Em São Paulo, a rotina de um motorista de aplicativo revela como o trabalho passou a ser guiado por notificações, cansaço digital e um cotidiano moldado pelo brilho constante do celular
por
Carolina Hernandez
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24/11/2025 - 12h

 

Por Carolina Hernandez 

O celular vibra antes que qualquer clarão toque os prédios da Mooca, e essa vibração curta, metálica e insistente desperta Jonas de um sono leve, como se fosse uma convocação, um chamado que não permite adiamentos. Ele estende a mão ainda no escuro, alcança o aparelho, observa a luz que se espalha pelo quarto e lê a notificação do aplicativo que já anuncia alta demanda, fluxo intenso, oportunidade. Nos últimos anos, aprendeu a acordar assim, preso ao brilho do celular antes mesmo de sentir o chão frio sob os pés. O trabalho começa na tela, e não na rua.

No carro, um sedan prata que carrega o desgaste dos dias longos, Jonas encaixa o celular no suporte. O gesto é tão automático que parece parte do ritual de ligar o motor, como se o carro só funcionasse plenamente depois que o aplicativo estivesse ativo. A tela mostra a cidade em azul e amarelo, um mapa vivo onde cada área fervilha com informações que determinam para onde ele deve ir, quanto irá ganhar, quanto tempo deve esperar. O aplicativo calcula rotas, horários, riscos e recompensas, e Jonas respira fundo antes de seguir, como quem aceita que o destino do dia será guiado por aquele retângulo luminoso.

A primeira corrida aparece em menos de quinze segundos. Ele aceita. O carro avança devagar pelas ruas que ainda não despertaram, e Jonas observa o céu sem forma, as luzes dos postes refletidas no capô, o reflexo da tela pressionando seus olhos desde a madrugada. Logo, o trânsito cresce, e a cidade parece surgir inteira de dentro dos celulares dos próprios motoristas, porque ninguém conduz apenas pelas ruas, todos conduzem pelos mapas, pelas notificações, pelas coordenadas enviadas de longe.

A dependência da tela dita o ritmo. Jonas percebe isso a cada minuto. Ignorar uma notificação pode significar perder corridas, perder pontos, perder visibilidade diante do algoritmo. Ele sabe que o sistema registra cada movimento, cada segundo parado, cada mudança de rota, cada hesitação. Uma espécie de patrão silencioso observa sua velocidade, suas notas, seus cancelamentos, suas escolhas. Não há voz, não há rosto, mas há controle. Ele comenta que antes achava que dirigia para pessoas, e hoje sente que dirige para um conjunto de cálculos invisíveis.

O cansaço começa sempre pelos olhos. A luz azulada se infiltra pelas pálpebras como um grão de areia persistente. Mesmo nos poucos minutos de pausa, ele sente o celular vibrar no bolso, chamando de volta, lembrando que há demandas próximas. A Pesquisa TIC Domicílios mostra que o celular tornou-se o principal dispositivo de acesso à internet para a maioria dos brasileiros, mas, para motoristas de aplicativo, é mais que isso, é ferramenta, ponte, segurança, salário e vigilância. Jonas passa mais tempo olhando para a tela do que para qualquer rosto durante o dia.

Os passageiros entram no carro sempre com pressa, sempre conectados a outra conversa que não está ali. Há estudantes que assistem aulas no banco traseiro, executivos que participam de reuniões por vídeo, mães que equilibram sacolas e chamadas, jovens que respondem mensagens durante trajetos de poucas quadras. O carro se transforma em cápsula de passagens breves, onde cada um leva sua própria tela, e Jonas conduz tantas luzes simultâneas que, às vezes, o interior do carro parece mais iluminado durante a noite do que durante o dia.

Ele já ouviu histórias que não estavam destinadas a ele, conversas que vazavam das telas para o espaço do carro, lágrimas silenciosas de quem lia mensagens difíceis, risadas altas de grupos que relembravam memórias por vídeos compartilhados. Jonas sempre percebe que as pessoas falam menos com ele e mais com seus celulares, que olham menos pela janela e mais para notificações. Nos raros momentos de silêncio, apenas as telas respiram, emitindo luzes diferentes em intervalos variados.

No fim da tarde, quando o corpo já pesa, o aplicativo avisa aumento de demanda. Jonas pensa em parar, mas o aviso insiste, promete ganhos extras, sinaliza movimento crescente. Ele encosta em um posto para comprar um café, tenta alongar as costas, tenta piscar devagar para aliviar a ardência nos olhos. O celular vibra antes da primeira golada. Ele volta para o volante. Recusar seria uma escolha, mas uma escolha com consequências. Descanso e trabalho, na lógica do aplicativo, nunca estão em equilíbrio.

A madrugada avança e a cidade se torna uma paisagem de luzes espaçadas, com corredores vazios e poucos ruídos. Jonas leva um jovem que saiu do trabalho no shopping, e o rapaz passa o trajeto inteiro olhando para o celular enquanto mensagens surgem em sequência. Jonas também observa o seu próprio aparelho, que marca a rota até o destino. O carro segue pelas avenidas escuras com apenas as duas telas iluminando o interior, criando um silêncio que parece suspenso no ar.

Quando chega em casa, Jonas desliga o carro, depois o aplicativo, e por fim o celular, que insiste em vibrar com atualizações e resumos do dia. A sala escura o acolhe em um silêncio que chega a parecer estranho, como se o mundo tivesse diminuído de volume. Ele se recosta no sofá e sente o peso acumulado do dia, não apenas o peso físico, mas o peso da luz constante, da atenção exigida, da vigilância permanente que o acompanha desde o amanhecer. O corpo quer descanso, mas a mente ainda repassa rotas, mensagens, barulhos de notificação que permanecem mesmo após a tela apagar.

Amanhã, muito antes de a luz do sol tocar a janela, o celular irá vibrar novamente, e Jonas atenderá, não por escolha, mas por necessidade. Ainda assim, enquanto respira profundamente, sente uma dúvida surgir devagar, como quem desperta de um sonho longo. Ele se pergunta se ainda guia o carro, se ainda conduz o trajeto, ou se apenas segue o ritmo imposto pela tela que nunca dorme. E essa pergunta, ele sabe, continuará voltando. Porque, na madrugada das grandes cidades, o trabalho e a vida estão cada vez mais presos ao mesmo brilho.

Com o avanço do sistema de pedágio eletrônico nas rodovias paulistas, motoristas vivem a combinação entre fluidez no trânsito e incertezas sobre tarifas, prazos e adaptação ao novo modelo.
por
Inaiá Misnerovicz
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25/11/2025 - 12h

Por Inaiá Misnerovicz

 

Dirigir pelas rodovias da Grande São Paulo já não é mais como antes. Com a chegada do sistema free-flow - o pedágio eletrônico sem cancelas -, muitos motoristas sentem que atravessam uma fronteira invisível: não há mais a cancela para frear o carro, mas também não há a certeza imediata de quanto vão pagar. Para Jerônimo, motorista de carro, morador da zona leste de São Paulo que faz quase todos os dias o trajeto até Guararema a trabalho, essa sensação de fluxo e incerteza convive em cada viagem.

Antes da implantação do free-flow, Jerônimo parava em praças de pedágio, esperava, conferia o valor, calculava se valia a pena seguir por um trecho ou desviar. Hoje, ao cruzar os pórticos da Via Dutra ou de outras rodovias, ele simplesmente segue adiante. Só depois, no no aplicativo, descobre quanto foi cobrado, isso quando ele lembra de conferir a fatura. Para quem tem TAG, o débito cai automaticamente, mas para quem não tem, o sistema registra a placa e envia a cobrança que deve ser paga em até 30 dias, sob pena de multa, como prevê a regulamentação da CCR RioSP.

Esse modelo evita paradas e acelera o tráfego, especialmente nas pistas expressas. Segundo a concessionária Motiva/RioSP, quem trafega pelas marginais da Via Dutra (sem acessar a via expressa) não é tarifado. Mas Jerônimo ressalta que essa economia de tempo nem sempre vem acompanhada de previsibilidade de custo: “só sabendo depois quanto foi cobrado, ainda dependo de consultar o site para ver se registrou todas as passagens”, ele diz. A tarifa depende do horário e do dia da semana, pode variar, e para quem usa TAG há desconto de 5%. 

Para tornar essa transição mais suave, a RioSP intensificou ações de orientação nas margens da rodovia e em pontos públicos de Guarulhos. Na capital, promotores usam realidade virtual para explicar como os pórticos funcionam, há vídeos e atendimentos nos postos de serviço. Mais de 500 pessoas já participaram de eventos para esclarecer dúvidas sobre o funcionamento, formas de pagamento e salto entre pistas expressas e marginais.

As novas tarifas também entraram em vigor recentemente: desde 1º de setembro de 2025, os valores para veículos leves nas praças da Via Dutra foram reajustados pela ANTT, e nos pórticos do free-flow os preços também foram atualizados. No caso das rodovias geridas pela Concessionária Novo Litoral - especificamente a SP-088 (Mogi-Dutra), SP-098 (Mogi-Bertioga) e SP-055 (Padre Manoel da Nóbrega) - os valores por pórtico variam de R$ 0,57 a R$ 6,95 para veículos de passeio, dependendo do trecho.

Essa lógica de cobrança por trecho, sem a presença física de praças, exige do motorista algo além de atenção na pista: exige educação para se entender onde entrou, onde passou e quanto isso custou. Para Jerônimo, isso é mais difícil do que simplesmente parar e pagar. Ele admite que, apesar da melhoria no fluxo, teme que algum pórtico não tenha sido registrado, ou que haja diferença entre o que ele acredita ter passado e o que vai aparecer na fatura.

Além disso, há risco real para quem não paga no prazo. A CCR RioSP adverte que a não quitação da tarifa em até 30 dias configura evasão de pedágio, o que pode gerar infração de trânsito, multa fixada e até pontos na carteira. Para muitos, essa penalidade ainda parece pesada diante da novidade e da complexidade do sistema.

Por outro lado, o free-flow traz ganhos concretos para a mobilidade: ao eliminar paradas bruscas nas praças, reduz o risco de acidentes por frenagem repentina e melhora o desempenho das rodovias. A tecnologia permite modernizar a gestão do tráfego, e os pórticos com sensores garantem identificação precisa por TAG ou leitura de placa. Ainda assim, a transformação não se resume à pista. Ela repercute no cotidiano de quem vive dessa estrada, como Jerônimo, e também na forma como a concessionária se relaciona com os motoristas. A campanha de orientação mostra que há consciência de que nem todos se adaptarão imediatamente. As ações de atendimento por WhatsApp, aplicativo, site, totens e até no posto de serviço reforçam a aposta na transparência. 

Há também a perspectiva de que esse modelo se torne cada vez mais comum. Segundo planejamento de concessões futuras, mais pórticos free-flow poderão ser instalados nas rodovias paulistas até 2030, o que tornaria esse tipo de cobrança mais frequente para usuários regulares da malha estadual. Mas para que ele seja efetivamente equitativo, será preciso manter a educação viária, oferecer canais de pagamento amplos e garantir que os motoristas não sejam penalizados por simples falhas de entendimento.

Para Jerônimo, a estrada continua sendo um espaço de tensão e de liberdade. Ele ganha tempo, mas precisa vigiar sua fatura. Ele cruza Guararema, volta para São Paulo, e vive uma experiência nova: a de rodar e pagar depois, sem parar, mas sempre com a incerteza de que quanto passou pode não ser exatamente quanto será cobrado. A cancela desapareceu, mas o pedágio segue presente, só que disfarçado em números, e não em uma barreira física. 

Colunista Marcelo Leite revela que a área perde cada vez mais influência no país
por
Giovanna Britto
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24/11/2025 - 12h

 

Durante a pandemia de Covid-19, o Brasil se reinventou em assuntos a respeito de hábitos higiênicos, debates sobre saúde mental e destacou a importância do jornalismo científico, área  responsável por comunicar à população a respeito das vacinas, o avanço ao combate do vírus e outros assuntos de saúde pública. Entretanto, três anos após o fim do estado emergencial causado pela pandemia, a falta de adesão do público à ciência tem ameaçado o trabalho dos jornalistas desse segmento.

Entre 2020 e 2022, os profissionais da mídia foram expostos ao desafio de comunicar a incerteza científica, traduzir termos e conscientizar a sociedade sobre a pandemia. Muitos jornalistas já eram especializados na área, outros aprenderam a falar sobre ciência devido a alta demanda de notícias para divulgar. A pandemia serviu como ponto de virada para o jornalismo científico - que já existia no Brasil, mas ganhou repercussão graças à necessidade de dar foco ao assunto que ditou o estilo de vida de um mundo inteiro.

Nomes como Atila Iamarino, Natália Pasternak e Álvaro Pereira Júnior se destacaram como grandes vozes da divulgação do jornalismo de ciência. Em entrevista à AGEMT, Marcelo Leite, jornalista e colunista da Folha de São Paulo especializado na área de ciência e ambiente, comenta sobre esse período: “Nunca se valorizou tanto do ponto de vista de espaço, de tempo, de audiência, a divulgação de informações científicas de base para entender o que estava acontecendo.” Hoje, o espaço de fala e a repercussão em temas científicos são menores, uma vez que as pessoas estão cada vez menos interessadas em saber de que forma isso implica em suas vidas pessoais.

Jornalista Marcelo Leite posando para câmera
Formado em jornalismo pela USP, Marcelo também atuou na Revista Piauí e é autor do livro “Psiconautas: Viagens com a Ciência Psicodélica Brasileira”. Foto: Divulgação/Unicamp.

 

Marcelo relembra que o jornalismo científico já sofria com ameaças à sua credibilidade, com falsos especialistas, médicos sem conduta ética e  com o presidente da época, Jair Bolsonaro, reproduzindo falas que levantavam mais dúvidas e ondas de ódio. “Foi um período terrível, e talvez a parte principal, que me deixa mais frustrado, é que o público se dividiu em dois. Uma parte passou  a desconsiderar as informações que a gente, do jornalismo científico, se esforçava por apresentar como informações objetivas, fundadas em dados, com a qualidade que se espera da ciência ", completa.

Na fase posterior à pandemia, após o declarado fim do período emergencial do coronavírus em 5 de maio de 2023, foi possível observar as consequências e heranças que a abundância de informações equivocadas, negacionistas e falsas deixaram na rede de informação, seja online ou offline. Os movimentos anti vacinas, impulsionados durante o Covid, emitiram um alerta para a Organização Mundial de Saúde. Dados divulgados pelo jornal Humanista da UFRGS evidenciam que a cobertura de vacinas contra poliomielite, HPV e sarampo estão em constante queda e sequer atingem a meta em lugares como Norte e Nordeste. 

No anuário de Vacinas de 2025 da Unicef, os dados indicam que até 14 de julho de 2025, a cobertura vacinal dos grupos prioritários permanecia abaixo da meta de 90%: crianças de seis meses a seis anos com 39,5%, idosos com 53,2% e gestantes com 29,8%, correspondendo a menos da metade do público-alvo.

A questão ambiental também é desconsiderada por muitas pessoas. Marcelo afirma que há muitos temas pelos quais o jornalismo científico lutou pelo progresso e que atualmente são banalizados. “se houve alguma dúvida no passado, há 20, 30 anos atrás, hoje não há mais nenhuma dúvida sobre os impactos que estão vindo e virão da mudança climática, cada vez mais sérios. Mas ainda tem gente que questiona.”

Recentemente, casos de metanol que alertaram a população em outubro deste ano, trouxeram uma onda de informações falsas que prejudicaram profissionais da área jornalística e médica, motivando o pronunciamento deles a respeito. Vídeos tentando realizar testes caseiros para identificar a presença da substância nas bebidas, sem comprovação científica, viralizaram nas redes sociais.

Essa situação se assemelha com as polêmicas envolvendo o uso da cloroquina na pandemia. Um levantamento realizado por pesquisadores do Centro de Estudos e Pesquisas de Direito Sanitário da USP (Cepedisa) em colaboração com a Conectas Direitos Humanos, mostra que, entre março de 2020 e janeiro de 2021 houve pelo menos quatro medidas federais promovendo diretamente ou facilitando a prescrição do medicamento. Jair Bolsonaro foi um dos maiores promotores da cloroquina na época e quem motivou o uso para a população. Apesar de ter sido associada no combate ao Covid, a cloroquina é um medicamento que atua contra doenças inflamatórias crônicas e no combate a parasitas e cuja eficácia de uso para o coronavírus não é comprovada.

O estudo que deu início a essa ideia foi inicialmente publicado na revista científica International Journal of Antimicrobial Agents e assinado por mais de 10 profissionais. Hoje, a editora da revista, Elsevier, anunciou a retratação deste artigo após uma pesquisa aprofundada, com o apoio de um “especialista imparcial que atua como consultor independente em ética editorial”.

Os profissionais continuam exercendo seu trabalho com excelência, alguns optando pela mídia tradicional, outros inovando nas redes através de vídeos curtos. Mas é inegável a forma com que o jornalismo científico perdeu a influência e como falta apoio em todas as áreas. “É muito triste, porque eu dediquei minha vida inteira ao jornalismo científico, para ver isso acontecer no fim da minha carreira” conclui o jornalista.

Após sete anos, evento volta ao calendário impulsionado pelo avanço dos carros eletrificados
por
Fábio Pinheiro
Vítor Nhoatto
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22/11/2025 - 12h

O Salão Internacional do Automóvel de São Paulo, um dos eventos mais tradicionais do setor automotivo brasileiro, está de volta após um hiato de sete anos. A edição de 2025 acontece entre os dias 22 e 30 de novembro, em um contexto de profundas transformações na indústria e impulsionada pela expansão de veículos eletrificados, entrada de novas marcas no país e a necessidade das montadoras de reconectar consumidores às experiências presenciais.

De acordo com a RX Eventos, organizadora da mostra bienal, a volta acontece em razão da reestruturação e aquecimento do mercado. A última edição havia sido realizada em 2018 e contou com cerca de 740 mil visitantes, mas devido a pandemia de COVID-19 o Salão de 2020 foi cancelado. Nos anos seguintes, a volta do evento ficou só na especulação. Segundo a Associação Nacional de Fabricantes Automotores (Anfavea), a pausa também pode ser atribuída à crise de matéria-prima, à retração econômica deste então e ao formato caro para as montadoras que estavam distantes do público.

Embora as duas últimas edições tenham sido no São Paulo Expo, esta acontece no Complexo do Anhembi, casa oficial do evento desde 1970. A mudança foi celebrada por expositores e pelo público, já que o Anhembi permite maior fluxo de visitantes, oferece áreas amplas para test-drive e atividades externas, recuperando a identidade histórica do salão. O retorno também faz parte da estratégia de reposicionar o evento como uma grande vitrine de experiências automotivas, com pistas, ativações e zonas imersivas distribuídas pelo pavilhão.

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Renault anuncia o seu novo carro “Niagara” - Foto: Fábio Pinheiro

Entre as montadoras que vão expor, estão nomes de peso que apostam na ocasião para apresentar novidades ao consumidor brasileiro. A BYD leva ao Salão uma linha reforçada de elétricos e híbridos, aproveitando o crescimento expressivo da marca no Brasil, além de lançar no evento a marca de luxo do grupo, Denza. A rival chinesa GWM também estará presente, com o facelift do SUV H6, o jipe Tank 700 e a minivam Wey 09.

Em relação às marcas tradicionais, a Stellantis vai em peso para o Anhembi. A Fiat, apesar de não ter apresentado nenhum modelo novo, trará o Abarth 600, um SUV elétrico esportivo. A Peugeot terá os 208 e 2008 eletrificados e, principalmente, o lançamento da nova geração do 3008 para o mercado nacional, equipado com o tradicional motor THP. 

Enquanto isso, a Toyota investe na divulgação de novidades híbridas flex, com a chegada do Yaris Cross para brigar com o recém-lançado HR-V, e os líderes Hyundai Creta e Chevrolet Tracker. Juntas, as marcas representam parte do movimento de transformação do mercado brasileiro, que tem apostado cada vez mais na eletrificação e em tecnologias avançadas para rivalizar com a expansão chinesa.

O Salão 2025 também será palco de novas marcas como a Leapmotor, parte do grupo Stellantis. O SUV C10 será o primeiro modelo a chegar às ruas, ainda neste ano, e conta com a versão elétrica (R$189.990) e com extensor de autonomia (R$199.990). O segundo modelo será e o C-SUV elétrico B10, por R$172.990, 60 mil a menos que o rival BYD Yuan Plus, e mais recheado de tecnologia, como teto panorâmico, nível 2 de condução semi autônoma, câmera de monitoramento do motorista e airbag central.

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Presidente da Stellantis para a América do Sul, Herlander Zola, anunciou os planos para o grupo - Foto: Stellantis / Divulgação

Já a britânica MG Motor, propriedade da chinesa SAIC, investirá em esportividade elétrica, além de custo-benefício. O modelo de maior volume de vendas deve ser o SUV S5, rival de Yaun Plus, e igualmente equipado ao B10. Em seguida, o MG 4 chega para rivalizar com Golf GTI e Corolla GR, com mais de 400 cavalos, tração integral, pacote de ADAS completo, e pela metade do preço dos rivais. Por fim, o Roadster será o chamariz de atenção no estande, com portas de lamborghini e em homenagem à tradição da marca. 

O grupo CAOA também fará a estreia da nova marca que trará ao Brasil a Changan, com a chegada prevista para 2026 com os modelos de super-luxo elétricos Avatr 11 e 12, além do SUV UNI-T, rival do Compass e Corolla Cross. 

O pavilhão do Anhembi contará com pistas de test-drive, áreas dedicadas a modelos clássicos como o McLaren de Senna, e até mesmo uma área do CARDE Museu. No Dream Lounge estarão presentes super carros como Ferrari e Lamborghini, além da Racing Game Zone para os amantes de videogame e simuladores de corrida. 

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Área externa do Anhembi terá pista de slalom, frenagem e test-drive de dezenas de modelos - Foto: Salão do Automóvel / Divulgação

Apesar da ausência de marcas como Chevrolet, Ford, Mercedes, Volvo e Volkswagen, 2520 montadoras estarão presentes, incluindo Chery, Hyundai, Mitsubishi e Renault. O Salão espera receber cerca de 700 mil visitantes e a edição 2027 já está confirmada. Os ingressos custam a partir de R$63 (meia-entrada) nos dias de semana.

Projeto aprovado pelo Congresso libera R$ 22 milhões do Fundo de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT)
por
Helena Barra
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17/11/2025 - 12h

Por Helena Barra

 

No dia 4 de agosto de 2025, o Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, sancionou o Projeto de Lei 847/2025. O plano, aprovado pelo Congresso brasileiro, regulamenta o uso dos recursos do Fundo de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), liberando o valor de R$ 22 bilhões para investimentos nas áreas da ciência e tecnologia.  O FNDCT é o principal instrumento de financiamento público da ciência, tecnologia e inovação no Brasil. Ele apoia pesquisas científicas, a formação de recursos humanos qualificados, a inovação tecnológica nas empresas, a infraestrutura de pesquisa e o desenvolvimento de projetos estratégicos nacionais.

A professora de economia da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo), Norma Cristina Brasil Casseb, explica que fundos como o FNDCT possuem legislação própria. No caso do FNDCT, segundo dados da FINEP (Financiadora de Estudos e Projetos), os recursos são provenientes de diversas fontes. A composição deles evidencia o importante papel do Estado tanto no direcionamento de incentivos diretos do orçamento público e do tesouro, quanto na garantia de que parte dos lucros obtidos pelas empresas do setor detentor e gerador de tecnologia retorne para a sociedade e permita que ela se desenvolva de forma mais igualitária.

Nas redes sociais, o presidente Lula, afirmou que a medida visa fortalecer a base industrial brasileira. “Com essa medida, vamos fortalecer a inovação nas seis missões da Nova Indústria Brasil e nas Instituições Científicas e Tecnológicas, levando infraestrutura, redes de pesquisa e oportunidades para todos os territórios do país. Investir em pesquisa e inovação é investir no futuro do Brasil”, comentou na divulgação.  Além disso, o projeto também tem como objetivo estimular o emprego qualificado em pesquisa e desenvolvimento, de maneira a ampliar o número de doutores em empresas, startups, parques tecnológicos e instituições de ensino. 

Para Norma Casseb, em um país como o Brasil, com alta desigualdade social e elevada concentração de renda, a liberação deste recurso é importante, não só para a sociedade, mas como para a economia nacional. “Neste contexto, o investimento em tecnologia e inovação, combinado a uma estratégia voltada para a industrialização do país, tem uma alta capacidade de geração de empregos de qualidade especialmente no setor produtivo, permitindo elevação na renda da população e, por consequência, maior expansão econômica”, informa a doutoranda. 

Segundo a Associação Brasileira de Desenvolvimento (ABDE), representante das instituições financeiras de fomento habilitadas a operar os recursos do fundo, a nova lei marca uma mudança de postura em relação ao uso dos fundos públicos voltados à inovação. Ao garantir previsibilidade e autonomia na aplicação dos recursos, o Brasil se alinha a boas práticas internacionais de apoio à pesquisa e ao desenvolvimento tecnológico. 

Em entrevista à Agência Brasil, a ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos, destacou que, apesar de o FNDCT ter sido criado em 1969, o fundo ganhou maior relevância nos governos do presidente Lula, inclusive no atual mandato. De acordo com o governo, nos últimos dois anos, os investimentos em ciência, tecnologia e inovação por meio do FNDCT aumentaram seis vezes. Saíram de R$ 2 bilhões, em 2021, para R$ 12 bilhões, em 2024. A previsão para 2025 é de cerca de R$ 14 bilhões.

A professora também reforça que o investimento em ciência e tecnologia é um dos pilares fundamentais para o desenvolvimento econômico e social de uma nação. Eles permitem adicionar valor agregado aos produtos brasileiros, além de elevar a produtividade e a competitividade da economia nacional, permitindo que sejam cada vez mais competitivos no comércio internacional.  Além disso, investimentos como o FNDCT podem tornar o País mais que um exportador de produtos de maior valor agregado, mas também um exportador de tecnologia para outros países, que muitas das vezes não possuem capacidade financeira ou de infraestrutura para desenvolverem suas próprias tecnologias.


 

 





 

Como a desinformação e fake news são as principais agentes por trás da queda na cobertura vacinal da população e da volta de grandes ameaças do passado
por
Jessica Midori
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14/11/2022 - 12h

Por Jessica Midori

As eleições brasileiras de 2022 abriram portas para importantes pautas dignas de debate, dentre elas assuntos relacionados à saúde da população geraram grande comoção na mídia por conta do recente trauma que o Coronavírus deixou, e também, do cenário cada vez mais preocupante do País com o crescimento na volta de registros de doenças erradicadas.

Uma recente entrevista no site g1 com Tarcísio de Freitas recebeu destaque após pronunciamentos do recém eleito governador de São Paulo a respeito da “liberdade de escolha” na vacinação, declaração alarmante na visão de diversos grupos sociais. Profissionais da área da saúde se manifestaram de modo contrário à posição tomada pelo, na época candidato, afirmando os riscos da propagação desse discurso negacionista, combatendo-o com argumentos que mostram a crescente volta de doenças que por conta da vacina eram consideradas controladas, como por exemplo a poliomielite, sarampo e outras.

Além de se declarar contrário à obrigatoriedade da imunização ele afirmou que em seu governo não irá impor medidas de retaliação contra pais que não vacinarem os seus filhos, o que contribui para uma nova geração ainda mais suscetível a negação da vacinação, e consequentemente a doenças. Deixar a responsabilidade de imunizar os mais novos nas mãos dos pais é um ato imprudente, já que o poder da vacina está sendo cada vez mais questionado com a falta de informação e a disseminação de fake news.

Neide Almeida atua como auxiliar de enfermagem no Posto de Saúde do bairro Antônio Zanaga em Americana, e é responsável pela identificação dos que vão se vacinar. Ela conta que ficou indignada com a irresponsabilidade do governador do estado, ao arriscar fazer pronunciamentos tão impactantes na saúde do povo ciente de que muitos seriam influenciados por tais afirmações.

Ao ser questionada sobre como ela acredita que a propagação do discurso negacionista afeta as novas gerações, confessa que se preocupa principalmente com os seus filhos, que por serem jovens podem ser levados a questionar a importância da imunização, e com a possível liberdade de escolha, optarem por não vacinarem os seus futuros filhos.

Quando se trata do número de pessoas que vão ao posto se vacinar, Neide relata que a equipe de vacinação do postinho do bairro notou uma queda no fluxo de pacientes, dando como exemplo o caso da quarta dose da vacina contra a Covid-19, que, dessa vez, o número de pessoas que se apresentaram para tomá-la despencou em comparação as doses anteriores.

Ela acha interessante o fato de que na terceira dose notou a falta de alguns conhecidos seus que foram se vacinar quando estavam aplicando a primeira e segunda. Neide ainda ressalta que agora, na quarta dose a situação piorou, relembrando o tanto de morador do bairro que ela conhece e faz tempo que não vê marcando presença no postinho, tanto criança quanto adulto.

Essa situação não se limita apenas a região onde Neide trabalha. A queda no número de pessoas dispostas a se imunizar é real e isso pode ser comprovado ao se analisar o aumento dos casos nos últimos anos, que piorou em 2021, de doenças controladas anos atrás. Em 2016 o Brasil recebeu o certificado de erradicação do sarampo da OPAS/OMS, porém dois anos depois, a doença voltou com força e nos anos seguintes foram registrados mais de 40 mil casos confirmando a volta da circulação do vírus no território nacional, fato que levou o Brasil a perder o certificado em 2019. Este fato é apenas um dos que provam o retrocesso do Brasil quando se dimensiona a diminuição de políticas de saúde.

Neide lamenta ser muito preocupante a defesa do discurso negacionista afirmando ser esse o primeiro passo para que andemos para trás e voltemos a ser aquele Brasil do passado, afundado em tragédia e tomado pelas epidemias e mortes.

A bióloga Leticia Akemi, formada em ciências biológicas pela Unesp Rio Claro, alega que a desinformação é o principal agente que atua na perda da credibilidade da vacina, pois torna as pessoas suscetíveis a caírem nas notícias falsas e informações distorcidas a respeito da imunização.

Ela alega que as fake news são criadas e disseminadas principalmente por grupos ideológicos que se fortalecem com a desconfiança generalizada, se aproveitam da desinformação popular para criar dúvidas, insegurança e medo. Ainda aponta que com as redes sociais, os apoiadores de tais grupos assumem um papel de propagandistas, contribuindo para o fortalecimento dessas notícias falsas.

Pode-se citar que entre as mentiras mais propagadas sobre a imunização, recebem destaque a desconfiança do governo, o medo de serem submetidos ao controle das autoridades de forma inconsciente, através de um chip implantado no organismo humano por meio dos imunizantes. E também à sujeição a riscos maiores à saúde, como mudanças no DNA dos que fossem vacinados, desfiguração, vulnerabilidade do organismo e até mesmo a morte.

A bióloga diz ser absurdo até onde vão as mentiras, garantindo que as vacinas são completamente seguras, fato que pode ser visto nas últimas décadas com todas as vidas salvas após o acesso à imunização. Declara que as reações vacinais são mínimas e na maioria das vezes, leves e transitórias, em contrapartida às possíveis complicações da doença que uma pessoa desprotegida poderá contrair.

Ela ainda deixa a sua admiração pelos profissionais que participaram do desenvolvimento das vacinas contra a Covid-19. Dispensando os que questionam a sua eficácia com base na história de que essas vacinas haviam sido criadas rápido demais, afirma que a tecnologia da vacina vinha sendo desenvolvida há anos, e que apenas foi acelerada em função da pandemia, enfatizando que nunca se pulou nenhuma etapa das pesquisas nem se abriu mão da segurança e da eficácia, esclarecendo que esses são requisitos essenciais para o licenciamento.

Leticia finaliza atestando que a maior prova da segurança e eficácia da vacina no geral encontra-se no estado do mundo atual, quantas epidemias combateu e quantas doenças erradicou.

Vale lembrar que o incentivo à vacinação deve ser constante e não somente em períodos de epidemia. Estar com a carteira de vacinação em dia é essencial para manter a proteção contra as doenças. Não se pode deixar que o próprio sucesso das políticas de vacinação no Brasil do passado, seja fator contribuinte para a redução do estado de alerta das pessoas em relação a algumas doenças.

É imperativo não se descuidar por acreditar que essas enfermidades são inofensivas ou simplesmente não existem mais, apenas porque muitos não viveram os tempos trágicos de epidemias, sequelas e mortes que a maioria delas deixaram a sua marca. Essa sensação falsa de que o Brasil está livre das ameaças do passado, e de que a vacinação é uma perda de tempo, é um agente que contribui para a volta de doenças que já estiveram controladas. Pesquise, fique atento e vacine-se já.

 

 

 

 

 

 

Após enfrentar percalços pessoais o jovem retomou sua atividade como player de jogos digitais
por
Rafael Casemiro
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15/11/2022 - 12h

 

Por Rafael Duarte Casemiro

Os esportes eletrônicos, ou somente E-sports, como é conhecido internacionalmente, vem crescendo constantemente no mundo. O Brasil é o País onde este crescimento se evidencia mais, com novas equipes sendo formadas, eventos internacionais sendo sediados no país, e novos jogadores que surgem. Um exemplo do crescimento dos esportes eletrônicos no Brasil é Felipe “SkuLLz” Medeiros. O jogador da Pain Gaming de apenas 20 anos é tratado nacionalmente e internacionalmente como uma das grandes revelações do Counter Strike.

O jovem jogador começou sua carreira em 2019, com apenas 17 anos, porém o CS, como o jogo é mundialmente conhecido, entrou na sua vida em 2014; “Comecei jogando com amigos do colégio, era só uma brincadeira.” Se destacando desde o começo nas partidas online, SkuLLz, foi convidado a integrar a equipe da WePlayGames, em março de 2019. “Esse primeiro contrato profissional foi um choque de realidade, a coisa está começando a ficar séria. Também não tinha total apoio dos meus pais, isso dificultou bastante.” Ele conta que o começo foi difícil, que não recebia um bom salário, não tinha muita projeção nacional e muito menos internacional. Restava a ele jogar bem para sair daquela situação.

Depois da passagem de sucesso pela WePlayGames, apesar do pouco tempo e não conquistar nenhum título, SkuLLz se transferiu para a W7M no mesmo ano, onde alcançou destaque nacional, conquistando um segundo lugar na Brasil Game Cup, e garantindo o título da CLUTCH season 2, já em 2020.

Depois do sucesso nacional, era hora de fazer sucesso internacional. Por isso, SkuLLz tomou a decisão de se juntar a Team One, equipe brasileira que disputava campeonatos na América do Norte e ao redor do mundo. “Foi um passo muito importante para mim, estava crescendo dentro do cenário.” Entretanto a passagem pela Team One foi curta, apenas 6 meses. SkuLLz foi afastado da equipe por problemas psicológicos. “Foi o momento mais difícil da minha carreira, tomar a decisão de começar do zero, mas acho que acertei na minha escolha”. O jogador teve que retornar ao Brasil e praticamente recomeçar sua carreira, passando por times como Liberty e Oddik.

Felipe esteve vinculado a estes times durante a pandemia da Covid-19, porém, ao contrário do que se espera, o novo Corona Virus ajudou a alavancar a carreira do jogador; “Durante a pandemia, tivemos muitos campeonatos nacionais online, e isso, me ajudou muito, estar perto da minha família e amigos me ajudou a sair daquela situação nada agradável.”

Da Oddik, SkuLLz se transferiu para a Pain Gaming, uma das maiores organizações de esportes eletrônicos de todo o mundo, e lá alcançou seu ápice de desempenho, brigando pela vaga no campeonato mundial de CS, que está sendo realizado no Rio de Janeiro.

Plataformas digitais facilitaram a transição das atividades, de presenciais para virtuais
por
Lucas Munhoz Rossi
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12/11/2022 - 12h

Por Lucas Rossi

Em 2020, o mundo foi afetado pela COVID-19. O que parecia ser uma simples gripe, se tornou uma doença de fácil transmissão e que levou cerca de 700 mil pessoas a óbito, apenas no Brasil. Devido ao coronavírus, a sociedade brasileira teve que mudar seus hábitos e se adaptar ao vírus.

Durante a paralisação, a maioria das escolas e trabalhos foram paralisados, e posteriormente transformados em home-office. No entanto, as instituições de ensino e o mercado de trabalho foram “pegos de surpresa” pelo vírus, portanto não estavam preparados para a mudança, do presencial para o virtual.

Nesse momento, diversas plataformas tecnológicas que eram pouco utilizadas até então, foram peça fundamental em auxiliar e facilitar as atividades on-line. Permitindo fazer reuniões, aulas, entregas de trabalhos e formulários, provas etc., apenas com o uso de um computador. Dessa maneira, é possível dizer que sistemas como Teams, Google Meet, Zoom, Discord, Moodle, entre outras, facilitaram em grandes aspectos a transição para o online.

Mesmo com o fim da quarentena, e a volta da vida cotidiana, diversas escolas e empresas, permanecem utilizando essas plataformas, mesclando o presencial com o home-office.

Na visão de Carolina Nabarro (50), juíza cível, essas plataformas não apenas facilitaram, mas foi o que possibilitou que o trabalho fosse feito à distância. Já que que as audiências não poderiam ser feitas presencialmente. Na opinião de Carolina, o poder Judiciário era muito refratário em relação ao trabalho em casa. Antes da pandemia todos os funcionários deveriam estar no fórum durante o horário do trabalho, mas a necessidade da paralisação permitiu que se percebesse que o trabalho de casa rendia mais do que o presencial. Além dos mais, os gastos com aluguel de espaços para os fóruns puderam ser reduzidos.

Com o retorno às atividades no fórum, ocorreram algumas mudanças, mas os funcionários continuam autorizados a trabalhar parte da semana em casa, com um revezamento entre todos os juízes para que todos os dias tenha algum juiz no fórum. Além disso, as audiências e atendimentos tem permissão para permanecerem virtuais, afirma a juíza.

Já na visão de Denise Luciana (49), professora universitária, a pandemia impactou fortemente na forma que ela realizava seu trabalho. Já que as aulas passaram a ser ministradas por meio de plataformas de videoconferências o que demandou novo aprendizado por parte do corpo docente sobre essas tecnologias, de como elas funcionam e como explorá-las para ministrar as aulas em ambiente virtual. Denise complementou que as estratégias de ensino, principalmente as de aprendizagem ativa, tiveram que ser repensadas e adaptadas para se adequarem e serem atrativas nesse novo ambiente.

A professora afirma, que após a volta das aulas presenciais, essas tecnologias continuam tendo grande importância, levando-se em conta que tais plataformas foram indispensáveis para que o ensino universitário (e o escolar) não fosse interrompido durante a pandemia.

Além do mais, muitas reuniões de colegiado (professores), reuniões de orientações a grupos de aluno, orientação de TCC´s, gravação de explicações ou resoluções de exercícios em forma de vídeo são realizadas de forma virtual após a Covid-19. Essas plataformas passaram a ser hubs digitais entre coordenadores, professores e alunos, facilitando a comunicação e o fluxo do trabalho no ambiente acadêmico e escolar, afirma Denise.

Durante a pandemia, uma geração de pessoas se formou no ensino médio, e adentraram nas universidades de maneira remota, em alguns casos inclusive, alunos ficaram entre 1 e 2 anos sem ter aulas presenciais em suas graduações. Dessa forma, muitos estudantes demoraram para conhecer seus colegas, e até mesmo o campus de suas faculdades.

Esse foi o caso de João Victor Tiusso, estudante de jornalismo e estagiário de uma empresa de comunicação. No momento, João possui aulas presenciais na universidade, mas trabalha “de casa” no seu emprego. Na visão do universitário, existem grandes diferenças entre as duas formas. João afirma que no estudo presencial, existe uma troca de ideias e experiências muito maior, o que não existe em mesmo grau no home-office. Além disso, consegue aprender mais nas aulas presenciais e ser mais ativo no ambiente universitário.

Questionado sobre a sua preferência, entre o sistema remoto e o físico, Tiusso afirmou que prefere o home-office, pois trabalha em um ambiente mais confortável (sua casa) e consegue otimizar melhor o seu tempo, principalmente por não precisar se deslocar. Além do mais, quando a demanda do trabalho está baixa, pode se dedicar a outras atividades do dia a dia, como fazer cursos, por exemplo.

Por outro lado, ter uma experiência de trabalho presencial é muito importante para o desenvolvimento da carreira, pois é uma oportunidade de conhecer melhor outras pessoas do seu meio e alinhar as ideias ao longo da jornada de trabalho. Além do fato de que cobrança é maior, a dinâmica entre a equipe é mais intensa e o trabalho em equipe é muito mais significativo, afirma João Victor.

Entenda o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, sua base ideológica e o futuro das políticas da produção de alimentos orgânicos do País.
por
Laura Melo de Carvalho
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17/11/2022 - 12h

Por Laura Melo

O que parecia mais uma compra de orgânicos no armazém do campo, com aquela movimentação rotineira de uma feira, era na verdade uma concentração histórica de muita luta, democratização dos espaços e garantia dos direitos humanos. O que no momento parecia só uma escolha mais saudável e sustentável do dia a dia era na realidade um posicionamento político camuflado e um apoio a um movimento que nasceu com muito custo, mas com muita força no país. Afinal, a resistência camponesa se manifesta em diversas ações e, nessa marcha, participa do processo de transformação da civilização.

Com o avanço da sociedade, a agricultura e pecuária passam de uma cultura de subsistência para um âmbito comercial e econômico. A modernização do mundo leva o alimento a deixar de ser direito básico para virar monopólio, commodity e até sinônimo de poder aquisitivo, em épocas de crise mundial. O avanço industrial da sociedade e da escala de produção mundial desencadeia a necessidade da aceleração dos processos naturais e a baratear o custo, o que traz à tona o uso de tecnologias não sustentáveis e saudáveis para nossa mesa. 

O uso dos agrotóxicos se inicia como arma química nas grandes guerras mundiais e passa a ser ingerido pela sociedade na revolução verde quando usado como pesticida para as plantações. Atualmente, seu prejuízo na saúde humana e ambiental é comprovado, mas sendo comandado pelo grande poder aquisitivo do país e do mundo, a sociedade está vendida à grande produção agrária. Então, com a revolta do descaso atribuído ao uso dos pesticidas, seja no âmbito político ou dos direitos humanos, as produções de orgânicos têm tomado força no Brasil, através principalmente da agricultura familiar dos pequenos produtores e do MST- Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, baseado na matriz da agro-ecologia.

A agro-ecologia é muito maior do que fazer uma produção sem agro-tóxicos ou um  selo orgânico, pesquisada por Anna Primavesi, é uma alternativa sustentável que enxerga o ser humano como parte da natureza e busca esse equilíbrio entre os dois. Como explica Guto, do coletivo de saúde do MST,  “ nossa pauta política é justamente o Estado ser indutor de uma agro-ecologia e sair dessa matriz do pacote do veneno, do pacote da semente, do controle que vem da produção e da comercialização até o consumo, para uma lógica de produção agro-ecológica, que vai garantir um alimento barato, orgânico e saudável  para  a população brasileira. Nosso projeto de agricultura não é um projeto que pensa em comidas orgânicas para determinados nichos, e sim, queremos que todos os brasileiros tenham acesso a comidas sem transgênicos, agro-tóxicos e agro-ecológicos”. 

Pautado dentro dos movimentos sociais, o Movimento Sem Terra nasce no cenário da ditadura e, diferente do discurso da direita, busca a regulamentarização das distribuições de terras, até então historicamente concentradas nas mãos dos grandes proprietários. Como acrescenta Guto, “se nós pudéssemos dar um rosto para o movimento sem terra, traduzir a cara de um sem terra, ele seria de uma mulher negra, que é negado o acesso à posse e o trabalho na terra do Brasil. A gente consegue falar da ausência de reforma agrária a partir inclusive do movimento da escravidão que ocorreu no Brasil”. 

E reforça, “se pegarmos marcos legais que foram, a lei de terras no Brasil a lei que vai falar como o País  organiza a posse e usa o fruto da terra, ela é anterior a lei de abolição da escravidão no nosso pais. Isso não é por acaso, foi feita anteriormente justamente para dar os benefícios para os grandes produtores, grandes colonizadores, os parceiros das sesmarias”. E assim segue até hoje, com o movimento do agro-negócio não existe uma distribuição de terras, mas sim uma concentração e até a violação das terras dos povos originários. 

Repleta de tecnologia e ciência, a produção de orgânicos do MST, vai além de uma produção sem veneno, “A produção orgânica luta por outro modelo de agricultura, uma agricultura que não seja voltada para a monocultura para exportação, com um degradamento e um sequestro de água enorme, como acontece no agro-negócio. Não há como o agro-negócio ser orgânico,  não degradar, pois a lógica de produção  dele está relacionado a isso, é sua gênese de funcionamento desde a revolução verde”, ressalta Guto.

O MST, independente do cenário político atual e futuro, é uma alternativa consciente e necessária para a manutenção do desmatamento brasileiro,  o agro-negócio tem seu papel importante no PIB brasileiro, mas é degradador e  excludente. Há de existir um equilíbrio agro-ecológico entre as ações do ser humano e do meio ambiente, por isso é um movimento que pode mover o futuro do País, desde o âmbito ecológico até dos direitos humanos, com as legislações trabalhistas e a luta pelo trabalho digno dos camponeses. 


 

 










 

Ainda resta a dúvida sobre os benefícios da imersão total em ambientes digitais
por
Lucca Andreoli
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13/11/2022 - 12h

Por Lucca Andreoli


Inúmeros estudos são frequentemente realizados para identificar as mudanças que a tecnologia causou na humanidade. Toda a área profissional tem mudado em torno disso, sempre tendo que se adaptar às suas alterações, assim como o meio educacional. Diversos jovens são formados no ambiente tecnológico e, recentemente, tornou-se possível enxergar as consequências das mudanças no quadro da informática no final da década de 90 e início dos anos 2000.

Na vida de Marcelo Oliveira, a tecnologia sempre foi presente. Desde a infância, o hábito de jogar vídeo games está presente. Faça chuva, faça sol, sozinho ou acompanhado, recorria aos consoles, computadores e televisões para passar o tempo. Como morou com os avós por alguns anos, numa rua não tão segura, não tinha muitas oportunidades para sair e brincar fora de casa. Quando suas irmãs estavam muito ocupadas para lhe fazer companhia, aguardava ansiosamente pelo regresso de seu pai, que passava horas incontáveis no trabalho e acabava não tendo tanto tempo para seu filho. Claro que em algum momento, se acomodou a seu isolamento, e mais atividades passaram a ser feitas nas telas. O hobby passou a ser levado mais a sério, e cursos e estudos virtuais se encaixaram mais adequadamente a sua agenda. Não demorou muito para começar a trabalhar nesse meio também. 

Tudo isso o levou onde está hoje, mas não se perguntar a respeito das vantagens e desvantagens disso parece algo inevitável. Não que seja necessário afirmar que passar muito tempo nos computadores fez bem ou mal, mas entender um pouco mais dessa jornada pode acrescentar bastante. Marcelo se lembra desses momentos com certo afeto, uma nostalgia. Entende que talvez tenha perdido algumas experiências de grande importância, mas não há arrependimento em seus olhos simpáticos. Reconhece que tudo o que faz hoje se deve a isso.

O exagero é o que o incomoda. É nítido em sua face que gostaria de ter tido uma infância mais “antiquada” de vez em quando. Alguns problemas já o acometeram, e dificuldade social foi uma preocupação por bastante tempo. Uma preocupação já superada, mas originada do contato excessivo com as máquinas, enquanto o contato humano ficou para segundo plano.

Quando questionado a respeito das futuras gerações e seu contato com novas tecnologias, pareceu bem otimista! Agitado, e com alguma identificação, elogia as crianças dessas últimas gerações. Não parece surpreso, e pouco divaga em seus pensamentos. Tem muito claro para si que as crianças aprendem rápido. Mais rápido do que as gerações anteriores, além de serem extremamente ligeiras. Nota seu interesse extremo em atividades e coisas que as agradam, assim como a velocidade em que se desinteressam (também mais rapidamente do que as gerações anteriores). Cada vez as coisas ficam mais rápidas, as crianças, menos pacientes e mais imediatistas. Isso parece ser perigoso o suficiente para assustá-lo e fazê-lo sugerir mais controle por parte dos pais, pois “tem grande perigo aí.”