Cientistas brasileiros deixam o País em busca de melhores oportunidades no mercado científico
por
Brenda Martins
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19/11/2024 - 12h

Por Brenda Costa Martins

 

Enquanto nossos melhores pesquisadores são acolhidos por laboratórios estrangeiros e embarcam em direção aos países que valorizam a academia e a ciência, ficamos à margem das grandes inovações e descobertas científicas, como espectadores de um progresso que poderíamos estar liderando. A formação de cientistas no Brasil enfrenta uma crise profunda, marcada não por apenas dificuldades estruturais como a escassez de equipamentos em Universidades e laboratórios, mas também pela falta de incentivo à estudantes para que sigam na área acadêmica de pesquisas, além das oportunidades limitadas desse marcado no país. Nos últimos anos, temos assistido a uma crescente “fuga de cérebros” — fenômeno em que profissionais qualificados, principalmente cientistas e pesquisadores, optam por desenvolver suas carreiras no exterior, sendo atraídos por melhores condições de trabalho e valorização profissional. Fuga que tem sido alimentada pela escassez de investimentos no campo da ciência e da tecnologia no país.

Desde 2015, cortes orçamentários intensos afetaram diretamente a manutenção de bolsas de estudo, o financiamento de projetos de pesquisa, bem como a continuidade de programas de pós-graduação em diversas áreas. Com menos verbas, muitos laboratórios foram fechados e projetos interrompidos, situação que acabou por criar um ambiente de insegurança e instabilidade para jovens pesquisadores que desejam contribuir com o avanço científico no país.

Nos centros de excelência, como a Universidade de São Paulo (USP), Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), e a Universidade Federal do ABC (UFABC) doutores e mestres formados com alto nível de competência se deparam com um mercado de trabalho retraído. Apesar de contar com instituições de ensino que formam profissionais altamente capacitados, os cortes e as limitações severas no mercado de trabalho continua a fazer com que esses cérebros embarquem para o exterior buscando oportunidades de maior rentabilidade e visibilidade pois para muitos desses cientistas, o ambiente brasileiro se mostra inviável para o desenvolvimento de suas carreiras.  Mesmo entre os profissionais que conseguem uma colocação, as condições de trabalho são frequentemente limitadas, com infraestrutura insuficiente e salários que não condizem com o nível de formação e as exigências da carreira científica.

Esse êxodo de cientistas gera impactos econômicos e sociais observados em longo prazo. Ao investir na formação desses profissionais e, em seguida, vê-los partir para outros países, o Brasil perde o retorno desse investimento, bem como a possibilidade de desenvolver inovações e avanços tecnológicos que poderiam impulsionar setores como saúde, agronegócio e tecnologia. Fato que evidencia outro problema: Não é preciso investir apenas na educação básica e incentivo aos jovens cientista se, no futuro, eles não terão um lugar nas grandes corporações, já que as poucas que existem no país continuam não oferecendo benefícios tão competitivos quantos os de vagas alocadas no exterior, sedes dessas empresas.

Para cientistas como Paula Rezende, doutora em Biomedicina, a decisão de deixar o Brasil é dolorosa, mas necessária. Após anos lidando com infraestrutura insuficiente e atrasos em recursos para pesquisa, ela aceitou uma proposta de trabalho na Alemanha, onde encontrou o ambiente ideal para continuar seu trabalho. Casos como o de Paula são cada vez mais comuns, o que ilustra como o cenário nacional tem se tornado um impeditivo para o progresso da ciência e da carreira dos profissionais brasileiros. A falta de oportunidades no Brasil também gera uma lacuna na academia e nas universidades, onde a quantidade de concursos e oportunidades para docentes e pesquisadores é insuficiente para absorver os doutores formados a cada ano. O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) aponta que cerca de 25% dos doutores no Brasil ficam fora do mercado de trabalho adequado à sua formação, o que leva muitos a buscar alternativas no exterior, onde há mais estabilidade e reconhecimento.

Elisabeth Balbachevsky, professora da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) e coordenadora científica do Núcleo de Pesquisa de Políticas Públicas (NUPPs) da USP, tem outra visão. A professora tenta analisar um lado positivo desse fenômeno da "fuga de cérebros", as mentes que vão embora do Brasil buscando melhores oportunidades podem "se inserir em redes de pesquisa internacionais, o que poderá ter um impacto extremamente positivo, porque irão se tornar lideranças brasileiras e, uma vez de volta ao Brasil, trarão novas expertises e abordagens para o País", diz a pesquisadora. Uma vez que esses cientistas brasileiros conseguem cada vez mais se estabelecer nas gigantes da tecnologia, por exemplo, o país indiretamente está ganhando reconhecimento, o que pode fazer com que os olhos dessas grandes corporações se voltem ao Brasil. Ainda que a "fuga" desses pesquisadores seja prejudicial no início, com mais profissionais produzindo ciência de qualidade em um ambiente no exterior que comporta suas necessidades, podemos colher frutos no futuro. Afinal, para que grandes corporações se desenvolvam no país, é preciso ver que a população tem capacidade de produzir recursos que possibilite sua expansão.

Outro fator que importante ser destacado é a busca pelo incentivo ao empreendedorismo desses jovens cientistas. Grandes empresas como o Facebook e a Amazon surgiram de um pequeno projeto de seus fundadores enquanto ainda eram estudantes, desenvolvendo uma start-up na garagem de suas casas. É claro que, a qualidade de ensino de ciências nas Universidades americanas possibilitam que seus alunos desenvolvam o pensamento empreendedor, enquanto no Brasil, os alunos são incentivados a bucar emprego fora, em empresas já estabelecidas, fator resultado do cenário de instabilidade não apenas do mercado científico, mas também do empreendedorismo. Algumas escolas de redes particulares no país contam com matérias de empreendedorismo e educação financeira, por outro lado, escolas da rede pública e estaduais se encontram em um cenário totalmente diferente. Ainda há um grande caminho a trilhar para que o acesso à uma educação de qualidade seja uma realidade igualitária entre todos os estudantes do país.

Propostas como a criação de um fundo nacional para Ciência e Tecnologia, que garanta recursos contínuos para a pesquisa, são defendidas por entidades como a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). Outra alternativa é fortalecer as parcerias entre universidades e empresas, criando oportunidades de inovação e desenvolvimento em conjunto com o setor privado, o que poderia abrir novas frentes de trabalho para cientistas dentro do Brasil.

Enquanto não houver um comprometimento estrutural e financeiro com a ciência, o Brasil permanece vulnerável à saída de seus talentos. A fuga de cérebros se torna um símbolo das dificuldades enfrentadas pela ciência brasileira, limitando o potencial de avanço científico e tecnológico do país. A valorização da ciência e o investimento em condições de trabalho são essenciais para que o Brasil não apenas forme cientistas, mas também consiga retê-los e fortalecer sua base científica para o desenvolvimento nacional e reconhecimento internacional.

Produzir orgânicos é um desafio que envolve altos custos, manejo artesanal e um compromisso com a sustentabilidade.
por
NINA JANUZZI DA GLORIA
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12/11/2024 - 12h

Por Nina J. da Glória

 

No coração de uma pequena fazenda nos arredores de São Paulo, a paisagem exibe fileiras simétricas de verduras, um campo verde que mais parece um quadro pintado com paciência e precisão. Cada folha simboliza uma promessa livre de químicos, cultivada à mão, mas também testemunha de um trabalho árduo, invisível ao consumidor final. Esse é o cotidiano de Mariana Silva, uma agricultora que decidiu, há quase uma década, abandonar a produção convencional para dedicar-se ao orgânico. No início, acreditava que seria um retorno ao básico, uma reconexão com a natureza. Mas a realidade mostrou-se mais densa e complexa do que o imaginado. O solo, como um organismo vivo, exigia constantes cuidados e uma compreensão que ia além dos métodos tradicionais. Cada semente carregava uma incerteza, e cada colheita trazia consigo os riscos de uma produtividade menor, vulnerável a pragas e intempéries. "O solo não aceita pressa", sua frase parece pairar na atmosfera ao redor das hortas, impregnada de paciência e resignação.

Nas redondezas, em outra propriedade de São Roque, Paulo Mendes compartilha a mesma visão, mas com uma trajetória que o levou ao orgânico por caminhos distintos. Ao contrário de Mariana, ele vem de uma família que cultivava com agroquímicos, mas sempre sentiu a necessidade de transformar as práticas de cultivo. Para ele, o orgânico é como um resgate da essência da terra, uma escolha que exige mais do que habilidades tradicionais. É um compromisso com o solo, com o ciclo de nutrientes e com o futuro. Paulo vê o campo como um delicado organismo, onde a compostagem e a rotação de culturas são essenciais, mas também um desafio financeiro. Cada safra se transforma em uma experiência quase artesanal, onde a eficácia do manejo natural precisa competir com a tentação das facilidades químicas. Esse processo, para ele, é como uma dança cuidadosa com a natureza, em que observar e respeitar o ritmo das estações torna-se tão vital quanto qualquer técnica de plantio.

                                                            Comunidade de pessoas que trabalham juntas na agricultura para cultivar alimentos

Para Mariana e Paulo, a colheita orgânica traz consigo um custo invisível ao olhar do consumidor. A vulnerabilidade às pragas, por exemplo, é uma preocupação constante. Sem pesticidas convencionais cada infestação é uma batalha natural que, muitas vezes, se perde. A introdução de insetos benéficos para conter pragas ou o uso de biofertilizantes representa um custo adicional, tornando a logística do manejo um quebra-cabeça financeiro. Além disso, há as certificações rigorosas exigidas para que o produto receba o selo de orgânico, que Mariana descreve como "um segundo trabalho", com visitas e inspeções que, embora necessárias, absorvem ainda mais recursos.

No centro dessa cadeia está Cláudia Ramos, proprietária de uma loja de produtos orgânicos em São Paulo. De seu ponto de vista privilegiado, ela percebe o esforço e as dificuldades de seus fornecedores, mas também o descompasso entre o preço desses produtos e a percepção dos consumidores. Em cada item das prateleiras, Cláudia vê um microcosmo de esforço e idealismo, mas, ao explicar as diferenças entre orgânico e convencional, enfrenta um público que ainda considera o orgânico um luxo. Ela afirma que cada produto é uma história de sacrifício, e explica que o custo mais alto representa a vulnerabilidade da produção orgânica, que exige cuidados permanentes e colheitas menos previsíveis.

                                                                                           Close-up de plantas verdes na estufa

A produção orgânica, então, emerge como uma complexa equação de valores, sacrifícios e riscos. Cada um dos envolvidos—do campo à prateleira—carrega uma parte dessa carga, como se fosse um ciclo contínuo de compromissos, onde o ideal e o real se encontram e se confrontam. A busca pela pureza e pelo cuidado no cultivo se mescla a um cotidiano cheio de dificuldades, e o produto final se transforma numa espécie de narrativa silenciosa sobre perseverança e dedicação ao que se acredita ser o melhor para o futuro do planeta e do ser humano.

A jornada dos entregadores não se limita ao trajeto, mas envolve obstáculos que vão da segurança no trânsito às incertezas de um dia de trabalho autônomo.
por |
12/11/2024 - 12h

Por Thais Oliveira 

 

Se antigamente era comum esperar dias ou semanas para que um pedido chegasse, hoje a demanda por rapidez e eficiência exige uma operação logística reforçada. O dia começa antes do sol nascer, com o medo e a ansiedade tomando conta de Joice Alves, mãe solteira de 50 anos que precisou se reinventar após um divórcio e o enfraquecimento das vendas em seu comércio de plantas. Seus cabelos longos e quase grisalhos carregam histórias de uma mulher forte que devido a gravidez, parou os estudos na quinta série. Tudo que aprendeu é resultado de suas vivências.

A tecnologia dominou o mundo e os seres humanos. Para Joice isso não passava de uma grande perda de tempo, até que tudo mudou em sua vida e a tecnologia virou sinônimo de estabilidade financeira e independência. Conseguir realizar uma entrega parece fácil aos olhos dos que recebem em casa. O suor do trabalho de prestadores de serviço das grandes empresas está presente em cada pacote entregue.

Os desafios começam à frente da seleção. Um aplicativo viabiliza para os entregadores os percursos disponíveis, juntamente ao valor a receber, e cada um seleciona o de sua preferência. Mas o número de prestadores é maior do que os de entregas e, às vezes é necessário passar horas olhando as atualizações no celular. Há dois meses o aparelho eletrônico, que não passava de uma ferramenta de comunicação com a família, amigos e clientes, se tornou o principal equipamento do trabalho de Joice. Foram semanas aprendendo a usar o mapa, abrir e fechar aplicativos, escrever mensagens mais rápidas e, principalmente, a contabilizar os resultados do seu novo emprego. No início de sua trajetória, Lucas, o filho mais velho, acompanhou a mãe em todos os percursos e assim, ela ganhou confiança para trabalhar sozinha. 

Desde a adolescência, Joice foi diagnosticada com TAG (Transtorno de Ansiedade Generalizada) e comenta que essa logística piora os sintomas diariamente. O seu conforto é o chá de camomila colhido diretamente dos vasos sobrepostos na janela do sexto andar e do calmante recomendado pela cardiologista. Ao conseguir uma corrida, agradece a Deus pela oportunidade e pula o café da manhã, colocando tudo que precisa dentro de uma bolsa térmica. De acordo com o aplicativo fornecido pela empresa, cada percurso tem a duração de 4h e 6h e os valores são correspondentes a estes horários. Explica que foi acordado entre a empresa e os prestadores de serviço que todas as entregas contariam com, no máximo, 45 pacotes e 40 paradas. 

Ao chegar no Centro de Distribuição, Joice recebe a rota com 52 paradas, 65 pacotes amarelos e o medo de não conseguir finalizar dentro do prazo estipulado. É necessário entregar todas as mercadorias para receber os valores completos, independente da chuva, dos ventos de 100km/h, dos postes desligados e das ruas escuras. Joice sai de Mauá com o seu destino traçado em um papel com nomes de pessoas desconhecidas diretamente para a cidade de São Paulo. Na travessa da Avenida Vila Ema e nas mãos Joice, o primeiro pacote foi entregue para a Renata, uma mulher simpática que desejou um bom dia para a entregadora.

Dentro do carro, o estômago de Joice espera por um alimento desde às 9h00min, porém os donos dos 50 pacotes pendentes têm prioridade na fila e as refeições ficam em segundo plano, sendo necessário seguir o caminho ingerindo apenas uma banana. A falta de hidratação e de nutrientes causa cansaço excessivo, perda de cabelo e, consequentemente, ausência de vitaminas importantes para o funcionamento do corpo. Relata, que praticava uma rotina saudável, alimentando-se bem e correndo na rua todos os dias de manhã com os seus filhos, porém precisou abrir mão do estilo de vida para arcar com os novos custos, como por exemplo o aluguel. A infraestrutura básica é uma questão: nas cidades grandes, com quilômetros percorridos entre um ponto e outro, muitas vezes não há onde parar para descansar ou usar o banheiro. A cidade se torna um palco de correria constante, onde não há tempo ou lugar para uma pausa, justifica Joice, ao informar que não consegue ingerir ao menos 200ml de água durante a jornada de trabalho. 

O futuro do setor aponta para uma integração cada vez maior entre tecnologia e logística, com inovações que prometem transformar ainda mais a experiência de compra e aproximar o e-commerce dos consumidores. Embora a constante evolução esteja dominando o cenário, não há direitos trabalhistas ou benefícios assegurados, como convênio médico ou seguro de saúde. Se houver algum acidente ou emergência, o entregador precisa arcar com os custos e lidar com as consequências sozinho. 

Dentro do aplicativo de entregas é possível saber que, dependendo do nível, o entregador terá acesso a mais pedidos, melhores comissões e suporte especializado. A grande corporação criou um sistema de níveis que funciona como uma espécie de escada, onde cada degrau alcançado representa mais oportunidades, e consequentemente, mais pressão. Estar em um nível mais alto pode significar, por exemplo, maior acesso a entregas em horários de pico ou de longa distância, que pagam melhor. Joice é prata, mas conta que demorou meses para alcançar a nomenclatura, afinal qualquer queda no desempenho pode significar uma descida de nível. Cancelamentos, avaliações ruins ou atrasos podem rebaixar o entregador, retirando seus, quase que invisíveis, benefícios. 

Joice conseguiu dois percursos no mesmo dia, isso significa que a corrida contra o tempo é primordial para finalizar o primeiro, voltar ao Centro de Distribuição e recolher as próximas encomendas. Ao sair, os clientes recebem notificações de que o produto está a caminho, causando ansiedade e desconfiança dos que aguardam em suas casas. Durante a noite as entregas são realizadas das 18h00 às 22h00 e Matheus, o filho mais novo, auxilia a mãe ligando para os clientes e entregando os pacotes enquanto ela separa os próximos. Em meio à movimentação, Matheus recebe uma mensagem de uma mulher que estava aguardando o produto há 30 minutos e precisava dormir. Era sexta-feira, 19h39min, quando os insultos começaram e mudaram a rota da família. Cada pacote recebe uma numeração de envio, o itinerário e os dados relevantes do consumidor, em consequência das mudanças Matheus e Joice aumentam a duração do percurso e os quilômetros rodados no carro. A quantidade de remessas no período da noite é majoritariamente maior, entretanto os consumidores não sentem confiança em recebê-las e, frequentemente, rejeitam a tão esperada aquisição. 

As embalagens amarelas recusadas devem atravessar a cidade e voltar à corporação até às 23h00min, horário de finalização dos serviços diários. Joice retorna com o peso da consciência de classe descendo em seus cabelos, refletindo sobre o comportamento interpessoal dos consumidores, do egoísmo e da falta de empatia. O mundo não é mais o mesmo e as pessoas estão preocupadas com as futilidades expostas nas prateleiras invisíveis dos comércios online. Não se importam se a voz que clama do lado de fora da residência está enfrentando a maior chuva do ano na cidade ou se está com um prazo apertado, o importante é aconchego e a novela das 21h00min. 

Após 15 horas, Joice finalmente chega em casa, sentindo-se cansada, fraca e estressada. O dia foi longo, repleto de entregas que exigiam rapidez, atenção e resistência. Cada pedido, cada quilômetro percorrido, parecia se arrastar em meio à chuva, ao trânsito caótico e à pressão por cumprir os prazos apertados. Como muitos entregadores, Joice não tem garantia de descanso ou segurança no trabalho, e mesmo ao chegar em casa, a sensação de que poderia ter feito mais, ou o medo de não atingir o número de entregas esperado, a acompanha. Mas para Joice, o trabalho nunca termina realmente. Ela reflete sobre o que poderia ter feito para ser mais rápida, ou se valeu a pena o esforço de correr contra o relógio. Em sua mente, os desafios que ela enfrentou ao longo do dia continuam vivos, a insegurança nas ruas, o risco de acidentes, a exaustão física e emocional. Mas amanhã, o caminho se repete, enfrentando as mesmas dificuldades em nome de um dia melhor, ou, quem sabe, uma coroa de ouro na guerra contra a logística desumana.

Os chamados cibercrimes são considerados um tipo de violência contra o idoso, e a campanha Junho Violeta busca conscientizar à população sobre a violência patrimonial
por
Alice Di Biase
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11/11/2024 - 12h

Por Alice di Biase

 

A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que a população acima de 60 anos no Brasil deve crescer em ritmo acelerado, quase triplicando até 2050. Dados como esse expõem o crescente aumento da população idosa, além de um novo perfil de envelhecimento que requer atenção especial em políticas públicas. Adriana Horvath, diretora voluntária de captação de recursos da Casa Ondina Lobo, relata que a principal queixa dos residentes da Casa é a invisibilidade, a visão estereotipada do “vovozinho” de cabelo branco e ingênuo, e adiciona que os idosos querem ser vistos como seres humanos que ainda tem muito a oferecer.

A Casa de Repouso Ondina Lobo é uma instituição de longa permanência para idosos em situação de vulnerabilidade social, o projeto é sustentado por doações filantrópicas. A missão da organização é promover o bem-estar e a integração do idoso na sociedade, por meio de atividades plurais. Ela relata que muitos dos idosos residentes da Casa já passaram por alguma violência ou situação de preconceito e atribui isso a forma como a sociedade olha os idosos, relacionando-o com a finitude da vida. E adiciona que é preciso entender que a velhice é apenas mais uma fase. Além disso, ela também cita a importância de campanhas de conscientização contra a violência ao idoso, como o Junho Violeta.

Existem vários tipos de violências direcionadas aos idosos, uma delas é a violência patrimonial. Com o avanço tecnológico, os mais velhos se tornaram mais vulneráveis para a violência patrimonial, por meio dos chamados golpes. O Disque 100, do governo federal, registrou, nos cinco primeiros meses de 2023 mais de 15 mil denúncias de violações financeiras ou materiais contra idosos; 73% a mais do que no mesmo período de 2022. Cada vez mais conectada, a terceira idade tem sido um dos principais alvos de quadrilhas especializadas em crimes cibernéticos que comprometem o patrimônio da vítima.

Ondina Lobo e Image Magica

“Mãe, mudei de número, salva esse contato aqui”, assim começa uma das formas mais comuns de fraudes financeiras contra os idosos, a foto de perfil é a mesma que o filho utiliza no seu número próprio e logo em seguida são solicitadas as transferências. Cláudia, aposentada de 66 anos relata como caiu no phishing - tipo de golpe realizado por e-mails, redes sociais e sites que utilizam uma “isca” para fazer a vítima fornecer informações pessoais. Uma loja conhecida com descontos extravagantes, a propaganda era feita por celebridades como Gisele Bündchen e a apresentadora Angélica que recomendavam a promoção. Tudo feito com inteligência artificial. O valor perdido não foi alto, como conta Claúdia, com alívio, no entanto, a sensação de ter sido enganado com facilidade pelos golpistas causa constrangimento.

O constrangimento também é um dos motivos que leva os idosos a se tornarem um alvo fácil dos golpistas. Envergonhados de demonstrar a fragilidade e, de certo modo, alimentar os estereótipos de ingenuidade que a sociedade cria em relação a faixa etária, muitos idosos não contam aos familiares a situação e deixam o ciclo de golpes se estender. Em 2024, a Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos já recebeu mais de 21 mil denúncias de violações deste tipo contra idosos, destes 80% dos casos são denunciados por terceiros, e não pela própria vítima.

A psicóloga e psicanalista Moema Sarmento compartilha suas perspectivas sobre a saúde mental na terceira idade, ela argumenta que a falta de respeito e os maus tratos podem levar ao isolamento e depressão, o que faz que muitos idosos que sofrem esses abusos patrimoniais não procurem ajuda, assim os casos só chegam aos familiares e autoridades quando já estão em estágios alarmantes.

Com o intuito de alterar esse cenário, a Casa Ondina Lobo em pareceria com a ONG Image Mágica, levou o Circuito Cultura e Inclusão para as mulheres da Casa. As aulas de inclusão digital e fotografia buscam conscientizar os moradores a respeito dos golpes digitais, resgate da autoestima e criar intimidade com o meio tecnológico.
 

Ondina Lobo e Image MagicaOndina Lobo e Image Magica

Como comenta Horvath, a velhice é só mais uma fase da vida que envolve atenção e deve ser aproveitada com qualidade de vida e isso envolve a liberdade de consumir a Internet com segurança.

Entre ícones do passado, referências do presente e caminhos para o futuro, veja como foi a edição deste ano
por
Vítor Nhoatto
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22/10/2024 - 12h

Ocorrido entre os dias 14 e 20 de outubro na capital francesa, o Mondial de l'Auto contou com mais de 500 mil visitantes, além de recados importantes para a indústria automobilística. As donas da casa — Alpine, Peugeot, Renault e Citroen — estiveram presentes, mas, mesmo assim, a presença chinesa continuou e chamou a atenção do público, das autoridades e das rivais. A DS, da Stellantis, foi a única francesa que não compareceu ao evento. 

Temas como sustentabilidade, acessibilidade e segurança no trânsito foram amplamente abordados nas coletivas de imprensa, e traduzidos em parte nos lançamentos. Ao todo, 41 fabricantes de automóveis participaram do evento, o qual trouxe o brilho de volta à Bienal, tal qual como no Salão de Munique, em 2023.

Eletrificação em diferentes níveis

Antenado às ânsias do público e da indústria, houveram lançamentos de vários modelos eletrificados, em diferentes níveis e formatos. Nos últimos meses, as vendas de elétricos oscilaram negativamente na Europa, por conta de uma série de fatores, como altos custos de aquisição e o fim de incentivos governamentais. 

Com isso, marcas como Volkswagen, Ford e mesmo Volvo, reviram seus planos de eletrificação total — apesar da meta da União Europeia de banir os modelos movidos a combustão, já em 2035. O conglomerado Stellantis, por exemplo, investe em plataformas multi-energéticas, capazes de produzirem tanto híbridos, quanto elétricos, e apresentou seus últimos modelos em Paris. 

Construído sobre a e-CMP, — mesma base dos recém lançados no Brasil, Peugeot 2008 e 208 — o Alfa Romeo Junior Ibrida fez sua estreia ao público. Com a mesma motorização dos irmãos, motor 1.2 PureTech em conjunto a uma bateria de 48V, gerando 136 cavalos, o modelo complementa a linha do SUV urbano, disponível como 100% elétrico desde o começo do ano. 

Na Peugeot, as novidades foram maiores, apesar de nenhum modelo totalmente novo, diferente das compatriotas Alpine, Citroen e Renault. Em Paris, foi lançado o novo E-408, versão 100% elétrica do crossover baseado no 308. Sob a plataforma EMP2, compartilha o conjunto mecânico com o hatch, tanto nas versões a combustão quanto na novidade elétrica, e não muda visualmente. Além disso, foram apresentadas as versões Long Range dos E-3008 e E-5008. As autonomias passam de cerca de 500 km para 700 km, segundo o ciclo WLTP.

Em uma abordagem diferente, focada em modelos elétricos separados dos seus semelhantes a combustão, a Volkswagen apresentou o novo Tayron. Com expectativa de ser vendido no Brasil, é a versão Allspace do novo Tiguan, mas agora com nome próprio. O SUV de sete lugares estará disponível em duas versões diesel, gasolina, e híbridas plug-in, além de uma híbrida leve.

Volkswagen Tyron de frente branco ao lado de um Tayron de trás roxo
O Tayron é o sexto SUV a combustão da Volkswagen na Europa, entre Tiguan e Touareg. Foto: Divulgação/Volkswagen

As motorizações são as mesmas do Tiguan de nova geração, construído sobre a MQB evo. Isso se reflete em uma autonomia combinada de até 850 km nas versões plug-in, além de uma autonomia em modo 100% elétrico de cerca de 100 km, graças a uma bateria de 19.7 kWh.

Em uma abordagem semelhante em alguns aspectos a Volks, a britânica de coração, mas de propriedade alemã, a Mini, apresentou os seus novos JCW elétricos. Os primeiros modelos da divisão de desempenho da marca serão o Cooper, um hatch de três portas, e o crossover Aceman. Ambos são construídos sobre a plataforma desenvolvida em conjunto com a chinesa GWM, e prometem a emoção de um esportivo com seus mais de 250 cavalos, mas sem emissão de CO2.  

Mais uma ofensiva chinesa 

Sobre as construtoras chinesas, o Paris Expo Porte de Versailles foi novamente o palco para a estreia de modelos do país asiático, e até marcas inteiras. A GWM não compareceu desta vez, como era de se esperar após o anúncio de reestruturação europeia e fechamento do escritório na Alemanha em agosto deste ano. 

No entanto, a sua principal rival, a Build Your Dreams, brilhou, repetindo a estratégia de 2022. Seu estande contava, desta vez, com modelos já conhecidos do público, como Dolphin e Seal, mas também com o totalmente novo, Sealion 7, apresentado ao mercado europeu, e com um vislumbre da versão que será vendida no Brasil em breve.

Segundo a vice-presidente da marca, Stella Li, o novo SUV cupê do segmento D, reflete em como a BYD reage e escuta às demandas dos seus consumidores europeus, prometendo design, performance e autonomia de ponta.

E com uma estratégia ousada, que busca rapidamente conquistar o mundo, a Leapmotor debutou em Versailles. Com o amparo da Stellantis, — com quem fechou uma parceria bilionária pela administração global da marca — apresentou quatro elétricos. Carlos Tavares, CEO do conglomerado até 2026, esteve no evento e comentou que as montadoras têm mais a ganhar com a estratégia de se aliar às chinesas, ao invés de brigar com elas. Antes disso, ele visitou o estande da BYD, chamando a atenção da imprensa.  

O primeiro deles é um hatch subcompacto vendido por menos de 20 mil euros, o T03, o segundo é o C10, um SUV médio, por cerca de 36 mil euros. Ambos modelos com condução semi autônoma de nível 2 e confirmados para o Brasil. A versão de sete lugares, C16 também esteve no evento, ao lado do inédito B10, revelado no evento. O SUV do segmento C tem como rivais BYD Atto 3 (Yuan Plus no Brasil) e Volvo EX40, e estará disponível já no próximo ano na Europa.

Estande da Leapmotor rodeado de pessoas
Os modelos C16 (roxo), B10 (azul), C10 (verde) e T03 (turquesa) prometem agitar o mercado. Foto: Divulgação/LeapMotor

Para além das duas marcas, a Seres (com operações paralisadas no Brasil até então), a Xpeng, o grupo GAC e a Hongqi ocuparam o complexo de exposições francês. A última chamou a atenção com a estreia do sedã de luxo Guoya, rival dos alemães Classe S, Série 7 e A8. Enquanto isso, a GAC optou por uma abordagem mais demonstrativa de suas tecnologias, sem pretensões diretas de venda no continente. 

A história não se compra

Frente à concorrência cada vez maior das chinesas, eis o contra-ataque europeu, baseado amplamente no legado das marcas, algo com o qual as novatas não podem competir. No último Salão de Munique, o CEO do Grupo Volkswagen, Oliver Blume, destacou que o histórico estilístico das marcas é algo que não pode ser adquirido nem comprado, e será a principal chave para o público comprar os modelos europeus. 

Dito isso, nomes como BMW e Renault também vêm investindo em uma abordagem retrô futurista. Em relação à alemã premium, os conceitos Neue Klasse sedã e SUV foram apresentados pela primeira vez juntos. Com designs que remetem aos modelos dos anos 80, preveem a nova geração de elétricos da marca, esperados para 2025 e 2026.

Porém, foi no estande da Renault que a vibe passado e futuro, misturado com o charme e a funcionalidade, atraiu mais os olhares. Após o lançamento do aguardado R5, um hatch elétrico inspirado no icônico R5 dos anos 90, foi a vez do novo R4 voltar à vida.

Novo Renault 4 E-Tech azul em um fundo colorido
O novo Renault 4 E-Tech continua investido no passado da marca como diferencial. Foto: Divulgação/Renault

Construído sob a plataforma AmpR Small, é a versão SUV do R5, com quem compartilha a motorização e equipamentos. Com 4.14 metros de comprimento, funcionará como a versão 100% elétrica do Captur, contando com uma autonomia de mais de 400km no ciclo WLTP, carregamento rápido, todos os assistentes à condução modernos e muitas referências ao R4 dos anos 70. 

Construído na França, atraiu até mesmo os olhares do presidente francês, Emmanuel Macron. O político esteve no evento no dia de abertura ao público (15), e causou um leve tumulto ao fechar o estande em que visitava. Ele cumprimentou os executivos da marca e entrou no novo modelo, esse com expectativas de custar na casa dos 30 mil euros. 

Na ideia da ofensiva irreverente e estilosa, bem ao estilo francês, o protótipo do novo Renault Twingo esteve no evento. Agendado para ser lançado em 2026 (possivelmente no próximo Salão de Paris), promete tornar a mobilidade elétrica realmente acessível, com um preço na casa dos 20 mil euros no formato de um subcompacto, uma espécie em extinção.

Uma mobilidade de fato acessível?

Mas, ao se tratar de acessibilidade e democratização da eletricidade, outras marcas têm mais a dizer e entregar. Dentro do Grupo Renault, é a romena Dacia a representante de baixo custo. Se o nome da empresa não é conhecido aos brasileiros, com certeza seus modelos são. A fabricante de Sandero, Logan e Duster, vendidos sob o nome da Renault na América Latina e Turquia, apresentou em Paris o mais novo Bigster.  

O SUV é a aposta da marca para conquistar o segmento C, com 4.57 metros de comprimento e preços menores de 30 mil euros, cifra que hatches do segmento B atualmente custam. Baseado na mesma plataforma de Clio e Duster, a CMF-B, contará com opções a micro-híbridas de 48V, híbridas convencionais com baterias de 1.4 kWh, e versões movidas a GPL, populares em países como Espanha e Itália. 

Do outro lado do muro, a resposta da Stellantis ao sucesso da Dacia, — dona do modelo mais vendido da Europa em Julho deste ano na Europa, o Sandero — é a Citroën. A marca que já passou por muitas fases, desde o luxo e conforto do DS original, até a originalidade do Xsara e C4 Cactus, por exemplo, agora investirá no mercado de acesso. 

Estiveram no evento os novos C3 e C3 Aircross, bem diferentes das versões vendidas no Brasil, mas ainda na casa dos 20 mil euros. A reestilização do quadriciclo Ami foi apresentada, uma opção de locomoção elétrica por menos de 8 mil euros. E fechando os facelifts, os remodelados C4 e C4X (versão sedã do hatch compacto) foram lançados em Paris, agora com a nova identidade visual da marca.

Estande da Citroën rodeado de pessoas
A Citroën se reinventou com novos C3, C3 Aircross, C4, C4X e o protótipo verde do C5 Aircross 2026. Foto: Divulgação/Citroën

Além disso, o protótipo da nova geração do Citroën C5 Aircross foi revelado. Segundo a empresa, o modelo de produção será 95% igual ao conceito. No quesito motorização, será construído sobre a nova plataforma STLA Medium, que estreou com o novo 3008, e servirá de base para o novo Compass também. Suas principais vantagens incluem a possibilidade de versões híbridas e elétricas, com maior eficiência e autonomia de até 700 km, além de menores custos de produção pela sua modularidade.

Atendendo às demandas do mercado

Uma das principais ânsias da indústria é a diminuição dos custos na fabricação de elétricos, principalmente após a chegada das chinesas. No entanto, nem só de  grandes grupos é formado o setor, e parcerias são mais bem vindas que nunca. A Ford, por exemplo, se uniu à Volkswagen para produzir seus elétricos para a Europa, se prevenindo da taxação que Tesla, Volvo e Mini tentam evitar  com a fabricação dos seus modelos na China.

A americana/britânica apresentou ao público pela primeira vez o novo Capri, um SUV coupe construído sobre a plataforma MEB dos Volkswagen ID.3 e ID.4. O modelo continua o resgate de nomenclaturas clássicas da marca, como Puma e Mustang Mach-E, além da transmutação desses em SUVs, o que agrada ao mercado em geral, mas não tem a mesma reação aos mais saudosistas.

Do outro lado do globo, a sul-coreana Kia também busca conquistar o mercado europeu dos elétricos, sem dividir os custos com várias marcas. O mais novo lançamento do grupo Hyundai-Kia é o SUV urbano EV3, rival do Jeep Avenger, Peugeot e-2008 e Renault 4. 

Novo Kia EV3 verde de frente em um fundo branco
O EV3 é a aposta elétrica da Kia para o segmento B, o maior em vendas na Europa. Foto: Reprodução/InsideEVs

Os preços devem começar na casa dos 30 mil euros, o que não é barato para um carro do segmento B, mas é compatível aos rivais citados. O chamariz da marca, para além dos sete anos de garantia, é a tecnologia, refinamento e comodidade do modelo, quase como uma versão menor do SUV grande EV9, indicado ao prêmio Carro do Ano Europeu em 2024.

E em um segmento acima, mas em uma faixa de preço parecida, a checa Skoda, — essa sim de um grande conglomerado, a Volkswagen — apresentou o novo Elroq. Rival de modelos como BMW iX1 e Ford Explorer, começara na casa dos 33 mil euros, com uma autonomia de 560 km no ciclo WLTP.

Tentativas e erros

Paris ainda foi o palco para marcas menores, ou com menor relevância na Europa. No primeiro caso, a francesa Alpine que tomou os holofotes com o concept car A390 Beta, que antecipa o segundo modelo independente da Renault. 

Com um design agressivo, inspirado nos alpes, e com referências aos modelos de competição da empresa, será um crossover 100% elétrico construído sobre a plataforma do Nissan Aryia. Mesmo assim, a dinamicidade e performance única da marca, que hoje vende apenas o cupê A110, será mantida no carro de produção, anunciado para o ano que vem. 

Em meio aos europeus e chineses, ainda houve espaço para as estadunidenses Tesla e Cadillac. A empresa de Elon Musk deixou a desejar, sem um estande propriamente dito, ou sequer um tapete e divisórias entre seus modelos. Já no quesito novidade, nada de concreto. A picape Cybertruck foi apresentada oficialmente em solo europeu, mas nenhuma conformação de sua comercialização, ou lançamento do esperado Model Y remodelado e do táxi autônomo Cybercab, revelado três dias antes.

Já em relação a Cadillac, que tentou engatar nas vendas na União Europeia algumas vezes, as coisas foram diferentes. Desta vez focada na eletrificação, a empresa do Grupo General Motors trouxe o SUV de luxo Lyriq, além de lançar o Optiq, um pouco menor e com design menos extravagante na traseira. 

Novo Cadillac Optiq vermelho de frente no estamde da marca
Cadillac mira o Tesla Model Y com o novo Optiq, um SUV do segmento D com 4.82 metros. Foto: Reprodução/GM Authority

O Paris Motor Show 2024 certamente ficará para a história centenária do evento como um recálculo necessário e exitoso de rota. Marcas voltaram à mostra, lançamentos importantes ocorreram e o público compareceu. Além disso, mais uma vez o rumo que a indústria se encaminha foi destacado, um cenário crítico de reinvenção e reajustes.

Nova tecnologia promete trazer mudanças significativas para os console de jogos
por
Pedro Alcantara da Silva Neto
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15/11/2021 - 12h

Por Pedro Alcântara da Silva Neto

Uma nova geração de consoles sempre chega causando muito impacto e expectativa nos gamers. Além da resolução, evoluções sonoras e gráficos mais reais, novas tecnologias começam a ser lançadas prometendo melhorias. 

A empresa americana EA Sports, foi a responsável pela criação de uma nova tecnologia chamada Hypermotion, que está presente no novo jogo de futebol da empresa, o FIFA 22. Essa tecnologia é responsável pela captação dos movimentos dos atletas e tornou a gameplay, as animações e as movimentações em algo mais realista.

Antigamente, os atletas iam até um estúdio para a empresa realizar as capturas de movimento individualmente. Agora, essa captura é feita com 22 jogadores jogando uma partida.

O fato da captação ser realizada apenas uma vez é ótimo, pois, além dos movimentos, serem mais naturais, acaba se criando uma relação entre o jogador e a equipe. Vale lembrar que, a captação única, possibilitou a captação de movimentações táticas e de disputas de bola inéditas. 

A inteligência artificial tática, gerou uma inteligência bem maior dos jogadores, possibilitando um número de decisões por segundo seis vezes maior. 

O Hypermotion é muito recente, porém já tem uma aprovação gigantesca entre os gamers que o já testaram. Henrique Simonato, é um programador de jogos apaixonado por FIFA, que ficou muito contente com a nova tecnologia: 

“O Hypermotion é o futuro dos jogos de esporte! O FIFA 22 é um dos melhores dos últimos anos em todos os quesitos. Parece que deixou de ser um simulador e virou uma partida de verdade. O jogo deixa a gente criar situações com desfechos diferentes. Dribles novos, gols de longe e de bola desviada, faltas mais realistas… Sinto que era isso que faltava”

Ele ainda comenta que provavelmente outros jogos irão aderir à tecnologia:

“Além de estar muito realista, a gameplay me agrada muito. Eu não duvido nada os outros jogos da EA usarem isso… Provavelmente iremos ter essas melhorias nos outros jogos. Imagina o NBA e o NFL assim? Seria um espetáculo.”

Vale lembrar que essa tecnologia só é disponível para os consoles da nova geração (PS5 e XBOX Series X). Então, apesar de ter uma avaliação boa, ela não foi de todo público.

Até o momento, o Hypermotion está bem, mas, só vamos realmente saber se foi um sucesso em setembro de 2023, quando lançar o novo FIFA. O fato é que, essa tecnologia é uma virada de chave, não só para o jogo, mas para os games de esporte em geral.

Os jogos de esportes vivem de atualizações. Como são baseados em temporadas, as empresas sempre estão prontas para trazer inovações, já que possuem um público muito fiel que garante, no mínimo um jogo por ano.
 

Tudo começa no final dos anos 50, e hoje não precisamos nem apertar um interruptor apenas precisamos pedir.
por
Renan Silva de Mello
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11/11/2021 - 12h

Por Renan Silva de Mello

Em 1956, dois Cientistas da Universidade Carnegie Mellon chamados, Herbert Simon e Allen Newell, criaram o primeiro laboratório de I.A (inteligência artificial). Os dois cientistas iniciaram o projeto com o objetivo de inventar novas criações. No ano 1959, McCarty e Marvin Minsky que iniciaram o MIT A.I. Lab. A inteligência artificial funciona como um banco de dados digitais e com algoritmos inteligentes, dessa forma ela pode ler padrões e interpretar conhecimentos, e assim aprender coisas novas, esse processo de aprendizagem se chama "machine learning".

Com o passar dos anos e com os avanços tecnológicos as I.As. se tornaram portáteis, as assistentes virtuais dos Smartphones, são exemplos da tecnologia que é levada dentro dos celulares atuais, as mais populares são; Google assistente que é encontrado nos celulares com os sistemas operacionais Android, e a Siri que pertence a Apple, e está nos seus aparelhos. Essas assistentes tem como função ajudar os usuários com buscas, ações nos Apps e no celular. Esse exemplo é o mais comum dentro da sociedade, mas existem outros exemplos de uso, como o da Alibaba. Eles utilizam o I.A. para recomendar produtos para os clientes comprarem, coletam os dados das últimas compras e tentam "prever" os desejos de compra dos consumidores.

Essa tecnologia tem algumas vantagens, mas como a maioria ela também possui desvantagens. Algumas das vantagens são; redução de falhas, otimização de processos e auxilio para escolhas nas empresas. Essa ajuda pode gerar aumento de lucro para a empresa, com a diminuição de tempo no processo de criação dos produtos que gera uma entrega mais rápida e com uma qualidade melhor para os clientes. As desvantagens da inteligência artificial são poucas, dentro delas a ética duvidosa e o aumento de desemprego. A parte ética é delicada porque a I.A. trabalha com armazenamento de dados digitais, e como no caso da Alibaba que guarda as informações das compras e desejos dos clientes. E o desemprego aumenta porque desde o início o objetivo dessa criação é poder exercer ações que pessoas podem fazer.

A cada ano que passa o número de I.As aumentam, o último sucesso com essa tecnologia foi a da Amazon com a Alexa e ainda tem muitas outras a caminho. Carla Ricchetti, official de Investimentos da International Finance Corporation (IFC), em entrevista a plataforma melhor RH, disse “Estamos na era da inteligência artificial e do machine learning e esse é um caminho sem volta”. O rumo que pegamos nos aponta para um futuro onde as I.As de filmes como "Homem de ferro" se tornaram uma realidade para nós, e já podemos ver isso com a Alexa que pode ter várias ações dentro de uma casa apenas com o comando de voz.

Home office veio pra ficar, ou deixará de ser considerado num cenário sem covid?
por
Gabriella Maya
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10/11/2021 - 12h

Por Gabriella Maya

Com a pandemia seguida da quarentena, o home office que antes tinha um espaço pequeno no Brasil, hoje já é visto como situação permanente em muitas empresas. E tanto entidades, quanto colaboradores, se adaptaram 'obrigatoriamente' a sair do ambiente do escritório e se descobriram produzindo satisfatoriamente dentro de duas próprias casas.  

A pandemia fez com que as corporações revisassem suas políticas de trabalho, e essa mudança tem provocado transformações no espaço físico das empresas, já que muitas companhias migraram seus escritórios para espaços menores e que mantenham a maior parte dos colaboradores atuando à distância. Os espaços de trabalho estão muito mais tecnológicos, fomos pegos de surpresa e nos acostumamos a trabalhar de casa, já que o que pensávamos que duraria semanas, estendeu-se em mais de um ano.  

Contudo, o trabalho remoto tem suas vantagens e desafios. O conforto e a maior flexibilidade para organizar horários se juntam com as maiores chances de ruídos de comunicação, falta de motivação e menos oportunidades para criatividade, inovação e espontaneidade. 

Para a reportagem, foram entrevistadas quatro pessoas: dois funcionários, um gerente comercial e um empresário, para que nos contassem suas  visões sobre o dia a dia no escritório, e agora, fora dele. De início, foram feitas perguntas aos dois funcionários, que trabalham e estudam em casa desde o início da pandemia, em março de 2020.  

A primeira, Giovanna Guedes, 19, é atendente de telemarketing na empresa Next Orbitall, e diz que rende mais estando no escritório, porém prefere o trabalho em casa. Ao ser questionada sobre sua resposta, a atendente diz: 'Do escritório sinto apenas falta dos amigos e da interação, mas com certeza rendo muito menos que no escritório. Acabo me distraindo com outras coisas e acaba não fluindo como fluía quando meu supervisor estava por perto.” 

Vinicius Simões, 19, é analista de SAC na empresa Atento, e diz que trabalhar em casa está sendo mais produtivo, “Além de poder produzir com muito mais calma, consigo ter mais flexibilidade com as tarefas do dia, e também otimizar o tempo. Por exemplo: não preciso acordar horas antes do expediente, sair de casa e pegar ônibus e metrô lotados, e com isso tenho mais tempo para cumprir outras responsabilidades. Outra questão é a comunicação com a equipe, por mais que todos estejam longes um dos outros, estamos sempre conversando e passamos o dia em uma sala online de voz onde todos conseguem se ajudar e produzir juntos”, explica. 

Apesar dos desafios, os grandes empresários perceberam que dá sim para lucrar com seus funcionários dentro de casa. Conversamos com o dono da empresa Dr. Cred, Ricardo Guimarães, 20, para que nos contasse sua opinião sobre o home office, “Minha opinião varia dependendo da forma de implantação do sistema, com quais ferramentas você vai fazer o controle dessas pessoas e etc. O jeito que as coisas aconteceram foi muito repentino e não tivemos tempo hábil para uma implantação mais gradativa e com isso eu senti que muitas pessoas não se adaptaram bem a esse modelo, o que fez com que produzissem menos. Acredito que dentro de casa os desvios de foco são mais frequentes do que no escritório em si.”, explica o empresário. 

Guimarães afirma que depois que a pandemia acabar, muito provavelmente sua empresa irá adotar um modelo híbrido, com opção de escolha entre trabalhar certo período em casa e outro no escritório, “Não acredito que a forma 100% remota seja o caminho, porém não é necessário aos funcionários estarem no escritório todos os dias. Um bom suporte quando a pessoa estiver trabalhando em casa aliado a motivação para querer vir trabalhar no escritório, seria o ideal.”, acrescenta. 

Sobre as mudanças feitas para se adaptar a pandemia, Ricardo conta que ampliou os canais de vendas que antigamente era somente via telemarketing, e hoje trabalha com vendas via WhatsApp e com marketing digital, "Grupos de WhatsApp são ótimos para acompanhamentos de vendas, reuniões diárias de feedback, e para implantar um sistema de gestão remota”, finaliza. 

Júlio César Galindo, 45, é Gerente Comercial na empresa Armati Óculos de Segurança Graduado, e contou ter realizado diversas mudanças para sobreviver e se adaptar a quarentena: “Tive o faturamento reduzido em 30% nos 3 primeiros meses, mas com ajustes, hoje já recuperamos e crescemos em mais de 60% do período pré pandemia.” Sobre as readaptações feitas, César diz que no início do período de quarentena a empresa reduziu as visitas aos clientes a quase zero, e só em julho de 2021 puderam retornar.  “Criamos o canal de venda pelo WhatsApp para pessoa física, público que antes não era nosso foco. E com a dificuldade de agendar consulta médica devido a muitos médicos estarem no combate a COVID, criamos o atendimento In Company aonde vamos nas empresas realizar o exame de vista com todos os protocolos de segurança, sem aglomeração, e sem a necessidade do colaborador se deslocar pela cidade se colocando em risco.”, complementa. Sobre o trabalho remoto, Júlio conta que sua empresa não adotou, e todos se mantiveram no escritório durante este período. 

O trabalho remoto veio para ficar, isso é fato! A tendência do pós-pandemia é de que muitas empresas não voltem ao modelo 100% presencial de antes, já que muitos funcionários não querem mais aquela rotina todos os dias da semana. Segundo uma pesquisa feita pelo LiveCareer nos Estados Unidos, 29% dos profissionais ouvidos afirmaram que não querem de forma alguma serem forçados a retornar ao trabalho presencial de forma integral ao final da pandemia. A previsão é de que a maioria dos funcionários voltem ao escritório em 2022, mas muitas empresas já estão buscando adotar um modelo híbrido na jornada mensal de trabalho, o que muitos parecem aprovar. 

Da Esgrima ao futebol, entenda como os esportes caminham lado a lado com a tecnologia
por
Pedro Alcantara da Silva Neto
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10/11/2021 - 12h

Por Pedro Alcantara da Silva Neto

Que a tecnologia está envolvida no esporte não é novidade! Mas você já parou para pensar o quanto isso influência para o crescimento das modalidades e dos atletas? 

O universo esportivo é um lugar que conta sempre com avanços tecnológicos. A cada ano que passa, as modalidades e os atletas são mais exigidos. E com isso, precisam de ajustes para ajudar a melhorar o desempenho. Esses ajustes vem através de técnicas, acessórios e objetos feitos exclusivamente para as modalidades, além dos dados e estatísticas fornecidas.

A esgrima, por exemplo, é de longe um dos esportes mais avançados no uso de tecnologia. Começando pelas espadas dos atletas que tem um sensor na ponta indicando quando o adversário foi atingido. Esses sensores são extremamente importantes, já que eles decretam a pontuação. As roupas dos atletas contém uma malha de fios elétricos, que permitem saber se ele sofreu o golpe.

Vale lembrar que esses sensores são conectados em rede WI-FI, possibilitando os atletas a treinarem, e praticarem sem a malha, tendo mais liberdade e eficácia para realizar os movimentos.

O campeão paralímpico de esgrima, Jovane Guissone diz que: “Por causa da tecnologia a esgrima hoje é um dos esportes mais seguros, as empresas que fabricam como a Allstar sempre buscam melhorar a tecnologia dos tecidos que são feitas as roupas e lâminas, para assim melhorar o conforto, segurança e também o desempenho do atleta.” 

Foto de Jovane Guissone do site Rede do Esporte
Atleta Jovane Guissone, durante os Jogos Paralímpicos de 2020, em Tóquio

O atleta, que foi medalhista nas olimpíadas de Londres (2012) e Tóquio (2020) afirma:  “Acredito que a esgrima está em constante evolução como esporte, e a tecnologia acompanha está evolução. Neste período, por exemplo, as roupas se tornaram mais flexíveis e leves, sem perder a segurança. Existem diferentes componentes sendo criados todo o tempo, buscando sempre melhorar seu peso ou durabilidade”, completa

Jovane ainda cita a importância da tecnologia para os atletas paralímpicos:

“Ela auxilia os atletas desde seu treinamento até o desenvolvimento de próteses, que possibilitam os atletas a poderem competir adaptando as armas de acordo com a limitação do atleta.” Mudando de modalidade, podemos pensar na natação, onde os atletas contam com câmeras instaladas no fundo da piscina, que servem para analisar os movimentos, gerando uma possível correção nas falhas cometidas. Além de melhorar o desempenho do nadador, o prepara para campeonatos. 

Vale ressaltar os sistemas de chegada milimétricos, que dão resultados assertivos, ajudando os árbitros a ver quem ganhou a prova.

Ainda sobre o meio aquático, podemos falar sobre o nado sincronizado. Que além das câmeras, conta com caixas de som nas piscinas, para que os atletas possam ouvir a música e realizar as movimentações. Isso sem contar os maiôs com proteção térmica, que quebram o atrito e facilitam os movimentos. 

Seja individualmente, ou coletivamente, a tecnologia sempre caminhará com o esporte.

E isso não seria diferente com o futebol. No esporte mais visto do país, os jogadores usam coletes com GPS que medem as distâncias percorridas, intensidade e o deslocamento nos jogos e treinos. 

Esses equipamentos são indispensáveis atualmente, já que, além de detectar a possibilidade de problemas físicos, eles ajudam os preparadores a passarem treinos individuais, conforme o que precisam melhorar.

Esses avanços não trazem só melhoras para os atletas, mas também trazem para a modalidade. Outro ponto que vale ser destacado, é o uso do Árbitro de Vídeo (VAR), que é uma ferramenta que serve para decretar os lances que devem ser corrigidos. Esse dispositivo é comandado por árbitros assistentes, e foi revolucionário no futebol. Apesar de seu uso ser muito discutido no Brasil, em outros países é um sucesso.

Enquanto a tecnologia evoluir, certamente o esporte evoluirá, assim, sempre gerando novos recordes, expectativas e conforto para os atletas.

Estudantes que pensavam em seguir carreira acadêmica agora precisam buscar novas opções
por
Eleonora Marques
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09/11/2021 - 12h

Por Eleonora de Almeida Marques

No início de outubro, o Ministério da Ciência e Tecnologia teve sua verba quase zerada. A pasta - que vem passando por cortes importantes em seu orçamento nos últimos anos - já estava em situação crítica mesmo antes dessa decisão. 

O valor dos repasses para o Ministério atingiram seu ápice durante o governo Dilma, no ano de 2015. Na ocasião, o orçamento disponível para financiar a ciência brasileira era de R$15,1 bilhões.  

De lá para cá, pesquisadores, universidades e toda a gama de profissionais da ciência precisaram se adaptar a um orçamento muito menor: antes dos cortes do último mês, o Ministério da Ciência e Tecnologia já tinha orçamento inferior a R$1 bilhão, ou seja, um quinto do encontrado em 2015. Hoje, não chega nem a R$ 100 milhões. 

O enxugamento da verba impossibilita a conclusão de pesquisas e o avanço científico do país, além de impactar pessoalmente a vida dos cientistas. 

Para Clara Andrade, mestranda de 24 anos, o valor pago na bolsa de mestrado foi crucial para que ela decidisse seus caminhos profissionais. “Quando entrei na faculdade, meu objetivo era me dedicar somente à vida acadêmica. Mas nunca ‘rolou’, o valor da bolsa de mestrado é muito baixo pra trabalhar só com isso”, diz. 

Hoje, Clara trabalha em uma multinacional farmacêutica em período integral e se dedica ao mestrado durante a noite e nos finais de semana. Para ela, o fato de ter um emprego “das 9 às 6”, prejudica bastante seu desempenho no mestrado e quanto ela consegue avançar na pesquisa. 

Para além desses impactos, o baixo orçamento do Ministério da Ciência também colabora com o fenômeno da “fuga de cérebros”. Segundo dados da Receita Federal, o número de brasileiros a migrar para o exterior passou de 8.170 por ano em 2011 para 23.271 em 2018, um crescimento de 184%. 

A pesquisadora Ana Maria Carneiro, do Núcleo de Estudos de Políticas Públicas (NEPP), da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) falou - em reportagem para a BBC - 

 De acordo com o geólogo Atlas Correa Neto, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) em entrevista para a BBC, "é um dreno geral", que inclui desde doutores mais antigos a candidatos ao mestrado e também ao doutorado. Não se trata apenas de pessoas indo para realizar um curso, uma especialização ou realizar um projeto de pesquisa.

"Quem tem possibilidade está indo, mesmo sem manter a ocupação de cientista. Esse movimento não se restringe à área tecnológica e também afeta as ciências sociais. Aliás, se eu pudesse, se tivesse condições financeiras e sociais adequadas, iria embora também.", diz. 

Esse cenário faz com que o Brasil tenha um número baixo de doutores a cada 100 mil habitantes. Enquanto por aqui eles são 7,6 a cada 100 mil, em alguns países da Europa, como Portugal e Alemanha, se aproximam dos 40. 

O número de doutores na população é apenas um sintoma de um problema muito mais grandioso: o atraso no desenvolvimento científico do País.