Por Rafaela Reis Serra
A 34ª Bienal Internacional de São Paulo conta com mais de 1100 obras de 91 artistas de todos os continentes, ao mesmo tempo em que, as tecnologias atuais mais inovadoras não foram utilizadas para compor a exposição, fazendo o uso de maior parte de quadros, esculturas e projeções audiovisuais, objetos frequentes há muito tempo no cenário cultural. Entretanto, seu objetivo foi focar no presente momento político em que o País vive, mostrando que a arte sobrevive frente ao sucateamento da cultura promovido pelo Governo Federal.
A arte geralmente é o retrato do momento atual e, concomitantemente, a face vanguardista do futuro. A edição da Bienal deste ano, conta com muitos quadros de artistas já consolidados no mundo artístico; outros mais recentes, como a artista Grace Passô e é a primeira edição com maior representatividade indígena, como Jaider Esbell (1979-2021). Porém, sem tecnologias atuais como realidade virtual, realidade aumentada ou NTFs, muito presentes na esfera pública no momento vigente.
“Na trajetória da arte contemporânea, o tipo de experiência que sai para além do olhar, é uma coisa que vem se tornando cada vez mais comum, por exemplo, a Lygia Clark. É algo que vem para ficar no sentido de que houve uma espécie de esgotamento da visão, e os artistas estão procurando trabalhar com outros sentidos”, diz o curador e professor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Marcus Vinicius Fainer Bastos, sobre a arte contemporânea.
O título “Faz Escuro, mas eu canto”, em alusão aos tempos de repressão no Brasil (1964-1985) e, por conseguinte sua resistência, conta com obras como de Hélio Oiticica (1937-1980), Lasar Segall (1889-1957) e Antonio Dias (1944-2018). Segundo o curador Jacopo Crivelli Visconti, em entrevista à PUC, o título ressoa muito nítido no momento em que se está e, mais ainda, por tudo que se vive nos últimos meses com a pandemia, se comparado a ocasião em que se estava quando escolheram o tema. “Ao falar de escuridão, essa metáfora que o poeta coloca, estamos pensando mais numa situação política e social, questão que são parte da história do Brasil desde a colonização. Veio a pandemia e agravou de maneira muito evidente todas essas questões e o título se tornou ainda mais forte.”
Visconti esclarece que no título, baseado no poema do autor Thiago de Mello (1926), claramente está se vivendo um momento extremamente tenso e problemático de inúmeros pontos de vista, mas que apesar das circunstâncias, defende a necessidade e o desejo de cantar. “Para gente era o contraponto essencial, porque queríamos fazer uma Bienal que fosse nitidamente em resposta a tudo que vemos ao redor, mas que também conseguisse ter a coragem de não se limitar àquilo.”
A curadora Stephanie Guarido afirma que existem bastantes obras atuais que poderiam ter sido utilizadas em alusão à resistência e ao momento político atual, como as que estão presentes na exposição: as de Jaider Esbell, Daiara Tukano e Paulo Nazareth. “Porém, é sempre necessário relembrar a obra de artistas como Antonio Dias, este que faleceu recentemente e teve grande parte de sua produção interpelada pela ditadura militar e seus efeitos. Olhar o presente também é relembrar o passado, que nunca pode ser esquecido.”
Guarido defende que a grande estrela são as questões políticas e principalmente indigenistas, logo, não crê que a virtualidade esteja presente na mostra. “As tecnologias são importantes, mas as ideias por trás das obras devem ser o maior fator para seleção.”
A questão tecnológica
Para não falar que não há inovações da época presente, a Bienal apresenta uma experiência imersiva no andar térreo, logo em sua entrada, onde o expectador utiliza fones de ouvido, sendo sons da natureza ao fundo e a orientação de uma voz feminina - muito parecida com as vozes robóticas de aplicativos como Google Tradutor ou Google Mapas - com comandos como: “ande sem alguém por perto”, “coloque as mãos para trás” entre outros, permitindo que o público tenha um experimento singular.
Marcus Bastos afirma que a ausência de quadros em certas exposições é devido a um período da arte contemporânea que os artistas pararam de fazê-los, mas que a relação com eles é inesgotável: “a pintura, escultura, todos os formatos mais clássicos da arte são inesgotáveis, as pessoas sempre vão ter experiências muitos ricas em relação a essas mídias. A arte contemporânea deixou de fazer pinturas com tanta freqüência e tudo tem que ser adequado ao contexto.”
O que é a Bienal
A Bienal surgiu a partir de obras trazidas por Francisco Matarazzo, o “Ciccillo”, em 1951, ao Brasil, promovendo em São Paulo a reunião de variadas obras de diferentes artistas mundiais. Foi baseada na Bienal de Veneza, criada em 1895. Há 70 anos, a segunda bienal mais antiga do mundo acontece em São Paulo e seu nome é devido ao fato da exibição acontecer a cada dois anos. Este evento foi responsável por inserir a cidade paulistana no circuito mundial da arte contemporânea.
Segundo Agnaldo Farias, curador da 29ª Bienal de São Paulo, “A Bienal é o lugar do não cotidiano, é o lugar da invenção, é o lugar da liberdade. Mostra o que está acontecendo agora, o quê é mais radical, o quê é mais transgressivo, o mais ousado, porque o resto, os museus não contam”, além de manifestar o futuro da expressão e o “amanhã” da arte.
As assistentes virtuais são, definitivamente, uma sensação do marketing digital. Com a função de humanizar a relação entre cliente e marca, as personagens trazem informações, oferecem soluções e tiram dúvidas. Todavia, nem tudo que envolve essa tendência é positivo. O fato da maioria das assistentes serem mulheres abriu margem para um grande número de assédios, tanto morais quanto sexuais. Desse modo, a comunicação entre o consumidor e a empresa se torna mais ágil e eficiente, porém essa facilidade pode ser problemática também.
Na realidade, a ideia é criar um avatar que carregue os valores da empresa e que através dele, as pessoas se identifiquem com os produtos e se tornem potenciais clientes. Além disso, as assistentes podem servir como cartão de visitas de uma determinada marca e/ou podem atuar como influenciadoras digitais. O propósito é ter a imagem de como a marca seria se fosse um indivíduo, o que potencializa o reconhecimento da marca, já que o “rosto” da personagem estará sempre atrelado a alguma ação da empresa.
Em suma, é preciso que a personalidade do personagem agrade o público alvo. Atualmente, vender apenas produtos já não é mais suficiente, é preciso vender valores e para isso, é preciso uma figura humana, nem que ela seja apenas virtual.
Em decorrência da adesão popular desses personagens, as empresas estão, cada vez mais, investindo nesse suporte on-line. Na atualidade, há uma variedade delas, como a Bia, do Bradesco; CB, das Casas Bahia; Sam, da Samsung; Nat, da Natura e a Lu, da Magazine Luiza.
Conforme informam os dados do Magazine Luiza, a estratégia tem dado certo. Afinal, analisaram que 60% dos indivíduos que entram em contato com a assistente não precisam dialogar posteriormente com o SAC.
Sob essa perspectiva, nota-se um crescimento e alcance significativos das assistentes virtuais. No ano passado, a Ilumeo, empresa de ciência de dados, fez uma pesquisa que contabilizou o aumento de 47% na utilização de serviços com assistentes virtuais por voz.
A Lu registrou 8,5 milhões de interações no primeiro semestre de 2020. Além disso, sua inteligência artificial evoluiu. Agora, conta com a plataforma IBM Watson Assistant, que possui uma variedade de programações capazes de executar diferentes serviços e passou por atualizações para englobar informações a respeito do rastreio de pedidos e curiosidades sobre ela mesma.
Outra robô influenciadora que teve a adesão do público no ciberespaço é a Mara, da Amaro. Contando com mais de seis mil seguidores no Twitter, ela compartilha, na rede social, informações sobre a marca e até mesmo utiliza memes e comenta sobre notícias que viralizam na internet.
Desde que as sessões de fotos presenciais com equipes foram suspensas, devido à pandemia da Covid, a fashiontech começou a buscar alternativas para produzir conteúdos remotamente. “A modelo virtual foi projetada para atender às demandas da equipe de marketing e produtos para a criação das campanhas e lookbook em tempos de isolamento social”, explica Luciana Cardoso, diretora de criação da Amaro, para a Harper’s Bazaar Brasil.
Tendo como intuito ajudar a empresa em diferentes atividades, a personagem Mara foi criada através de uma técnica mista que contou com o trabalho de diversos profissionais, como fotógrafos, modelos, designers e programadores.
A Amaro criou um perfil mais humanizado para a Mara, atribuindo data de aniversário, preferências e gostos. Inclusive, no site da marca é exposto que seu visual é baseado em dados e sua personalidade em seu mapa astral.
Uma outra estratégia com finalidade de gerar conexão com o público foi uma ação da marca de incentivo à autoestima. Através de uma enquete no Instagram da Amaro, a modelo virtual apresentou alternativas para mudar de visual. Cerca de 75% dos participantes optaram pela transição capilar da assistente. No decorrer do movimento, ela relatou nas redes como estava sendo o processo de deixar as químicas e aceitar sua nova versão.
Entretanto, precisamos ressaltar que o assédio virtual também é uma realidade. Um estudo chamado “I’d Blush If I Could” (“Eu ficaria corado se pudesse”), divulgado pela Unesco em 2019, revelou que ao serem assediadas verbalmente, as assistentes virtuais são passivas.
O fato dessa tecnologia ser interligada à figura feminina, acarreta muitas vezes que ela seja submetida à misoginia, tal como as mulheres reais. E, dependendo da área do negócio, a imagem feminina pode não ser vista como ideal, principalmente, em assuntos de cunho masculino. Empresas de finanças e investimentos usam vozes masculinas, pois o público dá mais credibilidade.
“Quando se pensa que o mundo da tecnologia tem um público majoritariamente masculino, branco, heterossexual, e muitas vezes, de uma classe econômica com um certo poderio econômico, essas questões estruturais para a sociedade não são tão relevantes para essas pessoas que estão construindo o chatbot.”, disse Livy Real, doutora em Linguística pela Universidade Federal do Paraná, ao Jornal da USP.
Em 2020, o Bradesco registrou 95 mil mensagens ofensivas para a Bia. Em campanhas publicitárias, o banco se posicionou contra o assédio que sua assistente recebeu, comunicando que ela não tolera mais esse tipo de ataque.
Valéria Vieira, fundadora da Startup Langue, apontou para o Jornal da USP que, ao utilizar uma voz feminina, as assistentes são associadas a um imaginário machista, que liga a mulher ao cuidado, afeto e a subserviência.
Por conta dessas situações, a Unesco, em 2020, lançou a campanha #HeyUpdateMyVoice (“Ei, atualize minha voz”), onde mulheres gravassem respostas às ofensas sofridas por assistentes virtuais. A instituição orientou que essas tecnologias respondessem de forma mais contundente, auxiliando na educação da sociedade contra o assédio.
Por Danilo Zelic
Segundo estudo do INCA (Instituto Nacional de Câncer), Risco de iniciação ao tabagismo com o uso de cigarros eletrônicos: revisão sistemática a mete-análise, publicado na revista Ciência & Saúde Coletiva, da Associação Brasileira de Saúde Coletiva, a utilização do cigarro eletrônica (e-cigarette) aumenta em mais de três vezes o risco de experimentação e mais de quatro vezes o risco de uso, ambos de cigarro convencional.
Esse resultado vai na contramão do que geralmente se escuta atualmente, principalmente pelos mais jovens: a afirmação de que o cigarro eletrônico ajuda a largar o vício do cigarro convencional, substituindo ou funcionando como um tipo de redução de danos, por aparentar menor dano à saúde.
Segundo a Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), em 2020, o porcentual de fumantes com 18 anos ou mais, idade permitida legalmente para o uso da substância no Brasil, é de 9,5%, sendo 11,7% entre homens e 7,6% entre mulheres. Em relação a população abaixo dos 18 anos, a PeNSE (Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar) de 2019, realizada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e Ministério da Saúde, com apoio do Ministério da Educação, revelou que a porcentagem de jovens estudantes de 13 a 17 anos que fumam é de 6,8%, sendo maior a quantidade de meninos que fazem o uso do tabaco, 7,1%, em comparação às meninas, 6,5%.
Com relação ao cigarro eletrônico, o mesmo estudo demostrou que a prevalência de estudantes que experimentaram o cigarro eletrônico é maior na rede privada do que na rede pública. No Brasil, 16,6% dos estudantes entre 13 e 17 anos da rede público experimentaram o cigarro eletrônico, contra 18% da rede privada. Segundo pesquisa do DataFolha, em parceria com a ACT (Aliança de Controle do Tabagismo) Promoção da Saúde, lançada esse ano, 3% da população acima de 18 anos faz uso diário ou ocasional do cigarro eletrônico, ou DEFs (Dispositivos Eletrônicos para Fumar).
A ideia passada inicialmente pelas fabricantes do dispositivo, era de ser menos nocivo ao cigarro convencional, sendo assim, seguindo a lógica das empresas, uma ótima alternativa para tabagistas substituírem o cigarro convencional pelo eletrônico. Porém, segundo a médica epidemiologista Liz Almeida, coordenadora de Prevenção e Vigilância do Inca, não é bem isso que a ciência tem demonstrado. “Com o tempo, a gente foi vendo que ele não era tão bonzinho assim. Tem riscos porque tem substâncias que também são cancerígenas”, disse à Agência Brasil.
Quando estudos mais robustos começaram a demonstrar que o DEFs causa danos à saúde, como o cigarro convencional, a lógica por trás do marketing das empresas passou a ser outra: visar um público mais jovem. Além de conter nicotina, o dispositivo passou a ter um diferencial, sabores artificiais que imitam frutas e doces. Essa lógica, que visa o público jovem a consumir um produto exclusivo para adultos já era conhecida no ramo da industrial do tabaco, com a produção de cigarros com o sabor de menta, cereja ou cravo.
Em reportagem da Folha de S.Paulo, Diogo Alves, consultor nacional da Opas (Organização Pan-Americana da Saúde), comenta sobre a lógica por trás das variedades dos sabores, ressaltando que são produtos para crianças e adolescentes. “Não são sabores para quem fuma, são claramente voltados para a iniciação [do jovem], para mascarar a aspereza da nicotina. A indústria fala em redução de danos para adultos, mas quem faz uso desses produtos são crianças, adolescentes”.
Irregular no País desde 2009, segundo determinação da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), o comércio de cigarros eletrônicos segue firme e se estabilizando. Reportagem produzida este ano, pelo portal de notícias Poder 360, percorreu a Feira dos Importados, localizada em Brasília, mostrando que, dos 46 corredores da feira, 14 eram tabacarias, sendo que só duas não vendiam o dispositivo e dez delas vendem exclusivamente os DEFs.
Por Danilo Zelic
A Lei 11.340, mais conhecida como a Lei Maria da Penha, sancionada em 2006, completou 15 anos. Importante marco da luta social no combate à violência contra a mulher, enfatizando que o Estado pode intervir sobre o que se passa no ambiente privado, ainda mais quando uma pessoa corre risco de vida. Com a chegada da Internet e a facilidade que ela trouxe, novas formas de enfrentamento surgiram para além das denúncias via telefone ou no ambiente presencial, como aplicativos para celulares e canais de denúncia que podem ser acessados pelos navegadores da web.
METE A COLHER
A partir de um áudio de WhatsApp ter sido compartilhado em um grupo com diversas mulheres do Brasil, que captava o momento exato em que o marido batia em sua esposa, a jornalista e uma das idealizadoras do projeto, Rede Mete a Colher – nome que faz alusão a infeliz frase popularmente conhecida, “em briga de marido e mulher, ninguém mete a colher” – Renata Albretim, que participava de um evento de tecnologia e inovação, junto com outras mulheres, decidiu criar alguma ferramenta para auxiliar mulheres vítimas de violência a compreender a situação que estão passando e como podem sair daquela situação sem sofrerem mais violência. Foi assim que surgiu o Mete a Colher. Em detalhes, Albetrim conta no programa Comutah, da TV Fórum, como foi o processo de criação do aplicativo.
"Ninguém sabia muito bem o que fazer diante daquela situação, ou seja, essa mulher não conseguiu ser muito bem ajudada, orientada, auxiliada. A nossa equipe se juntou, começou a refletir e a se aprofundar mais sobre o problema”. Em sua fala no programa Comutah, ela explica os pontos chaves que o aplicativo forneceu para ajudar a mulher em algum caso de violência. “Elas entrariam nesse aplicativo, uma mulher que estava ali disposta a ajudar de forma voluntária, seja porque ela é advogada, psicóloga, ou porque ela tem conhecimento ou já teve essa experiência entra também”, explica.
Albetrim enfatiza que a ideia do aplicativo, para além de escutar os relatos de mulheres que sofreram algum tipo de violência, o que o coletivo tenta fazer é “dar um encaminhamento que na nossa visão é o ideal”. “Toda a nossa ajuda, para além da empatia, de acolher, reafirmar as experiências e as dores delas, a gente encaminha essa mulher para ela ser assistida, para ela ser atendida pela rede pública de enfrentamento à violência contra a mulher”, diz a jornalista.
Por problemas financeiros, o aplicativo Mete a Colher saiu do ar no começo de 2020, porém a Rede Mete a Colher criou algo semelhante, voltado para o ambiente de trabalho. Desenvolveram o “Tina ajuda me”, aplicativo nos moldes do “Mete a Colher”, que orienta mulheres no mercado de trabalho, prestando serviços para empresas, possibilitando que as funcionárias das empresas utilizem o aplicativo caso passem por uma situação de violência doméstica ou no trabalho.
PENHAS
Desenvolvido pela jornalista e ativista feminista, MaríliaTaufic, e logo em seguida, idealizado em parceria com a revista digital AzMina, o “PenhaS” – nome que faz menção ao sobrenome da mulher que deu origem a Lei, Maria da Penha – é um aplicativo surgido em 2019 que nasceu sob o mesmo argumento do “Mete a Colher”, “fazer um enfrentamento mais direto, mais efetivo” em relação ao combate à violência contra mulher, como conta Thais Folego, jornalista e co-diretora da revista, no episódio “Azmina e o aplicativo Penhas”, do programa de podcast Olhares.
"É uma forma muito efetiva realmente de como essa atuação online se dá nesse mundo offline, nesse mundo prático no dia a dia de mulheres que estão vivendo um relacionamento abusivo ou uma situação de violência de fato”, diz Folego. A jornalista elenca três pilares que o aplicativo possui: trazer informação; a possibilidade de acolhimento; e o pedido de ajuda e denúncia.
Sobre o ponto de "trazer informação”, no Podcast "Folego" comenta que é mais em um sentido pedagógico, ou seja, de passar alguma informação adiante e ao mesmo tempo educar aquelas que tiveram acesso a ela. “A Lei Maria da Penha traz cinco tipos de violência contra a mulher, mas muitas mulheres acham que só quando a violência é física, que ela é, de fato, uma violência que pode ser denunciada. O App tem um quiz, para ajudar essa mulher a identificar se ela está em uma situação de violência ou não”. Lembra também da possibilidade que a usuária tem em acessar um mapa, onde pode se informar qual é o ponto de atendimento mais próximo, serviços públicos como delegacias, onde ela pode fazer uma denúncia, ou uma rede de acolhimento, caso não consiga uma medida protetiva que distancie o agressor do seu ambiente doméstico.
MARIA DA PENHA VIRTUAL
Mais voltado para a questão prática do que propriamente pedagógica, o Maria da Penha Virtual é um aplicativo desenvolvido por estudantes de direito e pesquisadores do Centro de Estudos de Direito e Tecnologia (CEDITEC) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com o intuito de agilizar pedidos de medidas protetivas de urgência das mulheres vítimas de violência no estado do Rio de Janeiro.
Rafael Wanderley, estudante de direito e pesquisador do CEDITEC, explica, na reportagem produzida pela TV ADUFRJ (Associação dos Docentes da Universidade Federal do Rio de Janeiro), o funcionamento do aplicativo online, que diferentemente do Mete a Colher e o PenhaS, pode ser utilizado em qualquer plataforma. “Ele é um webapp [aplicativo de web]. Para qualquer dispositivo eletrônico ele se ajusta, para celular, computador ou tablet”.
Além do seu funcionamento, o diferencial é a possibilidade que a vítima que sofreu a violência possui para gerar um pedido de medida protetiva. Na seção “Como funciona o processo?”, há uma explicação em três partes de como se dá o processo após o pedido de medida protetiva. O primeiro passo é, “a vítima responde nosso formulário com os dados que precisamos para gerar um pedido de medida protetiva”; o segundo passo, “nosso sistema gera um pedido de medida protetiva e envia para um(a) juiz(a), com segurança e sigilo”; e o terceiro passo, “o (a) juiz(a) irá avaliar o caso e julgar as medidas a serem tomadas para assegurar a proteção da vítima”.
O Analista do Ministério Público e Pesquisador do CEDITEC, Hassany Chave, na mesma reportagem da TV ADUFRJ, comenta o ponto principal do aplicativo. “Nosso foco é a efetividade e garantia do acesso à Justiça”.
Por Mayara Neudl
A nanotecnologia gera dispositivos cada vez menores, mais leves, mais baratos e com maior funcionalidade. Seu objeto de estudo, os nanomateriais, são invisíveis aos olhos, mil vezes menores do que células, dezenas de milhares de vezes menores do que a espessura de um fio de cabelo e bilhões de vezes menores do que uma formiga.
Aparelhos gerados a partir desses componentes reduzem o consumo de energia, ao mesmo tempo em que melhoram sua velocidade de resposta e performance. Um exemplo disso são os smartphones, que nada mais são do que os gigantescos computadores antigos transformados em objetos leves, compactos e com muitas mais funcionalidades.
Hoje existem duas técnicas para a produção de nanoestruturas. A top-down, mais utilizada na indústria, que produz os micro e nanochips dos dispositivos tecnológicos atuais. E a bottom-up que é voltada para ensaios químicos e biológicos que precisam de alto controle.
Além de mais sustentáveis tecnologicamente - por gerar dispositivos que economizam energia -, há também pesquisas voltadas para o contexto ambiental que envolvem o uso de nanomateriais, como remediação ou prevenção de poluição, onde são usados como catalisadores para mutação de substâncias nocivas em inócuas; ou então na extração de poluentes de água contaminada, por exemplo. Este é o tema de uma das pesquisas recentes de Lucas Bitencourt Theodoroviez, mestrando em ciência e tecnologia espacial, com ênfase em química de materiais pelo ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica), bacharel em química pelo Instituto de Química da UNESP, pesquisador com foco em materiais com aplicações elétricas e eletroquímicas, materiais porosos e nanotecnologia, com especialização em química inorgânica e de coordenação, e, também, em caracterização de materiais.
Lucas conta que uma das grandes preocupações acerca destes materiais é relacionada, também, ao seu tamanho. Como são partículas extremamente pequenas, sua separação de outros meios possui complicações, e, dessa forma, se não controladas e instauradas de maneira correta, podem gerar resíduos tóxicos ao ambiente e aos seres vivos. “Já é conhecido que, tais materiais em contato com a circulação sanguínea, podem desencadear uma reação inflamatória como mecanismo de defesa do organismo, uma agregação pode gerar embolia, tanto na corrente sanguínea, quanto nos alvéolos pulmonares. Além disso, podem interagir com proteínas e impedir a atividade de enzimas ou até mesmo resultar na produção de radicais altamente reativos gerando danos no DNA.”.
Numerosos estudos têm mostrado que as interações biológicas entre materiais e alvos biológicos dependem da composição química, propriedade de superfície, tamanho e morfologia das partículas. Esses nanomateriais podem apresentar diferentes níveis de toxicidade (aguda, sub-crônica e crônica) e os fatores de risco em humanos são governados pelo nível de exposição, tamanho de partícula, reatividade e biodistribuição. Cabe ressaltar que os impactos estão associados ao tipo de exposição do nanomaterial (oral, dérmico, intravenoso e inalação), sendo o tamanho de partícula o principal ponto a se observar.
Lucas também afirma que, em contrapartida, existe também o impacto positivo das nanopartículas para a saúde: “Podendo-se citar, imageamento celular in-vitro ou in -vivo, nas sondas biológicas fluorescentes, entrega de drogas (fármacos), terapias de câncer, bactérias, entre outros.”.
Por fim, o pesquisador nos conta como está o desenvolvimento industrial da aplicação de nanomateriais no Brasil em relação ao mundo, “No Brasil, ainda estamos em um contexto de desenvolvimento de indústria técnica nessa área, apesar de termos muitos pesquisadores e cientistas capacitados com elevado grau de conhecimento no tema. No entanto, esse conhecimento ainda é mais difundido no meio acadêmico em detrimento do industrial. A nanotecnologia presente no nosso país é, basicamente, provinda de importações, enquanto que as do meio acadêmico são em maior parte voltadas ao setor biotecnológico.”.
Há diversas indústrias atualmente que trabalham com nanotecnologia e nanociência como as de biotecnologia, mecânica, cosmética, farmacêutico, luminescência, eletrônica, forense, aeroespacial, automotiva, materiais térmicos, tintas, e muitas mais. É uma das áreas científicas que mais tende a crescer.