Começou nesta segunda-feira (30), a 15ª Retomada Indígena na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), no Campus Monte Alegre. O Programa Pindorama organizou o evento e esteve responsável pela frente de apoio ao acesso e à permanência de estudantes indígenas na universidade. A Retomada se estende até o dia 10/11 (sexta-feira), e conta com programações diversas: feira de arte indígena, exibição de filmes e rodas de conversas.

O evento coloca as demandas indígenas à luz do debate, bem como contribui para a preservação das práticas dos povos tradicionais. Entre as pautas que a Retomada procura promover estão: a presença de indígenas nas instituições de ensino, direitos humanos e territoriais. Josemar Pereira, artista participante da feira, ressaltou a relevância de divulgar o seu trabalho. “Estamos divulgando que a gente existe, que a gente vai continuar existindo e levando um pouco da cultura dos indígenas para os não indígenas."



Além da programação do evento, a 15ª Retomada Indígena conta com a exposição do Manto Tupinambá, peça tradicional, feita com penas vermelhas de Guará, uma ave típica do litoral atlântico. A solene vestimenta retrata o protagonismo indígena na arte e a necessidade de um resgate cultural. Em junho de 2023, o Nationalmuseet (Museu Nacional da Dinamarca) anunciou a sua devolução e a PUC-SP é um dos locais que irá hospedá-lo.
PROGRAMAÇÃO DA 15° RETOMADA INDÍGENA:
30, 31/10, 01/11 e 06 a 10/11 das 10h às 21h
Feira de Arte Indígena
Local: corredor em frente a biblioteca
06/11 – das 19h às 21h
Abertura da Retomada Indígena e da Exposição do Manto Tupinambá
Local: início na Prainha com o Toré em direção ao Auditório 239.
Convidada: Glicéria Tupinambá
07/11 – 17h
Filme: Glicéria Tupinambá e Alexandre Mortagua
Local: Auditório Paulo VI
7/11 das 19h às 21h00 - Roda de Conversa:
TERRA: MARCO TEMPORAL, TERRITÓRIOS E A LUTA PELOS DIREITOS INDÍGENAS.
Local: sala tecnológica 305
Convidados: Valcenir Tibes Karaí (Liderança da TI TENONDÉ PORÃ), Gilberto Awa Tupi Guarani, liderança da Aldeia Multiétnica Filhos desta Terra de Guarulhos (lideranças ainda a definir) e Álvaro Gonzaga Guarani Kaiowá (advogado indigenista e professor de Direito da PUC-SP)
08/11 das 10h às 12H00 - Roda de Conversa:
JUVENTUDES INDÍGENAS E A LUTA POR DIREITOS
Convidados: Pedro Pankararé, Sabrina Xucuru e Talyta Terena
Local: auditório 134 C
08/11 às 12h
Filme: Glicéria Tupinambá e Alexandre Mortagua
Local: Auditório Paulo VI
09/11 das 19h às 21h - Roda de Conversa:
DIREITO À CIDADE E POVOS INDÍGENAS
Convidados: Egina Silva Kaimbé, Estudantes Indígenas e Escritório Modelo da PUC-SP
Local: a confirmar com Eventos.
INSCRIÇÃO PARA O EVENTO É GRATUITA:
https://eventos.pucsp.br/retomadaindigena/








Nas profundezas da terra, onde o eco do tempo ressoa, a mineração emerge, e o rio Doce,
amargo se torna. Mas, na aldeia Krenak, existe uma serra,
Takukrak, onde dela, A lama, triste testemunha, da terra se desvela.
Em rios que já foram puros, agora corre um lamento,
A terra da mineração, um sinistro tormento.
Se espalha como sombras num crepúsculo sem fim,
Engolindo a pureza, rompendo a vida, apagando o brilho.
E a visão do terreiro, que sempre foi termômetro
Sobre o futuro ser bom ou mau
Infelizmente, a resposta é indefinida
Pela certeza do progresso sem uma busca pelo final.
O rompimento da barragem do Fundão no município de Mariana (MG) aconteceu no dia 5 de novembro de 2015, sendo considerado o maior desastre ambiental da história do Brasil por muitos especialistas do meio ambiente. Contudo, para o povo Krenak o ocorrido ultrapassa os limites de ‘desastre’ e se configura como mais um episódio de luta dos indígenas no Brasil.
De acordo com a Secretaria de Estado de Meio-Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (SEMAD), os rejeitos devastaram o Distrito de Bento Rodrigues e conduziram-se em 55 km até o Rio Gualaxo, afluente do Rio do Carmo que é afluente do Rio Doce.

Geovani Krenak, líder indígena e vereador da cidade de Resplendor em MG, declara que o intitulado “desastre” deveria na realidade ser retratado como crime, já que foi por negligência da empresa Samarco, subsidiária da Vale, que a barragem cedeu. “É bom olhar os termos utilizados pra gente não reforçar a ideia de desastre, uma coisa mais no âmbito natural, nesse caso foi crime. Um crime premeditado, digamos assim”, afirmou.
Leonardo Alves da Cunha, professor de sociologia do IFSP campus São Miguel Paulista, fala sobre a relação do indígena com a natureza, a qual também se difere de acordo com cada povo. Também orientador do núcleo de estudos afro-brasileiros e indígenas da instituição, afirma que existe para os Krenak, uma ligação cosmológica, de ancestralidade e fixação no território: “A gente poderia chamar de conexão com a natureza no sentido de que eles não a pensam como um depósito de recursos, que pode ser o tempo inteiro utilizado para tirar o que quiser.”
Para a ativista indígena e diretora escolar municipal, Ludimila Krenak, o impacto do crime foi avassalador em todos os âmbitos. A pedagoga pontua que eles tiveram que criar muitas adaptações, como consumir água mineral em garrafas de plástico e necessitar de caminhões pipa: “Depois da contaminação do Watu, nós passamos a ter inúmeras dificuldades para fazer nossos rituais culturais, pois o rio era nossa fonte de alimentos, água, lazer, esportes, onde colhíamos nossas ervas medicinais, ensinávamos as crianças a nadar e a pescar. Perdemos isso tudo”.
"Watu" como é chamado por Ludimila, diz respeito ao Rio Doce que para os Krenak é como um ancestral. Leonardo, ao explicar sobre essa relação, ressalta as falas de Ailton Krenak, em que o escritor discute a existência de muitas humanidades diferentes e a mais próxima dos indígenas tem uma relação muito íntima com as paisagens naturais, considerando-as realmente seres vivos.
Segundo a diretora, "Difícil é encontrar alguma forma que esse crime não me atinja". Aprender a nadar para os Krenak não é apenas nadar como para os não-indígenas. Ela afirma que fazer isso é criar um vínculo eterno com Watu, relatando que aprendeu a nadar no rio juntamente com todos os seus familiares, mas suas 3 filhas não conseguirão seguir a tradição.
"O Watu não conhece minhas duas meninas mais novas, a primeira foi batizada nele, as outras nem isso puderam. As ervas que o rio nos oferecia para dar o primeiro chá e o primeiro banho nos recém nascidos não podemos utilizar mais, isso me fere diariamente, uma ligação espiritual que não existirá com as novas gerações", completa.
O vereador, Geovani, disse também que os Krenak estão exigindo ações referentes à água do Rio Doce e reivindicado minimamente condições de vida no vale. Ele declara com indignação: “O crime aconteceu em 2015, acontece hoje e vai continuar acontecendo durante muito tempo”.
A respeito de tratar esse tema em aula e questionar os alunos sobre como resolver o problema, Alves completa: “Perderam vidas, propriedades, a maneira como viviam coletivamente, seus bens, tanto suas casas quanto seus objetos. Como é que repara isso? Você dá uma indenização? Você manda para um outro lugar? Tem coisas que são imateriais, que você não consegue reparar com dinheiro, né?”
O Xingu é um dos territórios indígenas mais fotografados e filmados no mundo. Sobretudo por olhares quase sempre de uma branquitude que desconhece o protagonismo e a identidade dos povos originários. “Mas hoje nós somos protagonistas da nossa própria história, não conhecíamos o audiovisual, agora conhecemos. Somos donos da nossa imagem e levamos as lutas dos povos do Xingu para museus, festivais, cinemas, redes sociais e exposições”, defende Takumã Kuikur.
Com curadoria de Guilherme Freitas e Takumã Kuikuro, a exposição “XINGU: Contatos” fica aberta ao público até o dia 09.04 no centro de São Paulo e conta como os povos da região do XINGU utilizam equipamentos de audiovisual para registrar sua e forma de ver o mundo para além da visão do homem branco.

A amostra está localizada nos 7° e 8° andar do IMS e lá é possível entender um pouco como câmeras, tripés e lentes chegaram até os indígenas. A maneira como isso é apresentado é bastante plural, sendo possível ter acesso aos textos dos curadores, fotos e vídeos tiradas das populações, até as próprias gravações feitas por elas.
Ao entrar nas salas ocorre uma desconstrução do imaginário popular do que seriam essas comunidades, já que a história dos povos originários sempre foi narrada pelo viés do homem branco. Os documentos expostos subvertem essa narrativa mostrando desde os rituais até o impacto da exploração do meio ambiente. Há uma humanização daqueles que sempre foram desconsiderados pessoas constituídas de direitos.
O último andar do prédio é uma área comum que também expõe algumas atrações mais interativas como, por exemplo, quadros com palavras no dialeto de alguns povos e imagens com a tradução para o português. A exposição é gratuita e pode ser visitada de terça a domingo das 10h às 20h, podendo ser acessada até meia hora antes do encerramento. O IMS fica localizado na Avenida Paulista 2424 ao lado da estação Paulista (linha amarela) e Consolação (linha verde).
Para mais informações acesse: https://ims.com.br/exposicao/xingu-contatos_ims-paulista/
Rio São Francisco,
Rio Pinheiros,
A aldeia de Caynã Pankararu é favela,
Real Parque, próximo ao Estádio do Morumbi.
Morumbi, termo tupi-guarani,
"Morro verde", mas de aspecto concretal.
A aldeia Pankararu é de Pernambuco,
Mas também é Real.
Os corpos que habitam essa comunidade,
De luta contínua, de geração a geração,
São mais do que cultura,
Também são tradição.
Leroy Merlin,
Shopping Cidade Jardim,
O que antes eram terras indígenas,
Hoje são antros do capitalismo sem fim.
Caynã vive, mas a burguesia lhe tirou,
O que antes era lar,
Hoje é Pão de Açúcar,
Não os morros, e sim o supermercado,
Mas ele não se abalou,
Não se sentiu derrotado.
A resistência indígena jovem,
Que ele defende desde que se conhece por gente,
Não fortalece apenas Pankararu,
Mas todos os primos, de norte a sul.
Apesar da distância, a aldeia continua viva,
Mais de duzentas famílias são periféricas,
Com invasões e truculência policial,
Retornar à aldeia nordestina é cultural,
É espiritual.
O ID Jovem traz conforto,
Voltar à aldeia raiz por vinte reais traz o barro sagrado,
A pintura corporal traz o encontro,
Ensinar o sagrado é elevado.
Que as escolas Pankararu,
De professores indígenas e não-indígenas,
Ensinem sempre ao seu povo,
Que resistência é essencial,
Ainda mais para a aldeia Pankararu, que é Pernambuco, é Real.