Para Mércia Cristina, a ausência do celular trará um aproveitamento melhor dos conteúdos educacionais
por
Laila Santos
Tamara Ferreira
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09/06/2025 - 12h

Em 13 de janeiro deste ano, foi sancionada a lei nº 15.100/2025 pelo Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que limita o uso de celulares em escolas das redes pública e privada. O objetivo é diminuir os impactos negativos deste aparelho, como o vício em tecnologia, a falta de concentração e os prejuízos à saúde mental dos jovens. Não está proibido portar os dispositivos eletrônicos nas classes, mas sua utilização é apenas para emergências, necessidades de saúde e atividades pedagógicas que necessitam deles. Tudo fica sempre sob supervisão do professor. Essa 'brecha' tem levado muitos alunos a tentar burlar as regras, afirma Mércia Cristina de Freitas Andrade, inspetora de alunos em uma escola da rede pública, em entrevista à AGEMT. 

Com foco em diminuir o cyberbullying, que causa dificuldades nas relações interpessoais e no desempenho escolar, além dos problemas de sono e das questões psicológicas, as instituições de ensino tiveram que definir as estratégias de implementação da lei, inclusive em recreios e intervalos entre as aulas.   

Estudante com um celular em sala de aula
Estudante com um celular em sala de aula. Foto/Agência de Notícias Yonhap

Com a dependência em inteligências artificiais (IAs) atualmente, a funcionária do Educandário comentou se notou alguma diferença na aprendizagem dos alunos com a utilização desenfreada da internet e o acesso à inteligência artificial: "O uso de celulares e a utilização da IA, de certa forma, fez com que os alunos fizessem o uso demasiado de respostas e pesquisas prontas. Dessa forma, a aprendizagem e o aprimoramento da bagagem cultural foram seriamente comprometidos", ressalta. 

São Paulo foi o primeiro estado a adotar a medida, antes mesmo da criação da lei federal. Os regulamentos mais detalhados da implementação da legislação ficaram ao cargo do CNE (Conselho Nacional de Educação), órgão consultivo do Ministério da Educação (MEC), que decidiu dar autonomia aos colégios na maneira de armazenar e lidar com os aparelhos. Para Mércia, a proibição foi uma medida tardia, mas necessária e, com isso, os estudantes poderão fazer melhor uso do tempo e se concentrar melhor nos estudos. Ela cita: “Notei uma ligeira melhora nas relações humanas. Uma atenção mais direcionada às disciplinas, mas ainda uma resistência à proibição…" 

A entrevistada: Mércia Cristina
A entrevistada: Mércia Cristina de Freitas Andrade. Foto/Arquivo Pessoal

Essa atitude reflete um relacionamento não saudável com um dispositivo que era, praticamente, parte do material escolar e que está cada vez mais presente na vida social. Quando foi proibido, causou uma onda de irritação nos jovens, relata a inspetora.   

A partir de 2018, a Organização Mundial da Saúde (OMS) começou a reconhecer a dependência do celular e em outros meios digitais como um transtorno chamado nomofobia. Um estudo da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) diz que cerca de 25% dos adolescentes brasileiros são viciados na internet. Além disso, a Opinion Box traz os dados de que 95% das crianças do país, entre 10 e 12 anos, têm acesso a pelo menos um smartphone.  Com essa medida, espera-se que a escola volte a ser um ambiente de interação, que os estudantes voltem a ter uma aprendizagem mais fluida e que desenvolvam uma relação mais equilibrada com a tecnologia. 

Apontada como uma ferramenta no combate às mudanças climáticas, a nuclearização envolve questões colaterais complexas
por
Vítor Nhoatto
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30/05/2025 - 12h

O setor de energia respondeu em 2024 por 68% de toda a emissão de CO2 no mundo, segundo relatório da United Nations Environment Programme (UNEP). O gás é o principal causador do aquecimento global e precisa diminuir drasticamente nos próximos anos, apontando para a necessidade da chamada transição energética e descarbonização. Mudar a forma como se produz energia é um desafio, e a nuclearização ressurge como uma possível resposta.

A produção de energia a partir de material nuclear é antiga, e de forma simplificada funciona em algumas etapas. O combustível radioativo (urânio) tem seus átomos divididos no processo de fissão, liberando uma grande quantidade de energia que aquece a água em torno do reator e o vapor gerado acaba movimentando turbinas na usina que geram a energia. 

O que chama a atenção para a modalidade é a produção de grandes quantidades de energia com pouco material e baixa pegada de carbono em comparação aos combustíveis fósseis. De acordo com dados de 2020 da German Environment Agency levantados pela organização holandesa fundada em 1978, World Information Service on Energy (WISE), para cada Kwh gerado por usinas nucleares, cerca de 117 gramas de CO2 são emitidos. No caso do carvão e do gás natural as médias giram em torno de 950 e 440 gramas respectivamente. 

Cláudio Geraldo Schön, doutor em Ciências Naturais pela Universität de Dortmund, mestre em Engenharia Metalúrgica pela Universidade de São Paulo (USP) e professor titular na instituição destaca o potencial e a evolução nuclear com o passar dos anos. "Expandi-la poderia substituir as usinas termelétricas, diminuindo a geração de gases de efeito estufa [...] “o processo é continuamente atualizado, e resulta em avanços mesmo sendo uma tecnologia consolidada”.

Foi na extinta União Soviética que a primeira usina nuclear para uso doméstico começou a funcionar para contextualização, a Obninsk em 1954. Em seguida vieram outras, como a de Calder Hall no Reino Unido em 1956 e Shippingport nos Estados Unidos da América (EUA) em 1957. No Brasil, a usina Angra I foi a pioneira, com operações iniciadas em 1985.

Cinza e não verde

No entanto, o cinzento urânio traz um efeito não tão expressivo. Segundo a Agência Internacional de Energia (AIE), se a capacidade de produção nuclear triplicasse, a redução na emissão de CO2 do setor de energia seria cerca de apenas 6% devido principalmente à grande quantidade de carbono liberada na construção de reatores e usinas, que exigem grandes quantidades de recursos e décadas até começarem a funcionar, e para a mineração do urânio também. 

Além disso, a pegada de carbono das principais fontes renováveis de produção de energia são bem mais baixas que a nuclear. Ainda de acordo com o levantamento de 2020 da German Environment Agency, no caso da solar, cada Kwh emite algo em torno de 30 gramas de CO2, para a eólica a cifra é inferior a 10 e para a hidrelétrica de apenas 4 aproximadamente. 

Para o especialista sênior em energia nuclear e integrante da WISE International, Jan Haverkamp, a energia nuclear não é efetiva e nem tem a emergência climática como foco. “O uso do argumento climático é uma cobertura para outros interesses [...] os países com uso tradicional de energia nuclear não a desenvolveram devido às alterações climáticas, o fator inicial foi militar como EUA, China, Rússia e Brasil. Já para outros países era um sinal de importância, como no caso da Romênia, Bulgária e Coreia do Sul. Ou ainda visando a redução da dependência do petróleo como na Alemanha e Reino Unido, ou ainda uma tentativa fracassada de desenvolver uma fonte barata de energia como na Suécia e Canadá”.

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Última usina nuclear na Alemanha começou a ser demolida em 2023, mas novo governo de extrema-direita avalia reativar a base; “resumindo, para alguns é geopolítica” comenta Jan Haverkamp - Foto: Thomas Frey / DPA / Picture Alliance

Atualmente existem 437 reatores nucleares em funcionamento no mundo, que representam 14% de toda a energia gerada no mundo, de acordo com a World Nuclear Association (WNA). Os EUA ocupam a primeira posição do ranking com 96 unidades, com França, China e Rússia em seguida com 56, 55 e 37 cada, respectivamente. O país asiático tem planos inclusive de se tornar uma potência nuclear, e até 2035 ter o dobro da capacidade atual dos EUA. 

No caso do Brasil, a geração nuclear responde por apenas 2% da matriz energética, produzidos nas usinas Angra I e Angra II. Ambas fazem parte da Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto, ao lado da Angra III, ainda em obras, e o complexo começou a ser construído durante a ditadura militar no país.  

Aquilino Senra Martinez, doutor em Ciências da Engenharia Nuclear pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e ex-membro do Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia da Presidência da República explica as nuances da modalidade: “O seu uso para geração de eletricidade depende do contexto de cada país. Em lugares com alta demanda e poucos recursos renováveis, a sua expansão pode ser estratégica. No cenário das mudanças climáticas, ela não pode ser descartada, mas também não deve ser tratada como solução única".

Com dimensões continentais e clima tropical, o Brasil se destaca no cenário mundial justamente pelo seu potencial de produção energética renovável, e hoje é referência no quesito. O Balanço Energético Nacional (BEN) de 2024, feito pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE) em parceria com Ministério de Minas e Energia (MME), constatou que foi de 49% o índice de energia proveniente de fontes renováveis. 

Mesmo assim, no fim do ano passado a usina Angra I teve seu licenciamento para operação renovado por mais 20 anos pela Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), órgão do Governo Federal, e demandará investimento de R$3,2 bilhões nos próximos 3 anos. A continuação das obras de Angra III seguem em análise, mesmo com a administradora das usinas, a empresa de capital misto Eletronuclear, tendo uma dívida de R$6,3 bilhões com a Caixa e o Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES). 

As operações no terceiro reator foram paralisadas em 2015 e voltaram somente em 2022 após reajuste do orçamento, com 65% das obras concluídas. Isso demandou um investimento até então de R$7,8 bilhões, e apesar da conclusão não ter sido incluída no novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) anunciado em 2023, estima-se cerca de R$20 bilhões necessários para tal.

Para Rárisson Sampaio, porta-voz da Frente de Transição Energética do Greenpeace Brasil, essas cifras revelam como a nuclearização desvia dinheiro necessário das fontes renováveis e ameaça um desenvolvimento sustentável e acessível. “O investimento em usinas nucleares não se conecta com a realidade do país, que poderia direcionar tais recursos para outras áreas, fortalecendo políticas como o Luz para Todos, que garante acesso a fontes de energia limpa, segura e barata, combatendo a pobreza energética e alinhando-se aos ODS da Agenda 2030”, diz Sampaio. 

Criado em 2003, o programa do Governo federal tem como intuito universalizar o acesso à energia no país, especialmente em áreas afastadas e periféricas e já impactou 17,5 milhões de pessoas. Para essa nova fase, uma das frentes é justamente possibilitar a instalação de placas solares em domicílios de baixa renda. 

Jan Haverkamp, da WISE, defende como em muitos países o investimento na energia nuclear desvia efetivamente o foco e dinheiro para medidas concretas no combate às mudanças climáticas, o que não é verídico: “As fontes de energia renováveis ​​produzem atualmente mais energia do que a nuclear em todo o mundo, e essa quantidade continua aumentando. A geração nuclear está mais ou menos estável há 3 décadas. A Finlândia, por exemplo, está atrasada na implementação de energia eólica desde que decidiu construir a usina Olkiluoto 3, que sofreu um atraso significativo”.

Segurança x planejamento

De acordo com estimativas de 2024 da Agência Internacional de Energia, a demanda energética global aumentará 4% ao ano entre 2024 e 2025, cifra bem maior que os 2,5% registrados em 2023. Os principais impulsionadores serão o maior uso de ar-condicionado devido justamente às mudanças climáticas, a progressiva eletrificação da frota de veículos, imprescindível na descarbonização do setor, e pelo avanço das Inteligências Artificiais (IA). 

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Demanda por energia pelas big techs só cresce, tal qual o uso de água potável para resfriamento dos computadores, o que aponta para uma necessidade de consciência ao usar IAs e a internet -  Foto: Microsoft / Divulgação

Os data centers deverão mais que duplicar as suas necessidades de energia até 2030 segundo a AIE, ultrapassando em alguns anos a energia consumida pelo Japão. Corroborando com esses indicativos, o Ministério de Minas e Energias realizou um estudo que aponta para um aumento de 25% na necessidade de produção energética brasileira até 2034. Nesse cenário, uma questão levantada na transição energética é a segurança e expansão necessárias para a manutenção sadia da sociedade.

Carlos Schön argumenta sobre o papel da energia nuclear, portanto, e as questões em relação ao clima: “Nós produzimos muita energia, mas ainda é pouco considerando o tamanho do país [...] a energia nuclear é a principal aliada das fontes renováveis, justamente porque essas dependem de fatores extrínsecos (sol na geração fotovoltaica, vento na geração eólica) que por sua própria natureza são flutuantes”.

Uma vez extraído do solo, o urânio pode abastecer por décadas uma usina nuclear, as quais em média podem funcionar por 40 anos, com a possibilidade de extensão, como no caso de Angra I, em funcionamento desde 1985 e renovada até 2044. Tudo isso acontece também sem depender de fatores externos como o vento, que pode danificar as hélices das turbinas eólicas, as nuvens que afetam a produção solar e a variação dos reservatórios que impactam as hidrelétricas. 

Contudo, Ana Fabiola Leite Almeida, professora do Departamento de Engenharia Mecânica e Produção da Universidade Federal do Ceará (UFC) e Mestre em Química pela instituição, destaca que o problema reside no planejamento energético. Mesmo que a produção diminua, é algo manejável com vontade. “O risco não está nas renováveis em si, mas na falta de planejamento. Em cenários críticos, pode haver queda média de 20 a 40% na produção energética dependendo da região, mas com previsibilidade climática, diversificação geográfica e sistemas híbridos conseguimos mitigar esses efeitos”, explica Almeida.

Em períodos como de ondas de calor em que a demanda energética aumenta, fontes como as termelétricas passam a ter maior participação na produção de energia, e como são mais caras que as hidrelétricas, a conta de luz pressiona o bolso da população. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no acumulado de 2023 o aumento na tarifa foi de 9,52%, bem acima da inflação, de 4,62% no mesmo período. 

Relatório de 2024 do Tribunal de Contas da União (TCU) em parceria com a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e a Empresa de Pesquisa Energética aponta que a nuclearização não resolveria justamente essa questão. A energia nuclear produzida em Angra III aumentará em 2,9% a conta de luz por ano e custará à população até 77 bilhões em despesas na contratação se a obra for concluída.

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“Existe todo um investimento que pode ser perdido, mas não justifica a continuidade de Angra III. É o resultado do  mal planejamento e desalinhamento com a política energética aponta Rarisson do Greenpeace - Foto: Eletrobras / Divulgação

O mesmo estudo do TCU destaca que as despesas com a obra “parada” chegam a R$2 bilhões por ano e uma desistência definitiva custaria cerca de R$13 bilhões, menos que o montante necessário para conclusão. Países como Áustria, Portugal e Dinamarca não classificam a energia nuclear como uma fonte limpa, e Itália e mais recentemente Alemanha, desativaram seus reatores ainda em funcionamento.

No caso do Brasil em relação ao setor de energias, as renováveis se destacam em várias frentes. Segundo o “Atlas Eólico” de 2022 do governo do Espírito Santo em parceria com a Embaixada Alemã, o potencial de geração pelo vento somente no estado é de 160 GWh, quase um terço da demanda anual do país hoje.

A energia solar também é outro enorme potencial, levando em consideração que o Brasil é o país que mais recebe irradiação solar no mundo, até então desperdiçado. Em 2023 a companhia de consultoria BloombergNEF apontou que se as políticas de incentivo à modalidade permanecerem iguais, em 2050 a capacidade de geração será de 121 GW por ano. Na ocasião, o presidente da Associação Brasileira de Energia Solar (Absolar), Ronaldo Koloszuk, defendeu que isso pode acontecer ainda em 2040 com apoio e expansão do setor. 

Ana Fabiola destaca: "O Brasil tem um dos maiores potenciais renováveis do mundo, mas para isso precisamos investir em inovação, infraestrutura de rede, armazenamento e educação técnica [...] é preciso ter suporte de armazenamento, interligação entre regiões e tecnologias de resposta à demanda. As fontes renováveis podem sim suprir a demanda crescente se houver vontade política e investimento contínuo", afirma. 

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Maior parque solar do mundo fica em Minas Gerais e foi inaugurado em 2023, fazendo com que a capacidade do estado chegue a 8 GW por ano - Foto: Solatio / Divulgação

Potencial radioativo denso

Falando em demandas futuras e recursos para sanar problemas sem gerar mais, uma outra implicação da energia nuclear gira em torno dos resíduos perigosos da atividade. A World Nuclear Association aponta que o resíduo nuclear equivalente à demanda de uma pessoa por um ano é do tamanho de um tijolo. Pode não parecer tanto de início, mas o problema está na radioatividade do material. 

A meia vida do urânio 235, o tempo que o material leva para se desintegrar e deixar de ser extremamente radioativo, gira em torno de 700 milhões de anos. Durante esse tempo as substâncias líquidas e sólidas precisam ficar armazenadas e isoladas do mundo, seja em reservatórios subterrâneos, piscinas gigantes ou toneis de chumbo. Não existe hoje uma solução para esse material, e como os primeiros usos são do século passado apenas, respostas sobre o comportamento dele também não foram encontradas. 

Isso em si já acende um alerta pois relega uma questão das gerações passadas às futuras, e a possível fuga de material radioativo das usinas pode colocar em risco a segurança nacional com a produção de bombas. Mas olhando para a história mais uma vez, a situação se complica. Em 1986 ocorreu na atual Ucrânia o famigerado desastre nuclear de Chernobyl, zona até hoje inabitável. A explosão da usina contaminou uma área de milhares de quilômetros ao seu redor, causou milhares de mortes e adoeceu os que resistiram. Um caso mais recente foi em Fukushima no Japão em 2011, que apesar de menor e diferente, reforça o cuidado exigido. 

Aquilino Senra afirma que a questão é muito relevante no debate atual, mas avanços foram feitos e que não deve ser a única levada em consideração: “É essencial que seja considerado dentro de um contexto histórico e tecnológico, à luz dos avanços obtidos nas décadas subsequentes e da comparação com outras fontes de geração de energia, como as fontes fósseis, que também provocam milhares de mortes anuais em decorrência da poluição atmosférica”.

A Organização das Nações Unidas estima que por ano a poluição atmosférica mata entre 7 e 8 milhões de pessoas ao redor do mundo. Somente no ano de 2021, 8,1 milhões de pessoas morreram, além do fator contribuir decisivamente para o desenvolvimento de câncer de pulmão e doenças respiratórias. 

Fazendas de turbinas eólicas, sítios de placas solares e usinas hidrelétricas também estão sujeitas a acidentes e impactam o meio ambiente, mas em um grau muito menor. Além dos grandes desastres, existe a possibilidade de vazamento de material radioativo. No Brasil, por exemplo, a Comissão Nacional de Energia Nuclear constatou um caso em 2022 na unidade de Angra I, no qual a água contaminada chegou ao mar. Na ocasião, a Eletronuclear foi multada em mais de R$2 milhões de reais pelo órgão

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ONG fez protestos em frente a usina de Angra I e relembrou o desejo ilegal de milhões de litros de água contaminada pela usina em 1986 - Foto: Greenpeace Brasil / Divulgação

Rárisson do Greenpeace destaca: “a energia nuclear não tem lugar em um futuro seguro, limpo e sustentável. A energia nuclear é cara e perigosa. Apesar de oferecer energia não intermitente, há outras soluções no país que podem ser mais eficientes, seguras e baratas [...] só porque a poluição nuclear é invisível não significa que seja limpa, nessa conta toda, a energia nuclear é inexpressiva”.

Mesmo assim, nos últimos anos empresas e nomes do vale do silício floresceram no cenário da nuclearização em defesa dos chamados Small Modular Reactors (SMR), em tradução livre, pequenos reatores modulares. Segundo a Agência Internacional de Energia, as unidades menores podem ser uma solução para a demanda crescente por energia dos data centers, e por serem menores, construídos em uma fábrica e depois enviados ao local de destino, podem baratear os custos.

Com um tempo de construção diminuído para cerca de 5 anos em comparação aos reatores convencionais e cinco vezes menores em tamanho, o primeiro SMR instalado no mundo data de 2023 na China, o Linglong One. A capacidade do reator será de 1 GW quando entrar em operação regular segundo a Corporação Nacional de Energia Nuclear da China. Mesmo assim, de acordo um estudo independente da Universidade de Stanford que avaliou os dados preliminares da empresa norte-americana NuScale Power, mais lixo radiativo é gerado e há maior dispersão de energia no interior dos SMRs.

Os principais projetos na área ainda vão levar tempo também, com expectativa de começarem a operar em meados da próxima década apenas, como o da britânica Rolls Royce. Ainda existe a startup de Bill Gates, Terra Power, com expectativa que o seu reator em Wyoming, o estado menos populoso do país, entre em operação no começo de 2030. No entanto, nessa data as emissões de CO2 na atmosfera já deverão ter caído 42% para que o aquecimento fique em 1,5 graus celsius de acordo com o relatório de 2024 da United Nations Environment Programme.

 “Não é surpresa que tecno-oligarcas como Gates, Musk, Zuckerberg e Bezos sejam especialmente atraídos pelas ideias por trás de pequenos reatores nucleares modulares. Mas eles não percebem que essas tecnologias são fundamentalmente diferentes da internet ou mesmo das estruturas de energia renovável, incluindo armazenamento, com custos mais elevados em comparação com sistemas totalmente renováveis, tempos de desenvolvimento muito mais longos e sérios riscos”, alerta Jan Haverkamp da WISE International.

Esclarecendo dúvidas sobre os riscos em uma conversa com Luiz Padulla
por
Clara Dell'Armelina
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05/05/2025 - 12h

O mundo está farto de plástico. Estão presentes em utensílios, móveis, roupas e, agora, também nos alimentos, mas não para por aí, estudos recentes, como o feito por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), comprovam a existência de plástico acumulado no corpo humano. Estamos falando de microplásticos, pequenas partículas de plástico com dimensões inferiores a 5 milímetros causadoras de danos tóxicos aos seres vivos. 

A presença de plástico nos oceanos foi detectada pela primeira vez na década de 70 e só em 2004, com o pesquisador Richard Thompson, que tivemos o conhecimento dos "microplásticos". Entre 2010 e 2020 foi quando  identificaram a presença de microplástico em toda a cadeia alimentar, mas só a partir de 2023 que as pesquisas se voltaram para mapear seus impactos na saúde humana. O professor, biólogo, doutor e autor do blog "Biólogo Socialista", Luiz Fernando Padulla, conversa sobre o assunto com a repórter da AGEMT. Confira!

Pressão do governo Trump sobre instituições de ensino provoca medo sobre fuga de cientistas
por
João Paulo Moura
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05/05/2025 - 12h

Instabilidade é um rótulo que nenhuma nação deseja carregar. Seja na economia ou na educação, viver em um lugar de incertezas gera apreensão a todos. E, embora Donald Trump tenha recém completado 100 dias no cargo de presidente, graças às medidas adotadas, os cientistas se encontram em um mar de insegurança nunca vivido nestas últimas décadas. Columbia, Princeton e a Universidade da Pensilvânia sofreram com os cortes e ameaças de Donald Trump. Columbia teve US$ 400 milhões em subsídios federais suspensos devido à casos de assédio a estudantes judeus. Harvard foi uma das universidades que negou as demandas da Casa Branca.

Em consequência, no dia 14 de março, o Departamento de Educação anunciou o congelamento de US$ 2,3 bilhões em subsídios para a instituição. "Uma das grandes vantagens comparativas que os EUA tinha era sua capacidade de atração e fixação de cérebros de pesquisadores de outros países, principalmente do Sul Geopolítico”, diz Cristina Pecequilo, doutora em ciência política pela USP e professora de relações internacionais da UNIFESP. Assim, se os EUA deixarem de ser atrativos, os pesquisadores se moverão a outras nações, e com isso haverá uma perda de conhecimento de ponta”, ressalta Pecequilo em entrevista à AGEMT.    

As ações tomadas pelo governo Trump provocaram um temor generalizado entre os cientistas com medo de uma possível fuga de cérebros. O termo se refere ao processo de migração de pesquisadores, cientistas e profissionais altamente qualificados. Em pesquisa realizada pela revista Nature, dos 2000 pesquisadores consultados no levantamento, 75% consideram sair do país nos próximos anos. Desde que assumiu a presidência dos Estados Unidos no dia 20 de janeiro e, em seu primeiro dia de mandato, revogou 78 ordens executivas do governo anterior, retirou o país da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do acordo de Paris. Durante os três meses seguintes, as ações tomadas pelo governo se intensificaram, principalmente no setor econômico.  

Donald Trump segurando decreto no salão oval da casa branca
Donald Trump exibe decreto assinado no dia 20 de janeiro. Foto: Anna Moneymaker/Getty Images 

No dia 2 de abril, intitulado pelos republicanos como o “dia da libertação”, iniciou-se uma guerra comercial entre os EUA e o mundo. Com a meta de corrigir o déficit comercial internacional do país, o governo norte-americano impôs taxas a 185 países. As altas porcentagens geraram respostas das nações, principalmente por parte da China que revidou com um grande pacote de alíquotas sobre as commodities americanas. Mas as medidas não pararam somente no setor econômico. Dentro das universidades do país, o temor do corte de financiamento e da fiscalização do conteúdo dos cursos aumentou.

A tensão entre o governo Trump e as instituições de ensino superior se elevou a partir do mês de março. Investigações de programas de diversidade e inclusão foram abertas em 45 universidades, com exigências sobre a auditoria de conteúdos e as condutas de alunos em favor da Palestina. Em resposta a esse cenário, instituições e países ao redor do mundo começaram a se movimentar para atrair os cientistas que se encontram nos EUA. A Universidade de Aix-Marselha, localizada na França, lançou uma iniciativa chamada Safe Place for Science, que investirá 15 milhões de euros para apoiar 15 pesquisadores. A União Europeia lançou a campanha Choose Europe for Science, como um refúgio para a liberdade acadêmica. Bélgica, Holanda e países nórdicos vêm oferecendo bolsas e infraestrutura de ponta para pesquisadores norte-americanos. 

Além das universidades europeias, China e Índia se consolidam como potenciais concorrentes dos pesquisadores estadunidenses. “Eu destacaria a China como uma potencial concorrente, até porque basta lembrar que todos estes outros países, principalmente a França tem problemas com forças políticas conservadoras anticiência. Além dela, mencionaria igualmente a Índia, que tem investido pesadamente em ciência e tecnologia”, completa Pecequilo. 

Nos últimos anos, a China despontou como a líder mundial em número de artigos científicos publicados. Segundo Ministério de Ciência e Tecnologia da China, em 2024, o país destinou mais de US$ 496 bilhões para pesquisa e desenvolvimento. Esse valor corresponde a 2,68% do Produto Interno Bruto (PIB) chinês, sendo o segundo maior investidor mundial em pesquisas, atrás apenas dos Estados Unidos. 

A Índia também tem se destacado como uma potência emergente em ciência e tecnologia, apesar de ainda apresentar desafios estruturais. O país investe 0,64% de seu PIB em pesquisa e desenvolvimento. Entretanto, esse investimento tem crescido de forma constante, dobrando na última década. O governo indiano é o principal financiador, respondendo por mais da metade do total, com destaque para agências como o DRDO (Defesa), o Departamento de Espaço e o Departamento de Energia Atômica. 

Apesar das incertezas internas e das ameaças que pairam sobre o sistema científico dos Estados Unidos, a ciência mundial está encontrando novos centros. Essa reconfiguração global do conhecimento pode redefinir o papel dos EUA como epicentro da inovação e da produção científica.

Documentário I’m Not a Robot instiga o telespectador a refletir sobre a evolução das máquinas
por
Vítor Nhoatto
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08/04/2025 - 12h

Não sou um robô, uma etapa de checagem comum ao navegar na internet e uma sentença obviamente verdadeira, ou talvez não. O curta-metragem de co-produção holandesa e belga de mesmo nome, problematiza o chamado teste Captcha, quando a protagonista Lara (Ellen Parren, produtora musical, entra em uma crise existencial ao não conseguir provar sua humanidade.

Logo de cara o enredo de Victoria Warmerdam, também diretora da obra,  pode parecer apenas cômico, e a interpretação de Parren colabora para essa atmosfera. Os diálogos curtos e a indignação diante de uma suposta certeza de Lara prendem a atenção do telespectador ao fazer com que haja identificação com a situação. Provavelmente todos nós já erramos um destes testes simples em algum momento.

A história com pouco mais de 20 minutos continua com a indicação que a personagem tem a chance de ser 87% um robô, segundo um quiz online, e a essência incômoda da ficção científica começa a reluzir. Conversas entre humano e máquina existem há cerca de 60 anos, com a criação do chatbot Eliza, e com o avançar dos anos é cada vez mais comum, de fato.

Seja aquele número para marcar consultas ou o serviço de atendimento ao cliente das operadoras, a Inteligência Artificial rodeia as esferas da vida cotidiana e vem evoluindo rapidamente. Tome como exemplo o robô humanoide que já foi capa de revista e é considerada cidadã saudita, Sophia, da Hanson Robotics desenvolvido em 2015. Ou ainda os influencers virtuais com milhões de seguidores do Instagram hoje como a carismática Lu da empresa de varejo brasileira, Magazine Luiza.

Robô Sophia
Sophia foi inclusive ao Talk Show do apresentador norte-americano Jimmy Fallon - Foto: Hanson Robotics / Divulgação

Parece que a barreira entre o físico e digital, natural e artificial vem sendo quebrada, como aborda a obra de Margareth Boarini, “Dos humanos aos humanos digitais e os não humanos”, lançada em julho do ano passado pela editora Estação das Letras e Cores. O primeiro livro da doutora em tecnologias da inteligência e mestre em comunicação se aprofunda nesses casos de coexistência entre robôs e pessoas, porém, até onde se sabe as diferenças entre máquinas e humanos são perceptíveis, ainda. 

Mas como uma boa teoria de ficção científica, o documentário explora justamente um possível futuro da humanidade, em que máquinas e humanos serão indistinguíveis, A saga de Lara por respostas acaba com a revelação de que Daniël (Henry van Loon), marido da personagem, a encomendou sob medida há alguns anos, como se faz com uma roupa hoje.

Suas memórias, sentimentos e até mesmo relações com outras pessoas, ou robôs, são todas fabricadas, como uma versão muito mais avançada do robô Sophia. A comédia permeia a narrativa um tanto quanto impensável aos olhos de hoje, mas curiosa. A seriedade da executiva da empresa que fabricou Lara, Pam (Thekla Reuten) cria uma atmosfera cômica ao assunto, completada pela tranquilidade que Daniël fala sobre sua “aquisição”.

Parren entrega uma atuação que transborda indignação, e o trabalho cinematográfico é inteligente, com cortes que acompanham a visão de Lara. Sobre o ambiente que o filme se passa, todas as gravações foram no CBR Building em Bruxelas, e a ambientação feita com cores vibrantes e apenas carros de época no estacionamento propõe um contraste entre antigo e moderno, frio e robótico, quente e humano. 

O desfecho se dá com o desejo da protagonista de ser dona do próprio destino, relegando o fato de não poder morrer antes de seu “dono”. Isso pode ser visto talvez como uma negação em aceitar a única coisa que a diferencia de um humano, ou como uma mensagem da autora da obra sobre uma rebelião das máquinas.

Fato é que Lara se joga do topo do prédio, em um take muito inteligente por parte da direção ao filmar de cima, e que apesar de pesado e grotesco consegue ser engraçado e não desagradável aos olhos. Tal qual uma morte comum, há muito sangue saindo do corpo, as necessidades fisiológicas também são como de humanos, mas após alguns instantes a robô volta à vida.

Lara e Daniel em um Volkswagen Fusca azul
Com cinematografia cativante e enredo inesperado, é um Sci-Fi cômico e dramático - Foto: Indie Shorts Mag / Reprodução

Incômodo e perspicaz são boas palavras para definir a quinta produção de Warmerdam, que a fez faturar uma série de prêmios internacionais incluindo o Oscar de Melhor Curta-metragem deste ano. Sua produção também se destaca por ser carbono neutro, com o plantio de uma agrofloresta na Holanda para compensar as emissões de gás carbônico (CO2) da obra.

I’m Not a Robot está disponível de forma gratuita no YouTube desde o dia 15 de novembro de 2025 no canal The New Yorker, com legendas apenas em inglês ou holandês. Mesmo com essa barreira linguística, o choque final é inevitável, e a reflexão provavelmente também, se o seu cérebro não estiver se perguntando se você pode ser também um robô.

Em entrevista à AGEMT, médico sanitarista se preocupa com o recuo na adesão aos imunizantes do PNI e cobra mais ações públicas
por
Daniel Seiti
|
05/11/2021 - 12h

Por Daniel Seiti

24 de outubro foi o Dia Mundial de Combate à Poliomielite. Causada pela transmissão do Poliovírus, a doença foi erradicada no Brasil em 1989 por meio de uma campanha nacional de vacinação eficaz – incluindo o imunizante ao PNI (Programa Nacional de Imunização) – fato que resultou na adesão em massa da população à vacina. Entretanto, a sequência recente de quedas anuais na taxa de imunização dos brasileiros chama atenção de especialistas, que temem o desencadeamento de um novo surto da doença no País.

Levantamento do Ministério da Saúde aponta que, entre os anos de 2015 e 2020, houve uma redução no número da população vacinada. De acordo com dados divulgados pela Pasta, nesse período, o índice de imunizações contra a poliomielite caiu de 97% para 76%. O valor não atinge o mínimo recomendado pela OMS (Organização Mundial da Saúde), que orienta a taxa de imunização deve permanecer em 95%.

Esse recuo soa um alerta para especialistas, que temem a volta de doenças controladas ou erradicadas pelos imunizantes, como a poliomielite - a possibilidade de situação semelhante a volta do sarampo, que havia sido erradicado e, com a queda nas taxas vacinais, voltou a ter casos registrados no Brasil em 2019. Em entrevista à AGEMT, o médico sanitarista e ex-presidente da ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), Gonzalo Vecina, expõe os riscos que essa queda pode desencadear.

“Temos que lembrar sempre que a vacinação não é um ato individual, mas um ato coletivo. Não adianta proteger somente alguns se todos não se protegerem, porque haverá a circulação do agente causal daquela doença e isso poderá acometer a todos. A nossa preocupação é que, como o vírus da paralisia infantil ainda circula no nosso meio, podemos ter o reaparecimento de casos. Isso precisa ser devidamente difundido e o que em faltado são campanhas de vacinação”, explica o médico sanitarista.

Gonzalo Vecina em entrevista à AGEMT
Dr. Gonzalo Vecina em entrevista à AGEMT

A diminuição na cobertura vacinal entre os brasileiros se estende a todas as integrantes do PNI. A BCG, contra a tuberculose, chegou a 73,8%, a menor cobertura em 27 anos, enquanto a tríplice viral, contra o sarampo, a caxumba e a rubéola, caiu para 79%, um decréscimo de 33 pontos percentuais nos últimos seis anos.

Para Vecina, a diminuição do número de vacinados no Brasil não é afetada principalmente por movimentos negacionistas – como acontece nos Estados Unidos e em certos países europeus –, mas pela falta de incentivos e estratégias governamentais.

“A vacinação é uma atividade desenvolvida pela estrutura pública de saúde e que no Brasil é responsabilidade do PNI. Na minha opinião, no atual momento, nós temos uma desmobilização do Ministério da Saúde que não conseguiu ser substituída por estados e municípios – os estados têm a responsabilidade da logística e os municípios da aplicação das vacinas”, pondera.

De acordo com o sanitarista, entre incentivos financeiros, restrições e até a possibilidade da implementação de um passaporte de vacinas do PNI, o fortalecimento de campanhas públicas de vacinação segue como a melhor solução para incentivar a população a se proteger e aumentar as taxas de imunização para índices adequados.

“Existem diferentes formas de incentivarmos a vacinação e elas devem ser utilizadas. No Bolsa Família, por exemplo, o adulto só pode receber o benefício se o filho dele está com a carteira de vacinação em dia. A permissão da matrícula escolar acontece somente para crianças imunizadas. Mas ainda acho que o componente mais importante em um plano nacional de imunizações é a presença do Estado. Nesse momento, no governo Bolsonaro, o Estado se retirou do PNI”, afirma.

Novas tecnologias criam consumo de conteúdos nunca antes vistos mudando o perfil do consumidor e da plataforma.
por |
05/11/2021 - 12h

Por Gabriel Aragão

Os avanços tecnológicos possibilitam novas formas de comunicação que, por sua vez, devem sempre se reinventar. Especialmente a publicidade, área da comunicação cujo principal objetivo é sempre chamar atenção, atrair o público para algo que está tentando ser vendido e, consequentemente, vencer a competição.

Para manter a criatividade que as marcas necessitam para seguirem nos mercados de consumo a tecnologia se torna fundamental para as agências de propaganda, como detalha Luiz Fernando Musa, o chefe executivo do Grupo Ogilvy Brasil. Saber como utilizar dados pessoais (os ativos digitais) para a criação de experiências é o principal foco, afinal os dados facilitam a análise de competição.

Com isso, é possível dizer que quanto melhor for a gestão de dados por uma agência, melhor será seu desempenho. Segundo Musa, para uma melhor utilização desses ativos digitais, é importante que os departamentos estejam integrados. "Quando falamos de departamentos, esses são todos que fazem parte de uma peça publicitária, desde Planejamento, Criação, Mídia, BI (Business Intelligence na tradução literal, Inteligência de Negócios) e Social/Content (Conteúdo)", explica.

Considerando, portanto, a importância dos dados, a tecnologia se faz presente atualmente na publicidade através de serviços da Web e da interface de programação de aplicações (conjunto de padrões de programação de aplicativos). Como afirma Musa: “a evolução da propaganda passa por nossos canais e entregas de IoT (Internet of Things, ou Internet das Coisas) e muita IA (Inteligência Artificial)”. Vale enfatizar, IA aparece como forma de otimizar as campanhas.

Musa ressalta ainda que entende como fundamental a mudança de cultura dentro das agências para, justamente, a maior utilização de novas tecnologias. O avanço tecnológico ultrapassa a própria criação de uma peça publicitária em si. O consumidor passou a ter uma enorme variedade de formas para se entreter e informar, qualquer que seja seu propósito. Não depende mais somente de jornais ou revistas impressas, rádio ou televisão. O consumo nos celulares e computadores afeta diretamente o pensamento das marcas de como investir e das agências contratadas na forma de se comunicar em cada plataforma. “A penetração de 90% de celular/smartphones no Brasil expõe este fato, consumindo suas marcas nas redes sociais, conteúdos exclusivos em plataformas de streaming e podcasts. Você tem que projetar a construção de uma marca para diversos canais, cada qual tem seus valores de entrega e posicionamento, para diferentes alvos em diferentes pontos de contato”, considera.

As próprias plataformas tão diferentes obrigam as marcas a pensarem em onde e como investir, já que na Internet, por exemplo, existem formas diferentes de consumir conteúdo. Seja streaming de séries ou filmes, seja vídeos curtos, seja pay-per-view, cada qual tem sua maneira de vender espaço de propaganda. Pensando em como vender e comprar espaço, além de como fazer, a publicidade como área da comunicação tem sua evolução firmemente ligada com a tecnologia e suas inovações, explorando suas novas possibilidades.

Apesar de não ser algo novo, as próteses incorporaram tecnologias para dar mais conforto aos usuários..
por
Rafael Monteiro Teixeira
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19/11/2021 - 12h

Por Rafael Monteiro

A prótese dentária não se trata de uma invenção atual, pois em 2016, uma escavação arqueológica, na região da Toscana na Itália, foi descoberta o que seria a prótese mais antiga que se tem registro, até porque a estimativa é de que ela tenha sido feita nos séculos XIV ou XVII. Além disso há indícios mostrando que na antiguidade a perda de um ou mais dentes já era um grande motivo de desconforto.

Com o passar dos anos, obviamente, foi ocorrendo uma evolução por parte das próteses. Seja para ajudar em problemas de mastigação, fala ou até mesmo por questões estéticas, a necessidade das próteses ainda não foi totalmente eliminada, por mais que tenha ocorrido grandes avanços no quesito de tratamentos dentários.

Hoje em dia as próteses dentárias podem ser divididas em 5 tipos: A totalmente removível ou dentadura, parcialmente removível, parcialmente fixa, flexível e os implantes dentários (que podem ser considerados próteses também).

A totalmente removível ou dentadura, é para o uso de que perdeu todos os dentes. Os dentes são feitos de resina, que como o aprimoramento de novas tecnologias se torna cada vez mais parecido com dentes de verdade, em relação a seu formato, cor e tamanho, mas bem mais resistentes.

A parcialmente removível é utilizada por pessoas que possuem uma certa quantidade de dentes ainda, o que acabam servindo de apoio para ela. Nela deve ser levado em consideração a saúde dos dentes naturais de quem for implantada, pois é usada uma estrutura metálica feita de cobalto e cromo para prender ela aos dentes naturais.

A parcialmente fixa também utiliza dos dentes naturais como apoio, então ela é bem parecida com a parcialmente removível, o que muda entre as duas é mais em sua estrutura, pois ela é feita de metal e porcelana, porém hoje já é possível dela ser confeccionada por estruturas não metálicas como a zicrônia (pedras sintéticas produzidas em laboratórios, porém ela também pode ser encontrada na forma natural).

prótese dentária
Estrutura da prótese dentária (Imagem: Google imagens)

A flexível é uma alternativa para quem tem receio de usar a parcialmente removível, por conta de todos os cuidados que têm que ser tomadas com ela. Ela é feita de uma resina mais flexível e não necessita da utilização de uma estrutura para se prender nos dentes naturais da pessoa que irá utilizá-la.

Os implantes dentários são presos diretamente no osso do maxilar ou da mandíbula, funcionando como suporte para a prótese, sendo essa fixa, então ela é cimentada ou parafusada na estrutura presa ao osso, mas ela pode ser removida também, se ela for encaixada sobre retentores parafusados aos implantes.

“Algumas próteses possuem contraindicações, uma delas é o bruxismo que deve ser tratado com a eliminação da causa do mesmo (estresse, ansiedade etc) utilizando uma placa miorrelaxante e realizando os tratamentos corretamente antes de utilizar a prótese.” diz Julia Livia Teixeira Paiva, estudante de odontologia da Universidade municipal de São Caetano (USCS).

Para cada prótese tem que tomar um cuidado específico. “Para a parcial Fixa não existem muitas contra-indicações, desde que o cirurgião dentista saiba fazer todos os ajustes corretamente de acordo com a mordida do paciente para que não gere complicações na ATM, por exemplo” diz Paiva.

Já em relação à totalmente removível e a parcialmente removível os cuidados devem ser maiores diz a estudante de odontologia. “A higienização da prótese todos os dias é essencial; o paciente não deve, de maneira alguma, dormir com a prótese caso a mesma esteja larga, pois existe um grande risco de asfixia; a prótese não deve ser utilizada por mais de 5 anos, pois pode causar inchaço na mucosa, grande desgaste nos dentes, disfunções e lesões; caso a prótese esteja mal adaptada, pode trazer ao paciente problemas periodontais, cárie, disfunção na ATM, trinca nos dentes, etc.”

E por fim têm os implantes que apesar de ser a alternativa que mais se assemelha aos dentes naturais e oferece mais segurança aos pacientes, quem sofre de doenças sistêmicas deve ter cuidado redobrado durante o tratamento. Males como diabetes, HIV, osteoporose e a hipertensão podem prejudicar o processo de coagulação e cicatrização e deixam o corpo mais exposto a infecções.

Custos

Segundo o IBGE, em 2017, 39 milhões de brasileiros utilizavam algum tipo de prótese dentária. Atualmente, o número de brasileiros que vivem sem nenhum dente na boca é de 16 milhões (11% da população adulta). Entre as pessoas com mais de 60 anos, 41,5% já perderam todos os dentes.

Os preços de uma prótese podem variar bastante dependendo do tipo e número de próteses, os materiais utilizados e o tratamento escolhido. Para um paciente que fará uma prótese suportada pelo osso, por exemplo, normalmente os custos são maiores pela instalação dos implantes, ainda mais se for necessário realizar procedimentos prévios, como o enxerto ósseo.

De modo geral, o preço médio unitário de uma prótese provisória varia entre R$600 e R$1.300. Quanto à prótese definitiva, é aquela utilizada na conclusão do tratamento, para proporcionar o resultado desejado pelo paciente e geralmente ela tem um valor entre R$ 1.300 e R$ 1.600. A Prótese Protocolo (sobre 6 implantes) custa R$ 6.500,00, a Overdenture (dentadura de encaixe sobre implantes): R$ 2.200,00, a Prótese Parcial Removível Provisória: R$ 631,00 e a Prótese Parcial Removível com Grampos PPR (Esquelética): R$ 1.341,00 ", afirma.

Julia Livia Teixeira Paiva
Julia Livia Teixeira Paiva (Imagem: acervo pessoal)

No Brasil, já existem tecnologias digitais para a confecção das próteses, porém, a tecnologia mais utilizada ainda é o processamento laboratorial convencional. “Normalmente utilizamos modelo de gesso e articulador para a moldagem das próteses; os dentes (coroas) são confeccionados em resina ou porcelana, a porcelana mais utilizada hoje em dia é a EMAX, por ser mais fina e aderente, exigindo menos preparação do dente e dispensando a remoção profunda da estrutura dentária, apesar de terem tido uma grande evolução tecnológica. Com a descoberta de novos materiais estéticos, em alguns casos, é possível confeccioná-las com estruturas não metálicas como as da zircônia. No caso das próteses sobre implante, os parafusos normalmente utilizados são de titânio", finaliza.

O avanço da tecnologia facilitou muitos processos da humanidade, mas o seu uso excessivo desde cedo está afetando as crianças e adolescentes
por
Maria Luiza Oliveira
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05/11/2021 - 12h

Por Maria Luiza Oliveira

O ex-editor da revista Wired, Chris Anderson, afirmou em uma entrevista para o jornal The New York Times que a tecnologia se aproxima mais da cocaína do que de um doce para as crianças e adolescentes. Um discurso distinto de outros profissionais da mídia, que vendem a ideia de que a tecnologia está sendo transformadora para a geração dos chamados “nativos digitais”, sendo eles mais espertos e melhores do que pessoas mais velhas.

De acordo com o livro “A Fábrica de Cretinos Digitais: os perigos das telas para as nossas crianças”, escrito pelo neurocientista Michel Desmurget, há um uso excessivo da tecnologia: até os 18 anos estimasse que as crianças e adolescentes tenham ficado o equivalente a 30 anos letivos ou a 15 anos de um emprego em tempo integral em frente às telas.

A geração que mais está sendo afetada por isso é a que foi apelidada como “alfa”, que vai de 2010 até 2024, cuja primeira criança nasceu no ano de criação do IPad, elas correspondem a cerca de 30 milhões no Brasil. É um grupo que desde o nascimento já tem contato direto com o Youtube, por exemplo, recurso que está sendo utilizado como babás, evitando a interação física.

A questão que fica e precisa ser questionada é de como isso está afetando essa geração? Como a exposição desde cedo à tecnologia como celulares, tablets e computadores interfere no aprendizado e comportamento dos nativos digitais?

Existem muitos livros, estudos, como o Programme for International Student Assesment (PISA)  e documentários (“Geração Telas”) que traçam o perfil desse grupo: uma geração solitária, lenta, sem criatividade, inapta às experimentações e que não gostam do trabalhos coletivos. Além disso, mostram vários riscos à saúde psíquica deles, déficit de atenção, TDAH e qualidade do sono podem ser uma das consequências.

Foto de Jessica Lynn Lewis no Pexels
Foto de Jessica Lynn Lewis no Pexels

 

A psicopedagoga e neuropsicóloga Célia Beatriz (55), afirma que “a infância é uma época de mudanças significativas, na estrutura anatômica e nas conexões cerebrais. Uma maior exposição nas telas pode influenciar no comportamento e consequentemente na saúde mental das crianças e adolescentes". Contudo, isso pode ser diferente para cada pessoa.

Adriana Rafael (51), mãe de Theófilo Leite, de 9 anos, conta que percebe um comportamento irritado e agitado do filho quando ele está longe do vídeo game ou de qualquer outro tipo de tela. Além disso, percebe nele uma maior dificuldade para concentração.

Theófilo passa em média 6 horas por dia jogando vídeo game ou em ligação com os amigos – “para mim é divertido para passar o tempo, porque com a Covid-19 isso foi um alívio para eu não ficar com depressão”. Mas a mãe diz que se preocupa com isso “me incomoda muito, mas hoje é um grande aliado meu no sentido de cuidar, pois não tenho condições de pagar atividades extras para ele além da escola. Mas tento desassociar o uso da tecnologia com leitura e outras atividades.”

Célia explica que a tecnologia é programada para manter o usuário conectado por mais tempo possível. Os jogos e as redes sociais estimulam a dopamina no cérebro, um neurotransmissor que irá diminuir a ação da área cerebral responsável pelo autocontrole, decisões e julgamentos. Ela traz uma sensação de recompensa instantânea, estimulando o indivíduo a repetir aquele processo, o que pode gerar o vício.   

Não é à toa que os gurus da tecnologia do Vale do Silício têm regras bem claras em relação ao uso de celulares e tablets na educação de seus filhos: evitar ao máximo. Bill Gates, criador da Microsoft, só vai dar um smartphone ao filho quando ele completar 14 anos.

Bill Gates (Foto: Jamie McCarthy/Getty Images)
Bill Gates (Foto: Jamie McCarthy/Getty Images)

 

Em 2016, a Academia de Pediatras dos Estados Unidos fez algumas recomendações aos pais: não usar celulares ou similares antes dos 18 meses; entre 18 e 24 meses, uma hora por dia e a partir dos seis anos colocar limites coerentes na utilização. Uma pesquisa publicada em 2019 pela revista médica JAMA Pediatrics aponta que uma maior exposição às telas por crianças entre dois e três anos pode levar a um atraso no desenvolvimento. Contudo, a psicopedagoga faz um alerta: “os pais são grandes influências para os filhos, não adianta tentar falar para o filho diminuir, se os próprios não conseguem regular esse uso.”

Mas como famílias que precisam trabalhar e não tem condições de pagar atividades extras ou uma babá irá fazer esse controle em um mundo cada vez mais digital, que, inclusive, facilitou o cuidado?

Dados da pesquisa Commom Sence Media, que tem como objetivo “ajudar as crianças a se desenvolverem em um mundo de mídia e tecnologia”, mostram a grande diferença no uso entre as famílias de alta, média e baixa renda: as crianças de famílias de alta renda costumam passar 1h50 min por dia; já a de média 2h25 min e de baixa renda, uma média de 3h 39 min.

Ainda não existe uma conclusão exata para todas essas questões, de quão mal o excesso das telas podem fazer para o desenvolvimento humano, pois não existe pesquisas suficientes. Apesar disso, é necessário prestar atenção ao uso das telas, independentemente da idade. Viver fora do ambiente digital e respirar o mundo real é importante para o desenvolvimento de todos.

 

 

 

Imagem da capa: Foto de Amina Filkins no Pexels

Com um dos mercados mais promissores no Brasil, as empresas no ramo se multiplicam.
por
Leonardo Cavazana Nunez
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05/11/2021 - 12h

Por Leornardo Cavazana Nunes

A popularização das apostas online começou discretamente por desconfiança da população nesse mundo de jogos de azar. Mas com a sanção da “lei de apostas” em 2018, esses sites conquistaram multidões de adeptos no País, movimentando cerca de R$ 12 bi por ano, segundo o governo federal.

Considerado no exterior por muitos como um hobby os “apostadores” já são sinônimo de profissão. Os motivos para isso são vários: comodidade, praticidade, diversão e baixo custo de investimento inicial, que pode gerar ganho a longo prazo. O cadastro é feito de maneira remota. Requer um email e senha, além da declaração de ter mais de 18 anos, e as transações são feitas por cartão de crédito, boleto ou Pix. Atualmente, mais de 400 empresas atuam no Brasil, todas elas com sede no exterior.

Entre esses muitos apostadores está Jonathan Eike Harano, 20 anos, Estudante de engenharia de produção da UTFPR. Ele relata que aposta faz dois anos, e que gosta da adrenalina. “faço, pois, é um tipo de investimento de alto risco, gosto da adrenalina, a sensação de estar correndo risco e principalmente no final quando tenho um resultado positivo”, afirma.

Fonte: acervo pessoal do Jonathan Eike Harano (print do celular no site de apostas, bet365)

Fonte: acervo pessoal do Jonathan Eike Harano (print do celular no site de apostas, bet365) 

Segundo o estudante ele não está correndo risco de perder dinheiro e se viciar nesse mundo. “nunca perdi dinheiro em geral, uma vez em uma conta que eu entrei com 60 reais consegui retirar 1000, hoje em dia nesses últimos meses já ganhei uns 60 % do investimento inicial. Sobre o medo de se viciar, não tenho, pois, vejo como um emprego onde eu estudo e analiso minhas opostas, não faço nenhuma loucura”, garante.

Para aumentar suas chances nesse mercado em constante crescimento, os sites de apostas investem com vigor em patrocínio, principalmente no mundo do futebol, mas existem outros tipos de apostas como de basquete, entre outros esportes.

Harano diz como é o processo para apostar. “Entrando no mercado de apostas esportivas seja qual for, eu por exemplo uso o bet365, só por hobby será muito difícil você ganhar dinheiro a longo prazo, por isso eu não aposto com as minhas intuições e sim probabilidades obtidas por um grupo vip que assino por mês, eles possuem um lucro de +800% em 17 messes considerado hoje um dos melhores grupos de consultoria de apostas do Brasil”, conta.

O mesmo termina, alertando como apostar de maneira segura. “No campo das apostas, regras e fiscalização são essenciais. Com controle rígido e de forma ponderada, esse mercado pode ser muito bem explorado", considera.