Você já se imaginou comprando uma roupa que nunca vai vestir? E assistindo um desfile sem modelos reais? Parece estranho, mas experiências como essas estão começando a ganhar espaço no mundo da moda. A moda digital vem aparecendo nas passarelas e em novas coleções de algumas marcas. Fazendo com que a inteligência artificial fique literalmente na moda. Mas afinal, quais são os benefícios e impactos dessa nova tendência?
A inteligência artificial, também conhecida como IA, busca reproduzir a inteligência humana em computadores, e por meio de muitos dados as máquinas conseguem suprir necessidades que o ser humano nem sabia que tinha.
Hoje a IA está muito presente em quase tudo, e se tornou tão comum que o seu uso passa despercebido. Rico Malvar, um dos cientistas-chefe da Microsoft Research afirma que é uma tecnologia essencial, tão importante como a eletricidade.
Cada vez mais, essa tecnologia está sendo implantada na Indústria e todos os seus setores, trazendo muitas novidades e questionamentos. Ela está na palma da sua mão, dentro da sua casa, nas operações bancárias, na área da saúde. E um dos setores que a IA está sendo aplicada e vem trazendo diferenciais é o da moda.
Desde o ano passado, a IA vem se unindo à moda de uma forma bem futurista. Nos últimos meses pudemos observar o fenômeno das Fashion Weeks em formato digital em diversas partes do mundo.
A Shanghai Fashion Week foi o primeiro evento de moda a acontecer de forma totalmente digital em março de 2020. O evento tradicionalmente presencial havia sido inicialmente cancelado na China por conta da pandemia do covid-19, porém acabou acontecendo nesse novo formato. A semana aconteceu pela plataforma Tmall, marketplace de e-commerce chinês, contando com os desfiles e live shop, nova técnica de venda online.
No Brasil, surgiu, também no ano passado, o Brazil Immersive Fashion Week, exposição de roupas virtuais e desfiles em realidade aumentada com criações que misturam o “mundo real” com elementos do universo virtual. Uma das grandes atrações da edição 2021 foi a coleção do designer Lucas Leão, que também exibiu presencialmente em um galpão com cenário invisível a olho nu.
Com a popularização da IA e do metaverso, grandes empresas devem investir logo nesse próximo passo. “Quando o Facebook apareceu, era só uma brincadeira criada para falar quem era a mais bonita da faculdade, hoje o Mark Zuckerberg não para de falar nesse assunto. Não dá mais para acreditar que é algo irrelevante. Nessas primeiras edições, ainda estamos na fase de explicar para as pessoas o que são essas novidades”, disse Olívia Merquior, uma das idealizadoras do BRIFW, em entrevista à Veja São Paulo.
Na moda virtual, as roupas não são produzidas em tecidos ou qualquer outro tipo de material, são criadas a partir de softwares 3D, que não só ativam a movimentação dos tecidos, mas também estampa e diversifica modelagens de forma única e exclusiva. As roupas são inseridas digitalmente nas fotos ou vídeos do usuário.
As tecnologias são as mais diversas e as marcas como The Fabricant, Dress X e The Replicant Fashion são pioneiras e já dispõem de várias peças e looks diários que estão em evidência nas redes sociais.
A marca The Fabricant, especializada em avatares virtuais, foi uma das primeiras da moda virtual, ela permite que o cliente crie seu próprio avatar e disponibiliza as peças digitais para aplicação. Em 2019, vendeu a primeira roupa digital de luxo do mundo, um vestido de pixels, que foi leiloado em Nova York por US $9.500, mais de R $53 mil, na cotação atual. A proposta da marca recém-nascida vai além, e passa pelo metaverso.
No Brasil, essa moda vem sendo aderida e roupas digitais estão começando a cair no gosto do público. A empresa Genyz é a precursora em criações de avatares no Brasil e passou a ser responsável por peças das influencers virtuais, chamadas de Mia Bot e Princess A.I. Essa marca também é a primeira da América Latina a oferecer um serviço de escaneamento corporal digital para fabricação de roupas físicas.
Studio Acci, também é uma marca nacional que faz roupas 3D a partir de desenhos, fotografias e ideias para empresas do setor, que podem usar as peças tanto em propagandas quanto em editoriais.
Com os avanços tecnológicos e rápidas adaptações - ainda mais após enfrentar um cenário pandêmico - o mundo recebe de bom grado softwares e tecnologias inovadoras que geram mercados de consumidores mais conscientes e preocupados com o meio ambiente. Isto se dá pelo fato de que a utilização de algumas estratégias desenvolvidas pelo ramo da IA são capazes de traçar uma “previsão” de tendências, pois são desenhadas através do comportamento humano.
Como exemplo, no Brasil, a marca de moda Amaro é conhecida no meio por armazenar dados de seus consumidores através de observações de suas preferências. Uma vez armazenados, os dados geram um algoritmo capacitado para o desenvolvimento de novas produções que se encaixem nas expectativas dos clientes. Desta forma, a produção tem mais chances de ser assertiva e, portanto, não há grande margem para excessos de produções que podem não sair da vitrine e virar resíduos.
A partir de tudo o que já se conhece sobre a aplicação da IA no dia a dia, entende-se que, no mundo da moda, ela pode ser uma ferramenta útil para além da confecção de ideias e inspirações artísticas. Neste caso, a IA está se tornando uma forte aliada no segmento de estudos do mercado da moda. Isto é, mais uma ferramenta que se soma às análises de comportamento dos consumidores, além de ser uma das apostas para tornar essa indústria mais sustentável pois sabe-se que as produções têxteis são grandes geradoras de resíduos.
Por Giovanna Crescitelli
O livro" A fábrica da educação: da especialização taylorista à flexibilização toyotista", de Antunes e Augusto Pinto reflete sobre a escola que vigorou ao longo do ‘século do automóvel’. Henry Ford (1863-1947) foi o grande precursor da ‘indústria de massa’ focada na produção em larga escala com o uso de linhas de montagem e padronização técnica. O fundador da empresa Ford, uma das indústrias mais importantes do capitalismo contemporâneo, foi considerado um obstinado pela produtividade do trabalho. Teorizado por Taylor, o modelo de produção que despreza o conhecimento dos trabalhadores, realizou mudanças na organização do trabalho e influenciou o consumo e circulação dos produtos.
O objetivo era limitar os conhecimentos, os saberes-fazeres e o poder de barganha dos trabalhadores usando especializações fragmentadas. Nesse modelo de educação, cuja principal função é a formação de força de trabalho para o mercado, o estudante deveria ser preparado para as tarefas segmentadas com um bom grau de disciplina e obediência para atender as demandas de sua linha de produção sem questionamentos. A partir do esforço de guerra nos Estado Unidos o modelo de treinamento foi propagado internacionalmente carregando uma metodologia de educação industrial dominada pelo caráter utilitário que fornece apenas o treinamento necessário para que o trabalhador atenda às demandas da produção.
O final do século XX foi marcado pela crise do modelo fordista, resultado do limite da absorção dos excedentes de capital, levando a um regime de acumulação flexível e a um processo de formação de trabalhadores para processos de trabalho efêmeros.Nas décadas de 1950 e 1960, a expansão do modelo americano tornava obrigatório o aumento de produtividade no contexto global e a indústria japonesa passava por um processo de recuperação. No Japão a metodologia foi aprimorada pela empresa Toyota que inovou ao adicionar mecanismos, como o princípio de melhoria contínua e a flexibilidade na produção, que redesenharam a estrutura de educação.
A expansão do toyotismo levou à flexibilização da produção mundial e das relações entre trabalhador e empresa. Isso gerou novos desafios para o sistema educacional. Elementos como polivalência e multifuncionalidade tornaram-se essenciais na educação dos trabalhadores porque, sob o nome de capital humano, o trabalhador passou a ser um meio de produção produzido obrigado a ocupar uma posição de trabalhador ‘empresário’. A pandemia representou uma aceleração na transição para o ambiente digital, sacudindo as relações de trabalho e pressionando a adoção de tecnologias que já eram conhecidas, mas engatinhavam. Até o final de 2019 a plataforma Zoom tinha 10 milhões de usuários ativos por dia, aṕos um ano de pandemia e isolamento social o número ultrapassa 300 milhões - um aumento espantoso de 3000%.
Em junho de 2020 a Uninove demitiu mais de 300 professores por uma mensagem eletrônica na plataforma usada para ministrar as aulas de forma remota devido a pandemia global do coronavírus. Segundo informações do Sinpro (Sindicato dos Professores de São Paulo) as aulas online reduziram as barreiras físicas dos diferentes campi que a universidade possui e permitiram que um número maior de alunos pudessem acompanhar uma mesma aula. A lógica da demissão obedece a lógica do capital, ou seja, maximiza os lucros enquanto descarta os trabalhadores.
Sérgio Feldmann de Quadros é doutorando na Faculdade de Educação da Unicamp. Sua área de estudo é a relação de trabalho e seu reflexo na educação. Sobre a situação que aconteceu ano passado ele comenta: “O exemplo das demissões na Uninove é bem representativo”. Para o pesquisador: “questiona-se que tipo de educação é essa em que um professor dá aula para 300 ou 400 alunos.” Ele explica que uma das características do trabalho plataformizado é justamente uma necessidade menor de professores para um mesmo número de alunos.
Durante a pandemia uma parcela dos trabalhadores conseguiu atuar de dentro de casa. Sérgio coloca que os professores passaram a usar seus próprios recursos para darem aula. “Por um lado se era uma segurança, devido ao risco de contágio, por outro os trabalhadores passaram a assumir parte dos custos da produção. Por exemplo, os equipamentos são pessoais e quem paga as contas de luz etc. é o trabalhador”. Para ele os professores são um forte exemplo disso.
Nenhuma das mudanças que observamos nos últimos 18 meses é exatamente nova, na verdade muitas das tecnologias usadas amplamente na pandemia já estavam disponíveis. Esses processos foram acelerados pelas condições impostas pelo avanço da COVID-19. Como exemplo, Sérgio fala dos trabalhadores de call center que já usam o modelo de trabalho remoto. Sobre como essas mudanças podem interferir na educação, Sérgio comenta que: “a formação dos trabalhadores demanda que eles se adaptem às novas tecnologias. O mercado demanda que os trabalhadores se adaptem às novas tecnologias. É possível que nas escolas aconteça uma formação voltada para esse trabalho, mas sempre lembrando que o capital necessita de capital de formações diversificadas, tendo em conta a divisão do trabalho uma divisão de formações diversificadas”. Portanto, sempre terá espaço para que diversos modelos de educação coexistam.
Os autores Antunes e Augusto Pinto defendem uma reflexão sobre uma educação humanista e emancipatória. Para eles, os modelos de produção fordista e toyotista influenciaram a formação da população mundial transformando-os em mercadoria. Dessa forma, o livro demonstra que a educação, historicamente, se subordina à lógica do capital. O pesquisador concorda com os autores e explica que a formação dos trabalhadores muda conforme o capital se transforma. Sérgio exemplifica que no processo de industrialização a formação dos trabalhadores foi elaborada e gerida pela burguesia industrial. Atualmente, o setor financeiro, com destaque para os bancos, tem liderado a produção de políticas educacionais, com base nos modelos de gestão empresarial do mercado financeiro. Os modelos de educação pensados por essa fração burguesa, além de contribuírem com a reprodução das desigualdades, se caracterizam pela formação de sujeitos submissos e que consentem com a sociedade burguesa neoliberal.
Por Carlos Daniel Englert Kelm
No livro “A fábrica de cretinos digitais”, Michel Desmurget descreve que pela primeira vez, filhos têm QI inferior ao dos pais. O neurocirurgião francês se baseia em diversos estudos para criticar os hábitos dos chamados ‘Nativos Digitais’. “Inúmeros especialistas denunciam a influência profundamente negativa dos dispositivos digitais atuais sobre o desenvolvimento”, afirma Desmurget.
A doutora em psicologia pela UFMG e professora, Carla Angeluci explica que os dispositivos digitais oferecem alguns riscos para a juventude, mas que não devemos nos precipitar: “É preciso entender que estamos vivendo um momento novo na história da informação, e diante de um fenômeno tão recente, não dá para concluir com precisão com o que estamos lidando. O que dá para dizer é que os dispositivos eletrônicos têm efeitos no desenvolvimento cerebral de crianças, por que já foram observados diversos fenômenos comportamentais novos ligados às telas”, frisa.

Angeluci comenta os casos que têm sido observados: “Crianças que foram expostas a telas muito cedo, em alguns casos, confundem a interação física com a interação digital. O contato com telas é tão naturalizado que elas manuseiam objetos físicos como se fossem um celular mesmo, pressionando e passando os dedos nas paginas dos livros e outras superfícies”. No entanto, a psicóloga afirma que quase sempre casos como esses são passageiros: “Durante a infância, a criança passa por diversas fases, o cérebro está em constante mudança e aprendizado. Com o tempo, a criança vai conquistando uma compreensão mental e motora maior do mundo e essas questões geralmente são superadas”, explica.
O ‘Efeito Flynn’, citado por Desmurget em seu livro, diz respeito a um fenômeno observado nas últimas décadas: na população mundial há uma tendência na qual filhos que são submetidos ao mesmo teste de QI que os pais, em média, têm um desempenho melhor. O neurocientista explica que nos últimos anos se observou o efeito contrário. Pela primeira vez os filhos teriam desempenho inferior. Para Desmurget, a principal causa disso seria a exposição exagerada a dispositivos eletrônicos.
Angeluci afirma que o Efeito Flynn não deve ser usado como um índice de risco: “O Efeito Flynn é um fenômeno muito interessante, mas não é uma regra. Eventuais alterações podem acontecer. Mas essa mudança observada pode sim ser um aviso para os pais que são muito liberais com relação à internet e celulares”
Para a psicóloga, não há como negar que exista um risco: “Existe de fato um aumento significativo nos casos de TDAH entre crianças. A gente observa um número grande de crianças imperativas, ansiosas ou com algum problema de aprendizado, e talvez o meio digital tenha um papel nisso, mas não dá para afirmar com certeza”, avalia.
“Algo que se tem observado, principalmente na área da educação, é que a geração digital tem maior dificuldade com a leitura. Mesmo que sejam muito bem alfabetizadas, muita gente tem dificuldade para se concentrar em textos mais longos. Os jovens estão muito habituados a receber informações pela internet, e o tipo de informação que você encontra em sites como o twitter, instagram, etc, é sempre rápida e fragmentada, diferente de um livro”, comenta a professora. Angeluci também recomenda o livro ‘A geração superficial: o que a internet está fazendo com os nossos cérebros’, do jornalista Nicholas Carr, para quem deseja se aprofundar.

Por Rafaela Reis Serra
A 34ª Bienal Internacional de São Paulo conta com mais de 1100 obras de 91 artistas de todos os continentes, ao mesmo tempo em que, as tecnologias atuais mais inovadoras não foram utilizadas para compor a exposição, fazendo o uso de maior parte de quadros, esculturas e projeções audiovisuais, objetos frequentes há muito tempo no cenário cultural. Entretanto, seu objetivo foi focar no presente momento político em que o País vive, mostrando que a arte sobrevive frente ao sucateamento da cultura promovido pelo Governo Federal.
A arte geralmente é o retrato do momento atual e, concomitantemente, a face vanguardista do futuro. A edição da Bienal deste ano, conta com muitos quadros de artistas já consolidados no mundo artístico; outros mais recentes, como a artista Grace Passô e é a primeira edição com maior representatividade indígena, como Jaider Esbell (1979-2021). Porém, sem tecnologias atuais como realidade virtual, realidade aumentada ou NTFs, muito presentes na esfera pública no momento vigente.
“Na trajetória da arte contemporânea, o tipo de experiência que sai para além do olhar, é uma coisa que vem se tornando cada vez mais comum, por exemplo, a Lygia Clark. É algo que vem para ficar no sentido de que houve uma espécie de esgotamento da visão, e os artistas estão procurando trabalhar com outros sentidos”, diz o curador e professor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Marcus Vinicius Fainer Bastos, sobre a arte contemporânea.
O título “Faz Escuro, mas eu canto”, em alusão aos tempos de repressão no Brasil (1964-1985) e, por conseguinte sua resistência, conta com obras como de Hélio Oiticica (1937-1980), Lasar Segall (1889-1957) e Antonio Dias (1944-2018). Segundo o curador Jacopo Crivelli Visconti, em entrevista à PUC, o título ressoa muito nítido no momento em que se está e, mais ainda, por tudo que se vive nos últimos meses com a pandemia, se comparado a ocasião em que se estava quando escolheram o tema. “Ao falar de escuridão, essa metáfora que o poeta coloca, estamos pensando mais numa situação política e social, questão que são parte da história do Brasil desde a colonização. Veio a pandemia e agravou de maneira muito evidente todas essas questões e o título se tornou ainda mais forte.”
Visconti esclarece que no título, baseado no poema do autor Thiago de Mello (1926), claramente está se vivendo um momento extremamente tenso e problemático de inúmeros pontos de vista, mas que apesar das circunstâncias, defende a necessidade e o desejo de cantar. “Para gente era o contraponto essencial, porque queríamos fazer uma Bienal que fosse nitidamente em resposta a tudo que vemos ao redor, mas que também conseguisse ter a coragem de não se limitar àquilo.”
A curadora Stephanie Guarido afirma que existem bastantes obras atuais que poderiam ter sido utilizadas em alusão à resistência e ao momento político atual, como as que estão presentes na exposição: as de Jaider Esbell, Daiara Tukano e Paulo Nazareth. “Porém, é sempre necessário relembrar a obra de artistas como Antonio Dias, este que faleceu recentemente e teve grande parte de sua produção interpelada pela ditadura militar e seus efeitos. Olhar o presente também é relembrar o passado, que nunca pode ser esquecido.”
Guarido defende que a grande estrela são as questões políticas e principalmente indigenistas, logo, não crê que a virtualidade esteja presente na mostra. “As tecnologias são importantes, mas as ideias por trás das obras devem ser o maior fator para seleção.”
A questão tecnológica
Para não falar que não há inovações da época presente, a Bienal apresenta uma experiência imersiva no andar térreo, logo em sua entrada, onde o expectador utiliza fones de ouvido, sendo sons da natureza ao fundo e a orientação de uma voz feminina - muito parecida com as vozes robóticas de aplicativos como Google Tradutor ou Google Mapas - com comandos como: “ande sem alguém por perto”, “coloque as mãos para trás” entre outros, permitindo que o público tenha um experimento singular.
Marcus Bastos afirma que a ausência de quadros em certas exposições é devido a um período da arte contemporânea que os artistas pararam de fazê-los, mas que a relação com eles é inesgotável: “a pintura, escultura, todos os formatos mais clássicos da arte são inesgotáveis, as pessoas sempre vão ter experiências muitos ricas em relação a essas mídias. A arte contemporânea deixou de fazer pinturas com tanta freqüência e tudo tem que ser adequado ao contexto.”
O que é a Bienal
A Bienal surgiu a partir de obras trazidas por Francisco Matarazzo, o “Ciccillo”, em 1951, ao Brasil, promovendo em São Paulo a reunião de variadas obras de diferentes artistas mundiais. Foi baseada na Bienal de Veneza, criada em 1895. Há 70 anos, a segunda bienal mais antiga do mundo acontece em São Paulo e seu nome é devido ao fato da exibição acontecer a cada dois anos. Este evento foi responsável por inserir a cidade paulistana no circuito mundial da arte contemporânea.
Segundo Agnaldo Farias, curador da 29ª Bienal de São Paulo, “A Bienal é o lugar do não cotidiano, é o lugar da invenção, é o lugar da liberdade. Mostra o que está acontecendo agora, o quê é mais radical, o quê é mais transgressivo, o mais ousado, porque o resto, os museus não contam”, além de manifestar o futuro da expressão e o “amanhã” da arte.

As assistentes virtuais são, definitivamente, uma sensação do marketing digital. Com a função de humanizar a relação entre cliente e marca, as personagens trazem informações, oferecem soluções e tiram dúvidas. Todavia, nem tudo que envolve essa tendência é positivo. O fato da maioria das assistentes serem mulheres abriu margem para um grande número de assédios, tanto morais quanto sexuais. Desse modo, a comunicação entre o consumidor e a empresa se torna mais ágil e eficiente, porém essa facilidade pode ser problemática também.
Na realidade, a ideia é criar um avatar que carregue os valores da empresa e que através dele, as pessoas se identifiquem com os produtos e se tornem potenciais clientes. Além disso, as assistentes podem servir como cartão de visitas de uma determinada marca e/ou podem atuar como influenciadoras digitais. O propósito é ter a imagem de como a marca seria se fosse um indivíduo, o que potencializa o reconhecimento da marca, já que o “rosto” da personagem estará sempre atrelado a alguma ação da empresa.
Em suma, é preciso que a personalidade do personagem agrade o público alvo. Atualmente, vender apenas produtos já não é mais suficiente, é preciso vender valores e para isso, é preciso uma figura humana, nem que ela seja apenas virtual.
Em decorrência da adesão popular desses personagens, as empresas estão, cada vez mais, investindo nesse suporte on-line. Na atualidade, há uma variedade delas, como a Bia, do Bradesco; CB, das Casas Bahia; Sam, da Samsung; Nat, da Natura e a Lu, da Magazine Luiza.
Conforme informam os dados do Magazine Luiza, a estratégia tem dado certo. Afinal, analisaram que 60% dos indivíduos que entram em contato com a assistente não precisam dialogar posteriormente com o SAC.
Sob essa perspectiva, nota-se um crescimento e alcance significativos das assistentes virtuais. No ano passado, a Ilumeo, empresa de ciência de dados, fez uma pesquisa que contabilizou o aumento de 47% na utilização de serviços com assistentes virtuais por voz.
A Lu registrou 8,5 milhões de interações no primeiro semestre de 2020. Além disso, sua inteligência artificial evoluiu. Agora, conta com a plataforma IBM Watson Assistant, que possui uma variedade de programações capazes de executar diferentes serviços e passou por atualizações para englobar informações a respeito do rastreio de pedidos e curiosidades sobre ela mesma.
Outra robô influenciadora que teve a adesão do público no ciberespaço é a Mara, da Amaro. Contando com mais de seis mil seguidores no Twitter, ela compartilha, na rede social, informações sobre a marca e até mesmo utiliza memes e comenta sobre notícias que viralizam na internet.
Desde que as sessões de fotos presenciais com equipes foram suspensas, devido à pandemia da Covid, a fashiontech começou a buscar alternativas para produzir conteúdos remotamente. “A modelo virtual foi projetada para atender às demandas da equipe de marketing e produtos para a criação das campanhas e lookbook em tempos de isolamento social”, explica Luciana Cardoso, diretora de criação da Amaro, para a Harper’s Bazaar Brasil.
Tendo como intuito ajudar a empresa em diferentes atividades, a personagem Mara foi criada através de uma técnica mista que contou com o trabalho de diversos profissionais, como fotógrafos, modelos, designers e programadores.
A Amaro criou um perfil mais humanizado para a Mara, atribuindo data de aniversário, preferências e gostos. Inclusive, no site da marca é exposto que seu visual é baseado em dados e sua personalidade em seu mapa astral.
Uma outra estratégia com finalidade de gerar conexão com o público foi uma ação da marca de incentivo à autoestima. Através de uma enquete no Instagram da Amaro, a modelo virtual apresentou alternativas para mudar de visual. Cerca de 75% dos participantes optaram pela transição capilar da assistente. No decorrer do movimento, ela relatou nas redes como estava sendo o processo de deixar as químicas e aceitar sua nova versão.
Entretanto, precisamos ressaltar que o assédio virtual também é uma realidade. Um estudo chamado “I’d Blush If I Could” (“Eu ficaria corado se pudesse”), divulgado pela Unesco em 2019, revelou que ao serem assediadas verbalmente, as assistentes virtuais são passivas.
O fato dessa tecnologia ser interligada à figura feminina, acarreta muitas vezes que ela seja submetida à misoginia, tal como as mulheres reais. E, dependendo da área do negócio, a imagem feminina pode não ser vista como ideal, principalmente, em assuntos de cunho masculino. Empresas de finanças e investimentos usam vozes masculinas, pois o público dá mais credibilidade.
“Quando se pensa que o mundo da tecnologia tem um público majoritariamente masculino, branco, heterossexual, e muitas vezes, de uma classe econômica com um certo poderio econômico, essas questões estruturais para a sociedade não são tão relevantes para essas pessoas que estão construindo o chatbot.”, disse Livy Real, doutora em Linguística pela Universidade Federal do Paraná, ao Jornal da USP.
Em 2020, o Bradesco registrou 95 mil mensagens ofensivas para a Bia. Em campanhas publicitárias, o banco se posicionou contra o assédio que sua assistente recebeu, comunicando que ela não tolera mais esse tipo de ataque.
Valéria Vieira, fundadora da Startup Langue, apontou para o Jornal da USP que, ao utilizar uma voz feminina, as assistentes são associadas a um imaginário machista, que liga a mulher ao cuidado, afeto e a subserviência.
Por conta dessas situações, a Unesco, em 2020, lançou a campanha #HeyUpdateMyVoice (“Ei, atualize minha voz”), onde mulheres gravassem respostas às ofensas sofridas por assistentes virtuais. A instituição orientou que essas tecnologias respondessem de forma mais contundente, auxiliando na educação da sociedade contra o assédio.