A ascensão das plataformas digitais como palco central da nova política e o desafio da polarização
por
Isabelle Maieru
Jalile Elias
Marcela Rocha
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27/11/2025 - 12h

 

A imagem conceitual representa a polarização política. FONTE: Shutterstock / Imagem Conceitual

O cenário político contemporâneo foi drasticamente redefinido pela ascensão das redes sociais. O que antes era um mero canal de comunicação secundário transformou-se no principal palco de debate, engajamento e, por vezes, de acirrada polarização. Líderes e figuras públicas, de todas as ideologias, utilizam plataformas como X (antigo Twitter), Instagram, Facebook e TikTok não apenas para disseminar informações, mas para construir narrativas, interagir diretamente com eleitores e moldar a opinião pública.

A Onipresença Digital: Vantagens e Riscos

A presença massiva de políticos nas redes oferece uma série de vantagens:

  • Acesso Direto: Permite uma comunicação sem intermediários com o eleitorado, humanizando a figura pública e criando um senso de proximidade.

  • Mobilização: Ferramenta poderosa para organizar movimentos, manifestações e campanhas de forma rápida e eficiente.

  • Quebra de Monopólio: Diminui a dependência da mídia tradicional, permitindo que políticos e partidos estabeleçam suas próprias agendas.

No entanto, essa "democratização" da comunicação não está isenta de riscos e desafios:

  • Polarização e Bolhas: Os algoritmos das redes tendem a criar "bolhas" de informação, reforçando crenças existentes e expondo os usuários a conteúdo que confirma seus vieses, o que contribui para a polarização.

  • Desinformação (Fake News): A velocidade de propagação e a falta de filtros rigorosos tornam as redes um terreno fértil para a disseminação de notícias falsas, boatos e manipulação de informações, com sérias consequências para o debate público e a democracia.

  • Discurso de Ódio: A anonimidade e a falta de moderação eficaz em algumas plataformas facilitam a proliferação de discursos de ódio, ataques pessoais e campanhas difamatórias.

Foto de uma tela de celular com vários ícones de redes sociais misturados. Fonte: Depositphotos / Mídia Social e Política

Estratégias Digitais em Constante Evolução

A "nova política" é inerentemente digital. Políticos e suas equipes investem pesadamente em estratégias de marketing digital, análise de dados e criação de conteúdo. O uso de memes, vídeos curtos e transmissões ao vivo (lives) são táticas comuns para viralizar mensagens e engajar diferentes faixas etárias.

Observa-se também a profissionalização das equipes digitais, com especialistas em análise de sentimentos, SEO (Search Engine Optimization) e gestão de crises online. A capacidade de responder rapidamente a eventos e narrativas em tempo real tornou-se um diferencial competitivo crucial.

O Futuro da Política e das Redes

O fenômeno dos políticos nas redes sociais é irreversível. O desafio para as democracias é encontrar mecanismos para regular e fiscalizar o ambiente digital sem cercear a liberdade de expressão, garantindo que as plataformas sirvam como ferramentas de fortalecimento do debate público e não de sua deterioração. A busca por um equilíbrio entre a liberdade, a responsabilidade e a moderação de conteúdo continuará a ser um dos temas centrais dos próximos anos, moldando não apenas a política, mas a própria sociedade.

 

Unanimidade da 1ª Turma confirma preventiva e abre caminho para execução imediata da pena de 27 anos
por
Isabelle Maieru
Jalile Elias
Marcela Rocha
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26/11/2025 - 12h

A Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu, por unanimidade, manter a prisão preventiva do ex-presidente Jair Messias Bolsonaro. A decisão, referendada na segunda-feira (24), confirmou o decreto do ministro Alexandre de Moraes que converteu a prisão domiciliar do ex-presidente em preventiva no último sábado (22).

A manutenção da prisão ocorre no momento em que o processo final de condenação do ex-presidente na Ação Penal (AP) 2668 se aproxima do trânsito em julgado, permitindo que o ministro relator determine o início imediato do cumprimento da pena. Bolsonaro está detido na Superintendência da Polícia Federal (PF) em Brasília.

 

Ministro Alexandre de Moraes discursando na bancada. Fonte: STF (Supremo Tribunal Federal)

 

Argumentos da Corte e Motivação da Prisão Preventiva

A decisão unânime dos ministros da 1ª Turma (Alexandre de Moraes, Flávio Dino, Cármen Lúcia e Cristiano Zanin) considerou que a prisão preventiva é imprescindível para garantir a ordem pública, assegurar a aplicação da lei penal e coibir o reiterado desrespeito às medidas cautelares impostas.

Os fatores centrais que motivaram a conversão da prisão domiciliar para preventiva são:

  1. Violação da Tornozeleira Eletrônica: A Polícia Federal apontou que o equipamento de monitoramento eletrônico foi violado intencionalmente pelo ex-presidente. Moraes classificou o ato como uma violação "dolosa e consciente", após o próprio Bolsonaro admitir ter usado um ferro de solda na tornozeleira, alegando ter agido sob "surto" e efeito de medicamentos.

  2. Risco de Fuga e Obstrução: O ministro relator citou o risco concreto de fuga, intensificado pela violação do equipamento e pela convocação pública para uma "vigília" em frente à residência de Bolsonaro, feita por um familiar. A Corte avaliou que essa mobilização poderia criar tumulto e facilitar uma eventual evasão.

 

Os Argumentos da Defesa

A defesa do ex-presidente apresentou recursos e pedidos que foram, em grande parte, rejeitados ou considerados prejudicados pela decretação da prisão preventiva.

  • Prisão Domiciliar Humanitária: O principal pleito da defesa foi a prisão domiciliar humanitária, citando o quadro de saúde frágil de Bolsonaro, que inclui gastrite, esofagite e crises de soluços. No entanto, o ministro Moraes considerou este pedido prejudicado com a prisão preventiva, embora tenha determinado o atendimento médico em regime de plantão na PF.

  • Contradições na Condenação: Nos recursos apresentados contra a condenação na AP 2668, a defesa alegou que a decisão foi baseada em provas frágeis e contradições no acórdão, e que o ex-presidente não teve participação direta nos atos que levaram à denúncia.

  • Inexistência de Risco: Advogados argumentaram que a prisão preventiva não se justificava, pois a situação já estava controlada pela prisão domiciliar, e Bolsonaro não representaria um risco iminente à sociedade.

Ex-presidente Jair Bolsonaro em evento público (imagem de arquivo). Fonte: Agência Brasil / EBC

 

A Condenação na Ação Penal 2668 e Execução da Pena

Jair Bolsonaro foi condenado pelo STF a 27 anos e 3 meses de prisão em regime inicial fechado, além de multa (124 dias-multa no valor de dois salários mínimos à época dos fatos), na Ação Penal (AP) 2668.

  • Crimes: O ex-presidente foi condenado, majoritariamente, por ser o líder da organização criminosa que articulou planos para impedir a posse do governo eleito em 2022, sendo réu pelos crimes de tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, tentativa de golpe de Estado, participação em organização criminosa armada, dano qualificado e deterioração de patrimônio tombado.

  • Trânsito em Julgado: O prazo para a defesa apresentar o último recurso contra a condenação encerrou-se nessa segunda-feira (24). Com isso, a Corte confirmou o trânsito em julgado para Bolsonaro.

  • Próximo Passo: O ministro Alexandre de Moraes está liberado para, a qualquer momento, determinar a expedição da guia de execução penal, documento que formaliza o início do cumprimento da pena em regime fechado. A sede da PF é apenas o local inicial da custódia, sendo o Complexo Penitenciário da Papuda, ou outra unidade compatível com sua condição de ex-presidente, o destino mais provável para o cumprimento da sentença.

Nova ferramenta deve integrar informações socioeconômicas relacionadas ao gênero
por
Marcela Rocha
Jalile Elias
Isabelle Maieru
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25/11/2025 - 12h
Foto: José Cruz/Agência Brasil
Ativistas participam da 5ª edição da CNPM. Foto: José Cruz/Agência Brasil

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

A 5ª Conferência Nacional de Políticas para Mulheres (CNPM), ocorreu em Brasília entre os dias 29 de setembro e 1º de outubro. Durante o evento foi anunciada a plataforma DataMulheres, criada pelo governo federal através do Ministério das Mulheres.

Desenvolvida entre uma parceria do Observatório Brasil da Igualdade de Gênero e a Dataprev (empresa vinculada ao Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos), a tecnologia deve integrar informações de gênero e auxiliar procedimentos de pesquisas, observatórios, projetos e demais iniciativas de gestores públicos e instituições nacionais.

O encontro contou com a presença de 4 mil participantes de coletivos, movimentos sociais, deputadas, ministras e outras autoridades, além do oferecimento de palestras, redes de diálogo e stands para a exposição de livros e artesanatos produzidos por mulheres de todo o Brasil.

Na plenária final do evento foram aprovados o relatório de propostas para o novo Plano Nacional de Políticas para as Mulheres e 33 moções, com 98% dos votos favoráveis. O resultado quase unânime reflete a assertividade de diálogos previamente realizados nas instâncias municipais e estaduais.

Com o intuito de reconhecer a pluralidade das 100 milhões de mulheres que vivem no Brasil, o texto do relatório foi dividido em 15 temas, entre eles a questão do fim da escala 6×1 e a redução da jornada de trabalho, igualdade salarial, desigualdades econômicas e raciais, fortalecimento da participação política de mulheres, autonomia econômica e o enfrentamento à violência de gênero.

Durante o evento, a Ministra das Mulheres, Márcia Lopes, afirmou que “a luta não acaba nunca”, sendo necessário construir “não somente o Brasil, mas a América Latina, o Caribe, um mundo de paz”, para que as mulheres sejam livres e em que não haja nenhum tipo de violência contra elas.

Mudanças incluem teto para operadoras, repasse mais rápido e interoperabilidade
por
Antônio Bandeira e Fábio Pinheiro
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24/11/2025 - 12h

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou no dia 11 de novembro o decreto que moderniza as regras do vale-refeição e vale-alimentação dentro do Programa de Alimentação do Trabalhador (PAT). As mudanças criam um teto para as taxas cobradas pelos operadores, reduzem prazos de repasse aos estabelecimentos e definem novas obrigações para empresas e bandeiras do setor.

Entenda as mudanças mais importantes:

Redução de taxa: O texto fixa limite de 3,6% para a taxa cobrada dos restaurantes e outros estabelecimentos. Atualmente, segundo o governo, esse percentual chega a 15% em alguns casos. As empresas terão 90 dias para se adequar à nova regra. O decreto também estabelece teto de 2% para a tarifa de intercâmbio e proíbe cobranças adicionais.

Interoperabilidade: Em até 360 dias, qualquer maquininha deverá aceitar cartões de todas as bandeiras. A medida, conforme o Ministério do Trabalho, amplia a concorrência e facilita o uso do benefício pelos trabalhadores e pelos estabelecimentos.

Prazo de repasse aos comerciantes: Os restaurantes e supermercados passarão a receber em até 15 dias após a transação. Antes das novas regras, o pagamento ocorria em cerca de 30 dias, podendo chegar a 60.

Legenda: Lula durante assinatura do novo regulamento do PAT - Foto/ Por: Ricardo Stuckert
Legenda: Lula durante assinatura do novo regulamento do PAT - Foto/ Por: Ricardo Stuckert

As regras incluem ainda a abertura dos chamados “arranjos fechados”. Empresas que atendem mais de 500 mil trabalhadores terão 180 dias para migrar para sistemas abertos. A mudança deve reduzir a concentração de mercado e permitir que mais credenciadoras participem do sistema.

Além disso, o decreto proíbe práticas consideradas abusivas, como deságios, descontos indiretos, bonificações e vantagens financeiras não relacionadas à alimentação.

De acordo com o governo, mais de 22 milhões de trabalhadores e cerca de 330 mil empresas cadastradas no PAT serão afetados. O valor do benefício não muda e segue exclusivo para compra de alimentos.

Para o ministro do Trabalho, Luiz Marinho, o decreto corrige distorções que vinham sendo cobradas por restaurantes, mercados e padarias. Ele afirmou que o governo discutiu o tema por dois anos com empresas e representantes do setor, mas não houve consenso para um acordo.

O presidente da Associação Brasileira de Supermercados, João Galassi, disse que a medida aumenta a concorrência e deve melhorar o valor final disponível para o trabalhador. Segundo Galassi, a redução da intermediação permitirá que mais pequenos estabelecimentos aceitem os vales.

O decreto cria ainda um comitê gestor para acompanhar a implementação das novas regras, fiscalizar práticas abusivas e definir parâmetros técnicos para o funcionamento do sistema.

Congresso irá analisar nesta quinta-feira (27), os 63 vetos feitos pelo presidente Lula
por
CRISTIAN FRANCISCO BUONO COSTA
Antônio Bandeira de Melo Carvalho Valle
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24/11/2025 - 12h

A votação dos vetos ao novo marco do licenciamento ambiental virou um dos temas centrais da agenda do Congresso para novembro. Deputados e senadores se reúnem no dia 27 para decidir se mantêm ou derrubam os 63 trechos barrados pelo presidente Lula na lei sancionada em agosto. O resultado importa porque define até onde o país flexibiliza ou reforça o controle sobre atividades que causam impacto ambiental.

O licenciamento sempre foi o principal instrumento de fiscalização ambiental no Brasil. Ele estabelece quais estudos cada empreendimento precisa apresentar; quais riscos devem ser controlados e quais condicionantes precisam ser cumpridas. O processo costuma ser longo e heterogêneo entre estados, e por isso o Congresso discute há anos uma lei geral que dê mais previsibilidade.

A proposta aprovada em maio deste ano avançou justamente nessa direção: criou regras nacionais, previu modalidades mais simples — como a licença única (LAU) e a licença por adesão e compromisso (LAC) — e dispensou determinadas atividades do processo formal de licenciamento.

Os vetos do governo miraram pontos considerados sensíveis. O Planalto argumenta que alguns trechos ampliavam exageradamente as dispensas, reduziam a fiscalização e fragilizavam compromissos ambientais assumidos pelo país. A justificativa foi a mesma em outras áreas: garantir proteção ambiental sem abandonar a segurança jurídica para o setor produtivo. Entre os vetos estão dispositivos que tratavam da dispensa de licenciamento para obras de manutenção em estradas, linhas de transmissão e linhas férreas, e regras mais amplas para empreendimentos agropecuários.

Parlamentares contrários aos vetos dizem que as restrições prejudicam obras estruturantes e atrasam investimentos. Para eles, trechos barrados pelo Executivo traziam justamente o alívio burocrático que falta para modernizar o setor. O debate ganhou ainda mais força porque a lei entra em vigor em fevereiro de 2026 e o Congresso quer definir o texto final antes disso. Também pesa o cenário político: o tema aparece na agenda de eventos internacionais de clima, e o governo tenta apresentar avanços em governança ambiental.

A votação deve mostrar qual será o equilíbrio escolhido pelo Legislativo para os próximos anos. Manter os vetos significa reforçar o papel fiscalizador do licenciamento, enquanto derrubá-los abre espaço para uma lei mais permissiva, com processos mais rápidos e menos pontos de controle. Para estados, municípios, empreendedores e órgãos ambientais, o resultado define como novos projetos, como o de hidrelétricas, estradas, etc, serão avaliados a partir de 2026.

Durante inauguração da Hemobrás, o atual presidente usa palco para criticar Donald Trump, Jair Bolsonaro e defender novas taxações
por
Maria Julia Malagutti
Isabelle Muniz
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11/09/2025 - 12h

Durante a inauguração da Hemobrás em Pernambuco, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que o Brasil atravessa um momento especial, marcado pela retomada da confiança da população no país. Segundo ele, esse cenário positivo se consolida à medida que os brasileiros passam a acreditar na possibilidade de construir uma nação mais justa, onde todos sejam tratados com respeito e tenham acesso às mesmas oportunidades.

Esse evento transformou-se em palco de um discurso político marcado pela defesa da soberania nacional e por duras críticas às tarifas impostas pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que o Brasil buscará novos mercados e não aceitará se submeter às pressões externas

Ricardo Stuckert - PR
Lula durante inauguração da Hemobrás em Pernambuco (14/08/2025) Foto: Ricardo Stuckert 

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No entanto, o tom da cerimônia não ficou restrito às questões de saúde. Lula aproveitou a visibilidade do evento para criticar a política de sanções adotada pelos Estados Unidos durante o governo de Donald Trump. Segundo ele, medidas unilaterais contra países da região, como Venezuela e Cuba, aprofundam desigualdades e prejudicam diretamente populações que já enfrentam dificuldades. O presidente afirmou que nenhum povo pode ser condenado à fome ou à miséria por causa de disputas políticas entre governos, “Se os Estados Unidos não quiserem comprar nossos produtos, não vou ficar chorando, rastejando.”, declarou Lula, em tom firme diante de autoridades, trabalhadores e moradores da região.

O atual presidente também critica a tarifa de 50% imposta por Donald Trump considerando os anos de trocas comerciais entre Brasil e Estados Unidos, ressaltando que a medida teve motivação política. Segundo o governante norte-americano, a sobretaxa foi uma resposta aos supostos “ataques insidiosos do Brasil às eleições livres e à liberdade de expressão”, em referência ao julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro e remoção de conteúdos em redes sociais por parte do STF. 

Sobre tal posicionamento do presidente dos Estados Unidos, Lula destacou: “Eu acho que, na verdade, veja, é importante ficar claro, não tem nenhuma acusação de nenhum opositor ao ex-presidente. Ele está sendo julgado pelas mazelas que ele fez.”. De forma indireta, o presidente reforçou que Bolsonaro não enfrenta perseguição política de forma alguma, mas responde a processos por suas próprias ações durante o governo anterior. Políticos do Partido dos Trabalhadores (PT) e aliados têm elogiado a postura de Lula como firme e soberana. Exemplo disso é o senador Humberto Costa que disse que Lula reagiu com “sobriedade” frente ao que chama de agressão à soberania nacional.

Além das críticas às tarifas impostas pelos Estados Unidos, Lula direcionou parte de sua fala a adversários políticos no Brasil. Para ele, recorrer a pressões externas contra o próprio governo significa ultrapassar os limites da disputa democrática. “O que não é aceitável é ter brasileiro que vai aos Estados Unidos pedir para que eles dificultem a vida do Brasil. Isso não é oposição, isso é traição”.

O presidente ainda ironizou as justificativas apresentadas pelos EUA para impor barreiras comerciais, dizendo que o Brasil não aceitará argumentos “falsos” sobre déficits e concorrência desleal. “Eles não querem concorrência. Querem mandar no mundo. E eu aprendi a andar de cabeça erguida e quero que este país seja respeitado”, completou.

Em entrevista à AGEMT, Eduardo Viveiros de Freitas, cientista político, pesquisador da Mediatel (Mediações Telemáticas), e egresso do Neamp (Núcleo de Estudos em Arte, Mídia e Política), ambos grupos de pesquisa da PUC-SP, avaliou que o discurso de Lula projeta uma imagem de independência e tem sido bem recebido no cenário internacional. “Tão respeitado o Brasil era, até recentemente, quando se falava no debate político internacional e nas relações internacionais. Não é à toa que é o presidente brasileiro que abre a Assembleia Geral da ONU anualmente, como vai acontecer agora em setembro.” Ele afirma que o discurso do governante brasileiro, consolida o Brasil como país respeitado e que defende sua soberania nacional.

O especialista também destacou que a recusa em aceitar pressões externas coloca o Brasil em sintonia com o debate global sobre o comércio justo. “É uma postura muito boa da diplomacia brasileira, do governo brasileiro, do Estado brasileiro, em se apresentar como um país que não aceita pressões externas. É uma pressão de uma nação poderosa, uma nação que está movendo uma guerra comercial contra o mundo praticamente. E o exemplo brasileiro talvez não tarde a ser seguido por outras nações.” declarou. 

Além disso, a retórica em torno de traição e soberania não pode ser confundida com um simples embate entre polos ideológicos. Segundo Eduardo, não se trata de uma polarização equilibrada, mas da atuação de uma extrema direita que, ao buscar apoio externo e pressionar por sanções contra o próprio país, adota uma postura de radicalização que ameaça diretamente o Estado e a democracia brasileira. O cientista político ressalta que, em contextos históricos, o Brasil sempre defendeu sua independência frente a pressões estrangeiras, e é essa tradição que hoje se reafirma como pilar da política nacional.

Em uma de suas declarações, também referiu que o Brasil não ficará parado esperando mais “punições” de Donald Trump, destaca que apesar de afetar, em certo sentido, as negociações, novos caminhos estão abertos para a construção de relações políticas sólidas com outros países, “pode criar caminhos e oportunidades para o Brasil procurar outros mercados e fortalecer parcerias sólidas, como por exemplo, com a China e a Rússia, e trazer novas oportunidades de negócio e relações políticas, no cenário político mundial.”.

Além do conteúdo político, a inauguração contou com visitas às instalações da fábrica, demonstração de equipamentos e explicações sobre a produção de hemoderivados, que vão de até hemoderivados até fatores de coagulação. O presidente lembrou que a fábrica não representa apenas crescimento econômico, mas também geração de empregos e fortalecimento da indústria nacional. 

 

Envio de tropas americanas para combater cartéis na região provoca alerta diplomático e revive ingerência dos EUA no continente
por
MARIA LUIZA PINHEIRO REINING
SOPHIA COCCETRONE
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11/09/2025 - 12h

O governo dos Estados Unidos, sob o comando de Donald Trump, deu início à mobilização de mais de quatro mil militares para regiões da América do Sul e do Caribe, sob a justificativa de combater cartéis de drogas considerados “organizações narcoterroristas”. A operação, iniciada após uma ordem presidencial sigilosa, inclui o deslocamento de submarinos nucleares, destróieres e unidades expedicionárias de fuzileiros navais, segundo confirmou o Pentágono à imprensa americana.

A ação militar, que contempla operações aéreas, navais e terrestres em países como Venezuela e México, já provocou reações de autoridades regionais. A presidente do México, Claudia Sheinbaum, afirmou que “não haverá operações militares dos EUA em solo mexicano”. Ainda assim, seu governo extraditou 26 suspeitos de envolvimento com cartéis, decisão tomada fora dos trâmites regulares. No sul do Caribe, Trump confirmou que tropas americanas realizaram um ataque contra uma embarcação venezuelana, marcando o primeiro confronto armado da atual ofensiva.

No Brasil, a movimentação acende um alerta geopolítico. Segundo o professor Ricardo Zortéa, 36, da UFRJ, a ação representa uma deterioração nas relações entre os dois países e desafia o princípio universal da soberania nacional. “O Brasil tende a protestar contra o uso da força americana, mas não por solidariedade regional. A resposta será pautada mais pela legalidade internacional do que por alianças sul-americanas”, analisa.

Além das implicações bilaterais, Zortéa chama atenção para o risco de que a América do Sul volte a ser tratada como esfera de influência dos EUA, em uma releitura da Doutrina Monroe. Para ele, o isolacionismo trumpista não elimina o desejo de controle regional, apenas o torna mais explícito. “Quanto mais recursos militares os EUA empregarem no hemisfério, menos poderão se dedicar à contenção chinesa na Eurásia. Isso cria uma tensão entre estratégia global e prioridades locais.”

No campo interno, a militarização da política externa americana pode ter efeito reverso. “A pressão aberta, por meio de tarifas, sanções e presença militar, pode estimular um movimento popular e institucional de reação à influência dos EUA”, afirma. O Brasil, nesse contexto, tende a reforçar seus vínculos com países dos BRICS e consolidar sua influência fora do eixo norte do continente, onde a presença americana é mais direta.

Na última terça-feira (9), a porta-voz do governo norte-americano, Karoline Leavitt, 28, declarou em entrevista coletiva que “Trump não tem medo de utilizar meios militares para proteger a liberdade de expressão”, referindo-se ao julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro pelo Supremo Tribunal Federal. A afirmação foi recebida como nova ameaça de possível intervenção no Brasil.

Em nota oficial, o Itamaraty respondeu:

“O governo brasileiro condena o uso de sanções econômicas ou ameaças de uso da força contra a nossa democracia. O primeiro passo para proteger a liberdade de expressão é justamente defender a democracia e respeitar a vontade popular expressa nas urnas. É esse o dever dos três Poderes da República, que não se intimidarão por qualquer forma de atentado à nossa soberania.”

Apesar do enfrentamento público por parte do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, manifestações recentes indicam que Trump ainda conta com apoio político expressivo entre setores da sociedade brasileira. No último sábado, o ato de 7 de Setembro na Avenida Paulista, São Paulo, foi marcado por bandeiras dos Estados Unidos dividindo espaço com as do Brasil. Cartazes pedindo ajuda a Trump, clamando por intervenção militar ou econômica, foram amplamente registrados.

Mesmo se apresentando como patriotas, muitos manifestantes recorreram a símbolos norte-americanos. A mistura entre as flâmulas revela uma dependência simbólica que especialistas têm chamado de “patriotismo vira-lata”, uma subordinação voluntária ao poder externo.

Em meio à manifestação, apoiadores do ex-presidente exibiam tornozeleiras eletrônicas cenográficas, como forma de ironizar as decisões judiciais tomadas pelo ministro Alexandre de Moraes, responsável por medidas cautelares contra Bolsonaro.

Foto: Sophia Coccetrone
Camisetas com lemas de Jair Bolsonaro e Donald Trump, sendo "Brasil acima de tudo, Deus acima de todos" e "Make America great again (Faça a América ser boa novamente)" - Foto: Sophia Coccetrone

 

As imagens e os discursos ecoaram memórias de outros momentos em que o Brasil foi alvo de ingerência direta dos EUA. Em 1964, durante o golpe civil-militar, Washington apoiou diretamente a derrubada do presidente João Goulart, com influência decisiva do então embaixador Lincoln Gordon. O histórico de intervenções se repete em Cuba, República Dominicana, Panamá, Honduras, Chile, Argentina e outros países latino-americanos ao longo do século XX.

Na visão de analistas como Erik Sperling, 39, da Just Foreign Policy, a ofensiva atual marca o retorno da “diplomacia da canhoneira”, que combina força militar, sanções econômicas e apoio a regimes alinhados para manter a hegemonia norte-americana no hemisfério. Mas, segundo ele, essa estratégia pode sair pela culatra:

“É mais provável que essa abordagem fortaleça a determinação da região de se aproximar da China e construir alternativas ao domínio dos EUA”, afirmou ao Intercept.

 

Bolsonarista utilizando “tornozeleira eletrônica” no ato de 7 de setembro como símbolo ironizando a decisão de Alexandre de Moraes - Foto: Sophia Coccetrone

Bolsonarista utilizando “tornozeleira eletrônica” no ato de 7 de setembro como símbolo ironizando a decisão de Alexandre de Moraes - Foto: Sophia Coccetrone

 

 

A obsessão religiosa ameaça ferir o Estado laico
por
Maria Clara Palmeira
Maria Mielli
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11/09/2025 - 12h

A relação entre religião e poder político é de longa duração e complexidade. No período das grandes navegações, nos séculos XV e XVI, sistemas como o padroado e o patronato transformaram a Igreja Católica em um instrumento de expansão dos impérios ibéricos. Jesuítas atuavam praticamente como funcionários públicos, consolidando a fé e a presença portuguesa e espanhola em novos territórios. Essa articulação histórica demonstra que o vínculo entre fé e poder político não é uma característica recente: desde o cristianismo de Constantino até a Idade Média europeia, a Igreja legitimava reis, coroava monarcas e arbitrava conflitos internacionais, moldando sociedades a partir de uma perspectiva espiritual e política simultaneamente.

No contexto brasileiro, a redemocratização e a Constituição de 1988 representaram uma tentativa de consolidar um Estado laico, pautado em direitos humanos, liberdade de expressão e democracia. Havia a expectativa de que a religião se restringisse ao âmbito privado, enquanto o Estado atuaria de maneira independente. No entanto, nas últimas décadas, especialmente com o crescimento de igrejas evangélicas, tem-se observado o contrário: instituições públicas sendo ocupadas, associações comunitárias sendo substituídas e funções estatais assumidas por atores religiosos.

A distinção entre fé e igreja ajuda a compreender essa dinâmica. A fé é individual e privada, enquanto a igreja é uma instituição coletiva e pública, capaz de mobilizar pessoas e exercer influência no espaço social e político. A experiência pessoal de crença se transforma em prática comunitária, fortalecendo a legitimidade da igreja para se manifestar publicamente. Católicas, protestantes históricas ou evangélicas neopentecostais assumem esse papel de forma mais explícita, disputando espaço no debate público e influenciando decisões políticas e sociais.

Apesar da forte influência no Congresso, para a doutora em história na USP, Maria Antônia Martins, o eleitor brasileiro consegue ainda separar a fé das decisões políticas. “Talvez a chave seria entender que há muitas interpretações para o evangelho e muitas interpretações dos ensinos religiosos. O perigo político sempre será o fundamentalismo, ou seja, aqueles que interpretam com literalidade os textos sagrados. Que os entendem ao pé da letra e são absolutos com esses ensinamentos”, declarou.

O desafio contemporâneo é garantir pluralidade religiosa e política e preservar a democracia sem permitir que valores estritamente confessionais se sobreponham a direitos individuais: “Essa é a nossa pergunta. Como salvar a democracia? Como salvar o Estado laico? Como não deixar que a gente entre numa ditadura fundamentalista? É um problema que temos hoje. Temos que ficar de olhos abertos, ocupar os espaços, fazer o mesmo movimento que a Igreja Evangélica fez, que o Silas Malafaia fez, ao ocupar os espaços. Então, eu acho que tem alguns professores ou intelectuais que falam que em determinado espaço eu não vou, em determinado espaço eu não entro. Eu acho que agora é o momento de a gente entrar e conversar. “

Para a cientista política Vittória Avelino, uma das maneiras de garantir a pluralidade e ocupar os espaços que são do povo por direito é aumentar e propagar o debate público. “Reaprender a se articular politicamente e a se mobilizar nas ruas, não só nas redes, se interessar pela vida pública para além das polêmicas. Essas coisas garantem pluralidade geral; a pluralidade religiosa é consequência.”

Silas Malafaia, líder da Assembleia de Deus, é um pastor evangélico e uma figura controversa. Sua fama se dá por ele ser um dos principais agentes de propagação da religião como instrumento político. Em casos recentes, na manifestação do último domingo (7). Silas foi recebido com muito entusiasmo pelos apoiadores do condenado Jair Bolsonaro. Ele é visto, por eles, como uma salvação—como o mensageiro oficial de Deus— e do Messias.

Esta visão propaga um grande perigo na sociedade: a crise é o momento perfeito para figuras como a de Silas ganharem forças. Em paralelo, Adolf Hitler e Benito Mussolini, ambos ditadores, fizeram uso de argumentos religiosos para sustentar regimes totalitários e genocidas. "Brasil acima de tudo. Deus acima de todos": o principal lema de Bolsonaro na sua campanha, é fundamentado em dizeres do ditador alemão "Das Lied der Deutschen" (Alemanha acima de tudo). 

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Culto evangélico realizado na Câmara dos Deputados em 2011. Foto: David Ribeiro/ Câmara dos Deputados

Em âmbito internacional, Vittória compreende que, atualmente, a religião vem sendo utilizada como meio de alienação e controle dos povos, como é possível observar no genocídio em massa que Israel está cometendo contra a Palestina há mais de 2 anos. Justificando os horrores em nome de uma “terra sagrada” e de uma figura religiosa. 

Ela declarou que "desde que o Estado de Israel foi instalado, há massacres e expulsões em massa de palestinos do local” e que “Israel pôde fazer isso porque usou sua religião como proteção do escrutínio internacional", o que significa que proferir críticas ao Estado de Israel se tornou antissemitismo—por mais que não seja. Indo além, ela entende que, no Brasil, não há este uso tão árduo das crenças religiosas, mas sim uma religiosidade quase intrínseca. De maneira que é possível encontrar símbolos e costumes cristãos no dia a dia da população, sejam eles artigos de decoração — como crucifixos em instituições públicas — ou hábitos comportamentais, como o calendário greco-romano que rege a população do continente americano e europeu.

Preservar a laicidade e a pluralidade não significa eliminar a presença religiosa na vida pública, mas sim garantir que nenhuma crença se sobreponha à democracia e aos direitos individuais. A ocupação dos espaços públicos, o diálogo e a promoção do pensamento crítico emergem como estratégias essenciais para assegurar que todos os cidadãos tenham liberdade de escolha, seja em uma vida guiada por princípios religiosos ou por decisões seculares.

A população tem se informado mais pelas redes sociais e isso afeta o cenário político do país
por
Daniella Ramos
Martim Tarifa
|
11/09/2025 - 12h

Cada vez mais as redes sociais passam a ser um dos principais meios de informação das pessoas. Segundo pesquisa do Alfaia Lab, mais da metade dos brasileiros usam as redes sociais como principal fonte de informação. E isso impacta a política do país em vários âmbitos.  

Para entender melhor as consequências disso, a AGEMT entrevistou uma das principais pesquisadoras do Brasil nessa área, a professora Lucia Santaella.   

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Nossa entrevistada Lucia Santaella, Livre-Docente em Ciências da Comunicação pela ECA/USP. Foto: Midiateca/IEA-USP

Segundo Lucia, esse fenômeno se inicia na desconfiança com a grande mídia que existiu desde sempre, mas que ganhou força com a chegada da internet como possível espaço para veículos independentes. Isso se acentuou no Brasil a partir das manifestações de 2013.  “Foi a época de criação da Mídia Ninja, que em sua inserção ágil na própria rua, evidenciou trapalhadas da grande mídia e demonstrou sua incapacidade de registrar o fervor do coletivo em movimento vital”.  Santaella trabalhou na inserção das mídias digitais como meio de informação e os abalos que a mídia tradicional sofreu.

Porém Santaella destaca que, desde 2016, as redes sociais tiveram fortes mudanças e o que foi sonhado com a chegada da democracia e da palavra aberta, se tornou palavra perversa. “Se tornou o oposto na era da pós-verdade, provocada pelas fake news”.  

A professora afirma que a liberdade das redes sociais se tornou um espaço de grupos políticos fanáticos disseminadores de informações, que muitas vezes não são devidamente apuradas. “Infelizmente as pessoas hoje vivem em bolhas alienantes, e o pior, fechadas na satisfação autocomplacente de suas mentes encolhidas vociferando paixões tristes como o ódio e o apagamento da alteridade”, completou.  

Para Lucia, os políticos se aproveitam disso para criar suas narrativas próprias, principalmente aquelas que atacam a democracia. Com isso, a confiança na grande mídia também passou a ser reivindicada por seu compromisso com a checagem dos fatos.  

Um exemplo disso foram as fakes news sobre as urnas eletrônicas propagadas durante as campanhas eleitorais. O TSE divulgou que em 2022 removeu mais de 150 publicações falsas sobre as urnas eletrônicas e o processo de votação. Todas elas propagadas pela extrema direita, um ataque à democracia desde o início das campanhas, que resultou nos atos de vandalismo do dia 8 de janeiro de 2023 e fez parte da tentativa de golpe de estado do ex-presidente Jair Bolsonaro e seus cúmplices.  

A professora finalizou dizendo que para que possamos sanar esses problemas, não temos muitas alternativas, o caminho é um só: “não existe cura para esse estado de desinformação, a não ser a educação midiática levada a sério”. É por isso também que ela tem cada vez mais buscado abordar esse tema.  

Vera Chaia, Doutora em Ciências Políticas, aponta para como as informações veiculadas na internet e nas redes sociais, tornaram-se fundamentais para a formação dos cidadãos. “Elas auxiliam os políticos a se projetarem e informarem suas ações para suas bases eleitorais.”  

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A entrevistada Vera Chaia. Foto: Reprodução/Andre Ligeiro

O documentário da Netflix “Dilema das Redes”, lançado em 2020, denunciou a compra de dados de mais de 50 milhões usuários do Facebook para direcionar a campanha de Donald Trump para as eleições presidenciais estadunidenses de 2017. E fez um alerta para os usuários das redes sociais com uma famosa fala de um ex designer da Google, Tristan Harris: “Se você não está pagando pelo produto, então você é o produto”.  

Segundo análise da SciElo Brasil e dados de uma pesquisa realizada pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, a campanha de Jair Bolsonaro utilizou, em 2018, uma estratégia de comunicação parecida com a de Donald Trump em 2017, consistindo no foco em diferentes perfis de eleitores, com técnicas de microtargeting e profiling. Microtargeting político é um tipo de estratégia em que se emprega uma combinação entre análise de dados e campanha política personalizada. Já a técnica denominada psychometric profiling acontece a partir do desenvolvimento de perfis do eleitorado tendo como base seus traços de personalidade. 

A internet e seu crescimento exponencial contribuíram para a disseminação política e quem acabou conseguindo melhor alcance foi a extrema direita, se utilizando de discursos falsos e apelativos aproveitando de todo e qualquer caso para se promover.  

Um estudo feito pela Universidade Fluminense aponta que a ascensão da extrema direita está diretamente ligada ao crescimento das mídias sociais.   

No último mês, o caso de adultização publicado pelo Youtuber Felca, mostra como a exposição de crianças na internet pode ser perigosa e fonte de munição para pedófilos. Seu vídeo tomou grandes proporções, fazendo com que autoridades e a população brasileira soubessem e entendessem a gravidade do que era tratado, levando o Congresso a abordar a pauta de maneira urgente.   

“A classe política, que já havia apresentado projetos limitando a ação das redes sociais por representarem uma influência negativa para crianças e adolescentes, ganhou força política com o vídeo”, reforçou Vera Chaia. 

Encontro tratou de ética, política e comunicação digital
por
Khadijah Calil
Larissa Pereira
Thomas Fernandez
|
11/09/2025 - 12h

 

O Supremo Tribunal Federal (STF) recebeu, nos dias 13 e 14 de agosto, 26 influenciadores digitais de diferentes regiões do país para a segunda edição do “Leis e Likes: o papel do Judiciário e a influência digital”, iniciativa realizada em parceria com a ONG Redes Cordiais e com apoio do YouTube, da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB Nacional), da Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB) e do Instituto Justiça e Cidadania (IJC). Segundo informações publicadas no site oficial do STF, o objetivo foi aproximar o Poder Judiciário da sociedade por meio de quem hoje ocupa um espaço central na formação de opinião, promovendo uma troca direta com a magistratura sobre temas como polarização, liberdade de expressão, inteligência artificial e combate à desinformação.

Ainda de acordo com informações divulgadas pelo STF, a programação incluiu visita guiada aos espaços emblemáticos do Tribunal da Constituição, acompanhamento de uma sessão no Plenário e rodas de conversa com a ministra Cármen Lúcia e os ministros Alexandre de Moraes e Luís Roberto Barroso, presidente da Corte. Na primeira roda de conversa, Moraes falou sobre “influência responsável, liberdade de expressão e democracia”, afirmando que as redes sociais são ferramentas inovadoras, mas têm sido deturpadas por grandes grupos políticos e econômicos para fins ideológicos. “O que é proibido no mundo real não pode ser permitido no ambiente virtual, nem mais, nem menos”, disse. Na segunda roda, Barroso abordou “inteligência artificial, desinformação e o mundo que queremos”, alertando para riscos como uso bélico da tecnologia, impactos no mercado de trabalho e propagação de notícias falsas. “Nenhuma causa justifica mentir ou incitar ódio. A boa-fé e a boa vontade são indispensáveis para que possamos viver de forma plena, com paz interior”, afirmou.

O site do STF também registrou que não há pagamento de cachê aos influenciadores e que a participação tem caráter 100% social, sem custeio por parte do Tribunal, reforçando o viés cívico e educativo da iniciativa. A orientação foi para que os convidados compartilhassem, em tempo real, suas impressões e conteúdos produzidos durante a imersão, com o objetivo de ampliar a transparência, promover educação cívica e estimular engajamento qualificado.

MINISTROS E INFLUENCIADORES PARTICIPAM DO EVENTO "LEIS E LIKES"
Ministros do STF se reuniram com influenciadores para o evento "Leis e Likes". Foto: Rosinei Coutinho/STF

Entre os participantes estava Déia Freitas, criadora do podcast “Não Inviabilize”, conhecida por abordar temas como empatia, diversidade e direitos humanos. Em postagem feita no seu perfil oficial no Instagram, ela afirmou: “Estar no STF e ouvir diretamente dos ministros sobre como funciona a Corte foi uma experiência transformadora. Muitas vezes, as pessoas têm uma visão distante ou até distorcida do Judiciário. Poder compartilhar com meu público o que vi e ouvi aqui é uma forma de aproximar a Justiça da vida real”. Na mesma publicação, destacou a responsabilidade de quem fala para grandes audiências: “A gente precisa entender que o que publicamos pode influenciar milhões de pessoas. Isso é um poder enorme, mas também uma responsabilidade. Estar aqui me fez refletir sobre como posso contribuir para um debate mais saudável nas redes”.

Especialistas ouvidos pela reportagem avaliam que a iniciativa pode ter impacto positivo na percepção pública sobre o STF, mas alertam para desafios. A professora Vera Chaia, do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), afirma que o Judiciário, historicamente, é visto como distante do cidadão comum e que dialogar com quem tem grande alcance nas redes é uma forma de disputar narrativas em um ambiente onde a desinformação circula com rapidez. “Quando um influenciador entende como funciona o processo decisório, ele pode explicar isso de forma acessível, ajudando a reduzir boatos e interpretações equivocadas”, disse. Para ela, o evento também tem um efeito simbólico importante: “Ao abrir as portas para criadores de conteúdo, o STF sinaliza que está disposto a ouvir e a se mostrar, o que é fundamental para reduzir a percepção de que a Corte é uma instituição fechada e inacessível. É uma oportunidade de mostrar que a Justiça não é um ente distante, mas parte ativa da vida democrática”.

Já o cientista político Guilherme Casarões, professor da Fundação Getúlio Vargas em São Paulo (FGV-SP), pondera que, em um ambiente polarizado, qualquer gesto do STF é lido politicamente e que é fundamental garantir diversidade e pluralidade para evitar interpretações de alinhamento institucional. “A credibilidade do Judiciário não depende apenas das decisões que toma, mas também da forma como se comunica e de como responde às críticas”, afirmou. Ele acrescenta que a presença do STF nas redes precisa ser constante e estratégica: “Não basta aparecer em momentos de crise ou em ações pontuais. É preciso construir uma narrativa contínua, que mostre o papel da Corte na defesa da democracia e dos direitos fundamentais, e que dialogue com diferentes públicos, inclusive os mais críticos. A comunicação institucional precisa ser proativa, transparente e capaz de reconhecer dúvidas legítimas, respondendo com dados e contexto”.

Segundo o site oficial do STF, a experiência buscou reforçar o caráter pedagógico do encontro, permitindo que os influenciadores conhecessem de perto os ritos da Corte, o funcionamento do Plenário e a dinâmica de construção das decisões. A expectativa é que, ao compreenderem melhor o processo, os participantes possam traduzir informações jurídicas para formatos acessíveis, ajudando a reduzir boatos e interpretações equivocadas.

Ao final do evento, Déia Freitas afirmou em sua rede social que sai da experiência mais preparada para explicar temas jurídicos de forma clara e responsável, e que pretende continuar usando seu alcance nas redes para incentivar o entendimento sobre direitos e deveres. Para o presidente do STF, Luís Roberto Barroso, citado no site oficial do Tribunal, levar “lições de nossa Constituição” para as redes sociais é uma forma de fortalecer a democracia, aproximando a Justiça da sociedade e ocupando o mesmo espaço onde circulam críticas e desinformação.