclui.
Por Luiza Fernandes
O primeiro assistente virtual surgiu em 2011- quando a Apple lançou a "Siri". A tecnologia foi considerada revolucionária à época. Um software que reconhece sua voz, obedece seus comandos e permite a ativação de diversos recursos em seu aparelho celular. Desde então, esse tipo de tecnologia evoluiu muito, passando para aparelhos exclusivos: Agora não mais em celular, os assistentes virtuais migraram para as caixinhas de som, que também reconhecem a sua voz e funcionam exclusivamente por esse comando. O sucesso do modelo fez com que todas as grandes empresas de tecnologia lançassem um tipo, os mais conhecidos são: "Alexa" da Amazon, "Google Assistente" e "Microsoft Cortana".
A Amazon vem sendo pioneira em expandir os comandos que a Alexa pode realizar e hoje é possível conectá-la com: cortinas, geladeiras, ar-condicionado, lâmpadas e TV´s. Foi promovendo a facilidade de poder controlar sua casa por voz, que a empresa vendeu 50 milhões de unidades desses smart speakers no ano de 2019, um crescimento de 70%, segundo dados da Strategy Analytics. Porém, o funcionamento desses produtos é considerado contraditório por inúmeros pesquisadores da área de tecnologia. Muito se questiona sobre como é o seu funcionamento e principalmente, como eles armazenam os dados que coletam.
Em meio a febre do conceito de “Casa Inteligente”, quando uma assistente virtual pode controlar seus aparelhos domésticos, vale o questionamento de como essas tecnologias de fato funcionam. Do ponto de vista técnico, os assistentes virtuais são um conjunto de microfones, ligados a um alto-falante, que são controlados por um processador que pode enviar e receber informações da nuvem, onde esses dados são processados. Com a ajuda de algoritmos de inteligência artificial, implementados na nuvem e sempre atualizados no processador, o aparelho traz respostas rápidas.
O Google define em seu site, o serviço prestado pelo seu aparelho "Google Assistente", da seguinte forma: “É uma assistente pessoal virtual desenvolvida pela Google que pode realizar tarefas do dia a dia, como ligar para pessoas, mandar mensagens, pesquisar, e ainda conversar com o usuário”
Já a Apple, pioneira no cenário dos assistentes por voz, define a "Siri", que ainda é presente em todos os seus aparelhos, com o seguinte slogan: “A "Siri" faz mais. Mesmo antes de você pedir.” De acordo com a empresa, a "Siri" consegue fazer tudo mais rápido, define alarmes, timers, lembretes das atividades do dia e tudo isso sem que seja preciso tocar no aparelho.
A visão destas assistentes virtuais como facilitadoras do dia a dia, como são atualmente vendidas pela publicidade, é contraposta pelo que dizem muitos pesquisadores de tecnologia. De acordo com Luã Fergus Cruz, pesquisador da área de telecomunicações e direitos digitais do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (IDEC) e integrante da Coalizão Direitos na Rede, é preciso ficar atento ao que os aparelhos coletam durante seu funcionamento. “Eles te vendem falsas facilidades, afinal, sempre foi possível apagar a luz com o interruptor, quando na verdade o pano de fundo por trás do produto é extrair informações do usuário, eles querem obter dados que é o que dá dinheiro a longo prazo”
Dados são todos os “rastros” que deixamos quando utilizamos algum serviço de Internet, desde fazer um cadastro pessoal com RG, CPF e cartão, ou até mesmo quando utilizamos o Google. A recente Lei Geral De Proteção de Dados (LGPD), define da seguinte forma: “É considerado dado pessoal qualquer informação que permita identificar, direta ou indiretamente, uma pessoa que esteja viva”.
Se popularizou a expressão de que os “dados são o novo petróleo", como forma de dimensionar seu valor econômico. Para Luã, a expressão tem um limite de dimensão, uma vez que “As empresas de tecnologia valem muito mais do que as de petróleo, por que uma riqueza vem da extração de algo não renovável, já os dados estão sempre se atualizando e se aperfeiçoando”, explica. Uma investigação do jornal Washington Post, de 2019, descobriu que a Amazon mantinha uma cópia de tudo o que a Alexa registrava depois de escutar o seu comando de ativação, o seu nome. Porém, à época, os usuários não eram avisados disso nas privacidades e não havia informações sobre como esses dados eram armazenados.
Recentemente no Brasil foi aprovada a Lei Geral de Proteção de Dados, lei n° 13.709, agosto de 2018, sua vigência iniciou-se em agosto de 2020. A partir dela, passa a existir um novo cenário sobre segurança jurídica na Internet quando falamos da captação de dados, existem agora normas e práticas que devem ser seguidas.
Luã comenta a importância da atuação do Estado, para que os dados possam ser protegidos: “A LGPD é um grande marco porque ela passa a abranger todo o tipo de atividade que envolva o tratamento de dados pessoais, toda e qualquer atividade precisa seguir uma lei e isso é muito importante para regular e para instigar o debate, em sociedade”, avalia.
Outro ponto controverso sobre o uso das assistentes pessoais é a possibilidade dessas informações serem obtidas ilegalmente. É preciso se preocupar com a forma como as empresas coletam e armazenam esses dados, mas também, é preciso pensar sobre o perigo de um microfone conectado à sua casa cair nas mãos erradas. “Não é difícil de se imaginar que um dispositivo como esse pode ser facilmente hackeado, é um tipo de tecnologia muito frágil e perigosa, frente às facilidades que eles vendem” argumenta Luã.
As políticas de privacidade encontradas nos sites das empresas Amazon, Google e Apple informam que os áudios só são registrados e gravados pelo aparelho quando o comando de voz é ativado e que essas gravações podem ser revistas e apagadas pelo usuário. Além disso, as três empresas oferecem alteração das opções de privacidade. Mesmo assim, o juiz Jeffrey White, do Tribunal de Oakland, na Califórnia decidiu dar prosseguimento a uma ação coletivo contra a Apple. A acusação é de que a empresa grava conversas captadas pela "Siri" sem o comando de voz ser ativado e repassa essas informações para outras empresas. Google e Amazon também têm processos abertos por gravarem áudios quando os assistentes não foram chamados. A abertura desses processos coloca em xeque a proteção que as empresas afirmam ter, além de dar eco para os questionamentos feitos por especialistas em tecnologia.
Por Marcela Foresti
A paixão por games abre museus, restaura jogos, cria novas versões, coleciona. O Pinball, que era encontrado apenas em fliperamas, hoje é artigo de decoração e coleção, em suas versões mais antigas até as mais tecnológicas. O famoso jogo teve sua primeira versão criada pelo britânico Montague Redgrave, em 1869 nos Estados Unidos, e originalmente se chamava Bagatelle.

As máquinas no estilo conhecido hoje e com o nome Pinball, surgiram em 1930 e fizeram da cidade de Chicago, nos EUA, até então, o centro das produções. Durante a grande depressão no país norte-americano, o jogo virou uma das fontes de entretenimento mais procuradas, já que era barato. Foi nessa época que houve o boom das máquinas.
O pioneiro dos games, porém, teve que aprender a se reinventar ao longo dos anos para acompanhar as novas tendências e se manter entre os favoritos. Com o surgimento dos videogames, por volta dos anos 70, o jogo perdeu um pouco da popularidade e muitas fábricas acabaram fechando. As máquinas começaram a incorporar novas tecnologias e trazer como tema do jogo personagens e filmes do momento, tudo com o intuito de continuar chamando a atenção do público.
O jogo amado desde os anos 30 teve grande influência na cultura pop desde sua criação. Foi tema, em 1969, do álbum “Tommy” de Ópera Rock (história narrada por músicas), do quarteto britânico “The Who”.
O álbum conta a história de um menino traumatizado que não fala, não enxerga e não ouve, mas é o gênio do Pinball. “Tommy” virou um filme estrelado pela própria banda, em pequenos clipes, com participação de nomes como Elton John. Também foi transformado em musical pela Broadway nos anos 90 e, novamente, em 2019.
No Brasil as máquinas chegaram por volta dos anos 30, mas ficaram proibidas por muito tempo por serem consideradas jogo de azar. O empresário Paulo Esteban, da fábrica Matic, explica que no início da empresa criada em 1972, por seu pai Inocêncio Esteban Rodrigues, a importação era proibida no País e a fábrica surgiu da necessidade das operadoras de fliperama.

No começo a fábrica produzia Pinballs eletromecânicos. “Antigamente as máquinas eram produzidas de forma artesanal e quase não tinham elétricos embarcados no produto", conta Esteban.
O antecessor dos games passou por inúmeras mudanças. “No início eram apenas bolinhas sendo lançadas para cima, os “flipers” que rebatem as bolas para cima só foram acrescentados depois, assim como os sons com sirene de cobre”, explica.
Hoje as máquinas possuem microcontroladores e monitores e ainda esse ano há um projeto onde elas serão interligadas pela Internet. “Os jogadores poderão disputar partidas online, independente do local onde se encontram", prevê Esteban.
O jogo voltou a crescer em meados de 2015. “Alguns entusiastas estavam pegando máquinas antigas e novas para criar seus próprios Game Rooms”, conta o empresário.

Luis Francisco Culik, por exemplo, dono do Museu do Pinball de Itu, começou com uma coleção pessoal e hoje abre para que amantes do jogo, assim como ele, possam se divertir. “Em 2015 resolvi fazer um aniversário aqui e todos falavam que parecia um museu do Pinball. E aí todo ano nós abrimos no meu aniversário, conforme o tempo foi passando e a procura aumentando começamos a abrir frequentemente”, conta Culik.
Atualmente o museu conta com 112 máquinas funcionando e 40 em processo de restauração e o dono do museu conta que sua paixão pelo jogo vem de anos. “O Pinball faz parte da minha vida desde sempre, quando comecei a jogar tinha 13 anos”, explica.
Para ele o jogo é importante porque ir aos fliperamas era mais do que só para jogar, era uma forma de conhecer e interagir com mais pessoas.
O Museu tem uma conta no Instagram onde mostram e explicam mais sobre cada máquina e um canal no Youtube onde fazem game play dos jogos.
Com o interesse de colecionadores nas máquinas novas e antigas, o empresário da Matic explica que muitos operadores estão voltando a adquirir as versões antigas do Pinball. “O retrô está na moda”. Esta paixão pelo jogo é algo de escala mundial, existem diversos clubes de colecionadores, restaurantes e bares temáticos em diversos países.
Por Guilherme Lima Alavase
O futebol é o esporte mais popular do mundo e considerado uma paixão nacional. Nas últimas décadas foi se profissionalizando e virando um grande negócio financeiro. Os clubes passaram a movimentar cifras astronômicas. Copiando o modelo europeu, vários clubes brasileiros deram uma guinada na forma de conduzir o futebol. O esporte para ser rentável e competitivo precisava ser eficiente, como uma empresa. Criou-se nos clubes a profissionalização dos dirigentes, contratando especialistas em diversas áreas para comandar o departamento de futebol.
A partir deste ponto, passou a ser pensado como uma mercadoria e ser vendida pelo melhor preço. Acabou a era das improvisações, das jogadas desconcertantes do futebol alegre. Na modernidade o que importa é vencer. Aos jogadores, para ganhar muito dinheiro, resta cumprir as determinações do treinador, baseadas em dados estatísticos, repetindo a mesma jogada ensaiada até que dê certo. Como mercadoria que precisava ser comercializada em todos os cantos do planeta, as emissoras de TV investiram muito dinheiro em equipamentos tecnológicos que mostravam os jogos com diversas câmeras posicionadas de forma a cobrir todos os espaços do campo.
A partir das transmissões de TV, os árbitros de futebol passaram a sofrer uma pressão fora do comum, sendo o erro, mostrado em detalhes, imperdoável. As empresas patrocinadoras dos times investiam altos valores e não aceitavam ser prejudicadas em suas estratégias comerciais por equívocos da arbitragem. Era preciso, assim como em outros esportes, investir em tecnologia para que os erros banais fossem eliminados dos jogos. Quem nunca ouviu falar da história do gol de mão do jogador argentino Maradona em jogo contra a Inglaterra nas quartas de final da Copa do Mundo de 1986.
A primeira experiência com uso de tecnologia para auxiliar a arbitragem no jogo foi a “tecnologia na linha do gol”, que consistia em um chip colocado dentro da bola que avisava o árbitro, através de seu relógio, se a bola havia ultrapassado ou não a linha do gol. Essa tecnologia foi utilizada, para avaliação, no torneio mundial de clubes de 2012 e implantado definitivamente a partir da Copa do Mundo de 2014, realizada no Brasil.
Implantado, a partir da Copa de 2018, na Rússia, o árbitro assistente de vídeo (VAR) consiste em uma equipe auxiliar, localizada em uma sala, que acompanha e analisa os lances do jogo através de monitores de vídeo. O operador do sistema pode ver o lance em vários ângulos, em câmera lenta, observando os detalhes da movimentação dos jogadores. Se o lance merece ser revisado, avisam o árbitro principal, através de um sistema de comunicação em tempo real, ou seja, são vários olhos (humanos e tecnológicos) observando tudo o que acontece durante o jogo.
Nos protocolos da FIFA, o VAR só pode ser utilizado, para confirmar ou anular um gol, para lances de pênalti, cartão vermelho direto e em momentos que o arbitro não consegue identificar jogadores que participaram de lances polêmicos sem que fossem observados. No caso de lances objetivos, como um impedimento, basta o VAR indicar para o árbitro para que ele acate a orientação. Em casos subjetivos, ou interpretativos, o árbitro é alertado para que veja o lance através de monitor instalado na lateral do gramado. Após assistir o lance, cabe a ele tomar a decisão.
Segundo dados da FIFA, o VAR foi utilizado 355 vezes nos 48 jogos da primeira fase da Copa da Rússia, sendo que todos os 122 gols foram verificados. O uso do VAR, com toda a sua demora, elevaram os acertos da arbitragem a 99,3% na Copa.
VAR brasileiro
No Brasil, o VAR foi usado experimentalmente no campeonato Pernambucano de 2017. No campeonato Brasileiro o VAR começou a ser utilizado a partir de 2019, colecionando muitos elogios e críticas por parte dos torcedores, dirigentes dos clubes e da mídia esportiva.
Após três anos de sua implantação, o VAR ainda levanta muitas discussões no futebol brasileiro, porém, contra fatos concretos os argumentos contrários ficam fragilizados. Gols, com erros grosseiros do árbitro, praticamente foram eliminados, lances violentos não estão ficando impunes, o agarra-agarra dentro da área nos escanteios diminuíram sensivelmente, o cai-cai para cavar um pênalti sumiu dos jogos, ou seja, a malandragem do futebol parece que ficou no passado.
A ex-árbitra de futebol e hoje comentarista de arbitragem da ESPN, Renata Ruel, em entrevista concedida ao jornalista Diogo Magri do “El País” foi didática em suas explicações para elucidar duvidas dos interessados pelo esporte. Observa que o VAR é uma poderosa ferramenta de auxílio da arbitragem, pois legitima o resultado de uma partida, porém, afirma que é preciso investir na formação dos profissionais da arbitragem. Opina que, "Se o VAR está precisando corrigir muitos lances é porque os erros estão sendo cometidos. Vemos alguns árbitros se escondendo atrás da ferramenta, usando como bengala".
O auxiliar (bandeirinha) Emerson Carvalho, que atuou nas últimas Copas do Mundo, participou do podcast “Hoje Sim” do locutor Cleber Machado e relatou que a principal dificuldade enfrentada pelos árbitros é o medo de errar, pois um erro individual em um jogo sem o suporte da tecnologia já é ruim para o prestígio do profissional, imagine um erro sendo cometido com todo o suporte tecnológico e com o auxílio de uma equipe remota o orientando na tomada de decisão. Esse medo faz o árbitro ver e rever o lance diversas vezes.
Como no futebol, quase tudo acaba em polêmica, alguns freqüentadores dos jogos nos estádios ficam angustiados esperando, às vezes, alguns minutos para saber se o grito de gol do locutor valeu ou foi anulado pela tecnologia.