Em São Paulo, a rotina de um motorista de aplicativo revela como o trabalho passou a ser guiado por notificações, cansaço digital e um cotidiano moldado pelo brilho constante do celular
por
Carolina Hernandez
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24/11/2025 - 12h

 

Por Carolina Hernandez 

O celular vibra antes que qualquer clarão toque os prédios da Mooca, e essa vibração curta, metálica e insistente desperta Jonas de um sono leve, como se fosse uma convocação, um chamado que não permite adiamentos. Ele estende a mão ainda no escuro, alcança o aparelho, observa a luz que se espalha pelo quarto e lê a notificação do aplicativo que já anuncia alta demanda, fluxo intenso, oportunidade. Nos últimos anos, aprendeu a acordar assim, preso ao brilho do celular antes mesmo de sentir o chão frio sob os pés. O trabalho começa na tela, e não na rua.

No carro, um sedan prata que carrega o desgaste dos dias longos, Jonas encaixa o celular no suporte. O gesto é tão automático que parece parte do ritual de ligar o motor, como se o carro só funcionasse plenamente depois que o aplicativo estivesse ativo. A tela mostra a cidade em azul e amarelo, um mapa vivo onde cada área fervilha com informações que determinam para onde ele deve ir, quanto irá ganhar, quanto tempo deve esperar. O aplicativo calcula rotas, horários, riscos e recompensas, e Jonas respira fundo antes de seguir, como quem aceita que o destino do dia será guiado por aquele retângulo luminoso.

A primeira corrida aparece em menos de quinze segundos. Ele aceita. O carro avança devagar pelas ruas que ainda não despertaram, e Jonas observa o céu sem forma, as luzes dos postes refletidas no capô, o reflexo da tela pressionando seus olhos desde a madrugada. Logo, o trânsito cresce, e a cidade parece surgir inteira de dentro dos celulares dos próprios motoristas, porque ninguém conduz apenas pelas ruas, todos conduzem pelos mapas, pelas notificações, pelas coordenadas enviadas de longe.

A dependência da tela dita o ritmo. Jonas percebe isso a cada minuto. Ignorar uma notificação pode significar perder corridas, perder pontos, perder visibilidade diante do algoritmo. Ele sabe que o sistema registra cada movimento, cada segundo parado, cada mudança de rota, cada hesitação. Uma espécie de patrão silencioso observa sua velocidade, suas notas, seus cancelamentos, suas escolhas. Não há voz, não há rosto, mas há controle. Ele comenta que antes achava que dirigia para pessoas, e hoje sente que dirige para um conjunto de cálculos invisíveis.

O cansaço começa sempre pelos olhos. A luz azulada se infiltra pelas pálpebras como um grão de areia persistente. Mesmo nos poucos minutos de pausa, ele sente o celular vibrar no bolso, chamando de volta, lembrando que há demandas próximas. A Pesquisa TIC Domicílios mostra que o celular tornou-se o principal dispositivo de acesso à internet para a maioria dos brasileiros, mas, para motoristas de aplicativo, é mais que isso, é ferramenta, ponte, segurança, salário e vigilância. Jonas passa mais tempo olhando para a tela do que para qualquer rosto durante o dia.

Os passageiros entram no carro sempre com pressa, sempre conectados a outra conversa que não está ali. Há estudantes que assistem aulas no banco traseiro, executivos que participam de reuniões por vídeo, mães que equilibram sacolas e chamadas, jovens que respondem mensagens durante trajetos de poucas quadras. O carro se transforma em cápsula de passagens breves, onde cada um leva sua própria tela, e Jonas conduz tantas luzes simultâneas que, às vezes, o interior do carro parece mais iluminado durante a noite do que durante o dia.

Ele já ouviu histórias que não estavam destinadas a ele, conversas que vazavam das telas para o espaço do carro, lágrimas silenciosas de quem lia mensagens difíceis, risadas altas de grupos que relembravam memórias por vídeos compartilhados. Jonas sempre percebe que as pessoas falam menos com ele e mais com seus celulares, que olham menos pela janela e mais para notificações. Nos raros momentos de silêncio, apenas as telas respiram, emitindo luzes diferentes em intervalos variados.

No fim da tarde, quando o corpo já pesa, o aplicativo avisa aumento de demanda. Jonas pensa em parar, mas o aviso insiste, promete ganhos extras, sinaliza movimento crescente. Ele encosta em um posto para comprar um café, tenta alongar as costas, tenta piscar devagar para aliviar a ardência nos olhos. O celular vibra antes da primeira golada. Ele volta para o volante. Recusar seria uma escolha, mas uma escolha com consequências. Descanso e trabalho, na lógica do aplicativo, nunca estão em equilíbrio.

A madrugada avança e a cidade se torna uma paisagem de luzes espaçadas, com corredores vazios e poucos ruídos. Jonas leva um jovem que saiu do trabalho no shopping, e o rapaz passa o trajeto inteiro olhando para o celular enquanto mensagens surgem em sequência. Jonas também observa o seu próprio aparelho, que marca a rota até o destino. O carro segue pelas avenidas escuras com apenas as duas telas iluminando o interior, criando um silêncio que parece suspenso no ar.

Quando chega em casa, Jonas desliga o carro, depois o aplicativo, e por fim o celular, que insiste em vibrar com atualizações e resumos do dia. A sala escura o acolhe em um silêncio que chega a parecer estranho, como se o mundo tivesse diminuído de volume. Ele se recosta no sofá e sente o peso acumulado do dia, não apenas o peso físico, mas o peso da luz constante, da atenção exigida, da vigilância permanente que o acompanha desde o amanhecer. O corpo quer descanso, mas a mente ainda repassa rotas, mensagens, barulhos de notificação que permanecem mesmo após a tela apagar.

Amanhã, muito antes de a luz do sol tocar a janela, o celular irá vibrar novamente, e Jonas atenderá, não por escolha, mas por necessidade. Ainda assim, enquanto respira profundamente, sente uma dúvida surgir devagar, como quem desperta de um sonho longo. Ele se pergunta se ainda guia o carro, se ainda conduz o trajeto, ou se apenas segue o ritmo imposto pela tela que nunca dorme. E essa pergunta, ele sabe, continuará voltando. Porque, na madrugada das grandes cidades, o trabalho e a vida estão cada vez mais presos ao mesmo brilho.

Com o avanço do sistema de pedágio eletrônico nas rodovias paulistas, motoristas vivem a combinação entre fluidez no trânsito e incertezas sobre tarifas, prazos e adaptação ao novo modelo.
por
Inaiá Misnerovicz
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25/11/2025 - 12h

Por Inaiá Misnerovicz

 

Dirigir pelas rodovias da Grande São Paulo já não é mais como antes. Com a chegada do sistema free-flow - o pedágio eletrônico sem cancelas -, muitos motoristas sentem que atravessam uma fronteira invisível: não há mais a cancela para frear o carro, mas também não há a certeza imediata de quanto vão pagar. Para Jerônimo, motorista de carro, morador da zona leste de São Paulo que faz quase todos os dias o trajeto até Guararema a trabalho, essa sensação de fluxo e incerteza convive em cada viagem.

Antes da implantação do free-flow, Jerônimo parava em praças de pedágio, esperava, conferia o valor, calculava se valia a pena seguir por um trecho ou desviar. Hoje, ao cruzar os pórticos da Via Dutra ou de outras rodovias, ele simplesmente segue adiante. Só depois, no no aplicativo, descobre quanto foi cobrado, isso quando ele lembra de conferir a fatura. Para quem tem TAG, o débito cai automaticamente, mas para quem não tem, o sistema registra a placa e envia a cobrança que deve ser paga em até 30 dias, sob pena de multa, como prevê a regulamentação da CCR RioSP.

Esse modelo evita paradas e acelera o tráfego, especialmente nas pistas expressas. Segundo a concessionária Motiva/RioSP, quem trafega pelas marginais da Via Dutra (sem acessar a via expressa) não é tarifado. Mas Jerônimo ressalta que essa economia de tempo nem sempre vem acompanhada de previsibilidade de custo: “só sabendo depois quanto foi cobrado, ainda dependo de consultar o site para ver se registrou todas as passagens”, ele diz. A tarifa depende do horário e do dia da semana, pode variar, e para quem usa TAG há desconto de 5%. 

Para tornar essa transição mais suave, a RioSP intensificou ações de orientação nas margens da rodovia e em pontos públicos de Guarulhos. Na capital, promotores usam realidade virtual para explicar como os pórticos funcionam, há vídeos e atendimentos nos postos de serviço. Mais de 500 pessoas já participaram de eventos para esclarecer dúvidas sobre o funcionamento, formas de pagamento e salto entre pistas expressas e marginais.

As novas tarifas também entraram em vigor recentemente: desde 1º de setembro de 2025, os valores para veículos leves nas praças da Via Dutra foram reajustados pela ANTT, e nos pórticos do free-flow os preços também foram atualizados. No caso das rodovias geridas pela Concessionária Novo Litoral - especificamente a SP-088 (Mogi-Dutra), SP-098 (Mogi-Bertioga) e SP-055 (Padre Manoel da Nóbrega) - os valores por pórtico variam de R$ 0,57 a R$ 6,95 para veículos de passeio, dependendo do trecho.

Essa lógica de cobrança por trecho, sem a presença física de praças, exige do motorista algo além de atenção na pista: exige educação para se entender onde entrou, onde passou e quanto isso custou. Para Jerônimo, isso é mais difícil do que simplesmente parar e pagar. Ele admite que, apesar da melhoria no fluxo, teme que algum pórtico não tenha sido registrado, ou que haja diferença entre o que ele acredita ter passado e o que vai aparecer na fatura.

Além disso, há risco real para quem não paga no prazo. A CCR RioSP adverte que a não quitação da tarifa em até 30 dias configura evasão de pedágio, o que pode gerar infração de trânsito, multa fixada e até pontos na carteira. Para muitos, essa penalidade ainda parece pesada diante da novidade e da complexidade do sistema.

Por outro lado, o free-flow traz ganhos concretos para a mobilidade: ao eliminar paradas bruscas nas praças, reduz o risco de acidentes por frenagem repentina e melhora o desempenho das rodovias. A tecnologia permite modernizar a gestão do tráfego, e os pórticos com sensores garantem identificação precisa por TAG ou leitura de placa. Ainda assim, a transformação não se resume à pista. Ela repercute no cotidiano de quem vive dessa estrada, como Jerônimo, e também na forma como a concessionária se relaciona com os motoristas. A campanha de orientação mostra que há consciência de que nem todos se adaptarão imediatamente. As ações de atendimento por WhatsApp, aplicativo, site, totens e até no posto de serviço reforçam a aposta na transparência. 

Há também a perspectiva de que esse modelo se torne cada vez mais comum. Segundo planejamento de concessões futuras, mais pórticos free-flow poderão ser instalados nas rodovias paulistas até 2030, o que tornaria esse tipo de cobrança mais frequente para usuários regulares da malha estadual. Mas para que ele seja efetivamente equitativo, será preciso manter a educação viária, oferecer canais de pagamento amplos e garantir que os motoristas não sejam penalizados por simples falhas de entendimento.

Para Jerônimo, a estrada continua sendo um espaço de tensão e de liberdade. Ele ganha tempo, mas precisa vigiar sua fatura. Ele cruza Guararema, volta para São Paulo, e vive uma experiência nova: a de rodar e pagar depois, sem parar, mas sempre com a incerteza de que quanto passou pode não ser exatamente quanto será cobrado. A cancela desapareceu, mas o pedágio segue presente, só que disfarçado em números, e não em uma barreira física. 

Colunista Marcelo Leite revela que a área perde cada vez mais influência no país
por
Giovanna Britto
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24/11/2025 - 12h

 

Durante a pandemia de Covid-19, o Brasil se reinventou em assuntos a respeito de hábitos higiênicos, debates sobre saúde mental e destacou a importância do jornalismo científico, área  responsável por comunicar à população a respeito das vacinas, o avanço ao combate do vírus e outros assuntos de saúde pública. Entretanto, três anos após o fim do estado emergencial causado pela pandemia, a falta de adesão do público à ciência tem ameaçado o trabalho dos jornalistas desse segmento.

Entre 2020 e 2022, os profissionais da mídia foram expostos ao desafio de comunicar a incerteza científica, traduzir termos e conscientizar a sociedade sobre a pandemia. Muitos jornalistas já eram especializados na área, outros aprenderam a falar sobre ciência devido a alta demanda de notícias para divulgar. A pandemia serviu como ponto de virada para o jornalismo científico - que já existia no Brasil, mas ganhou repercussão graças à necessidade de dar foco ao assunto que ditou o estilo de vida de um mundo inteiro.

Nomes como Atila Iamarino, Natália Pasternak e Álvaro Pereira Júnior se destacaram como grandes vozes da divulgação do jornalismo de ciência. Em entrevista à AGEMT, Marcelo Leite, jornalista e colunista da Folha de São Paulo especializado na área de ciência e ambiente, comenta sobre esse período: “Nunca se valorizou tanto do ponto de vista de espaço, de tempo, de audiência, a divulgação de informações científicas de base para entender o que estava acontecendo.” Hoje, o espaço de fala e a repercussão em temas científicos são menores, uma vez que as pessoas estão cada vez menos interessadas em saber de que forma isso implica em suas vidas pessoais.

Jornalista Marcelo Leite posando para câmera
Formado em jornalismo pela USP, Marcelo também atuou na Revista Piauí e é autor do livro “Psiconautas: Viagens com a Ciência Psicodélica Brasileira”. Foto: Divulgação/Unicamp.

 

Marcelo relembra que o jornalismo científico já sofria com ameaças à sua credibilidade, com falsos especialistas, médicos sem conduta ética e  com o presidente da época, Jair Bolsonaro, reproduzindo falas que levantavam mais dúvidas e ondas de ódio. “Foi um período terrível, e talvez a parte principal, que me deixa mais frustrado, é que o público se dividiu em dois. Uma parte passou  a desconsiderar as informações que a gente, do jornalismo científico, se esforçava por apresentar como informações objetivas, fundadas em dados, com a qualidade que se espera da ciência ", completa.

Na fase posterior à pandemia, após o declarado fim do período emergencial do coronavírus em 5 de maio de 2023, foi possível observar as consequências e heranças que a abundância de informações equivocadas, negacionistas e falsas deixaram na rede de informação, seja online ou offline. Os movimentos anti vacinas, impulsionados durante o Covid, emitiram um alerta para a Organização Mundial de Saúde. Dados divulgados pelo jornal Humanista da UFRGS evidenciam que a cobertura de vacinas contra poliomielite, HPV e sarampo estão em constante queda e sequer atingem a meta em lugares como Norte e Nordeste. 

No anuário de Vacinas de 2025 da Unicef, os dados indicam que até 14 de julho de 2025, a cobertura vacinal dos grupos prioritários permanecia abaixo da meta de 90%: crianças de seis meses a seis anos com 39,5%, idosos com 53,2% e gestantes com 29,8%, correspondendo a menos da metade do público-alvo.

A questão ambiental também é desconsiderada por muitas pessoas. Marcelo afirma que há muitos temas pelos quais o jornalismo científico lutou pelo progresso e que atualmente são banalizados. “se houve alguma dúvida no passado, há 20, 30 anos atrás, hoje não há mais nenhuma dúvida sobre os impactos que estão vindo e virão da mudança climática, cada vez mais sérios. Mas ainda tem gente que questiona.”

Recentemente, casos de metanol que alertaram a população em outubro deste ano, trouxeram uma onda de informações falsas que prejudicaram profissionais da área jornalística e médica, motivando o pronunciamento deles a respeito. Vídeos tentando realizar testes caseiros para identificar a presença da substância nas bebidas, sem comprovação científica, viralizaram nas redes sociais.

Essa situação se assemelha com as polêmicas envolvendo o uso da cloroquina na pandemia. Um levantamento realizado por pesquisadores do Centro de Estudos e Pesquisas de Direito Sanitário da USP (Cepedisa) em colaboração com a Conectas Direitos Humanos, mostra que, entre março de 2020 e janeiro de 2021 houve pelo menos quatro medidas federais promovendo diretamente ou facilitando a prescrição do medicamento. Jair Bolsonaro foi um dos maiores promotores da cloroquina na época e quem motivou o uso para a população. Apesar de ter sido associada no combate ao Covid, a cloroquina é um medicamento que atua contra doenças inflamatórias crônicas e no combate a parasitas e cuja eficácia de uso para o coronavírus não é comprovada.

O estudo que deu início a essa ideia foi inicialmente publicado na revista científica International Journal of Antimicrobial Agents e assinado por mais de 10 profissionais. Hoje, a editora da revista, Elsevier, anunciou a retratação deste artigo após uma pesquisa aprofundada, com o apoio de um “especialista imparcial que atua como consultor independente em ética editorial”.

Os profissionais continuam exercendo seu trabalho com excelência, alguns optando pela mídia tradicional, outros inovando nas redes através de vídeos curtos. Mas é inegável a forma com que o jornalismo científico perdeu a influência e como falta apoio em todas as áreas. “É muito triste, porque eu dediquei minha vida inteira ao jornalismo científico, para ver isso acontecer no fim da minha carreira” conclui o jornalista.

Após sete anos, evento volta ao calendário impulsionado pelo avanço dos carros eletrificados
por
Fábio Pinheiro
Vítor Nhoatto
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22/11/2025 - 12h

O Salão Internacional do Automóvel de São Paulo, um dos eventos mais tradicionais do setor automotivo brasileiro, está de volta após um hiato de sete anos. A edição de 2025 acontece entre os dias 22 e 30 de novembro, em um contexto de profundas transformações na indústria e impulsionada pela expansão de veículos eletrificados, entrada de novas marcas no país e a necessidade das montadoras de reconectar consumidores às experiências presenciais.

De acordo com a RX Eventos, organizadora da mostra bienal, a volta acontece em razão da reestruturação e aquecimento do mercado. A última edição havia sido realizada em 2018 e contou com cerca de 740 mil visitantes, mas devido a pandemia de COVID-19 o Salão de 2020 foi cancelado. Nos anos seguintes, a volta do evento ficou só na especulação. Segundo a Associação Nacional de Fabricantes Automotores (Anfavea), a pausa também pode ser atribuída à crise de matéria-prima, à retração econômica deste então e ao formato caro para as montadoras que estavam distantes do público.

Embora as duas últimas edições tenham sido no São Paulo Expo, esta acontece no Complexo do Anhembi, casa oficial do evento desde 1970. A mudança foi celebrada por expositores e pelo público, já que o Anhembi permite maior fluxo de visitantes, oferece áreas amplas para test-drive e atividades externas, recuperando a identidade histórica do salão. O retorno também faz parte da estratégia de reposicionar o evento como uma grande vitrine de experiências automotivas, com pistas, ativações e zonas imersivas distribuídas pelo pavilhão.

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Renault anuncia o seu novo carro “Niagara” - Foto: Fábio Pinheiro

Entre as montadoras que vão expor, estão nomes de peso que apostam na ocasião para apresentar novidades ao consumidor brasileiro. A BYD leva ao Salão uma linha reforçada de elétricos e híbridos, aproveitando o crescimento expressivo da marca no Brasil, além de lançar no evento a marca de luxo do grupo, Denza. A rival chinesa GWM também estará presente, com o facelift do SUV H6, o jipe Tank 700 e a minivam Wey 09.

Em relação às marcas tradicionais, a Stellantis vai em peso para o Anhembi. A Fiat, apesar de não ter apresentado nenhum modelo novo, trará o Abarth 600, um SUV elétrico esportivo. A Peugeot terá os 208 e 2008 eletrificados e, principalmente, o lançamento da nova geração do 3008 para o mercado nacional, equipado com o tradicional motor THP. 

Enquanto isso, a Toyota investe na divulgação de novidades híbridas flex, com a chegada do Yaris Cross para brigar com o recém-lançado HR-V, e os líderes Hyundai Creta e Chevrolet Tracker. Juntas, as marcas representam parte do movimento de transformação do mercado brasileiro, que tem apostado cada vez mais na eletrificação e em tecnologias avançadas para rivalizar com a expansão chinesa.

O Salão 2025 também será palco de novas marcas como a Leapmotor, parte do grupo Stellantis. O SUV C10 será o primeiro modelo a chegar às ruas, ainda neste ano, e conta com a versão elétrica (R$189.990) e com extensor de autonomia (R$199.990). O segundo modelo será e o C-SUV elétrico B10, por R$172.990, 60 mil a menos que o rival BYD Yuan Plus, e mais recheado de tecnologia, como teto panorâmico, nível 2 de condução semi autônoma, câmera de monitoramento do motorista e airbag central.

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Presidente da Stellantis para a América do Sul, Herlander Zola, anunciou os planos para o grupo - Foto: Stellantis / Divulgação

Já a britânica MG Motor, propriedade da chinesa SAIC, investirá em esportividade elétrica, além de custo-benefício. O modelo de maior volume de vendas deve ser o SUV S5, rival de Yaun Plus, e igualmente equipado ao B10. Em seguida, o MG 4 chega para rivalizar com Golf GTI e Corolla GR, com mais de 400 cavalos, tração integral, pacote de ADAS completo, e pela metade do preço dos rivais. Por fim, o Roadster será o chamariz de atenção no estande, com portas de lamborghini e em homenagem à tradição da marca. 

O grupo CAOA também fará a estreia da nova marca que trará ao Brasil a Changan, com a chegada prevista para 2026 com os modelos de super-luxo elétricos Avatr 11 e 12, além do SUV UNI-T, rival do Compass e Corolla Cross. 

O pavilhão do Anhembi contará com pistas de test-drive, áreas dedicadas a modelos clássicos como o McLaren de Senna, e até mesmo uma área do CARDE Museu. No Dream Lounge estarão presentes super carros como Ferrari e Lamborghini, além da Racing Game Zone para os amantes de videogame e simuladores de corrida. 

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Área externa do Anhembi terá pista de slalom, frenagem e test-drive de dezenas de modelos - Foto: Salão do Automóvel / Divulgação

Apesar da ausência de marcas como Chevrolet, Ford, Mercedes, Volvo e Volkswagen, 2520 montadoras estarão presentes, incluindo Chery, Hyundai, Mitsubishi e Renault. O Salão espera receber cerca de 700 mil visitantes e a edição 2027 já está confirmada. Os ingressos custam a partir de R$63 (meia-entrada) nos dias de semana.

Projeto aprovado pelo Congresso libera R$ 22 milhões do Fundo de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT)
por
Helena Barra
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17/11/2025 - 12h

Por Helena Barra

 

No dia 4 de agosto de 2025, o Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, sancionou o Projeto de Lei 847/2025. O plano, aprovado pelo Congresso brasileiro, regulamenta o uso dos recursos do Fundo de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), liberando o valor de R$ 22 bilhões para investimentos nas áreas da ciência e tecnologia.  O FNDCT é o principal instrumento de financiamento público da ciência, tecnologia e inovação no Brasil. Ele apoia pesquisas científicas, a formação de recursos humanos qualificados, a inovação tecnológica nas empresas, a infraestrutura de pesquisa e o desenvolvimento de projetos estratégicos nacionais.

A professora de economia da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo), Norma Cristina Brasil Casseb, explica que fundos como o FNDCT possuem legislação própria. No caso do FNDCT, segundo dados da FINEP (Financiadora de Estudos e Projetos), os recursos são provenientes de diversas fontes. A composição deles evidencia o importante papel do Estado tanto no direcionamento de incentivos diretos do orçamento público e do tesouro, quanto na garantia de que parte dos lucros obtidos pelas empresas do setor detentor e gerador de tecnologia retorne para a sociedade e permita que ela se desenvolva de forma mais igualitária.

Nas redes sociais, o presidente Lula, afirmou que a medida visa fortalecer a base industrial brasileira. “Com essa medida, vamos fortalecer a inovação nas seis missões da Nova Indústria Brasil e nas Instituições Científicas e Tecnológicas, levando infraestrutura, redes de pesquisa e oportunidades para todos os territórios do país. Investir em pesquisa e inovação é investir no futuro do Brasil”, comentou na divulgação.  Além disso, o projeto também tem como objetivo estimular o emprego qualificado em pesquisa e desenvolvimento, de maneira a ampliar o número de doutores em empresas, startups, parques tecnológicos e instituições de ensino. 

Para Norma Casseb, em um país como o Brasil, com alta desigualdade social e elevada concentração de renda, a liberação deste recurso é importante, não só para a sociedade, mas como para a economia nacional. “Neste contexto, o investimento em tecnologia e inovação, combinado a uma estratégia voltada para a industrialização do país, tem uma alta capacidade de geração de empregos de qualidade especialmente no setor produtivo, permitindo elevação na renda da população e, por consequência, maior expansão econômica”, informa a doutoranda. 

Segundo a Associação Brasileira de Desenvolvimento (ABDE), representante das instituições financeiras de fomento habilitadas a operar os recursos do fundo, a nova lei marca uma mudança de postura em relação ao uso dos fundos públicos voltados à inovação. Ao garantir previsibilidade e autonomia na aplicação dos recursos, o Brasil se alinha a boas práticas internacionais de apoio à pesquisa e ao desenvolvimento tecnológico. 

Em entrevista à Agência Brasil, a ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos, destacou que, apesar de o FNDCT ter sido criado em 1969, o fundo ganhou maior relevância nos governos do presidente Lula, inclusive no atual mandato. De acordo com o governo, nos últimos dois anos, os investimentos em ciência, tecnologia e inovação por meio do FNDCT aumentaram seis vezes. Saíram de R$ 2 bilhões, em 2021, para R$ 12 bilhões, em 2024. A previsão para 2025 é de cerca de R$ 14 bilhões.

A professora também reforça que o investimento em ciência e tecnologia é um dos pilares fundamentais para o desenvolvimento econômico e social de uma nação. Eles permitem adicionar valor agregado aos produtos brasileiros, além de elevar a produtividade e a competitividade da economia nacional, permitindo que sejam cada vez mais competitivos no comércio internacional.  Além disso, investimentos como o FNDCT podem tornar o País mais que um exportador de produtos de maior valor agregado, mas também um exportador de tecnologia para outros países, que muitas das vezes não possuem capacidade financeira ou de infraestrutura para desenvolverem suas próprias tecnologias.


 

 





 

“O jovem se expõe cada vez mais nas redes sociais, sendo submetido ao olhar do outro e tornando-se dependente dele”
por
Clara Maia de Castro Ribeiro
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04/10/2022 - 12h

Por Clara Maia

 

O tão especulado “padrão de beleza” sempre foi esperado e cobrado para toda mulher. Seja imposto através do machismo estrutural, de nível de status econômico e social ou até mesmo, do grande mercado capitalista. Porém, algo que nunca mudou foi quem o dita: homens héteros, cisgênero e de grande influência social. Como a tecnologia criada por esses homens afeta a saúde mental de muitos jovens é preocupante; transtornos alimentares e a dismorfia corporal nunca foram tão expostas como hoje. Porém, para compreender essa influência é necessário entender onde e como a pressão estética foi criada. 

Pensando historicamente, os registros sociais que marcam essa narrativa começam na Renascença - compreendido entre os séculos XIV e o fim do século XVI -. Nesse período, a beleza era sinônimo de riqueza e fertilidade. Logo, ser curvilínea e gorda representava o poder de posse para uma boa alimentação e, consequentemente, um bom corpo para gerar filhos. É possível enxergar essas marcas em pinturas clássicas como “O nascimento de vênus”, de Boticelli. 

Obra do artista renascentista Sandro Botticelli (1445-1510).

 

Este conceito de beleza filiado ao corpo gordo perpetuou durante um longo período na história, já que a fome sempre foi presente durante boa parte da industrialização mundial. 

Dando um salto para o século XX, a conquista dos direitos feministas como voto, o trabalho e a independência financeira fez com que o mercado capitalista deparasse com o desafio: “como manter o controle sobre as mulheres?”.

Protesto feminista em São Paulo na década de 1960.

 

Entra a fase da mercantilização do que é feminino. A mídia comercial começa a ditar o que seria a mulher perfeita com a influência do cinema, das propagandas, da indústria da moda e beleza. Ser magra é agora é sinônimo de controle e autocuidado. Porém o ideal da beleza atrelado ao poder financeiro nunca mudou, já que só a mulher com possibilidade de gastar em maquiagem, cirurgias plásticas, academia é vista e associada como bela. 

Entender a influência da tecnologia e do mercado é essencial para que se questione o processo de dominação feminina. Hoje, as redes sociais têm um papel claro na saúde mental de grande parcela da sociedade, já que o ser humano é movido pela aprovação do outro. Redes como Tiktok, Instagram, Facebook e Twitter ganham milhões em cima desse desejo insano de aprovação - likes, comentários, retuítes - instigam esse pensamento de comparação de forma voraz. Quando só o corpo magro e jovem é lido como belo, todos aqueles que não se encaixam nesse quadro, tem propensão a gerar transtornos alimentares e mentais. 

O psicólogo Cláudio Paixão, graduado pela UFMG, comenta: "Na medida que o jovem se expõe cada vez mais nas redes sociais, mais ele está submetido ao olhar do outro, se tornando também dependente desse olhar” logo, é natural que as pessoas queiram adaptar-se para captar essa atenção para si. É nessas tentativas que os procedimentos estéticos entram, na esperança de ficar mais próximo ao que é desejado e buscado como belo.

Prova dessa busca alarmante pela aprovação estética são os números de cirurgias plásticas feitas no Brasil. De acordo com dados da Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética (ISAPS) e Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP), o País está em primeiro lugar no ranking mundial (aproximadamente 1.5 milhões de cirurgias ao ano, ultrapassando os Estados Unidos e o México, em segunda e terceira posição, respectivamente).

Paixão alerta, “É importante ressaltar o limite entre o prejudicial e o uso das redes e filtros que alteram sua imagem” e acrescenta: “Quando a pessoa começa a trocar a visão realista de si mesma pelas versões dos filtros e se sentir desconfortável com a sua real aparência, é um grande motivo de preocupação”. Se faz então importante a rede de apoio familiar e social desse jovem, para que ele se sinta acolhido e valorizado em si próprio, impedindo o avanço de doenças como depressão, ansiedade, transtornos alimentares e de imagem como resultado desse tipo de cobrança feminina.  

A crise energética da Europa e a busca por soluções mais sustentáveis
por |
04/10/2022 - 12h

Por Laura Naito

 

No início de 2022, a Europa se deparou com uma crise energética causada pela guerra entre Rússia e Ucrânia, isso porque 43% do gás natural consumido pela União Europeia vêm da Rússia, que têm restringindo o acesso de energia pelo apoio do bloco econômico à Ucrânia. Refém das políticas russas, a Europa se encontrou obrigada a avançar nos projetos de busca por alternativas renováveis de energia.  Segundo a Agência Europeia do Ambiente, 77% das necessidades energéticas do europeu médio são supridas com os recursos do petróleo, gás natural e do carvão. Enquanto a  energia nuclear supre 14% dessas necessidades, os restantes, 9%, são supridos por fontes renováveis. Agora, a UE busca diminuir a importação de gás russo em dois terços e transformar sua matriz energética.

 

O professor de química Mauritz De Vries, explicou que hoje em dia há tecnologia para conseguir obter energia a partir de fontes renováveis, "mas é necessário um grande investimento para que haja uma mudança na matriz energética e que seria possível, mas pelas questões políticas e econômicas isso não acontece, o que ajudaria também a segurança energética e existe uma pressão para que os países não sejam auto suficientes (para manter as relações do mercado internacional)". Devido ao efeito estufa e ao aquecimento global, não é mais viável se voltar aos combustíveis fósseis, como era feito antigamente. Para isso, a Europa e o resto do mundo precisam encontrar uma forma para encontrar segurança energética de forma sustentável e econômica. Ter energia barata é uma parte fundamental do processo considerando que o preço dela é um dos fatores mais relevantes na economia de um país. O valor pago por esse produto vai afetar os preços de toda a nação em questões básicas como transportes e na produção de alimentos. 

 

Sobre isso, De Vries disse que energia elétrica não pode ser armazenada em grande quantidade porque precisa de bateria, que são caras. Para ele, a grande problemática para a popularização da energia limpa é a necessidade de grandes investimentos em tecnologias para seu armazenamento. Como ainda não existem sistemas avançados e de grande escala para isso, quando há a produção de energia por fontes renováveis, a energia que não é utilizada é perdida. O professor aponta a solução encontrada pelos países nórdicos: "Como já possuem uma grande produção de energia sustentável, o excedente tem sido usado para fazer a eletrólise da água e produzir gás hidrogênio." 

 

    Ainda estamos em um momento de evolução das tecnologias de armazenamento, que é a forma que os países poderão se tornar independentes energeticamente e tornar esse mercado estável, já que é falta de estabilidade do mercado que traz flutuações de preços, dependendo da produção e da demanda.  A relação entre armazenamento e dependência é inversamente proporcional. Com mais países conseguindo armazenar sua energia, a dinâmica internacional do comércio vai se tornar mais democrática. A diversificação do mercado será responsável pelo seu aumento e as potências energéticas que conhecemos hoje irão mudar. 

 

Uma mudança na matriz energética mundial não seria boa apenas para o meio ambiente, mas também ajudaria a construir um mundo mais democrático e liberal, com as nações sendo auto suficientes. Com esse processo de substituir os combustíveis fósseis por fontes renováveis, os países exportadores de petróleo e gás natural perderão poder econômico e influência geopolítica. Enquanto os países consumidores poderão alcançar a independência dos exportadores, com a energia limpa e barata que fortaleceria a economia e instituições públicas. Ao mesmo tempo enfraqueceria muitos governos autoritários pelo globo, já que a grande maioria desses países exportadores de combustíveis fósseis são governados por autocratas, como por exemplo, a Arábia Saudita. 

 

No entanto, a instabilidade da produção impede a sua massificação, isso porque dependemos de fontes naturais, principalmente o Sol, o vento e as marés. As novas tecnologias de armazenamento de energia surgem para solucionar esse problema, podendo popularizar a produção limpa em alta escala, mas ainda são muito caras.

 

O hidrogênio como combustível é entendido como uma peça chave para o futuro sem carbono, mas sua aquisição demanda uma grande quantidade de energia que é adquirida de forma limpa pela eletrólise. Esse processo químico consiste em retirar as moléculas de hidrogênio do oxigênio da água por meio de uma corrente elétrica ligada a eletrolisadores que separam as moléculas de hidrogênio (2H2) e oxigênio (O2), nos pólos negativo e positivo respectivamente, resultando num produto final chamado de hidrogênio verde. Durante todas as etapas, não há emissão de gases poluentes, apenas água.

 

Mas, para o professor Mauritz, o método usado pelos países nórdicos como uma alternativa para o excedente de energia não será uma solução para a crise. "A matriz energética precisa ser diversificada, o hidrogênio verde uma das possibilidades, mas para o uso urbano e industrial é interessante possuir a energia solar, por exemplo, que não precisa ser convertida.", afirmou. 

Processo para obter o hidrogênio verde

O potencial energético dessa fonte é cerca de três vezes maior que a do petróleo e sua produção é mais eficiente e mais sustentável que as de combustíveis fósseis. No momento, mais de 30 países têm o projeto para aderir ao hidrogênio verde como sua principal fonte de energia, mas o custo de sua infraestrutura é o maior problema dessa técnica. Ele deve fazer parte das mudanças estruturais da matriz energética nos próximos anos.

A tecnologia 'apolítica' mostra suas facetas entrelaçadas diretamente com o sistema
por
Isabela Mendes
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30/06/2022 - 12h

Por Isabela Mendes

As criptomoedas se construíram como um fenômeno tecnológico característico do século XXI, que tem como peça-chave o pós-modernismo. Por conta da rapidez e a volatilidade com as quais as coisas estão fadadas a se moldarem nos dias de hoje, o mundo cripto surgiu como uma alternativa imediatista e tomada de celebracionismo tecnológico para uma problematização neoliberal do papel do Estado na economia pós crise de 2008. 

Os criptoativos, como o Bitcoin, por exemplo, possuem uma relação de retroalimentação com o sistema neoliberal, pois seguem a lógica do mercado para definir seu valor, sem a regulação de um Banco Central. Por isso, não se caracterizam como moedas fiduciárias, isto é, moedas de curso forçado, que possuem valor assegurado por decreto governamental e que são reconhecidas pela população. Para que haja esse reconhecimento popular, é necessário capital político e econômico expressivos, que não estão atualmente mobilizados em torno do universo cripto como um todo.

No entanto, muitos defendem a utilização das moedas digitais como saída para a inflação, já que elas possuem um sistema de mineração (processo de confecção das criptomoedas) limitado, ou seja, existe uma quantidade específica de transações permitidas em blockchain, tecnologia exclusiva desse segmento. Nesse sentido, se fossem adotadas como moeda oficial, poderiam, em teoria, ajudar a frear os índices inflacionários através da desaceleração da emissão do dinheiro em espécie que, se em alta circulação, tenderia a derrubar o valor da moeda vigente, de acordo com a ótica liberal. 

Para o professor e pesquisador Edemilson Paraná, autor do livro “Bitcoin: a utopia tecnocrática do dinheiro apolítico”, as criptomoedas foram desenvolvidas com o propósito de tirar das mãos do Estado, bancos e instituições financeiras a gestão monetária, contando com um arranjo tecnológico avançado criado exatamente para isso.

Porém, o mercado cripto não é estável o suficiente para ancorar a economia de uma nação, visto que é dominado pela alta especulação promovida por grandes empresários em benefício próprio numa espécie de esquema de pirâmide, tornando-o volátil e manipulável. Além disso, a crença de que é um nicho financeiro “descentralizado” e de que os processos tecnológicos em si são livres de ideologias é leviana, visto que dada a ausência do Estado como ponto central, a presença do mercado se faz intrínseca, carregando sua própria lógica tanto na idealização do mundo dos criptoativos como na sua execução que, como toda tecnologia, tem as mãos e mentes humanas por trás e, portanto, dispõe da ideologia liberal para a qual foi criada para servir.

Sendo assim, Edemilson caracteriza o Bitcoin como “o filho rebelde do neoliberalismo” e diz que ele “visa tratar o dinheiro, por meio do aparato tecnológico, como uma coisa neutra e apolítica, puramente técnica”. “Essa ideia de neutralidade técnica muito rapidamente nega a si mesma, já que está a serviço de uma forma particular, tecnocrática, de política”, acrescenta.

De acordo com ele, ainda, o perfil majoritário dos indivíduos que utilizam o Bitcoin consiste em um sujeito do gênero masculino com idade de 25 a 44 anos, representando 88% do total. Ele lembra que as transações feitas em Bitcoins dispõem de uma criptografia robusta que, via de regra, dificulta a identificação daqueles que as realizam. Nesse sentido, também cabe mencionar as portas que esse mecanismo abre para esquemas de corrupção como lavagem de dinheiro, por exemplo, visto que seus negociadores praticamente “inexistem” no ambiente cripto, como dito acima, e tampouco deixam rastros no que diz respeito à origem do dinheiro que está em jogo.
 

Uma discussão sobre a não neutralidade da tecnologia e suas implicações no Jornalismo.
por
Rafaela Eid Lucio de Lima
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30/06/2022 - 12h

Por Rafaela Eid Lucio de Lima

O Jornalismo, profissão que investiga, discute, expõe fatos, ideias e argumentos, sempre é alvo da discussão sobre a imparcialidade: É neutro ou não é? Por mais que a sociedade queira acreditar na neutralidade das coisas, como na da tecnologia e do próprio Jornalismo, é fato que tudo tem estímulos ideológicos. Assim como um jornalista - com suas escolhas de palavras e argumentos - coloca seus pensamentos naquilo que escreve, os mecanismos tecnológicos também replicam aquilo que “pensam”, ou seja, o que aprenderam. Os robôs no Jornalismo podem ser vistos, por alguns, como uma saída para parcialidade humana, mas os algoritmos também são capazes de reproduzir preconceitos e estereótipos.

Segundo um levantamento feito pelo coletivo Pretalab - projeto que estimula a inclusão de mulheres negras na tecnologia e na inovação - juntamente com a consultoria ThoughtWorks, homens brancos, héteros e de classes sociais média ou alta são a maioria dos funcionários do setor de tecnologia. Nesse sentido, quando produzem os algoritmos, esses cientistas alojam seus preconceitos, mesmo que inconscientemente, já que vivem em uma sociedade estruturalmente racista e machista. Consequentemente, há casos como quando o Google Fotos rotulou, em 2015, um casal de pessoas negras como gorilas e quando, em 2020, o Twitter priorizava exibir rostos brancos nas imagens que também continham rostos negros, entre tantos outros.

Além disso, outro elemento importante, que colabora para que a discussão sobre a falta de parcialidade ou excesso dela no Jornalismo exista, é a narrativa, produzida pelos próprios veículos, de que os meios de comunicação jornalísticos são imparciais. Entretanto, essa é uma maneira de controlar e enganar reiteradamente os leitores. O viés encontra-se nas entrelinhas, na linha editorial, nas escolhas de posicionamentos, no que é publicado e, principalmente, no que não é publicado.

Como colocado pela autora Clarissa Peixoto, no texto Jornalismo, hegemonia e reações contra-hegemônicas: “A imparcialidade pregada pelos veículos de jornalismo hegemônico cai por terra diante das evidências de desequilíbrio entre versões do fato ou do acontecimento. Falsas equivalências buscam dar a mesma dimensão para temas situados em horizontes diferentes. A exemplo disso, podemos atribuir ao jornalismo tradicional uma parte importante do incentivo a narrativas da extrema direita. Não à toa, teve papel fundamental na promoção de Bolsonaro nos anos anteriores à eleição de 2018, apresentando seus posicionamentos como válidos na discussão entre contraditórios, sem realizar um debate crítico e aberto com a sociedade sobre o que significavam. Outra forma de enquadramento recorrente na imprensa hegemônica consiste em tratar sem equidade as relações de poder. Os contraditórios não são mediados para garantir um equilíbrio entre as narrativas quando não lhes convém. O discurso da imparcialidade valida posições de poder na compreensão do que é público e do que é privado (MIGUEL; BIROLI, 2010), sintetizando a realidade em versões polarizadas e estanques”. Essas e outras maneiras são utilizadas pela grande mídia para colocar sua opinião sem que seja tão explícita.

Sendo assim, tudo tem um viés, seja ele por interesses políticos, econômicos, sociais, privados, públicos, entre outros. No caso da grande mídia, o interesse econômico é o que dita o que será veiculado. A linha editorial dos jornais, como o Estadão e a Folha de S. Paulo, publica o que não vai de encontro com as vontades dos anunciantes. Nesse sentido, faz-se necessário questionar as tecnologias que compactuam com o discurso hegemônico da sociedade, em qualquer âmbito, até mesmo no Jornalismo, a fim de entender as tendências ideológicas dos algoritmos, como impactam a vida da sociedade pelos meios de comunicação e os próprios meios de comunicação.

COMO FUNCIONAM OS ROBÔS

Pensando nisso, então, mesmo que fossem robôs escrevendo notícias, eles teriam que continuar mantendo o padrão de quando são escritas por humanos. Em 2014, por exemplo, o El País Brasil publicou uma matéria com o título “O jornalismo enfrenta o desafio dos robôs que produzem notícias", dizendo que a agência Associated Press começava, naquele ano, a usar robôs para produzir notícias automaticamente. Cristina Pereda, jornalista que a escreveu, cita no texto que: “Os robôs são na verdade programas de computador que já conquistaram outros setores, como o de atendimento ao cliente, serviços de venda online ou os buscadores de informação. Mas seu uso nas redações é o último desafio ao qual o jornalismo deve enfrentar no trabalho dos meios de comunicação depois do surgimento da Internet, o que mudou para sempre a distribuição das notícias e esvaziou os modelos de negócio baseados na publicidade.” Pereda ainda cita outros veículos, para além da Associated Press, que já utilizavam os robôs: The New York Times e Los Angeles Times, por exemplo.

Vale ressaltar que o uso dessa tecnologia não é uma novidade nas redações, elas datam a década de 70, segundo o artigo O uso de robôs no jornalismo brasileiro: três estudos de caso. Eles eram utilizados na redação de previsões do tempo já naquela época. Mas o debate se intensificou depois que grandes veículos como os citados acima e outros, como The Washington Post, Le Monde, Forbes, Metropolis Daily, começaram a usar os robôs que utilizam softwares de Natural Language Generation (NLG), que consiste no uso de Inteligência Artificial (AI) programada para produzir narrativas escritas e faladas a partir de um dataset - conjunto de dados. A NLG produz conteúdos com “natural-sounding language”, ou seja, com uma linguagem que soa natural, de acordo com o site Tech Target. Além disso, ela funciona em 6 estágios: análise de conteúdos; entendimento de dados; estruturamento de documentos; junção de frases; estruturamento gramatical; apresentação de linguagem. Quando se fala, então, de robôs no jornalismo, “não estamos falando de robôs humanoides que trabalharão, lado a lado, com repórteres nas redações. Estamos sim falando de computadores, softwares, algoritmos, tabelas e bancos de dados”, trecho do artigo O uso de robôs no jornalismo brasileiro: três estudos de caso. Vale ressaltar que, no Brasil, também existem veículos que usam robôs como “jornalistas”: Aos Fatos, G1, Jota, entre outros. 

Dessa maneira, os dados coletados pelos robôs, a fim de escrever notícias, são algoritmos que podem ser ensinados e que podem conter preconceitos. O racismo algorítmico, por exemplo, é uma das discussões mais atuais quando se fala do uso de IAs em diversos campos da nossa vida: redes sociais, aplicativos, reconhecimento facial, entre outros. Como fala o pesquisador Tarcízio Silva, autor do livro Racismo Algorítmico: inteligência artificial e discriminação nas redes digitais, em entrevista para o programa Bem Viver da Rádio Brasil de Fato:

 

“Racismo algorítmico é um termo [que está] sendo utilizado globalmente por estudiosos e ativistas que tentam entender como tecnologias digitais podem intensificar práticas racistas e manifestações do racismo estrutural em diversas tecnologias digitais que temos no nosso dia a dia. E essas tecnologias digitais, hoje, são impulsionadas, de certa forma, pela lógica e pela ideologia da Inteligência Artificial e do aprendizado de máquina. E, para além disso, as plataformas que utilizam essas tecnologias dominam praticamente todas as esferas da vida. São as plataformas de comunicação, mas também são as plataformas de trabalho, de comércio, até as plataformas de serviço. Então, os aplicativos de transporte, de entrega, são exemplos disso. Além disso, para falar um pouco mais dessa pervasividade das tecnologias em todas as esferas, a gente ainda pode pensar em aplicativos de paquera e aplicativos de saúde. E, nos últimos 10 anos, muitos estudos descobriram que algumas tecnologias podem esconder práticas racistas e outros tipos de práticas discriminatórias - também relacionadas a gênero, ou região, ou capacitismo, e assim por diante. Não que os algoritmos sejam racistas, porque a questão não é pensar que um software tem vontade própria, mas sim o inverso, algoritmo como um qualificador do racismo. Então, as práticas racistas e discriminatórias hoje [se] utilizam das tecnologias, ou seja, [se] utilizam também dos algoritmos para intensificar a exploração, que está ligada a exploração financeira também, exploração do trabalho, em várias esferas diferentes. E isso é um risco enorme porque pode infringir diversos direitos que envolvem minorias raciais, mas a população como um todo também”.

Diante do que foi exposto por Tarcízio, surge a pergunta: Como poderiam ser imparciais os robôs que atuam no Jornalismo? A resposta é que eles não conseguem ser neutros, já que podem replicar práticas discriminatórias, pois a Inteligência Artificial que os opera é tendenciosa. Então, a utilização desses mecanismos tem como objetivo automatizar as redações, precarizar o trabalho e agilizar os processos de elaboração de notícias, jamais tornar o Jornalismo e seus veículos mais imparciais. Nesse sentido, o debate sobre a neutralidade torna-se infrutífero. O Jornalismo é parcial e não há como, nem por meio de robôs, torná-lo um pouco mais neutro. O que a sociedade vivencia, atualmente, é uma tentativa lucrativa de espalhar por toda a parte o uso dos algoritmos e, portanto, bem-sucedida, já que a tecnologia é, por muitas vezes, bem aceita sem nenhum questionamento. 

 

 


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

 

CARVALHO, Denise. Racismo Calculado. Uol, 2021. Disponível em: <httpws://www.uol.com.br/tilt/reportagens-especiais/como-os-algoritmos-espalham-racismo/>. Acesso em: 29 de jun. de 2022.

 

DALBEN, Silvia. O uso de robôs no jornalismo brasileiro: três estudos de caso. VI Seminário de Pesquisa em Jornalismo Investigativo. Universidade Anhembi-Morumbi, 26 de junho a 29 de junho de 2019. Disponível em: <https://projetos.abraji.org.br/seminario/PDF/6/SILVIA_DALBEN-O_uso_de_robos_no_jornalismo_brasileiro_tres_estudos_de_caso.pdf>.  Acesso em: 29 de jun. de 2022.

 

JUNIOR, Juracy Braga Soares. Jornalistas robôs substituem seres humanos no G1 a partir de 1 de janeiro de 2021. Unieducar, 2021. Disponível em: <https://unieducar.org.br/blog/jornalistas-robos-substituem-seres-humanos-no-g1-desde-1o-de-janeiro-de-2021>. Acesso em: 29 de jun. de 2022.

 

LACERDA, Nara. Racismo digitalizado: como funciona o preconceito impresso nos algoritmos?. Brasil de Fato, 2022. Disponível em: <https://www.brasildefato.com.br/2022/02/28/racismo-digitalizado-como-funciona-o-preconceito-impresso-nos-algoritmos>. Acesso em: 29 de jun. de 2022.

 

MACIEL, Camila. Algoritmos: pesquisadores explicam tecnologia que intensifica racismo. Agência Brasil, 2021. Disponível em: <https://agenciabrasil.ebc.com.br/direitos-humanos/noticia/2021-03/algoritmos-pesquisadores-explicam-tecnologia-que-intensifica-racismo>. Acesso em: 29 de jun. de 2022.

 

MEDEIROS, Davi. Robôs já escrevem ‘sozinhos’, mas podem ser melhores que humanos?. Olhar Digital, 2020. Disponível em: <https://olhardigital.com.br/2020/09/11/noticias/robos-ja-escrevem-sozinhos-mas-podem-ser-melhores-que-humanos/>. Acesso em: 24 de jun. de 2022.

 

PEIXOTO, Clarissa. Jornalismo, hegemonia e reações contra-hegemônicas. Observatório da Imprensa, 2020. Disponível em: <https://www.observatoriodaimprensa.com.br/objethos/jornalismo-hegemonia-e-reacoes-contra-hegemonicas/>. Acesso em: 24 de jun. de 2022.

 

PIERRO, Bruno de. O mundo mediado por algoritmos. Revista Pesquisa FAPESP, edição 266, Abr, 2018. Disponível em: <https://revistapesquisa.fapesp.br/o-mundo-mediado-por-algoritmos/>. Acesso em: 29 de jun. de 2022.

 

SILVA, Tarcízio. Racismo algorítmico: inteligência artificial e discriminação nas redes digitais. São Paulo: Edições Sesc SP, 2022.

 

SILVA, Tarcízio. Linha do Tempo do Racismo Algorítmico. Blog do Tarcízio Silva, 2019. Disponível em: <https://tarciziosilva.com.br/blog/destaques/posts/racismo-algoritmico-linha-do-tempo/>. Acesso em: 29 de jun. de 2022.

 

WIGMORE, Ivy. Natural Language Generation (NLG). Tech Target, 2021. Disponível em: <https://www.techtarget.com/searchenterpriseai/definition/natural-language-generation-NLG>. Acesso em: 29 de jun. de 2022.



 

A iniciativa engloba desde uma página de checagem até vídeos no Tik Tok
por
Esther Ursulino
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30/06/2022 - 12h

Por Esther Ursulino

O TSE está se inserindo no mundo da tecnologia e das redes sociais para combater as notícias falsas que desestabilizam a democracia brasileira. A iniciativa também busca reforçar a confiança na Justiça Eleitoral, nas eleições e na urna eletrônica, que vêm sendo alvos constantes de campanhas difamatórias. 

Em agosto de 2021 o Tribunal Superior Eleitoral instituiu o Programa Permanente de Combate à Desinformação, que tem como objetivo reduzir os efeitos negativos das notícias falsas relacionadas, especialmente, à Justiça Eleitoral e seus integrantes, às urnas eletrônicas e às diferentes fases do processo eleitoral. As ações do programa estão baseadas em três eixos: Informar, Capacitar e Responder. O primeiro eixo promove o consumo de informações oficiais, confiáveis e de qualidade; o segundo é destinado à alfabetização midiática dos brasileiros; e o terceiro busca identificar casos de desinformação e respondê-los, de forma preventiva ou repressiva, para que seus efeitos negativos sejam contidos. Atualmente, a iniciativa mobiliza mais de 70 instituições, entre partidos políticos e entidades públicas e privadas. 

Visando a efetividade do Programa Permanente de Combate à Desinformação, a Justiça Eleitoral viu a necessidade de se adaptar às plataformas digitais, que se tornaram o principal meio de informação no país. Segundo o estudo Digital News Report 2022 do Instituto Reuters, 64% dos brasileiros dizem receber notícias pelas redes sociais. As principais são Youtube (43%), seguido pelo WhatsApp (41%) e Facebook (40%). O relatório também mostra a tendência dos mais jovens em privilegiar informações em formato de áudio e vídeo, características de redes como Instagram, Tik Tok e Spotify. Tendo em vista este cenário, o TSE realizou parcerias com as plataformas citadas na pesquisa, além do Google, Kwai e Telegram. Vale ressaltar que o Tribunal é o primeiro órgão eleitoral no mundo a firmar parceria com este último aplicativo. 

Além de ser parceiro das plataformas, o TSE também se insere nelas. Em sua conta do instagram @tsejus é possível encontrar publicações relacionadas à educação midiática, às eleições e à importância do voto – tudo isso feito de forma leve, informativa e até mesmo bem humorada. E por falar em humor, o órgão não poderia ficar de fora do Tik Tok. No app desde 2020, o perfil TSEjus posta conteúdos institucionais e informativos em formato de vídeos curtos, muitas vezes utilizando memes e elementos da cultura pop para se comunicar melhor com a população mais jovem – principal público do aplicativo. Em maio deste ano, o perfil oficial do Tribunal publicou uma paródia de uma das cenas da novela Pantanal, edição exibida pela TV Globo, em que Juma Marruá entrega um bilhete a Jove, seu par romântico na trama. Quando o moço abre o bilhete encontra a frase: “Não deixe de votar. Todo voto importa.”. https://www.tiktok.com/@tsejus/video/7103528900742958342?is_from_webapp=1&sender_device=pc&web_id=7131855846342395397 Em outros vídeos, podemos encontrar referências aos Vingadores, Star Wars, Irmão do Jorel etc. 

No YouTube, há o canal da Justiça Eleitoral. Nele, dentre outros conteúdos, há o quadro “Então é Isso!”, com vinheta que lembra a identidade visual dos games. O programa apresenta, toda sexta-feira, uma decisão da Justiça Eleitoral de forma simples e acessível. A presença do Tribunal Superior Eleitoral no WhatsApp se dá através do chatbot – assistente virtual – criado em parceria com o próprio aplicativo de mensagens. O robô virtual, como também é conhecido, foi criado para esclarecer dúvidas relacionadas às Eleições Gerais de 2022 e fornecer informações confiáveis aos usuários. As alianças não se limitam às plataformas. O Tribunal também se uniu a nove agências de checagem: AFP, Agência Lupa, Aos Fatos, Boatos.org, Comprova, E-Farsas, Estadão Verifica, Fato ou Fake e UOL Confere. As notícias checadas pela coalizão são publicadas na página “Fato ou Boato”, disponível no Portal da Justiça Eleitoral. 

Claudir Segura, doutor na área de Processos Cognitivos em Ambientes Digitais, e professor dos cursos de multimeios e comunicação da PUC-SP, diz que os propagadores de fake news conseguem entender as maneiras pelas quais as pessoas compreendem algo, e por isso sabem como utilizar as plataformas digitais para influenciá-las de maneira errada. “A informação é uma arma, e infelizmente pode ser utilizada para o lado negativo.”, diz. Entretanto, Segura ressalta que a tecnologia pode ser uma aliada no combate à desinformação, e cita a música “Nos Bailes da Vida”, de Milton Nascimento, para explicar a importância da inserção de um órgão governamental nas novas mídias: “‘Todo artista tem que ir onde o povo está’. O artista é o TSE e onde o povo está ele tem que estar junto. (...) O importante é não deixar faltar informação.”.

 

Tik Tok do TSE