A Avenida Paulista foi palco, neste último sábado, 15, de uma das manifestações contra o Projeto de Lei (PL) da Gravidez Infantil. O protesto teve como objetivo principal denunciar os riscos e as implicações negativas do PL para a saúde e os direitos de mulheres, crianças e adolescentes no Brasil.
A concentração, organizada por entidades feministas, começou por volta das 15h, no vão livre do MASP. Participantes de todas as idades se reuniram, empunhando cartazes e gritando palavras de ordem como "Criança não é mãe!Estuprador não é pai". Simone Nascimento, CoDeputada estadual da bancada feminista do PSOL, e uma das líderes do movimento e ativista pelos direitos das mulheres, discursou para a multidão: "Nós estamos aqui para dizer, que contra a bancada do estupro, eles tem as feministas na rua! E nós mulheres, principalmente mulheres negras, estamos cansadas de estupros, de violência, é por isso que estamos protestando".
No Brasil, as mulheres negras são as mais vulneráveis ao aborto devido a uma combinação de fatores sociais, econômicos e raciais que exacerbam suas condições de vida. Para cada 10 mulheres brancas que fizerem aborto, haverá 15 mulheres negras, aproximadamente, de acordo com um estudo realizado por universidades da América Latina e publicado na revista Ciência e Saúde Coletiva.
A desigualdade racial no acesso a serviços de saúde de qualidade, somada à precariedade econômica e à discriminação institucional, resulta em um maior risco para essas mulheres. Elas frequentemente enfrentam dificuldades para obter informações e métodos contraceptivos, além de sofrerem violência obstétrica e terem acesso limitado a abortos seguros e legais. Esses obstáculos levam muitas mulheres negras a recorrerem a abortos clandestinos e inseguros, colocando suas vidas em perigo e perpetuando um ciclo de vulnerabilidade e marginalização.
A mobilização é considerada uma das maiores nos últimos meses na capital paulista e reflete a crescente insatisfação popular com medidas que restringem os direitos reprodutivos. O ato contou com o apoio de várias organizações não-governamentais, entidades de direitos humanos e movimentos feministas. Entre os presentes, destacaram-se representantes da Minha Sampa, Bancada feminista do PSOL, Juntas SP, Rede Feminista de Saúde, Campanha Nem Presa Nem Morta, Frente contra a Criminalização das Mulheres e pela Legalização do Aborto, Anis - Instituto de Bioética, Marcha Mundial de Mulheres e Associação Nacional das Defensoras e Defensores Públicos (Anadep).
Beatriz Almeida, de 26 anos,participou do protesto e afirmou "estou aqui hoje porque não consigo nem imaginar a dor, e o desespero das minhas amigas, e de todas as mulheres que estão prestes a se tornarem, ou já são mães passando por isso. A decisão sobre o nosso corpo deve ser nossa". Já Thais Oliv, mãe de uma menina de 10 anos, destacou a importância de informar e educar: "precisamos de mais educação sexual nas escolas, não de leis que punam nossas meninas".
A Câmara dos Deputados aprovou a tramitação em caráter de urgência do PL 1904/2024, proposto pelo deputado federal Sóstenes Cavalcante (PL-RJ) e assinado por outros 31 parlamentares, na última quarta-feira (12). Agora, ele será votado pelo plenário da Casa, sem antes passar pelas comissões especiais e na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça).
O projeto de lei pretende equiparar a sanção do aborto realizado após a 22ª semana à pena de homicídio simples, podendo chegar a até 20 anos de reclusão. A legislação atual já criminaliza a prática com penas que variam de um a três anos de reclusão, quando provocado pela gestante; um a quatro anos quando médico ou outra pessoa provoque um aborto com o consentimento da gestante, e de três a dez anos para quem provocar o aborto sem o aval da mulher.
A legislação atual respalda a realização do aborto em apenas três hipóteses: quando houver risco para a vida da gestante; na gestação de feto anencéfalo e em caso de gravidez fruto de estupro.
Quais os impactos do projeto?
Em 2022, o Brasil alcançou o número de 74.930 casos de estupro, o que representa um aumento de 8,2% em relação ao ano anterior e se consolida como o maior registro da história do país, podendo ainda ter subnotificação desses dados. De acordo com a pesquisa realizada pelo Anuário Brasileiro de Segurança Pública, seis em cada 10 vítimas tinham até 13 anos de idade e sofreram abusos provenientes de familiares ou outros conhecidos.
Destes 74 mil casos, a pesquisa apontou que 10% das vítimas têm entre 0 e 4 anos, totalizando aproximadamente 7 mil estupros que ocorrem na primeira infância, fator que dificulta ainda mais a constatação do abuso, já que as vítimas não possuem dimensão da violência ocorrida.
A Ordem dos Advogados do Brasil também emitiu um parecer nesta segunda-feira, 17, no qual classificou o PL como inconstitucional, sob a justificativa de violação dos princípios da dignidade humana, solidariedade familiar e o melhor interesse da criança. Além disso, o documento considera uma transgressão ao direito das meninas e mulheres, e alega que essa alteração na lei “denotaria expressivo retrocesso”.
Quem são e o que dizem os apoiadores do projeto?
Além de Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), o projeto também recebeu apoio de outros 31 deputados. São eles:
PL: Carla Zambelli (SP), Delegado Paulo Bilynskyj (SP), Mario Frias (SP), Eduardo Bolsonaro (SP), Abilio Brunini (MT), Coronel Fernanda (MT), Delegado Ramagem (RJ), Bia Kicis (DF), Pastor Eurico (PE), Capitão Alden (BA), Julia Zanatta (SC), Nikolas Ferreira (MG), Junio Amaral (MG), Eli Borges (TO), Gilvan da Federal (ES), Filipe Martins (TO) e Bibo Nunes (RS).
MDB: Delegado Palumbo (SP), Simone Marquetto (SP), Renilce Nicodemos (PA) e Pezenti (SC).
União Brasil: Cristiane Lopes (RO) e Dayany Bittencourt (CE).
Republicanos: Ely Santos (SP) e Franciane Bayer (RS).
Partido Progressistas: Evair Vieira de Melo (ES) e Luiz Ovando (MS).
E de outros partidos: Dr. Frederico (PRD/MG), Greyce Elias (Avante/MG), Lêda Borges (PSDB/GO) e Cezinha de Madureira (PSD/SP).
Nas redes sociais, Sóstenes escreveu que o projeto de lei “tem como objetivo considerar o aborto tardio como homicídio, reforçando a proteção à vida desde a concepção”.
O deputado ainda alega que, para a Bancada Evangélica, este projeto também serve como um "teste" do compromisso pessoal do presidente Lula contra o aborto, caso seja vetado.
Repercussão nacional
Nas ruas, nas redes sociais e também dentro das instituições do governo, mulheres de todo o país se manifestaram em repúdio ao projeto de lei. Em diversas cidades foram articulados protestos que reafirmaram o desrespeito aos direitos das mulheres já previstos em lei, bem como os riscos à vida de milhares de brasileiras.
Em São Paulo, diversos grupos feministas se reuniram em frente ao MASP, na Avenida Paulista, sob gritos de “criança não é mãe”, “respeitem as mulheres”, “fora Lira”, e diversos outros. A Frente Contra a Criminalização das Mulheres e Pela Legalização do Aborto esteve à frente de atos em 17 cidades e participaram também de mobilizações em outras localidades.
Imagem: Mídia Ninja
Na internet, a mobilização também ganhou força. Na consulta popular no site da Câmara, 70% dos brasileiros discordam totalmente da alteração legislativa. Após a votação relâmpago liderada por Arthur Lira (PP), as redes sociais se encheram de pronunciamentos em repúdio.
UM GOLPE CONTRAS AS MENINAS E MULHERES BRASILEIRAS!
— Sâmia Bomfim (@samiabomfim) June 12, 2024
Se valendo de uma manobra, Lira aprovou a urgência do PL da Gravidez Infantil, com isso o projeto pode ir a votação a qualquer momento no plenário! O presidente nem sequer anunciou a pauta que estava em votação. O PSOL votou…
Militantes do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) ocuparam o antigo prédio do INSS de Porto Alegre (RS) em favor das famílias vítimas das enchentes no sul do país. A ocupação aconteceu no último sábado (8) e foi batizada em homenagem à Maria da Conceição de Almeida Tavares, uma das maiores economistas do Brasil, que morreu no mesmo dia, aos 94 anos. Maria da Conceição foi a autora da famosa frase “Ninguém come PIB, come alimentos”, que reflete seu pensamento diante ao crescimento econômico não significar necessariamente bem-estar e qualidade de vida para o povo brasileiro.
O movimento busca uma solução rápida e efetiva para as vítimas das enchentes, que estão sendo retiradas dos abrigos em escolas devido à volta das aulas na região. De acordo com o último boletim da Defesa Civil do Rio Grande do Sul, mais de 2,3 milhões de pessoas foram afetadas pelas enchentes no estado, 575 mil estão desabrigadas e aproximadamente 35 mil estão em abrigos. Com a chegada do inverno, os apelos do MTST se tornam emergenciais, visto que as vítimas se encontram em situação de vulnerabilidade. Em nota oficial, o Movimento declara que a melhor solução para a problemática é a criação de moradias dignas, com acesso ao transporte à saúde, assistência social e educação.
Com o desmanche de alguns abrigos situados em escolas, o Governo do Rio Grande do Sul planeja a criação de “Cidades Provisórias”, que consistem em estruturas temporárias para garantir amparo para as vítimas das enchentes até que a situação se estabilize. Em nota, o Governo do Rio Grande do Sul informa que as estruturas serão equipadas com cômodos particulares para cada família, áreas comuns - como banheiros com chuveiros, cozinhas, lavanderias - e espaços de convívio aberto para crianças e pets. O Governo espera garantir o mínimo de infraestrutura e qualidade de vida para essas pessoas que sofreram nas enchentes.
Em contrapartida, o MTST alega que as "Cidades Temporárias" não resolverão o problema das vítimas gaúchas, visto que essas construções não garantem à população o acesso aos serviços públicos e podem desenvolver novos problemas sociais e ambientais, e até mesmo incentivar o surgimento de novas favelas no norte da capital gaúcha, por se situar no Complexo Cultural do Porto Seco, no bairro Rubem Berta, o mais populoso de Porto Alegre, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Em seu próprio site, o MTST enfatiza sua luta principal, sendo ela a garantia do direito à uma habitação digna para todos os trabalhadores. O Movimento se posiciona contra o método de organização social implantado pelo governo e o modelo de cidade voltada ao lucro, que ignora a população real que ali reside. A ocupação reforça o posicionamento da Organização em favor da construção do poder popular, frizado na garantia do bem estar público, contra o capital e seu Estado.
Está em tramitação no Senado Federal a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) de número 3/2022, conhecida como PEC das Praias, de autoria de Arnaldo Jordy (Cidadania-PA), então deputado Federal, e conta com a relatoria do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ).
O texto prevê a transferência dos chamados “terrenos de marinha”, atualmente pertencentes à União e gerenciados pela Secretaria de Patrimônio da União (SPU), para estados, municípios e ocupantes particulares.
Em entrevista à AGEMT, Gabriela Nepomuceno, porta-voz do Greenpeace Brasil e responsável por acompanhar políticas públicas no Congresso e no Executivo, explica que “à medida em que a PEC propõe a transferência dos terrenos de marinha, há uma grande possibilidade de um movimento de expansão das propriedades particulares e cercamento das praias, o que inviabiliza o acesso a elas, além de gerar, sobretudo e principalmente, um movimento de especulação imobiliária, o que geraria uma degradação ambiental”.
Um dos pontos mais polêmicos da discussão é, justamente, como se dará o acesso da população às áreas de areia e de banho, que são áreas públicas. Sobre isso, Nepomuceno afirma que a tendência de cercamento desses locais viabiliza o que as pessoas estão chamando de privatização nas praias, na medida em que dificultam o acesso à elas, obrigando as pessoas a procurarem caminhos alternativos. Ela completa dizendo que os mais afetados com isso seriam os ambulantes que, segundo ela, teriam muitas vezes de fazer um outro trajeto para conseguirem acessar seus locais de trabalho.
Essa discussão fez com que o relator da PEC alterasse trechos dela, incluindo partes como: “As praias são bens públicos de uso comum, sendo assegurado o livre acesso a elas e ao mar, ressalvadas as áreas consideradas de interesse de segurança definidas em legislação específica” e “Parágrafo único. Não será permitida a utilização do solo que impeça, ou dificulte, o acesso da população às praias”.
Quando a proposta foi discutida na Câmara em 2022, recebeu parecer favorável do deputado Alceu Moreira (MDB-RS), então relator do projeto na CCJ da Casa. Quando levado para o plenário em fevereiro do mesmo ano, a PEC recebeu a seguinte votação:
Do que se tratam os terrenos de marinha descritos no projeto?
De acordo com a legislação brasileira, são considerados terrenos de marinha a faixa de 33 metros para dentro do continente a partir da Linha de Preamar Média (LPM), que se trata do limite das marés máximas, demarcadas no ano de 1831.
Dados da SPU mostram que atualmente há em torno de 584,7 mil terrenos de marinha no Brasil e com eles a União recebe cerca de R$ 1,1 bilhão como uma espécie de “aluguel” por parte dos ocupantes desses territórios, lucro que seria perdido caso o projeto fosse aprovado. O veículo apontou ainda que 99,5% deles são ocupados por pessoas ou empresas, mas podendo ter destinação pública; o restante é de detenção direta da administração pública.
A secretaria estima ainda que cerca de 2,9 milhões de imóveis estejam em terreno de marinha, porém, apenas 565 mil imóveis estão cadastrados no órgão, de acordo com sua secretária-adjunta Carolina Gabas Stuchi, em fala à CCJ. Stuchi diz ainda que se a PEC fosse aprovada neste momento, haveria um caos administrativo dentro da secretaria.
Sobre as mudanças ambientais que a PEC pode desencadear, Gabriela Nepomuceno afirma que “esses terrenos abrangem praias, ilhas, mangues, rios e lagoas que sofrem a influência da maré, pois são habitat de diversas plantas e animais, além de evitar a erosão por se espalhar na areia das praias e com um papel de fertilização do solo”.
Nepomuceno explica, ainda, que essa vegetação é muito estratégica do ponto de vista socioambiental, por captar dióxido de carbono (CO2) e servir de fonte de alimentos para as comunidades costeiro-marinhas, exercendo também o papel de conter as enchentes e subidas da maré.
Quais os próximos passos da PEC?
Após a realização de uma audiência pública em 27 de maio para debater a viabilidade ou não da proposição, ela será levada para votação na CCJ, onde os parlamentares avaliarão a sua constitucionalidade.
Caso aprovada na comissão, a PEC seguirá para votação em dois turnos no plenário do Senado Federal, onde precisará do voto favorável de 49 senadores em cada um deles - três quintos do número total da Casa. Se houver mudanças no texto da proposta, ela retorna para a Câmara, podendo ser revertidas.
Por se tratar de uma emenda à Constituição, se aprovada tanto na Câmara quanto no Senado, o projeto não precisa de sanção presidencial e pode ser promulgado apenas em uma Sessão Solene realizada pelo próprio Congresso Nacional.
Porém, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), afirmou a jornalistas que o projeto será analisado com “muita cautela, muita prudência, sem pressa”. Ele disse ainda que o texto não será pautado “da noite para o dia”, apenas após um amplo debate com a sociedade e com setores e pessoas afetadas pela PEC.
Rodrigo Cunha (Podemos-AL), senador e relator do Projeto de Lei do Programa de Mobilidade Verde (Mover), disse que irá retirar do texto o trecho sobre a taxação de compras internacionais em até US$50.
O Senado ainda vai debater e votar a proposta de Cunha. Com a mudança no relatório, o texto será devolvido à Câmara dos Deputados para uma nova discussão, podendo atrasar a aprovação do programa.
O Mover foi uma Medida Provisória (MP) criada pelo governo que tem como objetivo incentivar a diminuição de poluentes dos automotivos. Como a MP tem um prazo de validade de um ano, há certa urgência em transformar a medida em lei.
A taxação das “blusinhas” foi considerada um “jabuti”, termo usado quando trechos com pouca relação com a proposta original aparecem no texto. Cunha considerou-a estranha ao assunto mais importante, que é o programa Mover, defendendo que outros temas devem ser debatidos separadamente.
Durante a tramitação da PL na Câmara, foi incluído na proposta o fim da isenção de imposto sobre as compras internacionais de até US$50. Atualmente, estes produtos não pagam taxas e, por conta disso, lojas virtuais estrangeiras lucram ao vender suas mercadorias a preços baixos.
Com o fim da isenção ocorreu uma grande discordância entre os parlamentares, dificultando o andamento da PL. A discussão também tomou grandes proporções nas redes sociais, sendo um fator importante para o debate. Depois de semanas de adiamento, deputados e governo decidiram fechar o acordo da taxação em 20% de produtos internacionais até US$50, sendo o projeto aprovado em 28 de maio.
“Do governo, eu conversei com vários ministros. Alexandre Silveira (PSD-MG), Ministro Alckmin (PSB-SP) que demonstraram interesse na suas pautas. Também o Ministro Haddad (PT-SP), que pontuou a incrementação no orçamento da União e eu considerei a sua fala”, disse o relator em entrevista coletiva.
O governo federal tem pressa, uma vez que a MP perdeu validade no dia 31 de maio. Na última segunda-feira (3), Pacheco alertou para a urgência e importância do projeto. “Haverá um debate no plenário do senado. Sabemos da urgência disso. Qualquer alteração que se dê ao texto, inclusive supressão, o texto voltará à Câmara dos Deputados”, afirmou o presidente em entrevista à TV Senado.