Cientistas brasileiros deixam o País em busca de melhores oportunidades no mercado científico
por
Brenda Martins
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19/11/2024 - 12h

Por Brenda Costa Martins

 

Enquanto nossos melhores pesquisadores são acolhidos por laboratórios estrangeiros e embarcam em direção aos países que valorizam a academia e a ciência, ficamos à margem das grandes inovações e descobertas científicas, como espectadores de um progresso que poderíamos estar liderando. A formação de cientistas no Brasil enfrenta uma crise profunda, marcada não por apenas dificuldades estruturais como a escassez de equipamentos em Universidades e laboratórios, mas também pela falta de incentivo à estudantes para que sigam na área acadêmica de pesquisas, além das oportunidades limitadas desse marcado no país. Nos últimos anos, temos assistido a uma crescente “fuga de cérebros” — fenômeno em que profissionais qualificados, principalmente cientistas e pesquisadores, optam por desenvolver suas carreiras no exterior, sendo atraídos por melhores condições de trabalho e valorização profissional. Fuga que tem sido alimentada pela escassez de investimentos no campo da ciência e da tecnologia no país.

Desde 2015, cortes orçamentários intensos afetaram diretamente a manutenção de bolsas de estudo, o financiamento de projetos de pesquisa, bem como a continuidade de programas de pós-graduação em diversas áreas. Com menos verbas, muitos laboratórios foram fechados e projetos interrompidos, situação que acabou por criar um ambiente de insegurança e instabilidade para jovens pesquisadores que desejam contribuir com o avanço científico no país.

Nos centros de excelência, como a Universidade de São Paulo (USP), Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), e a Universidade Federal do ABC (UFABC) doutores e mestres formados com alto nível de competência se deparam com um mercado de trabalho retraído. Apesar de contar com instituições de ensino que formam profissionais altamente capacitados, os cortes e as limitações severas no mercado de trabalho continua a fazer com que esses cérebros embarquem para o exterior buscando oportunidades de maior rentabilidade e visibilidade pois para muitos desses cientistas, o ambiente brasileiro se mostra inviável para o desenvolvimento de suas carreiras.  Mesmo entre os profissionais que conseguem uma colocação, as condições de trabalho são frequentemente limitadas, com infraestrutura insuficiente e salários que não condizem com o nível de formação e as exigências da carreira científica.

Esse êxodo de cientistas gera impactos econômicos e sociais observados em longo prazo. Ao investir na formação desses profissionais e, em seguida, vê-los partir para outros países, o Brasil perde o retorno desse investimento, bem como a possibilidade de desenvolver inovações e avanços tecnológicos que poderiam impulsionar setores como saúde, agronegócio e tecnologia. Fato que evidencia outro problema: Não é preciso investir apenas na educação básica e incentivo aos jovens cientista se, no futuro, eles não terão um lugar nas grandes corporações, já que as poucas que existem no país continuam não oferecendo benefícios tão competitivos quantos os de vagas alocadas no exterior, sedes dessas empresas.

Para cientistas como Paula Rezende, doutora em Biomedicina, a decisão de deixar o Brasil é dolorosa, mas necessária. Após anos lidando com infraestrutura insuficiente e atrasos em recursos para pesquisa, ela aceitou uma proposta de trabalho na Alemanha, onde encontrou o ambiente ideal para continuar seu trabalho. Casos como o de Paula são cada vez mais comuns, o que ilustra como o cenário nacional tem se tornado um impeditivo para o progresso da ciência e da carreira dos profissionais brasileiros. A falta de oportunidades no Brasil também gera uma lacuna na academia e nas universidades, onde a quantidade de concursos e oportunidades para docentes e pesquisadores é insuficiente para absorver os doutores formados a cada ano. O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) aponta que cerca de 25% dos doutores no Brasil ficam fora do mercado de trabalho adequado à sua formação, o que leva muitos a buscar alternativas no exterior, onde há mais estabilidade e reconhecimento.

Elisabeth Balbachevsky, professora da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) e coordenadora científica do Núcleo de Pesquisa de Políticas Públicas (NUPPs) da USP, tem outra visão. A professora tenta analisar um lado positivo desse fenômeno da "fuga de cérebros", as mentes que vão embora do Brasil buscando melhores oportunidades podem "se inserir em redes de pesquisa internacionais, o que poderá ter um impacto extremamente positivo, porque irão se tornar lideranças brasileiras e, uma vez de volta ao Brasil, trarão novas expertises e abordagens para o País", diz a pesquisadora. Uma vez que esses cientistas brasileiros conseguem cada vez mais se estabelecer nas gigantes da tecnologia, por exemplo, o país indiretamente está ganhando reconhecimento, o que pode fazer com que os olhos dessas grandes corporações se voltem ao Brasil. Ainda que a "fuga" desses pesquisadores seja prejudicial no início, com mais profissionais produzindo ciência de qualidade em um ambiente no exterior que comporta suas necessidades, podemos colher frutos no futuro. Afinal, para que grandes corporações se desenvolvam no país, é preciso ver que a população tem capacidade de produzir recursos que possibilite sua expansão.

Outro fator que importante ser destacado é a busca pelo incentivo ao empreendedorismo desses jovens cientistas. Grandes empresas como o Facebook e a Amazon surgiram de um pequeno projeto de seus fundadores enquanto ainda eram estudantes, desenvolvendo uma start-up na garagem de suas casas. É claro que, a qualidade de ensino de ciências nas Universidades americanas possibilitam que seus alunos desenvolvam o pensamento empreendedor, enquanto no Brasil, os alunos são incentivados a bucar emprego fora, em empresas já estabelecidas, fator resultado do cenário de instabilidade não apenas do mercado científico, mas também do empreendedorismo. Algumas escolas de redes particulares no país contam com matérias de empreendedorismo e educação financeira, por outro lado, escolas da rede pública e estaduais se encontram em um cenário totalmente diferente. Ainda há um grande caminho a trilhar para que o acesso à uma educação de qualidade seja uma realidade igualitária entre todos os estudantes do país.

Propostas como a criação de um fundo nacional para Ciência e Tecnologia, que garanta recursos contínuos para a pesquisa, são defendidas por entidades como a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). Outra alternativa é fortalecer as parcerias entre universidades e empresas, criando oportunidades de inovação e desenvolvimento em conjunto com o setor privado, o que poderia abrir novas frentes de trabalho para cientistas dentro do Brasil.

Enquanto não houver um comprometimento estrutural e financeiro com a ciência, o Brasil permanece vulnerável à saída de seus talentos. A fuga de cérebros se torna um símbolo das dificuldades enfrentadas pela ciência brasileira, limitando o potencial de avanço científico e tecnológico do país. A valorização da ciência e o investimento em condições de trabalho são essenciais para que o Brasil não apenas forme cientistas, mas também consiga retê-los e fortalecer sua base científica para o desenvolvimento nacional e reconhecimento internacional.

Produzir orgânicos é um desafio que envolve altos custos, manejo artesanal e um compromisso com a sustentabilidade.
por
NINA JANUZZI DA GLORIA
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12/11/2024 - 12h

Por Nina J. da Glória

 

No coração de uma pequena fazenda nos arredores de São Paulo, a paisagem exibe fileiras simétricas de verduras, um campo verde que mais parece um quadro pintado com paciência e precisão. Cada folha simboliza uma promessa livre de químicos, cultivada à mão, mas também testemunha de um trabalho árduo, invisível ao consumidor final. Esse é o cotidiano de Mariana Silva, uma agricultora que decidiu, há quase uma década, abandonar a produção convencional para dedicar-se ao orgânico. No início, acreditava que seria um retorno ao básico, uma reconexão com a natureza. Mas a realidade mostrou-se mais densa e complexa do que o imaginado. O solo, como um organismo vivo, exigia constantes cuidados e uma compreensão que ia além dos métodos tradicionais. Cada semente carregava uma incerteza, e cada colheita trazia consigo os riscos de uma produtividade menor, vulnerável a pragas e intempéries. "O solo não aceita pressa", sua frase parece pairar na atmosfera ao redor das hortas, impregnada de paciência e resignação.

Nas redondezas, em outra propriedade de São Roque, Paulo Mendes compartilha a mesma visão, mas com uma trajetória que o levou ao orgânico por caminhos distintos. Ao contrário de Mariana, ele vem de uma família que cultivava com agroquímicos, mas sempre sentiu a necessidade de transformar as práticas de cultivo. Para ele, o orgânico é como um resgate da essência da terra, uma escolha que exige mais do que habilidades tradicionais. É um compromisso com o solo, com o ciclo de nutrientes e com o futuro. Paulo vê o campo como um delicado organismo, onde a compostagem e a rotação de culturas são essenciais, mas também um desafio financeiro. Cada safra se transforma em uma experiência quase artesanal, onde a eficácia do manejo natural precisa competir com a tentação das facilidades químicas. Esse processo, para ele, é como uma dança cuidadosa com a natureza, em que observar e respeitar o ritmo das estações torna-se tão vital quanto qualquer técnica de plantio.

                                                            Comunidade de pessoas que trabalham juntas na agricultura para cultivar alimentos

Para Mariana e Paulo, a colheita orgânica traz consigo um custo invisível ao olhar do consumidor. A vulnerabilidade às pragas, por exemplo, é uma preocupação constante. Sem pesticidas convencionais cada infestação é uma batalha natural que, muitas vezes, se perde. A introdução de insetos benéficos para conter pragas ou o uso de biofertilizantes representa um custo adicional, tornando a logística do manejo um quebra-cabeça financeiro. Além disso, há as certificações rigorosas exigidas para que o produto receba o selo de orgânico, que Mariana descreve como "um segundo trabalho", com visitas e inspeções que, embora necessárias, absorvem ainda mais recursos.

No centro dessa cadeia está Cláudia Ramos, proprietária de uma loja de produtos orgânicos em São Paulo. De seu ponto de vista privilegiado, ela percebe o esforço e as dificuldades de seus fornecedores, mas também o descompasso entre o preço desses produtos e a percepção dos consumidores. Em cada item das prateleiras, Cláudia vê um microcosmo de esforço e idealismo, mas, ao explicar as diferenças entre orgânico e convencional, enfrenta um público que ainda considera o orgânico um luxo. Ela afirma que cada produto é uma história de sacrifício, e explica que o custo mais alto representa a vulnerabilidade da produção orgânica, que exige cuidados permanentes e colheitas menos previsíveis.

                                                                                           Close-up de plantas verdes na estufa

A produção orgânica, então, emerge como uma complexa equação de valores, sacrifícios e riscos. Cada um dos envolvidos—do campo à prateleira—carrega uma parte dessa carga, como se fosse um ciclo contínuo de compromissos, onde o ideal e o real se encontram e se confrontam. A busca pela pureza e pelo cuidado no cultivo se mescla a um cotidiano cheio de dificuldades, e o produto final se transforma numa espécie de narrativa silenciosa sobre perseverança e dedicação ao que se acredita ser o melhor para o futuro do planeta e do ser humano.

A jornada dos entregadores não se limita ao trajeto, mas envolve obstáculos que vão da segurança no trânsito às incertezas de um dia de trabalho autônomo.
por |
12/11/2024 - 12h

Por Thais Oliveira 

 

Se antigamente era comum esperar dias ou semanas para que um pedido chegasse, hoje a demanda por rapidez e eficiência exige uma operação logística reforçada. O dia começa antes do sol nascer, com o medo e a ansiedade tomando conta de Joice Alves, mãe solteira de 50 anos que precisou se reinventar após um divórcio e o enfraquecimento das vendas em seu comércio de plantas. Seus cabelos longos e quase grisalhos carregam histórias de uma mulher forte que devido a gravidez, parou os estudos na quinta série. Tudo que aprendeu é resultado de suas vivências.

A tecnologia dominou o mundo e os seres humanos. Para Joice isso não passava de uma grande perda de tempo, até que tudo mudou em sua vida e a tecnologia virou sinônimo de estabilidade financeira e independência. Conseguir realizar uma entrega parece fácil aos olhos dos que recebem em casa. O suor do trabalho de prestadores de serviço das grandes empresas está presente em cada pacote entregue.

Os desafios começam à frente da seleção. Um aplicativo viabiliza para os entregadores os percursos disponíveis, juntamente ao valor a receber, e cada um seleciona o de sua preferência. Mas o número de prestadores é maior do que os de entregas e, às vezes é necessário passar horas olhando as atualizações no celular. Há dois meses o aparelho eletrônico, que não passava de uma ferramenta de comunicação com a família, amigos e clientes, se tornou o principal equipamento do trabalho de Joice. Foram semanas aprendendo a usar o mapa, abrir e fechar aplicativos, escrever mensagens mais rápidas e, principalmente, a contabilizar os resultados do seu novo emprego. No início de sua trajetória, Lucas, o filho mais velho, acompanhou a mãe em todos os percursos e assim, ela ganhou confiança para trabalhar sozinha. 

Desde a adolescência, Joice foi diagnosticada com TAG (Transtorno de Ansiedade Generalizada) e comenta que essa logística piora os sintomas diariamente. O seu conforto é o chá de camomila colhido diretamente dos vasos sobrepostos na janela do sexto andar e do calmante recomendado pela cardiologista. Ao conseguir uma corrida, agradece a Deus pela oportunidade e pula o café da manhã, colocando tudo que precisa dentro de uma bolsa térmica. De acordo com o aplicativo fornecido pela empresa, cada percurso tem a duração de 4h e 6h e os valores são correspondentes a estes horários. Explica que foi acordado entre a empresa e os prestadores de serviço que todas as entregas contariam com, no máximo, 45 pacotes e 40 paradas. 

Ao chegar no Centro de Distribuição, Joice recebe a rota com 52 paradas, 65 pacotes amarelos e o medo de não conseguir finalizar dentro do prazo estipulado. É necessário entregar todas as mercadorias para receber os valores completos, independente da chuva, dos ventos de 100km/h, dos postes desligados e das ruas escuras. Joice sai de Mauá com o seu destino traçado em um papel com nomes de pessoas desconhecidas diretamente para a cidade de São Paulo. Na travessa da Avenida Vila Ema e nas mãos Joice, o primeiro pacote foi entregue para a Renata, uma mulher simpática que desejou um bom dia para a entregadora.

Dentro do carro, o estômago de Joice espera por um alimento desde às 9h00min, porém os donos dos 50 pacotes pendentes têm prioridade na fila e as refeições ficam em segundo plano, sendo necessário seguir o caminho ingerindo apenas uma banana. A falta de hidratação e de nutrientes causa cansaço excessivo, perda de cabelo e, consequentemente, ausência de vitaminas importantes para o funcionamento do corpo. Relata, que praticava uma rotina saudável, alimentando-se bem e correndo na rua todos os dias de manhã com os seus filhos, porém precisou abrir mão do estilo de vida para arcar com os novos custos, como por exemplo o aluguel. A infraestrutura básica é uma questão: nas cidades grandes, com quilômetros percorridos entre um ponto e outro, muitas vezes não há onde parar para descansar ou usar o banheiro. A cidade se torna um palco de correria constante, onde não há tempo ou lugar para uma pausa, justifica Joice, ao informar que não consegue ingerir ao menos 200ml de água durante a jornada de trabalho. 

O futuro do setor aponta para uma integração cada vez maior entre tecnologia e logística, com inovações que prometem transformar ainda mais a experiência de compra e aproximar o e-commerce dos consumidores. Embora a constante evolução esteja dominando o cenário, não há direitos trabalhistas ou benefícios assegurados, como convênio médico ou seguro de saúde. Se houver algum acidente ou emergência, o entregador precisa arcar com os custos e lidar com as consequências sozinho. 

Dentro do aplicativo de entregas é possível saber que, dependendo do nível, o entregador terá acesso a mais pedidos, melhores comissões e suporte especializado. A grande corporação criou um sistema de níveis que funciona como uma espécie de escada, onde cada degrau alcançado representa mais oportunidades, e consequentemente, mais pressão. Estar em um nível mais alto pode significar, por exemplo, maior acesso a entregas em horários de pico ou de longa distância, que pagam melhor. Joice é prata, mas conta que demorou meses para alcançar a nomenclatura, afinal qualquer queda no desempenho pode significar uma descida de nível. Cancelamentos, avaliações ruins ou atrasos podem rebaixar o entregador, retirando seus, quase que invisíveis, benefícios. 

Joice conseguiu dois percursos no mesmo dia, isso significa que a corrida contra o tempo é primordial para finalizar o primeiro, voltar ao Centro de Distribuição e recolher as próximas encomendas. Ao sair, os clientes recebem notificações de que o produto está a caminho, causando ansiedade e desconfiança dos que aguardam em suas casas. Durante a noite as entregas são realizadas das 18h00 às 22h00 e Matheus, o filho mais novo, auxilia a mãe ligando para os clientes e entregando os pacotes enquanto ela separa os próximos. Em meio à movimentação, Matheus recebe uma mensagem de uma mulher que estava aguardando o produto há 30 minutos e precisava dormir. Era sexta-feira, 19h39min, quando os insultos começaram e mudaram a rota da família. Cada pacote recebe uma numeração de envio, o itinerário e os dados relevantes do consumidor, em consequência das mudanças Matheus e Joice aumentam a duração do percurso e os quilômetros rodados no carro. A quantidade de remessas no período da noite é majoritariamente maior, entretanto os consumidores não sentem confiança em recebê-las e, frequentemente, rejeitam a tão esperada aquisição. 

As embalagens amarelas recusadas devem atravessar a cidade e voltar à corporação até às 23h00min, horário de finalização dos serviços diários. Joice retorna com o peso da consciência de classe descendo em seus cabelos, refletindo sobre o comportamento interpessoal dos consumidores, do egoísmo e da falta de empatia. O mundo não é mais o mesmo e as pessoas estão preocupadas com as futilidades expostas nas prateleiras invisíveis dos comércios online. Não se importam se a voz que clama do lado de fora da residência está enfrentando a maior chuva do ano na cidade ou se está com um prazo apertado, o importante é aconchego e a novela das 21h00min. 

Após 15 horas, Joice finalmente chega em casa, sentindo-se cansada, fraca e estressada. O dia foi longo, repleto de entregas que exigiam rapidez, atenção e resistência. Cada pedido, cada quilômetro percorrido, parecia se arrastar em meio à chuva, ao trânsito caótico e à pressão por cumprir os prazos apertados. Como muitos entregadores, Joice não tem garantia de descanso ou segurança no trabalho, e mesmo ao chegar em casa, a sensação de que poderia ter feito mais, ou o medo de não atingir o número de entregas esperado, a acompanha. Mas para Joice, o trabalho nunca termina realmente. Ela reflete sobre o que poderia ter feito para ser mais rápida, ou se valeu a pena o esforço de correr contra o relógio. Em sua mente, os desafios que ela enfrentou ao longo do dia continuam vivos, a insegurança nas ruas, o risco de acidentes, a exaustão física e emocional. Mas amanhã, o caminho se repete, enfrentando as mesmas dificuldades em nome de um dia melhor, ou, quem sabe, uma coroa de ouro na guerra contra a logística desumana.

Os chamados cibercrimes são considerados um tipo de violência contra o idoso, e a campanha Junho Violeta busca conscientizar à população sobre a violência patrimonial
por
Alice Di Biase
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11/11/2024 - 12h

Por Alice di Biase

 

A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que a população acima de 60 anos no Brasil deve crescer em ritmo acelerado, quase triplicando até 2050. Dados como esse expõem o crescente aumento da população idosa, além de um novo perfil de envelhecimento que requer atenção especial em políticas públicas. Adriana Horvath, diretora voluntária de captação de recursos da Casa Ondina Lobo, relata que a principal queixa dos residentes da Casa é a invisibilidade, a visão estereotipada do “vovozinho” de cabelo branco e ingênuo, e adiciona que os idosos querem ser vistos como seres humanos que ainda tem muito a oferecer.

A Casa de Repouso Ondina Lobo é uma instituição de longa permanência para idosos em situação de vulnerabilidade social, o projeto é sustentado por doações filantrópicas. A missão da organização é promover o bem-estar e a integração do idoso na sociedade, por meio de atividades plurais. Ela relata que muitos dos idosos residentes da Casa já passaram por alguma violência ou situação de preconceito e atribui isso a forma como a sociedade olha os idosos, relacionando-o com a finitude da vida. E adiciona que é preciso entender que a velhice é apenas mais uma fase. Além disso, ela também cita a importância de campanhas de conscientização contra a violência ao idoso, como o Junho Violeta.

Existem vários tipos de violências direcionadas aos idosos, uma delas é a violência patrimonial. Com o avanço tecnológico, os mais velhos se tornaram mais vulneráveis para a violência patrimonial, por meio dos chamados golpes. O Disque 100, do governo federal, registrou, nos cinco primeiros meses de 2023 mais de 15 mil denúncias de violações financeiras ou materiais contra idosos; 73% a mais do que no mesmo período de 2022. Cada vez mais conectada, a terceira idade tem sido um dos principais alvos de quadrilhas especializadas em crimes cibernéticos que comprometem o patrimônio da vítima.

Ondina Lobo e Image Magica

“Mãe, mudei de número, salva esse contato aqui”, assim começa uma das formas mais comuns de fraudes financeiras contra os idosos, a foto de perfil é a mesma que o filho utiliza no seu número próprio e logo em seguida são solicitadas as transferências. Cláudia, aposentada de 66 anos relata como caiu no phishing - tipo de golpe realizado por e-mails, redes sociais e sites que utilizam uma “isca” para fazer a vítima fornecer informações pessoais. Uma loja conhecida com descontos extravagantes, a propaganda era feita por celebridades como Gisele Bündchen e a apresentadora Angélica que recomendavam a promoção. Tudo feito com inteligência artificial. O valor perdido não foi alto, como conta Claúdia, com alívio, no entanto, a sensação de ter sido enganado com facilidade pelos golpistas causa constrangimento.

O constrangimento também é um dos motivos que leva os idosos a se tornarem um alvo fácil dos golpistas. Envergonhados de demonstrar a fragilidade e, de certo modo, alimentar os estereótipos de ingenuidade que a sociedade cria em relação a faixa etária, muitos idosos não contam aos familiares a situação e deixam o ciclo de golpes se estender. Em 2024, a Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos já recebeu mais de 21 mil denúncias de violações deste tipo contra idosos, destes 80% dos casos são denunciados por terceiros, e não pela própria vítima.

A psicóloga e psicanalista Moema Sarmento compartilha suas perspectivas sobre a saúde mental na terceira idade, ela argumenta que a falta de respeito e os maus tratos podem levar ao isolamento e depressão, o que faz que muitos idosos que sofrem esses abusos patrimoniais não procurem ajuda, assim os casos só chegam aos familiares e autoridades quando já estão em estágios alarmantes.

Com o intuito de alterar esse cenário, a Casa Ondina Lobo em pareceria com a ONG Image Mágica, levou o Circuito Cultura e Inclusão para as mulheres da Casa. As aulas de inclusão digital e fotografia buscam conscientizar os moradores a respeito dos golpes digitais, resgate da autoestima e criar intimidade com o meio tecnológico.
 

Ondina Lobo e Image MagicaOndina Lobo e Image Magica

Como comenta Horvath, a velhice é só mais uma fase da vida que envolve atenção e deve ser aproveitada com qualidade de vida e isso envolve a liberdade de consumir a Internet com segurança.

Entre ícones do passado, referências do presente e caminhos para o futuro, veja como foi a edição deste ano
por
Vítor Nhoatto
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22/10/2024 - 12h

Ocorrido entre os dias 14 e 20 de outubro na capital francesa, o Mondial de l'Auto contou com mais de 500 mil visitantes, além de recados importantes para a indústria automobilística. As donas da casa — Alpine, Peugeot, Renault e Citroen — estiveram presentes, mas, mesmo assim, a presença chinesa continuou e chamou a atenção do público, das autoridades e das rivais. A DS, da Stellantis, foi a única francesa que não compareceu ao evento. 

Temas como sustentabilidade, acessibilidade e segurança no trânsito foram amplamente abordados nas coletivas de imprensa, e traduzidos em parte nos lançamentos. Ao todo, 41 fabricantes de automóveis participaram do evento, o qual trouxe o brilho de volta à Bienal, tal qual como no Salão de Munique, em 2023.

Eletrificação em diferentes níveis

Antenado às ânsias do público e da indústria, houveram lançamentos de vários modelos eletrificados, em diferentes níveis e formatos. Nos últimos meses, as vendas de elétricos oscilaram negativamente na Europa, por conta de uma série de fatores, como altos custos de aquisição e o fim de incentivos governamentais. 

Com isso, marcas como Volkswagen, Ford e mesmo Volvo, reviram seus planos de eletrificação total — apesar da meta da União Europeia de banir os modelos movidos a combustão, já em 2035. O conglomerado Stellantis, por exemplo, investe em plataformas multi-energéticas, capazes de produzirem tanto híbridos, quanto elétricos, e apresentou seus últimos modelos em Paris. 

Construído sobre a e-CMP, — mesma base dos recém lançados no Brasil, Peugeot 2008 e 208 — o Alfa Romeo Junior Ibrida fez sua estreia ao público. Com a mesma motorização dos irmãos, motor 1.2 PureTech em conjunto a uma bateria de 48V, gerando 136 cavalos, o modelo complementa a linha do SUV urbano, disponível como 100% elétrico desde o começo do ano. 

Na Peugeot, as novidades foram maiores, apesar de nenhum modelo totalmente novo, diferente das compatriotas Alpine, Citroen e Renault. Em Paris, foi lançado o novo E-408, versão 100% elétrica do crossover baseado no 308. Sob a plataforma EMP2, compartilha o conjunto mecânico com o hatch, tanto nas versões a combustão quanto na novidade elétrica, e não muda visualmente. Além disso, foram apresentadas as versões Long Range dos E-3008 e E-5008. As autonomias passam de cerca de 500 km para 700 km, segundo o ciclo WLTP.

Em uma abordagem diferente, focada em modelos elétricos separados dos seus semelhantes a combustão, a Volkswagen apresentou o novo Tayron. Com expectativa de ser vendido no Brasil, é a versão Allspace do novo Tiguan, mas agora com nome próprio. O SUV de sete lugares estará disponível em duas versões diesel, gasolina, e híbridas plug-in, além de uma híbrida leve.

Volkswagen Tyron de frente branco ao lado de um Tayron de trás roxo
O Tayron é o sexto SUV a combustão da Volkswagen na Europa, entre Tiguan e Touareg. Foto: Divulgação/Volkswagen

As motorizações são as mesmas do Tiguan de nova geração, construído sobre a MQB evo. Isso se reflete em uma autonomia combinada de até 850 km nas versões plug-in, além de uma autonomia em modo 100% elétrico de cerca de 100 km, graças a uma bateria de 19.7 kWh.

Em uma abordagem semelhante em alguns aspectos a Volks, a britânica de coração, mas de propriedade alemã, a Mini, apresentou os seus novos JCW elétricos. Os primeiros modelos da divisão de desempenho da marca serão o Cooper, um hatch de três portas, e o crossover Aceman. Ambos são construídos sobre a plataforma desenvolvida em conjunto com a chinesa GWM, e prometem a emoção de um esportivo com seus mais de 250 cavalos, mas sem emissão de CO2.  

Mais uma ofensiva chinesa 

Sobre as construtoras chinesas, o Paris Expo Porte de Versailles foi novamente o palco para a estreia de modelos do país asiático, e até marcas inteiras. A GWM não compareceu desta vez, como era de se esperar após o anúncio de reestruturação europeia e fechamento do escritório na Alemanha em agosto deste ano. 

No entanto, a sua principal rival, a Build Your Dreams, brilhou, repetindo a estratégia de 2022. Seu estande contava, desta vez, com modelos já conhecidos do público, como Dolphin e Seal, mas também com o totalmente novo, Sealion 7, apresentado ao mercado europeu, e com um vislumbre da versão que será vendida no Brasil em breve.

Segundo a vice-presidente da marca, Stella Li, o novo SUV cupê do segmento D, reflete em como a BYD reage e escuta às demandas dos seus consumidores europeus, prometendo design, performance e autonomia de ponta.

E com uma estratégia ousada, que busca rapidamente conquistar o mundo, a Leapmotor debutou em Versailles. Com o amparo da Stellantis, — com quem fechou uma parceria bilionária pela administração global da marca — apresentou quatro elétricos. Carlos Tavares, CEO do conglomerado até 2026, esteve no evento e comentou que as montadoras têm mais a ganhar com a estratégia de se aliar às chinesas, ao invés de brigar com elas. Antes disso, ele visitou o estande da BYD, chamando a atenção da imprensa.  

O primeiro deles é um hatch subcompacto vendido por menos de 20 mil euros, o T03, o segundo é o C10, um SUV médio, por cerca de 36 mil euros. Ambos modelos com condução semi autônoma de nível 2 e confirmados para o Brasil. A versão de sete lugares, C16 também esteve no evento, ao lado do inédito B10, revelado no evento. O SUV do segmento C tem como rivais BYD Atto 3 (Yuan Plus no Brasil) e Volvo EX40, e estará disponível já no próximo ano na Europa.

Estande da Leapmotor rodeado de pessoas
Os modelos C16 (roxo), B10 (azul), C10 (verde) e T03 (turquesa) prometem agitar o mercado. Foto: Divulgação/LeapMotor

Para além das duas marcas, a Seres (com operações paralisadas no Brasil até então), a Xpeng, o grupo GAC e a Hongqi ocuparam o complexo de exposições francês. A última chamou a atenção com a estreia do sedã de luxo Guoya, rival dos alemães Classe S, Série 7 e A8. Enquanto isso, a GAC optou por uma abordagem mais demonstrativa de suas tecnologias, sem pretensões diretas de venda no continente. 

A história não se compra

Frente à concorrência cada vez maior das chinesas, eis o contra-ataque europeu, baseado amplamente no legado das marcas, algo com o qual as novatas não podem competir. No último Salão de Munique, o CEO do Grupo Volkswagen, Oliver Blume, destacou que o histórico estilístico das marcas é algo que não pode ser adquirido nem comprado, e será a principal chave para o público comprar os modelos europeus. 

Dito isso, nomes como BMW e Renault também vêm investindo em uma abordagem retrô futurista. Em relação à alemã premium, os conceitos Neue Klasse sedã e SUV foram apresentados pela primeira vez juntos. Com designs que remetem aos modelos dos anos 80, preveem a nova geração de elétricos da marca, esperados para 2025 e 2026.

Porém, foi no estande da Renault que a vibe passado e futuro, misturado com o charme e a funcionalidade, atraiu mais os olhares. Após o lançamento do aguardado R5, um hatch elétrico inspirado no icônico R5 dos anos 90, foi a vez do novo R4 voltar à vida.

Novo Renault 4 E-Tech azul em um fundo colorido
O novo Renault 4 E-Tech continua investido no passado da marca como diferencial. Foto: Divulgação/Renault

Construído sob a plataforma AmpR Small, é a versão SUV do R5, com quem compartilha a motorização e equipamentos. Com 4.14 metros de comprimento, funcionará como a versão 100% elétrica do Captur, contando com uma autonomia de mais de 400km no ciclo WLTP, carregamento rápido, todos os assistentes à condução modernos e muitas referências ao R4 dos anos 70. 

Construído na França, atraiu até mesmo os olhares do presidente francês, Emmanuel Macron. O político esteve no evento no dia de abertura ao público (15), e causou um leve tumulto ao fechar o estande em que visitava. Ele cumprimentou os executivos da marca e entrou no novo modelo, esse com expectativas de custar na casa dos 30 mil euros. 

Na ideia da ofensiva irreverente e estilosa, bem ao estilo francês, o protótipo do novo Renault Twingo esteve no evento. Agendado para ser lançado em 2026 (possivelmente no próximo Salão de Paris), promete tornar a mobilidade elétrica realmente acessível, com um preço na casa dos 20 mil euros no formato de um subcompacto, uma espécie em extinção.

Uma mobilidade de fato acessível?

Mas, ao se tratar de acessibilidade e democratização da eletricidade, outras marcas têm mais a dizer e entregar. Dentro do Grupo Renault, é a romena Dacia a representante de baixo custo. Se o nome da empresa não é conhecido aos brasileiros, com certeza seus modelos são. A fabricante de Sandero, Logan e Duster, vendidos sob o nome da Renault na América Latina e Turquia, apresentou em Paris o mais novo Bigster.  

O SUV é a aposta da marca para conquistar o segmento C, com 4.57 metros de comprimento e preços menores de 30 mil euros, cifra que hatches do segmento B atualmente custam. Baseado na mesma plataforma de Clio e Duster, a CMF-B, contará com opções a micro-híbridas de 48V, híbridas convencionais com baterias de 1.4 kWh, e versões movidas a GPL, populares em países como Espanha e Itália. 

Do outro lado do muro, a resposta da Stellantis ao sucesso da Dacia, — dona do modelo mais vendido da Europa em Julho deste ano na Europa, o Sandero — é a Citroën. A marca que já passou por muitas fases, desde o luxo e conforto do DS original, até a originalidade do Xsara e C4 Cactus, por exemplo, agora investirá no mercado de acesso. 

Estiveram no evento os novos C3 e C3 Aircross, bem diferentes das versões vendidas no Brasil, mas ainda na casa dos 20 mil euros. A reestilização do quadriciclo Ami foi apresentada, uma opção de locomoção elétrica por menos de 8 mil euros. E fechando os facelifts, os remodelados C4 e C4X (versão sedã do hatch compacto) foram lançados em Paris, agora com a nova identidade visual da marca.

Estande da Citroën rodeado de pessoas
A Citroën se reinventou com novos C3, C3 Aircross, C4, C4X e o protótipo verde do C5 Aircross 2026. Foto: Divulgação/Citroën

Além disso, o protótipo da nova geração do Citroën C5 Aircross foi revelado. Segundo a empresa, o modelo de produção será 95% igual ao conceito. No quesito motorização, será construído sobre a nova plataforma STLA Medium, que estreou com o novo 3008, e servirá de base para o novo Compass também. Suas principais vantagens incluem a possibilidade de versões híbridas e elétricas, com maior eficiência e autonomia de até 700 km, além de menores custos de produção pela sua modularidade.

Atendendo às demandas do mercado

Uma das principais ânsias da indústria é a diminuição dos custos na fabricação de elétricos, principalmente após a chegada das chinesas. No entanto, nem só de  grandes grupos é formado o setor, e parcerias são mais bem vindas que nunca. A Ford, por exemplo, se uniu à Volkswagen para produzir seus elétricos para a Europa, se prevenindo da taxação que Tesla, Volvo e Mini tentam evitar  com a fabricação dos seus modelos na China.

A americana/britânica apresentou ao público pela primeira vez o novo Capri, um SUV coupe construído sobre a plataforma MEB dos Volkswagen ID.3 e ID.4. O modelo continua o resgate de nomenclaturas clássicas da marca, como Puma e Mustang Mach-E, além da transmutação desses em SUVs, o que agrada ao mercado em geral, mas não tem a mesma reação aos mais saudosistas.

Do outro lado do globo, a sul-coreana Kia também busca conquistar o mercado europeu dos elétricos, sem dividir os custos com várias marcas. O mais novo lançamento do grupo Hyundai-Kia é o SUV urbano EV3, rival do Jeep Avenger, Peugeot e-2008 e Renault 4. 

Novo Kia EV3 verde de frente em um fundo branco
O EV3 é a aposta elétrica da Kia para o segmento B, o maior em vendas na Europa. Foto: Reprodução/InsideEVs

Os preços devem começar na casa dos 30 mil euros, o que não é barato para um carro do segmento B, mas é compatível aos rivais citados. O chamariz da marca, para além dos sete anos de garantia, é a tecnologia, refinamento e comodidade do modelo, quase como uma versão menor do SUV grande EV9, indicado ao prêmio Carro do Ano Europeu em 2024.

E em um segmento acima, mas em uma faixa de preço parecida, a checa Skoda, — essa sim de um grande conglomerado, a Volkswagen — apresentou o novo Elroq. Rival de modelos como BMW iX1 e Ford Explorer, começara na casa dos 33 mil euros, com uma autonomia de 560 km no ciclo WLTP.

Tentativas e erros

Paris ainda foi o palco para marcas menores, ou com menor relevância na Europa. No primeiro caso, a francesa Alpine que tomou os holofotes com o concept car A390 Beta, que antecipa o segundo modelo independente da Renault. 

Com um design agressivo, inspirado nos alpes, e com referências aos modelos de competição da empresa, será um crossover 100% elétrico construído sobre a plataforma do Nissan Aryia. Mesmo assim, a dinamicidade e performance única da marca, que hoje vende apenas o cupê A110, será mantida no carro de produção, anunciado para o ano que vem. 

Em meio aos europeus e chineses, ainda houve espaço para as estadunidenses Tesla e Cadillac. A empresa de Elon Musk deixou a desejar, sem um estande propriamente dito, ou sequer um tapete e divisórias entre seus modelos. Já no quesito novidade, nada de concreto. A picape Cybertruck foi apresentada oficialmente em solo europeu, mas nenhuma conformação de sua comercialização, ou lançamento do esperado Model Y remodelado e do táxi autônomo Cybercab, revelado três dias antes.

Já em relação a Cadillac, que tentou engatar nas vendas na União Europeia algumas vezes, as coisas foram diferentes. Desta vez focada na eletrificação, a empresa do Grupo General Motors trouxe o SUV de luxo Lyriq, além de lançar o Optiq, um pouco menor e com design menos extravagante na traseira. 

Novo Cadillac Optiq vermelho de frente no estamde da marca
Cadillac mira o Tesla Model Y com o novo Optiq, um SUV do segmento D com 4.82 metros. Foto: Reprodução/GM Authority

O Paris Motor Show 2024 certamente ficará para a história centenária do evento como um recálculo necessário e exitoso de rota. Marcas voltaram à mostra, lançamentos importantes ocorreram e o público compareceu. Além disso, mais uma vez o rumo que a indústria se encaminha foi destacado, um cenário crítico de reinvenção e reajustes.

Como tendência tecnológica, a "Internet das Coisas" vem se mostrando necessária cada vez mais, seja nas casas ou em grandes campos de cultivo agrícola
por
Mário Gandini
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19/11/2021 - 12h

Por Mário Gandini

Quem um dia iria imaginar que teríamos todos os aparelhos da sua casa conectados em uma rede integrada, onde você pode ter controle de tudo na palma da mão, como por exemplo, o seu relógio de cabeceira, torradeira, cafeteira, lâmpada...etc. A ideia principal por trás da Internet das Coisas é a de facilitar a vida dos usuários, tornando o uso de certos elementos mais simples e até permitindo a automação de tarefas. Nos dias de hoje já podemos aplicar esse conceito em escalas muitos maiores como por exemplo no meio rural.

O pofessor Thiago Ceretti, bacharel em Ciências e Tecnologias pela UFABC, integrou um grupo de pesquisa na FAPESP sobre robótica submarina e é grande fã de Internet das Coisas. “É como se você criasse uma rede onde objetos tecnológicos estão conectados e interligados e você pode ter controle sobre essas ações de uma maneira integrada, como, por exemplo, a ideia da casa inteligente e a Alexa, você pode integrar ações  relacionadas ao dia a dia, como, a cafeteira liga na hora que o seu alarme toma, a luz acender com a sua presença, e até mesmo o uso da sua voz para fazer pergunta sobre o clima e o horário para ela te ajudar”. Thiago explica como ele enxerga essas inovações no mundo. “Da mesma forma que temos muita coisa para ser desenvolvida, já temos muitas inovações prontas esperando para serem usadas. No meu ver a Internet das Coisas me agrada mais quando está sujeita ao DIY(Do It. Yourself, faça você mesmo em Inglês) para incentivar o desenvolvimento da sua própria tecnologia. Por exemplo, você pode começar a aprender a programar, de forma básica, para automatizar o sistema de irrigação da sua horta, com uma mangueira e um relógio eletrônico”.

Em uma escala muito maior, a agricultura inteligente baseada nas tecnologias de IoT, já está se tornando realidade e está permitindo que agricultores reduzam o desperdício e aumentem a produtividade, tudo é monitorado, desde a quantidade de fertilizante utilizada até o número de viagens que os veículos agrícolas precisam executar. A Internet das coisas está modificando consideravelmente o modo que vivemos; indústria avançada, casas inteligentes, carros autônomos são apenas alguns avanços que essa tecnologia nos proporcionou.

Não é novidade que o Brasil é uma potência agro-ambiental no cenário mundial faz tempo como grandes produtores de soja. No início, as lavouras costumavam se concentrar no Sul do Brasil, mas desde o final da década de 1970 se espalharam para o Centro-Oeste, especialmente no Cerrado. A agricultura viveu avanços significativos nos últimos 50 anos. A modernização dos maquinários permitiu um ganho de escala e de produtividade. No mundo em que vivemos, onde tudo está conectado, o setor mais antigo do mundo precisa abraçar essa transformação digital impulsionada pela conectividade para dar um passo adiante.

No entanto, aplicar a IoT (abreviação Internet of Things) na agricultura é mais que uma tendência: é uma necessidade. Com esse uso, os sistemas são construídos para gerenciar de forma eficaz o campo de cultivo. Com o auxílio de sensores, é possível monitorar luz, umidade do ar, temperatura, umidade do solo etc. e automatizar o sistema de irrigação, por exemplo. 

Por enquanto, o setor agrícola ainda é o menos digitalizado que outros. A tecnologia já existe e está disponível, mas há dois empecilhos. Em algumas regiões, falta infraestrutura de conectividade, e, onde ela já existe, os fazendeiros estão adotando lentamente essas novas tecnologias porque o impacto positivo delas ainda não foi suficientemente provado. Assim, os agricultores podem monitorar as condições de campo de qualquer lugar, além de ter um melhor gerenciamento dos recursos naturais. A agricultura inteligente baseada em IoT é altamente eficiente quando comparada com a abordagem convencional.

Uma das inovações que já foram implementadas em solo brasileiro além de maquinário autônomo, é a manutenção da umidade do solo, do quanto de água qual quadrante da plantação necessita de água, além da manutenção de nutrientes e quantidade de fertilizante.

Não podemos negar que tudo está caminhando para ser “smart”. Como citado antes do texto, essa mudança não é mais tendência, é uma necessidade de se reinventar, pois, devido ao aumento da dinâmica do mercado mundial se o setor da agricultura não se reinventar, não dará conta de abastecer o mercado. Com a chegada do 5G no Brasil, teremos uma impulsão para cada vez mais nos tornarmos uma sociedade conectada. Não podemos deixar de lado que o mundo não é um mar de rosas, por mais que essa modernização seja inevitável, ela não necessariamente vai seguir os planos de abastecimento de alimentos para a população. Os pequenos produtores podem acabar sendo os mais prejudicados nessa história, visto que terão que “ceder” terreno para as grandes fazendas produtoras de alimentos transgênicos.

 

A nova frequência de Internet móvel está tomando os primeiros passos para ser implantada em território brasileiro porém encontra restrições legais, regionais e culturais
por
Rodrigo Vaz Guimarães Mendonça
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18/11/2021 - 12h

Por Rodrigo Mendonça

 Nos dias 5 e 6 de novembro foi realizado o leilão do 5G no qual empresas de Internet e telefonia móveis puderam comprar concessões do governo federal por meio da ANATEL, Agência Nacional de Telecomunicações, para uso dos lotes da nova frequência 5G. O leilão funcionou dividido por faixas e frequências em blocos regionais e estaduais, ou seja, as empresas puderam comprar tanto para explorar o 5G em âmbito tanto somente estadual, um ou alguns estados, tanto quanto nacional, todo o território brasileiro.

    Para a categoria da frequência de 2,3 GHz, as empresas interessadas no 5G disputaram um bloco regional de 50 MHz e outro de 40 MHz, com concessões válidas por 20 anos com possibilidades de renovação,na  faixa de 26 GHz, houve duas rodadas. Na primeira, foram faixas de 400 MHz divididas entre três blocos regionais e cinco nacionais. O que não está certo ainda é como será a implantação dessa nova tecnologia na prática visto que o Brasil não terá um cenário muito favorável.

O que é o 5G?

 5G é o padrão de tecnologia de quinta geração para redes móveis e de banda larga que já existe desde 2018 mas está começando a ser implantado no Brasil somente em 2021. O  5G vai substituir o padrão anterior, o 4G.

        

Como é feita a implantação do 5G?

Frequências de Internet como o 5G funcionam por meio de antenas que emitem ondas de rádio, a nova frequência dessas ondas que está na quinta geração vai ser emitida por antenas que serão acopladas a antenas que já emitem ondas na frequência de quarta geração, o 4G, fazendo uma mesma antena emir 4G e 5G simultaneamente, porém tudo na teoria.

 

Quais as dificuldades para implantar o 5G no Brasil?

 Para analisar como o 5G será implantado de fato no Brasil vários fatores devem ser considerados, como por exemplo como está o uso de internet pelas famílias brasileiras atualmente.

     No Art. 4º da lei  Nº 12.965, de 23 de ABRIL de 2014 e  sancionado pela então presidente Dilma Rousseff  e dito que “A disciplina do uso da Internet no Brasil tem por objetivo a promoção:

- do direito de acesso à Internet a todos” Porém na prática isso ainda está longe de acontecer.

      Segundo uma pesquisa de 2020 promovida pelo Comitê Gestor da Internet do Brasil, o CGI, percebeu-se que naquele ano o Brasil chegou a 152 milhões de usuários da rede, o que significa que houve um aumento de 7% em relação a 2019 e por esse motivo, 81% da população com mais de 10 anos têm Internet em casa atualmente segundo a pesquisa.

     O crescimento do total de domicílios com acesso à Internet ocorreu em todos os segmentos analisados nessa pesquisa. As residências da classe C com acesso à web passaram de 80% para 91% em um ano e na casas das classes D e E saltaram de 50% para 64% na pandemia. Porém, esse acesso ainda é desigual, visto que 90% das casas das classes D e E se conectam à rede exclusivamente pelo celular.

    De acordo com o censo escolar de 2020, apenas 32% das escolas públicas do ensino fundamental e no caso de escolas públicas do Ensino Médio, essa porcentagem chega a 65%, porém o governo federal espera que isso se reverta com a chegada do 5G, prevendo que até 2029 todas as escolas em localidades com mais de 600 mil habitantes tenham acesso à internet de alta velocidade.

   Outro entrave para que o 5G seja utilizado de fato no Brasil é a dificuldade imposta por leis municipais e estaduais que incluem a cobrança de altas taxas e, em certos casos, até criam restrições que proíbem as instalações de estações de rádio base (ERBs) onde ficam as antenas de Internet e redução do aparelho (small-cells) que permite ampliação da cobertura do sinal de dados em locais com maior demanda de sinal de Internet como as grandes cidades e as capitais. 

Como profissionais estão perdendo seu local de fala para influenciadores e as redes sociais se tornaram um ambiente perigoso para a verdade
por
Rafaela Correa de Freitas
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16/11/2021 - 12h

Por Rafaela Correia de Freitas

A tecnologia de fato vem se tornando um meio para todos os fins de grande parte da população, desde o despertador até mesmo a rotina de sono de uma pessoa podem depender de um dispositivo como um celular ou tablet. A função “Bed Time” do Iphone te mostra o quanto você tem dormido ultimamente, quanto tempo de sono você teria dormindo no horário atual e até mesmo controla suas notificações 1 hora antes de se deitar e 1 hora depois que acorda. Entre hábitos e equilíbrio, a tecnologia é considerada uma aliada à nossa rotina, mas que pode virar um problema bem mais rápido do que se tornou uma solução, especialmente com a existência das redes sociais.


De acordo com dados divulgados pela HootSuite e WeAreSocials, mundialmente existiam 4,55 Bilhões de usuários ativos em Redes Sociais em Outubro de 2021, a mesma pesquisa revela que dentre a população brasileira, são cerca de 164 Milhões, 77%. Os problemas nessas plataformas começaram cedo, logo com a criação dos primeiros nomes como MSN, Orkut, Yahoo e muito mais, sendo iniciado no Cyberbullying, algo que preocupa orgãos como a Unicef até hoje. Também lidamos com outros problemas modernos que surgiram com a inserção cada vez mais prematura de crianças na internet e até mesmo com a chegada da pandemia. Com todos dentro de casa, as redes se tornaram um escape da realidade, uma forma de se conectar com outras pessoas e até de se informar. Muitos jornais e canais de notícias, que já estavam em migração para plataformas como Instagram, Facebook e Twitter, tiveram que se esforçar para tornar o conteúdo nas Social Medias uma de suas principais formas de divulgação e tráfego para seus canais principais depois da pandemia de Covid-19.

Tendo em vista a necessidade das notícias rápidas e curtas, muitos jornalistas e comunicólogos passaram a desistir das hospedagens em sites e canais e passaram a informar seu público no local onde ele dispunha a maior parte do seu tempo: as redes sociais. Uma solução para os problemas dos espectadores e leitores, logo se tornou um imenso problema para o jornalismo no geral. As Fake News, já conhecidas antes da pandemia, aumentaram consideravelmente em 2020 e 2021, especialmente aquelas se tratando do vírus. Vistas por todas as partes, até mesmo em propagandas de governo, as notícias falsas eram disseminadas principalmente através das redes sociais, em destaque para os jovens, o Twitter.

Uma rede de compartilhamento de pequenos textos e troca de informações rápidas se tornou um dos maiores meios de informação e desinformação. Em 2017 o Twitter liberou uma pesquisa que dizia que 74% dos seus usuários utilizavam a plataforma para saberem das notícias, visto que há o facilitador da aba “Trending Topics”, Tópicos do Momento, e a possibilidade de receber as notícias em tempo real. Contudo, em 2020, isso começou a ser um problema. Os usuários compartilhavam links de notícias dentro de tweets tendenciosos, algo que poderia ser desmentido ou amenizado se apenas quem recebesse clicasse nos links que acompanhavam o conteúdo, contudo, a necessidade da rapidez impedia que isso acontecesse e, hoje, a plataforma conta com uma inteligência que alerta o usuário prestes a retweetar (compartilhar) um link sem tê-lo aberto primeiro.

Print do aviso do twitter na página de retweet que pergunta se o usuário deseja ler o artigo antes
Tradução: “Deseja ler o artigo primeiro?”

Infelizmente, a medida não impediu que Fake News continuassem a ser disseminadas no aplicativo. No dia 04 de outubro deste ano, as redes sociais da atual empresa Meta incluindo Whatsapp, Facebook e Instagram sofreram instabilidade, ficando fora do ar. Os usuários, em pânico, buscaram o Twitter para se informarem sobre o ocorrido e as notícias falsas sobre o que havia acontecido geraram pânico nos internautas e não demoraram a se espalhar.

Um exemplo veio de um “portal de notícias” com mais de 620 mil seguidores que dizia estar apurando e acompanhando de perto a situação com fontes confiáveis, mas que levou inverdades no intuito de ganhar seguidores, conhecido na plataforma como “Bait”.

Apesar de óbvio para alguns levando o tom sensacionalista e absurdidades, muitos foram pegos pela “brincadeira”, incluindo a influencer @alexandrimos que divulgou prints em seu TikTok.

“Segundo essa página do Twitter [...] Como que vai ser isso? Parece um ataque à internet, a tudo o que a gente vive.”

O jornalista Igor Tarcísio, 22, analista de comunicação e redator do PSB (Partido Socialista Brasileiro) e criador de um dossiê explicativo e informativo sobre as fake news criadas acerca da pandemia de Covid-19, reflete sobre as consequências disso e o porquê das Fake News serem tão apetitosas e fáceis de acreditar “Quando a gente tem um período de tensionamento político a gente tende a acreditar em algumas coisas que estão alinhadas àquele político que queremos votar” comenta ao discutirmos sobre como as pessoas se sentem atraídas por mentiras apenas por quererem que seja verdade. “Às vezes é sobre eu confiar em algo que eu quero muito acreditar [...] A Fake News elas se tornam apetitosas pra gente, elas se tornam palpáveis, à partir do momento em que ela toca nas nossas crenças.”

Em contrapartida, comumente pensa-se que para facilmente combater uma notícia falsa, isto é, a desinformação, deve-se usar a verdade (a informação), mas na prática, jornalistas enfrentam um grande problema, que é atingir não só as telas dos smartphones e computadores de quem lê e repassa esse conteúdo, mas também, de alcançar o reconhecimento dessa parcela de pessoas. Afinal, o consumo da desinformação não vem somente de usuários com anseio de acreditar naquilo que querem, mas também da ingenuidade de se receber algo de alguém considerado confiável e não checar antes de compartilhar ou, até mesmo, de uma informação repassada tantas vezes acompanhada de uma opinião que perde a sua essência. A abordagem para se impactar essas pessoas é diferente e, por mais que correta, nem sempre é eficaz.

“Eu acho que já tem uma estratégia muito forte”, comenta Igor sobre as agências de checagem como Lupa, “talvez ter uma presença maior nas redes sociais (de jornalistas), onde é um ambiente que mais acontece o compartilhamento e a produção das Fake News [...] colocar pessoas especializadas naquilo pra de certa forma ter uma comunicação mais orgânica [...] mas eu acredito que as Fake News elas não têm uma solução em sua completude, é um problema que tá relacionado muito à cultura de uma sociedade, acreditar em informações de acordo com vivências e duvidar de informações que são atestadas cientificamente. Tem que exigir um trabalho não só nas redes sociais mas também uma campanha de conscientização em escolas e em ambientes que são responsáveis pela educação…”

Somado a isso, o jornalismo bem como quem o acompanha também virou refém do imediatismo e dos algoritmos, grandes estopins para as notícias falsas. Apesar de ainda existirem, os jornais impressos e telejornais estão cedendo cada vez mais seu espaço, a preocupação com a venda de cópias e telespectadores se transforma em uma publicação onde seu público precisa engajar e seguir certas regras para que a informação alcance mais pessoas. Muitos perderam seus lugares para quem tem o título mais chamativo ou maior polêmica envolvida, fazendo com que grandes veículos jornalísticos cedessem ao sensacionalismo e títulos tendenciosos.

 

Tweet da matéria da folha com a chamada "Com braço amputado por vacina mal aplicada atleta vai à Tóquio vacinada contra a covid-19"
Na foto, chamada da Folha para notícia sobre atleta que perdeu um membro aos 3 meses de idade. Internautas criticaram o título que parecia querer atrair clicks através do pânico em cima das vacinas em um período de pandemia. A repercussão fez com que o veículo mudasse o título para "Atleta Supera Trauma de infância e vai a Tóquio vacinada contra a covid-19"

 

Além de matérias que disputam a atenção dos usuários, outro método utilizado para obter views e que pode causar problemas é a concorrência de quem posta a informação antes. O imediatismo que as redes sociais trazem àqueles que buscam se informar é um dos problemas que resulta em notícias falsas provindas do mal apuramento (no caso de jornalistas) ou compartilhamento de uma informação já digerida por outra pessoa (no caso do público geral). Como quando alguém opina sobre uma informação e esta é compartilhada no lugar da íntegra, o receptor toma o lugar do emissor nesse ciclo e permite que suas crenças e interpretação façam parte da informação original, deixando de lado o compromisso com a objetividade e recortando seus interesses do todo, criando assim, um novo braço para o tema que pode ter escassez de informações ou interpretação.

Igor comenta sobre o fenômeno do imediatismo que não está somente em quem recebe a notícia, mas também, no veículo ou jornalista que a transmite. A necessidade de repassar informações no formato rápido buscado pelo receptor interfere na boa apuração e revisão de um texto. “Eu vou chegar em uma rede social e vou ver mil informações, como eu vou conseguir filtrar aquilo? Como vou conseguir ler todas aquelas matérias e decidir qual é mais importante, ou qual é mais verdadeira? A gente tem um fluxo muito grande de informações o tempo todo! [...] É exatamente aí que a Fake News ela entra, porque é muito mais fácil eu conseguir acreditar em algum veículo que entre de acordo com o que eu penso do que eu ir atrás e pesquisar em mil veículos aquela mesma informação. A gente (jornalista)  precisa encontrar o equilíbrio entre dar uma notícia importante na hora mas também não ter um fluxo gigantesco de informações onde as pessoas não vão conseguir acompanhar [...] O Hard News ele precisa dar uma freada, tem que ter o imediatismo de certa forma, mas também precisa ter informação apurada. Não adianta querer correr atrás de um furo e soltar uma informação que não é completamente apurada e no fim ter que soltar uma nota de correção. Uma informação mal verificada é uma fake news.”

E ainda comenta sobre personalidades que compartilham informações e são mais bem recebidas do que a fonte jornalística: “O Twitter tem muito disso, devido as pessoas terem muitos seguidores, terem o verificado, geram essa sensação de confiança. Isso cria uma reação em cadeia gigantesca. O problema não tá só no veículo, mas também naqueles influencers que se acham detentores de algum conhecimento.” Coisa que ele chama de “Monstros de Opinião”, pessoas que compartilham seus pensamentos pessoais transvestidos de verdades e informação jornalística. Esse fenômeno criado pelas redes sociais, onde pessoas relevantes se sentem no direito de informar as pessoas e exercer o papel do jornalista é algo que preocupa profissionais de comunicação e representa grande perigo para a verdade, afinal, não se faz mais necessário a presença de um diploma para desempenhar a função de um jornalista, logo, erros que descredibilizam a profissão serão cada vez mais comuns.

Um exemplo disso foi quando as apresentadoras do podcast “PodCats” Camila Loures e Virginia Fonseca em uma “gafe” perguntam ao humorista Whindersson Nunes se ele pretendia ter filhos logo depois do falecimento de seu bebê nascido prematuro, a fala de Camila gerou certo desconforto no entrevistado que respondeu que ele sim, tinha um filho. A parceira Virginia decide replicar Whindersson com “Old” uma expressão nascida no Twitter que se refere a algo óbvio.

“As pessoas gostam de deter o poder da informação. As pessoas por trás desses perfis, por exemplo, elas acreditam muito em deter o poder da informação onde, ‘Olha, eu tenho um perfil com mais de 40 mil seguidores e sou verificado, logo a informação que eu der aqui tem um valor muito grande’ Um caso que eu critiquei foi, por exemplo, o Felipe Neto virar colunista. Eu entendo que as opiniões dele são importantes nesse período, mas quem é o Felipe Neto para eu dar uma coluna pra ele? Quem é o Felipe Neto para propagar informações com propriedade? Qual a formação dele? [...] Mas e as pessoas que são estudadas, que são especialistas? Que tiveram todo um processo de começar uma graduação, de terminar, de se especializar? Essas pessoas deveriam ser ouvidas?” Igor completa.

Muitos outros fatores colaboram para a criação de Fake News e destes braços antiéticos do jornalismo, porém, a importância dessa profissão é vista quando esse ambiente já está criado: quando notícias falsas já estão sendo propagadas ou quando internautas se deparam com o problema que uma entrevista mal encaminhada por leigos resultou.

É papel do jornalista desmentir essas desinformações e repassar a verdade no fim, bem como de explicar a problemática por trás de influenciadores e outros detentores de engajamento exercendo a profissão erroneamente. Porém, é necessário, antes, reconhecer a raíz do problema e deixar que profissionais façam seu trabalho, mas que também saibam reconhecer e exercer seu compromisso com a verdade e democracia acima do engajamento.

Grupos de pessoas com os mesmos interesses ajudam a recuperar perdas no mercado editorial e incentivam uma rotina mais saudável com a leitura
por
Rafaela Correa de Freitas
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16/11/2021 - 12h

Por Rafaela Correa de Freitas

Desde a invenção dos Ebooks, o mercado de livros voltou a estagnar e não viu mais seus dias de glória como quando os leitores bombaram com a ideia dos livros digitais. A chegada da pandemia intensificou a crise que já estava ocorrendo no setor, com a sua quase monopolização pela empresa Amazon vendendo livros físicos por menos da metade do preço e tornando seu E-reader o mais procurado do mercado, junto com a crise das MegaStores que fez com que grandes nomes falissem e fechassem suas livrarias no Brasil inteiro, culminou em mais um período turbulento para o setor.

Contudo, 2021 chegou, e apesar do vírus ainda estar circulando, o mercado por fim conseguiu respirar. O que houve foi que com as pessoas em casa, todos passaram a procurar na Internet o que poderiam fazer, e a resposta estava não só nos serviços de streaming ou jogos, mas também nas redes sociais que se tornaram verdadeiras aliadas quando, por exemplo, pessoas comuns passaram a divulgar sua rotina de leituras junto com os seus títulos favoritos e até mesmo memes. O TikTok foi uma delas, o próprio aplicativo bombou durante a pandemia mas os leitores criaram uma # dentro do app, formando uma comunidade efetivamente deles e criando verdadeiros influenciadores que levaram livros viralizados na plataforma ao topo de vendas e listas do The New York Times Best Sellers.

Um exemplo disso foi o livro “Mentirosos” da autora E. Lockhart que viralizou na plataforma e hoje não sai da lista de mais vendidos ou da seção de destaques de livrarias no mundo inteiro. A página em inglês do livro na Amazon até mesmo ganhou um novo título: “We Were Liars: The award-winning YA book TikTok can’t stop talking about!” (Mentirosos: O premiado livro jovem-adulto que o TikTok não consegue parar de falar!)

Afinal, quem são essas pessoas que estão por trás do sucesso de tantos livros e a alta de 48,5% da venda de livros no primeiro semestre de 2021? A resposta é que eles sempre estiveram ali, começaram nos blogs e se tornaram mais famosos no Youtube, conhecidos como Booktubers, mas também estiveram no Instagram (sim, os bookstagramers) e agora, com o Booktok e a Twitch (aplicativo e site para fazer vídeos ao-vivo) eles finalmente começaram a conquistar mais reconhecimento, trazendo benefícios não só para o mercado mas também para os leitores. Sejam as lives de “sprint” onde o influenciador lê algo ao vivo com seus seguidores incentivando um “clube do livro à distância” ou com as já conhecidas “resenhas” onde as pessoas dão uma nota junto com sua opinião sobre o livro, eles conquistaram espaço e criaram uma comunidade que se incentiva e apoia, trazendo temas importantes à tona como os gatilhos emocionais, classificação indicativa, problemáticas e representatividade nos livros.

Gabriela Rangel, dona do perfil artt.books no Instagram conta que teve a ideia no intuito de encontrar mais pessoas que compartilhassem do gosto pela leitura, mas encontrou muito mais: “Foi um espaço pensado para me dar liberdade de conversar com pessoas que gostavam das mesmas coisas. Acredito que quem me inspirou e me deu todo apoio do mundo foi meu pai, fico muito grata por ter ele ao meu lado!”, o perfil cresceu rápido, nasceu depois de um mês da criação de seu blog que conta com o mesmo nome, e hoje Gabriela se encontra na Twitch, onde faz lives, Youtube e Instagram.

Gabriela está segurando dois livros e sorrindo
Foto: @artt.books no Instagram

As comunidades de leitores formaram laços e conquistaram a atenção para um mercado há muito esquecido, mas como todas as outras, também trouxe discussões acaloradas sobre o que consideram melhor ou pior, criando até mesmo tribos dentro das redes com os que preferem gênero x acima do y e que entram em conflito constantemente. Com sua influência, tornou-se papel desses creators também servir como mediadores em discussões e até mesmo fazerem parte da construção de um coletivo mais saudável: “Acredito que o influenciador é importante para suprir a falta de investimento do Brasil no meio literário. Podemos observar o grande crescimento das páginas literárias no tiktok e sua grande influência no aumento da compra de livros. Além disso, acho importante o espaço deles nas redes sociais mostrando que existem outros gêneros literários e que precisamos respeitar a diferença de gostos em relação aos livros, opiniões e gostos sempre podem divergir e está tudo bem!” conta Gabriela.

Ela nos mostra um lado incomum disso tudo: não como o influenciador mudou a vida dos leitores, mas como a comunidade e seus perfis mudaram a dele: “Acredito que minha página abriu portas que eu nunca poderia ter imaginado. Comecei a me envolver bastante com redes sociais (algo que nunca gostei muito), criei laços maravilhosos com pessoas incríveis e, além disso, consegui me inserir bastante no meio editorial, hoje tenho parceria com 6 editoras fixas. Em mais de dois anos de trabalho, percebi muitas mudanças como: o profissionalismo, a melhora no conteúdo, a forma de demonstrar minhas opiniões e minha relação com o público. Acabei amadurecendo ao vivenciar as dificuldades de trabalhar nas mídias.” E com isso, a creator também cita o lado ruim de trabalhar com as redes sociais.

“Saber lidar com o público é um dos maiores desafios sempre, temos que ter muito cuidado com o que falamos na internet, principalmente nas bookredes. Acredito que a internet traz uma confiança que não temos na vida real, então é muito fácil ser machucado por comentários maldosos. Além disso, ter uma constância de conteúdo é bem difícil, sempre podemos enfrentar um bloqueio criativo”

Apesar de seus altos e baixos, essas comunidades foram em grande parte responsáveis pelos mais de 28 milhões de livros vendidos no início de 2021, onde a cultura se provou resistir mesmo em seus tempos mais tenebrosos.

 

A ciência ajuda os treinadores na tomada de decisão, escolhendo os melhores atletas para cada partida em função dos dados coletados nos jogos e treinamentos
por
Guilherme Lima Alavase
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18/11/2021 - 12h

Por Guilherme Lima Alavase

 

Para os jovens que gostam de futebol, assistir um jogo dos anos 70 ou 80 do século passado se torna um exercício de paciência. Eles acham lentos os jogadores do passado, tão idolatrado por seus pais e avós. Quando se estuda os treinamentos realizados naquela época, percebe que o máximo que os jogadores faziam nos treinamentos eram alguns exercícios bem simples, como corridas, polichinelos e flexões. Nos jogos era a famosa frase “jogar e deixar jogar”. Não havia a aceleração de hoje com a ocupação dos espaços por muitos jogadores, onde quase todos estão na faixa do campo em que a bola está sendo disputada. No passado o requisito básico para ter sucesso no futebol era ser driblador, ter domínio da bola e visão de jogo.

 

O futebol, chamado arte, foi se adaptando à modernidade, ganhando velocidade e força, com a utilização de padrões táticos rigorosos. O treinador passou a ser tão importante quanto o craque do time.

A mudança de atitude dos times não aconteceu ao acaso. Foi fruto da observação dos melhores times do mundo com os resultados alcançados em campo. O primeiro grande time que começou a utilizar a ciência no futebol, conforme entrevista concedida à revista Galileu, pelo médico e jogador de futebol Tostão, onde diz que a seleção brasileira de 1970 soube colocar em prática o conhecimento da ciência a favor do desempenho dos atletas. Aliou ao futebol arte de jogadores geniais como Pelé, Gerson, Rivelino, Carlos Alberto, Jairzinho, entre tantos outros, com métodos científicos de preparação física. Com o grande sucesso dos brasileiros, muitos times mundo afora, começaram a investir fortemente na preparação física, criando estruturas tecnológicas para preparar os jogadores fisicamente. Muitos fracassaram, pois uma estrutura científica utilizada em jogadores medianos não garantia o sucesso em campo. Descobriram que o futebol não é um esporte em que o ensaio e o treinamento exaustivo de jogadas garantiam a vitória, pois um jogo de futebol é uma sequência de fatores exatos intercalados aos acasos e momentos de pura sorte. Observaram que os resultados positivos eram fortemente influenciados por jogadores criativos e talentosos que não tinham medo de tentar lances improváveis. O talento e a criatividade estão na base do futebol. Com a certeza de que não bastava apenas o estudo, a ciência e a disciplina, começaram a buscar os jovens talentos, sobretudo da América do Sul. Foi assim que contrataram Lionel Messi, com apenas treze anos de idade, para as categorias de base do Barcelona. Confiavam na ciência para transformar o jovem franzino, mas extremamente talentoso, em um grande jogador. Deu muito certo. O Barcelona ganhou muitos títulos e fãs no mundo todo e proporcionalmente aumentou as suas receitas. 
O esporte mais popular do mundo, com grande exposição na mídia, paga aos melhores jogadores do mundo altos valores e em contrapartida cobra desempenho em todas as partidas e resistência para suportar a maratona de competições e jogos. Para transformar os jogadores em máquinas de jogar futebol, os maiores clubes do mundo investiram milhões de dólares na criação de centros de excelência para garantir que seus atletas atinjam o seu desempenho máximo. Os departamentos de análise de dados observam a forma de respirar, de andar, de correr, os movimentos realizados nos treinamentos e nos jogos. Utilizam de recursos tecnológicos como um sensor colado ao corpo dos jogadores. O sensor faz todas as medições necessárias que são imediatamente passadas para o computador que analisa os dados e, sob a forma de gráficos, mapas de calor e diagramas mostra ao treinador os acertos e as falhas de cada movimento, para que ele tome as decisões necessárias para aumentar a eficiência do atleta. Outro fator importante para melhorar o desempenho dos times é a utilização de equipamentos e testes médicos que ajudam a melhorar a recuperação dos jogadores, chegando até a prever possíveis lesões devido ao esforço realizado.

O grande desafio dos clubes estruturados é manter os atletas em atividade, sem interrupções. Para os atletas não “estourar” a equipe médica coleta amostras de sangue dos jogadores medindo os índices bioquímicos e metabólicos. Através dos exames é possível verificar se os atletas estão se recuperando adequadamente, se há processos inflamatórios, se o desgaste muscular está prestes a entrar em colapso etc. A partir dos dados coletados, o treinador tem condições de tomar a decisão que ele julgar mais acertada em função dos próximos jogos.

Como numa espiral ascendente, times competitivos ganham muitos jogos, conquistam campeonatos e passam a ser admirados por milhões de torcedores, que se tornam consumidores, comprando as camisas originais e diversos produtos licenciados, ampliando ainda mais as receitas dos principais clubes do mundo. Hoje, Barcelona, Liverpool, Real Madrid etc. têm uma legião de fãs espalhados pelos cinco continentes e para cada produto vendido em qualquer país, uma parcela do valor é revertida ao clube. Não é à toa que as pré-temporadas dos principais times são realizadas em países distantes, buscando novos torcedores e consumidores.

Resumindo, o futebol é arte, raça, emoção, habilidade e técnica. Agora, se ele vier acompanhado da ciência, do comprometimento tático, do preparo físico e mental, aí sim, o time poderá sonhar alto, brigar por títulos e ser um negócio altamente rentável.